005
— Meu nome é Harper, não sou daqui, eu vim do Nebraska, tipo intercâmbio sabe? É um prazer conhecê-lo e sinto muito por entrar sem ser bater. — Agora que estavam face a face ele parecia extremamente familiar, de forma que fazia uma sensação esquisita percorrer seu corpo e seu estômago embrulhar.
— Nós viemos apenas dar um oi mas já estamos de saída. — Peter puxou a garota para perto de si e passou o braço pelo ombro dela. Harper não entendia da onde se conheciam e nem o motivo de Peter agir como se estivesse entrando no covil de um vilão. — Não é, Harper?
— Não. — Falou em um instinto. — Eu vim falar com ela. — Apontou para Lilian.
— Ótimo, ela pode voltar outra hora. Foi um prazer conhecer Harper, bom te ver de novo Peter. — Dito assim ele fez um gesto com a mão que fez a porta se abrir, quando se deram conta os três já estavam do lado de fora da casa.
— Por que estão aqui? — Lilian perguntou se virando de costa para a porta e de frente para os amigos.
— Foi mal, não queria atrapalhar. Só queria saber se estava tudo certo. — Harper justificou.
— Claro, era só me perguntar então!
— Eu não te perguntei porque você não deixou. Ficou fugindo o tempo inteiro, me deixou curiosa, preocupada e sem entender o motivo de começar a me ignorar. Talvez ninguém tenha te dito isso mas quando você age como se estivesse escondendo algo as pessoas vão assumir que você está escondendo algo. Você não foi muito discreta. - Harper respirou fundo, havia falado de mais. Nem era tão próxima assim de Lilian, ela não era obrigada a lhe contar nada. — Ou talvez, seja só eu querendo saber de tudo. — Falou a última parte em tom mais baixo e olhando para o chão como se tivesse com dificuldade em admitir que estava errada. — Sinto muito.
Harper com certeza não espera essa reação mas recebeu um abraço de Lilian. Ficou até sem jeito no primeiro momento mas retribuiu.
— Sinto muito também. Eu comecei a te contar então devia ter contado tudo. Eu não sou acostumada a ter muitos amigos então acabo não sabendo como agir.
Peter ficou parado observando, ele não fazia ideia do que dizer ou fazer, não sabia a história por trás daquilo e nem nada, então apenas esperou e sorriu.
No fim os três acabaram andando pelo bairro juntos, Lilian não contou nada sobre ser aprendiz do doutor Estranho, queria perguntar para Peter como ele o conhecia mas não o fez, Peter também não comentou nada sobre conhecer o Doutor Estranho pois havia lutado junto com ele no espaço já que era o homem aranha. Harper, que sabia a identidade secreta de Peter como o Homem-Aranha, ficava observando-o de soslaio, tentando conectar os pontos sobre como ele conhecia o Doutor Estranho. Mas, também não mencionou nada.
Ao invés disso ficaram apenas conversando sobre coisas casuais como músicas e filmes. Decidiram entrar em uma sorveteria, compraram seus sorvetes e se sentaram ainda conversando animadamente, até que o celular de Peter tocou, ele pediu licença e foi atender do lado de fora.
—Vocês são bem próximos, então? — Lilian perguntou e Harper não sou responder, certamente ela diria que não porém só conseguia pensar no dia anterior e todo o tempo que passaram juntos.
— Ele é uma boa pessoa. — Respondeu simplesmente.
— Que raio de resposta é essa? — Lilian riu terminando de comer seu sorvete, não esperava uma resposta tão vazia.
— O que? Queria que eu dissesse que sou apaixonada por Peter Parker e que ele é incrível, que é a única pessoa aqui que provavelmente continuaria do meu lado independente das circunstancias, que não deve existir um universo onde eu não o amaria e que se ele me deixasse eu enlouqueceria? — Ela falava fazendo expressões e gestos dramáticos com se estivesse em um monologo dramático de Shakespeare. - Isso é ridículo, nunca falaria algo assim e além do mais a gente acabou de se conhecer.
— Falaria sim! Acabou de falar! E ele estava bem atrás de você. — Lilian riu e Harper pulou da cadeira olhando para trás.
E não viu ninguém, era uma brincadeira de Lilian que agora ria ainda mais.
— Devia ter visto sua cara! Qual é, você já é bem grandinha. Se gosta dele é só falar. — Riu e se levantou também.
As duas caminharam em direção a saída, afinal já tinham acabado de comer e poderiam encontrar com Peter do lado de fora. Harper ainda estava com vergonha, sentia suas bochechas coradas mesmo sem estar olhando para Peter, se achava uma tola quanto a isso.
Quando chegaram do lado de fora não viram Peter, o céu estava começando a ficar nublado e parecia que ia chover. O vento passou a aumentar a cada instante, as coisas estavam ficando estranhas, todas as pessoas da rua haviam sumido - ou só se escondido da tempestade mesmo.
Harper cruzou seu braço com o de Lilian e saíram contra o vento forte enquanto Harper tentava ligar para Peter e ver onde ele estava quando sentiu algo bater muito forte em suas costas, tanto que fez ela ser arremessada para longe e cair de cara no chão em vários metros de distância de Lilian. Seu celular foi parar longe, ela esticou o braço para pegar mais não alcançou, viu que Peter atendeu, sentiu seu corpo todo doendo mas usou toda sua força para virar de barriga para cima e dar um impulso para se levantar.
Viu uma criatura estranha lutando com Lilian, era um homem alto e torto de roupas surradas, cabelo e olhos totalmente brancos, seu rosto parecia em decomposição, ele não tinha mais pele de um lado do rosto de forma que dava para ver todos os seus dentes.
Ele avançava em direção a Lilian que batia nele com o que pareciam ser dois chicotes mágicos cheios de faíscas que Harper não fazia ideia de onde haviam surgidos. Ela parecia estar dando conta, até que o homem agarrou as pontas dos chicotes e usou para puxar Lilian para perto dele.
Harper se levantou e correu em sua direção, dando lhe uma rasteira. Ele caiu por um segundo, libertando Lilian que usou algum poder para fazer outro cordão porém o zumbi arrebentou esse com um golpe antes mesmo de se levantar. Em seguida puxou a perna de Harper fazendo ela cair no chão de novo.
— Esse é muito mais forte. Eu não estou conseguindo fazer nada. — Lilian falou se desesperando em usar seus poderes e aconteceu exatamente como o Doutor Estranho havia lhe alertado: quanto mais desesperada ficava menos conseguia usá-los. — Que merda!
A criatura ficou completamente em cima de Harper, que lhe deu alguns chutes mas que aparentemente não lhe causaram nem cócegas. Ela sentia apenas o peso aumentar sobre seu corpo enquanto ela tentava deslizar pelo asfalto para se livrar da criatura em cima dela. O homem decomposto tentou cravar as unhas pontudas que vinham na ponta dos dedos pretos em seu pescoço mas ela conseguiu desviar lançando o rosto para o lado oposto com muita força e rapidez.
Suspirou com força e sentiu aos poucos o peso diminuir, piscou e ao abrir os olhos o monstro estava sendo retirado de cima de si com uma teia lançada pelo homem aranha que o lançou para longe.
— Desculpa a demora! — O homem aranha falou jogando o zumbi contra parede e jogando várias teias contra ele, o que foi capaz de contê-lo mas apenas por alguns segundos, logo avançou em direção ao homem aranha iniciando uma luta corporal.
— Eu tenho que parar de me meter nesse tipo de coisa. — Harper falou se levantando com dificuldade, correu em direção ao homem aranha mas antes de chegar um fio de poder atravessar o corpo do zumbi fazendo ele cair de joelhos.
Não era Lilian, ela estava ao lado de Harper. Os três viram em fração de segundos outro fio ser lançado em volta dele e apertado até que sua cabeça fosse decapitada para fora. Atrás do que sobrou da criatura viram o Doutor Estranho.
— Podem vir comigo, se quiserem. — O Doutor estranho abriu um portal e se virou de costa, esperando para ver se alguém o seguiria.
— Ta bom. — Lilian se recompõe e o seguiu imediatamente, como se fosse o óbvio a ser feito.
— Não, obrigada. — Harper falou dando as costas e andando devagar como estivesse sentindo dor.
— Vem Harper, vamos cuidar dos seus machucados. — Lilian a chamou mas não recebeu a resposta que esperava e não entendeu o motivo.
— Não precisa, eu estou ótima. — Ela disse andando na direção oposta com os olhos lacrimejando, Doutor Estranho olhou para o homem-aranha como se esperasse uma resposta dele para fechar o portal para o Kamar-Taj.
O homem aranha se sentiu dividido, queria muito ouvir o que o Doutor Estranho tinha para falar e sabia que ele não era o tipo de pessoa que ia recapitular o discurso novamente mais tarde mas não conseguia deixar Harper voltar sozinha e machucada para casa. Fez que não com a cabeça e viu o portal se fechar.
— Por que não quis ir? Não queria saber mais sobre o que estava acontecendo? O Doutor Estranho com certeza tem mais informações, ele deve saber como acabar com eles. — Homem Aranha falou correndo em direção a Harper e servindo de apoio para ela andar.
— Espero que saiba e que acabe com isso então. Eu não quero mais saber, pode acabar ficando perigoso de mais, já ficou. Eu não tenho poderes e esse era mais forte. Você já lutou com um sozinho e a Lilian também mas esse deu uma surra em nós três.
— Tem razão, desculpa não te perguntei se você estava bem
— Eu estou. — Falou sem transmitir credibilidade alguma. — Já estive pior.
Eles continuaram andando devagar. De qualquer forma o tempo estava melhor, aparentemente não havia outra ameaça nítida, também não estavam longe de casa e o homem aranha agia como se tivesse todo tempo do mundo.
— Não se preocupe, você vai ficar bem. E a gente vai resolver isso. Quer dizer, talvez você tenha razão, eu entendo se não quiser mais se meter no assunto, mas o Doutor Estranho, a Lilian e eu vamos dar um jeito. E se um zumbi te atacar por ai eu irei aparecer para te salvar. — Ele falava em tom de brincadeira.
— Vocês também não deveriam! Ela ainda esta treinando e você não deveria se arriscar tanto assim.
Quando chegaram no prédio o homem-aranha usou sua teia para entrarem pela janela do apartamento de Harper (dessa vez ele avisou e jurou que seria menos dolorido do que subir escadas). Já dentro do apartamento ele tirou a máscara e passou a mão na testa também tinha adquirido um corte ali então fez uma expressão de dor enquanto observava Harper sentar no sofá sem tirar os olhos dele.
— Esta dizendo que eu devo simplesmente ignorar a situação? Fingir que não tem mortos vivos por ai ameaçando a paz dos outros?
— Estou dizendo que existem pessoas mais preparadas para isso, esse tal Doutor Estranho, não sei quem ele é mas ele parece muito mais poderoso, ele consegue dar conta! Derrotou aquele monstro em menos de um minuto!
— Você é tão fã de heróis a ponto de saber minha identidade secreta mas não sabe quem é o Doutor Estranho? — Peter perguntou indo se sentar ao lado dela no sofá.
— Isso não importa! Peter eu não estou dizendo que você não dá conta ou que não é poderoso o suficiente, só estou dizendo que se há outras pessoas aptas para fazer isso que deveria deixar que façam então. — Ela falou mas ele ficou quieto, como uma criança que leva bronca. Harper estava esperando mil e um argumentos de como ele não podia só observar sem lutar mas só recebeu silêncio como resposta. Ela perguntou se estava falando de mais, se deveria se desculpar, se outra vez estava se metendo de mais como fez com Lilian. — Quer saber, não precisa ficar aqui se acha que estou falando besteira.
Peter riu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela quando ela olhou para ele.
— Esta rindo de que? — Ela falou brava.
— Nada. — Ele riu de novo. — Eu só gosto do jeito que você quer cuidar de todo mundo, não acho que está falando besteiras, só que esta preocupada. Como estava com a Lilian mais cedo. É fofo mas pode ficar tranquila, nada de mais vai acontecer! Eu vou ser cuidadoso. E você já ouviu dizer que devemos ter medo dos vivos e não dos mortos?
Harper não disse nada, suspirou. Ela não queria insistir e parecer invasiva, não queria nem ter dito as coisas que disse.
— Vou tomar um banho, eu volto daqui a pouco. Pode ligar a TV e pegar alguma coisa na geladeira se quiser. — Ela se levantou e foi andando lentamente em direção ao seu quarto.
— Se precisar de alguma coisa eu estarei aqui. É só chamar. — Ele falou e em seguida sentiu suas bochechas queimarem mas Harper não notou.
Peter se jogou no sofá e ligou a TV, estava passando algum filme musical de décadas atrás mas ele não prestou atenção. Só conseguia pensar em Harper.
A garota voltou um tempo depois, com os cabelos molhados vestindo um blusa cinza de mangas cumpridas com o nome de uma universidade que ela nem sabia onde ficava ou como havia parado em seu armário.
A água quente do chuveiro havia anestesiado seu corpo, estava se sentindo um pouco melhor. Mas os machucados em seu rosto a incomodavam, principalmente pelo fato dela saber que eles continuariam ali por algum tempo.
Se sentou ao lado de Peter.
— Não queria ter me intrometido na sua vida. — Ela falou e ele tombou a cabeça para olhar para ela.
— Ta tudo bem. Você não fez nada de errado.
— É, você fala isso mas deve me achar uma maluca! Uma louca que descobriu que você era um super-herói mas que pede para você não lutar. Ai, quer saber? Até eu estou me achando uma maluca. — Ela olhou para TV tremendo um pouco, se perguntando o que tinha dado nela. Nunca foi de agir assim, devia mesmo ter perdido a cabeça.
— Ei! Ta tudo bem mesmo! É sério, eu não ligo que você saiba, acho bom ter alguém para poder conversar sobre isso. Alguém que pode me ajudar com curativos caso eu precise. — Harper finalmente riu. — Podemos falar de outra coisa se quiser. — Fez uma pausa. — Ou talvez você queira ficar sozinha.
— Eu não sei. — Admitiu. Era verdade que precisava colocar as ideias no lugar, não queria falar nada mas também não queria ficar sozinha e Peter entendeu o recado, continuou onde estava sem dizer um palavra.
Minutos e horas se passaram, ele quase cochilou em alguns momentos, Harper continuava olhando para o nada pensativa e mexendo em seu colar, um quartzo irregular vermelho.
— Colar legal. — Ele disse para quebrar o silêncio, depois de tanto tempo já era hora de dizer alguma coisa. — Nunca reparei que usava ele.
— Eu deixo em baixo da roupa, era do meu pai. — Ela falou sem dar muita importância, de alguma forma ficou satisfeita dele ter quebrado o silêncio no momento certo, antes de se tornar sufocante.
— Como ele é? — Peter perguntou.
— O meu pai? — Harper disse e Peter fez que sim com a cabeça, ela negou com a cabeça logo depois. — Eu não sei. Eu não o conheci.
— Ah, sinto muito! Eu achei que você morasse com ele antes de vir para cá...
— Não, tudo que eu sei sobre meu pai foi o que minha mãe me contou, que ele era médico neurocirurgião e morreu em um acidente de carro.
Peter ia dizer algo ouviu batidas na porta e se levantou para atender.
— Você é o homem-aranha! — Lilian falou incrédula entrando para dentro do apartamento.
— O que? Eu não... — Ele ia falar algo, inventar alguma desculpa mas percebeu que por mais que tivesse tirado a máscara ainda estava com o uniforme e que nada justificaria seus machucados recém adquiridos.
— Faz sentido, então é por isso que o Doutor Estranho sabia sobre você. Eu estou chocada!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro