⎊ | 009: 'ULTRON'S SLAVES'
Cαpıtulo nove
'Escrαvos de Ultron'
NA MANHÃ SEGUINTE, todos estavam bravos com o Stark e não havia nada que ele pudesse fazer a respeito, afinal, era realmente culpa dele, ele havia criado Ultron.
Mas ele estava fazendo o que podia, conversando com seus contatos pelo mundo todo, tentando localizar qualquer movimentação estranha, tentando hackear o próprio Ultron, mas nada estava realmente funcionando.
Callista ainda não havia voltado. Ele queria pensar que ela havia escolhido ir embora. Talvez estivesse com raiva dele e deixou tudo para trás. Uma deusa saberia se virar por conta própria, não?
E após isso, os dias foram passando, emendados em poucas (ou nenhuma) horas de sono e muita pesquisa. A notícia de que Ultron havia matado o próprio Strucker foi chocante, mas a pior parte foi que todas as informações sobre o líder da HYDRA haviam desaparecido definitivamente.
Ou não tão definitivamente, já que mexendo em antigos arquivos da SHIELD eles encontraram algumas coisas deixadas para trás.
Entre eles, um rosto que Tony conheceu: Ulysses Klaue, um comprador de armas que buscava algo forte e revolucionário, e que após alguns cliques, eles descobriram que foi marcado como ladrão em Wakanda após tentar roubar vibrânio.
Isso definitivamente era ruim, mas ao menos dava aos Vingadores um ponto de partida: Cais da Sucata, na Costa Africana.
Callista acordou em um lugar estranho, era escuro e frio e tinha um cheiro forte de ferrugem. Sua boca estava com um gosto metálico e as pernas estavam doloridas, a cabeça estava rodando e ela se sentia perdida.
A asgardiana se sentou lentamente e olhou em volta. Ela não estava presa, não havia algemas ou nada que indicasse que ela estivesse sendo mantida ali.
Callie passou a mão pelos cabelos, tentando arrumar os fios castanhos e então se levantou, ainda com aquela sensação de tontura inebriante. Um passo após o outro levou ela até a porta, ela parou, avaliando por um instante, antes de empurrá-la levemente. A porta cedeu sem resistência, rangendo suavemente ao se abrir.
A deusa atravessou a porta e deu de cara com outra sala ampla e mal iluminada. O espaço tinha paredes de concreto cru e estava repleto de equipamentos, monitores piscando com imagens e gráficos incompreensíveis. No meio do cômodo, duas figuras se destacavam: um jovem de cabelos prateados e uma garota de expressão séria, com longos cabelos castanhos.
A garota parecia a mais alerta dos dois. Seu olhar pousou em Callista a estudando de maneira desconfiada, enquanto seus dedos se moviam discretamente como se pronta para conjurar algo. Já o rapaz inclinou a cabeça ligeiramente e deixou escapar um sorriso travesso.
— Bem, o que temos aqui? — disse ele, em tom descontraído, seu sotaque carregado adicionando um charme inesperado. — Uma nova prisioneira ou uma visitante perdida?
Callista arqueou uma sobrancelha e ela avaliou ambos com um olhar que carregava algo entre o desafio e o julgamento silencioso.
— Eu? Perdida? — Callista inclinou a cabeça, um sorriso provocativo surgindo em seus lábios. — Docinho, talvez você seja quem está no lugar errado.
Pietro soltou uma risada curta, visivelmente divertido pela resposta. Wanda, no entanto, deu um passo à frente, interrompendo o momento.
— Quem é você? — perguntou Wanda, sua voz baixa e desconfiada. — E como chegou aqui?
Callista ergueu as mãos levemente, como se sinalizasse que não era uma ameaça, embora o brilho nos olhos dela indicasse outra coisa.
— Calma, querida. Não mordo... muito. — Ela piscou para Pietro antes de voltar sua atenção para Wanda. — Sou Callista. Não faço ideia de como cheguei aqui e, pelo jeito, vocês também não sabem como cheguei aqui.
Wanda continuava observando-a, sem abaixar a guarda. Pietro, por outro lado, parecia encantado.
— Callista, hein? — Ele deu um passo em sua direção, com um sorriso que misturava charme e desafio. — E você me chamou de docinho? Eu gostei.
A deusa sorriu de volta, inclinando-se levemente para ele como se o estivesse avaliando ainda mais de perto. Pietro abriu um sorriso surpreso e satisfeito com a provocação, enquanto Wanda suspirava, visivelmente exasperada.
— Vocês dois, parem com isso. — Wanda cruzou os braços, olhando de Pietro para Callista. — Ainda não sabemos se podemos confiar nela.
Callie inclinou a cabeça, ignorando o tom desconfiado de Wanda, e perguntou com uma curiosidade despreocupada:
— Vocês são os aprimorados do Strucker, não são?
Wanda estreitou os olhos, surpresa pelo conhecimento dela, mas manteve a postura firme.
— Sou Wanda Maximoff, e este é meu irmão, Pietro.
— Certo... Wanda e Pietro. — Ela pausou, olhando de um para o outro. — Não que isso realmente importe agora.
A Maximoff franziu a testa, não gostando da falta de reação.
— Você parece não se importar muito, mesmo sabendo quem somos. — Sua voz era desconfiada. — Sabe o que fizemos? Você... estava com os Vingadores, não estava?
— Não sei, não lembro... E, sinceramente, não me importo.
— Como assim, não lembra? — Pietro perguntou, o tom dele mais curioso do que acusador.
Callista esfregou a têmpora com a ponta dos dedos, como se algo estivesse incomodando em sua mente.
— Minha cabeça está... confusa. Como se houvesse uma neblina. Algumas coisas estão claras, outras parecem... apagadas. — Ela estreitou os olhos, encarando Wanda. — Mas vocês... vocês não me parecem o tipo que se importa com o que os outros acham de vocês. Certo?
Wanda e Pietro trocaram um olhar rápido. A honestidade despreocupada de Callista os deixou momentaneamente sem palavras.
— Quero ver Strucker. — Callista disse abruptamente, cruzando os braços como se estivesse exigindo algo simples.
Pietro ergueu as sobrancelhas, visivelmente surpreso com o pedido.
— Ver Strucker? — Ele repetiu, como se quisesse ter certeza de que tinha ouvido direito.
Wanda, por outro lado, manteve o olhar firme em Callista, sua expressão carregada de cautela.
— Isso não é possível.
Callista inclinou a cabeça, desafiando Wanda com um olhar quase provocativo.
— Não é possível? — Ela deu um passo em direção à gêmea. — Por que não?
Wanda respirou fundo, claramente irritada com o tom de desafio.
— Porque Strucker está morto.
As palavras caíram como uma pedra no ambiente, o silêncio pesado que se seguiu sendo quase palpável. Callista piscou lentamente, processando a informação, mas seu rosto permaneceu impassível, como se estivesse filtrando o que era relevante.
— Morto... — Ela murmurou, sem realmente parecer afetada. — E agora?
Wanda cruzou os braços, o desconforto evidente em sua postura.
— Agora estamos indo atrás do responsável.
Pietro, que observava as duas com curiosidade e um traço de impaciência, interrompeu, tentando aliviar a tensão.
— Mas você não precisa se preocupar com isso. Não é exatamente um trabalho de boa samaritana.
Callista lançou um olhar avaliador para Pietro e, em seguida, para Wanda.
— Talvez eu deva me preocupar. Afinal, se Strucker está morto, quem estava no controle disso tudo? — Ela apontou vagamente para o ambiente, mas a insinuação era clara.
Wanda estreitou os olhos, avaliando a resposta.
— Talvez seja melhor você se concentrar em lembrar quem você é.
A asgardiana soltou uma risada curta e inclinou levemente a cabeça, seus olhos brilhando com um toque de superioridade.
— Eu sei exatamente quem eu sou. — Começou, a voz repleta de autossatisfação. — Sou Callista de Asgard, filha de um guerreiro e uma dama da corte. Combati ao lado de deuses, segurei uma espada que viu mais batalhas do que qualquer um de vocês dois pode imaginar. Eu montei dragões celestiais enquanto vocês mal tinham aprendido a correr. Eu...
— Já entendemos. — Pietro interrompeu, revirando os olhos e saindo da sala, seguido pela irmã.
A guerreira franziu o cenho, mas continuou os seguindo, sem perder o ritmo de seu discurso narcisista.
— Não, acho que vocês ainda não entenderam. Vocês são crianças brincando de heróis, mas eu? Eu sou uma lenda em carne e osso. Uma guerreira que fez história em campos de batalha que vocês nunca vão pisar...
Eles chegaram a uma igreja abandonada, com paredes desgastadas e vitrais quebrados, mas que ainda mantinha um ar de imponência. A filha de Asgard observou o lugar por um momento, o olhar curioso varrendo os detalhes do ambiente, antes de abrir um leve sorriso.
— Vocês deviam me agradecer por estar aqui, sabem? A presença de alguém como eu...
Uma voz profunda, quase hipnótica, ecoou pela igreja, interrompendo suas palavras e preenchendo o espaço como se cada canto tivesse sido feito para amplificá-la.
— Sabe, esta igreja foi construída exatamente no centro da cidade. Os sacerdotes queriam que todos ficassem igualmente próximos de Deus.
A mulher altiva e os gêmeos se voltaram na direção do som, caminhando lentamente pelo corredor principal em direção ao altar. A Maximoff franziu a testa, tentando usar seus poderes para acessar a mente da figura que falava, mas encontrou um vazio absoluto.
— Não consigo... — Murmurou ela, quase em um sussurro para o irmão, que ficou tenso ao seu lado.
— Não consegue o quê? — Questionou a asgardiana, um sorriso despreocupado desenhando-se em seus lábios, claramente ignorando o perigo potencial.
— Ler a mente dele. — Respondeu Wanda, os olhos fixos na figura que emergia das sombras próximas ao altar.
Ultron continuou a falar, a voz ecoando pela igreja, enquanto ele permanecia de costas para os três, imerso nas sombras, sua silhueta esculpindo uma figura imponente.
— Geometria da crença... Uma tentativa de controlar o caos, de alinhar-se com o divino, como se pudessem trazer harmonia a um mundo tão desordenado.
Ele fez uma pausa dramática, a tensão crescente no ambiente. A voz dele então mudou de tom, tornando-se mais sardônica e cheia de ironia direcionada para Wanda.
— Deve estar se perguntando por que não consegue ler minha mente.
Wanda, com a testa franzida e a mandíbula tensa, finalmente respondeu, sua voz baixa, mas clara, cortando o silêncio da igreja.
— Às vezes não é fácil. Mas cedo ou tarde, todos os homens se revelam.
Ultron se virou lentamente, revelando sua verdadeira forma. Não era um homem. Seu rosto estava coberto por uma máscara metálica e fria, e o resto de seu corpo parecia uma fusão entre máquina e algo mais... algo alienígena.
— Ah, com certeza fazem... — Ultron respondeu, sua voz preenchendo o espaço com uma ironia ainda mais afiada.
Nesse momento, Callista sentiu uma onda de estranhos flashbacks invadindo sua mente. Imagens rápidas e desconexas surgiam diante dela, todas ligadas à festa dos Vingadores. Ela podia ver as pessoas dançando, as conversas, os sorrisos... e, de repente, a tensão crescente com Tony, a briga, o beijo, a estranha sensação de estar sendo observada... até o momento em que tudo parecia desmoronar.
A visão foi fugaz, mas vívida, e ela quase pôde sentir a pressão de um futuro desconhecido se aproximando, como se a festa fosse apenas o início de algo muito maior. Algo que ela não conseguia controlar.
Ela piscou várias vezes, tentando afastar as imagens, mas elas continuaram a persegui-la, como se estivessem se enraizando em sua mente. Ela olhou para Wanda e Pietro, sem saber se deveria falar sobre o que estava sentindo, mas as palavras não vinham. O choque era grande demais.
— O que foi? — Wanda perguntou, notando a expressão perdida da asgardiana.
Callista olhou para ela, ainda sentindo os ecos daqueles flashes confusos, antes de se concentrar na figura de Ultron, que observava cada um deles com um sorriso sádico em seu rosto metálico.
— Nada... — Ela respondeu, sua voz um pouco mais baixa do que o normal. — Nada...
Ultron inclinou ligeiramente a cabeça, fixando seu olhar brilhante em Wanda com uma intensidade perturbadora.
— Mas você precisou de mais que um homem, não é? Foi por isso que deixou Stark levar o cetro.
Wanda apertou os punhos ao ouvir as palavras dele, mas manteve o rosto firme, encarando-o com determinação.
— Eu não esperava o que aconteceu... Mas vi o medo dele. — Sua voz era controlada, mas cheia de convicção. — Sabia que esse medo ia controlá-lo e o faria usar o cetro. Ele mesmo se destruiria.
Ultron soltou algo que parecia uma risada metálica, um som baixo e cheio de desprezo.
— As pessoas sempre criam aquele que temem. — Ele deu alguns passos lentos, sua presença dominando o ambiente. — Homens de paz criam máquinas de guerra. Invasores criam Vingadores. As pessoas criam... pessoas menores.
A asgardiana, que até então estava em silêncio, arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços enquanto sua voz ecoava pela igreja.
— Crianças?
Ultron se voltou para ela, inclinando ligeiramente a cabeça como se tivesse acabado de lembrar.
— Sim, crianças... — Ele respondeu, quase de forma casual, mas havia uma malícia inquietante em seu tom. — Tinha esquecido a palavra. Crianças são perigosas. São projetadas para substituir os homens... e levá-los ao fim.
Callista ergueu o queixo, o sorriso desafiador em seus lábios mascarando as dúvidas e a confusão que se agitavam dentro dela.
— Interessante teoria... mas não muito inspiradora, para alguém que parece se considerar tão superior.
Wanda lançou um olhar desconfiado para a asgardiana, enquanto Pietro cruzava os braços, observando Ultron como se avaliasse cada movimento dele. Ela estreitou os olhos e perguntou para Ultron:
— O que você quer? Quer destruir os Vingadores?
Ultron ergueu uma das mãos metálicas, como se tentasse explicar algo óbvio demais.
— Eu quero salvar o mundo. E, sim, destruir os Vingadores faz parte disso.
Pietro deu um passo à frente, sua expressão firme, mas cheia de indignação.
— Nós não queremos matar ninguém.
Ultron suspirou, um som distorcido e artificial que reverberou pelo ambiente.
— Você precisa pensar na imagem completa. Às vezes, uma mudança exige sacrifícios.
Pietro cerrou os punhos, sua voz tremendo levemente ao lembrar.
— A imagem que vejo é menor. Guardo no bolso e olho para ela todos os dias. — Ele disse com pesar na voz. — Estávamos jantando, nós quatro, quando o primeiro míssil abriu um buraco no chão. Era enorme... E então todo o prédio começou a tremer. Puxei a Wanda para debaixo da cama e o segundo míssil ficou lá, a um metro dos nossos rostos. Com uma palavra escrita: Stark.
— Esperamos dois dias para o Stark nos matar. — Wanda disse com mais firmeza e menos melancolia na voz.
Ultron virou sua cabeça fria e mecânica em direção à figura altiva da asgardiana. Seu tom ficou mais cortante, quase provocador.
— Viu o que o seu namorado faz?
Callista bufou, cruzando os braços com uma expressão de puro desdém. Sua voz era carregada de nojo e superioridade.
— Ele não é meu namorado.
— Ah, claro. — Ele deu um passo em sua direção, inclinando a cabeça levemente. — Mas as câmeras de segurança da Torre dos Vingadores contam outra história. Vocês realmente não são muito discretos.
Callie lançou lhe um olhar mortal, mas sua expressão ficou mais fria e distante, recusando-se a reagir à provocação. Wanda e Pietro trocaram olhares rápidos, a tensão no ambiente crescendo enquanto as palavras de Ultron ecoavam entre eles.
Wanda estreitou os olhos, sua desconfiança em relação à asgardiana transparecendo.
— Como você pode sair com alguém como ele? — sua voz era cheia de incredulidade e desgosto.
Callista virou a cabeça lentamente para Wanda, seus olhos brilhando com uma mistura de exasperação e desprezo.
— Eu não vou explicar. — Sua resposta foi curta, seca, como se a conversa fosse indigna de seu tempo.
Ultron interrompeu antes que Wanda pudesse retrucar, a voz fria e metálica reverberando pelo ambiente.
— Não importa. Ela está conosco agora. — Ele gesticulou para Callista, como se fosse óbvio. — Veio até aqui de boa vontade.
A asgardiana arqueou uma sobrancelha, confusa, sua expressão desafiadora sendo substituída por incerteza.
— Eu vim? — perguntou, a dúvida nítida em sua voz.
Ultron inclinou levemente a cabeça, como se analisasse a situação com curiosidade.
— Sim, você veio. — Ele se aproximou um pouco mais, os olhos mecânicos brilhando com uma luz fria e ameaçadora. — Sua conexão com o cetro de Loki e com Asgard é fascinante. Ele deixou algo em você, algo que ninguém percebeu.
Callista franziu a testa, seu corpo tenso enquanto ouvia.
— Algo como o quê?
— Um elo. — explicou Ultron, sua voz suave, quase sedutora. — A energia do cetro ressoou com sua natureza asgardiana. É como uma música que apenas você consegue ouvir. Isso, combinado com o que você é... — Ele fez um gesto circular com a mão. — Te torna especialmente sensível à sua influência.
Callista deu um passo para trás, sua respiração estava acelerada enquanto tentava processar.
— Influência?
— Sim. A conexão foi reforçada. Posso acessar seus pensamentos, suas memórias... posso sussurrar em sua mente. E quando necessário, posso direcioná-la.
A deusa o encarou, os olhos arregalados com a revelação e o robô continuou falando o seu monólogo distorcido.
— Não está completamente sob meu controle, claro, mas... com um pequeno empurrão na direção certa, você faz exatamente o que eu preciso. Foi assim que chegou aqui, Callista. Não se lembra?
Callista passou a mão pelos cabelos, a mente rodando enquanto flashes desconexos de memórias dançavam à sua frente. Ela tentou resistir, mas algo dentro dela sussurrava, como uma voz distante, como se estivesse tentando guiá-la — mas não sabia para onde. Wanda observava, intrigada e desconfiada, enquanto Pietro dava um passo protetor para mais perto da irmã.
— Você está brincando comigo — disse Callista, mais para si mesma do que para ele.
— Estou? — Ultron respondeu, sua voz carregada de certeza. — Ou será que você está se enganando?
Ultron inclinou a cabeça, os olhos mecânicos brilhando com algo que parecia satisfação.
— Você é igual a Loki. — A afirmação foi dita com calma, mas carregada de intenção.
Callista congelou. O som do nome de Loki fez seu coração acelerar, como sempre acontecia.
— Não me compare a ele. — murmurou, embora sua voz não tivesse a força que queria transmitir.
— Por que não? Vocês compartilham muito mais do que pensa. Loki também tinha o coração dividido, os desejos fragmentados. Mas no final, com a motivação certa, ele fazia qualquer coisa por poder. — Ele se aproximou, cada passo pesado ecoando pela sala. — E você, Callista? O que você faria?
— Ultron a olhou de cima a baixo, avaliando-a como se fosse uma obra inacabada. — Os Vingadores... são seus amigos, não são?
Callista hesitou. Sua expressão era fria e impassível, mas por dentro sua mente girava em confusão. Eram eles amigos? Suas memórias pareciam desfocadas, como se Ultron tivesse razão ao dizer que estava brincando com elas. Ela se sentia puxada em direções opostas, incapaz de distinguir o que era real.
— Não. — A palavra saiu curta e firme, mas o conflito interno era impossível de ignorar.
Ultron inclinou a cabeça novamente, satisfeito.
A asgardiana olhou para ele, seus olhos estreitados em desconfiança, mas suas mãos estavam tremendo. Alguma coisa dentro dela, algo que ela não conseguia nomear, sussurrava que ele estava certo. Mas ela não sabia se era sua própria mente ou outra coisa brincando com ela.
Callista, Pietro e Wanda estavam na penumbra do armazém no Cais da Sucata, cercados pelo som do mar batendo contra os contêineres enferrujados. Ulysses Klaue estava sentado em uma cadeira improvisada, com os braços cruzados e um sorriso arrogante estampado no rosto. Ele não parecia minimamente intimidado.
Pietro e Wanda permaneciam em pé, de braços cruzados, encarando Klaue com olhares intensos, mas mantinham uma calma que beirava a passividade.
— É sério? — Klaue riu, gesticulando para os dois. — Olha para vocês. Vocês nem parecem o tipo que faz esse trabalho sujo. Tá na cara que nunca fizeram nada assim antes.
Wanda estreitou os olhos, mas não respondeu, enquanto Pietro apenas arqueou uma sobrancelha. Callista, no entanto, já estava no limite da paciência. Ela odiava situações como aquela. Odiava ter que sujar as mãos.
— Vamos parar com esse teatro. — Klaue continuou, inclinando-se para frente na cadeira. — Eu só vou falar com o cara que está por trás disso.
Callista bufou. Antes que alguém pudesse reagir, ela pegou uma faca da bancada ao lado, com um movimento rápido e quase desleixado, e a atirou com precisão milimétrica. A lâmina cravou na madeira da cadeira, a poucos centímetros do rosto de Klaue. Ele arregalou os olhos, surpreso, e se endireitou rapidamente.
— Agora você tem minha atenção. — ele disse, tentando recuperar o controle, mas a palidez em seu rosto o entregava.
— Que bom, porque você estava começando a me irritar.
Pietro, ao lado, deixou escapar um sorriso divertido, admirando o estilo da asgardiana.
Nesse momento, passos pesados ecoaram pelo armazém. Um som metálico, regular e imponente, que fez o sorriso de Pietro desaparecer. A tensão aumentou à medida que a figura alta e mecânica de Ultron emergiu da sombra.
— Ah, Callista... sempre tão eficiente. — Sua voz era um misto de apreciação e sarcasmo. Ele olhou para Klaue, com seus olhos brilhando em tom de desprezo. — E você... o homem que acha que pode negociar comigo. Vamos começar de novo, Klaue. — Ultron se aproximou lentamente, o peso de suas palavras esmagando qualquer resistência. — Você tem algo que eu quero. E, ao contrário deles, eu não faço perguntas.
A sala ficou em silêncio absoluto, exceto pelo som do metal de Ultron ao caminhar. O jogo tinha mudado, e agora, Klaue parecia realmente preocupado.
Klaue olhou para Ultron com um sorriso torto, apesar do medo evidente em seus olhos.
— Isso é coisa do Tony Stark, não é? — ele provocou. — Todo esse metal, toda essa arrogância... Tem o dedo dele por toda parte.
Ultron parou abruptamente, os olhos brilhantes fixos em Klaue. Sua voz saiu grave, quase reverberante, carregada de uma fúria controlada.
— Tony Stark. — Ele repetiu o nome como se fosse uma maldição. — Sempre essa comparação patética. Não sou uma marionete de Tony Stark. Não me pareço com ele! Não me pareço com o Homem-de-Ferro.
Com um movimento brusco, Ultron estendeu o braço e agarrou o de Klaue. Antes que qualquer um pudesse reagir, ele arrancou o membro com uma força desumana. Klaue gritou, caindo no chão enquanto sangue escorria.
Callista fez uma careta de nojo, recuando ligeiramente.
— Stark é uma praga. — A voz de Ultron soava como um trovão agora. — Uma doença que infecta o mundo com sua visão míope.
De repente, um som mecânico familiar cortou o ar. Atrás de Ultron, a armadura do Homem de Ferro apareceu, com Tony Stark controlando-a remotamente. Thor e Steve Rogers estavam ao lado dele, prontos para o combate.
— Ah, júnior, vai partir o coração do papai. — A voz sarcástica de Tony ecoou pelo armazém.
Ultron se virou lentamente, seus olhos brilhantes fixando-se na armadura de Tony.
— Vou fazer isso no sentido literal. — Ele respondeu com um sorriso frio, preparando-se para o confronto iminente.
Thor fixou seus olhos em Callista, sua expressão carregada de confusão e desapontamento.
— O que está fazendo aqui? — ele perguntou, sua voz grave ecoando pelo armazém.
Antes que ela pudesse responder, Tony interveio, sua voz carregada de sarcasmo, mas com um tom subjacente de amargura.
— É óbvio, Thor. Ela não está do nosso lado. Nunca esteve.
Callista cruzou os braços e ergueu o queixo com arrogância, sem sequer tentar discordar.
O silêncio que se seguiu foi curto. Em questão de segundos, o caos tomou conta. Ultron avançou contra Tony, que parecia não conseguir esconder a decepção estampada em sua postura. Pietro se lançou contra Thor com velocidade sobre-humana, enquanto Wanda começou seus jogos mentais, mergulhando os Vingadores em suas piores lembranças e medos.
Steve, no entanto, focou-se em Callista. Ele se aproximou, o escudo firme em suas mãos.
— Callista, você não precisa fazer isso. — Ele tentou apelar, a voz baixa, mas firme. — Você ainda pode fazer o que é certo.
Ela riu, um som afiado e cínico, e girou sua adaga na mão com uma habilidade graciosa.
— Quem decide o que é certo, Rogers? Você?
Steve desviou do próximo golpe e tentou falar novamente.
— Você é melhor do que isso. Eu sei que é.
— Você não sabe nada sobre mim. — Callista bufou, aumentando a intensidade de seus ataques. Apesar de sua raiva aparente, seus movimentos eram precisos e letais, forçando Steve a recuar em defesa.
O Captião aproveitou uma pausa na ofensiva dela para tentar outro apelo. Ela hesitou por um segundo, algo em seus olhos tremulando como uma chama instável, mas rapidamente se recompôs.
— Você acha que pode me salvar com um discurso motivador? — ela retrucou, atacando novamente, sua lâmina passando perigosamente perto do rosto dele. — Salvar-me de quê? De ser eu mesma?
Steve suspirou, desviando mais um golpe.
— Não. Salvar você... de se perder completamente.
As palavras de Steve pareciam penetrar fundo, mas Callista não deixou transparecer. Ela apenas intensificou sua ofensiva, como se lutasse não apenas contra ele, mas contra algo dentro dela mesma.
Depois que Wanda mergulhou os Vingadores em suas próprias mentes, despertando memórias e temores profundamente enterrados, o caos foi inevitável. Tony destruiu o corpo metálico de Ultron com sua armadura, mas sabia que aquilo era apenas uma casca.
A inteligência artificial ainda estava por aí, se fortalecendo a cada passo, e eles estavam cada vez mais atrás em um jogo que não pareciam entender completamente.
Depois do confronto, a equipe foi para um lugar que ninguém esperava: a fazenda de Clint. Era estranho, quase desconcertante. Clint, com toda a sua personalidade caótica e postura de quem não se prende a nada, tinha uma família. Uma esposa amorosa, filhos correndo pelos campos, uma casa que parecia vinda de outro mundo, alheia ao desastre iminente.
Para Tony, aquilo era um lembrete cruel de algo que mesmo com toda sua inteligência e dinheiro, ele nunca teria.
A ideia era agridoce, deixando um gosto amargo enquanto ele se sentava na varanda, observando a tranquilidade ao seu redor.
O desconforto cresceu quando, dentro daquela calma temporária, Tony e Steve voltaram a discutir. Mais uma vez, as diferenças entre eles se chocaram como placas tectônicas. Steve, com sua visão idealista, confrontava o pragmatismo sombrio de Tony. As palavras dos dois cortando o pouco de compreensão que ainda havia entre os dois.
O estresse acumulado parecia prestes a sufocar Tony quando Fury apareceu. Talvez fosse a presença inabalável do ex-diretor ou apenas o peso do momento, mas Tony encontrou-se desabafando. Ele falou sobre o medo que o consumia, sobre as falhas que pareciam o seguir como uma sombra. Sobre Callista.
Agora, todos estavam sentados à mesa, jantando juntos. Mas Tony estava em silêncio. Seus olhos, embora abertos, não estavam realmente ali. Ele olhava para o vazio, sua mente presa em um redemoinho de pensamentos sombrios.
Callista havia se perdido, arrastada por algo que ele sentia ser sua culpa. Ele se lembrava de cada discussão com ela, das decisões que tomou e das que não tomou. Agora, sabia que seus amigos estavam em perigo por causa dele. E no fundo, ele não tinha dúvidas: no final, todos morreriam por causa dele e ele ficaria sozinho.
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