52 | CLARICE.
Após torrar completamente debaixo do sol, Lox e eu optamos por dar um mergulho no mar e refrescar o corpo. Minha pele estava bem bronzeada e estou extremamente satisfeita com minha marquinha. Nada se compara com meu alívio ao notar meu bronze em dia.
Molho meus cabelos e logo saio junto de Lox da água. Enquanto caminhamos de volta para o nosso lugar, sinto os olhares dos meninos queimando sobre nós. É impressionante o quanto esses garotos não fazem a mínima questão de disfarçar o pau estourando dentro da calça quando veem qualquer mulher passando em sua frente. Chegava à ser engraçado.
— Quero tomar uma água de coco. — Falei enquanto espremia meus cabelos, tirando o excesso de água dos meus fios.
— Tem um quiosque ali. — A ruiva aponta com a cabeça na direção do quiosque na beira da orla. — Vai lá.
Eu assinto, pegando um pouco do dinheiro que eu guardo na capinha do meu celular e colocando minha saída de praia antes de começar à caminhar rumo à orla. Já estava quase no final do dia e o sol não está mais tão quente como no meio dia. Enquanto caminho pela areia, me recordo de quando eu e as meninas saíamos para a praia no Rio. Se eu pudesse, traria elas para ficar comigo durante toda a minha estadia. Porém, sabia que nem tudo eram flores.
Chego até o quiosque e ponho o óculos de sol na minha cabeça enquanto peço à atendente uma água de coco direto da fruta. A moça assente com um sorriso e vai preparar minha bebida. Me sento na pequena mesa que há ali e abaixo minha cabeça para olhar a tela do celular. Sorrio ao abrir minhas mensagens e ver que mamãe tinha me mandado foto com nossa cachorrinha, a Mila. Nem Deus é capaz de dizer da saudade que estou até dela destruindo todas as minhas coisas que deixo de bobeira ao seu ver. Lembro de quando ela destroçou o meu tênis novo e eu fiquei de luto por uma semana. Mesmo com suas rebeldias, jamais deixei de amá-la a cada batida do meu coração.
— Passa tudo! — Uma voz grossa falou em meu ouvido e eu grito assustada, pulando na cadeira e levantando minhas mãos após deixar meu celular em cima da mesa. Imediatamente ao ver minha cara de tacho quando percebi quem era, o garoto infernal inicia uma sessão de gargalhadas altas, provocando olhares de quem passa. Eu levanto minhas mãos e soco seu peito repetidas vezes enquanto o xingo, realmente com raiva. Ele segura meus pulsos e me olha ainda rindo.
— Eu odeio você. — Murmuro, cruzando meus braços em cima da mesa.
— Eu duvido muito. — Nate se senta na minha frente e apoia seus cotovelos também na mesa, encaixando seu queixo na palma das mãos. — Por que veio sozinha?
— Não quis incomodar a Lox. Gosto de ficar sozinha. — Passo mão pelo meu braço. — Ninguém viu você vindo pra cá?
— Falei que ia no banheiro. — Arqueio minha sobrancelha.
— Realmente não tinha desculpa melhor? — Pergunto e ele faz uma careta, me olhando ofendido.
— Dou um perdido em todo mundo pra ficar perto de você e é assim que me trata? Ingrata do caralho. — Ele mostra sua língua pra mim e eu rio, pegando sua mão que estava apoiando seu queixo e puxando a mesma pra mim. Seguro sua palma com delicadeza e beijo sutilmente seus dedos, encarando os olhos de Nate enquanto faço carinho em seu dorso. Ele sorri de lado. — Já te falei que tu tá a cara da minha perdição hoje?
Eu rio fraco e nego com a cabeça.
— Não, não falou. — Ele passa a língua pelos seus lábios e direciona sua outra mão para a minha, segurando a mesma e entrelaçando nossos dedos em cima da mesa.
— Tu deve ter feito alguma macumba pra mim, papo reto. — Ele passa a mão no rosto.
— Não diz isso. Faz parecer que a umbanda e o candomblé só servem para coisas ruins. — Tombo minha cabeça levemente pro lado enquanto encaro seu rosto. Ele franze o cenho numa expressão de dúvida.
— Sei nem que porra é essa. — Confessa de forma engraçada e eu me permito gargalhar. A atendente logo traz meu coco e eu digo um "obrigada" com um sorriso no rosto antes de voltar à encarar Nate.
— Quer que eu te conte? — Ponho meu canudo dentro da fruta e já beberico um pouco da água, sentindo o líquido doce refrescar meu corpo e restaurar minha alma carioca novamente.
— Sobre o que?
— Sobre as religiões.
Ele me encara e morde o interior da sua bochecha, se mantendo pensativo. É visível o quanto ele está curioso sobre isso. Depois de ficar em silêncio por alguns segundos, ele concorda levemente com a cabeça e eu assinto, bebendo da minha água e respirando fundo antes de começar à falar sobre as religiões.
Enquanto explico sobre a umbanda e o candomblé, Nate se mantém concentrado e totalmente interessado no que digo. É até fofo, vendo ele concordar com tudo que eu falo esperando eu continuar para escutar com atenção, como uma criança na pré escola. Eu amava abordar esses assuntos pois minha avó é umbandista e, na maioria das vezes, ela sempre me levava para os terreiros e eu desde pequena fico encantada com a tamanha beleza da religião. Por mais que as pessoas infelizmente ainda tenham uma visão muito errada sobre isso, é super necessário abrir os olhos delas e mostrar o quão completa e maravilhosa a religião é.
— É você, é filha de quem? — Nate pergunta após eu explicar basicamente tudo. Coloco um sorriso no rosto e viro um pouco minha cabeça, encarando o contraste do azul claro do céu com o escuro do mar.
— Sou de Iemanjá. — Respondo sentindo meu coração esquentar.
Nate fica em silêncio enquanto me encara com um sorriso fechado e acaricia o dorso da minha mão com seu polegar. Volto meus olhos para ele, vendo que ele repousa sua mão sobre minha bochecha e passa seu dedo sobre a mesma, me fazendo fechar os olhos enquanto sinto seu toque.
Não há como negar. Meu coração é totalmente de Nathan.
•••
Já era noite e não há quase ninguém na praia. Todo mundo estava bêbado. Assim que eu vi que estava começando à ficar tonta, parei de entornar litros de cerveja e fiquei apenas na água. Ao contrário dos meninos e de Lox, que riam à toa enquanto gritavam ao falar qualquer mínima palavra. Nate estava na mesma vibe que eu, apenas ficava com seu baseado no canto e não estourava o tímpano de ninguém. Achava interessante o jeito que ele não se deixava levar pela cabeça dos amigos e estava sempre decidido à fazer o que ele queria.
— Aí — Johnson começou, levantando sua garrafa pro céu. — Eu amo muito vocês.
— Para de mentira. Só se ama à Deus. — Lox respondeu, se deitando na areia e gargalhando.
— De verdade, caralho. — Johnson falou mais alto. Seus olhos se voltaram pra mim. — Graças à ela, somos muito mais unidos. — Ele aponta pra mim enquanto fala de forma embolada e eu rio pelo nariz.
— Não precisa disso, Jack. — Respondo e ele pousa as mãos na cintura, arqueando as costas e me olhando indignado.
— Precisa sim, mana. — Ele faz um bico ridículo e eu gargalho. — Um brinde à Clarice!
Johnson levanta sua garrafa e todos ali fazem o mesmo. Eu nego com a cabeça e levanto a minha também, batendo a mesma no vidro das dele e fazendo um brinde. Todos começam à gritar e eu rio enquanto olho aquela cena. Eu nunca acharia amigos melhores.
Logo eles voltam à conversar alto e eu desvio minha atenção pro celular. Mexo um pouco no mesmo e assim que levanto a cabeça, franzo meu cenho ao perceber que Nathan não está mais ali. Olho em volta, nada. Olho para o mar, nada. Mordo meus lábios e olho para os meninos jogados no chão contando as estrelas do céu enquanto gargalham. Lox fazia algum desenho aleatório na areia. Não me arriscaria em perguntar algo e acabar me metendo num assunto que eu não queria. Me levanto da areia e bato levemente na minha bunda, tirando o excesso de areia que estava grudada nas minhas nádegas.
— Vou ao banheiro. — Aviso, porém, ninguém parecia ter prestado atenção em mim pois estavam distraídos demais fazendo desenhos com os dedos no céu.
Eu saio dali e começo à caminhar pela praia, olhando para todos os lados em busca de Nate. Me irritava o fato de ele sumir do nada, mas sabia que ele gostava de ficar sozinho.
Eu paro em frente à uma pedra alta que há ali e olho para cima, vendo o bendito Maloley sentado ali, fumando seu baseado e olhando para o mar. Nego com a cabeça e vou até a traseira da pedra, subindo na pequena escada moldada que havia ali e chegando no topo, enxergando Nathan de costas. Ali, o vento parecia bater mais forte e isso espantava a fumaça que saía dos seus lábios quando ele soltava após puxar do seu baseado. Mordo meus lábios e ando calmamente até ele, sentindo meus pés entrarem em contato com a superfície gelada da pedra.
— Perdido de novo? — Pergunto, abraçando meus cotovelos.
— Você sempre me acha. — Ele solta sua fumaça e me olha de canto, batendo com sua mão no espaço ao seu lado. Ando devagar até ali e me sento com pernas de índio, olhando a vista dali de cima para o mar.
— Está tudo bem? — Ele assente levemente.
— Tu sabe que eu gosto de ficar sozinho. — Ele responde tranquilamente e eu puxo meus lábios enquanto assinto.
Fico em silêncio. Nate logo percebe e apaga o seu cigarro, ficando mais perto de mim e acariciando meu rosto. Ele coloca uma mecha de cabelo minha atrás da orelha enquanto encara meus olhos.
— Você é muito linda. — Seu tom de voz é baixo. Eu olho para os seus lábios rosados e coloco minha mão sobre a sua.
— Por que eu? — Eu pergunto. Nate me olha confuso.
— Como assim?
— Por que ficou comigo? — Ele pisca seus olhos lentamente. — Você tem quem quiser aos seus pés. Por que quis ficar comigo, que sou sua irmã de intercâmbio?
Nathan desliza sua mão para a minha coxa e acaricia a mesma. Seu nariz se arrasta levemente contra o meu, me fazendo fechar os olhos para sentir seu toque suave. Mesmo que seja simples, transborda carinho.
— Porque eu amo você desde o primeiro dia que eu te vi dentro daquela casa. — Ele diz de forma sincera. Minhas bochechas se coram enquanto ele olha nos meus olhos de forma intensa.
Eu fico em silêncio enquanto sinto todo aquele calor se alastrar pelo meu corpo. Minhas borboletas no estômago não paravam quietas e mesmo que por dentro eu estivesse completamente agitada, eu não me atreveria à me mexer um passo.
Nathan, de forma delicada, segura meu rosto com suas duas mãos e me olha. Eu mantenho meus lábios entreabertos por conta da minha respiração pesada enquanto meu coração faz carnaval dentro do peito.
— Namora comigo, amor?
Nesse momento, o resto das barreiras que eu me esforçava pra construir foram brutalmente quebradas. O resto da minha relutância haviam sido completamente silenciados e eu temia que meu coração havia parado, pois só conseguia escutar suas batidas ficando cada vez mais lentas. Foi como se o mundo ficasse em total câmera lenta, restando apenas eu e Nathan numa dimensão totalmente vazia e repleta de sentimentos fortes e verdadeiros. Não sabia distinguir exatamente as milhões de coisas que se passaram como um trem bala dentro da minha cabeça, mas mesmo com todo o medo e pavor dentro de mim reinando com temor que alguém descobrisse o nosso segredo, eu não tinha outra resposta. Eu não podia negar o imenso e intenso amor que florescia dentro de mim cada vez que eu chegava perto dele.
Eu não podia mentir para mim mesma e omitir o meu gritante sentimento.
— Sim, sim, sim. Mil vezes. — Meus olhos marejados se comprimiram quando eu sorri de forma larga. Ele retribui o sorriso e, sem esperar mais um minuto, junta meus lábios com o dele e me abraça com força logo após. Nos entregamos tanto à aquele gesto, que caímos deitados na pedra e eu gargalhei alto, apertando seus ombros e morrendo de medo de cairmos lá de cima.
Eu me entreguei completamente ao amor e à Nate Maloley. Sinceramente, eu não me arrependo nem um pouquinho.
•••
nossa oq rolou??
eu fiz esse capítulo para agradecer aos 2k de seguidores. vocês não fazem ideia do tanto que significam pra mim e o quão feliz eu estou. de verdade. gratidão eterna por toda a felicidade que vocês transbordam em mim. com seus votos, comentários e feedbacks positivos. eu amo vocês demais!
malice mais real do que nunca? hmmm...
votem e comentem!
all the love ❤️
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