Bem, eu faria qualquer coisa por você. Você só precisa me amar;

— Nervous, The Neighbourhood.

25 February, presente | Piltover

A cabeça latejava, como se pisassem em seu pescoço diversas vezes. O corpo da azulada tremia e implorava por um lugar aconchegante, conjunto de sua mente inquieta. Yansei podia sentir suas mãos amarradas ao redor da cadeira, fazendo-a se questionar do motivo daquela situação. Os olhos cansados abriram-se dando espaço as pupilas intensas e brilhantes da mulher, essa que, aos poucos, conseguiu se acostumar com a iluminação do local.

O ambiente possuía uma decoração rústica e aconchegante, algo contrário da cadeira na qual encontrava-se amarrada. Ao canto, conseguia ter a visão da enorme janela que era fechada apenas por uma cortina em tom claro, já do lado direito havia uma cômoda com alguns papéis enfileirados organizadamente.

Definitivamente estava em Piltover, nenhum lugar da Subferia teria aquela estrutura e claridade, era alguns dos privilégios que apenas habitantes da grande cidade de lado alto possuíam. Uma sensação de desalento espalhou-se por sua pele, trazendo um pensamento um quanto familiar para si: "e se a morte estivesse batendo em sua porta? seria prazeroso". Eram pensamentos constantes em uma boa parte de sua vida, mas no momento, aquilo não seria prazeroso e apenas uma magoa cruel para si.

Por um momento, decidiu esquecer os pensamentos intrusivos e depreciativos, para assim concentrar-se em pensar com racionalidade. Pessoas de Piltover haviam á sequestrado, mas não havia sido a guarda, ou já estaria presa naquele lugar tão traumatizante. Poderia ser Caitlyn, porém a mesma estava com Jinx e Violet no momento do ocorrido.

Espera...

Buscou por suas lembranças e acontecimentos recentes, algo ocorrido durante aquela madrugada. De repente, uma informação esquecida por sua mente foi rapidamente recuperada, deixando-a repleta de raiva e aversão pela morena conhecida por si.

Enquanto sentia ondas de repulsa passear por seus vasos sanguíneos, uma movimentação na grande porta a sua frente foi possível ser escutada, percebendo com clareza a voz irritante da mulher que tanto lhe perturbava. Quando seus sentidos afirmavam o ódio injetado em si, seus olhos firmaram na porta agora aberta, fazendo-a escapar da dissociação brevemente contida.

── Acordou, Yani? ─ Perguntou retoricamente á garota, sorrindo com uma simpatia reconhecível.

Passou sua visão por cada detalhe da mesma, lembrando de quanto tempo não via ela. No entanto, logo seus olhos direcionaram as duas figuras atrás da mulher: um homem de porte alto, com um detalhe em branco em seu nariz destacado em meio ao tom retinto de sua pele. Já ao lado esquerdo, um homem com a coluna curvada e apoiado em uma bengala, mas ainda era possível reparar na estrutura alta e porte físico alinhado.

Não haviam sido os homens que a levaram, definitivamente não eram. Na verdade, Yansei até pensou que o homem da direita poderia ser algum deles, mas logo recordou-se do tamanho e o físico.

── Então você é a famosa Yansei? ─ Questionou animado, tombando a cabeça levemente para o lado.

── Sayuna, que porra estou fazendo aqui?! ─ Esbravejou ríspida, sentindo seus pulsos latejarem com a pequena força que fez contra a corda.

── Desculpa a abordagem indesejada dessa jovem, não era essa a intenção. No entanto, pensamos que devido... ─ Dessa vez, o homem da esquerda se pronunciou, trazendo toda a atenção para si. O mesmo começou, porém parou brevemente para pensar em como continuar.

── O seu comportamento temperamental. Você é alguém muito estressada, Yani. ─ Completou Sayuna, soltando uma leve risada ao final.

── Isso. Mas, bom... Soltaremos a senhorita para podermos explicar a situação, certo? ── Prosseguiu o homem novamente, apontando com seus dedos para algum dos companheiros soltar a azulada.

Os passos de Sayuna podiam ser ouvidos, a mulher indo em direção a outra para solta-la. Após desamarrar a pequena corda, a morena se afastou rapidamente, voltando a sua posição inicial. Enquanto isso, Yansei se aconchegou, podendo finalmente relaxar os pulsos.

Os outros três presentes se entreolharam para decidir quem começaria, iniciando uma pequena guerra de olhares, que Viktor perdeu com um toque de desapontamento.

Então, com uma tosse seca de início, o homem começou:

── Não existe apenas este universo, e não se entorna apenas em uma crença, é algo evidente. O futuro que nos espera é algo sombrio, girado em torno de ações de seres passados e atuais, algo — até então — impossível de ser mudado. O universo interligado diretamente com esse é onde o futuro terrível aguarda todos, mas fixado apenas em alguns. Yansei, nesse futuro você ocasiona uma guerra após a morte de Jinx. Essa guerra será pior, mais intensa da que vivemos anos atrás, essa deixará feridas impossíveis de serem fechadas. ─ A cada palavra dita, Yansei curvava suas sobrancelhas, compreendendo cada palavra dita, mesmo que a deixasse atordoada.

── Consequentemente, apenas você, ligada diretamente com as ações do passado, futuro e presente, pode interromper essa situação cruel e devastadora para todos. Mas, principalmente, para você. ─ Completou Ekko.

27 February, presente | Piltover

Dois dias. Haviam se passado dois dias dentro de um quarto, onde saía apenas para fazer alguns exames de sangue e testes com equipamentos — até então desconhecidos.

A garota não continha ideia do que acontecia ao lado de fora, de como estava Jinx e Isha, ou se as duas insuportáveis da Violet e Caitlyn estavam bem. Os acontecimentos atrás daquele edifício eram desconhecidos por si, o que a deixava aflita e amedrontada. Representava algo aterrorizante, não ter noticias das pessoas que amava e se importava se tornou desesperador, principalmente estar presa em um lugar onde o que lhe restava era apenas se afundar em memórias.

Sua mente rondava apenas quatro pessoas de sua vida, além de toda a situação explicada para si. A cada dia, conseguia descobrir e se aventurar mais nas ideias e explicações dadas, mas ainda não era suficiente para preencher seus pensamentos por completo.

Respirou e inspirou, mas ainda seria seu coração acelerado, conjunto da mão inquieta em seu colo. Tudo parecia desesperador e aterrorizante, precisava de algo para aliviar sua mente e descansar.

Então, em uma breve memória, lembrou-se de sua bolsa que Sayuna havia trazido, petrificando na lembrança dos pequenos vidros de Cintila guardados ao fundo. Em um ato de perda de controle, procurou ansiosamente pela bolsa, revirando cada canto com vontade. Ao encontrar o líquido, inseriu em seus olhos no mesmo instante, digerindo a droga como um vício profundo.

Possuía uma memória perdida de Jinx naquela ação, algo reconfortante e apreciativo.

A sala se mergulhou em penumbra, com apenas a luz trêmula de um poste entrando pela janela entreaberta, iluminando o cômodo escuro e opaco pela falta de luz da madrugada. No chão, espalham-se objetos perdidos que haviam sido retirados da pequena bolsa da garota. Ela encontrava-se sentada contra a parede, as pernas esticadas, o corpo relaxado, mas a expressão no rosto era uma mistura de alívio e tormento.

Os olhos da azulada estão vidrados, perdidos em um ponto distante, como se estivesse vendo algo que ninguém mais pode enxergar. O mundo ao redor parecia desbotado, mas na mente dela, Jinx aparecia. O sorriso dela, as mãos delicadas, a risada que a fazia sentir viva. Cada detalhe que a lembrava da sensação de estar viva e não sozinha, do universo de um amor.

As memórias perdidas no fundo de sua mente esvaindo e vindo como uma névoa interior. Mas há algo mais — uma dor oculta, um arrependimento profundo, porque ela sabe que isso não trará a outra azulada para seu lado. A presença dela é um eco, uma ilusão que desaparecerá assim que a substância perder o efeito.

Sentiu um desespero genuíno, havia medo em seu corpo, algo que nem mesmo o efeito profunda da Cintila poderia apagar. Gostaria de poder correr para os braços de Jinx e morar ali, porém para isso precisaria consertar algo imaginável.

Uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha, quase imperceptível, enquanto Yansei murmurava o nome dela ao vazio. Clamando por um espírito distante e sem poder. O ambiente ao seu redor tornando-se um caos silencioso, como em um campo de batalha. Com olhos curiosos e incertos olhava para a seringa vazia e sem nenhum vestígio de Cintila, deixando apenas o efeito mórbido para trás.

Os primeiros minutos após o uso haviam sido um alívio enganoso, uma fuga momentânea da dor que a consumia. Mas agora, a substância parecia amplificar tudo, trazendo a saudade à tona como uma onda avassaladora. De repente, o peito de Yansei se aperta como se faltasse ar. O coração dispara, não pelo efeito da droga, mas pelo vazio que sente. Ela tenta controlar a respiração, mas cada inspiração traz mais lágrimas, cada exalação parece um soluço preso, um aperto em seu pulmão como se arrancasse os ossos de forma firme e cruel. Uma tortura psicológica, ocasionando estragos físicos de acompanhamento.

Ela aperta os próprios braços, como se tentando conter a dor que parecia transbordar, resolvesse algo. A cabeça gira, e entre flashes de lembranças felizes, ela sente que está se perdendo, afundando em uma mistura de arrependimento, saudade e solidão. O efeito da droga deveria anestesiá-la, mas tudo o que faz é intensificar o que ela mais queria esquecer: a ausência da mulher que era o centro de seu mundo.

Uma onda de solitude entrelaça seu corpo enquanto a garota se rasteja perdida e com dor, procurando um alivio para aquele sentimento — que nem ao menos sabia se era da droga ou de dentro de si. Apenas doía, como se adagas perfurassem seu coração sem dó.

Uma cachoeira de solidão lhe alcançou, puxando-a freneticamente. Um afogamento silencioso, mas doloroso e profundo. Porém, como uma voz no fim do túnel, algo ecoou.

── Yansei! Mantenha-se acordada. ─ A voz grossa do homem nomeado de Viktor a alcançou.

Não morreria por uma droga insignificante. Não poderia fazer mais mal a si mesma sem antes salvar Jinx.

...

Tentei revisar essa capitulo correndo para não passar das 00:00, mas foi difícil af.

As coisas estarão sendo esclarecidas aos poucos, então fiquem tranquilos. Ainda muita coisa será abordada. Yansei depressiva voltou com tudo, a bixinha toda ferrada.

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