08. Capítulo Oito
14 de dezembro de 2019
Lake City, Seattle, WA
Já fazia algum tempo que Andy não acordava de ressaca, então a sensação agonizante de dor de cabeça a fez estranhar a manhã. Claro, além de estranhar também o local em que estava. Se sentando na cama, a mulher olhou ao redor, vendo seus calçados no canto da porta, e encarando o piso de madeira enquanto se lembrava de flashes da noite passada que o álcool não havia apagado.
Não precisou de muito tempo para ela reconhecer que estava na casa de Jeffrey, e notar que aquele não parecia o quarto principal da casa. Notando ainda estar vestida nas próprias roupas e tentando não fazer barulho, ela se sentou, pondo de volta seus calçados e se levantou, dando longos passos para fora do que parecia ser um quarto de hóspedes.
Ao sair, Andy sentiu o aroma forte de café pela casa, e viu a porta de um dos quartos aberta. A cama estava desarrumada, mas a camisa dobrada no braço da poltrona deixava claro que era o quarto de Jeffrey. Mais alguns passos fora do corredor e ela desceu as escadas, sendo recebida na sala de estar pelos latidos amigáveis de Honeydog e Bandit.
— Oi, lindinhas. Bom dia, também — Andy desejou, acariciando os pelos de ambas e seguindo para onde o som de fritura a chamava.
Jeffrey estava cozinhando. Panquecas estavam dispostas em dois pratos, mel, chocolate e o que parecia ser caramelo em pequenos potes. Frutas em uma vasilha de vidro, e bacon na frigideira, espalhando o aroma pelo cômodo. Ele estava vestido com uma calça moletom, e uma camisa preta descansava nos ombros dele. O torso estava a mostra, a pele marcada com algumas tatuagens e o físico atrativo.
— Bom dia — Ele desejou, já tendo notado a presença dela ali pelos latidos animados das duas cadelas.
— Bom dia... — Andy respondeu, desviando o olhar e se apoiando na bancada. — Você... Por acaso, me trouxe dormindo para dentro?
— Não ia deixar você no meu carro — Ele retrucou, desligando o fogão e limpando as mãos em um pano úmido. — Não foi nada demais, se é o que está pensando. Meu maior problema foi não bater a sua cabeça subindo as escadas.
— Agradeço que não bateu.
— Quem disse que não bati?
Ele ergueu a sobrancelha, claramente brincando, fazendo a mulher dar uma suave gargalhada. Com a distração, o homem vestiu a camisa, tendo Andy mordendo o lábio suavemente enquanto aproveitava os últimos segundos da visão.
— Agradeço por cuidar bem de mim.
— Não precisa agradecer, meu bem. Achei que seria menos estranho deixar você no quarto de hóspedes também.
— Foi, sim — Ela comentou com um sorriso doce.
Jeffrey assentiu, e puxou a cadeira em frente a dele para ela. Acenando, ele a chamou, e Andy caminhou até o homem com o mesmo sorrisinho, se sentando e agradecendo em um murmúrio. Ele serviu o bacon nos dois pratos e trouxe a bebida para perto.
— Fiz chocolate quente para você. Bebeu bastante ontem, precisa repor o açúcar — Ele explicou, servindo numa xícara para ela. — Não sabia sua quantidade de comida, então... Se quiser mais...
— Está tudo perfeito, Jeff. Obrigada.
Com um sorriso grato, Andy tocou a mão dele, tentando o confortar sobre o tópico. O homem abriu a boca para dizer algo mais, mas as palavras não saíram após a sensação do dedão dela massageando o pulso dele.
— Bom apetite então — Foi tudo o que conseguiu dizer, se sentando na cadeira de frente para ela.
E, assim como na noite da pizza, os dois se sentaram juntos e comeram em um silêncio confortável, apenas com Andy vez ou outra parando para elogiar ele pela comida. O café da manhã havia sido completo, e Andy se sentiu cheia e satisfeita antes mesmo que pudesse terminar tudo. Sem precisar de remédio, sua dor de cabeça já começava a passar, e ela não perdeu a oportunidade de ver Jeffrey sorrir ao ouvir seus agradecimentos.
— Uma coisa já havia atraído a minha curiosidade antes e... Karl perguntou ontem... O seu nome vem mesmo da constelação de Andrômeda? — Ele questionou, vendo o sorriso leve da mulher enquanto dividia o último pedaço de bacon entre Bandit e Honeydog.
— Sim. Minha mãe é astrônoma e é obcecada pelo universo, Andrômeda é a galáxia favorita dela e, não coincidentemente, a constelação favorita também. Me nomeou em homenagem quando eu nasci.
— É um nome bonito, com um significado bonito também — Jeffrey sorriu, com Andy assentindo devagar, boba e desconcertada com o elogio. — E o seu irmão? Leo... Leonis?
— Isso. Vem do nome Cor Leonis, um dos nomes da estrela Regulus, da constelação de leão.
— Sua mãe é muito criativa, tenho que dizer.
— Eu sei, vem da criação. O nome dela é Carina em homenagem a constelação também.
— É uma bela tradição — Jeffrey sorriu, se sentando confortavelmente na cadeira agora. — Mas você é criativa com os nomes também. Seu gato me surpreendeu.
— Ah, é? Eu sei que você amou o meu Don Vito.
— E como! Ele tem uma aura de chefe de crime.
— Chefe da máfia, Jeff.
— Mafiosos são criminosos, boneca.
— Criminosos de respeito — Ela riu, fazendo o homem rir baixo também, negando devagar.
— Me lembro de você explicar o nome de Pushkin, mas e Dante?
— Dante vem de Dante Alighieri, d’A Divina Comédia, uma parte fora da literatura russa que tem meu coração.
— Gosta mesmo de livros, hm?
— Me acostumei a ler muito desde pequena. Acompanhava minha mãe no trabalho dela e com pouco tempo eu já havia lido bastante daqueles livros de astrofísica e não entendia nada, então ela sempre comprava livros novos para passar o tempo.
Jeffrey sorriu ao assentir, achando adorável que algo tão positivo havia sido incentivado para Andy. Claramente havia dado resultado, pois ele podia dizer com certeza que a mulher era uma das mais cultas e inteligentes que ele já havia conhecido, e isso porque sequer viu suas habilidades no trabalho ainda.
— Ela criou uma excelente filha, isso é certeza — Jeffrey a respondeu com um sorriso, o que fez Andy rir baixinho.
— Nem sempre tão excelente assim, mas eu faço o que posso.
— Sem charme, você sabe que é excelente sim.
Os elogios dele jamais falhariam em deixá-la envergonhada, como uma adolescente sendo notada por alguém que gostava. Como se ela pudesse e fosse virar as costas e correr naquele momento. Certamente queria isso, pois precisava molhar o rosto e a nuca com água gelada, sabia que suas bochechas mostravam o tom rosado que entregavam seu estado.
Não que Jeffrey se importasse, ele com certeza adorava ver a cena.
— Na medida do possível. Todos nós temos um lado meio secreto, obscuro...
— Fale por você — Ele brincou, desviando o olhar e ouvindo a risada dela.
— Então você é perfeito, Jeff?
— Não sabia, querida?
O olhar e sorriso convencidos quase foram o suficiente para fazê-la acreditar. Aquele lado mais leve, brincalhão e provocativo dele nunca falhava em fazê-la se sentir daquele jeito.
— Você é muito idiota — Ela disse, ouvindo agora a risada dele em resposta. — Fala sério, nunca fez algo que manchou um pouquinho sua reputação? Mesmo que só você saiba...
— Está querendo desvendar meus segredos, mulher?
— Talvez... — Ela mordeu o lábio, desviando o olhar ao provocar. — Anda, me conta.
— Sinto decepcionar você, meu bem. Mas o máximo que fiz foi... bom...
— Bom?
— Algumas vezes eu já substituí o cigarro normal por... outra coisa — Ele respondeu, fazendo o queixo de Andy cair, e a feição surpresa suavemente se transformar em uma provocativa.
— Pecador... Quando foi?
— Muitos anos atrás. Eu era jovem, burro. Me deixei levar por conversas de amigos e acabei experimentando. Algumas vezes.
— Algumas vezes?
— Tive que insistir para entender por que gostavam tanto daquilo!
Ele deu de ombros como se fosse a situação mais simples que já passou, e o ato fez Andy rir baixo, negando devagar conforme ele ria com ela. Quando finalmente puderam se recompor, ele devolveu o questionamento para ela.
— Ah não...
— Ah sim, vai ter que me dizer qual é o seu segredinho.
— É muito... Sujo. Não posso.
— Andy! Não é como se eu fosse contar para alguém.
— Não sei, vai que você quer vazar minhas informações? — Ela semicerrou os olhos, ouvindo o homem estalar a língua ao tomar mais um gole do café.
— Fala de mim, mas você adora uma idiotice também — Ele disse, rindo com ela quando ela assentiu devagar. — Anda, me conta.
— Okay... Você não pode me julgar, mas... — Ela suspirou, limpando a garganta para dizer. — Na faculdade... Houve uma matéria que eu não consegui bons pontos, e eu nunca havia reprovado... Eu achei que iria ficar de recuperação, então... Em um ato de desespero, eu dirigi até a casa do meu professor...
O silêncio enquanto ela procurava as palavras certas foi o suficiente para Jeffrey arregalar os olhos e gargalhar, cobrindo a boca em uma expressão de choque.
— Não acredito!
— Calma! Eu não cheguei a fazer nada. Antes que eu até mesmo chegasse ao bairro dele, minha amiga me avisou por SMS que ele havia liberado a lista de aprovados e eu havia passado. Por muito pouco, mas passei.
— Então você não ficou com o velho?
— Jeffrey! Ele nem era velho. Tinha trinta na época e era bonitinho, eu tinha vinte e dois e nada a perder a não ser minha graduação perfeita.
— Andy... Eu estou chocado.
— Ah, para!
— O quê? É sério!
— Você fumou maconha, Jeffrey!
— Sexo e fumo são coisas diferentes.
— Mas eu não cheguei a fazer nada. Ele nem sabe que eu ia tentar.
— Tá brincando...
— Não.
— Você só ia chegar na casa dele e oferecer?
— É!
— Você ia assustar ele, Andrômeda!
— Hm, claro, como se homens tivessem medo de sexo.
O silêncio após a resposta dela durou pouco, sendo seguido por uma gargalhada estridente de ambos ao mesmo tempo. E levaram um tempo para se recuperar, ele, por concordar com ela, e ela, por sequer acreditar que finalmente havia contado aquilo para alguém.
Entre mais alguns olhares e risadas trocadas, Andrômeda limpou as breves lágrimas dos olhos e se levantou, dando um tapinha no ombro de Jeffrey quando os dois finalmente recobraram a compostura.
— Anda logo, chega de conversar besteira.
— Ah, vou querer saber de mais segredinhos depois.
— Nem em sonho!
Ela retrucou, caminhando com ele em direção a sala de estar, onde o homem andou até a mesa de centro próxima do sofá maior, tirando uma garrafa de vinho de uma caixa, e retornou para perto dela.
— Não sei se você gosta, mas estou testando uma coisa nova e gostaria que provasse. E desse uma nota depois — Ele pediu, entregando a garrafa para ela, que tomou seu tempo lendo o rótulo.
— Vinho de morango?
— Sim. Eu queria inovar nas produções e... Acho que apostar em um ramo como esse pode ser um acerto — O homem comentou, seguindo até a porta com Andy e seu olhar confuso.
— Parece bom, a cor é bonita — Ela elogiou, notando os detalhes do rótulo, e sorriu gentil para o homem. — Vou gelar e esperar um bom momento para tomar uma taça.
— Espero que goste.
Andy assentiu em concordância, como uma pequena garantia de que ela realmente iria gostar da bebida. E esperou que Jeffrey abrisse a porta, apenas para serem surpreendidos pelo carro estacionando na frente da casa. Jeffrey reconheceu a mulher dirigindo, e as duas crianças no banco traseiro. Sua ex-mulher e seus filhos.
Acompanhando Andy escada abaixo, Jeffrey aguardou até que a mulher se aproximasse. Sem saber o que fazer, Andrômeda apenas manteve uma distância segura do homem, e sorriu com ternura quando a pequena George e Augustus correram na direção dela, abraçando-a antes mesmo de abraçar o próprio pai.
— Eu desenhei o seu cachorro em uma atividade da escola! — Augustus disse, enquanto ela estava agachada, deixando que George brincasse com as unhas decoradas dela.
— É mesmo? O Pushkin?
— Sim! Olha!
E, enquanto observava o desenho escolar do garoto, ouviu a mulher explicando para Jeffrey algo sobre sua emergência familiar em outro estado, sua razão para trazer as crianças para ele naquele fim de semana. Jeffrey não parecia ter qualquer objeção, aceitando as crianças com as bolsas da escola. Já tinham tudo o que mais poderiam precisar na casa do pai.
— Eu amei o desenho, Gus. Com certeza vai ganhar um dez.
— Eu posso dar ele de presente para você depois.
— Você não vai sentir falta?
— Não, eu desenho outro.
— Então eu aceito.
Com uma risada, o garoto correu para dentro, provavelmente pronto para refazer seu desenho, fazendo os pais sorrirem. Andy se levantou, deixando que George buscasse o colo do pai como parecia querer. E sorriu para a ex-esposa de Jeffrey, não sabendo bem como contornar a situação. Era um momento estranho para ser vista saindo da casa do homem.
— Ah... Esta é Andrômeda, minha vizinha. Andy, esta é Hilarie, a mãe das crianças.
— É um prazer conhecer, Gus falou muito de você e dos seus cachorros — Hilarie comentou, com um sorriso sincero quando estendeu a mão.
— O prazer é meu! Ele é adorável e muito inteligente, e a George é muito fofa — Ela elogiou, ouvindo a risadinha da menina.
— Ela é sim...
E, com apenas uma interação, toda aquela estranheza havia sumido. E Hilarie se virou para Jeffrey outra vez, dando um beijo no topo da cabeça de George.
— Obrigada mais uma vez, Jeff. Tenho que ir agora, mas se precisar de algo...
— Nem se incomode, pode ficar tranquila e vir buscar eles quando achar melhor.
— Está bem... Andy, espero poder vê-la de novo!
— Com sorte, e mais tempo para conversar, sim!
Assim, Hilarie retornou para o carro, dirigindo até sumir de vista. Limpando a garganta, Andy se virou para Jeffrey, sorrindo ao vê-lo confortando a pequena George pela ausência da mãe. E, já estando de partida, ela apenas retomou sua despedida.
— Anda, agora você tem o que fazer — Ela provocou.
— Para de me chamar de desocupado, mulher — Ele protestou, fazendo-a rir.
— Como se fosse mentira.
— Olha quem fala.
— Eu estou de férias!
— Para de desculpinha, Andy.
— Eu te odeio, sabia?
— É recíproco, meu bem.
────────
ⵌ ᴏʟᴀ!
Nem vão dizer que eu demorei dessa vez, hein!
Duas semanas é quase nada...
Tô focando um pouco em outros projetos de escrita, e pretendo lançar mais um projetando junto a segunda temporada de HOTD, então se você aí gosta da série, já aviso que vem coisa boa ;p
Postado dia 02.05.24
Não revisado.
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