ೋ°|𝗖𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 𝟑𝟐
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Satoru boceja pela milésima vez naquela noite assim que pisa no último degrau da escadaria na entrada da Escola Jujutsu, depois de mais uma exaustiva e chata missão com seus dois alunos.
– Caramba, eu tô exausta. – Nobara resmunga.
– Não foi tão difícil. – Megumi revira os olhos – Duas maldições de semi-segundo nível não dão tanto trabalho.
– Eu não tô falando dessas maldições. – Ela massageia as costas – Tô falando do treinamento com o Panda e a Maki, eles ainda vão me quebrar.
– Não exagera.
– Bom, garotada! Já está tarde. – O mais velho diz com as mãos juntas no lado da cabeça – Estou louco pra tirar um ronco e aposto que vocês também, então bora dormir. Mas antes, agradeçam ao seu gentil e lindo professor por ter levado vocês pra fazer alguma coisa, pra depois não disserem que eu não ensino nada.
– Prefiro a Haruna-Sensei.
– O quê?! – Ele se vira para a ruiva indignado.
– De todo jeito, estou morrendo de sono e preciso do meu soninho de beleza. Então até amanhã. – Nobara boceja acenando para os dois e sumindo nos corredores.
– Essa garota não tem o mínimo respeito por mim. – Gojo faz bico.
– Não é como se você se importasse em tramitir respeito para os seus alunos. – Megumi da de ombros e vê ele abrir a boca pra retrucar – Ficar falando que é o mais forte não é transmitir respeito.
Satoru fecha a cara desacreditado de como o garoto se parecia com Haruna as vezes.
Vê o Fushiguro se despedir com um simples aceno de cabeça e suspira cansado. Estala o pescoço e se teletransporta imediatamente para frente de casa, vendo as poucas luzes acesas que iluminavam levemente o jardim em frente da residência naquela noite escura e agradável.
Abriu a porta e inspirou o ar com cheiro de lar que tanto gostava, mas franziu a testa vendo a luz da cozinha acesa, iluminando o corredor. Andou devagar até lá e viu Haruna na frente do fogão cozinhando alguma coisa.
– Cozinhando uma hora dessas? – Riu andando até ela e beijou seu ombro, vendo ela virar os bolinhos de peixe fritos na frigideira – Alguma ocasião especial que eu não saiba?
– Que dia é hoje, Satoru?
– Sexta-feira? – Fenziu a testa confuso, escutando ela enxugar os olhos com o antebraço e fungar – O que aconteceu?
– Quando eu voltava das viagens, eu sempre fazia bolinhos de peixe frito nas sextas-feiras pro Megumi e pra Tsumiki quando eles eram mais novos. – Fungou outra vez – E-Então eu resolvi fazer outra vez, mas me lembrei que eles não estão aqui pra comer.
Satoru se assusta quando a esposa solta um soluço e começa a chorar baixinho como se tentasse segurar a ação, enquanto colocava os bolinhos prontos em uma travessa em cima da bancada.
– Haruna, pelo amor de Deus. – Ele arregala os olhos nervoso – Por que isso agora?!
– Eu não sei. – Soluçou – Eu só... não sei.
– Você não chora por nada. – Vê ela secar as lágrimas enquanto enfiava um bolinho na boca.
– Eu sei.
– Então por que está chorando?!
– Eu não sei! – Haruna responde nervosa vendo a confusão nos olhos azuis dele – Eu só não consigo parar. Mas esses bolinhos estão muito gostosos.
Ela soluça mais uma vez depois de comer mais um da travessa.
– Eu sou tão ridícula. – Haruna murmurou com os lábios tremendo e mais lágrimas insistiam em escorrer de seus olhos.
Ele põe as mãos na cabeça sem saber o que fazer, não entendendo o comportamento estranho e precipitado da esposa, vendo a feição quase depressiva dela. A mulher encosta a cabeça na bancada com um bico entristecido nos lábios rosados.
Além do fluxo de energia amaldiçoada do corpo dela estar circulando de uma forma peculiar a alguns dias. Coçou a cabeça tentando se lembrar do dia exato em que estavam, e franzi os lábios vendo que estava quase no final do mês.
Coisas de mulher, deve ser isso.
Satoru suspira encolhendo os ombros, e força uma pequeno sorriso, andando até a morena em passos lentos, com medo de fazer alguma movimento precipitado e deixa um beijo no topo da cabeça dela.
– E se eu levar os bolinhos pro Megumi, você para de chorar? – Ele sorri satisfeito vendo os olhos dela brilharem – Parece que sim.
– Você faria isso?!
– O que eu não faço por você, amor? – Cruzou os braços vendo ela colocar os bolinhos em uma vasilha e a fechou bem, colocando em um sacola na velocidade da luz.
– Toma, vá rápido antes que esfrie. – Ela o entrega e depois morde os lábios, abaixando o olhar para o chão – Satoru?
– Sim, querida.
– Traga lamém pra mim. – Ela segura o queicho como se estivesse vendo a comida bem na sua frente – Com tiras de carne de porco e tomate, muito tomate.
– O quê, de novo? Você já comeu um desse hoje. – Franziu o nariz – Já está querendo demais.
– Por favor. – Ela pede com uma feição abatida – Por mim. Estou com muita vontade agora.
Satoru revirou os olhos, e mesmo exausto, não conseguia ver essa carinha triste daquele jeito. E sabia que se não fizesse, eles não dormiriam a noite, não pelo motivo que queria.
Haruna parecia outra pessoa em alguns momentos, estava chorando por nada e estava comendo o triplo do normal, além de dormir bem mais que antes. Esses períodos de hormônios deixavam ela ainda mais irritada que o normal.
– Mulheres...
Deu de ombros indo até a saída de casa, indo direto pra escola outra vez, e assim que chegou, andou preguiçosamente até a direção dos dormitórios. Mas um cheiro familiar de nicotina inundou suas narinas e fez careta com o aroma desagradável.
– Fumando uma hora dessas, Shoko? – Se virou para a direita, vendo a mulher soltar a fumaça de seus lábios depois de tragar seu cigarro, encostada em um pilar de madeira, lugar onde ela geralmente usava para fumar – O câncer de pulmão vem de trem-bala.
– Essa é a melhor hora pra fumar, se você quer saber. E vai cuidar da sua vida. – Ela responde com o cigarro entre os dentes – O que está fazendo aqui? Pensei que já tinha ido pra casa.
– Me ofereci pra entregar os bolinhos que Haruna fez pro Megumi. – Bocejou, esticando os braços – Pelo menos ela parou de chorar.
– Chorar? – Shoko franzi a testa – Estamos falando da mesma pessoa?
– Ela própria. – Concorda andando até Shoko, se encostando no pilar ao lado dela – Mulheres são um saco as vezes, tem hora que não dá pra saber o que se passa na cabeça de vocês.
– Olha como fala, babaca. São vocês homens que são burros demais pra entender. – Ela resmunga vendo a feição ofendida dele de formar – Afinal de contas, ela está se sentindo bem?
– Bom... ela chora as vezes, vomita quando começa a comer doces e o humor está horrível. – Satoru coça a nuca mas depois sorri malicioso – Mas ela está bem mais carinhosa em alguns momentos, se é que me entende.
– Não precisa falar das nojeiras de vocês dois pra mim. Mas... – Shoko faz uma careta, soprando a fumaça do cigarro outra vez, com um olhar pensativo e depois engasga – Aí meu Deus...
– O que foi?
– Você é muito burro, Satoru. – Shoko ri vendo a feição confusa dele – O que você acha que é?
– Coisas de mulheres? – Segura o queicho – Aquilo todo mês, né? TPM.
– Quer saber? – Shoko tragando mais uma vez, revirando os olhos – Deixa pra lá.
– Hum. – Ele acena – Tô indo. Tenho que deixar isso por, Megumi.
– Ela gosta bastante do Fushiguro.
– Tá falando sério? Haruna ama esse garoto, todo mundo sabe disso. – Satoru diz – As vezes eu penso que ela gosta mais dele do que de mim.
– Talvez algum dia vocês dois amem alguém bem mais que o Fushiguro. – Shoko diz com um sorrisinho travesso.
– Não entendi.
– Nunca pensou em uma mini miniatura de vocês correndo pelo jardim fazendo travessuras?
Satoru prende a respiração quando processou as palavras da antiga companheira de equipe e abaixou a cabeça, quando a imagem de uma criança se formou em sua mente por um breve momento e seu coração acelerou por alguns segundos.
– Talvez. – Presionou os lábios – Mas... é difícil de explicar. Uma criança é algo que se exige muita responsabilidade.
– Logo você falando de responsabilidade?
– Quando eu era só um pirralho, entendi que no mundo jujutsu a maioria das crianças ficam sozinhas, amor entre pais e filhos é muito raro. Isso aconteceu comigo, tanto que nem mesmo consigo me lembrar do rosto do meu próprio pai. – Ele suspirou dando de ombros – Você, Kento e os outros, tiveram um infância normal, mas quem nasce desde o começo envolvido em tudo isso... é bem diferente. E não é isso que eu quero para um filho meu.
– Não precisa ser diferente com vocês. – Shoko diz soltando o cigarro no chão e pisando em cima o apagando – Tenho certeza que vocês dois dariam uma boa infância a uma criança.
– Eu sou um Gojo, e Haruna é uma Uchiha com sangue Zenin. – Deu de ombros – Você acha que os superiores, principalmente os Zenin que terão parentesco direto, nos deixariam em paz sabendo que existe uma criança assim? Com a junção de três clãs principais de feiticeiros jujutsu? Eles grudariam na gente com interesse nos poderes do nosso filho.
– Não é algo impossível de evitar. – Shoko murmurou.
– Eu sei que não é, mas mesmo que eu tente o proteger de tudo isso... – Cruzou os braços – Prefiro não trazer alguém ao mundo em que exigiriam tanto de seu potencial, e não o vissem apenas como uma criança. Assim como fizeram comigo e com Haruna.
Engoliu em seco só de imaginar algum filho seu, sentir tudo o que passou durante sua infância. Podia ter sido vangloriado, bajulado, ganhado tudo que tinha direito e adorado por todos desde que deu seu primeiro suspiro. Mas ter o que as outras crianças tinham, como acordar apenas para se divertir com os amigos sem se preocupar com maldições ou treinamento e dormir sem se preocupar em perder a cabeça por causa de uma recompensa? Era raro.
Até fazer amigos era algo difícil, por não saber as reais intenções daqueles que se aproximavam.
Apenas olhares cheios de interesses por trás dos sorrisos falsos e o peso das expectativas de todos sobre os ombros. Isso não é algo que uma criança deveria lidar, isso faz com que elas cresçam rápido demais.
Deve ser esse o motivo de sempre gostar de escutar as histórias que Haruna o contava sobre o início de sua infância, antes de ser obrigada a se preocupar em ser uma feiticeira jujutsu excepcional, apenas pelos caprichos do líder do clã Zenin. Ficava admirado que os Uchihas não eram tão exigentes como os outros.
Mas esse poderoso clã só possui um único membro vivo, e uma só pessoa não é suficiente para sossegar os desejos egoístas dos superiores. Como já disse, mesmo se matassem todos aqueles velhos asquerosos, ele seriam facilmente substituídos por outros ainda piores.
– Não quero ser o culpado por fazer mais alguém sentir isso... – Soltou uma lufada de ar. – Então, quando eu ainda era criança, decidi que não teria filhos.
– Entendi. – Shoko murmura com um olhar sério.
– Mas Haruna já me falou uma vez que queria ser mãe quando estivesse pronta pra isso. – Sorriu discretamente – Então eu já me peguei repensando nisso algumas vezes.
– Ver você assim, todo pensativo é bem raro.
– Você sabe que nada na minha vida relacionado a isso teve um bom final, Shoko. Não quero ter que passar por aquilo também. – Ele olha nos olhos dela e depois se virou de costas para a mulher – Eu não suportaria perder mais alguém. Não sei porque começou com esse assunto de qualquer maneira.
– Espero que você saiba lidar com isso um dia. – Shoko diz vendo ele andar até seu destino inicial.
...
Satoru deixa a comida com Megumi, que não entendeu o motivo de sua responsavel mandar algo assim em uma hora daquelas, mas não questionou, percebendo a feição cansada e distraída do Sensei.
O albino volta pra casa e deixa a comida que sua mulher havia pedido em cima da mesa retangular da cozinha, que já estava devidamente organizada e limpa novamente e franziu a testa vendo que ela não estava mais lá.
Sobe as escadas andando até o quarto principal, tirando a camisa do uniforme, sentindo o sono aumentar cada vez mais a medida que os minutos se passavam. Seu dia havia sido uma chatice, cheia de reuniões com os velhos e missões que era obrigado a ir, tanto sozinho, quanto com seus alunos, além de ter que instruir o Itadori.
Abriu a porta e jogou a camisa junto de sua venda em algum canto qualquer e suspirou quando viu Haruna esparramada na cama em um sono profundo, com sua pele alva que chegava a brilhar com a leve luz da lua que entrava pela cortina aberta, vestida com uma fina camisola azul e com seus cabelos negros compridos espalhados pela cama.
Sorriu aliviado sabendo que finalmente receberia o devido prêmio, poderia dormir ao lado de sua esposa depois de uma dia cansativo. Se deitou sentindo o cheiro doce da mulher impregnado nos lençóis, se aconchegou a ela e fechando os olhos, soltando um suspiro de satisfação. Sua mão se seguiu até a cintura fina no intuito de abraçá-la por trás e sua mão foi de forma inconsciente até a região da barriga dela e voltou a abrir os olhos.
Engoliu em seco com o pensamento de que algum dia, uma criança poderia estar lá. Balançou a cabeça tentando afastar esse pensamento. Shoko realmente conseguiu impregnar esse assunto em sua mente.
– Satoru? – Escutou a voz rouca de Haruna e encostou o rosto nos cabelos dela, sentindo o delicioso aroma de maçã verde que ela usava desde que a conheceu – Chegou agora?
– Sim. – Ele segura a mão dela, entrelaçando seus dedos e deixando um beijo na bochecha dela que havia se virado e aninhado o rosto no peito dele – Haruna?
– Hum?
– Eu te amo.
– Ah... eu também te amo, Satoru. – Ela abre os olhos confusa vendo o olhar indecifrável dos olhos infinitos dele – Você é muito estranho as vezes, sabia disso?
– E você voltou a ficar chata. – Ele ri quando ela da um tapa em seu braço com uma careta – Está até me batendo!
– Idiota. – Haruna faz bico se virando para o lado contrário dele novamente, puxando seu lençol para se cobrir – Vai dormir logo e me deixa em paz.
– Ei, moça bonita. – Ele se coloca debaixo das cobertas e a abraça fazendo a mulher soltar um gritinho surpreso – Não venha me tratar desse jeito, eu trouxe sua comida nojenta!
– Eu não quero mais.
– Então você me fez ir uma hora dessas comprar aquela coisa pra nada?!
– Você demorou demais, minha vontade já passou. – Ela ri enquanto tocava seus dois dedos até a testa dele – Mas mesmo assim, obrigada.
Satoru sorri levemente e deita a cabeça na barriga da esposa, quase rendido pelo sono, enquanto sentia o carinho que os dedos dela faziam em seu cabelo.
Abriu seus olhos levemente e levantou o olhar, vendo o rosto angelical de sua companheira bem a sua frente, com os olhos negros e brilhantes que tanto amava o observando atentamente, com um lindo sorriso preguiçoso em seu lábios rosados.
Uma bela visão.
Talvez não fosse tão ruim ter uma pequena cópia dela algum dia. Sorriu fechando os olhos novamente, sentindo o carinho em seu cabelo ficar ainda mais aconchegante.
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