𝐓𝐖𝐎 ⚡️ 𝐁𝐄𝐋𝐋𝐀
Eu poderia ter acordado como em qualquer dia normal, com um despertador fritando todos os meus neurônios ou com a luz do sol esquentando levemente o meu rosto. Até mesmo sem nenhum dos dois, em uma manhã tranquila onde meu corpo resolveu se levantar em paz. Infelizmente, hoje não é esse dia. Quem me dera eu tivesse acordado com algumas dessas três alternativas.
Dou um pulo na cama devido ao susto quando escuto o som da porta abrindo bruscamente. Na minha cabeça inicio uma sessão de pedidos à Deus que não fosse nenhum assalto ou alguém tentando invadir a minha casa e me sequestrar. Mas minhas suspeitas são descartadas e eu fecho os olhos soltando um suspiro de alívio misturado com um pouco de raiva quando vejo que quem adentra meu quarto é a figura com luzes no cabelo um pouco mais baixa que eu.
Hannah tem um bolo de chocolate em suas mãos e uma vela cor de rosa acesa no meio dele. Ela balança levemente a bandeja que carrega o doce ao movimentar o corpo numa dança ridícula pela música que cantarolava.
— Parabéns pra você, nesta data querida... — Minha irmã mais nova se aproxima da minha cama, tomando cuidado para não deixar o bolo cair e não deixa de sorrir enquanto canta.
A cena me faz rir e nego com a cabeça. Ela nunca perde essa mania.
— Você me acorda de manhã cantando isso no meu aniversário desde que tinha quatro anos. — A observo deixar o bolo em cima do criado-mudo e se sentar na minha frente com pernas de índio.
— São costumes. — Ela dá de ombros e não hesita antes de pular em cima de mim para me abraçar forte. Gargalho quando Hannah distribui beijos por todo o meu rosto. — Eu estava com tanta saudade!
Ao perceber que estava quase me deixando sem ar por me apertar com força, ela se afasta um pouco e fixa os olhos sobre mim ainda carregando um sorriso feliz no rosto.
— Eu também estava. — Ajeito meus fios de cabelo que ela havia bagunçado.
— Aquela casa ficou tão vazia sem você. — Hannah cruza os braços e forma um leve bico. Eu suspiro.
— Agora eu tenho vinte e um anos, Hannah — Ela abaixa um pouco a cabeça. — Sabe que nunca tive uma relação das melhores com o pai e a mãe.
— Aquele é o jeito deles, mas eles te amam demais. Todo dia quando eu passo pelo corredor, eu passo pela porta do seu antigo quarto e vejo a mamãe sentada na sua cama com um retrato seu nas mãos.— Diz tentando me convencer de algo e eu dou uma risada fraca.
— Certo, não vamos falar disso. — Me levanto da cama. — Lembrou que eu existo, huh?
— Pra falar a verdade, só lembrei que você existe por causa do convite da festa. — Pegando o bolo de cima do criado-mudo, eu a fuzilo com os olhos. Ela ri. — Brincadeira.
— Convite da festa? — Franzo a testa ao tentar me recordar de algum evento que eu tinha planejado.
— O Nate me enviou um convite virtual. — Ah, pois é, eu não planejei nada. — Tá todo mundo falando da sua festa, Bella.
— Meu Deus — Reviro os olhos e aponto com a cabeça pra fora do quarto, indicando para ela me seguir e foi o que a mesma fez. — Ele disse que não seria nada muito exagerado.
— E você acreditou? — Me pergunta com um tom sarcástico e eu faço uma careta. Eu não devia confiar mesmo no que sai da boca daquele homem. — Já que estamos falando dele, pelo fato de eu ir na sua festa hoje, podia falar de mim pra ele né?
Paro de cortar o bolo já em cima da mesa e a encaro com o nariz torcido.
— Número um — Aponto a ponta da faca para ela de longe. — Essa festa não é lugar de gente da sua idade. Portanto, ficará em casa. — Me sento. — Número dois, o Nathan tem idade pra ser seu pai.
— Eu tenho dezessete anos, Bella. Não sou nenhuma criança — Revira os olhos, colocando um pedaço de bolo no seu prato. — Ele só é alguns anos mais velho que eu.
— Seis, Hannah. Você é menor de idade. — Falo com a boca cheia de bolo. Ela faz uma cara de nojo.
— Isso é falta de educação. — Bufo e continuo mastigando o recheio de chocolate. — Tem que parar de me tratar igual um bebê.
— Tudo bem. — Cruzo os braços. — Sua mãe deixou?
— Nossa mãe. — Me corrige. — E sim. Por que acha que estou aqui?
— Não serei babá de ninguém. Já tá avisado. Fez merda, vai dormir na rua. — Digo antes de enfiar mais um pedaço de bolo na boca.
— Já disse. Não sou criança pra ter babá na minha cola. — Afasta seu prato de si.
Balanço os ombros.
— Você que sabe.
Não. Não é ela que sabe.
Eu sempre protegi a minha irmã à qualquer custo. Absolutamente. Vi ela quebrar a cara com a primeira paixonite e dar o primeiro PT dentro de casa. Aliás, eu que cuidei dela em todos esse momentos. Meu maior medo fosse que ela descobrisse esse mundo de merda e não quisesse sair mais por estar cega.
Mas, já que ela está tão decidida, então vamos à diversão.
⚡️
Na porta do salão, ao olhar em volta, eu não consigo mudar a expressão de choque que eu estou. Os olhos arregalados e a boca levemente aberta. Aperto meus dedos contra a alça da minha bolsa e me permito xingar Nathan de todos os nomes possíveis dentro da minha cabeça ao ver aquela cena logo no quintal da sua casa.
O jardim estava infestado de gente de todos os tipos. Parecia até uma distribuição de doce de graça. Mas, em comum, todos da área carregavam garrafas ou malas de bebidas alcoólicas. O cheiro de maconha me fez querer vomitar.
Pelas paredes de vidro, pude ver como estava a área de lazer — onde provavelmente estava acontecendo a festa — e minha raiva pelo meu melhor amigo aumenta. Não dava mesmo pra confiar em Maloley. Isso aqui é um cabaré!
— Hoje é o melhor dia da minha vida. — Minha irmã ao meu lado diz com os olhos brilhando e eu nego com a cabeça antes de a puxar pelo braço pra dentro do evento.
Logo na porta, algumas pessoas me desejaram feliz aniversário, porém outras nem olharam na minha cara. Deviam estar mais ocupados fazendo coisas interessantes, como se recuperando após uma carreira de cocaína ou afogando as mágoas de um jovem com álcool.
Passo pelo oceano de pessoas que deixavam aquele lugar parecendo um festival e fico chocada com o quão isso aqui nem parece ser o meu aniversário. Além de eu ter chegado depois, eu não conseguia achar Nate por canto nenhum.
— Caralho! — Penso que a voz veio de Hannah, mas mudo minha ideia ao olhar para o lado. — Graças à Deus você chegou!
Solto dos pulmões um suspiro de alívio ao ver Beatrice, minha amiga e antiga colega de trabalho. Após ser demitida por mandar um cliente folgado enfiar o cappuccino no rabo, ela conseguiu de diversas formas juntar mais um pouco de dinheiro e agora está fazendo faculdade de enfermagem na mesma que eu sonho, Yale.
Me aproximo da mesma e a abraço, tentando não ser atropelada por aquela multidão. Ela logo se desfaz dos meus braços e me olha com um riso sarcástico.
— Engolida pela multidão? — Noto que tem um drink em sua mão.
— Praticamente. — Olho pra trás e verifico que Hannah está comigo.
— Vem. — Ela pega em minha mão e eu faço o mesmo com Hannah. Bia passa pelas pessoas e nos puxa para um certo canto onde não havia tanta aglomeração.
— Isso aqui tá uma loucura. — Colo as costas contra a parede e cruzo meus braços enquanto olho em volta.
— Achei que tinha noção disso tudo. — Ela bebe um pouco do seu drink e olha pra minha irmã. — Oi, Hannah.
— Oi. — A mais baixa dá um sorriso envergonhada. Beatrice olha pra mim de soslaio e sussurra.
— Por que você trouxe essa criança pra esse puteiro? — Soa como uma bronca.
— Eu escutei isso. — Hannah cruza os braços. — Não sou criança. Eu tenho dezessete anos.
— Eu sei, fofa. Mas isso aqui não é lugar pra você. — Minha amiga pousa a mão na cintura e Hannah a encara séria.
Deixando nós em choque, a loira rouba o drink da mão de Beatrice e vira tudo em questão de segundos. Ela balança a cabeça quando termina de despejar o líquido na garganta e coloca o copo de vidro de volta na mão de Bia enquanto nos encara sorrindo.
— Vou procurar minhas amigas. — Avisa apenas antes de sair andando e nos deixando com cara de tacho.
— Ela vai ter um PT do caralho. Eu misturei vodka e tequila. — Fecho meus olhos ao escutar Bia. Eu sabia que teria que cuidar dessa garota.
Ajeito meus cabelos e cerro os olhos num gesto de raiva ao enxergar Nathan de longe. Ele tinha uma garrafa com alguma bebida alcoólica colorida na mão e uma marca de batom no pescoço. Sinto vontade de quebrar aquela garrafa em sua cabeça.
Assim que me vê, ele abre um sorriso aberto e anda até mim. Vendo eu o encarar como se fosse degola-lo à qualquer momento, ele levanta uma sobrancelha.
— O que foi? — Sua voz sai relaxada e um tanto quanto rouca.
— Você deve estar de sacanagem, Nate. Olha pra isso! — Rodo a mão, indicando toda a multidão e ele dá uma risada.
— Deixa essa idosa que mora dentro de você de lado pelo menos por um dia. — Ergue o braço com a garrafa de bebida que agora mais perto, consigo ver a coloração rosa. — Toma, é Gin.
— Nathan... — Digo em tom de reprovação. Ele revira os olhos.
— Se eu morrer amanhã você vai se arrepender de não ter tomado cachaça comigo.
Nate faz um biquinho e me olha com aquela cara de cachorro pidão. Nego com a cabeça. O que eu não faço pra por um sorriso no rosto do meu melhor amigo, não é?
Tomo a garrafa da sua mão e tiro a tampa com os dentes antes de a colocar na boca e beber o resto do líquido que tinha ali. Minha garganta rasga e meus olhos queimam. Assim que acabo de tomar da bebida, largo a garrafa em qualquer canto e me bate uma pequena tontura. Eu me seguro em Nathan para não cair e ele ridiculamente ri da minha cara.
— Pronto. Tá vendo como não mata ninguém sair um pouco do cotidiano? — Diz após me ajudar à ficar em pé novamente e encara Bia ao meu lado, que apenas olhava aquela cena com cara de tédio. — Boa noite, Beatrice.
— Ótima noite, Nathan. — Dá um sorriso amarelo. — Vou fumar um cigarro. — Ela diz pra mim antes de se retirar.
— Ela tá sempre de mau humor? — Pergunta olhando Bia se distanciar e eu nego.
— Ela é legal, só não gosta muito de pessoas no geral. — Jogo meus cabelos pro lado. — Bom, de qualquer forma, cadê o meu presente?
Meu questionamento faz ele franzir a testa.
— Não sabia que você queria presente. — Cruza os braços. — Nunca foi disso.
— Mas agora eu sou. — Empino o nariz o olhando. Ele me encara por alguns segundos e dá uma risada fraca.
— Não comprei nada pra você, Bella.
— Você é um ótimo melhor amigo, sabia? — Digo ironicamente.
— É, eu sei.
Ele fica em silêncio e parece pensar. Enquanto isso, eu analiso o espaço da casa de Nathan onde as pessoas estavam espalhadas. Nunca vou entender como as pessoas gostam de encher a cara e virar a noite com outras pessoas que gostam de encher a cara. Não que eu não goste de festas, mas particularmente não era o meu programa favorito.
— Já sei o que te dar de presente.
Viro a cabeça para olhar no seu rosto e a expressão brincalhona que o reinava há poucos segundos, foi substituída por uma séria.
E um tanto quanto atraente.
— Sabe? — Ele concorda lentamente sem tirar os olhos de mim. — O que?
Nathan olha para os lados e estende a mão pra mim, na qual eu entrelaço nossos dedos e o sigo para onde quer que ele esteja indo. Se tem uma pessoa que eu confiava nesse mundo, essa pessoa com certeza era Nathan. Então, não me preocupo em alguma ideia que ele me levaria para algum lugar e me deixar em apuros.
Ele atravessa toda a multidão e puxa a chave da sua casa que estava toda trancada. Levanto uma sobrancelha e subo meu olhar para ele.
— Acha mesmo que eu ia deixar tudo destrancado? Iam quebrar essa porra toda aqui. — Sua fala me faz rir e balançar a cabeça, concordando.
Adentramos sua casa um tanto quanto grande e ele novamente pega na minha mão, subindo as escadas e me fazendo segui-lo. A cada degrau, eu fico ainda mais curiosa sobre o presente que ele me daria. Seria algo grande? Uma roupa? Um doce? Um celular novo? Ah, eu sonho com tanta coisa...
Caminhamos calmamente pelo corredor e paramos em frente ao seu quarto. Um pouco confusa, eu franzo levemente a testa. Não digo nada. Sei bem de como Nathan gosta de uma loucura então provavelmente essa seria uma delas.
Ele destranca seu quarto e dá passagem para eu entrar primeiro. Assim eu faço, passando pela porta e logo encarando as paredes, onde tinham alguns pôsteres de rappers como Snoop Dogg e Tupac. Também há uns três skates pendurados. Já vim ao seu quarto milhares de vezes e todas as vezes que fico aqui eu observo seus quadros como se fosse a primeira vez. Nunca conheci alguém que gostasse tanto de decoração como ele.
— Deixa eu adivinhar... Vai me dar um dos seus quadros? Por que se for, me avise pra eu surtar desde agora! — Digo observando as artes na parede e me viro pra ele com um sorriso.
Ele ri de forma fraca e nega com a cabeça. Novamente, o silêncio se instala entre nós e por conta disso, me permito analisar os detalhes do seu rosto.
Sua barba está por fazer, seus olhos estão levemente avermelhados provavelmente ocasionados pela maconha e sua boca está mais rosada que o normal.
Estranhamente atraente.
Eu passo tanto tempo o analisando que não percebo que ele havia se aproximado muito de mim, ao ponto que eu consiga sentir sua respiração bater contra o meu rosto. Nate é significativamente alto, então pode-se dizer que para fitar diretamente seus olhos, eu literalmente estava olhando pra cima.
Ainda respeitando o silêncio, Nathan leva sua mão até o meu rosto e encosta sua palma quente em minha bochecha. Seu polegar acaricia minha maçã levemente e faz com que minhas pálpebras relaxem. Eu não faço a mínima ideia do que está acontecendo. Sim, meu melhor amigo sempre foi muito carinhoso quando queria, mas agora parecia diferente.
Seu toque e seu jeito de agir está diferente.
— Nathan, o que tá fazendo? — Abro meus olhos para encarar os seus. Ele passa a língua em seus lábios antes de falar e eu pouso minha mão sobre a sua.
— Te dando seu presente.
E antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa ou perguntar novamente como ele pretendia agir, ele junta seus lábios aos meus para me beijar. Surpresa. Essa é a palavra certa pra me definir.
Sua língua pede permissão pra entrar e num reflexo, eu empurro seu peito levemente pra longe e afasto nossos corpos. O olho totalmente confusa. Meu peito sobe e desce pelo nervosismo. Não sei como agir numa situação dessa, sinto como se eu tivesse perdendo o BV.
— Eu... — Ele começa à falar. Sua expressão é de culpa. — Desculpa se eu ultrapassei dos limites, eu queria...
Não o deixo terminar de falar. Seguro em sua camiseta e o empurro na parede, pressionando meu corpo contra o seu e não hesitando em o beijar de novo. Seus lábios macios e seu hálito por conta do álcool gritam por mim. Minha boca também grita por ele.
Não sei se é ocasionado pelo álcool, mas nesse momento, tudo que eu preciso é o sentir. Sentir seu toque, descobrir qual sensações ele pode me proporcionar e o que Nathan Maloley tem guardado que em todo esse tempo eu ainda não havia descoberto.
Perigosamente atraente.
⚡️
continuação no próximo cap, vidinhas 🤍
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro