
𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐘 𝐅𝐈𝐕𝐄 ⚡️ 𝐍𝐀𝐓𝐄
O dia inteiro eu me mantive ocupado. Produzi, escutei, escrevi e conversei. Fiz mil e uma coisas e soquei qualquer coisa no meu cérebro que não desse espaço pra merda do vazio que eu estou sentindo. Não tive nem forças para aceitar álcool ou drogas piores. Só a maconha retirava aquele peso das minhas costas. Por isso, no mínimo, eu tinha acabado com uns seis baseados, só hoje. Eu estava quase explodindo num efeito anestesiado.
Nesse exato momento, eu estou sentado no sofá do meu estúdio, escutando os caras conversando e rindo com suas respectivas bebidas na mão. Todos animados com os trabalhos novos. Meus sons estavam começando à ter reconhecimento, algumas pessoas importantes estavam entrando em contato e era pra eu estar soltando fogos. Mas eu não conseguia. Não via motivo pra comemorar.
As palavras e a cena da Bella indo embora destruía qualquer resquício de sanidade que ainda me restava. Sem contar da notícia que Hannah estava grávida, grávida de um filho meu. Essa porra me deixa zonzo, ainda.
Eu me pego distraído. Pela primeira vez, eu não sabia o que fazer e como agir. Eu sempre soube lidar bem com meus problemas pelo simples fato de eu estar pouco me fodendo pra qualquer coisa, mas agora é diferente. É muito diferente.
Eu não tinha mais ela do meu lado pra me dar suporte.
Sempre que eu tropeçava, Bella sempre estava lá pra me segurar e me ajudar à recuperar o equilíbrio. É assustador. Minha ficha não tinha caído que eu havia perdido a minha melhor amiga, minha confidente e a única pessoa que eu podia confiar com toda a porra do meu coração. Que situação merda.
Percebo o quão terrivelmente perdido estou nos meus próprios devaneios quando dou um pulo pelo susto ao escutar o grito de Sammy ganhando de lavada de Nash no videogame. O Grier mais velho carrega uma cara de tacho e Samuel se levanta, fazendo uma dancinha ridícula em comemoração.
— Você é o maior otário existente nessa cidade, Grier. — Wilk mostra a língua em deboche e ganha Nash lhe erguendo o dedo médio.
Na sala, estava eu, Sammy, Nash, Cameron e Hayes. Meus produtores já tinham ido embora e eu disse que ficaria por aqui com os caras. Então, eu já estou presenciando essa troca de xingamentos por jogos há mais ou menos uma hora. Por mais alto que fossem seus gritos e animação de estarem todos juntos, nada entrava na minha cabeça. A onda máxima não conseguia me tirar do buraco que eu tinha me enfiado.
Eu sempre fui alguém que não vi motivo para ficar sorrindo pra todo mundo. Isso já me proporcionou comentários sobre a minha pessoa como "ignorante, carrancudo" e coisas do tipo. Mas, entre quem eu realmente confiava e achava que merecia adentrar minha zona de conforto, conhecia o meu melhor lado. Por esse motivo que Samuel foi o primeiro à perceber que eu não estava bem. Depois de xingar Nash de mim nomes e comemorar como se tivesse acabado de ganhar uma partida de futebol, seus olhos fixam em mim e é questão de segundos para ele estar sentado ao meu lado, carregando um semblante preocupado.
— Ei, bro — Toca nas minhas costas. — Tá tudo bem?
Fecho meus olhos, percebendo que ele tinha falado mais alto do que eu gostaria. Automaticamente, todos os olhos dos caras presentes no estúdio se voltam pra mim. Um suspiro estressado escapa da minha boca. Ótimo.
— Claro. Por que não estaria? — Trago do meu baseado.
— Eu acreditaria se você não fosse um péssimo mentiroso. — Sammy cruza os braços e relaxa as costas no sofá. — Desembucha, Maloley.
Eu engulo em seco. Burro ao ponto de pensar que era possível guardar alguma coisa desses caras. Antes de começar, eu expiro e solto a fumaça presa na boca.
— Não estou falando com a Bella.
Os olhos de Sammy estreitam e ele me analisa em silêncio. Parecia pensar no que poderia dizer, já que ele sabia o quão forte era a minha fraqueza pela Bella.
— Algum motivo em específico? — É a vez de Dallas perguntar, agarrando entre os dedos um copo do Starbucks que estava em cima da mesa central.
Umedeço meus lábios e olho pra Sammy rapidamente, notando sua expressão que me influenciava à continuar.
— A Hannah tá grávida.
O café expresso que Cameron bebia é bruscamente cuspido contra o carpete e eu fecho os olhos, sabendo que eu que teria de limpar tudo aquilo depois. A sala é tomada por um silêncio angustiante. Agora, existem quatro pares de olhos arregalados sobre mim, expressando todo tipo de emoção assustada e surpresa. Depois de ter sujado a porra do meu chão, Dallas tinha sua boca aberta em um perfeito círculo. Nunca quis tanto morrer como agora. Que situação constrangedora. Tentando disfarçar, eu dei mais um trago no meu cigarro.
— Você enlouqueceu. — Samuel afirma, se levantando do meu lado e começando à andar em círculos. — A Hannah só tem...
— Dezoito anos. — Completo por ele, captando seu olhar. — A Bella repetiu isso uma trezentas vezes nos últimos meses.
— Cara, isso é uma bela história pra contar numa mesa de bar. — Hayes brinca e recebe um tapa forte na nuca de Nash, que se ele não tivesse dado, eu daria.
— Eu nem imagino como a Bella ficou com tudo isso. — Nash junta suas mãos em cima das pernas. Escutando isso, eu me lembro da amizade que ele construiu com Bella na viagem. Realmente parecia preocupado.
— Então, vocês não estão se falando mais? — Cameron questiona após minutos em silêncio. Eu concordo com a cabeça.
— Sem motivo não é. — Hayes cruza os braços.
Eu apago o cigarro no braço do sofá e é questão de segundos para eu estar na frente de Hayes, com Sammy me segurando e impedindo que eu voasse em cima do moleque filho da puta. A expressão do Grier caçula era serena e eu sentia um forte ar de deboche. Minha vontade era de quebrar todos os seus dentes.
— Você engravida a irmã da garota que você estava pegando em sigilo e não quer que tenha consequências? Sério, já foi mais inteligente. — Ele se levanta, ficando agora frente à frente comigo.
Mais uma vez, eu jogo meu corpo pra cima dele e sou impedido pelos braços de Samuel segurando meu tronco. Tinha certeza que havia fumaça saindo pelos meus ouvidos.
— Repete e eu termino de alargar o seu nariz na porrada. — Rosno.
— Chega. — Nash puxa o irmão pra trás, olhando pro rosto do mesmo. Hayes não tira os olhos de mim. — Vamos embora, agora.
Ele empurra o garoto pra fora do estúdio, que rapidamente entende o recado e me lança um último olhar antes de se retirar. Eu suspiro quando Sammy me solta, passando os dedos pelos meus cabelos. Eu estava na beira de um precipício e qualquer fraquejada, eu cairia no meu próprio abismo. Eu sabia muito bem qual era.
A única coisa que me aliviou nos dias de piores dores e também o único detalhe que foi o suficiente para destruir a minha vida.
Com os olhos fixos no chão, eu me jogo novamente no sofá, buscando qualquer sensação mínima sensação de conforto em minha própria bagunça. Os olhares conhecidos estavam sobre mim. Como eu odiava toda essa porra.
— Não precisam ter dó de mim, não sou a porra de um pobre coitado.
Escuto sons de passos se aproximando e o corpo de Nash se põe na minha frente, fazendo eu erguer o olhar quando o ouço chamando pelo meu nome.
— Presta atenção — Ele se agachou na minha frente. — Você agora tem uma puta responsabilidade. Eu entendo que esteja explodindo, é uma situação desesperadora, mas agora a questão não é você, a Hannah ou a Bella. Tem uma criança no meio disso, Nathan — Eu respiro fundo. — Esse bebê vai evoluir dentro da Hannah, vai se sustentar pelas emoções da mãe e qualquer mínimo passo em falso, pode causar alguma tragédia. Por isso, por mais fundo que seja o buraco que você está, precisará transmitir estabilidade pra mãe do teu filho.
Sua mão vai de encontro ao meu ombro.
— Seja lá qual for a merda que esteja passando pela sua cabeça, lembre-se que agora, tudo mudou. Sua vida vai ser voltada pra essa criança. Então, seja um bom pai. Você sabe como ninguém como é crescer sem um presente.
Eu desvio o olhar ao escutar sua última frase. Ele estava certo. Não podia mais ser egoísta ao ponto de prejudicar a gravidez da Hannah. Tudo está diferente. Eu vou ser pai e preciso arcar com essa responsabilidade.
Caralho, eu serei pai.
Sem pensar duas vezes, envolvo Nash num abraço firme. Ele retribui e me transmite a positividade que transbordava dentro de si. Eu estava precisando de uma boa dose disso, positividade.
Ele murmurou um "fica bem" pra mim e despejou tapinhas no meu ombro, logo se retirando do local junto dos caras e me deixando sozinho. Eu não aguentava mais bolar cigarros e criar situações imaginárias na minha cabeça. Precisava urgentemente me distrair, se não era capaz de enlouquecer da pior forma possível.
Eu passo meus olhos pela sala e assim que fito o caderno cinza em cima da bancada, minha mente explode. Explode em ideias, letras, sentimentos e emoções. Eu sabia exatamente o que fazer.
Me levantei daquele sofá, peguei o caderno em mãos e busquei por uma caneta. Logo que sentei novamente, dedilhei rapidamente as folhas e observei minhas inúmeras composições. Algumas lançadas, outras nunca iriam. Eram como desabafos e válvulas de escape.
A Bella, de alguma forma, sempre foi a minha melhor válvula de escape. A pessoa que sempre esteve nos meus melhores momentos e ajudou à superar a pior fase da minha vida. Ao mesmo tempo que ela chegou colocando ordem em tudo, ela também chacoalhou totalmente a minha vida. Tudo e qualquer coisa se voltava à ela e eu não tinha ideia do quão forte isso era.
Então, com os dentes fincados nos lábios, eu começo à compor. Uma expressão de sentimentos e sentindo que meu coração iria explodir de tanta adrenalina num simples toque da ponta da caneta no papel.
Assim, eu dei início pelo título.
"BEST PART — Bella."
⚡️
sofrendo demais
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro