𝐎𝐍𝐄 ⚡️ 𝐁𝐄𝐋𝐋𝐀
Minha visão está um pouco embaçada por conta da lente que saiu do lugar devido ao tempo que estava dentro do meu olho. Meu cabelo preso num coque alto não diminuía o calor que eu estava sentindo do pescoço pra baixo. Normalmente, os dias não costumam ser tão quentes, mas hoje podia se dizer que está insuportável. Eu até gosto de calor quando se tem praia, piscina e cerveja gelada. Tirando isso, eu dispenso para ficar enrolada nas cobertas.
Trabalhar em uma cafeteria consistia em ser garçonete, atendente e quando precisasse, eletricista. Para pagar a minha faculdade de medicina, eu me esforço todos os dias atrás desse balcão. Por sorte, o lugar é da família e não tenho que lidar com algum patrão extremamente desagradável. Quer dizer, ás vezes a mamãe era o patrão desagradável, mas obviamente era mais leve. Um suspiro de alívio pra mim.
Pensando nisso, eu passo pano pelo balcão e retiro as sujeiras e marcas das redondelas das xícaras. Já estava quase na hora do fim do expediente. Meu corpo implora por um banho gelado, hidratante corporal e um sono bem explorado. Até então, nenhum cliente novo havia chegado. Jesus devia ter escutado minhas preces mentais e me dado alguns minutos de descanso.
Ouço o sininho da porta tocar, o que sinalizava a chegada de alguém e eu respiro fundo. Sempre comemorando tarde demais.
Eu suspiro novamente, mas de alívio assim que vejo quem é a pessoa que adentra a cafeteria. Com um sorriso no rosto, me provoca a mesma sensação e faz com que eu relaxe os ombros. Nessa altura do campeonato eu já estava quase pedindo arrego para os clientes.
— Hey. — Ele se apoia no balcão e inclina um pouco o corpo para beijar minha bochecha.
— Oi. — Respondo enquanto seco com um lenço o suor que escorre da minha testa.
— Muito trabalho? — Nate olha em volta e percebe que não há muitas pessoas, apenas alguns idosos que gostam de tomar café as onze da noite. Sua pergunta me faz bufar e arregalar os olhos, o demonstrando cansaço.
— Já não sinto mais meus dedos das mãos de tanto mexer na cafeteira e carregar pires de xícaras. — Desabafo. Ele ri das minhas lamentações.
— Qual é, não parece tão ruim. É tipo trabalhar num asilo.
— Quem me dera trabalhar com velhinhos jogando xadrez e assistindo novela ao invés de algum cara de cinquenta anos reclamando porque o café preto está sem gosto. — Largo o lenço em cima do balcão. Nathan novamente ri da minha desgraça.
— Bom, acho que sou seu anjo da guarda — Ele levanta o braço e encara o relógio de pulso. Aperto um pouco os olhos e percebo que já são onze e dez. — Quer uma carona?
Eu grunho de felicidade e dou alguns pulinhos animados, dando a volta no balcão apenas para puxar Nate pra um abraço. Eu definitivamente não queria ter que entrar num táxi beirando a meia noite.
— Você é literalmente meu anjo da guarda. — Seguro seu rosto nas mãos e pressiono a boca contra sua bochecha, dando um beijo demorado na mesma. Ele resmunga enquanto me empurra.
— Porra, tá calorzão. — Dou um tapa em seu ombro.
— Eu só vou tirar esse uniforme. — Ele concorda e eu não espero para pegar minha bolsa atrás do balcão. Ando rapidamente até o banheiro e me troco, sabendo que meu look não demoraria muito em meu corpo pois assim que chegasse em casa, eu tomaria o banho mais longo da minha vida. Mas ainda assim, não suportava mais aquele uniforme apertando meu busto.
Molho um pouco o rosto e mantenho o coque dos meus cabelos bem presos. Ponho minha bolsa apoiada no ombro e volto até onde Nathan está. Incrivelmente, as poucas pessoas que estavam ali já tinham ido embora. Eu franzo as sobrancelhas olhando pro cara na minha frente e ele dá de ombros.
— Enquanto saiu, fiquei no caixa pra você.
Eu nego com a cabeça deixando com que um sorriso bobo invada meu rosto.
— O que seria de mim sem você, Maloley? — Pergunto e me arrependo quando noto um sorriso vitorioso crescer na sua cara.
— Obviamente nada, Summer. — Responde, tentando imitar meu tom de voz e eu gargalho. Trato de desligar todas as luzes, aparelhos e por fim, tranco as portas já do lado de fora. Nathan me aguardava em seu carro.
A noite não está muito diferente das outras e o céu é carregado de estrelas por conta do fato de não haver uma nuvem flutuando no mesmo. Um ventinho gostoso percorre as ruas e bagunça um pouco os fios soltos do meu coque. Mesmo assim, não consigo tirar o meu banho gelado da cabeça.
Adentro do carro de Nate e encosto a cabeça no banco, fechando os olhos e descansando por um minuto. Enquanto isso, o garoto do moletom largo ao meu lado liga seu carro e começa à dirigir as ruas de Omaha. Sem dizer uma palavra, ele respeita meu silêncio e meu momento de êxtase depois de um dia tão conturbado.
Nate é meu melhor amigo já faz algum tempo. O conheci há dois anos atrás na Pool Party de aniversário de Sammy, o garoto que divide apartamento com ele e também seu melhor amigo. Desde então, nunca mais nos desgrudamos. Sinto que ele é minha alma gêmea versão masculina. Em toda a minha vida, nunca tinha encontrado alguém tão leal como ele. Uma das primeiras coisas que notei nele foi isso, sua lealdade e o jeito simples e leve que ele tem de viver. Eu gosto muito disso. Nunca curti pessoas que carregavam energias pesadas.
— Já tem alguma ideia do que vai fazer no seu aniversário? — Depois de um bom tempo em silêncio, ele o corta com sua pergunta.
Ainda de olhos fechados, eu franzo o cenho. Meu aniversário.
Agora, de olhos arregalados, eu me toco. Meu aniversário!
— Meu Deus do céu — Levo meus dedos até as laterais da minha testa, onde eu massageio levemente as têmporas. — Meu aniversário é amanhã.
— Você não parece estar nem um pouco preocupada com isso. — Eu bufo.
— Não que eu não esteja preocupada, é que eu trabalhei o dia inteiro e nem sequer me lembrei disso. — O olho. — Bom, talvez eu não faça nada.
— Nada?! — Me olha incrédulo. — Você vai fazer vinte e um anos, Bella. Sabe com quantos anos que eu fumei meu primeiro baseado?
— Com certeza não foi com vinte e um. — Respondo obviamente.
Ele faz uma careta.
— Ok. Talvez tenha sido aos treze — Nate me faz gargalhar. A falta de filtro em suas falas é hilária. — Mas é sério. Não vou deixar mais um aniversário seu passar em branco.
— Mais um? — Cruzo meus braços.
— Você passou seu aniversário de vinte vendo filme da Barbie. — Diz como se eu tivesse cometido algum crime. Eu o olho ofendida.
— Os filmes da Barbie são incríveis. Você está me chateando.
— Eu sei que são, Bella. Mas a questão não é essa — Revira os olhos. — Você não pode ficar pulando datas importantes como se não fossem nada.
Me mantenho em silêncio. Eu não gostava muito da ideia de fazer um festão, para as pessoas encherem a cara, fazerem o que bem entender e depois colocar a culpa em mim por ter comemorado o aniversário de uma forma tão intensa. Mas também continuar com as mesmas rotinas pode ser entediante.
Eu bufo e descruzo os braços. Nate intercala o olhar entre a estrada e a mim ansiosamente, esperando pela minha resposta. O sorriso fraco que nasce em meu rosto já é o suficiente para ele bater suas mãos no volante e dar gritos de vitória.
— Mas eu não quero nada exagerado, Nathan! — O olho séria. — Se você encher minha casa de gente, juro que te mato com as próprias mãos.
— Quem disse que vai ser na sua? — Eu levanto uma sobrancelha. — Qual é, sabe que as coisas organizadas por mim sempre são as melhores.
— E as mais agitadas. — Completo.
— Ei — Ele põe sua mão sobre a minha que estava apoiada na coxa. — Prometo que não será uma baderna, tudo bem?
Encaro seus dedos largos repousados na minha perna e dou um sorriso fraco, concordando e pondo a minha mão sobre a sua. Ele retribui o sorriso e não diz mais nada até chegarmos na minha casa.
Parando no meu portão, eu inclino meu corpo para lhe dar um abraço apertado. Ele afaga meus cabelos e dá um beijo carinhoso na minha testa assim que eu me afasto de si.
— Obrigada pela carona, anjo da guarda. — Pisco um olho pra ele.
— De nada, guarda do anjo. — Devolve a piscada e me faz gargalhar.
Saio do seu carro e aceno pelo vidro, vendo ele sorrir e logo quando me viro, o ouço arrancar com o carro dali. Entro em casa e tranco a porta, andando rapidamente até meu quarto, onde eu largo minha bolsa em cima do criado-mudo.
Tiro minhas roupas com calma e entro de baixo do chuveiro, chegando à revirar os olhos quando as gotas geladas entram em contato com meu corpo. Posso dizer que é comparada a sensação de um orgasmo bem sentido.
Passo algum tempo dentro do box e saio do mesmo enrolada na toalha. Coloco meu conjunto de pijama branco e solto meus cabelos do coque. Paro em frente ao espelho e cuidadosamente retiro as lentes dos meus olhos. Mais uma sensação de alívio intenso. Ligo o ar condicionado e, como se caísse nas nuvens, deito na minha cama e puxo as cobertas até a altura do peito. Faço uma oração rápida, agradecendo pelo dia de hoje e afins. Deus deveria estar rindo da minha cara pelas palavras emboladas de tanto cansaço que eu falava com ele.
Assim que lembro do meu aniversário, agradeço por mais um ano de vida e acendo a tela o celular, vendo que já marcava meia noite. Isso me provoca um sorriso.
Feliz aniversário pra mim.
⚡️
gostaram do capítulo, irmãs?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro