(008) ★・𝐓𝐄𝐂𝐇𝐍𝐈𝐂𝐀𝐋 𝐅𝐀𝐈𝐋𝐔𝐑𝐄𝐒
𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝒐𝒊𝒕𝒐: ℱ𝒶𝓁𝒽𝒶𝓈 𝒯𝑒́𝒸𝓃𝒾𝒸𝒶𝓈
A ATMOSFERA DA SALA ERA DE UMA FALSA TRANQUILIDADE, o som das porcelanas era o único contraste com o silêncio perturbador. Milla estava sentada a mesa, agora banhada e limpa, vestindo um jeans e um moletom azul, com os cabelos escuros molhados depois de muito tempo sem um banho de verdade.
Ela movia distraidamente o garfo sobre o prato, empurrando pequenos pedaços de pão como se aquilo exigisse um esforço monumental. Diante dela, Nina mastigava com uma calma ensaiada, um sorriso suave no rosto, o mesmo sorriso que Milla passou a odiar com todas as suas forças.
— Você deveria comer mais. — disse Nina, sua voz doce como mel envenenado. — Vai precisar da sua força para o que está por vir.
Milla forçou um sorriso, a curva de seus lábios tão falsa quanto a simpatia de Nina. Por dentro, entretanto, cada fibra de seu ser ardia em raiva e desprezo. Nazista filha da puta, ela pensou, enquanto assentia quase imperceptivelmente.
— Estou comendo o suficiente, obrigada irmã. — respondeu Milla, a voz firme, mas sem confrontação. A única coisa que lhe restava era manter a máscara.
Nina inclinou a cabeça, seus olhos brilhando com uma falsa compaixão.
— Sabe, Millochka, eu realmente quero te ajudar. Nós somos família, afinal de contas. Devemos cuidar uma da outra.
Milla suprimiu a vontade de revirar os olhos ao ouvir o termo carinhoso em russo. Era o mesmo que o pai delas usava, carregado de memórias de uma infância que agora parecia pertencer a outra vida. É claro que Nina estava jogando, tentando atingir um ponto vulnerável, manipulando suas emoções com o mesmo cinismo que a Hydra ensinava.
— Família cuida mesmo. — respondeu Milla com um tom neutro, segurando o cabo da xícara com força suficiente para que seus dedos ficassem brancos.
Nina ergueu as sobrancelhas, inclinando-se levemente para frente, o semblante ainda adornado com aquele sorriso ensaiado.
— A propósito, ouvi dizer que você estava conversando com o cara da cela ao lado. — Ela brincou com a colher sobre a mesa, o som do metal contra a porcelana reverberando na sala.
Milla sentiu o coração disparar, mas não demonstrou. Continuou movendo o garfo no prato, aparentemente desinteressada, enquanto uma onda de alerta a percorria.
— É mesmo? — ela respondeu, mantendo o tom casual. — Eu não chamaria alguns minutos de conversa de "próximos".
Nina riu suavemente, mas seus olhos não perderam o brilho calculista.
— Oh, Milla, não precisa esconder nada de mim. Eu só estou curiosa, sabe? Parece que ele é um dos favoritos de Strucker.
Milla manteve a expressão neutra, apesar de sentir uma fagulha de tensão se acender. Era óbvio que Nina já sabia mais do que queria aparentar. Era um truque velho da Hydra — pressionar, mas nunca diretamente. Então ela focou em revelar informação obvia.
— Não sei muito sobre ele. — Ela deu de ombros, fingindo desinteresse enquanto levava a xícara de café aos lábios. — Só sei o nome. Pietro Maximoff. Ah, e ele tem uma irmã. Nada de surpreendente, considerando que todo mundo aqui deve ter uma família.
Nina inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos na mesa. Seu sorriso era doce, mas seus olhos carregavam um brilho penetrante.
— Só isso? Um nome e uma irmã? — perguntou, como quem não acreditava.
Milla encontrou o olhar de Nina, obrigando-se a sorrir de volta, ainda que cada músculo de seu rosto gritasse para fazer o contrário.
— O que mais eu poderia saber? — rebateu suavemente. — Não somos exatamente colegas de infância.
Nina riu baixinho, mas havia algo cortante naquele som.
— Você é muito cautelosa, Millochka. É uma qualidade admirável, especialmente em um lugar como este. — Ela mexeu na colher, o som metálico ecoando pelo ambiente. — Mas me diga, o que acha dele?
Milla inclinou a cabeça ligeiramente, como se ponderasse a pergunta, antes de responder com uma voz deliberadamente neutra:
— Não sei dizer. Nunca vi o rosto dele. Não o reconheceria se o encontrasse em outro lugar.
Nina arqueou uma sobrancelha, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.
— Você acha que ele e a irmã dele, Wanda, se arrependem? De terem se voluntariado, quero dizer.
Antes que Milla pudesse formular uma resposta, o ambiente foi tomado por uma escuridão repentina. O som suave dos aparelhos eletrônicos desligando preencheu o silêncio, e a luz artificial foi substituída pela sombra opressora do apagão.
Nina levantou-se imediatamente, o semblante calmo desaparecendo enquanto ela olhava ao redor com olhos atentos.
— Fique onde está, Milla. — Sua voz era mais fria, mais tensa, enquanto ela começava a se mover pela sala, como se procurasse algo.
Milla manteve-se imóvel, o coração acelerado, mas o rosto permanecendo tão inexpressivo quanto possível. Ela aproveitou o momento para refletir, tentando interpretar o que aquele apagão poderia significar. Seria uma falha técnica ou algo maior?
Pietro estava esparramado no chão da cela de vidro, as mãos cruzadas atrás da cabeça, parecendo quase confortável, apesar da situação. Seus olhos percorriam o teto, mas sua mente estava fixada nos dois ocupantes das celas vizinhas.
— Então, como é que funciona essa coisa dos inumanos? — perguntou casualmente, quebrando o silêncio que pairava entre eles. — Quero dizer, como é que algumas pessoas só... despertam seus poderes assim, do nada?
Mike e Lincoln trocaram olhares rápidos. Lincoln, que parecia menos tonto agora, inclinou-se ligeiramente, olhando para Pietro com algo entre irritação e incredulidade.
— Você é mesmo burro, não é? — soltou Lincoln, a voz carregada de sarcasmo.
Pietro arqueou as sobrancelhas, virando a cabeça para encará-lo com uma expressão divertida.
— Bom, isso não responde à minha pergunta, eletricista.
Lincoln suspirou, soltando faíscas curtas de irritação nas pontas dos dedos, antes de responder:
— Os inumanos têm DNA alterado. É genético. Os poderes só se manifestam quando somos expostos à Terrigênese, um processo com cristais específicos. Não é algo que a gente escolhe.
Pietro riu baixinho, balançando a cabeça.
— Interessante. Já eu me ofereci. — Ele enfatizou a palavra, como se fosse um mérito, mas o sorriso em seu rosto era deliberadamente provocativo.
Lincoln estreitou os olhos.
— É, e por isso mesmo você é um idiota. Quem, em sã consciência, se voluntaria para ser cobaia da Hydra?
Pietro ergueu os ombros, ainda deitado.
— Eu tinha meus motivos.
Lincoln bufou.
— Motivos ou não, eles fizeram de você uma ferramenta, não um herói.
O sorriso de Pietro diminuiu um pouco, mas ele manteve o tom despojado.
— Bem, eu não tinha muito o que perder. — Sua voz carregava uma leve nota de amargura, algo que fez Lincoln hesitar por um momento antes de responder.
Mike, que até então observava em silêncio, finalmente interveio:
— O problema não é se oferecer. O problema é pra quem você se ofereceu.
Pietro soltou um suspiro teatral.
— Ah, o moralismo da Shield. Estava demorando.
Lincoln cruzou os braços, encarando Pietro.
— Você ainda acha que a Hydra te deu algo de bom?
Pietro ficou em silêncio por um momento, o olhar voltando para o teto. Quando falou, sua voz era mais baixa, quase introspectiva:
— Não sei. Talvez não. Mas e você? A Shield já te deu algo que valesse a pena?
Lincoln estreitou os olhos e soltou um suspiro exasperado.
— Eu já disse que não faço parte da S.H.I.E.L.D., tá legal? — retrucou, impaciente. — Sou inumano. O meu povo tem os próprios métodos de lidar com... essas coisas.
Pietro ergueu uma sobrancelha, claramente interessado.
— Certo, mas onde está esse "povo" agora? Porque, pelo que eu vejo, estamos todos no mesmo barco.
Lincoln abriu a boca para responder, mas foi interrompido por um brilho repentino que se formou no canto da sala. A luz girou e cresceu, até que uma figura emergiu de dentro dela, como se tivesse atravessado um portal invisível.
— Gordon! — exclamou Lincoln, um sorriso de alívio iluminando seu rosto. — Eu sabia que você viria.
Pietro se levantou do chão em um salto ágil, os olhos fixos no homem que acabara de aparecer. Ele parecia calmo, mas o leve franzir de suas sobrancelhas demonstrava curiosidade e cautela.
Mike, por outro lado, parecia muito menos aliviado. Ele se aproximou da parede de vidro, encarando Gordon com uma expressão séria.
— Você não deveria ter vindo, Gordon. É perigoso demais.
Gordon, não tinha olhos, era como se sua testa acabasse no nariz. Ainda assim, ele inclinou ligeiramente a cabeça, como se analisasse a situação.
— O perigo faz parte do que enfrentamos, Mike. E você sabe que não deixamos os nossos para trás.
Lincoln sorriu, confiante.
— Eu disse que ele viria. — Ele lançou um olhar significativo para Pietro. — Não importa onde estamos, os inumanos sempre cuidam uns dos outros.
Pietro cruzou os braços, ainda analisando Gordon com desconfiança, mas não estava necessariamente chocado com sua aparência. Ainda assim, Gordon parecia enxergar além do físico, como se captassem algo invisível ao resto deles. O Maximoff não conseguia decidir se aquilo o deixava mais curioso ou desconfiado.
— Não precisamos de um plano elaborado. Vamos improvisar. — Lincoln colocou a mão na parede próxima ao painel de controle, uma corrente elétrica ziguezagueando pelos seus braços até atingir o sistema.
Por um momento, tudo ficou quieto. Então, com um estalo violento, o prédio inteiro mergulhou na escuridão. As luzes se apagaram, e sirenes começaram a ecoar pelos corredores, ensurdecedoras.
Pietro instintivamente deu um passo para trás, surpreso pela audácia de Lincoln.
— Genial. E agora eles sabem que estamos escapando. Ótimo trabalho, faísca ambulante.
Mike, por outro lado, reagiu rápido. Assim que ouviu o som das travas sendo liberadas, ele empurrou a porta de vidro da cela e saiu.
— Funcionou, não funcionou? — Lincoln retrucou, também saindo com uma confiança que parecia desafiadora.
Ambos se viraram para Pietro, esperando que ele os seguisse.
— E você? Vai ficar aí?
Pietro olhou para a porta aberta, o som das sirenes e o caos ao redor. Mas deixar Milla e Wanda para trás era impensável. Ele balançou a cabeça, decidido.
— Não posso ir.
A voz do Maximoff cortou o barulho ao redor com uma firmeza que até ele mesmo não esperava. Afinal, ele imaginou que se dissesse isso em voz alta soaria hesitante.
Lincoln estreitou os olhos, claramente perplexo.
— Do que você está falando? — Ele gesticulou com as mãos com as faíscas dançando nos dedos. — Essa é a sua chance de escapar!
Pietro permaneceu imóvel e com o rosto sério de quem já havia se decidido.
— Tem duas pessoas aqui que importam pra mim. — Ele ergueu o olhar para encarar Lincoln diretamente. — Não vou sair sem elas.
Mike franziu a testa, sua expressão oscilando entre frustração e algo que parecia um vago entendimento.
— Então, decida rápido. — Sua voz era grave, cortante como uma lâmina. — A Hydra não vai demorar para reagir, e a próxima oportunidade pode não vir.
Pietro apertou os lábios por um instante antes de erguer o queixo. Seu olhar tinha algo de resoluto, como se já tivesse se acostumado com o peso de escolhas impossíveis.
— Eu já decidi. — Ele deu de ombros, a postura desafiadora. — Se quiserem ir, vão. Eu tenho coisas mais importantes para fazer aqui.
Lincoln hesitou, os olhos faiscando com a energia latente de sua confusão e irritação.
— Você é maluco, sabia? — Lincoln disse, quase num sussurro exasperado.
Pietro não respondeu imediatamente. Em vez disso, seu olhar desviou por um instante, a mente invadida por imagens de Wanda e pensamentos sobre Milla. Ele não podia abandoná-las.
— Boa sorte. — As palavras escaparam de seus lábios com um tom irônico, mas também havia algo de genuíno. Ele sabia que os três precisariam tanto quanto ele.
Gordon tocou o ombro de Mike, em seguida segurando Lincoln. A névoa característica de seu teletransporte começou a envolvê-los, um redemoinho etéreo que parecia arrancar o ar do ambiente. Pietro deu um passo atrás instintivamente, a sensação familiar da energia ao redor arrepiando sua pele.
Mas algo deu errado.
Um grito ecoou de Gordon, um som que misturava surpresa e esforço. O redemoinho expandiu-se inesperadamente, engolfando Pietro antes que ele pudesse reagir. A sensação era vertiginosa, como se estivesse sendo arrancado de um lugar para outro à força, enquanto a gravidade parecia não existir.
Quando ele abriu os olhos novamente, o cenário era completamente diferente. As luzes brilhantes e assépticas da instalação da Hydra haviam desaparecido, substituídas por um ambiente escuro e silencioso. Pietro cambaleou, os sentidos confusos pela transição brusca.
— O que diabos foi isso? — Ele murmurou, piscando para ajustar os olhos.
Gordon estava de joelhos, respirando pesadamente. Lincoln olhava ao redor, claramente surpreso. Mike apenas franzia a testa, visivelmente tenso.
— Você não devia estar aqui. — Gordon disse entre suspiros, a voz carregada de cansaço.
— É, eu sei. — Pietro rebateu, passando a mão pelos cabelos desordenados. — Mas que diabos é este lugar?
Antes que alguém pudesse responder, o som de passos apressados ecoou pelo ambiente. Duas figuras surgiram à distância, correndo em direção ao grupo. Uma garota ruiva de olhos determinados e outra, de cabelos pretos, com uma expressão de alerta gravada no rosto.
Mike se endireitou ao reconhecê-las, sua postura relaxando levemente.
— Estamos na S.H.I.E.L.D. — Ele explicou, com um misto de alívio e tensão.
Pietro soltou um suspiro longo e exagerado, balançando a cabeça.
— Só o que faltava. — Ele murmurou, os olhos vasculhando o lugar com um desdém teatral.
A ruiva foi a primeira a alcançá-los, os olhos analisando cada um rapidamente antes de se fixarem em Gordon.
— O que houve? Isso não era parte do plano. — Ela disse, a voz controlada, mas visivelmente irritada.
A garota de cabelos pretos parou ao lado dela, o olhar curioso pousando em Pietro.
— Quem é ele? — Ela perguntou, inclinando levemente a cabeça.
— Um problema. — Lincoln respondeu, secamente.
— Um problema? — Pietro arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços com uma expressão de falso ultraje. — Que forma encantadora de se apresentar.
Mike lançou um olhar severo para Lincoln antes de intervir.
— Ele estava na instalação da Hydra conosco. É... complicado.
Pietro riu, sem humor.
— Complicado é um eufemismo, grandão. Mas, já que estamos todos sendo tão amigáveis, alguém pode me dizer como exatamente eu volto pra lá?
A ruiva trocou um olhar preocupado com Gordon, antes de responder, com cautela:
— Voltar? Você quer voltar para a Hydra?
Pietro não hesitou.
— Tenho assuntos pendentes lá. — Ele disse, o tom sério pela primeira vez, deixando claro que sua decisão não era negociável.
O ambiente ficou tenso, todos encarando Pietro como se ele fosse louco. E talvez ele fosse. Mas, para ele, deixar Wanda e Milla para trás não era uma opção.
A garota de cabelos pretos estreitou os olhos para Pietro, o rosto endurecido.
— Ninguém volta para a Hydra, a menos que seja um deles. — A declaração dela era categórica, como se estivesse gravada em pedra.
Pietro deu um passo à frente, o tom cortante.
— Eu não sou um deles. — Ele respondeu, os olhos brilhando com uma intensidade que calou qualquer dúvida momentânea.
— Quem é você, afinal?
— Eu que pergunto. — Pietro rebateu, com um sorriso cínico. — Quem são vocês?
— Skye. — A morena respondeu, cruzando os braços como se estivesse erguendo uma barreira. — E essa é Crystal Louise.
Crystal inclinou levemente a cabeça, ainda sem falar, mas seu olhar parecia pesar cada palavra de Pietro.
— Ótimo. — Pietro ergueu as mãos num gesto de rendição, ainda que o sarcasmo estivesse evidente em sua voz. — Agora que todos sabem os nomes uns dos outros, posso ir?
— Não tão rápido. — Skye respondeu, dando um passo à frente. — Como sabemos que você não é um agente da Hydra?
Pietro revirou os olhos dramaticamente, balançando a cabeça.
— Vocês são inacreditáveis. — Ele murmurou, antes de erguer o tom novamente. — Olha, se eu fosse da Hydra, vocês acham que eu estaria implorando para voltar lá?
— Talvez seja parte do plano deles. — Crystal finalmente falou, o tom calmo, mas incisivo.
Pietro bufou, frustrado.
— Claro, porque eu sou tão meticuloso assim.
Skye fez um sinal com a cabeça para os outros.
— Venha conosco.
Antes que ele pudesse protestar, Skye e Crystal o escoltaram por um corredor, os passos firmes e decididos. Gordon, Lincoln e Mike os seguiam de perto, a tensão no ar aumentando a cada momento. Eles pararam diante de uma porta pesada que Skye abriu com um toque rápido em um painel.
— Para dentro. — Skye ordenou, apontando para o interior da sala.
Pietro olhou ao redor, a expressão carregada de desdém.
— Ótimo. Agora vocês vão me trancar de novo. — Ele entrou com passos ruidosos, balançando a cabeça. — Parece que sou um ímã para celas.
Skye ignorou o comentário, fechando a porta atrás dele. Crystal cruzou os braços, ainda observando-o com cautela.
— Vamos descobrir exatamente quem você é. — Ela disse, com uma firmeza que não deixava espaço para argumentação.
— Mal posso esperar. — Pietro rebateu, jogando-se na cadeira com um sorriso irônico. — Só não esqueçam do café enquanto fazem isso.
Após o apagão, Nina se afastou, indo em direção ao corredor com passos rápidos, chamando alguém em voz baixa, mas firme. Milla, sem hesitar, aproveitou a oportunidade. Seus dedos se esticaram em direção à mesa, com uma destreza silenciosa, e rapidamente pegaram a faca que estava abandonada ao lado do prato.
Ela a manteve oculta, pressionada contra a palma da mão, seu corpo tenso como uma corda prestes a se romper. O som dos passos de Nina ecoando pelo corredor ainda estava presente, mas agora Milla estava em alerta total.
Milla se levantou silenciosamente e, sem olhar para trás, seguiu em direção ao corredor. O som dos próprios passos era abafado pela escuridão que tomava o ambiente. Ela se moveu com a rapidez de quem sabia que não havia mais volta, sabia que deveria ter esperado mais antes de agir, mas agora, a única coisa que importava era não ser pega.
O arrependimento, que já começava a se formar, se dissipava a cada passo, substituído por uma urgência cruel de sobrevivência.
O corredor estava vazio, mas o ar carregava uma sensação de pressão, como se o destino estivesse observando. Ela correu, sem hesitar, para o lado oposto ao de Nina. A escuridão a envolvia, mas Milla estava além do medo agora, perdida em uma adrenalina que a impulsionava a seguir em frente.
Foi então que ele apareceu.
Um homem, alto e imponente, surgiu das sombras. Milla não teve tempo de pensar, apenas reagiu. Em um movimento fluido, ela empunhou a faca com uma precisão letal e, sem hesitar, a cravou no pescoço dele. O som do metal rasgando a carne foi abafado pelo estalo de seus ossos, e o homem soltou um grunhido fraco, seus olhos se arregalando de surpresa e dor.
O sangue jorrou, quente e pegajoso, respingando em sua pele, e Milla fez uma careta involuntária ao sentir o líquido escorrer, mas não parou. O homem caiu para o lado, seus últimos suspiros se perdendo na escuridão do corredor. Milla permaneceu imóvel, a faca ainda presa em sua mão, enquanto o sangue dele manchava sua roupa.
A tensão do momento a envolvia, mas a realidade ainda não tinha chegado. Ela sabia que, ao dar aquele passo, havia mudado tudo. Não havia mais como voltar atrás.
Milla continuou correndo, os pés batendo no chão com força enquanto o som dos alarmes começava a se infiltrar em sua mente, soando cada vez mais alto, mais implacável. As luzes começaram a piscar e acender, um brilho branco e frio que a cegava momentaneamente. Ela não parou, ignorando a dor no peito, a sensação de claustrofobia crescente, e focou apenas na porta à sua frente, a única esperança de escapar daquele pesadelo.
O corredor parecia se estender infinitamente, e os passos atrás dela ficaram mais intensos, mais próximos. O eco das vozes das guardas começava a se infiltrar na sua percepção, uma cacofonia de ordens e gritos. Ela não podia parar agora.
A porta estava ali, finalmente à sua frente. Ela a alcançou, as mãos trêmulas e cobertas de sangue tentando girar a maçaneta, mas algo estava errado. A porta não cedeu. Com um grito de frustração, ela forçou mais, seus dedos já dormentes e suados, o pânico crescendo à medida que ela ouvia os passos das guardas se aproximando.
De repente, o som das armas sendo engatilhadas cortou o ar, e Milla sentiu o frio das miras se posicionando em sua direção. As guardas apareciam ao fundo, todas com armas prontas, os rostos impassíveis, como se estivessem esperando o menor movimento para disparar.
Ela olhou para a porta mais uma vez, sua mente trabalhando rapidamente, mas sem conseguir pensar claramente. Então, com um último esforço, ela puxou a maçaneta e a porta cedeu, se abrindo para um corredor estreito e longo.
Milla não hesitou e se lançou para dentro, sentindo o som dos passos das guardas atrás de si, mas agora o corredor se estendia diante dela como um único caminho de fuga. Sua respiração estava acelerada, os olhos atentos, o corpo movendo-se com uma urgência selvagem.
Antes que ela pudesse respirar aliviada, o som de disparos rasgou o ar. Balas começaram a ricochetear nas paredes ao redor dela, e ela sentiu uma dor lancinante ao ser atingida de raspão no ombro. Outra bala atravessou sua perna, ela sentiu o impacto de imediato, gemeu de dor e quase caiu, mas não parou pois sabia que com um pouco de sorte, a regeneração acelerada dela daria conta de curar os ferimentos rapidamente.
O peito queimando de dor, Milla continuou correndo, ignorando as manchas de sangue que ficavam para trás, a adrenalina impulsionando cada passo. Seus músculos ardiam, mas a ideia de ser capturada era mais dolorosa ainda.
A visão turva pela dor, ela viu uma escada à frente e desceu rapidamente, os pés deslizando pelas escadas de metal, os ecos de suas ações se espalhando pelo ambiente. Mas, ao chegar ao fundo da escada, Milla percebeu algo que a fez parar bruscamente.
Havia mais guardas ali, mais do que ela poderia enfrentar, e, pior ainda, Nina estava à sua frente, parada com um olhar furioso e impaciente. A raiva nos olhos de Nina era palpável, e seu sorriso, antes doce e calculista, estava agora contido, mas ainda assim ameaçador.
— Você deveria ter se comportado, Milla. — disse Nina, a voz cortante e carregada de uma frieza gelada. — Agora, vamos ter que fazer do jeito dificil.
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