
(010) ★・𝐖𝐀𝐋𝐋𝐒, 𝐀𝐆𝐀𝐈𝐍
𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝒅𝒆𝒛: 𝒫𝒶𝓇𝑒𝒹𝑒𝓈, 𝒹𝑒 𝓃𝑜𝓋𝑜
O MUNDO AO REDOR DE MILLA era como um borrão de luzes quando ela finalmente conseguiu abrir os olhos, mas então ela se deu conta que tudo que sentia era uma dor lacerante em todos os lugares possíveis e impossíveis.
Ela se moveu um pouco, dando conta que estava em uma cela, mas não a familiar cela da HYDRA À qual estava acostumada, não conhecia aquele lugar e isso fez Milla se sentir acuada.
Tentou se mover, mas um peso metálico em seus pulsos impediu qualquer tentativa, havia algemas em seus pulsos. Não só isso, mas também algo de metal cobrindo suas mãos por inteiros e fazendo seus dedos formigarem, já que ela não conseguia esticá-los dentro dos neutralizadores.
As memórias eram uma bagunça. Ela se lembrava de Ultron, mas não em detalhes. De prédios caídos e de ter lutado com alguém. Mas quem? A dor de cabeça latejava, o estômago revirava, e sua garganta estava tão seca que engolir fazia sua saliva arder. Mesmo que tentasse gritar, sabia que nenhum som sairia de verdade.
Foi quando o som da porta se abrindo deixou a de cabelos pretos totalmente atenta e já na defensiva, embora não existisse nenhuma possibilidade real dela fazer algo para se defender caso necessário, já que estava totalmente imobilizada. Quando os passos se aproximaram e sua visão ficou mais clara, ela viu alguém que já não via há muito tempo, mas de certa forma lhe trouxe algum conforto.
Quando viu Nick Fury, ela tentou falar, mas a voz não saiu por conta da garganta seca e dolorida. Fury percebeu e logo se aproximou abrindo uma garrafa de água. Ele segurou a cabeça dela e ajudou ela beber.
A água escorrendo por sua garganta como um alívio imediato, embora seu corpo ainda estivesse tenso, quando ela conseguiu recuperar um pouco de fôlego, sua voz saiu baixa, rouca:
— Na última vez que ouvi falar de você, você estava morto.
— É, eu sou bom nisso. — ele soltou uma risada discreta.
SHIELD, HYDRA, Fury, tudo era meio confuso na cabeça dela. Ela não sabia quais lembranças eram reais e quais eram delírio.
Ela deu mais uma olhada em volta, notando que ainda não fazia ideia de onde havia ido parar e nem de como havia chego até aquele local. Mas, o lado bom era que Nick Fury sempre possuía respostas, embora, nem sempre as compartilhasse.
— Onde eu estou? — Milla perguntou com certo esforço, e sua voz ainda sumiu no final da frase.
— Na torre Stark. — ele respondeu sem fazer rodeios. — Do que você sem lembra? — Milla fez uma careta que deixou claro que ela não entendeu o que ele quis dizer. — O que fizeram com você?
Uma lembrança muito especifica e dolorosa passou por sua mente, embora não fosse exatamente aquilo que Fury houvesse perguntado, ela não pode evitar ficar completamente na defensiva. Ela sabia a resposta, mas não podia dizê-la. Não podia formular as palavras, porque pronunciá-las seria dar voz a algo que ela tentava enterrar no fundo de sua consciência. Seria tornar real o que ela queria fingir que nunca aconteceu.
Então, seu corpo respondeu antes que sua mente pudesse barrar a lembrança. Um aperto frio em seu peito, o estômago se revirando em puro nojo, a sensação fantasma de mãos que nunca deveriam tê-la tocado.
Engoliu em seco e forçou a mente a se agarrar a outra coisa. A outra coisa que também era terrível.
— Eles queriam me tornar imortal. — falou com dificuldade.
Fury não respondeu, mas assentiu para que ela continuasse, dando espaço para ela formular a explicação da maneira que conseguisse.
— Eles queriam saber se conseguiam criar alguém que sempre voltasse. Que nunca morresse de verdade. Então, eles... Me mataram muitas vezes e de muitas formas.
Fury manteve-se em silêncio por um momento antes de perguntar:
— Conseguiram?
— Parece que sim. Ainda estou aqui, não estou? — Ela deu uma risadinha sem nenhum humor, um som que soava mais amargo que qualquer coisa. — Mas eu ainda sinto tudo. E na verdade doí para caralho.
O homem pareceu considerar por alguns segundos, depois ele a encarou como se estivesse esperando ainda mais alguma explicação. Mas Milla aparentemente não tinha mais nada a compartilhar com ele.
— E os seus poderes?
— Que poderes? — Ela rebateu com a confusão estampada em seus olhos.
— Em Sokovia você atacou os Vingadores. — Fury estreitou os olhos. — Você tinha alguma espécie de magia. Sei lá, uma coisa roxa.
Ele viu que ela hesitou, como se considerasse ou se estivesse checando em suas memórias, mas então balançou a cabeça negativamente de novo, dessa vez com mais firmeza.
— Eu não lembro.
Fury suspirou e não precisou pronunciar nenhuma palavra em voz alta para Milla saber que aquela não era a resposta que ele queria ouvir. No entanto, era verdade.
— Você precisa descansar. — Ele disse e se afastou, dando um passo para trás e o pânico tomou conta dela no mesmo instante. Seu corpo reagiu antes mesmo que sua mente processasse.
— Espera, Fury... — a voz dela falhou, mas ela falou novamente, se atropelando nas palavras e quase surtando com a ideia de ficar sozinha novamente. — Você não vai me tirar dessas algemas? Você não vai me tirar daqui?
Fazia tanto tempo que Milla não via um rosto familiar que tudo que ela queria, além de sair dali o mais rápido o possível, era se agarrar aquela presença conhecida pelo maior tempo que pudesse. Se alguém podia ajuda-la agora, ela acreditaria facilmente que esse alguém era Nick Fury.
Isso mesmo sem saber que ele nem deveria estar ali agora, após forjar sua própria morte. Então obviamente, ele não podia ficar por muito tempo. Logo ele falou novamente e Milla sentiu a quebra de expectativa lhe atingir com força.
— Não posso.
— Eu... Eu não aguento mais ficar presa. — Milla disse com a voz mais trêmula e o pânico tomando conta de si de dentro para fora.
— Milla...— Fury tentou se explicar, mas Milla, que estava igualmente assustada e agitada, não o deixou continuar.
— Por favor. — Ela implorou.
Nick Fury, por mais estoico e metódico que costumasse ser, ainda tinha muito carinho e empatia pela mais nova, afinal trabalhou com ela por um bom tempo, com ela sendo uma de suas melhores agentes. Ele sabia como a família dela era complicada, e o peso de escolher dever e justiça contra os próprios laços de sangue que ela enfrentou no passado.
— Isso é uma questão de segurança, Milla.
— Eu sei, eu não vou me machucar. Vou ficar bem.
—É sobre a segurança das outras pessoas. — O diretor respondeu firmemente, tentando não ser cruel.
— Você acha que eu machucaria alguém? — Ela perguntou em um choque de decepção.
Milla viu Fury balançando a cabeça frustrado antes de se virar em direção da porta.
— Eu sinto muito. — disse parado em frente da porta de metal. — Mas você precisa ficar assim até descobrirmos o que fizeram com você.
Dito isso, Milla gritou para que ele não saísse, que não a deixasse sozinha ali ou que ao menos retirasse suas algemas, mas não adiantou. Fury apenas se retirou do cômodo, fechando a porta atrás de si em um eco que perturbou ainda mais a cabeça de Milla.
Agora ela estava isolada como uma ameaça.
TONY STARK NÃO MENTIU quando disse que havia muitos laboratórios para pesquisa na torre. Em um desses laboratórios, Bruce Banner digitava rapidamente em seu computador, gráficos e códigos passando pela tela em velocidade absurda, enquanto Pietro estava casualmente jogado em uma das bancadas. Steve também estava por perto, mas o Maximoff era quem olhava para aquilo com uma expressão completamente perdida.
— Então... você pode repetir isso de um jeito que um velocista sem doutorado consiga entender?
Bruce parou por um momento e olhou para ele, franzindo a testa.
— Eu acabei de explicar.
— Sim, e foi como ouvir estática na TV. — Pietro resmungou. Ele sabia matemática. Ou pelo menos achava que sabia. Mas ouvir Bruce ou Tony falando parecia o mesmo que assistir a um filme em mandarim.
Antes que Bruce pudesse tentar reformular a explicação, a porta do laboratório se abriu e Nick Fury entrou, segurando um monte de documentos, alheio à presença dos outros três que estavam ali.
Steve, sempre analítico, perguntou sem rodeios assim que teve uma oportunidade:
— O que é isso?
Fury bateu os papéis na palma da mão antes de jogá-los sobre a bancada.
— Os testes da garota.
Banner puxou os documentos rapidamente, começando a folhear com curiosidade.
— Conseguiu identificar quem é ela? — Bruce perguntou, intrigado. Afinal, havia ajudado na pesquisa e nos testes nada ortodoxos que tiveram que fazer na "garota de Sokovia".
Fury deu de ombros e negou com a cabeça antes de responder, encostando-se a um dos balcões e cruzando os braços, sua expressão completamente séria.
— Não foi necessário.
Steve estreitou os olhos.
— O que quer dizer com isso?
Ele não confiava na tendência de Fury em guardar segredos, e isso não era novidade.
— Quero dizer que eu já conhecia essa garota há muito tempo. — Todos o encararam com curiosidade, e o diretor se explicou brevemente em seguida: — Ela era uma agente da S.H.I.E.L.D., trabalhou comigo há anos. Milla O'Brien Ivanov.
Pietro gelou ao ouvir aquele nome, foi como se todo o seu corpo ficasse rígido, enquanto uma sensação estranha e fria se espalhava rapidamente dentro dele. Ele repetiu mentalmente, sentindo um gosto amargo na boca. Como não havia percebido antes? Como não a reconheceu? O Maximoff não conseguiu evitar se amaldiçoar silenciosamente por não ter percebido antes.
Todo aquele tempo, aqueles dias, a garota presa era sua Milla. Ele havia jurado que a reconheceria assim que a visse, mas como não chegou a ouvir a voz dela, não a reconheceu. Mesmo depois de ter a segurado nos braços no dia da batalha final contra Ultron.
— Pietro? — A voz de Steve o trouxe de volta. O Capitão o observava atentamente, notando a maneira como o velocista havia empalidecido. — Você a conhece?
— Ela... — Ele olhou para os rostos presentes, tentando formar uma frase sem parecer um idiota. Ela ficava na cela ao lado da minha. Maximoff não esperou reações ou questionamentos. Deu um passo decidido à frente, a urgência pulsando em cada músculo de seu corpo. — Eu preciso falar com ela.
Mas ele não conseguiu avançar o suficiente, Nick Fury bloqueou ele com um braço, impedindo que Pietro continuasse andando em direção ao elevador para ir até o andar onde o quarto em que Milla estava de quarentena ficava.
— Ela ainda não pode sair. — Fury disse com a voz firme, mas Pietro rebateu, com a ansiedade clara em sua voz.
— Por quê? Ela não vai machucar ninguém!
— Os testes indicaram que ela foi submetida a experimentos com algo que pode ser a Joia do Poder. — Fury falou entre dentes, um sinal claro de que ele ainda não iria revelar essa informação, principalmente não antes de ter certeza absoluta.
Benner e Steve que até então tinham um pequeno conhecimento sobre o que isso significava, principalmente após os últimos eventos, estreitaram as sobrancelhas com a curiosidade estampada em seus rostos. Eles esperavam que o diretor desse mais explicações. Mas obviamente não deu.
E Pietro também não pareceu se importar, ele estava ansioso e angustiado de mais para falar sobre experimentos, principalmente sabendo tudo que Milla já havia encarado antes daquilo.
— E daí? Ela ainda precisa sair de lá.
— Você sequer compreende o que isso significa, garoto. — Fury disse quase para si mesmo, percebendo que o Maximoff claramente não havia conhecimento da dimensão do problema, ou talvez não se importasse.
Pietro soltou uma risada breve e amarga, cheia de incredulidade.
— Eu não me importo! — Ele confirmou. — Ela precisa sair daquela cela, ela já ficou presa muito tempo, isso não é justo.
A verdade estava ali, crua e exposta. Ele sabia, melhor do que ninguém, o que significava estar encarcerado, ser tratado como uma arma ao invés de um ser humano e ele não iria permitir que ela fosse reduzida a isso.
O platinado ainda estava convencido e continuou andando, ignorando os olhares sob sua figura. Ele não ligava. Mas estava tão ansioso que literalmente ainda não havia cogitado usar sua ultra-velocidade para literalmente correr até lá agora. Até pois nos últimos dias ele estava tentando não usar muito seus poderes dentro da torre para evitar acidentes.
— Ela não pode sair. —Nick Fury disse mais alto, já sem paciência e Pietro se virou para ele.
— Então me coloquem lá dentro!
O silêncio caiu sobre o laboratório e finalmente Rogers viu que era a hora de assumir sua postura de líder e dizer algo. Ele suspirou e se aproximou do velocista, que ainda tinha os olhos cravados na figura do diretor, como se quisesse despedaça-lo e estivesse se contendo.
— Pietro...
— Isso não vai acontecer. — Fury falou por cima do Capitão, que bufou ao ser interrompido.
— Por quê? — Pietro rebateu, com seus punhos cerrados. Bruce já estava irritado com toda aquela cena que eles estavam causando.
— Porque não sabemos o que fizeram com ela. E até descobrirmos, você não vai entrar lá.
— Isso é ridículo! — ele exclamou, balançando a cabeça em frustração. — Ela não é um monstro, não é uma arma, ela não é uma ameaça.
— Ok talvez isso realmente não seja a melhor opção. — Steve disse apoiando as mãos nos quadris. Ele via o lado humano da situação, mas sabia que tomar uma decisão baseada nas emoções do momento nunca era uma boa ideia e na maioria das vezes só resultava em mais problemas. — Mas podemos discutir tudo isso com calma. Achar um meio termo.
Pietro passou as mãos pelo rosto, ele não achava que calma resolveria aquela situação. Seus dedos estavam formigando, mas ele ainda estava tentando ser razoável, embora estivesse soando de forma mais rude do que qualquer um ali já houvesse visto ele agir antes.
— Com calma? Ela tá trancada como um animal, e vocês querem falar sobre isso com calma?
— Sei que isso é uma situação complicada, mas perder a cabeça não vai ajudar em nada. — Rogers disse, ainda decidido em ser um intermediário.
A frustração de Pietro era palpável. Seu peito subia e descia com respirações irregulares, a mente rodopiando com lembranças, com culpa e com a necessidade sufocante de fazer alguma coisa.
— Tá bom. — Sua voz saiu mais baixa, carregada de exaustão. Ele engoliu em seco antes de continuar. — Então me deixem falar com ela.
Todos olharam para ele meio incertos do pedido, mas ele respirou fundo e insistiu.
— Por um comunicador? Ou pela porta. Só isso. — murmurou. — Só preciso falar com ela.
Fury finalmente assentiu, e foi o bastante para Pietro desaparecer dali em um borrão. Um segundo depois ele já estava diante do quarto, encarando a porta de metal frio que reluzia as luzes fracas do corredor.
Pietro sentiu o peito apertar. Novamente, haviam paredes entre eles. Novamente, ele estava ali, impotente, do outro lado.
Era como se nada tivesse mudado. Como se o tempo tivesse se dobrado sobre si mesmo e os jogado de volta àquele pesadelo. Ela ainda não o conhecia e ele ainda não podia vê-la. Mesmo longe da crueldade e da frieza da maldita base da HYDRA, eles ainda estavam na estaca zero.
O platinado deslizou as mãos pelo metal, procurando uma tranca, uma fresta ou qualquer coisa que pudesse abrir a porra daquela maldita porta. Mas não havia nada aparente, nenhuma brecha, nenhum mecanismo visível.
Foi então que seus olhos pousaram em um pequeno painel do lado da porta, um pequeno comunicador. Seus dedos se moveram antes mesmo que sua mente processasse e ele apertou o botão azul ligando o microfone, sem ao menos saber o que dizer.
— Mi amore?
Dentro da cela, Milla sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Havia algo de inquietante naquela voz.
O déjà-vu a atingiu como uma onda gelada, puxando-a para um lugar que ela não conseguia alcançar completamente. Sua mente estava uma bagunça, mas parte dela gritava que conhecia aquela voz, que já havia ouvido aquele apelido antes, aquele sotaque, aquela entonação rouca e urgente.
E então veio o pensamento irracional: Estou ficando louca. Porque não havia ninguém ali. Ninguém falava com ela há dias, era apenas ela e aquelas paredes sufocantes. O que fazia ela deduzir que aquilo era, provavelmente, uma alucinação.
Mas então, um pequeno brilho azulado capturou sua atenção, oscilando fracamente no painel embutido na parede, a luz piscava como se aguardasse uma resposta. A percepção de que aquilo significava comunicação provocou uma inquietação em seu peito, um pressentimento sufocante o qual ela ainda não estava preparada para reagir.
Milla hesitou, ainda com os pensamentos desordenados e as mãos algemadas. Mas quando se deu conta, já estava se movendo em direção ao comunicador.
Ficou parada diante dele, os dedos pairando no ar como se o simples ato de tocar no painel pudesse desencadear algo irrevogável. Havia algo naquilo que parecia uma armadilha, como se interagir com aquela voz invisível pudesse desatar um nó que mantinha sua sanidade minimamente intacta.
— Mi amore? Você está ai? — ele repetiu, baixo, mas ainda urgente.
A alcunha atingiu-a com força, fazendo uma sensação estranha e gelada passar por todo seu corpo, que estava se arrepiando apenas por ouvir aquela voz. Milla encostou a cabeça na parede perto do comunicador, sentindo os olhos lacrimejarem sem motivo aparente. Ela respirou fundo e falou com a voz trêmula:
— Quem é?
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