esta fanfic contêm temas pesados e cenas explícitas de suicídio.

NARRADORA

As cinco e meia da tarde, Any caminha pelas ruas da Quinta Avenida, a famosa rua dos milionários. O lugar é um sonho. Nova Iorque sempre foi o sonho que, finalmente, ela havia alcançado.

Ela não está simplesmente de passagem pela cidade, ela está para ficar por um longo tempo.

Any se sentia alegre pelas conquistas recentes. Ela conseguiu uma vaga numa famosa editora, onde vai poder desenvolver tudo o que tanto se empenhou em aprender nos anos de cursos e Universidade.

Mas ela não estava mais radiante do que um dia pensou que ficaria.

Ele não estava ali com ela.

O homem que mais a impulsionou a correr atrás de seus sonhos, quando ela sempre quis desistir por se achar incapaz.

Ele ficou para trás, junto com o passado.
Por que é tudo o que ele é agora, parte do passado. Mas ainda doía como se fosse o presente.

A brasileira parou para tomar seu café fumegante no fim da tarde de inverno, fim de ano e próximo ao natal. As ruas estavam decoradas e o tempo prometia uma nevasca que combinaria mais ainda, como nos cenários de filme natalino que ela tanto ama maratonar nesta época do ano.

Ela estava pensando no que seria de agora para frente, no seu futuro profissional, porque o sentimental ela já tinha perdido as esperanças, mesmo sendo tão jovem.

O celular em seu bolso começou a vibrar, não era um contato salvo, então resolveu ignorar. Porém a pessoa insistiu em continuar ligando e Any atendeu mesmo sem vontade.

— Alô, quem fala? — perguntou com pouca paciência evidente em seu tom.

— Any. — a voz carregada de emoção soou como um sussurro nos ouvidos dela.

Ela reconheceu de imediato e um arrepio percorreu sua espinha ao se lembrar da voz nos momentos carinhosos que eles já tiveram, quando ele cantava para vê-la feliz em seus dias tristes.

— Josh. — ela engoliu em seco. — O que foi? Aconteceu algo? — perguntou franzindo as sobrancelhas.

— Não, eu só queria falar rápido com você. — o loiro falou. Ela reparou que pelo tom de voz ele não parecia nada bem.

— O que há de errado? Você pode falar comigo se quiser, diga o que está acontecendo. — ela o incentivou ficando preocupada de repente.

Ela sentiu seu coração doer quando ele soluçou.

— Minha avó morreu. — contou Josh tão baixo que por pouco Any quase não ouviu.

— Sinto muito. — ela disse sincera. — Ela estava muito mal, ela precisava descansar e o momento dela chegou. — Any tentou conforta-lo.

— Antes de morrer ela disse eu deveria tomar vergonha na cara e ir atrás de você. — o loiro comentou, a cacheada ficou sem fala.

— Mas eu disse que isso não era mais possível, então não se preocupe, eu apenas liguei para pedir perdão. — ele disse com a voz um pouco mais firme.

— Por que devo te perdoar? — ela perguntou sentindo um nó na garganta.

— Por tudo o que eu não fiz para que nós fossemos felizes juntos, eu quebrei as coisas por medo e agora me arrependo, por isso peço pelo seu perdão. Você pode me perdoar, Gbrielly? — ela perguntou tentando se manter firme.

Os olhos dela lacrimejaram com o apelido.

— Eu fui a maior culpada, mas eu te perdôo, Josh. — ela disse depois de um tempo em silêncio. — Você também pode me perdoar.

— Perdôo. — sussurrou ele, do outro lado limpando as lágrimas e olhando para a lâmina em cima pia do banheiro. — Obrigado por isso, sinto um alívio agora, obrigado mesmo. Foi bom ouvir sua voz. — ele disse sentindo o peito doer.

— Fique bem, Josh. Você é um cara forte. — ela disse se segurando para não chorar e desligou.

Ele se debulhou em lágrimas ao ouvir a última frase.

Você é um cara forte.

Ele riu, para ele isso era uma piada, pois se sentia o mais fraco dos homens.

Porque ele simplesmente não conseguiu manter o relacionamento com uma das mulheres que ele já amou na sua vida, porque a primeira é sua avó, mas agora ele também a perdeu para sempre. O vazio dentro do peito era imenso.

Ele se sentou na escrivaninha, pegou a caneta preta e ainda chorando terminou a carta.

Ele tinha perdido todos o seus bens mais preciosos e não é sobre dinheiro, isso ele tem de um monte, a herança que recebeu é bilionária, mas nem isso poderia ser o suficiente. Ele teve por fim a reflexão: o dinheiro é ótimo para resolver diversos problemas materias, mas quem pode comprar a vida de quem ama? Ou o amor?

Ele no fundo sabia que era amado, contudo de longe. A dependência o consumiu e a insuficiência o afundou.

No fim ter beleza, dinheiro e status não é a fórmula da felicidade da alma.

A única coisa que com o dinheiro ainda poderia o satisfazer são investimentos em ONGs, esse era o lado positivo, ver o sorriso no rosto dos materialmente mais frágeis. Mas esses mais frágeis são na verdade os mais fortes, os que mantiam seus sentimentos e esperança nos olhos intactos.

Ele comprou presentes, teve uma manhã incrível com crianças carentes que o fizeram sorrir e ver que ele era o verdadeiro miserável, enquanto eles eram abastados de tanta esperança e amor puro.

Josh pensou e repensou em sua decisão.

Ele foi a fundo, encheu a banheira, olhou para o próprio reflexo no espelho, enquanto a lâmina se afundou de um pulso para o outro.

Ele cambaleou até a banheira e se deitou nela. A água transparente se tornou vermelha.

Seu coração que antes batia acelerado agora diminuiu a frequência. Ele sorriu.

Enquanto sua consciência se esvaia ele lembrou dos melhores momentos de sua vida.

Ele brincando com sua avó no parque, os dois cozinhando, os dois cantando, os dois tocando, ele se apresentando e ela o aplaudindo.

Ela sempre dizia que ele se tornaria um grande artista, Josh se tornou um artista de renome, suas obras estavam sendo vendidas, enquanto ele também cantava para multidões.

Ele pensou nos fãs, nas histórias, nos sorrisos. Se sentiu culpado, a dor o torturou.

De alguma forma ele iria causar dor.

Ele amava cada um dos seus queridos Beauchampions.

E ele lembrou por fim de Any, a mulher mais incrível que ele conheceu, a mais forte e mais bonita. Relembrou os momentos, os abraços, os beijos. E chorou mais forte.

O término foi o mais doloroso, ele nunca pensou que poderia sentir tanto por alguém e ela o fez sentir tudo de uma vez.

Ele lembrou de quando ela era apenas uma leitora estúpida que gostava de atenta-lo nas suas tardes no parque onde ele iria atrás de inspiração para criar canções e pinturas.

Será que ela imagina o quanto ele ainda a ama? — se perguntou.

Foram sete anos juntos, de aminimigos para namorados e até noivos apaixonados, mas os dois precisaram se afastar, pois seus propósitos não eram os mesmos. Ela queria estabilidade, já a vida dele era uma loucura, muita atenção para ele, muito holofote.

As coisas se quebraram.

Ele deu seu último suspiro após dizer para si mesmo: — Acima de tudo eu te salvei de mim.

E ali terminou, o ciclo se encerrou.

Era trágico pensar que um homem tão jovem resolveu por o fim em sua vida, mas estar vivo nunca foi sinônimo de viver e Josh sabia bem dessa realidade.

A depressão te mata de dentro para fora, por isso eles nunca reconheceram o problema.

A ausência alcançou seu período final e isso ele chamou isso de: vazio.

A vontade de sentir tudo e não sentir nada mata. Josh é a prova.

O encontraram horas depois, seu corpo definhando. As notícias percorreram o mundo, as manchetes diziam: o brilhante artista deixou o palco da vida.

Tão poético como ele costumava ser com suas letras famosas no mundo inteiro. A notícia chegou para Any, ela estava ouvindo rádio em seu carro, indo para seu novo trabalho.

A notícia a chocou tanto que ela quase perdeu o rumo com o automóvel, por pouco ela não bateu.

A dor tomou seu peito e as lágrimas tornaram seu rosto molhado. Ela nunca tinha sentido algo tão ruim, a última vez foi a perda de sua irmã mais nova.

Quando ela soube a causa sentiu seu mundo desmoronar. Desesperada ela foi em busca de informações.

O dia foi péssimo, ela nem conseguiu trabalhar, pois não conseguia parar de chorar.

No dia seguinte ocorreu o velório. Uma pessoa que a avistou, Noah, o acessor de Josh, entregou a carta para ela.

Ela estava distante, sem coragem de chegar mais perto.

— Obrigada. — ela agradeceu e se afastou enxugando as lágrimas.

Ela decidiu ir tomar café, pois ainda estava sonolenta, mal dormiu a noite depois do ocorrido.

Any fez seu pedido e se sentou numa das mesas externas. Ela abriu a carta e começou a ler.

De imediato as lágrimas retornaram.

De: Kyle
Para: minha leitora preferida

Já deve saber o que aconteceu a essa altura, peço que não desperdice suas lágrimas comigo, essa foi a minha decisão. Sei que isso pode machucar ou te fazer sentir culpada, mas você não foi a responsável, eu fui.
Eu não tinha mais jeito, não tinha mais vida, eu fui fraco.

Perdão por não ter sido seu garoto forte. Eu tentei, juro que tentei, mas nada mais parecia preencher o vazio no meu peito.

Prometa para mim que não vai se culpar, prometa que vai seguir em frente, que vai ser a mulher mais feliz e bem-sucedida.
Você é incrível, Any Gabrielly, você vai ser grande, o mundo precisa conhecer suas histórias.

Obrigado pelo tempo que ficou em minha vida, eu te amei por cada instante e não me arrependo de nada. Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, te amo para sempre e depois.

Da Lua ida e volta!
Seu eterno Kyle :)

Ela estava quase sem ar de tanto soluçar, as pessoas curiosas a olhavam com pena. Any colocou a mão na boca segurando-se para parar de soluçar, mas ai um casal jovem passou por ela comentando da morte dele.

Ela retirou uma página de um livro de dentro do envelope da carta e leu.

...

Os anos se passaram e Any relembrava de Josh mais uma vez. Como ele dizia, ela se tornou uma famosa escritora de best-seller e lançou no natal, uma data muito importante para eles, o romance baseado em sua história com Josh.

O livro já estava fazendo sucesso em diversos países. Até uma música foi lançada, uma música que ela compôs e gravou para ele.

O tempo passou e ela seguiu em frente, mas jamais se esqueceu dele. Agora ela estava feliz, está noiva de um bom homem, Andrew a faz bem e é perceptível.

Ela se tornou grande e todos os dias ela agradecia aos céus e a memória de Josh por tudo o que a fez chegar até ali.

Ele foi o amor mais sincero que ela teve, o amor que tornou muitos outros irrelevantes, pois antes de um casal eles foram melhores amigos de corpo e alma.

As últimas questões dela foi ao pensar na situação que viveu depois da morte dele: Havia algo que eu poderia ter dito
Para fazer tudo parar de doer? Para fazer seu coração bater melhor?

FIM!!!

essa oneshot deixa a gente tão sensível😭😭😭

O que acharam?

Depressão não é frescura! Se você está sofrendo calado sei que não é fácil procurar por ajuda, mas é necessário. Você não está sozinho nessa, eu estou aqui disposta a te ajudar, a te ouvir sem julgar. A dor de ninguém deve ser desprezada.

Caso precise: ligue 188 para prevenção ap suicídio.

Você é importante! A dor faz parte do processo, mesmo que ele seja longo.

A vida é feita de altos e baixos como a imagem dos batimentos cardíacos. O que você pensa que é eterno é apenas uma fase e isso vai passar, você é forte apenas por suportar.

Versículos para ajudar:

28. Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
29. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.
30. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.
(Mateus, 11)

Feliz Natal!