Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

·˚ ༘「𝟎𝟎𝟒」





𝗎𝗆 𝖿𝗂𝗅𝗁𝗈 𝗉𝗈𝗋 𝗎𝗆 𝖿𝗂𝗅𝗁𝗈








𝒯✒️

*:・゚˖⸙̭───────────────────────────

O quarto parecia tão escuro, e a noite já tinha ido embora, mas ainda assim o príncipe Jacaerys podia sentir a brisa do amanhecer batendo em seu rosto, e seus olhos, que ameaçavam soltar mais lágrimas. Ele estava sentado perto de uma das janelas de seus aposentos, observando o sol nascer. Já fazia algumas noites que ele não conseguia dormir direito, e seus olhos estavam sempre avermelhados e fundos. Mal tinha vontade de sair do quarto. Sabia que sua mãe precisava dele, mas era difícil olhar para ela e não sentir que a culpa era sua. Talvez, se ele não tivesse sugerido entregar as cartas, Luke ainda estivesse ali. Suspirando, deixou sua cabeça cair. Uma de suas mãos agarrava aquele papel com o retrato.

Olhou novamente para os detalhes: o sorriso, os olhos, os cachos e o brilho tímido nos olhos. Jacaerys não pôde evitar um sorriso triste. Passou o polegar pelo desenho. De certa forma, desejava que ele saísse da folha, que tivesse vida e pudesse estar ali com ele. Suspirando novamente, Jacaerys foi tirado de seus pensamentos com uma batida na porta. Não pôde deixar de se sentir desconfortável. Tinha avisado que não queria visitas, mas ainda assim foi até a porta. Quando seus dedos tocaram a maçaneta fria, e quando a porta de madeira pesada se abriu, revelou a figura de Cregan Stark. Ele parecia tão sem palavras quanto Jacaerys. Não se falavam desde a última noite em Winterfell, e tudo parecia estranho. Aquela noite também assombrava Jacaerys, além da morte de Luke. Eles pareciam tão íntimos, mas por quê? Isso não estava certo. Ele se lembrava das mãos de Cregan cobrindo as suas, de como seus rostos estavam próximos, e a lembrança fazia seus ossos se aquecerem. Tentando afastar mais pensamentos, ele iniciou uma conversa - ou, pelo menos, tentou.

- Posso ajudar, Lorde Stark?

A voz do príncipe parecia fraca, mas ainda tinha um pingo de autoridade. Cregan queria de alguma forma rir: "Lorde Stark?" Como se, uma semana atrás, ele não tivesse sorrindo enquanto o nome de Cregan dançava em seus lábios. E como se agora seus olhos, tão vermelhos quanto seu nariz, não mostrassem que suas noites, com toda certeza, haviam sido de choro. Tentando não demonstrar irritação, Cregan suspirou antes de olhar para Jacaerys.

- Apenas vim ter certeza de que estava bem, Príncipe Jacaerys. É assim que devo chamá-lo agora então?

Jacaerys sentiu uma pontada de irritação e indignação. Sabia que não estava sendo justo, mas talvez um príncipe e um lorde não deveriam se tratar com essa falta de formalidade. Tentou argumentar, mas Cregan foi mais rápido.

- Posso entrar?

Ele pigarreou, e Jacaerys levou alguns minutos para entender que ele se referia aos aposentos. Desviou o olhar e deu um passo para o lado, dando espaço para que Cregan entrasse. Ele viu o homem alto observando os detalhes de seus aposentos, como se pertencessem a ele também. Passava os dedos pelos livros, pelos pergaminhos, e até pelos brinquedos deixados por Joffrey, Aegon e Viserys. Cregan soltou uma pequena risada ao ver um dragão de madeira, o que fez Jacaerys também soltar um sorriso pequeno enquanto seguia Cregan. Mas, surpreendentemente, foi o próprio Cregan quem quebrou o silêncio.

- Sinto falta de Rickon e de Sara.

Jacaerys o observou enquanto o homem estava de costas para ele, brincando com o dragão nas mãos. Ele havia conhecido Rickon, que era um menino tão doce e inteligente. Sabia também que Cregan sempre foi muito apegado a ele. Após a morte de Arra, Cregan se apegou ainda mais ao menino.

- Talvez possa trazê-lo na próxima viagem. Ele e Sara. Sinto falta deles também.

Cregan se virou, dando um sorriso para Jacaerys. Seus olhos se abaixaram, indo em direção às mãos de Jacaerys, e viu um papel meio amarelado com um desenho. Curioso, se aproximou.

- Estava desenhando?

Quando os olhos de Jacaerys seguiram os de Cregan até suas mãos, sua feição escureceu. Ele levantou o papel diante de si.

- É um desenho de Luke. Fizemos no começo do ano. Nossa mãe disse que queria um desenho de cada um de nós, para quando Lucerys se tornasse lorde de Driftmark, ela poderia colocar nos livros. Lembro que vovô Corlys também queria um desenho parecido, mas nossa mãe disse que ele deveria ter o próprio, e ele prometeu que faria um ainda maior, quando Lucerys voltasse de Ponta Tempestade.

A última parte foi dita com tanta tristeza que não passou despercebida por Cregan. Claro que Jacaerys se sentia culpado. Ele era o mais velho de uma quantidade de irmãos que só os deuses sabiam. Sentia que seu dever era cuidar deles, mas como poderia? Jacaerys só tinha 15 anos. Suspirando, Cregan o puxou para perto de um dos sofás perto da janela e o acomodou ali. Depois de tudo o que aconteceu, Cregan não via nada de estranho em estar tão próximo do príncipe herdeiro. Era como se os dois corpos clamassem por isso, por proximidade, nem que fosse por uma fração de segundo ou um toque silencioso e casto.

- Todo homem é movido pelo ódio, Jace. Todos nós somos animais, e com seu tio não seria diferente. Seu irmão lutou a própria batalha, não é sua culpa. Como poderia? Você deu uma solução para um problema de guerra. Não poderia adivinhar que Aemond estaria em Ponta Tempestade e buscaria tal derramamento de sangue com as próprias mãos. O homem está condenado a ser livre. Os deuses nos castigam de tal forma.

Enquanto dizia isso, Cregan descansou suas mãos sobre o ombro direito do príncipe. Mesmo que suas mãos formigassem para se elevar um pouco mais, onde poderia tocar a pele de seu rosto e limpar as lágrimas de Jacaerys, ele se forçou a continuar naquele ato, sem forçar algo que talvez não existisse. Ele poderia dar o que tinha, nada mais do que isso. Ambos tinham suas próprias batalhas a lutar antes de qualquer desejo.

Jacaerys não soltou nem uma palavra, nem um suspiro. Parecia tão abatido que sua atitude só pediu para ficar sozinho, e Cregan Stark fez isso. Ele o deixou sozinho, enquanto deixava para trás o brinquedo que o lembrava de Rickon. Quando fechou as portas dos aposentos de Jacaerys, o príncipe pegou o brinquedo com os dedos. Sentia-se tão confuso. Por quê? Sua vida parecia tão bem escrita, como um livro de poemas, e agora parecia que o pote de tinta havia caído e bagunçado tudo. Jacaerys se odiava mais a cada dia por ter permitido isso.

Katherine ainda se sentia um pouco insegura em relação a Lucas. Sempre que ele adormecia, algo atormentava sua mente. Quando ela perguntava sobre os pesadelos, ele apenas dizia que eram borrões, mas havia alguém ali, sempre tentando pegá-lo, tentando machucá-lo. Ela se sentia aflita. Não conseguia imaginar o que o amedrontava tanto a ponto de persegui-lo mesmo após ele perder a memória. Fora os sonhos, no entanto, as coisas iam bem. Suas feridas estavam quase todas curadas, sem cicatrizes, exceto por uma pequena no pescoço, que insistia em permanecer e o incomodava. Katherine a notava sempre que o ajudava a escovar os cabelos ou vestir as camisas de linho que havia comprado para ele. Aquela marca era um lembrete constante da tragédia em que Lucas fora encontrado.

Ela desejava que ele pudesse esquecer aquele dia e recomeçar. Ele ainda era uma criança - o próprio curandeiro estimara que Lucas tinha, no máximo, 13 anos. Isso a entristecia ainda mais. Katherine se perguntava o que realmente havia acontecido. Quem era ele? Qual era seu nome? Tinha família? Alguém o procurava? Sua família ainda estava viva? Essas perguntas martelavam em sua mente, e ela não sabia se algum dia obteria respostas. Mas havia uma certeza: talvez o encontro entre eles não tivesse sido por acaso. Dias antes, ela perdera o marido e o filho, que mal vivera um dia antes de ser levado pela febre. Se Lucas emergira das águas para ela, talvez fosse um sinal dos deuses. Ele era um filho sem mãe, e ela, uma mãe sem filho. Talvez precisassem um do outro.

Naquela manhã, Essos parecia mais agitada que o normal. Lucas, ao observar pela janela, viu pessoas correndo e a troca de mercadorias acontecendo freneticamente. Não era desespero, mas uma preparação para algo importante. Katherine passou pelos portões, carregada de coisas nos braços e com pressa. Curioso, ele foi encontrá-la na cozinha, ainda vestindo uma camisa branca larga e calças marrons. Seus cabelos escuros estavam bagunçados, mas ele não se preocupou com isso.

Ao descer as escadas, já pôde ouvir Katherine dando ordens às cozinheiras para preparar comidas e bebidas. Enquanto ajustava as mangas do vestido para se juntar ao trabalho, ela notou Lucas e lhe deu um de seus sorrisos mais doces. Vestia um vestido amarelo com detalhes em ouro e bordô, e seus cabelos cor de fogo caíam soltos, com duas mechas presas. Aproximando-se, beijou a testa de Lucas.

- Bom dia, Lucas. Como se sente hoje, querido?

Enquanto ele se sentava perto da mesa, as palavras dela aqueceram seu coração.

- Dormi melhor do que ontem. A propósito, bom dia, meninas.

As mulheres, que dançavam de um lado para outro com a movimentação, responderam em uníssono:

- Bom dia, Lucas!

Ele sorriu. Naquela casa, trabalhavam apenas mulheres - jovens, viúvas, órfãs ou antigas escravas, todas acolhidas por Katherine. Desde que se casara, aos 17 anos, ela sonhava em dar refúgio a essas mulheres. Seu falecido marido, um homem de posses e bom coração, realizara esse desejo. A fortuna dele e a lealdade dos homens que administravam seus negócios sustentavam a casa e suas moradoras, garantindo que Katherine pudesse viver sem privações.

Quando Katherine ficou em silêncio, concentrada na massa e nos frascos, Lucas perguntou:

- Vamos receber alguém?

Ela parou e olhou para ele com um sorriso de dúvida.

- Ah, deuses! Não te contei? Hoje é a Festa da Noite das Duas Chamas.

Ele franziu o rosto, confuso, e ela continuou:

- Celebramos a passagem para uma nova vida e a jornada dos ancestrais para o além. Laharra os traz de volta para nos visitar. A cidade se ilumina com velas para guiá-los até nós, e compartilhamos comida com vivos e mortos. À hora da coruja, soltamos lanternas para homenagear aqueles que nos fazem falta.

Lucas correu até a janela. Homens penduravam bandeiras com símbolos do sol, lua e estrelas. Tochas e velas decoravam as ruas, e o chão era pintado em tons de roxo com um grande sol no centro. Dentro da casa, a decoração avançava sob as mãos cuidadosas das mulheres. Enquanto Lucas admirava a cena, Zaya o surpreendeu com um susto e riu ao vê-lo saltar.

- Então o alvo já está acordado?

O apelido o fez suspirar - ela o dera ao descobrir os cortes que ele trazia quando fora resgatado. Zaya usava um vestido vibrante com tons quentes, e seus cabelos estavam presos em uma longa trança adornada com fitas laranja.

- Tia Katherine, por que ele ainda não está pronto? A noite já vem chegando!

Katherine arregalou os olhos.

- Lucas, vá tomar banho e se arrumar. Deixei algo especial em sua cama.

Intrigado, ele correu para o quarto, não sem antes puxar o pé de Zaya, quase a fazendo cair.

Enquanto mergulhava na banheira cheia de óleos, ele pensava no traje que o esperava. Após o banho, encontrou na cama uma camisa branca com detalhes laranja, um sobretudo bordado com símbolos do sol e estrelas, calças combinando, e sandálias. Uma tiara azul, colares de flores e uma pequena argola completavam o conjunto.

Quando Lucas terminou de se vestir, não pôde evitar de se sentir bonito. Tudo estava perfeito nele: seus cachos estavam bem arrumados, caindo sobre a tiara, e ele também pegou algo que parecia uma tintura e aplicou em seu rosto, algo parecido com o que viu em Zaya.

Ele desceu para se encontrar com Katherine e, enquanto descia as escadas, pôde ver pelas janelas a noite chegando e as luzes iluminando as casas, com as crianças correndo. A música fluía pelos ouvidos, as pessoas dançavam e, até mesmo na casa de Katherine, tudo já estava animado. Tudo estava encantador aos olhos, as luzes amarelas dançavam nos rostos e a noite banhava o lugar. As pessoas entravam e saíam das casas, puxando algumas para dançar no meio da rua, e outras já entravam para cumprimentar a anfitriã. Quando Lucas chegou à ponta da escada, pôde ver Katherine. Ela estava deslumbrante, usando um vestido tradicional com cores vibrantes: laranja, amarelo e azul. A parte superior tinha mangas e um decote em V, com uma faixa azul marcando a cintura. A saia era longa, com camadas decoradas por franjas.

O cabelo estava preso em um coque baixo, com algumas mechas onduladas soltas nas costas. Pequenos acessórios decoravam o penteado, como pérolas, uma tiara dourada e brincos grandes em suas orelhas. Quando ela avistou Lucas, acenou para que ele se aproximasse, e assim ele fez. As pessoas o olhavam com curiosidade, mas sem nenhum julgamento no rosto; alguns até lançavam sorrisos amigáveis para ele. Quando ele se aproximou o suficiente de Katherine, ela o abraçou.

- Ah, Lucas, meu querido, você está lindo.

Ela o afastou, colocou a mão em seu rosto e lhe deu um de seus sorrisos calorosos. Ele não pôde evitar retribuir com outro.

- Você também está linda, Katherine. Me arrisco a dizer que talvez seja a mais bela.

Ele soltou uma piscadela enquanto ela soltava uma risada.

- Obrigada, meu menino. Ah, quase me esquecia: Zaya está procurando você, vá atrás dela.

Com isso, ele foi atrás dela, enquanto Katherine se afastava para cumprimentar as outras pessoas. Quando Lucas encontrou Zaya, ela estava rodeada por algumas pessoas que aparentavam ter a mesma idade que ela, ou próxima disso. Quando ela viu Lucas, a chamou com um aceno. Quando ele chegou perto, ela o apresentou aos amigos.

- Pessoal, esse é Lucas. Lucas, esses são Kamari, Kenai, Sonali, Dahlia e Kethan.

Lucas cumprimentou todos, um a um, e todos o receberam com muita educação. Lucas sentia felicidade dentro de si, estava feliz por finalmente ter conhecido outras pessoas. Ele prestou atenção em todos ali.

Kamari era alta. Os cabelos escuros, presos em um coque baixo, emolduravam um rosto delicado, com olhos intensos que pareciam guardar segredos. Vestia um vestido vermelho de cetim, adornado com rendas sutis, e um colar de prata repousava em seu pescoço, brilhando suavemente à luz das velas. Sua postura era graciosa e divertida. Ela era muito amigável e sempre contava histórias sobre suas aventuras com Zaya.

Kenai era irmão de Kamari. Ele também era alto e de pele branca. Seus cabelos eram ondulados e de uma cor marrom linda. Ele era engraçado e seu rosto era bem marcante, assim como seus olhos. Ele estava com roupas na mesma cor de Kamari, mas ao invés de uma blusa apertada e amarela, a dele era folgada, com um corte em V. Lucas pôde ver o início de seu peito e sua clavícula. Lucas não poderia negar, Kenai era bem atraente.

Sonali era uma menina com longos cabelos que lembravam ondas de seda escura, sempre caindo suavemente sobre seus ombros. Sua pele possuía um brilho delicado, como se tivesse sido beijada pelo sol da manhã, e suas bochechas exibiam um rubor natural que contrastava com a palidez suave. Seus lábios, de um tom rosado, tinham uma curva graciosa, como se estivessem sempre à beira de um sorriso discreto. Ela tinha pequenas sardas pelo rosto e também era mais solta, vivia fazendo piadas e se aproximou rapidamente de Lucas. Ela tinha sua altura. Lucas a achou muito bonita e gentil. Ela usava um vestido rosa escuro com sóis bordados e uma tiara dourada sobre sua cabeça.

Dahlia tinha os cabelos cor da noite, negros, lisos e brilhantes, que caíam suavemente sobre os ombros. Seu sorriso era amplo e expressivo, transmitindo alegria e simpatia. Os traços de seu rosto eram delicados, com olhos marcantes e suaves. Ela tinha uma personalidade muito amigável e várias vezes fazia piadas com Lucas, que nunca conseguia conter a risada. Ela usava um vestido verde com estrelas bordadas. Lucas achou que verde combinava muito com ela.

Kethan, seu primo, já tinha os cabelos loiros e um sorriso muito encantador. Ele também era charmoso e o mais alto dali, provavelmente o mais velho também. Ele tinha a pele leitosa e sempre conversava com Sonali, tentando chamar a atenção dela. Ele era divertido, educado e sempre tentava ajudar. Já até havia convidado Lucas para se juntar a ele em uma caminhada no dia seguinte. Ele estava vestido com uma camisa azul claro, uma camisa branca de linho e um pano cor creme também preso em sua cintura.

Quando a noite caiu, Lucas se despediu de todos e voltou para a companhia de Katherine. Ela disse que já estava na hora de soltar as luzes, e assim o fizeram. Primeiro, Katherine soltou uma para seu falecido marido, que flutuou, iluminando os céus, e em seguida uma para seu filho. Ela perguntou se Lucas também queria soltar alguma. Ele disse que sim, mas queria fazer sozinho. Ela respeitou e o deixou só.

O que ela não sabia era que ele queria soltar uma para ele mesmo. Afinal, seu antigo eu não existia mais, nem sabia se algum dia conseguiria recuperar algo dele. Mas precisava se despedir, mesmo que de uma forma tão rápida.

Aemond sentia o gosto amargo da prisão a cada respiração. Estava trancado nos próprios aposentos como um lobo enjaulado, guardas armados como serpentes rondando suas portas. Ele odiava cada segundo daquela espera forçada. Não era alguém que aceitava ordens sem questionar, mas ali, naquela guerra silenciosa, seu nome, seu sangue e seus feitos não significavam nada.

Do lado de fora, o castelo fervilhava. Espadas brilhavam no escuro, e olhos atentos o observavam como se pudesse explodir a qualquer momento. Mas ele precisava sair. Precisava ver sua mãe.

No canto do quarto, atrás de uma tapeçaria desgastada, estava o segredo que ele nunca esquecera. Uma pedra solta. Uma entrada. A maldita passagem de Maegor.

Ele deslizou pela passagem, fechando a entrada atrás de si. A escuridão era total, o cheiro de pedra e poeira se misturando ao de velhas tochas queimadas. Seus passos ecoavam, um ritmo irregular que o fazia prender a respiração. Ele sabia onde cada curva o levava. Conhecia cada sombra como conhecia as cicatrizes em seu rosto.

O túnel terminava atrás de um armário no quarto de sua mãe. A porta rangeu quando ele a abriu, e a luz das velas dançou sobre os móveis bem-polidos e o chão de mármore.Alicent estava sentada à janela, os dedos crispados no tecido do vestido.

Alicent estava com o rosto franzido, como se a irritação fosse a única coisa que a sustentava, mas o som baixo do armário fez seus olhos se arregalarem de medo. Ela congelou por um instante. Então viu Aemond. O alívio veio, mas não durou muito.

Ela levantou de um salto, cruzando o quarto como uma tempestade.

- O que você está fazendo aqui? Perdeu o resto da sanidade?

A voz dela era um sussurro furioso, os olhos faiscando, mas Aemond não tinha paciência para o teatro.

- Precisamos agir, mãe.

Ela o encarou, sem piscar. - Agir? E o que você propõe? Matar mais um?

- Salvar você. - Ele deu um passo à frente, firme, os olhos fixos nos dela. - Não vou ficar parado esperando que nos arrastem para o chão.

A mão de Alicent tocou o rosto de Aemond por apenas um instante antes de puxá-la com força, o gesto abrupto acompanhando o brilho furioso em seus olhos. Ela se inclinou para ele, o rosto tão próximo que podia sentir a respiração acelerada do filho.

- E de quem você acha que é a culpa? - A voz dela cortava como lâmina. - Se não tivesse agido por pura sede de vingança, o bastardo estaria vivo, Rhaenyra ainda estaria em Pedra do Dragão, e nós teríamos tido tempo para pensar!

Aemond abriu a boca para responder, mas Alicent levantou a mão, silenciando-o com um gesto afiado.

- Me pergunto até onde essa sua maldita obsessão por vingança vai nos levar. À ruína? - A voz dela subiu, esquecendo-se dos guardas além das portas. - A morte de Helaena? Dos seus sobrinhos? Crianças, Aemond!

Ela começou a andar pelo quarto, o peso de suas palavras caindo entre eles como marteladas. A sombra longa de seus passos parecia devorá-lo.

- O que você quer? A minha cabeça em uma estaca? Que Rhaenyra finalmente ceda às mentiras de Daemon e termine o que começou? - Alicent parou, os olhos fixos no chão antes de voltar-se lentamente para ele. Sua voz caiu para um sussurro, carregada de dor. - Quanto tempo até não restar nada da linhagem do meu pai? Do seu avô? Quanto tempo até a sede dela ser maior que qualquer misericórdia?

Aemond sentiu as palavras dela como socos no peito. Quis responder, quis defender suas ações - mas pela primeira vez em muito tempo, não encontrou as palavras.

Alicent suspirou profundamente, a voz embargada quando murmurou:

- Minha doce menina, Helaena... Nem imagino o quanto minha filha está sofrendo presa dentro daqueles quartos.

Ela se deixou cair numa cadeira próxima, cobrindo o rosto com as mãos. Os dedos tremiam levemente.

Aemond hesitou antes de responder, tentando escolher as palavras que causariam menos dor. - Ela está... bem. Rhaenyra deu permissão para que ela passeasse com os filhos. Com guardas, claro.

Por um instante, o silêncio caiu. Ele pensou que aquilo traria alívio, mas logo percebeu seu erro. Alicent afastou as mãos lentamente, levantando o olhar em uma expressão que era pura incredulidade.

- Helaena aceitou? - A pergunta saiu como um chicote. - Aceitou um acordo da inimiga?

Ela se inclinou para frente, a voz cheia de uma fúria tão quente quanto um braseiro. - Ela sabe que estou aqui sozinha, presa como um corvo enjaulado, e mesmo assim sai para passear? Para se divertir enquanto estou acorrentada pela misericórdia dos meus inimigos?

Aemond recuou meio passo, surpreso com a intensidade do ataque. Ele abriu a boca, mas as palavras morreram antes de sair. O que sua mãe queria afinal? Dias atrás, parecia quase admirar Rhaenyra, quase falar com saudade de tempos passados, de coisas que poderiam ter sido diferentes. Agora, quando a rainha mostrava um vislumbre de bondade com Helaena, Alicent cuspia fogo como se o gesto fosse uma traição.

Qual era o jogo? Qual era a regra que ele não conseguia entender?

Ele franziu o cenho, tentando desvendar a tempestade nos olhos da mãe. Mas talvez essa fosse a verdade: não havia regras. Apenas dor e sobrevivência, e ela se debatia como qualquer prisioneira faria.

Pelo menos era o que ele queria acreditar. Alicent era sua mãe. Ela os amava? Claro, sempre os amou. E ele também só queria ajudar. Foi por isso que arriscou novamente sua liberdade, escapando pelos túneis, atravessando a escuridão e os guardas para vê-la. Eles precisavam planejar algo, traçar um caminho para escapar - mas talvez hoje simplesmente não fosse o dia certo.

Aemond ficou em silêncio por um instante, observando-a sentada, o rosto escondido pelas mãos trêmulas. O peso dela era o peso dele também.

Sem uma palavra, ele se levantou. Deu as costas e saiu da mesma forma que veio: como uma sombra.

Antes de sair pela passagem, ele ouviu um som baixo atrás de si. A voz trêmula de sua mãe murmurava algo quase imperceptível. Intrigado, Aemond parou, dando apenas alguns passos para trás, os ouvidos atentos.

- Onde está Aemond? - a voz dela vacilava, carregada de algo que ele não conseguia nomear. - Ele... ele perdeu um olho. Onde ele está? Ele não consegue dormir sozinho... ele...

O silêncio caiu como um manto pesado sobre o quarto.

Aemond ficou parado ali, o peito apertado, o coração batendo como um tambor surdo. O que aquilo significava? Ele já dormia sozinho há muito tempo. Desde a adolescência.

Ele apertou os punhos, como se tentasse esmagar as palavras dentro da própria mente. Tentou afastá-las, mas o sussurro frágil de sua mãe o seguiu enquanto ele deslizava de volta para a escuridão.

Quando finalmente alcançou seus aposentos, tudo ao redor parecia vazio. A tapeçaria, a mobília... aquilo não era ele. Era apenas uma concha. Um fantasma preso entre memórias de glórias que nunca vieram e sonhos que haviam morrido a troco de nada.

Uma morte. Uma vingança. E uma família enjaulada.

Ele se deixou cair sobre a cama, o peito pesado como se carregasse o peso do próprio mundo. Suspirou, desejando apenas uma coisa. Esquecer. Dormir e fugir para longe, mesmo que apenas por algumas horas.

Mas o sono não o encontrou naquela noite.

Ela não entendia o porquê daquela conversa. O que Daemon queria, afinal? Sentia-se minúscula entre aquelas paredes úmidas, com ele bem à sua frente, encarando-a, aguardando uma resposta. Seu olhar era frio, impassível, como se já soubesse o que ela diria. Aishae engoliu em seco, e, naquele instante, percebeu a ironia de tudo. Ali estava a resposta para sua própria pergunta.

Apenas suspirou, tentando não demonstrar o desconforto que crescia em seu peito. As palavras de Daemon pareciam uma piada, ou ao menos poderiam parecer-se não viessem justamente dele. O homem que cortou a cabeça de Vaemond diante de toda a corte sem hesitar. O mesmo que enganou o Engorda-Caranguejo, que casou-se em segredo com sua irmã mais velha. Daemon nunca dizia nada por dizer. Aquilo não era uma piada. Era real. E essa certeza a assustou. Fez seus ossos congelarem e sua garganta se fechar.

- Não peça minha ajuda para os seus planos sujos, Daemon. Ainda mais em algo desse tipo.

Ela tentou manter a voz firme, mas, por dentro, sentia-se corroída pela inquietação. Já não suportava estar ali, queria ir embora, afastar-se daquele lugar e daquela conversa. Mas ainda assim, não moveu um músculo.

Daemon sorriu de canto, como se já esperasse aquela reação.

- Então foi assim que aquele seu discurso sobre buscar justiça terminou? Tomar a Fortaleza Vermelha e se contentar com isso?

Aishae franziu o cenho.

- Rhaenyra já está satisfeita. No momento em que pisamos aqui, eu vi.

Mas Daemon apenas riu, balançando a cabeça como se ela fosse ingênua demais para entender.

- Satisfeita? Para uma irmã, você parece não conhecê-la nada bem, mesmo sendo ela quem salvou sua vida uma vez.

Aquelas palavras foram como punhais. O ar pareceu escapar dos pulmões de Aishae. Ela e Rhaenyra nunca mais falaram sobre aquilo. Depois do incidente com Alicent, todos no castelo prometeram enterrar o assunto, deixar que o tempo o engolisse como se jamais tivesse acontecido. Mas ali estava Daemon, trazendo tudo de volta sem um pingo de hesitação. Jogando aquela lembrança em seu rosto como se fosse água suja, sem valor algum.

- Você sabe que Rhaenyra jamais ficará satisfeita com um castelo que já era dela por direito. Pelo menos, eu sei. Ela se revira à noite como se estivesse possuída pelo ódio. Você já viu isso, não viu?

Aishae permaneceu em silêncio, mas não precisava responder. É claro que já tinha visto.

- Então, estaríamos apenas fazendo um favor.

- E esse "favor" é matar meu outro irmão? - Ela ergueu o queixo, tentando ignorar o peso crescente sobre seu peito. - Sei que fui criada por vocês durante parte da minha vida, mas Aemond é meu sangue. Eu jamais o mataria por algo que você cria em sua mente.

Daemon suspirou, como se estivesse cansado de explicar algo óbvio.

- Lucerys também era seu sangue. E, mesmo assim, Aemond não demonstrou essa mesma empatia que você tem por ele agora.

Aishae fechou os olhos por um breve instante. Seu coração deu um salto desconfortável dentro do peito.

- Não quero ser como ele - sussurrou. - Esse é o meu medo.

Virou o rosto, como se quisesse se afastar da sombra que aquelas palavras lançavam sobre si.

- Sinto falta de Luke, mas não há nada que eu possa fazer para acalmar o coração de Rhaenyra agora.

- Você pode vingá-la. Você sabe disso. Basta me ajudar. Um filho por um filho, Aishae.

Ela desviou o olhar, sentindo-se engolida por um turbilhão de emoções. O que Daemon propunha era tão simples para ele. Tão cruelmente simples.

- Desculpe, Daemon. Eu não posso.

Ele ficou em silêncio por um momento. Então, deu um meio sorriso-um sorriso frio, sem qualquer vestígio de surpresa.

- Não se preocupe. Não me surpreende que você fique tão amedrontada quando se trata deles. Você ama seus inimigos. E é isso que te torna a pessoa fraca que é.

Ele deu um passo à frente, abaixando levemente o tom de voz, como se falasse algo confidencial.

- Deixe comigo. Eu mesmo farei o que deveria ter feito desde o início.


A Fortaleza Vermelha dormia, envolta em um silêncio traiçoeiro. Do lado de fora, os ventos cortantes do inverno açoitaram as muralhas, mas dentro dos aposentos reais, o calor do fogo ainda resistia, projetando sombras dançantes contra as paredes de pedra.

Jaehaera e Jaehaerys repousavam sob os pesados cobertores de veludo, exaustos após um longo dia de deveres e brincadeiras. Entre eles, Maelor dormia encolhido como um gatinho, o pequeno príncipe de apenas dois anos ressonando suavemente. Sentada à beira do leito, Aishae os observava em silêncio, os longos cabelos prateados caindo sobre os ombros. Helaena fitava o fogo crepitante na lareira, perdida em pensamentos que apenas ela compreendia.

A porta rangeu.

Foi um som sutil, mas suficiente para que Helaena erguesse o olhar e Aishae se pusesse de pé. Duas figuras emergiram das sombras. O pavor subiu por sua espinha antes mesmo que sua mente compreendesse o que estava acontecendo.

Homens. Dois deles. Um era grande e de ombros largos, o outro, magro, de olhos esbugalhados e um sorriso torto. Não eram cavaleiros. Nem guardas. Não pertenciam àquele lugar.

Aishae saltou do leito, instintivamente se colocando entre os gêmeos e os intrusos.

- O que querem aqui?- Sua voz falhou, mas o olhar manteve firmeza.

- Apenas cumprir ordens, docinho. -
Sangue sorriu, e seus dentes amarelos brilharam à luz do fogo. - A vingança tem um preço... e alguém aqui precisa pagá-lo. Um filho por um filho.

Helaena se levantou devagar, os olhos arregalados ao encarar os intrusos.

- Não... - ela sussurrou, a respiração presa na garganta.

- A ordem é clara - O magricela disse. - Um filho por um filho.


Aishae congelou. Helaena sufocou um soluço, e seu corpo fraquejou. Ela conhecia aqueles homens.

Conhecia a crueldade do que estava prestes a acontecer.

- Por favor murmurou, desesperada. Não façam isso... Nós... nós temos joias, peguem meu colar... - Sua voz tremia enquanto ela retirava o colar dourado do pescoço, mas Sangue o arrancou brutalmente de sua mão.

Aishae sabia. Eles não queriam o colar. Jamais aceitariam somente isso.

- Quem é o herdeiro?

Sangue perguntou, sua voz como uma lâmina cortante. Seus olhos passearam entre Jaehaerys e Maelor.

Aishae sentiu a cabeça girar. Eles queriam um príncipe.

Helaena, em desespero, se jogou aos pés do homem maior, chorando e soluçando.

- Levem a mim! Tirem minha vida, mas poupem a dos meus filhos! Por favor!

As palavras foram em vão. Queijo a puxou e a lançou contra um canto.

- Uma princesa não é um filho.

Com isso, o mais baixo dos homens se virou e pousou os olhos em Jaehaerys.

- Aquele tem aparência de mais velho. Pegue a cabeça.

Os dois avançaram em direção à criança, tirando enormes facas de suas túnicas.

No desespero, Aishae agarrou um dos garfos de prata e se lançou contra o homem maior, cravando o utensílio em seu pescoço. O sangue escorreu, quente e denso, enquanto o homem gritava em agonia. Queijo fugiu, largando o pescoço ensanguentado de Jaehaerys. Sangue ficou no chão, contorcendo-se em agonia. O homem arfava, sua respiração entrecortada pelos gemidos de dor que ecoavam pelo aposento.

No silêncio pesado, interrompido apenas pelos sons angustiantes do assassino ferido, Aishae prendeu a respiração ao ouvir um sussurro melancólico vindo das camas. A voz, frágil e trêmula, carregava um pesar profundo.

- Não...




















❪ ✵001 - Gente voltei, provavelmente no início da semana que vem teremos capítulos novos, eu estou aprendendo a mexer no AE então provavelmente teremos vários edits!!!

❪ ✵002 - Também quero deixar meus agradecimentos desde já às pessoas que comentam e curtem, e queria falar sobre a playlist, estou planejando refazer já que dó jeito que está não está me agradando.

❪ ✵003 - Também quero mostrar um pouco dos meus personagens, infelizmente o Aemon não vai aparecer muito no início, mas eu juro que ele é um personagem importante e o momento dele vai chegar!!!!

❪ ✵004- Nesse capítulo também queria homenagear minhas amigas, que vêem me ajudando desde o início dessa fanfic, amo vcs meninas. <3

💓Sonali - itsliaryen

❤️Kamari - Buguiee

💚Dahlia - nyrafx

─── AZUL REAL, HOUSE OF THE DRAGON.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro