𝐢𝐢𝐢. Vingança
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❝ Eles dizem: Todos os adolescentes me assustam pra caralho ❞ - my chemical romance !
─ Alguma coisa vai dar errado hoje.
Miles é razoável.
Um homem que acreditava na ciência, afinal sem os artigos publicados por cientistas, seria complicado manter uma loja focada em esportes numa área tão famosa quanto a província de Hyogo. Formado em medicina esportiva, conhecia intrinsicamente a genética e conseguia repetir cada mísero detalhe o quanto quisesse, mesmo que já tivesse completado sua graduação há quase vinte anos numa faculdade na Califórnia, onde conheceu seu melhor amigo e praticamente irmão, Daiki Oikawa.
Manias não podiam ser passadas através de genes, somente pela convivência com um indivíduo portador dos mesmos hábitos. E havia um erro nesta equação: sua pequena e inocente filha de dezesseis anos.
( Não tão pequena assim, já que Emma exibia um metro e setenta de altura, o que a fazia implicar com Takeru, apenas erguendo objetos acima do garotinho como se eles não tivessem um diferença de dez anos de idade. Nem tão inocente, na verdade nunca. Com apenas dois anos, Emma esfregava seus giz de cera nas paredes brancas e culpava Tooru, seu primo mais velho, ainda segurando os pedacinhos de cera coloridos.)
Quando conheceu a mãe de Emma numa quadra de vôlei, ainda treinador dum time de liga infantil chamado Little Falcons, aceitara cada uma de suas peculiaridades, por mais estranhas que fossem.
Karin Kimura acendia as piores velas perfumadas, alegando que afastaria quaisquer pensamentos ruins. Declarara que o número sete era o seu da sorte e organizou sua vida em torno disto. Deixava pratos com sachê e ração na porta de casa por adorar gatos, mas era alérgica à eles. Ficava em sua cama nas manhãs, considerando o que poderia acontecer de errado ao longo do dia, pois tinha certeza que algo aconteceria. Exatamente como Emma.
Parado em frente a pia, empurrando os restos mortais de uma panqueca para o lixo, perguntava a si mesmo se Karin era apenas uma espécie de preparação para a adolescente que possuía os mesmos cabelos dourados e o estranho hábito matutino. E ao ouvir aquele tom desconfiado, apenas obteve certeza.
Miles franziu as sobrancelhas, movendo a cabeça para observá-la por cima do ombro. Naquele dia, o sol mal havia escapado do horizonte e Emma estava de pé, o cabelo num rabo-de-cavalo alto com as bochechas mostrando a face perfeita de uma raposa alaranjada, emburrada.
Nunca sabia exatamente o porquê de sua filha participar da tão famosa torcida Inarizaki. Ela sempre lhe dava desculpas. Ano passado, disse precisava de atividades extracurriculares. Esse ano, foi que precisava de pontos extras.
( Miles não imaginava que, quando Atsumu ainda estava dominando seus saques e praticamente teve uma discussão para que a torcida ficasse em silêncio no seu momento de sacar, era Emma que sempre soltava um gritinho ou incentivava as novas fãs do garoto a fazer o mesmo.)
É, entender Emma nunca foi sua melhor habilidade como pai.
Vendo-a lançar olhares para os vasos das plantas como se alguém fosse sair de dentro delas e pular nela. Miles viu-se na obrigação de perguntar:
─ Docinho, o que é que vai dar de errado?
─ Não sei.─ Falou, inflando as bochechas. A boca da raposa abriu-se, revelando uma fileira de dentes. Outra coisa: Miles não tinha ideia de onde veio a veia artística da garota.─ Mas tô avisando.
Ele entendeu nada, então fez a única coisa possível: balançou a cabeça e aceitou. Era muito fácil aceitar do que perder tempo tentando entender e falhando miseravelmente.
Emma espreitou os olhos por um momento.
─ Você disse que, quando eu for socar alguém, era pra avisar!─ Apontou, assistindo-o esfregar a louça.
─ Vai socar alguém?
─ Não sei!─ Exclamou, os ombros encolhendo-se e a atenção voltando-se novamente para os vasos das plantas, o brilho desconfiado ali.─ Mas algo vai dar de errado.
Miles parou por um momento.
Ele deveria ignorar. Quer dizer, seria ruim se ignorasse, não é? Seria um péssimo pai se fizesse isso? Esperava que não, mas se, sim...
Suspirando, empurrou uma das mãos para dentro dos bolsos da calça surrada e retirou de lá uma caixinha azul-marinho que jogou na direção da filha, atingindo a testa da mesma.
Os reflexos de Emma nunca foram os melhores, pensou enquanto a fitava soltar um gritinho, apertando uma mão contra a testa e alcançando o presente com a outra.
─ Odeio você.─ Chiou, a raposa de boca fechada parecia a coisa mais ameaçadora de todas.
─ Se tivesse feito vôlei quando falei...
Emma revirou os olhos.
─ Eu ia virar polpa!─ Ela cessou os movimentos e fez uma pausa, pensando. Até declarar alegremente: ─ Polpa de Emma!
─ Você ia ser uma atacante ótima, M&Ms.
Emma balançou uma mão, dispensando o comentário.
É, parece que não adianta tentar. Miles encostou o quadril na pia, cruzando os tornozelos, observando-a desfazer o laço que protegia o conteúdo da carta e...
─ Você é o melhor, papai!
Ela sorria daquele jeito que mal fazia desde sua entrada no ensino médio. Os lábios esticados, bochechas amassando seus olhinhos ao ponto de torná-los meras fendas, os dentes ligeiramente tortos tendo, dessa vez, ligas pretas e brancas em homenagem às cores dos uniformes da Inarizaki. Nos dedos, balançava suas novas presilhas de cogumelos vermelhos.
Miles riu, silenciosamente esperando que o presente a fizesse esquecer daquele pensamento que tudo daria errado.
Ele mal imaginava que, depois de abraçá-lo com força e beijar suas bochechas cobertas pela barba mal aparada, quando Emma ajeitou as alças da bolsa nos ombros e abriu a porta, os olhos azuis tão escuros que pareciam-se roxos vagaram pelas flores que mal sobreviviam no canteiro e os carros estacionados ao longo da rua, prendendo-se no céu coberto por nuvens cinzentas, anunciando que em breve gotas d'água cairiam por toda Hyogo.
Emma afirmou a si mesma: Alguma coisa vai dar errado hoje.
─ Isso tá mesmo certo?
Emma respirou fundo, decidindo ignorá-lo, mergulhando um pincel na tinta alaranjada e focando-se em adornar fios cinzentos num rosto que havia tornado-se mais famoso do que nunca nos últimos dias na bochecha de uma primeiranista. Quando a garota de quinze anos havia pedido para que fizesse o rosto de Osamu, ela hesitou, pensando no que Alaina sentiria em relação à ter uma menina com o rosto de seu namorado andando por aí. Mas, mal se podia dar um passo nas arquibancadas sem tropeçar numa plaquinha escrita "Osamu" sem inúmeros corações. Então, não ia dar problemas, não é?
( Emma realmente esperava que não. Alaina tinha acabado de superar Shinsuke Kita e finalmente estava com alguém que realmente gostava dela.)
─ Kimura, não me ignore! Isso é assunto sério!
Revirando os olhos, Emma decidiu que poderia facilmente dar um soco em Raiza Yoshioka e desaparecer entre as fangirls do gêmeos Miya num segundo. Ninguém a puniria por isso, nem mesmo o papai Miles, ela já havia avisado, afinal.
─ Kimura, estou falando que...
─ Ei, Emma!─ Annabeth Johnson sorriu, descendo as escadas em pulinhos. Seu rosto estava maquiado, um brilho laranja nas pálpebras.─ Tá tudo tão legal!
Emma sorriu, lançando um olhar convencido para Raiza que ficou vermelho de raiva.
─ Não foi só eu, Annabeth. Foi a torcida toda, incluindo você.─ E claro, menos o Raiza, quis continuar mas focou-se na primeiranista, analisando rapidamente as feições que fizera em sua bochecha.
( Que ninguém nunca perceba que tudo que Emma fizera foi desenhar Atsumu, adicionando apenas o cabelo cinzento de Osamu e os olhos azul-cinzentos. E que ninguém nunca pergunte porquê decorou as feições do gêmeo levantador.)
─ Que seja!─ Resmungou o garoto de cabelos índigo, afastando-se.
Emma teria comemorado, se não estivesse dando os últimos retoques no Osamu pintado. Sinceramente, não conseguia entender Raiza, ele havia literalmente sumido e agora queria exigir que tudo ocorresse certo quando era ele que deveria ter organizado os últimos detalhes em vez de Emma que só estava ali por causa dos pontos extras.
─ Uau! Isso daí é Osamu?
─ E prontinho...─ Emma sorriu, entregando o pincel para a menina.
─ Obrigada!─ Ela exclamou, abraçando a segundanista rapidamente antes de sair, chamando por suas amigas.
A garota loira piscou os olhos, levando uma mão para sua franja, ajeitando-a atrás da orelha. Sinceramente, uma das piores coisas de estar na torcida é ser proibida de usar qualquer coisa que não seja relacionado à raposa, agora precisava ficar o tempo todo tentando afastando sua franja que já a incomodava, mesmo com as presilhas.
Ao seu lado, Annabeth a observou atentamente. Emma franziu o cenho, desconfiada.
─ O que foi?
A americana riu, balançando os ombros.
─ Nada, é que você é muito legal.
─ Se perguntasse isso pro diabo da bíblia, ele ia listar tudo de ruim que já fiz pra ele.─ Comentou Emma, lançando um olhar para a quadra, onde podia-se ver os jogadores do time ainda vestia jaquetas vermelhas com detalhes pretos.
Algumas garotas estavam na grade, chamando pelo nome dos gêmeos, segurando as plaquinhas dos mesmos.
─ Diabo da bíblia?─ Balbuciou Annabeth, confusa.
Emma abriu a boca para responder. Na mesma hora, os trompetes soaram e a Banda Marcial começou seu principal trabalho: mostrar a imponência da Inarizaki diante de seus adversários. As líderes de torcida organizaram-se numa fila, uma atrás das outras nas escadas, agitando os pompons vermelhos.
( Graças a Deus, não estavam cantando aquela maldição em forma de música.)
Annabeth observou tudo com os olhos arregalados e Emma precisou lembrar-se que aquele é o primeiro ano da Johnson na torcida. Fora as reuniões e os ocasionais treinos, a americana nunca esteve numa partida, agindo ativamente como parte da torcida. Era fácil se impressionar até as pessoas tornarem o trabalho ridiculamente caótico e insuportável, pelo menos Emma divertiu-se arruinando a concentração de Atsumu ano passado.
A partida enfim começara e, ao ver Atsumu exibir aquele maldito sorriso malicioso, Emma mal se importou em prestar atenção. Era óbvio o que aconteceria. O gêmeo do mal iria destruí-los com seus saques e seus levantamentos perfeitos.
Se alguém perguntar para Emma, sua resposta de que não sabia como começou poderia até enganar, mas a verdade sincera era que ela sabia.
Fora num saque de Atsumu Miya, ele agarrara a bola e começou sua caminhada, sempre alterando-se em quatro e seis passos de acordo com o saque que escolhia.
( Também não pergunte a Emma como ela sabe disso.)
A torcida estava silenciosa, como de costume quando se tratava do Miya loiro e Emma mordeu os lábios, suprimindo a vontade de berrar alguma coisa que acabasse atrapalhando o garoto. Raiza já ameaçou que a tiraria da torcida se continuasse, então precisava ficar em silêncio. Quietos e ligeiramente ansiosos com o próximo movimento do levantador oficial do time, era possível escutar qualquer murmúrio, independente do quão baixo tente proferir. Nana Hirano nos primeiros degraus da arquibancada, inclinou-se para suas amigas e murmurou:
─ Não diga para ninguém, mas, estamos saindo.
Kokomi e Mirumi trocaram olhares, risonhas e curiosas.
─ Quem?
Convencida, Nana ergueu um dos pompons e apontou diretamente para Atsumu Miya que acabara de bater na bola, fazendo-a atravessar a quadra, aceitando a área do adversário sem qualquer toque. Um Ace!
─ Bom saque, Atsumu!─ Vibrou a torcida.
A música da Banda Marcial estava alta. Ninguém, além de Emma e as garotas sentadas mais próximas, escutou Annabeth Johnson erguer-se como uma deusa furiosa, berrando um "Mentirosa!" na direção de Nana Hirano.
( Sabe, quando Emma disse que havia um trem correndo na direção dela? Pois, bem, aquelas garotas são o maldito trem!)
─ Mentirosa!─ Repetiu, o som quase desaparecendo por debaixo do instrumental.
Nana ergueu uma sobrancelha, já irritada.
─ Quem é que você tá chamando de mentirosa, ein, sua ridícula?
─ Você!─ Annabeth continuou, ignorando Emma que pedia baixinho para ela sentar-se e parar de enfrentar Nana.─ Quem está saindo com Atsumu, sou eu!
─ Bando de iludidas!─ Se intrometeu Mei Maekawa.─ Como se ele fosse sair com vocês!
Nana Hirano espreitou o olhar e balançou uma mão, escárnio pingando de cada gesto.
─ E com quem ele sairia? Você?
─ Sim! Eu!─ Disse Mei, cruzando os braços, sorrindo.
─ Como se!─ Soltou Annabeth, aos risos.
Emma mal pode reagir. Quando Mei encarou Annabeth por um instante e, então, jogou-se nelas, derrubando tanto a Johnson quanto a Kimura. Em cima de Annabeth e Emma, a líder do Clube de Costura mal sabia quem estava acertando pela forma que Emma berrava para que saíssem de cima enquanto Annabeth devolvia os golpes. Agarrando os cabelos de Emma, Mei levou um tapa de Annabeth e a loira Kimura retribuiu, puxando os cabelos escuros da outra costureira.
─ Ei! Parem com isso agora!─ Berrou quem Emma reconheceu ser Raiza.
Nana Hirano riu.
─ Elas ainda dizem que saem com ele, que piada.
Kokomi e Mirumi a acompanhou.
Ainda segurando cabelos de Emma e uma mão contra sua bochecha, Mei virou-se para a líder de torcida, assim como Annabeth.
─ Como você disse aí?─ Soltaram em conjunto.
Emma agradeceu aos céus que Nana abriu a boca quando Mei soltou seus cabelos e, acompanhada de Annabeth, fora atacar a líder de torcida que berrou, assustada. No andar de baixo, as três eram uma confusão de pernas, gritos e mãos que chamavam atenção, fazendo até mesmo a partida parar.
Ofegante, sentindo o princípio de uma dor de cabeça, Kimura gemeu no lugar em que estava na arquibancada, desejando poder socar as três por estarem brigando só pelo Atsumu Miya. E ela estava certa.
Algo deu errado.
─ Emma!─ Alguém chamou, aproximando-se da garota loira que ainda estava deitada nos lance. Era Alaina, a garota de cabelos escuros pairou sobre a amiga.─ Você tá bem?
Emma torceu o nariz, abrindo a boca, pronta para deixar claro que se pudesse empurraria Annabeth e Mei na frente de uma ponte por ter a esmagado praticamente e puxado seus cabelos, sendo que ela não tinha nada a ver com toda a confusão.
( Tirando o fato que sabia de tudo mas ficou em silêncio.)
Ela foi interrompida mais uma vez. Dessa vez, pela voz da professora Mahoshi que havia entrado nas arquibancadas e conseguira o milagre de ter separado as três garotas, sem acabar estapeando uma.
─ Maekawa! Johnson! Hirano! Quero vocês no corredor agora!─ Ela ergueu a cabeça, os olhos vagando pela arquibancada até parar em Emma ao lado de Alaina.─ Kimura! Você também! Pra fora!
Emma gemeu. É, esse dia também entraria pros piores de sua vida.
Agora, sentada nos corredores do ginásio após ser castigada por uma detenção na companhia das três garotas que são imbecis o suficiente ao ponto de aceitar ir num encontro com Atsumu Miya, Emma decidiu que deveria ter fingido um desmaio pela forma que Annabeth, Mei e Nana empurrava uma a outra.
─ Você é uma mentirosa!
─ Você que é!
─ Não! Vocês que são!─ Nana Hirano berrou, sua voz correu pela sala vazia e Emma silenciosamente gemeu.
─ Olha, quem fala! Quem pinta o cabelo todo santo de dia de vermelho e fica toda "Ain, meu cabelo natural", uma ova que é!─ Mei Maekawa provocou.
Annabeth riu, falsamente.
─ Vocês são tão otárias! Olha para vocês duas! Uma costureira que não sabe nada do próprio clube e a outra, a clone mal feita da Alaina Mikan!
Nana avançou, tentando alcançar os cabelos de Annabeth quando Emma se intrometeu:
─ Sério mesmo que vão ficar assim o tempo todo por causa do Atsumu Miya?
─ Como se você fosse entender!─ Nana revirou os olhos.─ Eu devia saber que seu mau gosto é até pra homens!
Emma revirou os olhos.
─ Ei! Não fala assim dela!─ Exclamou Annabeth, empurrando a líder de torcida.
─ Ela tá certa!─ Mei Maekawa disse, inclinando-se na direção de Emma, risonha.─ Duvido que você tenha beijado alguém!
─ Pelo menos, não sou eu que fica brigando com outras garotas por causa de um garoto que não liga pra ninguém, além dele mesmo!─ Emma falou, cruzando os braços.
Nana bufou.
─ E o que você faria, ein? Choraria nos pés dele, é deplorável que nem você! Combina certinho.
( E se ela socasse Nana? Ela já estava de detenção mesmo, seria bem tranquilo!)
─ Não, sua imbecil.─ Emma falou, desdenhosa.─ Eu o faria se arrepender, me vingaria dele.
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