𝐢. Se vê uma noiva, fuja pras colinas!
⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯ㅤ𔘓 ⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯
❝ Um brinde à noiva ❞
- hamilton: an american musical !
Emma pensou por um momento. E se desligasse os aparelhos auditivos?
Isso a pouparia de muitas coisas. De ouvir os murmúrios de Nana nos corredores, os suspiros apaixonados de Mei quando estava focada em costurar um vestido primaveril e os risinhos de Annabeth nos ensaios da torcida. Ela poderia fingir melhor que Atsumu não existia em sua vida nas aulas de reforço e que, por causa dessas quatro pessoas, há um trem prontíssimo para atropelá-la. De quebra, também nunca mais precisaria atender uma ligação de Rie às cinco da manhã!
Muitas vantagens... Era só erguer uma mão e empurrar um pouquinho, então, sem ouvir aquela vozinha esganiçada que sua irmã acabava fazendo quando estava irritada demais com alguma coisa.
( Ou Emma. Rie sempre estava muito irritada com Emma e adorava tecer o que chama de críticas construtivas, mas a verdade é que achava muito divertido falar mal de tudo que envolvia a garota mais nova. Ia desde a forma com que cuidava do cabelo loiro até seu jeito desastrado de ser. Até mesmo, o pai de Emma, que aparentemente não a criou bem o suficiente.)
Certo que talvez seja culpa do casamento. Rie é perfeccionista, ou seja, era horrivelmente chata com tudo que se seja sobre organização e não deixava ninguém em paz enquanto o que quisesse fosse feito do jeito que tanto quer. Ela estava a um mês de se casar com um médico chamado Mirio Sakusa e dedicava as primeiras horas da manhã para reclamar no ouvido de Emma sobre o quanto estava ansiosa, irritada e reservava um tempinho para dizer algo sobre ser cadeirante. Bom, dizer que Rie estava estressada era um eufemismo mesmo!
( Quer dizer, é isso mesmo que se chama? Ou, é outra coisa? Emma sempre esquecia quão péssima é em tudo que envolva gramática, talvez devesse ter levado a sério quando a professora Yawashin lhe avisou que precisava prestar mais atenção nas aulas.)
─ Você precisa fazer isso! Tá me ouvindo, Emma Pacifica Kimura!?
Tá bom, desligar os aparelhos não daria muito certo, se jogar da janela mais próxima daria uma desculpa para fugir daquela loucura. Longas semanas no hospital sem precisar ouvir sobre nada, sopa hospitalar seria um preço muito caro, mas Emma estava disposta, muito disposta.
─ Rie, é cinco horas da manhã...
Choramingar fazia Rie lembrar o quanto queria manter a distância de Emma e, ás vezes, funcionava tão bem que ignorava a existência da irmã mais nova mais do que cinco dias. Era um golpe baixo, mas eficiente. O recorde da última vez foi praticamente duas semanas, onde Emma viveu imersa em pura paz emocional, apesar que pensar no seu sapato atingindo o rosto de Nana tornou-se algo diário.
─ Não ligo!─ "Eu também não ligo pro seu casamento, Rie!", quis responder rapidamente, mas infelizmente, isso desencadearia num apocalipse e ela não estava pronta para nenhuma revolta das noivas.─ Li numa revista que, em 99% dos casamentos que duram a vida toda, os irmãos dos noivos se dão bem!
─ E o que isso tem a ver comigo!?
─ Como assim "o que tem a ver comigo"!? Emma, você não tá me escutando?
─ Rie! É cinco da manhã!
Emma pode ouvir sua bufada irritadiça no outro lado da linha e cogitou seriamente em fingir que a ligação caiu. Que se dane o apocalipse! Sabia fazer um chiado como ninguém, ninguém nunca descobriria e até podia pedir pro papai Miles mentir, mas Rie ia encher o saco sobre o jeito que Emma estava sendo criada mais uma vez.
( Como se ela pudesse dizer alguma coisa. O papai Miles criou Emma completamente sozinho desde o acidente que ceifou a mãe de ambas, deixando uma Rie de cinco anos presa numa cadeira de rodas e uma Emma com a audição permanentemente afetada. Enquanto Rie cresceu com seu pai empresário, tendo todo o apoio que o dinheiro a permitia ter, papai Miles fez milagres com um emprego de meio período por anos, apenas para que Emma pudesse ter os melhores médicos e as melhores escolas disponíveis.)
─ É, já disse isso!─ Ela respondeu naquele tom que fazia Emma encolher os ombros. Como se ainda fosse aquela menininha de dez anos que não sabia lidar com o fato que precisava interagir com sua irmã de cinco anos, fruto de uma traição.─ Quero você no ensaio do casamento, ok? Você vai vir e quero ver você amiga do Kiyoomi até o fim do dia, tá bom?
A mais nova controlou a vontade de perguntar quem diabos é Kiyoomi e porquê falar com ele é tão importante assim. Mas, se quisesse sobreviver um dia inteiro na Inarizaki, precisava do resto do tempo que tinha para dormir então...
─ Claro! Eu vou ser a melhor amiga desse...─ Pera aí, qual era o nome mesmo? Kiyama, Kirara, Kikio...─ aí! Vou ser a melhor amiga desse daí!
Rie revirou os olhos. Emma sabia disso, sempre sabia quando a irmã revirava os olhos, era um talento, um tanto inútil mas servia, às vezes.
─ Não precisa ser melhor amiga dele, só... Não seja você e tudo vai dar certo.
( Um detalhe sobre Rie: "Não seja você" era sua frase favorita. E secretamente era um desafio. Só que, bem, Emma nunca entendeu o que diabos isso significava e muito menos como poderia concertar o que não via.)
─ Tá bom, vou só...
─ E nada de roupa colorida, Emma!─ Cortou Rie.
Emma gemeu, descontente. Depois de lembrar mais uma vez que precisava ir para Tóquio na próxima semana e enfrentar um jantar com uma família que definitivamente não ligava para a irmã mais nova da noiva quando o casamento estava tão próximo, Rie se despediu. Foi um pouquinho decepcionante, apesar de estar acostumada com a frieza da irmã.
Rie nunca se recuperou do acidente.
O relógio analógico exibia a hora: 4:58
Liberando um suspiro, deixando-se afundar nos lençóis. Finalmente, notara que o brilho amarelo-pálido do sol invadia seu quarto, iluminando os inúmeros novelos de lã com as mais diversas cores espalhadas pelo tapete rosa-choque e até mesmo um suéter verde-néon, cujas mangas encontravam-se inacabadas.
( O primo mais velho iria matá-la se soubesse que seu presente de aniversário estava sendo deixado de lado por ela. Mas, quem disse que ela ligava? Podia lidar com as birras, mensagens irritantes e choramingos... Pensando bem, esse inferno, ela não podia enfrentar. Droga!)
O alarme tocou, estridente, e seguido pela voz forte e determinada da cantora CL no monólogo pertencente à Fire vindo do outro lado no corredor, onde papai Miles deveria estar acordando, pronto para um dia na loja esportiva que fundou no ano passado com ajuda do tio Tetsuya.
Emma choramingou, puxando o travesseiro e pressionando-o contra o rosto. Agora, tinha uma hora para se arrumar, conseguir alcançar o metrô antes das sete da manhã, isso sem contar que tudo dava errado com ela. Então, não ia ter porcaria nenhuma de uma hora, provavelmente só vinte minutos e com certeza perderia o trem.
Emma desejou não ter atendido aquela ligação.
Emma foi expulsa.
Fora um total de cinco vezes e todas com o mesmo motivo: ficar babando na mesa enquanto falavam sobre triângulos equiláteros, um livro que era mais velho que a bisavó de Emma mas tinha revolucionado o jeito que escreviam livros velhos, chatos e sem nenhuma imagem.
Foi um milagre que ainda não foi enviada para a detenção, algo o quanto agradecia seus professores por estarem tendo um aparente ótimo dia. Mas, isso não era algo bom, é um inferno terrível.
Rie havia atrapalhado seu dia, prendendo-a numa mente cansada que escolhia os piores momentos para descansar, ou seja, na hora das aulas, justamente quando precisava ficar acordada. E Emma já não era boa em prestar atenção, imagina agora com sono! É impossível! Não tem como ela fazer isso!
─ O que você tá fazendo?─ Perguntou uma voz melódica.
Emma não demorou para direcionar sua atenção na direção da garota que mantinha as sobrancelhas bem-feitas arqueadas, aguardando por uma resposta.
Uma brisa viajou, empurrando os cabelos longos e bem cuidados de Alaina Mikan, a líder do Clube de Dança. Se houvesse câmeras por perto, esse seria o momento ideal de um filme de comédia romântica dos anos 2000, a garota popular e inegavelmente bonita era apresentada na trama, encantando todos.
─ O que você tá fazendo?─ Emma rebateu. Não deixando de notar que a garota carregava uma marmita embrulhada num tecido cinza, próximo o bastante dos cabelos de um certo capitão.
( Meio bizarro, mas, quem era Emma pra julgar alguma coisa, não é mesmo? Ela nunca esteve apaixonada mais do que uma semana por uma pessoa e Alaina estava nessa há um tempão. Deve coisa de gente apaixonada, tem que ser.)
A garota deu de ombros, sentando-se ao lado dela, não demorando para desfazer o laço e Emma se pegou com os olhos presos em cada pote que Alaina destampava. É, o trem não pode ter atrasado, mas sem algum lanche e sua dignidade foi mandada pro inferno quando tropeçou e caiu em cima de uma senhorinha no caminho para a Inarizaki. Muito obrigada, Rie!
─ Então...─ Alaina cantarolou, espetando um pedaço de morango e o entregando para Emma que alegremente aceitou.─ o que você tá fazendo?
─ Admirando a paisagem.─ Gesticulou para parede cinzenta na frente de ambas, torturando a fruta com os dentes.─ E você?
─ Queria ficar um pouco sozinha.─ Alaina ergueu um biscoito de arroz, mordendo-o.
Emma torceu o nariz, roubando mais um morango da amiga. Nunca sabia como a dançarina conseguia comer aquelas coisinhas horrorosas em nome de manter um corpo digno daquela responsável por boa parte dos troféus exibidos pelos corredores da Inarizaki. A primeira e última vez que tentou experimentar acabou quase vomitando.
─ Quer que eu saia?
─ O que?
─ Você disse que queria ficar sozinha, então...─ Emma cantarolou, uma mão erguida, ajeitando a presilha de sapo, impedindo que sua franja continuasse a cair nos olhos.─ Quer que eu saia?
Alaina parou um momento, os olhos analisando o rosto da loira, procurando por algum traço de brincadeira. E sorriu, exibindo aqueles dentes perfeitos que causavam inveja em muita gente.
( Incluindo a própria Emma. Ela não sabia qual era o problema de Shinsuke Kita, mas ele precisava urgentemente resolver, antes que alguém acabasse roubando o coração de Alaina.)
─ Não, você pode ficar, Emma.─ Disse, dando tapinhas na coxa da garota, acabando por receber um sorriso colorido que parecia tornar-se marca registrada da desastrada Emma Kimura.
Ao longe, podia-se ouvir murmúrios daqueles estudantes que preferiram passar o intervalo no lado de fora, passeando pelas áreas verdes e até mesmo escapando para o espaço dedicado ao Clube de Natação. Lá, era um dos lugares mais ventilados da escola. Agora, pensando no assunto, Emma queria ir para lá em vez de se esconder nas sombras do ginásio, onde possivelmente veria o rosto presunçoso e irritante do Atsumu junto de uma de suas namoradas, seja lá qual for a daquele dia.
Como era uma quinta-feira, ficaria fora das atividades do Clube de Costura para comparecer as aulas de reforço. E seria uma droga ver o gêmeo loiro sem toda preparação psicológica que Emma fazia antes das aulas.
Ela suspirou, erguendo a mão e enxugando as gotas de suor acumuladas próximas da raiz do cabelo. Aquela tarde estava se apresentando como insuportavelmente quente.
Não, hoje não era um bom dia, não mesmo. Mas aquele instante, ao lado de Alaina Mikan, havia melhorado ele, nem que um pouquinho.
Como sempre, Emma estava enganada.
Aquele dia não ficou nem um pouco melhor e ela bateu o martelo enquanto corria pelos corredores da Inarizaki, tentando manter a atenção no caminho e segurar sua bolsa sem que acabasse desabando no chão igual fruta podre.
É isso! Esse dia, definitivamente, está na lista dos piores dias da vida de Emma Kimura!
─ Cheguei!─ Falou, lê-se berrou, ao abrir a porta que lhe permitia acessar aquilo que juntou-se a um de seus maiores tormentos: aula de reforço.
Risadas romperam pela sala.
A professora Yawashin lançou um olhar para a turma e todos calam-se no mesmo instante.
No auge dos quarenta anos, ainda parecia ter a idade de Rie com seus cabelos ébano que caíam lisos por seus ombros magros e olhos inteligentes. Era bonita, bem sucedida e vestia-se com os melhores terninhos que ela já viu, todos nunca tinham um único amassado.
( Emma queria ser ela quando crescer. Em questão de aparência, claro, já que, bem, passar de ano era uma dificuldade enorme.)
─ Nós percebemos, senhorita Kimura.─ Ela abriu um sorriso simpático, mas ainda mantinha uma expressão severa. Emma nunca sabia como ela conseguia ser tão durona e gentil ao mesmo tempo.─ Por favor, vá se sentar em seu lugar.
Emma balançou a cabeça, erguendo a bolsa e pendurando a alça em seu ombro, sem perder o ritmo conforme caminhava para seu lugar, jogando-se na cadeira sem lançar um olhar para o garoto que ela sabia que estava sentado logo atrás. Se visse aquele sorrisinho, o dia ficaria mil vezes pior.
Certo, caderno, caneta, lápis e... De repente, quando empurrava seu estojo para fundo da bolsa para que pudesse retirar seu livro de matemática sem complicações, algo fora jogado por cima de seu ombro, caindo em cima da sua caneta preferida, a de tinta rosa e cintilante.
Emma franziu o cenho, confusa. Mas que merda é essa...
Ela pegou o que reconheceu sendo um bilhetinho, não demorando para abrir.
E não queria ter feito isso. No papel, foi rabiscado numa letra que infelizmente reconhecia e a julgava profundamente, porque têm a certeza que seu primo mais novo tinha um letra melhor do que essa e Takeru acabou de fazer seis ou sete anos.
"Você tá com uma cara de merda! Mais do que o normal!"
Emma ia ser madura. Ela têm dezesseis anos, dezessete no dia trinta-e-um de dezembro. Rie disse que precisava agir de acordo com sua idade. E daí que havia presilhas de sapo em seu cabelo loiro e trocou todas as ligas do aparelho pelas que imitavam as cores do arco-íris?
Emma queria ser madura. Podia ser madura. Ela seria madura.
Respire fundo, vamos com calma... Era só...
Virando-se, mantendo um sorriso que imaginava ser educado, Emma ia ser madura, mas foi encarar aqueles olhos castanhos e caídos, o brilho malicioso que se refletia em seu sorriso.
Quer saber? Que se dane essa história de ser madura!
Atsumu Miya esteve irritando-a desde sempre. Numa aula de educação física do primeiro ano, quando Emma acabou perguntando se Atsumu sabia jogar vôlei no meio da quadra no momento que ele estava prestes a fazer um saque.
Foi uma pergunta genuína! Ela não tinha culpa! Mas, o pior timing de todos os tempos.
Só que Atsumu entendeu como uma afronta. Acontece que o Miya sabia jogar vôlei e Emma acabou na enfermaria por conta de um nariz sangrando.
─ Você não tem uma vida pra cuidar, não?─ Sibilou para o garoto, amassando o papel entre os dedos e jogando-o no loiro que desviou com um tapinha presunçoso.
─ Tô cuidando da minha vida, ─ Ele falou, inclinando-se a distância de um tapa. Se Emma o acertasse, acabaria com uma detenção longa, mas, valeria a pena, ela faria valer.─ essa sua cara feia tá atrapalhando ela.
Ela não respondeu, preferindo chutar a cadeira dele, esperando que acabasse fazendo-o cair e ser alvo das risadas. Atsumu retaliou com outro chute.
( É o que ele fazia quando se tratava de Emma, sempre. Se ela o acertasse com um soco, ele daria um jeito de dar uma rasteira nela e, então, rolariam pelo chão que nem dois filhotes de gatos, colecionando alguns roxos pelo caminho.)
─ Vocês dois! Parem já!
Eles não pararam, continuaram nos chutes, tão fortes que acabavam fazendo suas cadeiras moverem-se, criando um som alto e irritante aos ouvidos mais próximos.
Yawashin Katsuragi bufou, irritada, e silenciosamente sentiu-se arrependida de tornar-se professora. Ela abandonou o apagador de quadro e a vontade de jogá-lo em cabeças loiras, apontando na direção da dupla que causava dor de cabeça em quase todos os professores.
─ Miya! Kimura! Parem já com isso!
Com um último chute dado por Emma que sorriu vitoriosa e recebeu uma revirada de olhos de Atsumu, ambos viraram-se para encarar a mulher que pressionou os lábios um contra o outro.
─ Kimura, saía já daí, troque de lugar!
Foi a vez de Atsumu sorrir, vitorioso. Emma abriu a boca e exclamou:
─ O que? Não!
O olhar de Yawashin não deixou espaços para contestações. Emma obedeceu, pondo o que podia em sua bolsa, carregando as canetas nas mãos e arrastando o pés até a banca mais próxima. Alguém soltou uma risadinha quando ela tropeçou na alça.
Atsumu exibiu um sorrisinho que a fez querer enfiar uma caneta em sua garganta ou chutá-lo mais uma vez, só que numa área que doeria mil vezes mais.
Tentando fugir de alguma provável detenção, Emma esperou que a voz segura da professora soasse e mergulhasse num mundo matemático que a faria ocupada em desenhar estrelas em breve, mas antes...
Ela apontou um dedo para Atsumu e o deslizou por sua garganta, imitando um corte. O gêmeo Miya não se afetou, cruzou os braços e continuou com aquela postura inabalável de sempre. Emma sentiu-se na obrigação de reforçar a ameaça silenciosa.
Você tá morto, loiro falso. Emma moveu os lábios, sem imitir um único som.
Ele sorriu. Manda a ver, loira feiosa.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro