Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

ix: pelo menos eu não sou babona.

Alucinações estão cada vez mais comuns. Não me lembro de muita coisa, a pancada que levei deve ter sido forte. Os raios lá fora são barulhentos e ferventes, a escuridão deixa claro que continua de madrugada e a dor insuportável me relembra da batalha que enfrentei. Me sinto um lixo.

━━━━ Você fala enquanto dorme. ━━ Uma figura diz, de braços cruzados, ao me observar no pé da cama. ━━━━ E você baba.

Tento gritar por socorro ou ao menos falar algo em resposta, mas não consigo. Eu acompanho a cabeça dela e noto Percy em um estado similar, baba escapando pelo canto da boca. Credo. Nunca vou desver essa imagem de péssima qualidade.

A dor ensurdecedora é tanta que mal consigo manter os olhos abertos. Viro a cabeça outra vez para a voz feminina, mas de nada me vale, pois a enxergo como um borrão levemente laranja. Não me pergunte se essa é a real cor da pele ou cabelo dela, pois não saberei responder. E antes mesmo que ela pudesse falar algo a mais, meus olhos se fecham outra vez, exaustos de tudo que ocorreu nessa mesma noite.

Quando os abro novamente, não está mais de noite ou sequer chovendo. O sol ilumina a sala como se os eventos de ontem não fossem nada além de outro pesadelo, mas a presença de Grover sentado em uma cadeira ao meu lado me garante que não estou louca. Ainda não. Estou exausta e minha cabeça dói, meu corpo parece estar curado dos ferimentos, não sei como isso é possível. Não existem cicatrizes sequer, ou curativos, estou curada. Simples assim. A fraca dor de cabeça é a única coisa restante, não sei se devo temer ou agradecer.

Focado demais no Percy, Underwood nem sequer nota quando eu acordo e não faço nada para chamar sua atenção. Prefiro continuar aqui, escondida nas sombras, enquanto corro os olhos pela sala, procurando alguma coisa que indique o que está acontecendo. Um arrepio percorre minha nuca quando vejo um dos chifres do Minotauro na mesa. Quando foi que isso aconteceu? Me lembro de lutar com ele — e perder terrivelmente — mas não de arrancar um chifre. Bom, ao meu crédito, acredito que quem fez isso foi Percy, então não tenho obrigatoriedade de lembrar de nada.

━━━━ Está tudo bem. Você tá seguro. ━━ Grover diz, chamando minha atenção para um recém-acordado Percy Jackson.

O loiro me observa, ignorando o sátiro e congelando quando percebe o chifre na mesa. Uma mistura de horror e raiva no olhar.

━━━━ Realmente aconteceu.

━━━━ Nem me fale. ━━ Resmungo, sentando-me na cama com cuidado.

Grover se vira para mim, também percebendo que estou acordada. Consigo sentir a tensão nos seus ombros, mãos desajeitadas sobre o colo e olhar alternando entre mim e Jackson com incerteza. Um sorriso, levemente desconfortável, ilumina o rosto.

━━━━ Matar um monstro daqueles é para poucos. Eu queria que todos soubessem. ━━ Ele explica, mais para o garoto do que para mim.

━━━━ Vocês viram? Viram o que aconteceu com a minha mãe? ━━ Percy questiona, ignorando novamente as palavras de Underwood.

Um arrepio frio percorre minha nuca. A imagem de Sally Jackson se tornando pó vai me assombrar para o resto da vida.

Quão cruel devem ser os deuses para deixar uma mulher inocente morrer diante do próprio filho? Estou tentando gostar desses caras, agora que descobri que faço parte desse mundo, mas é extremamente difícil. Quem são eles para julgar os humanos, se são tão ruins quanto?

Minha cabeça dói outra vez, me forçando de volta à realidade.

━━━━ Eu vi. ━━ Escuto Grover dizer, tom triste e cuidadoso. ━━━━ Sinto muito por tudo. Meu trabalho era protegê-lo e trazê-lo até aqui a salvo, talvez se eu tivesse te contado a verdade antes, sua mãe ainda estaria...

━━━━ Pare, por favor. ━━ Percy interrompe, soando pequeno. Como uma oração desesperada.

A maneira com a qual ele fala me incomoda. Não o conheço há muito tempo, mas sei que Percy Jackson não é alguém quieto. Ele deveria soar confiante e sarcástico, mas, agora, apenas me lembra um gatinho de rua machucado.

━━━━ Sei que não é fácil, mas quero falar sobre isso.

━━━━ Eu não. ━━ Discute, encarando o sátiro com raiva. Entendo a reação de Percy, mas também sinto dó de Grover. ━━━━ Seu trabalho era me trazer até aqui. Já está feito.

Em movimentos bruscos e desajeitados, o loiro veste sua calça — não me pergunte quem a tirou — e levanta da cama. Underwood mal tem tempo de perguntar para onde ele vai antes que Jackson se vire para mim, respondendo à pergunta enquanto me observa curiosamente.

Acredito que ele está tentando me desvendar, do mesmo jeito que estou tentando com ele. Não conheço Percy Jackson, não de verdade, mas, visto que fui jogada nessa bagunça, tentarei descobrir o máximo que conseguir. Quero saber sobre a vida do garoto que, supostamente, tem alguma ligação comigo. Ou, pelo menos, eu imagino que tenha. Lembro do evento no museu, quando a fúria conversou conosco ao mesmo tempo, mas direcionou todas as palavras para ele. Isso tem que significar algo, certo?

━━━━ Tive que vir até aqui porque meu pai é um deus. Então vou encontrá-lo. ━━ Decide, me olhando de cima a baixo. ━━━━ Quer vir comigo, Helena? Vou resolver nossos problemas de uma vez por todas.

Olho para Grover e noto o horror no rosto dele, um pedido silencioso para que eu não alimentasse essa ideia, mas suspiro derrotada. Eu quero encontrar quem é minha mãe, reclamar por todos os doze anos que me abandonou e pedir por algum tipo de recompensa. Um abraço, quem sabe, ou uma cura para meus problemas.

Não acho que ela me dará nenhum dos dois.

━━━━ Vamos logo, antes que eu me arrependa. ━━ Murmuro, levantando-me da cama com um sorriso sem graça. Pego minha adaga que me aguardava no topo do armário, lado a lado com o enorme chifre de Minotauro.

Sigo Jackson com rapidez, ignorando as palavras de Grover e tentando não sentir culpa. O pobre sátiro está fazendo o seu melhor, mas confesso que me sinto mais segura com o loiro. Ele está tão confuso quanto eu e a conexão que senti mais cedo continua aqui. Como uma linha invisível que me amarra a Jackson.

Assim que dou um passo para fora, sou banhada por uma vista encantadora. O litoral é uma mistura de areia com floresta, verde, amarelo e o azul das águas se encaixando como pedaços de um quebra cabeça. Ar puro preenche meus pulmões, algo que nunca fui capaz de experimentar na metrópole. Estou hipnotizada por toda essa vegetação. É a primeira vez que vejo um lugar assim, a primeira vez que me sinto conectada, de fato, com a natureza.

Estou tão distraída que não percebo que Percy não está mais do meu lado, mas, sim, se aproximando de um homem sonolento desconhecido que usava roupas praianas e óculos escuros horríveis. Talvez por estar tão isolado, o Acampamento Meio-Sangue desconhece a moda.

━━━━ Licença, sou o Percy Jackson e sou novato aqui.

━━━━ Peter Johnson chegou! ━━ O senhor grita para sabe-se-lá quem, desleixado sobre sua cadeira.

━━━━ Na verdade, esse não é meu nome. ━━ Percy resmunga confuso, me olhando como se perguntasse: "Eu disse o nome certo?" E eu apenas dou de ombros. ━━━━ Estou procurando a secretária ou a sala de direção.

Consigo ver nele algo que nunca terei: habilidades sociais. Não sabia nem que secretárias e diretoras possuem salas diferentes, ou sequer como funciona uma escola. Nunca estudei em uma. Passar a sua vida toda dentro de casa é uma benção para crianças antissociais, porém, ao mesmo tempo, é um pesadelo para quem precisa conviver em sociedade anos depois.

━━━━ Espere, espere, espere! ━━ Ouço uma voz conhecida na distância, correndo à nossa direção. ━━━━ Percy, este é o Sr. D, o diretor do acampamento. Sr. D, este é o Percy Jackson.

━━━━ Eu ouvi a primeira vez, Grover. ━━ Responde o tal Sr. D, provavelmente revirando os olhos debaixo dos óculos feios.

━━━━ Tem certeza? ━━ Percy rebate, dizendo exatamente o que passou pela minha mente.

Contudo, a resposta não parece agradar Grover, que puxa o loiro para perto com os ombros tão tensos que pensei que fossem travar. Reviro os olhos do drama, resmungando baixinho meu desprazer.

Entendi que Sr. D é um cara importante, mas para que todo esse desespero? O pior que ele pode fazer é confiscar nossas roupas e nos forçar a usar camisetas praianas tão feias quanto a dele.

━━━━ Quem é a menina? ━━ O mais velho questiona, apontando para mim.

Na verdade, ele aponta para algo no além, mas, considerando sua pergunta, imagino que a intenção do Sr. D era direcionar os dedos — também feios — em minha direção.

━━━━ O quê? Ah, sim, claro! Essa é a Helena Vega, senhor. ━━ O sátiro apresenta com um sorriso forçado, ainda segurando Jackson.

━━━━ Eu não te perguntei, Grover.

━━━━ Você perguntou sim. ━━ Respondo quase imediatamente, cruzando os braços em indignação.

O Sr. D não tem a oportunidade de dizer algo, pois sou puxada do mesmo modo que Percy foi. Consigo ver o terror por trás dos olhos de Grover, como se estivéssemos cometendo crimes na sua frente. Ele parece um cabritinho assustado.

Talvez eu devesse parar de associar animais com meus novos amigos, mas é verdade! Eu diria até que o tal Sr. D me lembra um urso, só que muito menos adorável e mais praiano. Muito mais praiano. Existem ursos praianos? Eu não faço a menor ideia, mas Sr. D seria um, caso fosse um animal.

━━━━ Não querem provocar esse cara. ━━ Grover sussurra em horror, nos agarrando pelos ombros.

━━━━ Ele que começou.

━━━━ Percy, D é de Dionísio. ━━ O sátiro nos informa, olhos arregalados ao redirecioná-los ao homem feio e praiano. ━━━━ Este é o Dionísio.

Me arrependo de tê-lo chamado de feio. E sem estilo. E horrível. Deuses, será que ele consegue ler meus pensamentos? Espero que não. Ou estarei muito encrencada.

Para os não informados, Dionísio é o deus grego do vinho e festas. Apesar disso, lhe falta um enorme senso de estilo. Me lembro de ler sobre ele, sobre como foi mantido na coxa de Zeus após a morte de sua mãe mortal, apesar de que existem muitos contos para uma mesma história. Talvez eu esteja errada. Espero que sim, imagina sair da coxa de Zeus? Qual o próximo, sair do nariz de Hades?

━━━━ Como assim Dionísio? O deus Dionísio?

━━━━ Quem mais se chamaria Dionísio? ━━ Rebato, erguendo as sobrancelhas em confusão.

━━━━ Alguém com pais cruéis?

━━━━ Gente! Sim, é ele. ━━ Grover nos interrompe com a voz aguda, tremendo ao alternar o olhar entre nós e o Sr. D.

━━━━ Não acredito. ━━ Percy murmura, boquiaberto, me cutucando como se esperasse uma reação similar.

━━━━ É verdade.

Também estou em choque, é claro, mas não consigo deixar de pensar em quão comum Dionísio aparenta ser, nem sequer considerei que poderia ser um deus. Veste roupas comuns, fala de jeito comum, age de jeito comum. A única coisa que tem de especial é seu péssimo estilo, de resto, poderia facilmente confundi-lo com um mortal.

É assim que os mortais são enganados? Levados a acreditar que estão amando alguém comum somente para acabarem com uma criança metade deus no colo, sem saber como cuidar?

Essa vida de semideus é muito confusa.

Com um dramalhão exagerado e formalidade, Percy se direciona a Dionísio. Ajusto minha postura, tentando transparecer a mesma confiança que ele.

━━━━ Licença, Vossa Alteza?

Tenho que me segurar para não rir. Esse deve ser o modo mais apropriado para se direcionar a um deus, porém, Jackson soa ridículo. Tenho tanta vontade de gargalhar que preciso tampar minha boca com as mãos.

━━━━ Acho que meu pai está por aqui. ━━ Ele explica, tom chateado ao observar Dionísio com cautela. ━━━━ Não sei como encontrá-lo, porque nem sei quem ele é. Mas acho que deveria falar com ele, eu... Sinto que preciso disso agora. Você pode me ajudar?

Meu coração aquece de dó e me sinto uma pessoa horrível por ter achado graça. Percy Jackson veio de tão longe com apenas a mãe para contar, para, no final, perdê-la diante dos próprios olhos e ser deixado sozinho em um acampamento em Long Island, procurando pelo homem que o abandonou anos atrás. Sempre imaginei que ser semideus fosse difícil, considerando os monstros que todos enfrentam em suas histórias, mas isso é diferente. O que devemos fazer quando nossos inimigos são nossos próprios pais?

O Sr. D parece intrigado com a ideia, se ajeitando na cadeira e apoiando-se sobre a mesa redonda. Somente nesse momento que noto a cadeira de rodas vazia ao seu lado.

━━━━ Na verdade, acho que posso... ━━ O deus murmura, seguido de uma pausa prolongada. ━━━━ Filho.

━━━━ Pai?

Sinto meu coração congelar. Esse é o pai de Percy? Dionísio? Deus dos vinhos e festas? Não sei o que pensar. Se Percy Jackson, o cara legal que matou um Minotauro sem sequer saber como lutar, é filho do deus do vinho, o que isso faz de mim? Filha da deusa das laranjas? Quer que exista alguma deusa das laranjas.

━━━━ Sim, Peter.

Bom, que paizão.

━━━━ Percy.

━━━━ Exatamente. ━━ Sr. D resmunga como quem não quer nada, relaxando novamente na cadeira. Posso não ser uma especialista em relações sociais, muito menos paternas, mas acho que não é assim que pais devem agir. ━━━━ Antes de nos conhecermos melhor, há algo muito importante que quero que faça para mim, tudo bem?

O loiro concorda sem nem pensar duas vezes, apesar de parecer confuso com tudo isso. Eu também estaria. Aparentemente, Grover também está.

Me aproximo do sátiro e o cutuco discretamente, erguendo uma sobrancelha em questionamento. Ele dá de ombros, sem saber o que me dizer. Estou cada vez mais confiante de que isso é uma alucinação em conjunto.

━━━━ Na cozinha, há uma garrafa de Château Haut-Brion de 1985. Consegue pegá-la para mim?

━━━━ Isso é tudo que tem a me dizer? ━━ Jackson questiona raivoso, e com razão.

Que tipo de pai Dionísio é? Abandona o filho sem suporte nenhum e depois volta pedindo por vinho? Minhas expectativas sobre a minha suposta família estão cada vez menores.

━━━━ Sr. D, mesmo que Percy fosse... ━━ Grover tenta explicar, dando um minúsculo passo para frente, porém, é interrompido.

━━━━ Grover, silêncio. Não estrague esse momento especial. ━━ Sr. D diz, mas ele é o único que parece pensar que esse momento tem algo de especial. ━━━━ A cozinha fica naquela direção. Busque a garrafa e falarei sobre o que quiser.

━━━━ Cara, vai pegar você. ━━ Rebato, irritada, me posicionando quase à frente de Percy.

Explicar o que sinto é difícil. Só sei que tenho uma enorme necessidade de proteger Percy Jackson de todo o mal, mesmo que isso signifique lutar contra deuses.

Contudo, o Sr. D apenas revira os olhos e me ignora, mantendo o foco no filho. Ele sorri desleixado, oferecendo para que conversassem sobre qualquer coisa. Tenho que me conter para não xingá-lo, afinal, o cara ainda é um deus, não importa o quão babaca seja. Pelo canto dos olhos, consigo ver Percy considerando a oferta — tão desesperado por atenção paterna que está disposto a ir. Eu odeio o Sr. D por fazê-lo passar por isso.

Infelizmente, tenho enorme experiência com pais ausentes. Não desejo a sensação para ninguém, é tortura sem fim. Por tanto tempo, achei que eu tivesse feito algo para o afastar, mas o que sequer poderia ter feito? Nasci amaldiçoada com o ódio de meu pai, um pré-requisito para minha existência. Posso não ser a melhor filha do mundo, mas eu era uma boa alma antes de ter o controle sobre quem sou. Não merecia aquele ódio, mas hoje sou quem sou por causa dele.

Às vezes me questiono se mudaria algo. O amor do meu pai teria me tornado uma pessoa diferente? A presença da minha mãe me faria mais feliz? Talvez, sim, talvez não. Seja como for, eu provavelmente não estaria aqui, ou sentiria tudo que eu sinto.

Será que existem outros como eu? Outros que poderiam ter sido salvos caso os pais fossem melhores?

De repente, um som chama a atenção, estranhamente similar a um cavalo. Dessa vez, sei que não sou maluca, pois todos se viram para a fonte do som, o que me deixa maluca, todavia, é dar de cara com um homem cavalo. Sim. Estou falando de um centauro. Não, eu não sou usuária de alucinógenos.

O corpo de Percy se recua próximo ao meu, em choque. Demoro longos minutos de silêncio constrangedor para reconhecer que o centauro é, também, o professor cadeirante e velho que vi no museu. Quantos amigos metade animal Percy Jackson tem?

Minha vida só melhora!

━━━━ Eu acho que estou ficando maluca. ━━ Murmuro, quebrando o silencioso feitiço em que estávamos.

Apesar do meu horror, o homem cavalo se mantém calmo. Ele me observa silenciosamente, mantendo o olhar preso na adaga em minhas mãos antes de voltar seu foco ao meu rosto.

━━━━ Helena. ━━ Diz, tom autoritário e delicado ao mesmo tempo. Depois, analisa Percy da mesma maneira que fez comigo. ━━━━ Percy.

━━━━ Sr. Brunner?

━━━━ O nome verdadeiro dele é Quíron. ━━ Grover explica tal qual um guia turístico, sorrindo de orelha a orelha ao se posicionar entre mim e Percy. ━━━━ Diretor de atividades do acampamento, treinador imortal dos heróis, ele é...

━━━━ Obrigada, Grover. Eu continuo daqui. ━━ O homem cavalo, Quíron, interrompe. ━━━━ Percy, deve estar sendo difícil processar tudo isso.

━━ Claro que não. Quer dizer, você é um cavalo, meu pai não fala comigo a menos que lhe traga uma bebida e a garota menos estranha daqui tem uma adaga reluzente. Nada fora do normal e do esperado.

Se Grover não estivesse entre nós, teria acertado Percy Jackson com um tapa na cabeça. Sei que sou estranha — eu falo isso o tempo todo — mas o garoto não tem o direito de criticar minha adaga! É fora do comum, claro, mas é linda. E muito útil. Quer dizer, mal tive a oportunidade de usá-la, mas aparenta ser bem útil.

Além de que, ela pertencia à Helena de Troia. A heroína favorita de Ivy.

Quíron parece levemente horrorizado, por alguns segundos pensei que fosse minha adaga, mas ele está encarando Sr. D com certa raiva, então suponho que seja culpa do homem.

━━━━ Não, não, não. Sr. D não é seu pai.

Congelo no lugar em choque, estou cada vez beirando a insanidade. Nada faz sentido.

━━━━ Poderia ser. ━━ Sr. D contraria, dando de ombros com um sorriso amarelo no rosto.

━━━━ Sim, mas não é.

━━━━ Por que você é um estraga-prazeres?

━━━━ Ele sabe que Zeus o proibiu de consumir álcool. Mas os semideuses podem fazer favores aos deuses, mesmo que o deus seja proibido de fazer. Sr. D estava se aproveitando da situação.

Encontro o olhar de Percy, rapidamente percebendo como seu coração quebra em pedacinhos. Se Sr. D não fosse um deus, eu não me importaria de socá-lo agora.

━━━━ Percy e Helena, venham comigo, vamos recomeçar. ━━ Quíron oferece, abrindo espaço para que passássemos ao lado.

Confesso que não estou preparada, mas após compartilharmos olhares hesitantes, Percy e eu obedecemos. Grover se move para nos seguir, mas é parado pelo centauro. Medo me consome, mas, no fim das contas, acredito que seja melhor assim.

Caminhamos juntos pela costeira, a brisa leve batendo nos cabelos e relembrando da pureza do ar aqui. Parece que estou em outro planeta, onde as árvores têm cores vivas e a água bate contra as rochas com certeza e delicadeza. Os campos são enormes, mas não canso de andar.

━━━━ Este é um vale sagrado, crianças. Os humanos não podem vê-lo, os monstros não podem adentrá-lo e o mundo não pode tocá-lo. ━━ Quíron explica, trotando — seria essa a palavra? — pelo vale conosco. ━━━━ Trazê-los aqui exigiu muito cuidado e grandes sacrifícios. Você, Helena, não fazia parte do plano até nos encontrarmos naquele museu. Foi sorte ter ido quando foi, ou talvez teríamos a encontrado tarde demais.

Ao mesmo tempo que estou encantada, tento prestar atenção em suas palavras. Saber que não fazia parte do plano me deixa um pouco chateada, isso quer dizer que não me queriam aqui? Se bem que, como o próprio centauro disse, foi sorte. Eles não sabiam sobre mim até dias atrás, tive sorte de ter trombado nesse caminho.

Sorte.

Sorte.

Não sei se gosto dessa palavra. Achei que com os deuses tudo fosse destino, não sorte. Existe uma diferença entre essas duas coisas? E se minha aparição aqui foi só isso? Sorte? Então, o que será do meu destino?

━━━━ Obrigada. Eu acho.

━━━━ Preciso te contar uma coisa. ━━ Percy comenta, me poupando do constrangimento. ━━━━ Perdi sua caneta-espada. Espero que tenha outra.

━━━━ Caneta... O quê?

━━━━ Veja no seu bolso. ━━ Quíron responde calmo, ignorando minha pergunta.

━━━━ Não, eu a perdi na outra noite, na colina.

━━━━ Veja no bolso. ━━ Repete, dessa vez mais devagar.

O garoto obedece e checa o bolso, tirando uma caneta de lá. Agora as coisas fazem mais sentido, eu a reconheço da batalha de ontem. Uma caneta que se transforma em espada — que adorável.

━━━━ Ao menos que se renda, ela sempre encontrará o caminho até você. Objetos mágicos não obedecem às leis da física do mundo normal. Sua caneta, minha cadeira de rodas e a adaga de Helena fazem parte do mundo de seus pais, assim como vocês. Quero mostrá-los algo.

Sorrio a menção da minha adaga, mas questiono quais seriam suas capacidades. Será que ela também volta? E se eu a arremessar agora para longe? Não seja tola, Helena. Penso, acelerando o passo para acompanhar os dois. Se arremessar, ela vai, no máximo, matar alguém. Mas, tudo bem. Existem muitas maneiras para tornar algo em especial, por exemplo, aniversários são especiais, mas somente se tiver pessoas legais para comemorar contigo.

Caminhar por este vasto acampamento me faz pensar no que mais é especial. Se todos aqui somos semideuses, então, ser filho de algum deus não é nada especial.

Quando desacelero, noto o lugar ao nosso redor. O matagal é mais fechado e as águas estão distantes, mas me sinto tão livre quanto. Adolescentes e crianças perambulam de lá para cá, vestindo a camiseta laranja com o símbolo do Acampamento Meio Sangue exposta bem no centro. São tantas pessoas que me sinto claustrofóbica. Porém, ao mesmo tempo, me sinto acompanhada — sabe aquela sensação de finalmente não estar mais solitária?

━━━━ Doze chalés, para doze deuses do Olimpo. Cada chalé é lar dos filhos reclamados por seu pai.

Chalés diferenciados e enormes preenchem grande parte da minha vista. Contudo, não são aqueles chalés artificiais no meio do nada. São altos, de madeira e revestidos de vegetação e detalhes incríveis, como se fossem esculpidos por espíritos da natureza com a ajuda de alguns deuses ali e aqui. No topo de cada chalé há o símbolo de um deus, acredito que delimitando de quem é qual.

━━━━ Legal! Para qual eu vou? ━━ Percy pergunta, observando os chalés com olhos arregalados.

━━━━ Eu gostei daquele. ━━ Aponto para o chalé na distância, o desenho de uma coruja no topo. Alguns campistas entram e saem, mas, de qualquer modo, o chalé continua esbravejando poder.

Corujas são símbolos de alguma deusa, mas não consigo lembrar qual das. Acredito ser Atena, o que faria sentido, afinal, apenas a deusa do artesanato para construir algo tão naturalmente belo.

━━━━ Você ainda não foi reclamado, Percy. ━━ Quíron explica, respondendo à pergunta anteriormente feita. ━━━━ Nenhum de vocês foi.

━━━━ E quando isso acontece? ━━ Ouso questionar, apesar de me sentir pequena ao lado do centauro.

Além das suas patas enormes, o diretor transborda força e poder. Uma autoridade que te faz querer obedecer, não importa o que aconteça.

━━━━ Os deuses revelam seus desígnios no seu próprio tempo. Seus pais podem reclamá-los amanhã, semana que vem ou até mesmo...

━━━━ Nunca. ━━ Percy supõe, encarando Quíron com olhos brilhantes de lágrimas que ameaçam cair. ━━━━ Mesmo com tudo que aconteceu, ele ainda não quer nada comigo. O que estou fazendo aqui? Não há lugar para mim.

Tenho vontade de o abraçar. Percy é apenas alguns centímetros mais alto que eu, mas sinto que é meu trabalho protegê-lo dos males. A vida não foi justa com ele, ou comigo, mas eu posso consertar isso. Posso consertar ele.

Não que Percy Jackson precise de conserto. Não, ele é perfeito desse jeito. Todavia, aquele sentimento que te corrói de dentro para fora, aquela dor incessante de solidão e desespero, eu posso impedir. Posso poupá-lo de tal destino se interromper o ciclo agora, se o mostrar que não precisa do bastardo — não peço desculpas ao deus que ofendi, você mereceu — do pai para ser alguém.

Não somos nossos pais e não precisamos deles. Eu não preciso dele. Eu não preciso de ninguém.

É uma mentira que eu gostaria de fazer Jackson acreditar, para tapar o buraco no peito.

━━━━ Há um lugar para você. Aqui. ━━ Quíron gesticula para um dos chalés, sorrindo com certa leveza. ━━━━ Hermes, deus dos viajantes. O chalé dele é o lar dos próprios filhos e daqueles não reclamados.

Receosos, adentramos o tal chalé. É grande e bem bonito, apesar de cheio de adolescentes conversando. Terei de aprender a conviver com pessoas se quiser sobreviver.

O mais velho tenta e falha em chamar a atenção das pessoas, causando um enorme pânico em mim. Corro os olhos pelo local, notando algumas pessoas sorrindo e conversando como se hoje fosse apenas mais uma segunda-feira. No canto, um grupo de garotos sussurram entre si, passando papéis de mãos em mãos. No outro lado, uma dupla de garotas pequenas brincam com bonecas ao mesmo tempo que arrumam o cabelo.

Uma sensação estranha de conforto forma um sorriso em meus lábios. Assim que percebo, contudo, tento disfarçar.

━━━━ Atenção, pessoal. ━━ Batendo os cascos, ou patas, no chão, o centauro consegue silenciar o cômodo. ━━━━ Esses são Percy Jackson e Helena Vega. Sei que os ajudarão com o que for preciso.

Minhas bochechas estão vermelhas, envergonhadas com a repentina atenção. Percy parece compartilhar essa vergonha, mas não estou o observando direito para ter certeza. Estou mais focada nos outros, na maneira simples como nos aceitam e voltam aos seus afazeres.

Estão contentes. Talvez eu tenha uma chance de felicidade aqui.

━━━━ Você se sente impotente agora, mas não é. Tudo se revelará com o tempo.

As palavras direcionadas a Jackson são recebidas com um sorriso falso. Claramente, o garoto ainda está processando tudo. Desde a descoberta sobre o pai, até a perda da mãe. Não consigo imaginar como é estar no lugar dele.

━━━━ E você, Helena. ━━ O centauro se vira para mim, causando um frio arrepio em minha nuca. ━━━━ Deveria aprender com Percy a extravasar esses pensamentos, é melhor do que mantê-los em cativeiro.

Não sei o que dizer, mas tento não revelar o quão desconfortável isso me fez. Está sugerindo que sabe ler minha mente, ou apenas que sou quieta demais? Os dois?

Nunca fui alguém de conversar. Nunca tive ninguém para me ouvir, mesmo com Henry e Ivy — eles não entenderiam. Ou, ao menos, me convenci disso. Coloquei em minha mente que posso apenas confiar em mim, o que é uma mentira, afinal... Melhor nem dizer. Certas coisas não foram feitas para serem expostas. O que precisam saber é: nunca confiem em ninguém. Todos podem mentir, especialmente por meio de páginas.

Seja como for, preciso aprender que nem todos são como eu imagino se pretendo sobreviver. Semideuses não são muito sortudos, apenas leia a história de Hércules ou Perseus. Até mesmo quando ganham, perdem algo. Não sobreviverei a uma luta como aquela se não houver alguém comigo, alguém que possa confiar.

Alguém como Percy.

━━━━ Te chamou de tagarela. ━━ Murmuro para o garoto, esperançosa de que isso o animará.

O Jackson revira os olhos com um sorriso fraco, caminhando na direção de nossas mochilas sem me responder.

Imediatamente checo meus objetos, mais especificamente meu diário de sonhos. Está lá, intacto, assim como o deixei, escondido no segundo bolso ao lado da minha caneta favorita. Ela pode não se transformar em espada, mas me acompanhou por diversos desafios e foi um presente de meu pai.

Bom, foi mais um "Fique com essa para fazer suas tarefas, depois compro uma nova." mas assumi que era um presente. O mais próximo que tive de um.

Sussurros chegam aos meus ouvidos como as vozes que me assombram durante a noite. Dessa vez, entretanto, as vozes conversam sobre como somos corajosos e sobre a vitória de Percy Jackson contra a feroz besta conhecida como Minotauro. Não ouso olhar para trás — não sei o que mais me assusta: a ideia de estar esquizofrênica, ou a possibilidade de ter pessoas reais me observando — mas encontro os olhos azul oceano de Jackson, um suspiro escapando da boca do mesmo.

━━━━ Se quer pegar no meu pé, deixe isso para amanhã. Já estou cansado hoje. ━━ O garoto se defende, levantando de braços cruzados ao ver o grupo que se aproxima.

Antes, eu acreditava que quando conhecia pessoas novas deveria dizer "olá" ou "boa tarde", mas, aparentemente, no mundo de Percy, as coisas são diferentes. Eu repito o ato de me levantar e cruzar os braços, incerta do que devo fazer. E se eles implicarem conosco? Devo chamar Quíron ou vou parecer uma chata?

━━━━ Escutei o que aconteceu na colina. Eu só... queria dizer que sinto muito. ━━ Um dos garotos do grupo diz, cabelos castanhos caindo em cachos sobre os olhos, também castanhos. Ele usa a mesma camisa alaranjada que vi nos outros, mas se destaca pela cicatriz abaixo do olho. ━━━━ Sei pelo que está passando. Acredite. Meu nome é Luke.

Todas as imagens ruins que assumi desapareceram, facilmente caindo pelos encantos de Luke. O sorriso gentil, o tom de voz sincero, os olhos curiosos. Todas as características de Luke me fazem querer o abraçar, como naqueles filmes onde a garota sabe que encontrou a nova melhor amiga. Contudo, devido às diversas pessoas atrás dele, me encolho por trás de Percy. Meu jeito discreto de pedir por socorro.

Atrás de Luke, com um sorriso tão aconchegante que me lembra Ivy, uma garota asiática de longos cabelos pretos acena para nós. Veste a mesma camisa, mas com shorts jeans curtos, manchados de pingos brancos de tinta, formando uma espécie de galáxia na cintura. Ela parece ser legal, assim como o moreno, mas muito mais carinhosa. Como uma mãe.

━━━━ Não tiveram as melhores boas-vindas ao acampamento, mas queremos tornar tudo isso o melhor possível. ━━ Diz, voz doce como algodão. O calor que emite da desconhecida é o mesmo de Ivy, o que me faz questionar se isso é um pré-requisito para pessoas boas. ━━━━ Eu sei que não é fácil, mas não estão sozinhos. Eu sou a Morgana.

Não hesito em sair do meu esconderijo, assistindo curiosa quando Percy se apresenta e aperta a mão estendida de ambos e faço o mesmo. Os olhos de Morgana me analisam cuidadosamente, sorrindo para mim. Me sinto acolhida, não somente pelo acampamento, mas por ela.

Sabe quando sente o estômago revirar, mas de modo que acha que vai vomitar borboletas e arco-íris? É exatamente como me sinto. Não esperava que tão facilmente me sentiria confortada por dois desconhecidos, mas é uma sensação que não trocaria por nada. Talvez sejam irmãos mais velhos, li em algum lugar que isso influencia o comportamento das pessoas e irmãos mais velhos têm a tendência de querer cuidar e proteger as pessoas. Compartilham um carinho especial, tornando as pessoas ao redor especiais também.

Após doze longos anos me sentindo como uma abominação, me sinto especial. Me sinto acolhida por Morgana e Luke.

━━━━ É bom conhecer vocês, novatos.

É bom conhecer você também, Luke. Penso, medrosa demais para responder em voz alta Espero não me decepcionar.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro