iv: ameaçei um moleque e ele abaixou as calças.
Assim que cheguei em casa, escondi a adaga debaixo de uma folha qualquer na mesa da sala. Não sei como Ivy não a notou, mas também fiz o meu melhor para a esconder durante a viagem de volta. Quis trocar minhas roupas sujas assim que cheguei, mas esperei que minha babá estivesse pronta para sair só para não correr o risco de ela ver a arma branca que eu trouxe para casa.
━━━━ Vou buscar seu irmão na escola, beleza? ━━ Mckinnon me avisa, pegando as chaves do carro. Ela apenas comeu e ainda usa as mesmas roupas de antes. ━━━━ Não faça nada estúpido até eu voltar.
━━━━ O que eu sequer poderia fazer? Está levando toda a estupidez contigo. ━━ Sorrio, me sentando no meu canto do sofá.
Não é como se eu tivesse trago uma adaga para casa, não é? Sou apenas uma pobre garotinha com ansiedade social, Ivy não precisa se preocupar. Nem um pouquinho. Quer dizer, eu acho que não, apesar de ter uma faca que supostamente não existe na minha casa, não fiz nada estúpido ainda.
Ivy deixa um beijo delicado na minha testa e se despede uma última vez, fechando a porta atrás de si. Aproveitei o momento para me acalmar, respirando profundamente. Confesso que tenho medo de checar debaixo das folhas e perceber que foi tudo uma alucinação e que sou uma idiota com imaginação fértil, assim como todos me disseram nos últimos doze anos.
Os anseios consomem o meu peito. Eu já errei, e muito, na vida e não quero que isso seja outro erro. Estou farta de tomar as decisões erradas e escolher um caminho que eu não gostaria de caminhar somente por medo. Nós deveríamos ser livres para viver a vida que queremos viver, contanto que isso não seja a custo de outras pessoas, mas como vou viver se tenho medo até de pisar para fora de casa? A visita ao museu será a última do mês, talvez até do ano, e tudo isso porque tive pesadelos vívidos com monstros me perseguindo e meu pai apenas me tirou da escola.
Ah, falando do diabo. Meu pai é complicado. Gosto de fingir que não sou afetada pela distância dele, mas é claro que sou, como não? Nunca conheci minha mãe, tudo que eu tinha era meu pai, Charles Vega, médico reconhecido pelo seu trabalho e talento. Aparentemente ele não tem o talento da paternidade. Não me lembro sequer da última vez que o vi, está sempre chegando tarde e acordando cedo para trabalhar. Acho que ele faz de propósito para me evitar.
Eu não o entendo, para ser sincera. Nunca fiz nada, mas meu pai sempre me destratou, parece até que não sou sua filha. As coisas eram diferentes com Henry quando ele nasceu, me lembro vagamente, mas sei que Charles esteve presente nos primeiros anos da infância do meu meio-irmão, até que a mãe dele nos abandonou e meu pai, assim como fez comigo, largou o garotinho. Pelo menos ele ainda fala com Henry e o chama de filho, coisas que ele nunca fez comigo direito. Mal consigo me lembrar da mulher, mas sei mais sobre Prim Blofis do que sobre minha própria mãe — cujo nome eu nem sequer sonho em saber. Eu faço questão de tornar a vida do meu irmão a melhor possível, mas é difícil. Sinto que não sou uma irmã mais velha boa o suficiente.
A minha vida é complexa, eu já aceitei. Pelo menos sei que não tem como piorar.
Uma batida na porta me desperta de volta ao mundo real. Ivy por acaso esqueceu sua chave? Caminhei devagar até a porta, mas a abro sem muita cerimônia.
━━━━ Esqueceu a chave de novo?
━━━━ Não...? ━━ O garoto na minha frente hesita, inclinando a cabeça para o lado em confusão.
Não é Ivy.
O garoto do lado de fora do meu apartamento é um adolescente da minha idade, cabelos castanhos encaracolados e pele escura. Não é um cara qualquer, eu já o vi antes. Hoje mesmo! Naquele museu! É o amigo de Percy Jackson que teve uma fatia de queijo arremessada no rosto. Ele me encara, claramente ofegante.
Fecho a porta no mesmo instante que percebo.
━━━━ Espera aí! ━━ Ele empurra a porta aberta, tentando entrar na minha casa. ━━━━ Por favor, não feche a porta!
━━━━ Saí daqui, maluco!
Não sou muito boa com física, mas acredito que nossas forças estejam se anulando. Ou talvez ele esteja ganhando, mas se eu não te contar isso, não tem como você saber.
━━━━ Você tá me seguindo! ━━ Continuou empurrando a porta, tentando o expulsar dali.
Como foi que ele chegou até aqui? E por acaso estava esperando Ivy ir embora para se revelar? Que garoto maluco. Não faço ideia do que ele quer, mas prefiro não descobrir.
━━━━ Calma, tem um motivo! Eu posso explicar!
Ele me empurra de vez e consegue entrar, cambaleio para trás, horrorizada com o invasor. Eu estava errada, tem sim como a minha vida piorar, um adolescente da minha idade pode me matar na minha própria casa.
Assim que reganho meus sentidos, corro até a mesa e espalho os papéis, encontrando a adaga — graças à Deus — e a erguendo diante do moreno. É a primeira vez na vida que ameaço alguém com uma adaga, principalmente com uma que, supostamente, só eu vejo, porém acho que está funcionando, pois o garoto arregala os olhos e ergue as mãos para cima. Ou ele me acha uma esquizofrênica maluca, ou também está vendo a adaga cintilante em minhas mãos trêmulas.
━━━━ Pera aí, de onde você tirou essa adaga? ━━ O moreno me encara surpreso, ainda com as mãos para o alto.
Ele inspeciona o item como se já o conhecesse. Vejo o desconhecido tentando se aproximar, mas ele desiste, continuando com os olhos arregalados e os alternando entre mim e a adaga.
━━━━ Você tá vendo ela?
Que pergunta estúpida, Helena! É claro que ele está vendo, só pela reação do garoto eu já deveria ter chegado a essa conclusão.
━━━━ Claro que estou vendo ela! Você tá tentando me matar com ela! ━━ Ele praticamente grita, voz aguda como de uma garotinha assustada.
Bom, não posso culpá-lo por essa resposta, afinal, eu disse quase a mesma coisa para mim mesma. Mas não quero matá-lo, só estou tentando me defender de um invasor e stalker.
━━━━ Eu não... Quer dizer, estou mesmo! Fique longe de mim! ━━ Decido fingir, mas não acho que estou enganando ninguém. Me aproximo um pouco e ele dá alguns passos para trás, claramente assustado.
Consigo ver as engrenagens do cérebro do garoto rodopiando por debaixo da sua terrível touca cinza. Não consigo entender o motivo pelo qual ele encara tanto aquela adaga. Sei que ela não é comum, com sua lâmina de bronze reluzente e o punho feito de madeira polida, mas ele não está assustado. Pelo contrário, parece confuso, como se não fosse para isso acontecer.
Como se soubesse algo que eu não sei.
━━━━ Aí não... Isso não é uma boa notícia, mas o importante é não surtar!
━━━━ O que? ━━ Questiono, agora confusa. O pé do moreno bate no chão como se fosse explodir a qualquer momento, acho que quem está surtando é ele.
━━━━ Pode abaixar a adaga?
━━━━ Você me seguiu e invadiu minha casa.
━━━━ Isso é um não?
Minha expressão de choque não é nada surpresa. Sinceramente, estou indignada com a ousadia dele, primeiro invade minha casa e agora está agindo todo maluco. É a primeira vez que encontro alguém pior que eu.
━━━━ Olha, eu não sei como te dizer isso mas...
━━━━ Desembucha! ━━ Eu reclamo quando ele para de falar, reerguendo a adaga para o relembrar da ameaça.
━━━━ Calma! Beleza. O importante é não surtar. ━━ O moreno respira fundo, tendo clara dificuldade de se controlar. ━━━━ Meu nome é Grover.
━━━━ O que você tá fazendo aqui, Grover? ━━ Questiono, abaixando levemente a guarda.
━━━━ Eu vim te buscar.
Esquece. Não devo abaixar nem um pouquinho a guarda. Me aproximo com a adaga em mãos e Grover solta um grito fino que poderia me convencer de que ele é uma garotinha de sete anos.
━━━━ Calma! Calma! ━━ Ele implora, se afastando de mim. ━━━━ Eu sou um sátiro!
Preciso repetir as palavras dele para me certificar de que ouvi certo. Um sátiro, ele disse. Grover me disse que é um sátiro. Não consigo conter minha risada desacreditada, realmente encontrei alguém pior que eu. Muito pior.
Aproximo a faca novamente, não sei que jogo maluco é esse mas não vou deixá-lo me enganar.
━━━━ Você tá maluco. Estou sonhando? Ou você só é maluco?
━━━━ Não é um sonho! Eu sou real. Olha! ━━ Grover, num ato apressado, abaixa as próprias calças.
Deixo um grito assustado escapar dos meus lábios, tentando cobrir os meus olhos o mais rápido possível, mas é meio difícil de raciocinar com uma adaga na mão e um maluco a sua frente. Por sorte, ou azar, consigo avistar as pernas dele antes de tampar minha visão, e o que eu encaro não são pernas. Definitivamente não.
No lugar de pernas, Grover tem patas de bode. Eu sei que isso soa maluco, tanto que nem eu acredito bem no que eu vejo, mas eu tenho certeza que é isso que estou vendo.
━━━━ O que está acontecendo aqui? ━━ Escuto a voz extremamente assustada de Ivy e a vejo fechando a porta atrás de si. ━━━━ Helena, quem é esse?
━━━━ E cadê as calças dele? ━━ Henry questiona ao lado dela, tampando os olhos com a lancheira da escola.
Sinto minhas bochechas escurecerem, percebendo o quão terrível isso deve parecer para alguém de fora. Quer dizer, é ruim de qualquer jeito, mas pior ainda sem o contexto.
━━━━ Desculpa por isso. ━━ Grover se desculpa, subindo as roupas rapidamente. ━━━━ Essa é sua mãe?
━━━━ Sou sua responsável. Por que? ━━ Ivy responde, seus olhos alternando entre nós dois.
Espera, ninguém viu minha adaga? Ou as patas de bode de Grover? Isso é impossível. Eu devo ter cometido algum pecado na vida passada e agora estou pagando por ele. É isso. Só pode ser.
━━━━ Acho que preciso falar com você sozinha, Helena.
━━━━ Quem é você mesmo? ━━ Mckinnon interrompe, se aproximando como se estivesse pronta para jogar o menino pela janela.
━━━━ Grover Underwood, senhora.
━━━━ Credo. ━━ Henry revira os olhos, largando seu material e escapando entre nós para se sentar no sofá. ━━━━ Ela não é velha. Não precisa chamar de senhora.
Grover não parece saber bem o que fazer com essa informação, talvez seja por causa do olhar ameaçador de Ivy, como se o desafiasse a seguir o conselho de Henry. Ele é inteligente o suficiente para ficar calado, esperando um movimento da minha babá antes de fazer qualquer outra coisa. Os acontecimentos recentes estão frescos em minha mente e sei que nem Ivy nem meu irmãozinho vão acreditar, então faço algo que sei que não deveria e agarro o braço do moreno, o puxando para perto.
━━━━ Eu e Grover precisamos conversar. ━━ Digo sem mais nem menos e o arrasto para o meu quarto no final do corredor, ouvindo e ignorando as vozes de Mckinnon e Henry. ━━━━ Anda logo, me explica isso.
━━━━ Sua mãe é assustadora.
━━━━ Eu sei.
━━━━ Seu pai é mais ainda.
Travo na menção do meu pai. Como é que um adolescente que acabei de conhecer sabe sobre o meu pai? Me lembro da adaga em minhas mãos e à ergo novamente em direção ao garoto bode.
━━━━ De novo? ━━ Grover choraminga, erguendo as mãos como antes. ━━━━ Por favor, abaixe isso.
A luz natural está diminuindo aos poucos no quarto, com a carruagem do sol sendo levada para o outro lado do mundo. Ele checa o seu relógio, também percebendo a falta de iluminação no cômodo e um suspiro aliviado escapa seus lábios. Aparentemente, Grover não está atrasado para nada.
━━━━ Como o conhece? Como conhece meu pai? ━━ Não rendo a minha arma, mas minha voz revela que estou mais confusa do que irritada.
Estou irritada também, mas não é com ele. É com Charles. Por que um sátiro que eu nunca ouvi falar da vida conhece o meu pai? Ele prefere fazer amizade com seres mitológicos do que sua própria filha.
━━━━ Bom, é... Não sei se ele é mesmo seu pai, estou chutando... Quer dizer... Bom, não sei como dizer isso. ━━ Underwood coça a nuca, despejando o peso do seu corpo para a pata esquerda.
Não entendi absolutamente nada do que ele acabou de dizer. Como assim não sabe? Chutando? O que ele está chutando, além do meu estômago revirado de rancor?
━━━━ Só fala, Grover.
━━━━ Como conseguiu essa adaga?
━━━━ Encontrei no museu junto a Helena de Tróia. Por que? ━━ Finalmente abaixo a arma branca, mas ainda mantenho o objeto seguro entre meus dedos.
Não revelo logo de cara toda a circunstância, mas algo em mim diz que Grover já sabe. Ele estava no museu também, no fim das contas. Saberia se a estátua de Helena segurasse ou não uma adaga reluzente.
Sinceramente, este garoto me intriga. Se é que posso chamá-lo assim, já que suas pernas são patas e, muito provavelmente, existem chifres debaixo do seu gorro feio. De todas as minhas alucinações e sonhos, essa é a de longe mais real. Ivy e Henry podem não ver as mesmas coisas que eu vejo, mas é real. Eu sei que é.
Tem que ser.
━━━━ O nome dela é Katoptris. Helena de Tróia era a dona, mas apenas a usava como um espelho, por isso o nome. ━━ Grover explica, olhos castanhos levemente arregalados. ━━━━ Perdemos essa adaga quatro verões atrás, ninguém soube o que aconteceu com a adaga desaparecida. Até agora.
Desvio meus olhos claros para a adaga em minhas mãos, notando seus detalhes e a analisando melhor. Era de Helena, e agora está nas mãos de uma outra Helena.
Helena de Tróia era a mulher mais bela da Grécia, filha de Zeus.
━━━━ Deuses são reais. ━━ Concluo o óbvio. Se sátiros e Helena não são mitos, duvido que os deuses sejam. ━━━━ Mas o que eu tenho haver com isso?
━━━━ Já ouviu falar em semideuses?
━━━━ Óbvio. São filhos de mortais e... Não. ━━ Balanço a cabeça em negação e a sinto arder com dor.
O cérebro é a parte mais importante de um corpo humano funcional. O coração bombeia o sangue, mas o cérebro age. Quando uma pessoa tem um AVC, ela pode inabilitar os movimentos, fala ou qualquer outra coisa que dependa dos nervos para acontecer. Nunca tive um AVC e não faço ideia de como é, mas, agora, ouvindo essas palavras saírem da boca de Grover, sinto que estou prestes a descobrir.
Os órgãos dentro do meu corpo frágil ainda funcionam e, mesmo que partido no meio, meu coração ainda bombeia sangue para o meu corpo. Este não é o problema. Os problemas surgem ao processar as informações. Meu cérebro está entupindo, assim como o de vítimas do AVC, e parando de funcionar. Vou morrer, seja agora ou daqui a sete anos, mas os responsáveis serão os mesmos dos que causam este momento: os deuses.
Estou caminhando em uma linha tênue entre imaginação e realidade e qualquer passo errado me levará para a morte.
━━━━ Acho que Zeus está te avisando que precisa de você. ━━ Grover continua a falar, sua voz abafada pelos meus pensamentos. ━━━━ Acredito que sua mãe não saiba, ou talvez ela só não me queira aqui. Não sei, mas o importante é não surtar!
━━━━ Zeus não é meu pai. ━━ Murmuro, olhos fechados com tanta força que quase os grudei juntos.
Queria que fosse. Pelo menos explicaria a ausência dele. "Desculpa filha, estava ocupado fazendo coisa de deus." ele provavelmente diria ao me ver, e eu o perdoaria. Por mais que eu queira o odiar, ainda sou apenas a filha do meu pai e sinto falta dele. Do seus abraços, piadas e amor.
Seu amor é o que mais faz falta, mesmo nunca o recebendo.
Porém, ao menos tudo seria explicado. Como poderia julgar meu pai por não estar presente se ele estava ocupado mantendo o Olimpo a salvo? Como poderia odiar um homem que estava me poupando dos pecados da vida de um semideus grego? Me salvando da morte iminente?
Mas papai não estava fazendo nada disso. Charles Vega é apenas isso: Charles Vega. Não é o deus dos céus, ou dono dos raios, é apenas um pai que odeia sua filha.
━━━━ Eu sei que isso é difícil, Helena. Eu sinto muito mesmo.
━━━━ Zeus não é meu pai. ━━ Repito, engolindo o choro. ━━━━ Charles é o nome dele, não Zeus.
━━━━ E aquela mulher?
━━━━ É minha babá. Ivy Mckinnon.
Um silêncio desconfortável toma conta do meu quarto. Grover analisa o cômodo, percorrendo os olhos avelã pelas paredes claras, preenchidas por desenhos do sistema solar. Estamos ambos em choque, creio eu. A descoberta que o sátiro jurava ter feito não é real, não sou o prêmio que ele procurava.
━━━━ Helena, você tem mãe? Quer dizer, a conhece? ━━ Ele questiona delicadamente, trocando o peso para a outra pata.
━━━━ Não. ━━ Sou sincera, fazendo o melhor para disfarçar o desconforto. ━━━━ Mas ela não é uma deusa.
Vejo que Grover está prestes a me perguntar algo, mas eu o interrompo, atravessando o meu quarto para pegar um objeto debaixo do meu colchão. Retiro um caderninho, mostrando-o para o garoto sem muita cerimônia. Aceitei meu destino.
Serei para sempre uma mulher louca.
━━━━ São sonhos. Tudo isso é um sonho.
━━━━ Helena, não é um sonho. Quanto tempo seus sonhos duram? Você não se lembra do que aconteceu no museu? ━━ Grover se aproxima, pegando o caderno e o arremessando na cama.
Eu me lembro bem, mas também me lembro de que Grover não lembrava. Ele afirmou que Percy era louco, quer dizer, não disse nada sobre mas agiu como se o loiro estivesse inventando coisas.
━━━━ Eu não entendo. ━━ Confesso, agarrando meu caderno com força. Queria provar que eram sonhos, mas também não quero revelar minhas anotações. ━━━━ O que tem de errado comigo?
━━━━ Nada, Helena. Ser semideus não é um erro.
Mas eu não acredito no que ele diz. Ninguém pode me convencer que ser filho de um deus grego não é um erro, um defeito ou um azar. Qual sequer é a vida de um semideus? O que eu faço? Como eu vivo? Como eu estudo?
━━━━ Olha, é tudo muito complexo. ━━ Grover tenta me confortar, abaixando o seu casaco quando a ventania fortalece la fora. ━━━━ Mas preciso de você. Precisamos ir para o Acampamento Meio-Sangue, são para pessoas como você, lá tudo fará sentido.
━━━━ O que? E minha família?
━━━━ Não dá tempo de esperar. Um monstro pode estar te rastreando agora. ━━ Ele continua, apontando para uma mochila jogada no pé da cama.
Eu tenho tantas perguntas, mas não acho que Grover é o melhor para responder. Não sei o que fazer, sentir ou sequer pensar. Será que devo pesquisar na internet "Top maneiras de lidar com o fato de que você é um semideus"? Estou ficando maluca, isso sim. Devo ter consumido algo muito ilícito no caminho para casa, ou, quem sabe, durante meu nascimento. Talvez minha mãe fosse na verdade uma drogada e agora estou vivendo com as consequências.
Talvez essa seja a pior decisão da minha vida. Só talvez.
━━━━ Beleza. ━━ Concordo, correndo para minha mochila e colocando tudo que vejo pela frente, inclusive meu diário de sonhos.
Eu odeio a ideia de deixar meu irmão e Ivy para trás, mas odeio mais ainda a ideia de simplesmente ficar. E se eu estiver deixando a maior chance da minha vida escapar? Se realmente sou filha de um deus, então esse é meu destino, certo?
É matar ou morrer. Deixar ou ter. Ficar ou ir. É sobre fazer escolhas, mesmo que sejam extremamente difíceis. No momento, não faço ideia da escolha que estou fazendo, mas sei que estou a fazendo. Acredito que Ivy me impedirá de sair pela porta, mas tudo bem, eu vou convencê-la. Eu vou conseguir.
Vou deixar Nova Iorque para trás e me tornar a heroína de filmes de ação.
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