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ii: esculturas e pesadelos.

Não gosto de sair de casa. Sinto como se todos os olhos estivessem em mim, horrorizados com todas as minhas ações. Não sei conviver em grupo, nunca fiz isso. Acho que é culpa minha também, meio que me neguei a pisar fora do meu apartamento por anos e nunca tentei fazer amigos em lugar nenhum. Sinto como se, desde o meu nascimento, meu destino sempre foi me isolar como meio de me proteger. Do que? Não faço ideia. Quando eu era pequena, sonhava com monstros malignos me perseguindo nas ruas de Nova Iorque, mas com o passar dos anos percebi que só estava sendo idiota.

━━━━ Helena, está bem? ━━ Ivy segura minha mão, seu tom gentil e baixo para evitar chamar atenção não desejada.

Quis dizer a ela que não, que a atmosfera da cidade grande me deixa com náusea e maluca. Meu estômago se contorce dentro do meu corpo, reajustando os meus órgãos até que não sobre mais espaço para o meu coração. Contudo, contar à Ivy a verdade significaria admitir que sou fraca demais para um passeio no museu, então, como sempre faço, minto. Abro um sorriso caloroso e aperto a mão dela, facilmente disfarçando meu incomodo.

Meus olhos arregalam ao notar a quantidade de pessoas em frente ao museu, dezenas de crianças da minha idade cercam o portão e gritam uns com os outros. Parecem animais de um zoológico após serem liberados para seu habitat natural.

━━━━ O que é isso? ━━ Questiono, tampando o rosto com o cabelo ao passar do lado de uma garoto moreno. Não faço a menor ideia de quem nenhum deles seja e prefiro que continue assim.

━━━━ Uma excursão. Aquele deve ser o professor, é melhor entrarmos antes deles para evitar atraso.

Não discuto com a mais velha, apenas acelero o passo para adentrar o enorme museu de vez. Ver as obras de arte definitivamente me ajudariam a acalmar, arte sempre foi um conforto. Entretanto, meus movimentos são impedidos pela mesma mulher que me mandou acelerar. Ivy, parada perto a porta, conversa com o cadeirante que apontou apenas alguns segundos atrás, não consigo ouvir direito o que ela fala, mas me viro para observar o professor discretamente. O homem de pele retinta e barba branca aparenta ser bem velho, mas eu não comento sobre. Dizem que é rude perguntar a idade das pessoas, mas eu chutaria uns cinquenta. Ou sessenta. Fiquei tanto tempo o julgando na minha cabeça que acho que ele foi capaz de sentir meu olhar queimando a sua pele, se virando para mim com os olhos semicerrados e curiosos, na mesma hora, virei para o outro lado. Espero que ele não tenha reparado.

Quem estou querendo enganar, acho que até o mais burro dos homens teria notado.

━━━━ Que foi? ━━ Questiona uma voz que reconheço rapidamente, seu tom preocupado. Ela deve ter notado meu susto. ━━━━ Você viu algo?

━━━━ Não foi nada não. Eu só me distraí. ━━ Minto novamente, sorrindo meio sem graça.

Espero que ela não tenha notado.

━━━━ Vem, temos muito a explorar.

Graças a Deus ela acreditou, sou uma ótima mentirosa, mas quando se trata da Mckinnon eu sempre falho. Parece que ela vê através de mim. Com passos apressados, minha babá volta a caminhar, me arrastando consigo. O museu é belíssimo, suas paredes de mármore branco e delicado chamam a minha atenção, quase tanto quanto as obras que residiam ali. As esculturas e artefatos exalam a energia histórica que carregam, apenas ao bater olho é fácil de saber que contém um passado profundo. Quero pegar todos com minhas próprias mãos e levar para mim, mas tenho quase certeza que estaria cometendo um crime.

━━━━ Que lugar lindo. ━━ Comento, sorrindo alegremente ao notar as diferenças entre as peças exibidas. Sempre tive uma conexão com a arte, principalmente com a pintura. ━━━━ Acho que quero viver aqui para sempre.

Consigo ouvir Ivy rir, deixando a minha mão mas me chamando para segui-la mesmo assim. Não vou mentir, a falta do toque da mais velha me deixa solitária, sinto um pedacinho do meu coração escapar entre os seus dedos. Por cima dos ombros, Mckinnon me analisa com aquele sorriso característico dela de quem já sabia como as coisas iriam acontecer. As vezes até mesmo me irrita o modo de como ela parece prever o futuro, ou pelo menos o meu. Talvez eu quem seja previsível.

━━━━ E não é que te avisei? ━━ Ivy implica, me guiando para um canto mais distante do tumulto que aos poucos aumenta. ━━━━ Venha, conheço obras por aqui que vão te encantar.

Evito me virar para o grupo de estudantes que adentra o museu, acelerando meu andar para acompanhar a minha própria professora-guia sem ter que me misturar com eles. É preciso muito — e quando digo muito, eu digo muito mesmo — esforço para ignorar os estudantes, suas vozes borbulham como sirenes de bombeiros após anúncio de incêndio. Essas crianças são piores que um zoológico.

Esbarro com a mais velha, só assim percebendo que ela já não zanzava os enormes corredores do local. Antes que pudesse me desculpar ou justificar minha falta de atenção, a loura sorri e me silencia.

━━━━ Não pense nisso. ━━ Dá de ombros, me agarrando pelos ombros e me vira para a escultura a sua direita. ━━━━ Olha esta, é uma das minhas histórias favoritas. Você sabe quem é?

Até onde me lembro, não tive nenhuma aula de adivinhação nos nossos últimos três anos juntas, mas é claro que não respondi isso a ela. Sou mais educada do que meus pensamentos. No lugar da resposta sarcástica, me permito um tempo para analizar quem é a pessoa na escultura e sua importância para a história, só assim para saber o que Ivy quis dizer.

A figura é uma bela mulher com vestes típicas da antiga Grécia, toda feita de mármore, seus cabelos eram curtos e encaracolados, sobre eles havia uma espécie de chapéu ou pano que cobria apenas a parte de cima. Em mãos, a garota segura uma bela adaga, mas que parece não pertencer ali. Como um erro na matrix ou algo do tipo. É uma linda mulher, de fato, mas não sei reconhecê-la apenas ao observá-la. Afinal, mitologia grega foi uma fase que deixei de lado quando parei de jogar MitoMagia aos oito. Estava prestes a dizer que não fazia ideia de quem era ou do que ela significava, mas meus olhos vieram de encontro com as palavras no pé da estátua. Estava pronta para forçar o meu cérebro à desembaraçar as letras e formar algo real, mas não precisei, pelo contrário, as palavras pareciam ter sido feitas justamente para que eu pudesse ler.

━━━━ Helena de Tróia. ━━ Digo, um sorriso se formando nos meus lábios.

Me lembro vividamente da história dela, fiquei obcecada ao descobrir que meu nome foi inspirado no dela, uma das poucas coisas que já conversei sobre com meu pai. As vezes eu me questiono quem realmente abandonou essa família, minha mãe quando nasci ou o meu pai após perder o seu grande amor. Balanço minha cabeça para expulsar os pensamentos autodepreciativos, focando na história de Helena e na sua grandeza.

Helena de Tróia foi uma figura essencial para a história da mitologia grega. Filha da rainha Leda com Zeus, deus grego dos céus, e esposa do rei Menelau de Esparta. A jovem possuía a reputação de mulher mais bela do mundo, o que eventualmente levou a sua fuga com outro homem e foi o estopim da guerra de Tróia. E assim, levando também ao famoso conto do cavalo de Tróia, um enorme "presente" entregue aos troianos que não passava de uma farsa e plano de ataque. Mesmo depois da vitória dos gregos, Helena é expulsa do reino pelo enteado e acaba morrendo.

━━━━ Ela é linda, não é? ━━ Ivy me pergunta, os olhos azuis brilhando de admiração. Parecia pronta para abraçar a escultura e tirá-la dali, mas faz isso com todas, então não é nada incomum.

━━━━ Ela é. ━━ Concordo, mas não consigo deixar de notar o quão deslocada a adaga fica comparada com a obra. ━━━━ Não sabia que ela tinha uma adaga.

━━━━ Ela não tem.

Apenas fico mais confusa, me virando para a loira com esperança de que isso fosse uma brincadeira. Eu não estou louca, tem uma adaga reluzente nas mãos dela! Está estranha? Sim, mas está ali.

━━━━ Mas ela tá segurando uma, Ivy.

━━━━ Do que está falando? ━━ Agora quem parece confusa é ela, me encarando como se eu tivesse acabado de dizer que tem um Minotauro ao meu lado. ━━━━ Pare com brincadeiras, você sabe que sou paranóica!

━━━━ Ivy, é sério! Como você não está vendo? ━━ Estou me segurando para não berrar, ou arrancar aquela adaga e esfregar na cara dela.

Isso de novo não! Eu odeio quando coisas assim acontecem, foi por isso, e outros motivos, que parei de sair de casa. Por que estou sempre imaginando coisas? Será que meu cérebro não pode funcionar normalmente uma vez? Parece que em todo lugar que vou enxergo as coisas erradas e que claramente não existem.

━━━━ Helena, tá tudo bem. ━━ A mais velha sorri, apoiando uma mão reconfortante no meu ombro. ━━━━ Você sempre foi muito sonhadora, às vezes você está imaginando.

Maravilha. Ela acha que sou esquizofrênica agora.

━━━━ É, você tá certa. ━━ Murmuro, me virando de novo para a escultura para não ter que encarar o olhar de confusão de Ivy.

Tudo seria muito melhor se eu tivesse dado certo. Eu não sei o motivo por trás de todas as minhas estranhezas, só sei que vão me assombrar pelo resto da vida. Acho que nunca vou evoluir muito. Penso que no máximo vou virar uma pintora não reconhecida, morrer uma morte trágica e talvez assim vire o proximo Van Gogh. Miserável na vida e aclamado na morte. Isso se eu chegar a ser aclamada em algum momento da pós-morte.

━━━━ Bom, tem um motivo pelo qual eu te trouxe aqui. ━━ Mckinnon diz, voltando a olhar a escultura com um sorriso. ━━━━ O passado nos ensina muitas coisas, Helena.

O tom dela muda mais uma vez, como fez hoje mais cedo na hora que me deu o colar. Parece mais frio e caloroso ao mesmo tempo, também carrega um peso, como se Ivy Mckinnon tivesse vivido duzentas vidas antes de começar essa. E eu sou a próxima na fila, alguém que precisa aprender tanto quanto ela.

━━━━ O que Helena de Tróia ensina? A não confiar em homens?

A loira ri, mas rapidamente nega. Talvez ela tenha vivido mesmo várias vidas e se lembre de cada uma delas. Talvez em uma vida passada, Ivy foi Helena, e agora está querendo me transformar em uma herdeira por carregar o seu nome. A diferença é que eu não sou filha de Zeus e estou longe de ser considerada a mais bela de Nova Iorque, então imagino que esteja segura.

Ou talvez eu esteja alucinando tudo isso, assim como fiz com a adaga.

━━━━ Também. Mas Helena representa mais que isso. Helena é culpa, tragédia e amor. ━━ Ela explica, admirando cada detalhe da estátua. ━━━━ Zeus nunca soube apreciar seus filhos. Ou os filhos alheios.

Quase a perguntei se Ivy conheceu Zeus alguma vez na vida, mas percebi que estaria interrompendo seu momento professora então deixei passar. Ela sempre foi muito fã de história, é a matéria que ela mais ama me ensinar, então deixei-a ter seu espaço. Seja lá o ponto de tudo isso. As vezes eu gosto de falar também, mas nunca tenho ninguém pra ouvir além de Ivy e Henry, seria injusto da minha parte interrompê-la agora por algo bobo. Além de que, é óbvio que Ivy nunca conheceu Zeus, ele nem sequer existe!

━━━━ Helena não foi protegida pelo pai, mesmo Zeus sendo capaz de intervir naquela batalha nem que fosse apenas pelo bem da sua filha. Todos os homens na vida de Helena acabaram a traindo, até mesmo aqueles que ela amava.

Me pergunto se é um destino de todas as Helenas do mundo. Ser deixada de lado pelas pessoas no qual confia. Se meu pai fosse Zeus e não fizesse nada para tentar me salvar, eu também ficaria irritada. Não importa se os deuses devem ou não intervir no mundo mortal, o mínimo que deveriam é proteger os próprios filhos, certo? Afinal, qual o ponto de trazer alguém para o mundo se vai abandoná-lo logo em seguida?

Acho que meus pais e os deuses gregos tem muito em comum.

━━━━ Os homens iniciam todas as guerras, mas a culpada por Tróia ainda é Helena. ━━ Ivy finaliza, virando-se para mim.

Suas palavras me fazem pensar. Ela está certa, a cidade de Tróia sempre retratou Helena como responsável. Muitos homens a culparam pela guerra, declarando que, se não fosse por ela, não teriam perdidos grandes heróis na longa batalha de dez anos. É uma mentira, pois Grécia tinha interesses econômicos quando travou aquela guerra, mas preferem culpar Helena do que admitir a própria responsabilidade. Não só isso, mas a semideusa é conhecida como Helena de Tróia mesmo sendo de Esparta. Confesso que tenho medo de ser assim, não que eu me imagine importante para a história, mas temo que se, caso algum dia escrevam meu nome em livros escolares, distorçam toda minha vida para encaixar nos ideais dos homens. Não quero ser distorcida, odiada e muito menos culpada.

Mas talvez essa seja a maldição das Helenas, talvez eu não consiga escapar da culpa.

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