𝟎𝟏: ❛A UNIÃO INABALÁVEL❜
─────── 𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐔𝐌 !
𝑡ℎ𝑒 𝑢𝑛𝑠ℎ𝑎𝑘𝑎𝑏𝑙𝑒 𝑢𝑛𝑖𝑜𝑛
24th DECEMBER, 1967.
ATHENS, GREECE ━━ AVERY MANOR
SENTADA EM FRENTE DA PENTEADEIRA, ATHENA ADMIRAVA SUA IMAGEM NO ESPELHO enquanto prestava atenção na história que Wogly — o único elfo da família que sabia ler — contava para si em forma de canção. A voz da criatura era esganiçada e às vezes, ele tropeçava nas palavras, mas de forma alguma tais erros tornavam o conto menos atrativo. Em todo ano, especificamente naquele dia, sua mãe ordenava que o elfo contasse contos para si e para quem quisesse ouvir, era uma espécie de tradição entre os gregos, uma data festiva que merecia ser lembrada. Athena nunca se opôs, apesar de saber dos contos de cor e salteado, ela gostava de ouvi-los.
Permaneceu a encarar-se no espelho, um olhar avaliativo demais para uma criança. O rosto um tanto rechonchudo e as bochechas levemente coradas, o nariz arrebitado respingado com sardas tímidas e os olhos coloridos, brilhavam como estrelas. A garotinha sentia um leve incômodo com o percurso que as mãos raquíticas da elfa estavam tomando, ela apertava o laço pomposo com uma força que chegava a ser dolorida. A cor do vestido não lhe agradava, mas Athena não reclamaria, era o traje que Hortella Avery havia escolhido para o início das comemorações e nada deveria confrontar suas ordens, nem mesmo os gostos de sua filha.
A pequena criança sentia-se extremamente ansiosa, mas contentava-se em demonstrar a explosão de sentimentos que povoavam dentro de si, apenas com um tímido sorriso. Recordava-se nitidamente de seu novo aprendizado, adquirido recentemente quando ela e seu padrinho andavam pelo grandioso jardim dos Black.
Era uma tarde gostosa de dezembro, e como em toda semana de festividades, os Black promoviam um chá de comemoração para as famílias aliadas, tudo ocorria bem para a garotinha, até que em meio ao diálogo com seu padrinho, o homem a impediu de correr juntamente aos seus amigos que brincavam livremente pelas flores exóticas do campo. As crianças amuaram-se, e não a incomodaram novamente.
Naquele dia, recebeu a ordem de que ela não deveria comportar-se como as demais crianças de sua idade, mais do que todos que a cercavam, ela era especial, e deveria agir como tal. Se dissesse que compreendia e compactuava com o novo aprendizado, seria uma grande mentira, Athena queria correr com seus amigos, participar das brincadeiras mirabolantes que Sirius e Rafe elaboravam, e poder sujar-se com o glacê das tortinhas de limão que o elfo Monstro fazia, sem receber olhares rígidos de seu pai, ou sermões de sua mãe.
Mal sabia Athena, que seus amigos não eram obrigados a ter estudos árduos e diários, e que seus pais não selecionavam professores para ensiná-los em casa, como seus pais faziam consigo. Desde cedo, sua infância foi recheada de aprendizados, e cronometrada em uma rotina perfeita, tudo para que a herdeira tivesse o preparo exato, tudo aquilo era mais do que essencial para sua missão.
Um mero ruído na porta atraiu a atenção da garotinha, e a mesma deixou de observar seu próprio reflexo para pousar seus olhos na pequena figura que adentrava em seu quarto a passos suaves. Storm estava tão deslumbrante quanto a uma princesa, trajava um glorioso vestido, cor de pêssego — consequentemente era sua fruta predileta —, seus cachos volumosos e bonitos, sua postura impecável e seus acessórios tão característicos da família Selwyn — o símbolo da águia-real estampado em seu colar — demonstravam a grandeza que carregava.
— Athena! — A empolgação era nítida na fala da menina ao ver a melhor amiga. — Vamos brincar? Todos estão lhe esperando no jardim — Ela sorriu, aproximando-se mais. — A mansão está repleta de pessoas.. — A garotinha encarou a elfa rapidamente e com uma expressão marota sussurrou no ouvido da amiga. — Eu vi a tia Hortella chegando com o seu bolo, foi preciso seis elfos para carregá-lo! — contou o segredo e Athena saltou no lugar, animada. A elfa que arrumava a anfitriã, arregalou os olhos alarmada.
Era do conhecimento da criança que ocorreria algo festivo, afinal, era a semana de uma das festas em honra ao deus Dionísio. As ²Dionísias Rurais era um dos maiores eventos que ocorria nos demos da Ática, a região em torno da cidade de Atenas. A família Avery preferia comemorar em sua residência, limitando-se a estar apenas no meio dos místicos. Aquela era a semana predileta de Athena por vários motivos.
Por ser uma festa em homenagem ao deus do vinho, naquele dia, seu pai libera totalmente o vinhedo da família para os convidados, sempre há grandes procissões com danças e cânticos, e a bela estátua de Dionísio esculpida pela sua avó enfeita os campos do vinhedo com graciosidade, e todos cobrem os rostos com máscaras ou disfarçavam-se de animais — alguns membros da família que são Animagos tomam suas formas e desfilam, obviamente, apenas no bairro bruxo —, tudo para tratar de um feitiço para provocar a fertilidade dos campos e dos lares.
Mas o motivo que mais a agrada, era que naquele dia — vinte e quatro de dezembro — era o seu aniversário. Seu oitavo aniversário. O que significava que as festas se estendem até os últimos dias do mês. Um fato que também contribuía para isso, era que dia vinte e cinco, era aniversário do deus Dionísio. Athena gostava de nomear aquela semana como "semana do vinho", pois era a semana em que a família mais prestavam cultos a Dionísio.
— Magnífico! — A voz da Avery saiu duas vezes mais alta e ela repudiou-se pelo ato, não deveria comportar-se deste modo. As palavras de seu padrinho ecoaram em sua mente e ela engoliu em seco. — Digo, admirável — disse retomando sua compostura. Storm estranhou, mas optou por ignorar a repentina mudança de humor de sua amiga.
— Caso esteja com medo de se sujar, brincaremos aqui no corredor, os adultos estão no Salão Principal. — Storm sugeriu.
Athena mordeu os lábios, nervosa. Não queria magoar Storm, mas também não queria desobedecer. Seu padrinho ficaria decepcionado consigo se descobrisse, ela prometera que iria obedecê-lo em tudo sempre, e o seguiria de bom agrado.
A criança suspirou com fadiga, ela era apenas uma menina, merecia aproveitar sua infância como qualquer outra garotinha de sua idade, mas não poderia dar-se tal luxo. Ordens eram ordens, e ela não deveria cogitar a ideia de desobedecer seu tutor, aquilo era quase uma espécie de traição.
Antes que Athena pudesse dar uma resposta válida a sua amiga, Apolo atravessa o quarto com toda sua graciosidade, interrompendo o diálogo das duas. O adolescente trajava roupas bonitas e elegantes, extremamente luxuosas, seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo baixo e seus dedos estavam repletos de anéis que brilhavam tanto quanto o broche — que tinha o símbolo do brasão da família — pendurado em seu colete.
— Olá. — As cumprimentou com um sorriso nos lábios. Storm imediatamente soltou um suspiro, encantada. — Está pronta? Mamãe solicita sua presença imediatamente, ela quer que você entretenha os convidados — informou.
Athena limitou-se em lançar um olhar zombeteiro para Storm, que ainda admirava Apolo, e em seguida assentiu para o irmão mais velho que observava a elfa colocar a coroa de flores na cabeça da garotinha. Ela estava tão bela, definitivamente ela havia sido agraciada pelos deuses. Sua pose, seus cabelos, seu vestido pomposo e sofisticado, tudo parecia resplandecer em si de uma forma extraordinária.
Quando a caçula colocou-se em pé, Apolo rapidamente aproximou-se de sua irmã e a estendeu o braço com extrema polidez. — Permita-me, Mademoiselle. — E com uma risadinha sapeca, Athena entrelaçou seu braço com o do irmão. Em seguida, o mais velho virou-se para Storm e repetiu o ato, a fazendo pendurar-se em si com rapidez.
Apolo as conduziu para fora do quarto, o trio passou pela porta e o adolescente não deixou de cumprimentar Wogly e Rixy, deixando o casal de elfos radiantes. De toda a família, ele era o Avery mais gentil, e sempre fazia questão de tratar bem todos ao seu redor. Toda essa bondade do primogênito, infelizmente, lhe rendia castigos extremos, e certa implicância de seu pai consigo.
Apesar de todos os males, o adolescente permanecia sendo usado como inspiração por muitos dos filhos das famílias puristas. Pertencia a Sonserina, era Capitão do time de Quadribol, dono do melhor histórico escolar de Hogwarts, possuía o típico e esplendoroso talento dos Avery, e para completar toda sua grandeza, era agraciado com tanta beleza e graciosidade que encantava a todos. Apolo fazia jus ao seu nome, e conseguia ser tão brilhante quanto ao Sol.
O trio seguiu pelos corredores com calmaria, sempre cumprimentando algum quadro na parede, ou comentando sobre alguma pintura ou estátua, que encontravam no caminho. A mansão Avery era gigantesca, e igualava-se a um museu com tantos artefatos históricos que Zeus e Hortella faziam questão de expor.
Cada mero detalhe seja o carpete, as cortinas, ou até mesmo a tonalidade de tinta das paredes, era escolhido a dedo e verificado se era da melhor qualidade. Eles possuíam muitos elfos, não tendo uma contagem exata, mas eram vários e todos eram disciplinados por Hortella, e o casal Molgy e Rixy. Eles eram os elfos de "confiança" da família, por serem os mais velhos, e terem mais experiência em servir, coordenavam e mandavam nos mais novos, os treinando e os ensinando a obedecerem todos os gostos e caprichos da família.
— Vovô Cronos e a Vovó Donna chegaram a tempo? — Athena indagou quando eles adentravam em outro corredor, o Salão Principal estava próximo, ela conseguia ouvir as vozes dos convidados e isso a deixou mais ansiosa. Um arrepio percorreu a ponta de sua barriga e ela respirou fundo.
— Sim. — Apolo respondeu. — Vovó Donna está na cozinha, averiguando os pratos que são servidos, sabemos como ela é perfeccionista — ele esboçou um sorriso meio torto. — E vovô Cronos, como sempre, está bebendo com os homens enquanto difama o seu padrinho, alegando que Grindelwald era um bruxo mais temível do que ele. — Athena e Storm não conseguiram conter a risada, assim como Apolo, e os três desataram a rir. O maior passatempo de Cronos Avery era desprezar Tom Riddle, e gritar aos quatro ventos que Gellert Grindelwald era um bruxo das trevas muito melhor do que ele. Tudo isso devido ao fato de que, Cronos, em sua juventude, era um fiel seguidor de Grindelwald.
Aproximaram-se das escadarias, e Athena pôde observar melhor o início da comemoração. Havia muitos convidados, e todos conversavam entre si enquanto eram servidos pelos inúmeros elfos, e apreciavam a música suave que os músicos tocavam, era algo leve, nada ardiloso ou chamativo. Muitas famílias aliadas estavam presentes, e todos extremamente bem vestidos, esbanjando suas riquezas e status. Apenas as famílias mais poderosas eram convidadas para os bailes dos Avery, a fim de manter toda compostura e luxo que a família esbanjava, e preservar o nome e toda reputação bem polida que eles tinham.
Ao recompor-se das risadas, Athena repeliu-se culposamente. Não deveria rir de seu padrinho, aquilo certamente não seria uma atitude aprovada pelo seu pai, tal gesto poderia ser considerado ingratidão e desrespeito. E ela não queria decepcioná-los, ou magoar seu padrinho com besteiras sem fundamentos.
Apolo as conduziu até as escadarias, e em passos sincronizados e esbanjando extrema galhardia, os três puseram-se a descer até o Salão Principal. Hortella os esperava juntamente a Ares e Alfeu — que estavam tão deslumbrantes quanto aos seus irmãos —, com um sorriso satisfeito nos lábios. A mulher tinha a imensa satisfação de apresentar seus filhos para os convidados, e expor todos os talentos possíveis deles.
Ela havia os criado polidamente e rigidamente com o único propósito; dar continuidade a linhagem Avery de bruxos e bruxas perfeitos, tudo para que suas crianças triunfassem. Tal foi sua alegria, quando seu ego foi acalentado ao conceber a criança abençoada pela própria deusa.
— Athena, toque para nós. — A fala da mulher saiu mais como uma ordem do que um pedido, mas tanto a garotinha, quanto seus irmãos, eram acostumados a escutar tal tom vindo de sua mãe. — Ares, seja um cavalheiro, e leve sua irmã até o piano. — O segundo mais velho assentiu com presteza e estendeu o braço para Athena, que demonstrou cordialidade ao aceitar.
Storm afastou-se com uma leve reverência, e foi de encontro a sua família que estavam acomodados entre os Black e os Lestrange. Apolo, rapidamente, ofereceu o braço para sua mãe, ao mesmo tempo em que Alfeu também, Hortella apenas ofereceu um sorriso largo aos seus dois filhos, e entrelaçou seus braços seguindo em direção de Zeus, que os aguardava na mesa central dos anfitriões.
Ares certificou-se de que a caçula estava bem posicionada em frente ao instrumento para evitar possíveis acidentes. Os pés de Athena mal alcançavam o chão, e ela parecia extremamente pequena perto daquele instrumento enorme. Antes de se retirar, Ares fez uma reverência à irmã, e seguiu para sentar-se ao lado de seus dois irmãos. A conversa entre os convidados cessou no mesmo instante, e todos os olhares direcionaram-se à garotinha.
Athena arrastou seu olhar para os diversos convidados que lhe cercavam, não deixando de esboçar um sorriso bisonho ao reconhecer a figura de Sirius Black — um amigo muito próximo —, que estava sentado ao lado de seu irmão caçula, e de seu tio Hades — que também era padrinho do primogênito dos Black — enquanto lhe acenava graciosamente, o brilho maroto presente em seus olhos cinzentos poderia ser visto à distância.
Em um ligeiro movimento, seu olhar cruzou-se com o de seu padrinho, que como sempre, esboçava uma expressão séria. No mesmo segundo, Tom pode ter o vislumbre de ver o sorriso no rosto de sua afilhada morrer, e a menina endireitar-se rapidamente. Athena fechou os olhos e suspirou calmamente, seu corpo pequeno pareceu acalmar-se e seus dedos, passaram-se, a chocar-se contra as teclas do piano de uma forma suave, mas que continha determinação e rapidez.
A melodia invadiu o ambiente de uma forma tímida, e ao longo do trajeto que os dedos da menina tomavam nas teclas, a intensidade a guiava por completo. A cada mera nota, seus cabelos mesclavam em cores harmoniosas, arrancando murmúrios espantosos dos bruxos presentes. Não era segredo que a caçula dos Avery não havia sido apenas abençoada pela deusa, mas também herdara a metamorfomagia de seu falecido avô materno, Magnus Rosier. Mas, o fato de ter tão pouca idade e saber manusear tal habilidade com tanta maestria, impressionava a todos.
A cena era absurdamente agradável, Athena tocava o instrumento de uma forma angelical, despreocupada, sem cometer nenhuma falha, e com uma calmaria e elegância que irradiavam o ambiente por completo. A garotinha estava aérea ao seu redor, era como se ela tivesse adentrado em seu próprio mundo, sem interrupções ou devaneios, era apenas ela ali, e mais ninguém. Chopin era um de seus pianistas prediletos, e Athena estava extremamente radiante consigo mesma, por ter aprendido Fantaisie Impromptu com tanta rapidez, e em tão pouco tempo. Avery sabia que devia agradecimentos ao seu tio Hades, por ter tido a determinação de ensiná-la com tanto vigor, ele era o seu tutor musical, e sempre estava disposto a passar toda sua sabedoria para ela.
Seus dedos arrastaram-se com pesar pelas teclas, produzindo as últimas notas da melodia inundada de uma melancólica nostalgia. Se fosse permitido, Athena poderia passar a noite toda tocando para si, enquanto servia de entretenimento para os convidados, mas infelizmente, aquilo não estava no cronograma feito pela sua mãe com extrema rigidez. A criança sabia perfeitamente o que deveria fazer naquela noite, todos ali sabiam, eram programados para demonstrarem extrema perfeição, e principalmente, completa submissão às vontades de Hortella e Zeus Avery.
Athena pareceu despertar de seu momento de plenitude com uma sequência intensa e entusiástica de aplausos promovidos pelos convidados. Os olhares aclamais que eram direcionados a si, corromperam seu ego de uma forma exultante, trazendo um vistoso olhar da garotinha, que recebia o júbilo com toda graciosidade que lhe foi ensinada.
⌇ ✩ ⌇
Não tardou para a noite chegar e o tempo mudar drasticamente, as folhas das árvores dançavam juntamente ao vento gélido em um perfeito cenário de dezembro. A enorme e luxuosa mansão estava impecável, e a decoração conseguia resplandecer toda grandeza do nome da família, a estrutura do lugar se igualava aos magníficos palácios do Olimpo, e decorava um dos bairros mais deslumbrantes da capital da Grécia.
O salão principal era iluminado por um grandioso lustre de diamantes, as cortinas em tons pastéis tornavam o ambiente mais acolhedor e no centro, uma linda e esplendorosa escultura de Dionísio, enfeitada com uvas, ouro e embrulhos abaixo dela, bonitos e extremamente chamativos. Os convidados conversavam entre si, e riam mecanicamente de suas vidas cheias de banalidades, as crianças estavam mais contidas e apenas cochichavam e comiam alegremente as uvas enquanto milhares de elfos estavam espalhados pelo local servindo á todos com veemência.
Athena tinha seu corpo apoiado no corrimão de madeira enquanto se esgueirava pelas aberturas do mesmo, os joelhos enterrados no carpete verde e os olhos atentos. — Ei, pimentinha! — A voz conhecida a tirou de seu devaneio e a garotinha saltou no lugar ao sentir os dedos longos na sua barriga lhe causando cócegas. A gargalhada escapou livremente de seus lábios e juntou-se com as de seu tio. Athena se jogou para trás e se deparou com os olhos extremamente escuros de Hades, o homem a aparava com um singelo sorriso no rosto e um olhar de ternura, ele sempre a encarava assim, a pequena Avery era a filha que ele nunca teve.
— Bisbilhotando antes da hora? — Perguntou, divertido, com sua típica expressão de astúcia. Athena deu de ombros e desviou o olhar debochadamente, o homem se limitou a rir e balançou a cabeça em negação. — Sugiro que saia daí, caso Hortella lhe veja deste modo, é capaz de dar um de seus surtos irritantes — Disse para a sobrinha, que suspirou e afastou-se do corrimão rapidamente.
— Faça-me o favor e verifique meu vestido, tem algo fora do lugar? — A menina rodopiou lentamente, para que seu tio identificasse qualquer imperfeição.
Hades arqueou as sobrancelhas, e cerrou os olhos, fingindo averiguar.
— Sim — respondeu seriamente. — Algo está errado!
O homem viu sua sobrinha agitar-se no mesmo segundo. O olhar da garotinha demonstrou desespero, e Hades culpou-se por fazê-la preocupar-se desnecessariamente.
— O que está errado?!
Hades aproximou-se mais de Athena, apoiando suas mãos em seus ombros enquanto observava seus olhos bicolores. — Está bonita demais! — murmurou, com uma fajuta expressão de braveza no rosto. — Irá ofuscar todos na festa.
O desespero de Athena vacilou, e seus olhos cerraram-se e inevitavelmente, seu nariz arrebitou-se mais em bravura. Sua sentença pareceu piorar ao ver o riso escancarado de seu tio.
— Ora! — ela bradou. — Como pode zombar da sua própria sobrinha desse jeito? Petulante!
A risada do mais velho apenas intensificou-se mais com o insulto inusitado de Athena. Ela era tão atrevida quanto seu avô, Cronos Avery, o que lhe causava boas risadas sempre que a encontrava. Todo aquele atrevimento, e petulância, eram traços bem característicos da família.
— Perdoe-me, pimentinha. — A essa altura, Hades estava ajoelhado de frente para Athena, ele considerava mais fácil falar com ela, estando os dois na mesma altura. — Fique tranquila, está deslumbrante, como sempre — afirmou.
A pequena Avery torceu os lábios, e aproximou-se mais de seu tio, como se estivesse pronta para contar uma confidência. — Estou nervosa! — esbravejou. — E se algo ocorrer de forma errada? Ou se eu não estiver adequada para essa comemoração? O senhor tem certeza que não tem nada de errado com minha roupa? E meu penteado? Mamãe disse que eu preciso estar impecável! Não quero desapontá-los.
O olhar que Hades viu no rosto de sua sobrinha, lhe embrulhou o estômago. Como eles conseguiam cobrar tanto de uma garotinha? Ela não tinha idade para ter tantas preocupações. Sua garotinha não merecia sofrer com todo o estresse e pressão que colocavam em si, ela não deveria passar por tudo aquilo. Ela era apenas uma criança, deveria estar aproveitando sua infância como todas as outras, e não estar preocupando-se com futilidades. Algo dentro de si doeu, e ele suspirou inconformado, por um momento Hades desejou poder contornar a situação, mas estava de mão atadas, o destino de Athena, infelizmente, não estava em sua posse, e tal fato o fazia querer morrer de tristeza.
— Não deixe esses pensamentos tolos lhe afligir. — Sua voz saiu suave, e ele segurou as mãozinhas pequenas com cuidado. — Você está mais do que perfeita! Tão bela quanto a um soneto de amor, escrito por Shakespeare. — Um sorriso amoroso lhe tomou os lábios, causando um em Athena.
— Quem é Shakespeare? — ela perguntou com curiosidade, e um vinco se formou entre suas sobrancelhas.
Hades olhou para os lados, cauteloso, e lhe ofereceu um olhar sapeca.
— Um grande e excelentíssimo escritor — respondeu. — Irei ler alguns sonetos dele para você, na nossa próxima aula, mas não comente nada com ninguém — ele ordenou. O homem sabia que se caso seu irmão, ou qualquer outra pessoa da família, descobrisse que ele estava apresentando pianistas e escritores trouxas para Athena, eles eram capazes de atentar contra a sua vida, e castigar a garotinha. Hades considerava um sucesso ele ter conseguido enganar a todos, alegando que Chopin era um pianista bruxo, não deveria abusar da sorte.
Athena apenas concordou com a cabeça. Era do seu agrado as aulas de piano que tinha com seu tio, e particularmente, as considerava como as melhores aulas do mundo.
— Apenas aproveite seu aniversário. — Hades tornou a falar. — Eu tenho uma surpresa para você — sussurrou para a garotinha. Athena arregalou os olhos em entusiasmo, e sorriu.
— O que o senhor irá me dar?
— É surpresa! — Apertou o nariz arrebitado da sobrinha, risonho. — Mais tarde você verá, espero que goste.
A pequena Avery assentiu, enrugando o nariz em desgosto. — Não é educado deixar uma dama curiosa! — esbravejou. Hades gargalhou, a trazendo para perto e a abraçando com força. Athena retribuiu o ato e sorriu aproveitando o carinho, seu tio era o único que a abraçava verdadeiramente, em seus braços a garotinha sentia-se segura, ela conseguia sentir o amor, o cuidado, era em seu colo que ela encontrava o refúgio. Infelizmente, Athena não entendia o motivo, mas não conseguia sentir tais sentimentos com seu padrinho, e muito menos com os seus pais. Com eles tudo era frio e robótico, para tudo era necessário pedir permissão, até mesmo para abraços.
Após o abraço, Hades levantou-se e estendeu a mão para Athena, a garotinha aceitou e assim os dois desceram as escadarias novamente para o Salão Principal, juntando-se aos seus familiares e aliados. Ao aproximarem-se, Zeus estendeu a mão para a filha, que a aceitou e consequentemente afastou-se de seu tio. Hades andou para onde os demais familiares encontravam-se. Hortella passou o braço no ombro da filha, e assim deram-se início aos aplausos dos convidados. Dessa vez, os seis membros da família eram alvos da aclamação, sendo eles os anfitriões da festa, deveriam receber as saudações.
Hortella chamou todos os convidados para reunirem-se ao redor da escultura do deus grego. Todos puseram a devida atenção na mulher, e logo Cronos assumiu o lugar, dando início à oração de Dionísio. Pronunciaram em uma só voz, crianças, jovens, adultos e elfos, e finalizaram a prece com sorrisos satisfeitos. A partir dali, deram-se início a procissão, e a maioria fantasiou-se com tecidos coloridos, máscaras de animais, e pintaram-se.
A família havia contratado atores para encenarem a jornada do deus grego, desde seu nascimento até a plenitude. E logo após a história, eles puseram-se a encenarem outros contos gregos. As crianças estavam completamente entretidas com o teatro. O palco estava montado, e eles eram a maior parte da plateia. Athena estava sentada entre seu primo, Dionísio, e Sirius. Storm estava sentada ao lado do primogênito dos Black, e conversava animadamente com Regulus e Rafe sobre a peça que estava sendo encenada.
Dionísio tinha um cacho de uvas em mãos e uma coroa de ramos em sua cabeça — destacando seus longos fios cor de ouro e seus olhos claros —, as roupas polidas e impecáveis esbanjava cores exóticas, e ele usava vários anéis em suas mãos gorduchas de criança. O caçula de Poseidon era o primo preferido de Athena, e a garotinha não fazia a mínima questão de esconder isso. Sempre foram extremamente apegados, e a garotinha adorava cuidar dele, meio avoado e com ideias extraordinárias, o garotinho era conhecido por ter um grande apreço em meter-se em aventuras, não se importando com as condições ou consequências. Tudo para alimentar sua curiosidade e acrescentar mais em seu aprendizado.
— Me sinto lisonjeado com toda essa euforia — ele comentou, animado. — Olha! Fizeram um bolo para mim! — Apontou para o grupo de elfos que carregava um bolo gigantesco e colocavam ao lado do de Athena.
Sirius que tinha seus olhos vidrados nos cabelos coloridos de Athena — enquanto a mesma tagarelava sobre Quadribol consigo — arqueou as sobrancelhas e lançou um olhar confuso para Dionísio, sendo acompanhado por Athena, que tinha um olhar cansado, parecendo saber o que viria a seguir.
— O bolo não é para você! É para Dionísio. — O Black explicou mostrando a escultura do deus.
O Avery soltou um risinho.
— Eu sou Dionísio! — Apontou para si. — É o meu aniversário.
Athena cobriu o rosto com as mãos, tentando esconder o riso automático que escapou de seus lábios. Sirius percebeu a reação da amiga e não conseguiu segurar o sorriso.
— Não. — Sirius negou. — É aniversário do DEUS Dionísio! Você por acaso é deus? Acho que não.
Dionísio enrugou o nariz.
— Eu não sou deus, mas sou Dionísio. — Deu de ombros. — E eu digo que é o meu aniversário.
O Black levantou-se em um pulo, o rosto vermelho e os olhos cinzentos demonstravam raiva. Ele apertou contra si a pequena bandeja de bolinhos que segurava e apontou o dedo para o amigo.
— Mas será possível que todo ano, temos que explicar para você que a festa é para o deus Dionísio, e não para o humano Dionísio que no caso é você! — esbravejou. — Seu aniversário foi em Novembro, se lembra? Nadamos no lago, e você ganhou vários presentes, principalmente, uma escultura.
Um silêncio entre os três estabilizou-se, e logo após um minuto, Dionísio mexeu-se.
— Eu sei. — O garotinho loiro respondeu com calmaria. — Eu só gosto de pensar que eu tenho dois aniversários! E papai disse que nós Avery somos deuses.
Sirius estava preparado para outra resposta quando é interrompido por Athena, que o puxou para se sentar novamente ao seu lado. A menina soltou um suspiro, e arrancou uma uva do cacho a jogando em sua boca. Desde pequeno, Dionísio sempre achou que todas aquelas festas eram para si, ao crescer mais um pouco, o explicaram que era para a divindade, mas a ideia permaneceu com o garotinho.
Athena sabia que aquilo havia sido alimentado pelo seu tio Poseidon, e que aquele era o lema tão citado da família. Seu primo sempre foi uma figura peculiar, e ela não via problema em deixá-lo em seu próprio mundo. Até achava adorável como ele se empolgava nas festas, vestindo-se como a imagem do próprio deus, inspirando-se na imagem de Dionísio que tinha na pintura da casa de seus avós. Ele gostava de enrolar seus cabelos apenas para parecer-se mais com a divindade.
Percebeu que seu primo amuou-se, e automaticamente beliscou o braço de Sirius, que saltou do lugar com o susto e choramingando de dor. O primogênito dos Black encarou o amigo e sentiu-se arrependido, não queria magoá-lo.
— Não há problema nenhum em pensar que tem dois aniversários. — Athena pronunciou-se, tocando levemente na mão de seu primo que a encarou. — Você é a representação mais próxima que temos do deus Dionísio! Alegre-se, isto é fantástico! — ela sorriu, e Dionísio a copiou, a empolgação voltando a brilhar em seus olhos azuis. A atenção das crianças voltou-se para a peça, mas logo após alguns minutos, foi a vez do Black se mexer.
— É, não tem problema. — Sirius disse, oferecendo um sorriso para o amigo, que assentiu satisfeito.
Após as procissões, danças e encenações, o jantar da família Avery, sucedeu-se com grande êxito. Todos estavam reunidos em volta da extensa mesa, apreciando o divino banquete feito pelos elfos enquanto os mesmos andavam pelo salão principal enchendo as taças com vinhos. Athena se dividia entre comer e conversar com Storm e Sirius, à parte das crianças estava exageradamente animada, mas Athena continha-se, a garotinha conseguia sentir o olhar de seu padrinho em si, e queria orgulhá-lo. A pequena Avery desviou o olhar de seu prato analisando seus familiares, a mesa estava repleta deles. Havia tantos primos que se alguém se atrevesse a contar, perderia a conta. Inúmeros tios e tias, e alguns amigos de seus pais. A família Selwyn estava presente, juntamente a família Black, Rosier, Lestrange, Malfoy, Burke e Nott.
Avery mexeu seus pés — que pela altura da cadeira, não tocavam o chão — e enfiou mais uma garfada de comida na boca, Athena sabia que após o banquete, sua mãe iria entrar na sala de jantar com o bolo em mãos e sua família começaria com as celebrações e depois de tirar tantas fotografias e ser o centro das atenções. Ela finalmente iria poder abrir seus inúmeros presentes, era assim em todos os anos.
As horas foram se passando e para a alegria de Storm — que resmungava no ouvido de Athena dizendo que queria comer logo o bolo — o banquete finalmente havia terminado. Cantaram as congratulações à Athena e em seguida o fotógrafo oficial da família, tirou mais um retrato, dessa vez de todos eles reunidos em volta da garotinha que assoprava suas velas com entusiasmo. A partir daí, deu-se início a sequência de fotos com a aniversariante, seus irmãos, seus pais, seu padrinho, familiares, primos, amigos, os últimos haviam sido Storm, Rafe e Sirius. E o último ainda fora puxado novamente para mais uma foto, Walburga e Hortella fizeram questão de juntar apenas Athena e Sirius. A fotografia havia saído muito bela, as duas crianças abraçaram-se e esbanjaram sorrisos banguelas, as bochechas coradas e os olhos demonstravam o brilho da infância.
Avery apenas teve tempo de se sentar quando uma enxurrada de presentes a rodearam. Havia muitos embrulhos e caixas coloridas, ela não sabia qual abrir primeiro, estava perdida até que seu tio entrou em seu campo de visão, atraindo sua atenção.
— Espero que goste do meu. — Hades surgiu entre seus familiares com um aquário em mãos e Sirius ao lado. — Logo você estará indo para Hogwarts, imaginei que precisaria de um bichinho de estimação. — Ele se agachou em frente da sobrinha e mostrou a pequena cobra se rastejando. Athena arregalou os olhos e um sorriso alegre lhe rasgou o rosto, ela pode escutar algumas exclamações de seus familiares, e um resmungo de Sirius que a fez rir, mas não deu importância. — É um Píton-Real raro, uma espécie mágica, ele não irá crescer muito e é calmo e bem dócil.
Avery mantinha os olhos vidrados no aquário.
— Ele? — perguntou distraída.
— Sim, é macho. — Seu tio respondeu risonho. — Um amigo meu trouxe ele da África para mim. — Hades tirou o pequeno réptil do aquário e o pegou delicadamente. — Pegue! — Meio relutante Athena estendeu os braços, e pegou a cobra, a garotinha riu baixinho quando o animal começou a arrastar-se em seus braços. Sua pele quente em contato com a pele gélida do réptil lhe causava arrepios engraçados.
— Qual será o nome dele? — Alfeu, que estava ao lado de sua irmã, perguntou enquanto acariciava o animal.
— Loki. — A garotinha disse e seu irmão arqueou as sobrancelhas e em seguida assentiu. — O deus mais sonserino da mitologia nórdica — sussurrou olhando para seu padrinho, e em seguida para seu pai, seus olhos buscavam a aprovação e os homens perceberam isso, o primeiro a assentir satisfeito foi Zeus, logo depois Tom repetiu seu ato. — Obrigada, tio! — Ela olhou novamente para Hades.
— Feliz aniversário, pimentinha. — Ele sorriu e selou rapidamente a testa da menina.
Apesar de todas as jóias, tecidos caros, instrumentos feitos a medida para ela, e todos os outros presentes que Athena havia ganhado naquela noite, nenhum deles conseguiu causar a alegria na criança como o réptil dado pelo seu tio causara. Aquele singelo animal havia alegrado a noite da pequena Avery. Nada ali era melhor do que o Loki. Seu tio, como sempre, lhe dava os melhores presentes.
Após Athena receber as congratulações, os adultos voltaram a se embebedar e a conversarem futilmente, e a maioria das crianças encontrava-se ao redor de Avery curiosas para verem seu réptil, elas conversavam sobre o animal e o observava arrastar-se pelos seus braços, a maioria estava afoita querendo pegá-lo também, o único que permanecia sentado ao lado de Athena sem oferecer-se para segurar o animal, era Sirius, que tinha uma expressão meio assustada no rosto, arrancando risos dos demais. E assim permaneceram até as famílias decidirem ir embora, cada uma ia despedindo-se e deixando felicitações para a pequena Athena, eram tantas que a criança apenas limitava-se em acenar, cansada.
O relógio de diamantes colado na parede denunciava que era duas horas da madrugada, a garotinha, ainda sentada na poltrona, podia ouvir seus pais conversarem com alguns de seus tios que permaneceram e seu irmão, Ares, dormia tranquilamente na poltrona ao lado, enquanto Apolo e Alfeu decoravam seu rosto com enfeites da escultura de Dionísio com sorrisos marotos em seus rostos e convenciam o fotógrafo da família a registrar o momento.
Zeus aproximou-se de sua filha e agachou-se até a altura da menina, o homem passou a mão levemente em seu rosto delicado e sorriu ao se deparar com os olhos de diferentes cores. Athena nascera com Heterocromia, uma rara anomalia genética que mais era vista como benefício. Por ser metamorfomaga, ela podia mudar a cor dos olhos com facilidade, mas a garotinha gostava do seu natural. Uma íris sua era de um verde intenso e escuro, e a outra, amarela, com pequenas tonalidades de castanho, causando um belo e gracioso contraste.
— Athena. — A chamou com a voz mansa. — Seu padrinho quer conversar com você — disse e a caçula assentiu rapidamente. — Ele está lhe esperando em meu escritório.
A menina levantou-se da poltrona, ainda com Loki em suas mãos. A cobra sentia-se extremamente à vontade nos braços da garotinha, tão tal que deslizava preguiçosamente pelo antebraço da mesma como se a conhecesse há tempos. Athena estava ansiosa para mostrá-lo a Tom, ela sabia que seu padrinho adorava répteis tanto quanto ela.
Não tardando em acatar a ordem de seu pai, a pequenina dirigiu-se ao extenso corredor. Ela andava pelo carpete com calmaria, e de vez em quando, acenando para alguns quadros de seus antepassados que a parabenizaram, eles murmuravam felicitações e elogios para si, causando alegria na criança. Encontrou com facilidade a porta de madeira grossa que tinha uma serpente envolvendo uma coroa estampada com todo glamour. Era o símbolo da família Avery, e ele estava presente em muitos lugares da mansão.
Athena entrou no local que era tão bem mobiliado quanto aos outros cômodos da mansão. Havia um piano no canto e alguns quadros de pinturas espalhados pelas paredes escuras, uma mesa com diversos pergaminhos e mapeamentos em cima dela. Um sofá de couro preto no outro canto da sala e uma estante repleta de livros. A primeira visão que Athena teve ao entrar foi de um homem, alto, trajando um terno preto. Ele observava os diversos livros de seu pai.
— Padrinho? — ela o chamou, com um tom suave e infantil.
O homem na mesma hora virou-se, e a lhe esboçou um sorriso. Os cabelos ondulados, os olhos escuros e tempestuosos, a postura ereta exalava soberba e o rosto belamente esculpido, era um belo homem. As roupas extremamente impecáveis, e um olhar astuto. Mas havia algo que ultrapassava sua beleza, a magia que o rodeava era forte, e toda vez que a garotinha aproximava-se de Tom ela conseguia sentir as vibrações da mesma, o arrepio na ponta da barriga, e algo dentro de si revirando-se para ter tal poder. Athena não compreendia, mas era algo sombrio que carregava poder, um poder que ela logo alcançaria.
— Olá, Athena. — A garotinha manteve sua postura ao encará-lo nos olhos. — Não tive a chance de lhe parabenizar. — Antes de qualquer movimento dele, Athena apressou-se e o abraçou subitamente, estava tão feliz que esquecera que deveria pedir permissão. Após alguns segundos, Tom retribuiu o abraço, e deixou um afago em seus cabelos coloridos. — Gostou dos presentes? — perguntou.
A pequena Avery saltitou no lugar, esboçando um sorriso.
— Sim. — Assentiu. — A propósito, muito obrigada pelos livros — Ela recordou-se do presente que seu padrinho lhe dera, todos eles eram livros que ensinavam a Arte das Trevas. — Não vejo á hora de lê-los!
Os olhos de Tom brilharam em satisfação, ver que sua afilhada estava seguindo por aquele caminho lhe agradava, era uma parte de seu plano dando certo.
— Qual foi o seu presente favorito? — perguntou enquanto apanhava a garrafa em cima da mesa, e depositava um pouco de vinho em sua taça.
Athena quase saltitou novamente, mas lembrou-se das palavras de seu padrinho, e contentou-se em expressar sua agitação em um singelo sorriso.
— Creio que a minha preferência esteja nítida —respondeu, a voz emanava alegria e Tom captou o sentimento. — Ele é lindo, não? — Estendeu o réptil para o homem, que aconchegou Loki em seus braços enquanto ainda segurava a taça.
— Sim — esboçou uma espécie de sorriso, meio fechado, mas que demonstrava satisfação e que deixava Athena contente. Ela gostava de agradá-lo. O animal arrastava-se pelo braço do bruxo, seguindo para seus ombros em uma extrema facilidade, o fato de conseguir comunicar-se com as cobras lhe dava um ponto a mais. — Athena, diga-me, se em qualquer hipótese, tivesse que escolher entre seu tio Hades, e eu, seu padrinho, quem você escolheria?
A criança assustou-se com a pergunta tão estranha e repentina, mas permaneceu sem expressar qualquer reação. Suas mãos cruzaram-se e ela desviou o olhar para a estante de livros, desconfortável, e sem entender o motivo do questionamento.
— Perdoe-me pela minha falta de percepção padrinho. — Sua voz saiu robótica, mas um sorriso envergonhado ocupava seus lábios. — Mas, não compreendo o motivo de sua indagação. — Suas sobrancelhas estreitaram-se. Riddle apenas bebericou sua taça em um longo gole.
Athena permanecia com os olhos vidrados no homem.
— Athena, você sabe o quanto eu me esforço para ser o melhor e o mais competente tutor, não sabe? — Tom perguntou sutilmente.
A garotinha assentiu rapidamente.
— Sabe que eu sempre fiz, e faço questão de lhe passar todo o meu conhecimento para que a sua formação seja digna, e que você alcance o patamar que merece, não é? — Novamente, usufruiu de um tom sutil, a voz extremamente mansa e os olhos demonstravam calmaria.
— Sim, padrinho. — A pequena Avery responde. — E eu sempre serei eternamente grata por todo o seu cuidado. — Ela completou, com um sorriso amoroso.
O homem pousou a taça na mesa, e aproximou-se mais da afilhada, Loki parecia confortável pendurado em seus ombros. Tom ajoelhou-se na frente da garotinha, atraindo sua atenção para si. Os olhos sombrios encontraram com os bicolores.
— Para que tenhamos êxito nessa nova etapa de seu treinamento, eu preciso ter certeza, que em qualquer momento de sua vida, sua preferência sempre seja eu. — A expressão de Riddle estava séria. — E nem Hades, ou Cronos, ou qualquer outra pessoa pode interferir nisso. — Athena engoliu em seco ao escutar o nome de seu amado tio, mas permaneceu encarando os olhos de seu padrinho. — Em todas as hipóteses, e em todas as fases de sua vida, eu preciso da garantia de que a sua lealdade sempre me pertencerá — disse, podendo identificar o brilho diferente nos olhos da afilhada. A menina cerrou os olhos, e em seguida seu olhar desviou-se para Loki. — Será leal a mim?
— Sim. — ela murmurou, depois de um tempo calada. — Minha lealdade sempre estará com o senhor, e ninguém irá interferir nisso. — Lhe assegurou, com convicção no olhar.
Tom sorriu, minimamente.
— O caminho que eu lhe mostrarei, o caminho para o verdadeiro poder. — Seu tom de voz diminuiu. — Muitos tentam trilhar esse caminho, mas são poucos que realmente possuem potencial para trilhá-lo. — Seus olhos pararam sobre a afilhada. — Você não tem que se preocupar com isso, nasceu com tal poderio, um imenso poder. — Sua mão encontra-se com o rosto dela. — E poderá ser mais poderosa, ao meu lado — sussurrou vendo os olhos da garotinha pregados em si. Eles brilhavam de uma forma tão intensa que Tom conseguia ver seu próprio reflexo neles.
— Mas, vovô disse... — Athena foi cortada imediatamente.
— O que eu disse sobre as interferências de seu avô? — A voz do homem saiu autoritária. A garotinha baixou a cabeça, arrependida por não conseguir controlar a língua. — Cronos exalta tanto Grindelwald, mas foi um dos primeiros a deixá-lo quando as coisas começaram a desandar. — Athena o encarou, o olhar brilhando em curiosidade.
— O vovô o abandonou?
— Sim. — Riddle confirmou. — Seu avô sabia que o plano de Grindelwald era falho. — Uma sombra de um riso de escárnio pairou sobre o homem. — Ele sabia que não adiantava ter todo aquele poder, sendo que sua estratégia era fraca — completou, tendo o deslumbre de ver um brilho curioso passar pelos olhos de Athena, ela estava pensando, e tirando suas conclusões, ou melhor, reformulando-as. — Mas, o destino que iremos traçar não terá erros, e eu não tolerarei nenhuma falha. — Sua atenção voltou para a afilhada. — Está realmente pronta para seguir o destino que eu preparei para você?
Athena pareceu analisar a pergunta, e em seguida brilhou em entusiasmo. Ela estava mais do que pronta, almejava evoluir sempre, apenas para levar orgulho ao seu nome, e a sua casa. Era filha da deusa, a criança bendita, e seu triunfo seria eterno.
— Será uma honra padrinho — gracejou — Estou verdadeiramente pronta.
— Me responda mais uma coisa. — O homem pediu a olhando cautelosamente. — Gostaria de governar ao meu lado?
— Nós dois?
— Apenas nós dois. — ele assegurou.
A pequena Avery apertou sua mão, e as mãos de Riddle tremeram. Ele conseguia sentir o núcleo de magia de sua afilhada intensificar, e uma bolha de magia envolvê-los.
— Serei inabalável igual ao senhor?
— Com toda certeza.
— Eu quero padrinho, quero permanecer trazendo glória à casa de Avery — ela murmurou. — E principalmente, ao senhor.
— Ótimo. — Tom sorriu, ainda segurando a mão de Athena. — Seremos inabaláveis juntos.
Aquela singela criança, abençoada com grandes e intensos poderes, seria sua maior arma, e juntos, eles seriam responsáveis pelo caos e terror que tomaria conta de todo o mundo bruxo.
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glossário
¹ Na Mitologia Grega, Alfeu é um Potamos, filho de Oceano e Tétis e o deus dos rios.
² As Dionísias Rurais (ta kat'agrous Dionisia) faz parte de uma das Festas Dionisíacas. É um festival em honra ao deus Dioníso, sendo um dos maiores eventos do ano nos demos da Ática, eram comemoradas durante o inverno grego, entre dezembro e janeiro. As Dionísias Rurais eram um momento descontraído onde havia muita diversão, com muitas atividades engraçadas, peças de teatros e cortejos na qual as pessoas se fantasiavam e dançavam e geravam muita agitação e barulho. Além disso também tinha komos, o cortejo do falo, que tinha como intenção trazer fertilidade dos campos e dos lares.
➝ 𝑁𝑂𝑇𝐴𝑆 𝐷𝐴 𝐴𝑈𝑇𝑂𝑅𝐴 ७
Bem, essa é a família Avery! O que acharam desses bruxos belos, excêntricos e poderosos?
Como os Avery's seguem os deuses gregos, eu acho que seria mais lógico ao invés de colocar eles celebrando o Natal, eles celebrando o aniversário de Dionísio, que é dia 25 de dezembro. Aproveitei para pegar um gancho e coloquei o aniversário de Athena no dia 24, porque que é o dia do meu aniversário :)
Eu sei que em Hogwarts, apenas pode levar gatos, ratos, corujas ou sapos, mas aqui eu abri exceção para répteis em geral. A espécie Píton- Real realmente existe, é uma das menores espécies de cobras do mundo e ela não é venenosa. Porém, aqui, a espécie é rara e mágica.
Espero que tenham gostado, não se esqueçam de me dizer o que acharam e deixar seus votos.
Até o próximo capítulo!
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