𝟎𝟏
Isso aqui tá uma confusão. É a primeira coisa que penso assim que piso em solo Francês. Paro a alguns metros do portão de desembarque, puxando minha pequena mala de mão, encarando a multidão que vai de um lado para o outro na minha frente.
— Tá, e agora?— ouço Íris parando ao meu lado. Ela parece tranquila, mas pelo tom de sua voz sei que ela está tão nervosa quanto eu.
A única calma parece ser Luna, que conversa em inglês com um funcionário do aeroporto para tentar nos situar.
Sim, elas vieram. De início, eu viria sozinha, mas bastou uma pequena brincadeira sobre elas irem junto e dois dias depois já estavam com a passagem comprada. Luna, a topa-tudo, nem esperou eu terminar de falar e já entrou no site da companhia aérea. Íris resistiu um pouco mais, mas bastou Luna mencionar o Museu do Louvre e ela concordou na hora.
Nem preciso dizer que é incrível ter elas aqui comigo, né?
Estávamos planejando e guardando dinheiro para um mochilão na Europa há anos, mas ninca conseguíamos encontrar uma data boa para as três. As duas são professoras e dependem do calendário letivo do estado para estarem livres, já eu, meio que não tenho férias... dependo do calendário de jogos do campeonato e da boa vontade dos meus superiores. Antigos superiores. Porque agora eu tô na CazéTV! O Casimiro é o meu chefe!
— Tá— luna se aproxima de nós— ele disse que a gente tem que retirar a bagagem ali naquela saída e passar passar pelas burocracias normais, mas não deve demorar muito, é só coisa de Raio-X e visto mesmo...
— Tá bom então...—digo— vamo lá!
De fato não demorou muito. A multidão é assustadora, mas o aeroporto provavelmente estava preparado para esse tipo de movimento. A chegada no hotel também não foi tão caótica e finalmente estou acomodada no meu quarto. Infelizmente, não vou ficar no quarto que as meninas estão dividindo, mas sim em um quarto individual, em outro andar, pago pela empresa. Bom, pelo menos elas conseguiram um quarto no mesmo hotel.
Nem tenho tempo de acomodar minhas malas no sofázinho no canto da parede quando ouço meu telefone tocar. Tiro-o do bolso, vendo o nome do meu irmão mais velho.
— Oi, Muri— atendo o telefone, apoiando-o em uma orelha enquanto continuo a ajeitar as coisas.
— Oi, Aimê— ele começa e ouço sua voz um pouco diferente do habitual— Eu sei que você deve estar com tudo pronto para a viagem, mas não acha melhor você ficar no Rio?
Ah. Isso de novo. Sorrio.
Ser a única filha mulher, caçula, crescendo com dois irmãos tem seus privilégios. E esse não é um deles. Eu sempre fui extremamente protegida, tanto por meus pais quanto por meus irmãos, o que claramente sempre foi um problema, porque eu sempre fui a mais independente da família. Houve um tempo que eu achei que isso iria passar junto com a adolescência, mas adivinha? Só piorou! Piorou dez vezes mais quando eu bati o pé, insistindo em ir estudar no Rio, com dezoito anos, e vinte vezes mais quando o papai se foi.
— Eu sei que é seu trabalho, o seu sonho, eu entendo isso, mas... você vai pra um lugar desconhecido sozinha, e eles falam outra língua, e tem outros costumes, e você nem sabe por quanto tempo vai ficar, e se acontecer alguma coisa com você?
Não consigo me segurar e solto uma risada fraca no telefone.
— Aimê, não tem graça!— Muriel volta e meia tem essa atitude de pai comigo, talvez por ter tido filhos muito cedo, ou por ser o mais velho— Isso é um assunto sério, eu só queria...
— Muri!— interrompo-o— Eu já tô na França!
O telefone fica mudo por alguns segundos e eu seguro a risada, sabendo que ele está provavelmente colapsando.
— Como é que é?— sua voz sai fraca.
— Eu acabei de chegar aqui, já tô até no hotel.
— Aimê, para de graça! Você não ia amanhã?
— Não, eu embarquei ontem de noite...
— Aimê, você só ia terça!
— Exatamente!— digo, confusa— Em que mundo você tá vivendo, Muriel? Que dia você acha que é hoje?
— Segunda!
Não consigo conter a gargalhada. A ignorância do meu irmão em relação às datas só pode ser graças a uma pessoa. Me jogo na cama, fazendo uma nota mental de comprar um presente para a minha sobrinha em agradecimento.
— Já é quarta feira, Muriel...— ouço ele suspirar do outro lado da linha— Eu, fica tranquilo tá? Eu não tô sozinha, as meninas tão aqui comigo, lembra? vou ficar bem, se acalma!
— Promete?
— Eu prometo, seu chato!
— Qualquer coisa, você me liga!
— Ligo sim! E tem o Alisson, ele tá aqui pertinho...
— É... vou falar com ele pra ficar de olho em você...
— Não, Muriel, meu Deus! Olha, eu tenho que arrumar umas coisas aqui, depois a gente faz um facetime com a família, pode ser?
— Pode sim... eu te amo, Mêzinha...
— Já falei pra não me chamar assim, parece que meu nome é Mesa.
— Aí 'cê vai ter que reclamar com a mãe! Vou lá também, daqui a pouco eu tenho treino.
— Tá bom, vai lá!— sorrio me despedindo do meu irmão— Não briga com a Dudinha, não!— desligo.
Encaro o teto, uma onda de consciência me atingindo. Caramba. Eu tô em Paris!
E tá só começando.
•
Depois de todo o espetáculo que foi a abertura das Olimpíadas de Paris, mal tenho tempo de voltar para o meu quarto e trocar a roupa casual que eu vestia e substituir por algo mais... noturno. Combinei com as meninas que sairíamos agora a noite, mas não faço ideia de para onde vamos. Na dúvida, um vestido preto básico e um salto funcionam... eu acho...
É incrível como em apenas alguns dias estando aqui em Paris me deixaram a pessoa mais bagunceira do mundo. Procuro no meio das roupas amontoadas um vestido que eu sei que eu trouxe, e me xingo mentalmente por ter trazido tanta coisa.
Deve estar na outra mala, penso. Sim, eu trouxe duas malas enormes. Começo a abrir o zíper da outra mala, ainda intocada e assim que as roupas começam a vazar da mala, ouço a campainha do meu quarto tocar.
Ótimo!
Corro para abrir a porta, puxando minhas duas melhores amigas para dentro.
— Preciso da ajuda de vocês!— volto para as malas— Eu não sei onde eu coloquei aquele vestido preto, eu tenho certeza que eu trouxe, mas não consigo achar...
— Aquele que você usou quando esbarrou com o Bruninho?— Luna pergunta, fechando a porta atrás de si.
Não consigo evitar a expressão confusa quando encaro ela.
— Quando é que aquele dia virou "o dia que eu esbarrei no Bruninho" e não "o dia que eu soube que viria para Paris"?
— Quando você disse pra ele: Te vejo em Paris!— Iris responde, procurando na mala de mão.
Reviro os olhos, forçando a memória para fora da minha mente.
— Bom, não é aquele vestido...— mudo de assunto— é aquele curtinho de manga comprida.
As duas me ajudam a procurar e Íris estende um vestido preto ao meu lado.
— Achei o que você usou naquele dia, podia ir com esse, vai que encontra ele de novo?
— Ele nem deve se lembrar da minha cara, Íris!— corto a fanfic dela, suspirando aliviada quando finalmente encontro o vestido no fundo da mala— Achei!
— Do jeito que ele te olhou, achando que tu é maluca, acho que não...—Luna ri, tirando um par de saltos pretos da mala e estendendo para mim.
— Olha, eu prefiro pensar que ninguém ali lembra de mim, eu não quero pagar de maluca...
Coloco primeiro os saltos e depois o vestido, que marca até demais minhas curvas.
— Não tá muito marcado não?— pergunto, me encarando no espelho, tentando não ficar incomodada com meu próprio peso novamente.
— Tá linda, gata! — Luna diz, parando do meu lado— Ja se maquiou?
Viro meu rosto para ela, mostrando a maquiagem que fiz antes delas chegarem. Só um delineado e um batom com gloss.
— Tá perfeita, vamo! Sem pensar muito, não quero secar choro de ninguém hoje!
Pego meu sobretudo preto, seguindo-as para fora do quarto e trancando a porta.
— Mas pra onde a gente vai? A gente não decidiu ainda...
— Ah, verdade!— Luna começa, apertando o botão do elevador— Então, a gente ouviu na "rádio corredor" que vai ter uma festa com uma galera brasileira em um pub aqui perto.
— "Rádio corredor"? — encaro as duas, sabendo que elas não passaram tanto tempo fora do quarto quanto eu, e eu só passei por conta do trabalho.
— Tá, na verdade a gente tava subindo aqui e encontramos o Láctea e a Samantha no elevador... talvez a gente tenha dito alguma coisa sobre nossa amiga que trabalha na CazéTV, e talvez eles tenham convidado a gente...
Olho para elas, incredula. Em menos de 5 minutos elas conseguiram conhecer o Láctea e a Samantha e ainda fomos chamadas para uma festa. Os anos de amizade finalmente dando retorno!
— Cara— solto uma risada anasalada— só vocês mesmo...
As duas me olham com cara de gato que caiu do caminhão de mudança.
— Onde é esse pub?
••••••••
socorro
desculpem a demora mas é que final de semestre na faculdade é uma doideira.
definitivamente insano.
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