08 | Xeque-mate.
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── ATO UM
A garotinha caminhava pelos corredores escuros e estreitos daquele vasto complexo, onde homens, imponentes e vigilantes, cumpriam seus deveres com uma precisão quase mecânica. Eles estavam ali para proteger aquele lugar de qualquer ameaça, mas sempre que seus olhos pousavam nela e no homem ao seu lado, uma sombra de temor passava por seus rostos endurecidos. A menina, de mãos dadas com seu pai, observava o homem com uma reverência silenciosa. Ele era o comandante daquele lugar, a autoridade incontestável, e ela, em seu coração jovem, almejava um dia possuir o mesmo poder que ele exercia com tanta naturalidade.
Os dois seguiram pelos corredores até a área de treinamento, um espaço reservado para soldados que tinham o dobro da idade dela. Mas isso pouco importava para o seu pai; para ele, a sobrevivência não tinha idade, e em tempos como aqueles, todos precisavam estar preparados, até mesmo uma criança. Quando chegaram ao local, o ambiente de repente se aquietou. Os olhares se voltaram para eles, e, sem uma palavra, os soldados começaram a se retirar, esperando apenas o comando do homem antes de deixar o lugar.
A menina manteve-se em silêncio, habituada àquela aura de autoridade que sempre a acompanhava. Embora ainda não compreendesse plenamente o peso de tais atitudes, já havia aprendido a aceitá-las sem questionamentos.
Com um movimento rápido e decidido, seu pai soltou sua pequena mão e caminhou até o arsenal, onde pegou um par de óculos de proteção e uma arma, escolhida especialmente para ela. Ao retornar, ele ajustou os óculos sobre o rosto delicado da filha e colocou a arma em suas mãos com uma confiança que poucos ousariam ter ao confiar algo tão perigoso a uma criança.
— Você sabe o que fazer — disse ele com firmeza, antes de se afastar para a ala de observação. De lá, ele se posicionou atrás de um vidro à prova de balas, inclinando-se levemente para ter uma visão clara da pequena figura que agora se preparava para a tarefa à sua frente.
Com coração pulsando com intensidade, a garotinha se posicionou diante da abertura, seus pequenos dedos firmemente entrelaçados ao redor do cabo da arma que seu pai havia colocado em suas mãos. Apesar da tenra idade, sua expressão era inabalável, seus olhos faiscavam com uma determinação feroz, uma chama que não admitia fraqueza.
Ela ergueu a arma com precisão, seus movimentos ágeis e calculados, como se tivesse nascido para aquele momento. A cada tiro disparado, o eco ressoava pelos corredores vazios, e os alvos à distância eram perfurados sem misericórdia. Cada impacto, cada estilhaço, era um reflexo do poder que ela emanava, uma criança moldada pela força e pela necessidade de sobreviver em um mundo cruel.
Com a última bala, o silêncio se instalou, denso e pesado. A menina abaixou a arma, sua respiração controlada, seu olhar fixo nos alvos destroçados à frente. Ela não precisava de palavras para expressar sua força; a destruição que havia causado falava por si só. Ali, naquele instante, ela não era apenas a filha do comandante. Ela era o futuro daquele lugar, uma líder em formação, e todos ali sabiam que, com o tempo, o mundo se curvaria diante dela.
A cabana, nossa conhecida ala médica, estava envolta em um silêncio opressivo, quase sufocante. A madeira desgastada rangia com o peso de nossos passos hesitantes, e o ar parecia carregado, denso, como se estivesse impregnado pela tensão invisível que pairava no ambiente. Cada respiração era um esforço consciente, um lembrete constante da incerteza que envolvia todos nós. Alby permanecia desacordado, seus grunhidos esporádicos e raivosos reverberando pelo espaço apertado. Seu corpo estava amarrado com cordas improvisadas, presas à cama que mal conseguia contê-lo, enquanto ele se contorcia em espasmos, como se lutasse contra algum pesadelo que apenas ele conseguia ver.
Newt, Clint e Jeff estavam ali também, imóveis como estátuas, suas sombras projetadas pelas luzes fracas tremulavam contra as paredes. O silêncio que nos envolvia não era apenas a ausência de som, mas a presença esmagadora de um sentimento coletivo – medo, tristeza e impotência se misturavam em uma espiral sufocante, nos mantendo conectados em uma espera quase insuportável. Embora estivéssemos juntos, compartilhando o mesmo espaço, a verdade era que cada um de nós estava isolado em seus próprios pensamentos, presos a preocupações que não podiam ser expressas em palavras.
A inquietação dentro de mim crescia, a cada segundo se tornando mais difícil de controlar. Minha perna balançava incessantemente, um reflexo da ansiedade que borbulhava sob a superfície, pronta para transbordar. Eu sentia minhas unhas, geralmente minha vítima preferida nesses momentos de tensão, ainda intactas, como se estivessem aguardando o inevitável.
— Não acha que ele está demorando muito? — Minha voz, normalmente firme, saiu baixa e trêmula, como se o peso daquele ambiente estivesse sufocando até minhas palavras. — Estou começando a me desesperar. — As palavras escaparam de mim antes que eu pudesse impedi-las, quebrando o silêncio com um som desconfortável, como se tivesse violado o pacto invisível que mantínhamos de não falar sobre o que todos sentíamos.
Newt, que até então permanecia em uma postura tensa, mas imóvel, ao meu lado, se mexeu sutilmente. Seus olhos permaneciam fixos em Alby, observando cada movimento inquieto, cada respiração irregular. A tensão em seu rosto era evidente, embora ele tentasse disfarçar. A linha fina de seus lábios e o olhar concentrado denunciavam a batalha interna que ele travava, entre a esperança teimosa de que Alby acordaria e o medo paralisante de que isso não acontecesse.
— Vai ficar tudo bem. — Sua voz saiu firme, como sempre, mas eu conseguia perceber o esforço que ele fazia para mantê-la assim. Havia uma leve hesitação, quase imperceptível, que sugeria que, talvez, ele não acreditasse totalmente em suas próprias palavras. Seus dedos, sempre inquietos em momentos de tensão, tamborilavam levemente contra seu braço cruzado, um gesto quase insignificante, mas que revelava o nervosismo que ele tentava esconder.
Jeff, normalmente o mais reservado entre nós, se aproximou lentamente. Seus passos eram deliberados, como se ele temesse perturbar o frágil equilíbrio do ambiente. Quando sua mão pousou em meu ombro, o toque era tão leve que quase passou despercebido, mas o gesto carregava um peso emocional que falava mais do que qualquer palavra poderia. Ele não precisou dizer nada; o simples fato de estar ao meu lado, de compartilhar aquele fardo silencioso, era o suficiente para transmitir o que sentíamos.
Foi então que o som de passos apressados rompeu o silêncio tenso da cabana. A porta se abriu de forma abrupta, batendo contra a parede com um som oco, e Thomas entrou correndo, sua respiração rápida e descompassada denunciando a urgência da situação. Em suas mãos, ele segurava um pequeno frasco, cujo líquido no interior parecia brilhar com uma cor vívida e estranhamente irreal, quase como se fosse algo saído de um sonho – ou de um pesadelo.
Logo atrás dele, entrou a novata. Sua presença fez minha postura se endurecer instintivamente, como se meu corpo respondesse a um perigo invisível. Ela parecia desconfortável, com os ombros encolhidos, e seus olhos se moviam rapidamente de uma pessoa para outra, como se estivesse estudando cada um de nós. Quando seus olhos finalmente encontraram os meus, houve um momento breve, quase imperceptível, em que ela hesitou. Mas então, como se fosse incapaz de me encarar por mais tempo, ela desviou o olhar rapidamente, e uma onda de desconfiança cresceu dentro de mim. Havia algo nela que eu simplesmente não podia confiar.
— Isso veio com ela, junto com o papel. — Thomas finalmente falou, sua voz apressada e ofegante. — Acho que pode ser algum tipo de cura.
Eu arqueei as sobrancelhas, minha mente processando rapidamente as informações. Levantei-me devagar, estendendo a mão, indicando que ele me entregasse o frasco. Thomas não hesitou. Em poucos segundos, ele estava ao meu lado, me entregando o frasco com um olhar de urgência que deixava claro o quão desesperado ele estava para que aquilo funcionasse.
— Nós não sabemos o que é isso. — Minha voz saiu fria e controlada, enquanto meus olhos se voltavam para a novata, agora claramente desconfortável. — Não sabemos de onde veio, nem por que estava com ela. Pode muito bem ser veneno. — Meu olhar era afiado, perfurando a garota, que imediatamente abaixou a cabeça, como se sentisse o peso de minha desconfiança.
— Ele já está morrendo! — Thomas rebateu, sua voz carregada de frustração, enquanto apontava para Alby, que ainda se contorcia na cama. — Olha pra ele! Como isso pode piorar a situação? — Ele esperou por uma resposta, mas eu apenas o encarei, sem palavras. — Vamos, temos que tentar! — Sua voz suavizou, agora quase suplicante, enquanto seus olhos me imploravam para dar uma chance.
O silêncio voltou a dominar o ambiente, enquanto minha mente travava uma batalha interna. Algo dentro de mim temia perder Alby completamente, mas outra parte sabia que talvez esse fosse o único caminho.
— Injeta. — Minha voz saiu dura, como uma ordem, mas por dentro, eu estava dividida.
O momento parecia se arrastar em câmera lenta. Thomas, com a injeção em mãos, se aproximava de Alby com a mesma cautela de alguém prestes a acionar uma armadilha. Cada passo que ele dava parecia ecoar pelo ambiente, carregado com a tensão crescente que todos compartilhávamos. O líquido azulado dentro do frasco brilhava de maneira quase hipnotizante, refletindo a luz fraca que tremulava ao nosso redor, como se fosse uma promessa de cura ou a sentença final.
Thomas olhou para mim uma última vez, seus olhos carregados de incerteza, buscando a confirmação que ele tanto precisava. Eu assenti, sentindo meu estômago se revirar com a expectativa. Não havia mais espaço para hesitação. Ele segurou a seringa com firmeza e começou a aproximá-la do braço de Alby, que permanecia imóvel, exceto pelos espasmos esporádicos e grunhidos que escapavam de seus lábios entreabertos.
E então, o caos se instalou.
Antes que a agulha sequer tocasse sua pele, Alby abriu os olhos de forma abrupta, como se tivesse sido atingido por um raio. Seus olhos estavam vidrados, selvagens, como se não reconhecessem mais nada ao seu redor. O rugido que escapou de sua garganta foi gutural, feroz, mais animal que humano. Em um piscar de olhos, ele se lançou contra Thomas, sua mão forte agarrando o pescoço do garoto com uma fúria descontrolada.
— Alby! — O grito de Newt cortou o ar, mas Alby não reagiu, como se estivesse completamente alheio ao que acontecia ao seu redor. Seu foco estava todo em Thomas, que agora se debatia sob seu aperto sufocante, o rosto já ficando pálido, os olhos arregalados em pânico.
Eu senti meu corpo entrar em modo automático. Meu coração batia descompassado, mas minhas pernas já estavam em movimento. Joguei-me na direção de Alby, assim como Newt e Jeff, tentando a todo custo arrancá-lo de perto de Thomas. Nossos gritos preenchiam o ar, enquanto puxávamos seus braços, mas ele era implacável. Seus olhos, fixos em Thomas, estavam vazios, como se estivesse possuído por algo muito além do nosso alcance.
Thomas, desesperado, tentava soltar as mãos de Alby, seus dedos se agarrando inutilmente ao tecido da camisa ensopada de suor. Seus pés batiam contra o chão, sua luta por ar se tornando cada vez mais frenética. O som sufocado de sua respiração agonizante reverberava em meus ouvidos, como uma bomba prestes a explodir.
— Alby, por favor para! — Gritei com toda a força que meus pulmões permitiam, enquanto procurava desesperadamente algo que pudesse nos ajudar. Foi então que meu olhar caiu sobre a injeção caída ao lado da cama, ainda intacta. Sem pensar duas vezes, lancei-me em direção a ela. Minhas mãos tremiam, mas minha mente estava focada em uma única coisa: acabar com aquilo antes que Thomas morresse sufocado.
Segurei a seringa com firmeza, e em um movimento rápido, avancei contra Alby. Com um golpe preciso, enfiei a agulha em sua pele, sentindo a resistência momentânea de sua carne antes que a injeção liberasse o líquido azul em suas veias. O silêncio pareceu se estender por um segundo interminável. O corpo de Alby enrijeceu, seus músculos se contraíram de maneira violenta, e por um breve instante, o tempo parecia ter parado.
E então, de repente, seus braços afrouxaram.
Alby soltou Thomas, que caiu no chão ofegante, as mãos instintivamente indo para o próprio pescoço enquanto ele tentava recuperar o fôlego. Newt e Jeff correram até ele, puxando-o para longe de Alby, enquanto eu permanecia ali, encarando o corpo desacordado do líder que, segundos antes, havia sido uma força destruidora.
O suspiro pesado que saiu dos lábios de Alby parecia ecoar na sala. Seus olhos, que antes estavam selvagens e cheios de fúria, agora começaram a se fechar lentamente, como se o efeito da injeção estivesse finalmente tomando conta. Seu corpo amoleceu completamente, afundando na cama improvisada, cada músculo cedendo em um estado de total exaustão. Ele suspirou uma última vez, e então, o silêncio tomou conta da sala.
O alívio foi instantâneo, mas não sem um resquício de medo. Minha mão ainda segurava a seringa vazia com força, meus dedos brancos de tensão, enquanto observava o peito de Alby subir e descer de maneira regular. O líquido azul havia surtido efeito, mas as dúvidas ainda pesavam na minha mente. O que realmente tínhamos acabado de injetar nele? Era uma cura... ou apenas uma pausa temporária no pesadelo?
Thomas, deitado no chão, tossiu violentamente, ainda recuperando o ar que quase lhe fora tirado. Newt estava ao seu lado, os olhos preocupados, mas aliviados por ver que ambos estavam vivos. Jeff me olhou, esperando alguma resposta, mas eu estava tão atordoada quanto eles.
A voz de Gally cortou o silêncio da sala, como uma âncora que me puxou de volta ao presente, arrancando-me daquele transe em que eu havia mergulhado. Era como se o mundo ao meu redor tivesse parado por um instante, mas as palavras dele trouxeram tudo de volta, de forma quase brusca, me forçando a lembrar que o perigo ainda não tinha passado, que o que acabara de acontecer ainda estava muito fresco na minha mente.
— Aí, o sol se pôs, fedelho. Hora de ir. — Gally falou com uma calma que me surpreendeu. Sua voz era moderada, quase controlada, uma tonalidade que eu não estava acostumada a ouvir, especialmente quando ele se dirigia a Thomas. Em vez do sarcasmo habitual, havia uma certa firmeza tranquila, como se ele estivesse tentando restaurar alguma normalidade no meio do caos.
Thomas, ainda se recuperando do ataque, respirava de forma irregular, seus pulmões trabalhando para retomar o ritmo normal. Ele olhou ao redor, seus olhos encontrando os meus por um breve momento, antes de se voltar para Gally. Havia uma exaustão visível em seu rosto, mas também uma determinação silenciosa. Mesmo abalado, ele assentiu levemente e começou a seguir Gally para fora da ala médica, seus passos ainda incertos, mas firmes.
Eu observei os dois saírem, minha mente ainda tentando processar tudo o que havia acontecido. A figura de Alby adormecido na cama, a imagem de Thomas lutando por sua vida, e agora, Gally liderando-o para fora com uma estranha serenidade. A tensão no ar parecia se dissipar lentamente, mas algo dentro de mim me dizia que aquilo era apenas o começo, uma calma temporária antes da próxima tempestade.
Chuck e eu estávamos lado a lado, em um silêncio que não precisava ser quebrado, sentados sobre o tronco áspero de uma árvore caída, que parecia ter sido moldada pelo tempo e pelo clima para se tornar um banco improvisado. O campo ao nosso redor era vasto, estendendo-se em todas as direções, como um mar de grama que se movia suavemente com a brisa noturna. O céu, profundo e repleto de estrelas, oferecia um cenário grandioso, e Chuck parecia hipnotizado por ele. Seus olhos brilhavam com uma inocência quase palpável, como se cada pontinho luminoso carregasse uma promessa de mistério e aventura, algo que apenas ele podia compreender.
Eu, no entanto, não conseguia me perder na mesma tranquilidade. Enquanto ele olhava para o céu, o meu olhar estava fixo à distância, muito além do campo aberto e das estrelas. Meu foco estava em um ponto invisível, onde o Amansador repousava, suas imponentes estruturas quase escondidas pela escuridão. Era difícil desviar os pensamentos da inquietação que se aninhava no meu peito. Meu corpo estava presente ao lado de Chuck, mas minha mente vagava, cada pensamento se voltando a uma única pessoa: Thomas.
Será que ele estava bem? A pergunta passava pela minha mente de tempos em tempos, sem urgência, mas também sem deixar de existir. Chuck, alheio a qualquer pensamento mais pesado, suspirava suavemente ao meu lado, encantado com a tranquilidade do céu noturno. Enquanto ele se perdia nas estrelas, eu tentava afastar a leve preocupação que surgia em mim, mantendo o foco na calma ao redor, mesmo que o incômodo estivesse lá, silencioso.
— Você conhece alguma constelação? — Chuck perguntou de repente, quebrando o silêncio profundo da noite com uma pergunta que parecia simples, mas carregava uma curiosidade genuína. Ele desviou o olhar atento do céu estrelado e se voltou para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e expectativa. A luz tênue das estrelas refletia em seu rosto, destacando a expressão de fascínio e um toque de ingenuidade que ele mostrava ao se interessar por algo tão vasto e distante quanto o céu.
Eu rapidamente saí do meu transe, o deslizar do meu olhar pelas estrelas interrompido abruptamente pela pergunta de Chuck. Meu foco se ajustou para encarar a pergunta dele, e uma sensação de leve confusão me envolveu. Franzi a testa, tentando resgatar do fundo da minha memória as informações sobre constelações. As lembranças que eu possuía pareciam escapar de mim, como se estivessem envoltas em uma névoa densa que obscurecia a clareza do meu conhecimento. No entanto, após um momento de esforço mental, uma constelação específica começou a emergir, trazendo com ela uma onda de nostalgia e uma sensação de familiaridade reconfortante.
Apontando para o céu, comecei a falar, minha voz tentando preencher o vazio com as memórias que começavam a se organizar. — Veja aquela lá — disse, movendo meu dedo indicador com precisão para uma formação distinta de estrelas que se destacava no céu escuro e profundo. — É a constelação de Orion. Na mitologia grega antiga, Orion era descrito como um gigante caçador, conhecido por sua força colossal e coragem indomável. Segundo as lendas, após sua morte, Zeus, o deus dos deuses, decidiu homenageá-lo colocando-o no céu. Assim, Orion e seu famoso cinturão estelar foram imortalizados nas constelações, como um símbolo eterno de sua bravura e para garantir que sua memória jamais se apagasse.
Chuck virou o olhar na direção em que eu apontava, seus olhos arregalados e cintilantes com um fascínio genuíno. — E o que significa para você? — ele perguntou, a voz carregada de um tom inquisitivo que demonstrava um desejo sincero de entender o impacto pessoal que a constelação tinha para mim.
A pergunta de Chuck me fez parar e refletir por um instante. — Para mim, Orion sempre foi um símbolo de resistência e perseverança — comecei, minha voz firmando-se com a certeza de quem fala sobre algo que realmente acredita. — A ideia de que, mesmo depois da morte, alguém pode continuar a brilhar como um farol de força e coragem... É um poderoso lembrete de que, não importa o que enfrentamos, nossa resiliência e os nossos feitos podem persistir e inspirar outros, mesmo muito depois que partimos.
Ele me encarou com um olhar que parecia absorver o que eu havia acabado de dizer. Seus olhos se fixaram em mim com uma expressão que misturava curiosidade e compreensão. Seu sorriso, aquele que sempre tinha o poder de transmitir uma sensação de calor, começou a se formar lentamente. Era um sorriso simples, mas carregado de uma sinceridade que, mesmo sem palavras, tinha a capacidade de criar um ambiente de conforto e segurança ao meu redor.
— Bem... Eu consegui te distrair? — Chuck perguntou, sua voz levemente brincalhona, como se ele estivesse se divertindo com a situação. A maneira como ele formulou a pergunta parecia querer suavizar a conversa, transformando-a em algo mais leve. Eu arqueei as sobrancelhas, um gesto que expressava minha confusão e minha dificuldade em compreender a intenção por trás da pergunta.
— Quer dizer... Você parecia bem ansiosa encarando o amansador — ele continuou, tentando esclarecer seu comentário anterior. A forma como ele descreveu minha ansiedade me pegou de surpresa. Eu levantei as sobrancelhas em um sinal claro de admiração e levei um momento para processar a observação dele. Com um sorriso levemente envergonhado, desviei o olhar para o vasto campo à nossa frente, buscando uma distração enquanto tentava esconder a sensação de constrangimento.
— Não sei como Thomas está. E admito que, depois do que te contei, estou um pouco preocupada — confessei, minha voz carregada de uma leve tensão que indicava meu estado emocional. Enquanto eu falava, observei Chuck, sua postura atenta e seu silêncio mostravam que ele estava ouvindo atentamente e absorvendo a magnitude da minha preocupação.
— Você quer ir até ele? Se quiser, vou com você — Chuck ofereceu com uma gentileza que parecia sincera e reconfortante. O tom da sua voz era acolhedor, e a oferta parecia genuína, como se ele estivesse realmente disposto a me apoiar. Eu refleti por um momento sobre a proposta, avaliando se sua companhia seria uma ajuda valiosa. Então, um sorriso de alívio apareceu em meu rosto, e eu assenti com um gesto de gratidão, apreciando a oferta de suporte.
Chuck rapidamente se levantou, os movimentos dele ágeis e decididos, como se uma ideia tivesse acabado de surgir em sua mente. Seus olhos brilharam por um breve momento antes de ele dizer: — Espera aqui. — A voz dele estava um pouco acelerada, refletindo sua pressa, e antes que eu pudesse questionar ou reagir, ele já havia disparado em direção à cozinha. Confusa, mas curiosa, resolvi obedecer o garotinho, observando-o sumir rapidamente pelo campo.
Fiquei parada por alguns instantes, ouvindo os sons suaves que vinham do local, me perguntando o que ele estava planejando. Não demorou muito até que Chuck reaparecesse, os braços pequenos carregando alguns alimentos que ele aparentemente conseguiu reunir em sua rápida incursão. Um sorriso imediatamente surgiu em meus lábios ao vê-lo se esforçando para carregar tudo. A iniciativa dele me surpreendeu de maneira positiva, e sem hesitar, me abaixei para ajudá-lo a segurar os alimentos.
— Já disse que você é muito inteligente, pequeno? — Comentei, sentindo o orgulho crescer dentro de mim. As ações dele eram rápidas, mas pensadas, algo que me fazia admirar sua capacidade de raciocínio, mesmo em situações de tensão. Ele sorriu de forma tímida, um leve rubor aparecendo em seu rosto enquanto abaixava um pouco a cabeça, visivelmente envergonhado pelo elogio.
— Aprendi com você! — Chuck respondeu rápido, seu tom brincalhão voltando à superfície, e isso me fez soltar uma risada espontânea, apreciando o humor leve que ele sempre conseguia trazer para qualquer situação. Com as provisões em mãos, comecei a caminhar ao lado dele em direção ao local onde Thomas estava.
Estávamos bastante próximos do amansador, os passos silenciosos na grama e o som distante dos grilos criando uma atmosfera de calma. A proximidade com o amansador trouxe um sentimento de expectativa, misturado com uma leve tensão. Foi então que uma voz masculina, carregada de preocupação, quebrou o silêncio.
— Quem está aí? — A voz do moreno ecoou no ar, carregada com um tom que transmitia uma mistura de ansiedade e medo.
— Somos nós, Mavie e Chuck! — Alertei rapidamente, minha voz projetada de forma clara e firme para que o moreno pudesse identificar nossa presença imediatamente. Caminhei até a pequena portinha desgastada do amansador, minha preocupação evidente em cada passo. A porta, que parecia ter suportado o peso dos anos, estava marcada por sinais de uso, com rachaduras e arranhões evidentes que contavam histórias de um tempo passado.
— Foi mal, May — disse Thomas, sua voz baixa, quase engolida pela tensão que nos cercava. O pedido de desculpas soava vazio, um reflexo automático do estresse, mas não o levei a mal. Apenas sorri, um sorriso calmo que talvez escondesse mais do que revelasse.
Ajoelhei-me com firmeza no chão duro e áspero, a sensação fria da terra sob minhas mãos me ancorando à realidade, e o garoto ao meu lado seguiu meu movimento, quase como se tivesse esperado por esse gesto. Juntos, começamos a entregar os suprimentos que havíamos trazido.
— Toma, melhor correr com a barriga cheia — disse Chuck, sua voz leve tentando amenizar o peso que carregávamos nos ombros. O ato simples de entregar comida parecia, naquele momento, um gesto de sobrevivência, uma promessa silenciosa de que continuaríamos lutando. Thomas pegou cada item com mãos firmes, mas havia uma gratidão em seu olhar que dizia mais do que qualquer palavra.
Com um suspiro controlado, me sentei lentamente, cruzando as pernas no chão enquanto indicava com um movimento rápido para que Chuck fizesse o mesmo. Ele me imitou com a mesma prontidão, e em silêncio, observamos Thomas se acomodar de forma quase desesperada. Ele começou a comer com uma urgência visceral, como se sua vida dependesse de cada mordida, como se aquele simples ato pudesse restaurar sua força desgastada pelo dia.
— Muito obrigado, Chuck e May — agradeceu Thomas, sua voz abafada pela comida, cada palavra carregada de uma sinceridade que me fez sorrir. Ele falava de boca cheia, de um jeito desajeitado que me arrancou uma risada inesperada.
— Não há de quê — respondi, inclinando-me para frente com um sorriso malicioso brincando nos lábios. — Mas, aliás, não conte para o Gally que trouxemos isso para você. — Pisquei para Thomas, e o brilho em seus olhos cansados me fez rir de novo. Chuck ao meu lado já ria também, aquele riso tímido e suave, e por um breve segundo, o peso que carregávamos parecia menor.
Foi então que percebi Thomas estreitar os olhos, focando-se em algo nas mãos de Chuck. Sua expressão de cansaço deu lugar a uma curiosidade súbita.
— O que é isso aí? — Ele perguntou, apontando com o queixo para o pequeno objeto que Chuck segurava. Meu olhar seguiu o de Thomas, e ali, nas mãos do garoto, repousava um pequeno boneco de madeira, esculpido com simplicidade, mas com uma precisão que me surpreendeu.
Em silêncio, Chuck se aproximou de mim, estendendo o boneco de madeira com um cuidado quase reverente, como se estivesse me oferecendo algo mais precioso do que parecia à primeira vista. Observei os detalhes da escultura — pequenos entalhes, simples, mas feitos com atenção — e algo naquele gesto me tocou profundamente. Logo depois, ele aproximou o boneco de Thomas, que, intrigado, se levantou e caminhou até a pequena porta, onde Chuck estava parado.
— Caramba, ficou muito bonito — Thomas elogiou, sua voz suave, quase comovida. Ele se inclinou um pouco para observar o boneco mais de perto. — É pra quê? — Perguntou, o interesse evidente em sua voz.
— É pros meus pais — Chuck disse, sua voz baixa, mas clara o suficiente para que eu pudesse ouvir cada palavra. Imediatamente, senti uma pontada no peito, uma dor surda que me atingiu de surpresa.
— Lembra dos seus pais? — Thomas perguntou de novo, típico de sua curiosidade incansável.
Houve uma pausa longa e pesada. Chuck, por sua vez, ficou em silêncio por alguns segundos, seus pequenos ombros caídos, como se a simples pergunta tivesse colocado um fardo sobre ele. Ele então balançou a cabeça lentamente, o olhar perdido no boneco que segurava, sua expressão mudando para algo mais sério.
— Não... — ele começou, sua voz agora mais fraca, quase um sussurro. — Ou melhor, eu sei que tenho pais, e onde quer que estejam, devem sentir minha falta. Mas eu não sinto... porque não lembro deles... — Ele parou de falar, sua voz se esvaindo no final da frase, e vi seus olhos brilharem, enchendo-se de lágrimas que ele lutava para segurar.
Aquele momento de vulnerabilidade me atingiu como uma lâmina afiada. Ver Chuck, tão pequeno e ainda assim carregando uma dor que ninguém de sua idade deveria suportar, me deixou desnorteada. Eu podia sentir o nó se formando em minha garganta, mas o engoli. Não havia nada que eu quisesse mais naquele momento do que ver aquele garoto sair conosco, encontrar sua família e conquistar a felicidade que ele merecia.
— O que vamos encontrar no labirinto amanhã? — Chuck desviou o olhar para as paredes cinzas ao redor, sua voz baixa, mas carregada de uma seriedade que me surpreendeu. Ele estava se recompondo, afastando a vulnerabilidade de momentos atrás, como se já tivesse aprendido a sufocar seus sentimentos.
Fiquei em silêncio por um segundo, buscando as palavras certas. A verdade era que nem eu sabia o que encontraríamos no dia seguinte. Mas não era isso que ele precisava ouvir agora.
— Ah... Eu não sei, pequeno. — Suspirei, minha voz soando firme, mesmo que por dentro estivesse cheia de incertezas. — Mas se houver uma forma de sair, eu e os garotos vamos descobrir. — Minhas palavras saíram fortes, carregadas de uma confiança que eu forçava a mim mesma. Era o que ele precisava — acreditar que ainda havia esperança, que a angústia que carregava não seria eterna.
Em silêncio, Chuck abaixou a cabeça, tirando o boneco de madeira do bolso novamente. Seus pequenos dedos envolviam o objeto com tanto cuidado que por um momento pensei que ele estava buscando conforto naquela simples escultura. Mas então, ele estendeu a mão, oferecendo o boneco em minha direção. Olhei para ele, confusa, enquanto o pegava, sentindo o peso inesperado daquilo — não o peso físico, mas o emocional, algo que ele parecia estar transferindo para mim.
— Ei, por que está me dando isso? — Perguntei, franzindo o cenho. Aquele boneco significava tanto para ele, eu sabia disso. Não fazia sentido que ele o entregasse assim.
Chuck levantou o olhar, os olhos cansados, mas determinados. — Eu não lembro deles mesmo... Mas talvez, se você conseguir sair, pode dar a eles por mim. — Sua voz era suave, carregada de uma aceitação que partiu meu coração. O silêncio que se seguiu foi pesado, sufocante. Se eu estivesse sozinha, naquele momento, desabaria em lágrimas. Eu o entendia tanto. Sabia como era carregar essa incerteza, essa dor invisível que roía por dentro. A promessa de uma família distante, mas ao mesmo tempo, inacessível.
Ele começou a se levantar, tentando se afastar da dor daquele momento, como se fugir fosse a única opção. — Vou deixar vocês a sós... — murmurou, sua voz baixa, e antes que ele pudesse dar mais um passo, estendi a mão, parando-o.
— Ei, vem cá! — Chamei sua atenção, minha voz mais suave do que pretendia, mas cheia de urgência. Chuck parou, hesitando por um segundo antes de se virar, seus olhos baixos, como se já estivesse acostumado a fugir dessas conversas. Ele voltou a se aproximar lentamente, parando em minha frente com um olhar abatido.
— Me dê sua mão. — Pedi, estendendo a minha, e com uma certa apreensão, ele obedeceu. Suas mãos pequenas e frágeis se encontraram com as minhas, e com delicadeza, coloquei o boneco de volta em suas mãos. Antes que ele pudesse se afastar, segurei sua mão junto com o boneco, mantendo-o perto.
— Eu quero que você entregue a eles. Nós vamos sair daqui, todos nós. — Minhas palavras saíram firmes, cada sílaba carregando a convicção que eu queria que ele sentisse. — O que eu puder fazer para te ajudar a encontrar sua família, eu farei. — Me aproximei, inclinando-me para deixar um beijo suave em sua bochecha. Ele corou de imediato, o rubor em seu rosto contrastando com o sorriso tímido que finalmente apareceu, algo genuíno, um lampejo de esperança.
— Eu prometo. — Sussurrei, minha voz firme enquanto nossos olhares se encontravam. Era uma promessa que eu pretendia cumprir, não importava o quão impossível parecesse.
Chuck assentiu lentamente, um brilho novo em seus olhos, como se, por um momento, a esperança fosse algo tangível. — Obrigada, May. — Ele disse com gratidão genuína, e eu assenti em silêncio, retribuindo seu sorriso.
Observei enquanto ele começava a caminhar, seus passos lentos e hesitantes, até desaparecer na direção de onde dormia. Meu peito ainda estava apertado, mas agora havia uma determinação renovada em mim. A promessa que fiz não era apenas para ele — era para todos nós.
— Você é boa com ele, sabia? — A voz de Thomas surgiu do silêncio, baixa, quase um sussurro carregado pelo vento suave da noite. Havia algo na forma como ele disse isso, uma honestidade tão crua que me pegou desprevenida. Não era uma observação casual, mas algo que ele realmente sentia, como se quisesse que eu soubesse da importância do que havia feito por Chuck.
Virei lentamente a cabeça, encontrando o olhar dele. Os olhos de Thomas sempre tinham essa intensidade, um misto de curiosidade e preocupação, como se ele carregasse o peso de perguntas que jamais ousaria fazer em voz alta. Por um momento, me perguntei se ele conseguia enxergar as rachaduras na minha armadura, aquelas que eu tentava manter escondidas. Será que ele sabia o quanto cada palavra que eu disse para Chuck me afetava? Eu não podia deixar isso transparecer. Ser forte era o que me restava, e mostrar fraqueza era um luxo que eu não podia me permitir.
— Eu só faço o que qualquer um faria, Thomas. — Minha voz vacilou, quase como um suspiro, carregada de um cansaço que eu não sabia que estava tão evidente. — Ele é só uma criança... não deveria carregar esse tipo de peso. — O som das minhas palavras se dissolveu no ar, mas a verdade que elas carregavam ficou pairando entre nós.
Thomas me estudava com uma seriedade incomum. Ele assentiu devagar, quase imperceptivelmente, e então se inclinou levemente para mais perto da pequena fresta na estrutura que o isolava. Mesmo separado por aquela barreira improvisada, o modo como ele se posicionou, com o braço saindo pela abertura da madeira, criou uma sensação de proximidade. Cada movimento parecia calculado, como se ele temesse quebrar o frágil equilíbrio daquele momento que se formava entre nós. O ambiente ao redor se tornou menos relevante, a clareira se apagando nas bordas, restando apenas o som abafado de nossas respirações no ar quieto.
— Você faz mais do que qualquer um faria, May. — A voz dele, agora um pouco mais firme, carregava a mesma teimosia de sempre, aquela vontade de me convencer de algo que eu não estava disposta a aceitar. — Não é todo mundo que consegue dar esperança, mesmo quando não há nenhuma garantia de que as coisas vão melhorar. Você faz isso por todos nós... mesmo sem perceber. — As palavras dele tinham um peso que eu não conseguia ignorar, e embora simples, traziam uma verdade que eu evitava encarar.
Eu desviei o olhar, sentindo o calor subir ao meu rosto, uma reação inesperada para alguém que costumava manter o controle sobre suas emoções. Por mais que eu tentasse racionalizar, as palavras de Thomas, por mais diretas que fossem, me afetavam de uma forma diferente. Não era que eu me visse como uma heroína ou algo assim, longe disso. Nós todos estávamos apenas tentando sobreviver ao que quer que fosse isso... mas ouvir aquilo dele, daquela maneira, mexia comigo.
— Eu não faço nada demais. — Murmurei, minha voz quase inaudível. Era uma tentativa de encerrar o assunto, de evitar que ele visse algo que eu não queria mostrar. — Só... mantenho todos vivos. O que é o mínimo, considerando o que passamos. — Deixei as palavras escaparem de mim como uma confissão, embora soubesse que elas não eram suficientes para esconder o que eu realmente sentia.
Thomas riu baixo, o som reverberando suavemente na escuridão ao redor. Era um riso discreto, mas genuíno, e isso fez algo em mim relaxar de maneira involuntária.— Manter todos vivos já é mais do que a maioria conseguiria. — Ele pausou por um momento, o silêncio entre suas palavras deixando um impacto maior do que o esperado. — Inclusive eu.
Minha respiração vacilou por um segundo, as palavras dele me atingindo de uma forma inesperada. Havia algo nas linhas do rosto dele, uma exaustão que ia além do físico, algo que ele tentava esconder, mas que não conseguia disfarçar completamente.
Sem pensar, aproximei-me da pequena abertura, estendendo a mão para encontrar a dele. O toque foi hesitante, mas ao sentir a pele quente de Thomas sob meus dedos, uma onda de familiaridade e conforto me envolveu. — Você não está sozinho nisso, Thomas. — Minha voz saiu mais firme desta vez, carregada de uma força que eu não sabia que ainda possuía. — Eu estou aqui. E nós estamos com você.
Thomas virou o rosto na minha direção, e nossos olhares se encontraram novamente. Havia algo diferente naquele momento, como se o tempo ao nosso redor tivesse desacelerado. A Clareira, o labirinto, os monstros... tudo parecia desaparecer, restando apenas nós dois. E, por um breve instante, nada mais importava.
Ele me deu um sorriso, pequeno, quase imperceptível, mas genuíno. Não era o sorriso casual que ele costumava exibir, mas algo mais profundo, carregado de uma vulnerabilidade que eu não esperava. — Eu sei, May. — Ele sussurrou, sua voz suave, mas cheia de certeza. — Eu também estou aqui... Por você.
As palavras de Thomas ressoaram em mim de maneira inesperada, abalando a firmeza que eu havia tentado manter. Thomas e eu permanecemos ali, nos encarando através da fresta, o silêncio entre nós carregado de um sentimento que parecia simultaneamente familiar e novo. Aquele olhar penetrante e sincero dele despertava algo dentro de mim, uma emoção que eu havia sentido desde a primeira vez que o vi, e que agora estava se intensificando, desafiando minha tentativa de manter a compostura.
Enquanto nossos olhares se encontravam, Thomas acariciou suavemente a minha mão, um gesto que provocou um gelo na minha barriga. O toque dele era delicado e reconfortante, e a sensação inesperada fez meu coração acelerar. O contato, mesmo através das barras que nos separavam, parecia preencher o espaço entre nós de uma maneira que palavras não poderiam alcançar, e eu senti um turbilhão de emoções que eu estava lutando para entender.
De repente, minha mente parecia sair do prumo. A tensão do momento me atingiu como uma onda, e eu senti uma onda de nervosismo e confusão tomar conta de mim. Sem saber exatamente como reagir, minha mão se afastou da dele de forma abrupta, como se tivesse tocado algo inesperadamente quente. Eu tossi de maneira exagerada, tentando quebrar o clima intenso que havia se formado entre nós. A tosse saiu como um som um pouco forçado, quase como se eu estivesse tentando desviar a atenção do fato de que havia ficado completamente desnorteada.
— Ehm, bem, eu acho que... eu vou... — Minha voz falhou por um momento, e eu me afastei da abertura, me levantando rapidamente. — Eu vou... descansar. Preciso dormir. — A tentativa de manter a compostura falhou miseravelmente. Eu não consegui evitar um leve rubor que se espalhou pelo meu rosto enquanto eu dava passos vacilantes para longe da fresta.
Thomas me observou com um sorriso contido, como se entendesse perfeitamente a confusão que eu estava sentindo, mas a expressão dele permanecia um misto de compreensão e divertimento.
— Boa noite, May. — A voz dele soou com uma suavidade inesperada, quase como um sussurro, mas havia um tom divertido e provocativo subjacente. Era como se ele estivesse brincando com a situação, tornando-a um pouco mais leve, apesar da carga emocional que a envolvia.
— Boa noite, Thomas. — Respondi, minha voz tentando manter a dignidade e o controle. No entanto, por dentro, sentia-me envergonhada e desarmada após aquele momento intenso. O calor em minhas bochechas denunciava a minha vulnerabilidade, e eu me forcei a dar um sorriso que, embora tentasse ser confiante, não conseguia esconder completamente a sensação de constrangimento que estava me dominando.
Caminhando para longe de Thomas, soltei um suspiro profundo que eu nem percebera estar prendendo. O alívio de estar sozinha me envolveu, e, ao chegar à minha rede, me joguei sobre o tecido áspero, cobrindo meu rosto com as mãos na tentativa de afastar os pensamentos que continuavam a assombrar minha mente. O esforço para organizar meus sentimentos parecia exaustivo, mas eu sabia que precisava disso.
Com um movimento rápido e quase automático, sentei-me e comecei a retirar meus coturnos pesados, sentindo uma onda de alívio ao finalmente descalçar meus pés cansados. Voltei a me deitar, o corpo afundando na rede com um suspiro de alívio. O conforto improvável da rede me envolveu, e a sensação de relaxamento começou a se espalhar, ajudando a aliviar a tensão acumulada ao longo do dia.
Enquanto me acomodava na rede, o som suave da noite e a visão das estrelas acima criavam uma sensação inesperada de paz. Fechei os olhos, permitindo que a exaustão finalmente me envolvesse. Em meio ao abraço confortável da rede, deixei que a escuridão da noite me envolvesse, entregando-me ao descanso necessário e aguardando o que o amanhecer traria.
Já estava de pé em frente à abertura do labirinto, que permanecia imponente e fechada, aguardando pacientemente o retorno de Minho e Thomas. Recusei-me a ir buscá-los pessoalmente, ainda sentindo a vergonha persistente da noite anterior. Meus pensamentos giravam em alta velocidade, especulando sobre o que poderíamos encontrar depois do objeto enigmático que havíamos encontrado no corpo do verdugo. Uma adrenalina crescente tomava conta de mim, alimentada pela esperança de que hoje poderíamos descobrir uma possível saída.
De repente, meus devaneios foram interrompidos pelo som de passos atrás de mim. Virei-me rapidamente e vi Minho e Thomas se aproximando. Minho me observava com um olhar fixo e quase desafiador, como se esperasse que eu desistisse da missão que ele julgava ser uma mera declaração à morte. Thomas, por outro lado, desviava o olhar para as paredes acinzentadas do labirinto, mas eu podia perceber que sua tentativa de evitar meu olhar era uma forma de esconder sua própria apreensão. A tensão no ar era palpável, e o mistério do que viria a seguir parecia estar prestes a se revelar.
— Vocês realmente querem ir? Não querem pensar mais um pouco? — Minho finalmente falou, sua voz revelando uma inquietação crescente. Ele olhou para mim com uma expressão de preocupação misturada com ceticismo, como se eu estivesse prestes a tomar uma decisão precipitada. Revirei os olhos, um gesto de frustração bem visível.
— Qual é, Minho! Desde quando você ficou tão medroso? — Respondi, minha voz carregada de um tom de desdém. A ironia em minha resposta era clara, refletindo minha impaciência com sua hesitação. Minho soltou uma risada irônica, negando com a cabeça e claramente desafiando minha atitude.
— A partir do momento em que passei uma noite inteira com aqueles verdugos! — Ele disse, como se fosse evidente que a experiência havia deixado uma marca profunda. Sua resposta tinha um tom de resignação, como se ele estivesse explicando algo óbvio. Contive um suspiro exasperado, lutando para não revirar os olhos mais uma vez.
Antes que eu pudesse elaborar uma resposta, o barulho estrondoso das engrenagens começou a preencher o espaço ao nosso redor. Era um som que eu conhecia bem, mas que sempre me irritava profundamente. O ruído das engrenagens girando e se encaixando era ensurdecedor, um lembrete constante da implacável natureza do labirinto.
Como se seguissem uma coreografia ensaiada, os garotos se posicionaram de forma estratégica, um de cada lado, preparados para o que viesse a seguir. A abertura do labirinto começou a se desdobrar lentamente diante de nós, revelando o caminho escuro que se estendia à nossa frente. O clima estava carregado de expectativa e tensão, enquanto nos preparávamos para enfrentar o próximo desafio que nos aguardava.
Assim que o barulho estrondoso das engrenagens cessou, um silêncio pesado tomou conta do ambiente, como se o próprio labirinto estivesse aguardando o nosso próximo movimento. A abertura estava agora completamente formada, revelando o caminho escuro e intrigante à nossa frente. Cada um de nós respirou fundo, tentando absorver a gravidade do momento e preparar-se mentalmente para o que estava por vir.
— Vamos! — Gritei com uma voz carregada de determinação, minha urgência clara e impositiva. Sem hesitar, comecei a correr em direção ao labirinto, sentindo a adrenalina pulsar em minhas veias. Minho e Thomas imediatamente me seguiram, os sons de seus passos firmes e decididos preenchendo o espaço ao nosso redor.
O único som que quebrava o silêncio era o de nossos passos apressados e nossas respirações desreguladas, cada um lutando para manter o ritmo enquanto avançávamos. Nosso objetivo estava fixo na mente de todos nós: verificar se o setor 07 estava realmente aberto. Se não estivesse, tudo o que havia planejado e imaginado na minha mente teria sido em vão.
Com a respiração ofegante e o coração acelerado, desacelerei gradualmente, começando a caminhar mais devagar ao notar o grande número "07" gravado nas densas paredes ao nosso redor. A visão da marca, inesperada, trouxe uma sensação de alívio misturada com estranhamento. Parecia que a minha teoria estava correta, mas a descoberta também era surpreendente.
— Que estranho... — Minho comentou, olhando em volta com uma expressão de curiosidade e desconforto. Seus olhos examinavam as paredes e o ambiente com uma mistura de ceticismo e interesse.
— O que? — Thomas perguntou, seu tom carregado de confusão, enquanto tentava entender o motivo da inquietação de Minho.
— A 7 só devia abrir em uma semana. — Minho explicou, a voz dele refletindo uma combinação de surpresa e frustração. Ele se juntou a nós, e os três agora caminhavam lado a lado, enquanto o setor se revelava à medida que nos aproximávamos.
À medida que entrávamos no setor, a visão das lâminas se descortinava diante de nós. O ambiente era imponente e inquietante, com lâminas afiadas e perigosas dispostas de forma a formar um labirinto mortal.
— Que lugar é esse? — Thomas perguntou, seus olhos arregalados de espanto enquanto observava as lâminas com um misto de fascínio e medo.
— Chamamos de lâminas. — Respondi, minha voz soando seca e concentrada. O foco estava em estudar cada detalhe do ambiente à nossa frente, tentando identificar qualquer pista ou estrutura que pudesse nos ajudar a avançar.
Caminhando por alguns minutos, parei abruptamente ao notar algo no chão que fez meu coração acelerar de imediato. O objeto à minha frente parecia irradiar uma aura de mistério e perigo. Um frio cortante se espalhou pela minha espinha enquanto eu me abaixava com rapidez. A blusa desgastada e suja estava espalhada sobre o chão, o material frio e áspero se chocando contra a ponta dos meus dedos. Cada fibra da peça parecia conter histórias de dor e desespero. Segurei a respiração, meu peito apertando com a pressão crescente das lágrimas que ameaçavam escapar, enquanto a dura realidade se fazia presente com todo o seu peso.
— É do Ben, não é? — A voz de Thomas cortou o silêncio, baixa e carregada com uma preocupação genuína que ecoava a minha. Ele e Minho se agacharam ao meu lado, suas expressões marcadas pela mesma tristeza silenciosa que pairava no ar. Minho, com seu olhar sombrio e uma compreensão taciturna, compartilhava o peso do que acabamos de achar.
— É... Um verdugo deve ter arrastado ele até aqui. — Minho respondeu, sua voz firme, mas com um tom de melancolia que não conseguia esconder. A explicação, embora direta e crua, não conseguia suavizar o turbilhão de emoções que se formava dentro de mim. O esforço de Minho para manter a calma refletia meu próprio desejo de manter a compostura, enquanto tentava focar naquilo que realmente importava naquele momento doloroso.
Com um sentimento de desamparo, larguei a blusa no chão e me levantei, o peso da situação esmagando meus ombros. Os garotos me seguiram, seus passos silenciosos e determinados ecoando na atmosfera carregada ao nosso redor. Cada som, cada movimento parecia amplificado, como se o próprio ambiente estivesse em sintonia com a gravidade do momento.
De repente, um som agudo e tecnológico cortou o silêncio, fazendo todos nós congelarmos instantaneamente. Nossos olhares se encontraram, confusos e alertas, o som estranho e irregular parecendo desafiar o que quer que fosse que sabíamos até então. Sem hesitar, me posicionei atrás de Minho, puxando o objeto do verdugo de suas costas. O metal, agora mais intenso e crescente, parecia sinalizar que estávamos na direção certa, como se estivesse nos guiando para uma descoberta crucial.
Comecei a caminhar lentamente, mantendo o foco no material metálico em minhas mãos, que agora emitia um som mais constante e forte. A cada passo, a sensação de que estávamos prestes a descobrir algo fundamental se intensificava. E então, o som metálico se estabilizou, revelando um padrão específico.
Xeque-mate.
Eu e os garotos avançávamos com cautela, os olhos atentos a cada detalhe, enquanto o som insistente do objeto em minhas mãos ecoava como um aviso constante. Cada bip era um lembrete de que estávamos nos aproximando de algo desconhecido, e a sensação de perigo iminente pairava no ar, pesada e densa. A atmosfera ao redor parecia vibrar, e meus pés tocavam a pedra fria e irregular do chão com uma hesitação que não costumava me acompanhar. Era como se o próprio labirinto estivesse brincando com nossos sentidos, nos guiando para um território inexplorado, onde cada passo poderia ser nosso último.
Eu lançava olhares furtivos ao redor, tentando absorver cada detalhe do cenário. As paredes ao nosso redor se erguiam como gigantes adormecidos, imponentes e impenetráveis, cercando-nos completamente. E o que antes eram passagens estreitas agora se transformara em um abismo sombrio, sem qualquer borda visível, um buraco profundo onde a escuridão engolia tudo. A pedra sob nossos pés era fria e dura, o único ponto de apoio entre nós e o vazio ameaçador. Cada respiração era um lembrete do quão perto estávamos do desconhecido. O perigo parecia palpável, uma presença invisível que observava nossos movimentos com silenciosa antecipação.
— Vocês já tinham visto este lugar? — A voz de Thomas quebrou o silêncio, carregada de uma curiosidade inquieta. Ele girava lentamente, seus olhos examinando cada detalhe das paredes e do abismo. Sua expressão era uma mistura de fascínio e apreensão, e eu podia ver as perguntas que queimavam dentro dele, mesmo que ele não as expressasse.
Ele completou o giro, fazendo uma análise minuciosa do ambiente. Seus olhos rastreavam cada pedra, cada sombra, buscando respostas onde só havia mistério. A tensão em seus ombros revelava o quanto ele estava no limite, mas ainda assim, ele se manteve firme. Eu sentia o peso da responsabilidade nos seus olhos, a necessidade de compreender o que estávamos enfrentando, mesmo que tudo parecesse uma armadilha cruel.
— Não... — Minho respondeu, sua voz soando rouca e incrédula. Ele estava ao meu lado, seu olhar fixo nas paredes ao redor, como se estivesse tentando processar o que via.
Caminhando por mais alguns metros, o som do objeto em minhas mãos começou a desacelerar, até que, de repente, fomos forçados a parar. Uma parede enorme e sólida se erguia diante de nós, bloqueando qualquer possibilidade de passagem. O choque me atingiu com força, como um soco no estômago, enquanto eu processava a realidade diante de mim. O coração que batia acelerado agora parecia afundar no peito. O silêncio ao nosso redor era ensurdecedor.
Olhei em volta, os olhos correndo pelo ambiente estéril e sem vida, e a ficha finalmente caiu: tudo aquilo tinha sido em vão. Não havia saída, nem revelação, apenas uma parede. Era como se tivéssemos sido guiados até ali apenas para ser confrontados com um vazio cruel. O lugar em que estávamos não passava de um espaço morto, um canto esquecido do labirinto, construído para preencher o terreno. Um beco sem saída.
— Isso só pode ser uma piada... — murmurei, minha voz carregada de frustração e incredulidade. As palavras escaparam antes que eu pudesse controlá-las. Me virei para os garotos, e vi a mesma expressão de derrota se espalhando em seus rostos. O gosto amargo da decepção era palpável, e a sensação de sermos marionetes em um jogo sádico apenas crescia.
Foi então que o objeto em minha mão vibrou de repente, como um presságio, emitindo um som metálico e estranho, que cortou o silêncio ao nosso redor. O ruído agudo era quase sobrenatural, reverberando pelas paredes imponentes do Labirinto. O chão sob nossos pés pareceu tremer por um instante, enquanto a luz que antes era vermelha pulsava, transformando-se em um verde intenso. Um calafrio subiu por minha espinha, e o ar ficou denso, como se algo gigantesco estivesse prestes a acontecer.
Foi nesse momento que um estrondo profundo, acompanhado de um rangido abafado, tomou conta do espaço. A parede que há segundos parecia o fim de nossa jornada começou a se mover lentamente, como se uma força invisível estivesse puxando suas extremidades. Cada bloco de pedra parecia deslizar com uma precisão absurda, uma coreografia de destruição e criação, revelando um caminho onde antes havia apenas uma barreira sólida e intransponível.
O chão tremeu sob nossos pés, e o som das engrenagens escondidas nas profundezas das paredes foi gradualmente substituído pelo silêncio atônito que pairava sobre nós. Meus olhos arregalaram, o choque evidente em meu rosto, incapaz de processar o que estava acontecendo. O cenário diante de nós parecia uma visão saída de um pesadelo ou de um jogo cruel de manipulação.
Notei que não era apenas uma parede, mas uma série de paredes que se moviam lentamente, revelando um espaço que nunca tinha visto antes. A abertura revelou uma pequena entrada redonda, localizada um pouco distante de nós. A escuridão dentro daquele buraco parecia engolir toda a luz ao redor, criando um vazio opressor que parecia ameaçar nos engolir também. A sensação de ser observado era palpável, uma pressão invisível que fazia meu estômago revirar.
— Tem certeza disso? — Minho perguntou, seu olhar fixo em mim. A preocupação estava evidente em sua voz, e seus olhos refletiam um medo que ele tentava disfarçar com uma determinação firme. Ele estava claramente inseguro, mas também determinado a seguir em frente. Lentamente, assenti, meu corpo tenso, enquanto me preparava para avançar sem mais hesitações.
Meus passos eram lentos e calculados, cada movimento feito com a máxima cautela. A sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer era avassaladora, um pressentimento que parecia pesar sobre meus ombros. O chão abaixo de mim parecia instável, como se pudesse desabar a qualquer momento, tornando cada passo uma prova de coragem.
Ao chegar ao outro lado, encontrei-me diante da abertura negra. A escuridão parecia absorver toda a luz ao nosso redor, criando uma sensação de vazio imenso e ameaçador. O silêncio que nos envolvia era quase palpável, um silêncio que parecia amplificar a tensão e o medo que sentíamos.
Aproximando-me com cuidado, passei a mão pela borda da abertura e senti uma substância viscosa e fria. O contato com a gosma fria e pegajosa fez com que eu soltasse um gemido involuntário de repulsa. O nojo era intenso, e a sensação desagradável me fez recuar ligeiramente, tentando limpar a gosma de meus dedos.
— Verdugos. — Alertei, minha voz tremendo de preocupação. O sentimento de determinação que havia tentado manter começou a se desvanecer, substituído pelo medo crescente que agora se fazia presente. A sensação de estar em perigo iminente tornou-se esmagadora.
Como eu temia, a situação se agravou rapidamente. Um estalo alto rompeu o silêncio, seguido por uma luz vermelha intensa que começou a piscar na abertura. Era como se um sistema de alarme tivesse sido ativado, e a luz vermelha passava sobre nós em linhas verticais, examinando-nos com uma precisão fria e impiedosa. Em seguida, a luz se apagou de repente, e um som agudo de alerta começou a soar. O barulho das paredes começando a se mover e se fechar era ameaçador, um som que nos fazia sentir a urgência de nossa situação.
— O que está acontecendo?! — Minho gritou, seu desespero evidente em sua voz enquanto o pânico tomava conta de nós. O caos ao nosso redor estava aumentando, e sua reação era um reflexo do nosso próprio medo.
— Precisamos sair daqui. Rápido! — Gritei com urgência, minha voz ressoando com intensidade. Comecei a correr, meus pés batendo contra o chão enquanto os garotos me seguiam, tentando acompanhar meu ritmo acelerado. Cada passo parecia uma corrida contra o tempo, com a ameaça iminente de sermos pegos pela armadilha.
Enquanto corríamos, as aberturas começaram a se fechar novamente, o som das paredes se aproximando era ensurdecedor. Meu coração batia rápido e minha respiração estava descompassada enquanto olhava para trás, vendo as paredes se movendo rapidamente. A sensação de que algo estava terrivelmente errado era esmagadora.
— Corre, corre! — Thomas gritou freneticamente, sua voz cortando o caos ao nosso redor. A urgência em seu tom fazia com que a adrenalina em meus corpos aumentasse ainda mais.
Assim que saímos daquele setor, uma sensação de choque nos atingiu como uma onda pesada. As lâminas, que antes estavam imóveis e inativas, começaram a se mover com uma velocidade alarmante, como se tivessem sido despertadas exclusivamente para nos punir pela nossa intrusão naquele local oculto. O som do metal raspando contra metal cortava o ar, enquanto as lâminas se deslocavam com uma precisão letal, criando uma dança mortal de aço e perigo. O ambiente, que antes parecia relativamente seguro, agora se transformava em um campo de batalha mecânico, onde cada movimento nosso era crucial para a nossa sobrevivência.
Com um cuidado extremo e um ritmo frenético, desviávamos das lâminas que se moviam incessantemente, tentando evitar seus ataques insistentes. As lâminas não apenas se moviam, mas também se encontravam e se fechavam com uma força brutal, criando um labirinto mortal que se ajustava a cada passo nosso. Cada curva e reviravolta do labirinto parecia ter sido projetada para nos prender e eliminar qualquer chance de fuga.
O batimento acelerado do meu coração era quase insuportável, e a sensação de pânico só aumentava quando percebi que estávamos espalhados, cada um em uma fileira diferente. O caos ao nosso redor fez com que os movimentos fossem ainda mais críticos, e o desespero tomou conta de mim quando vi que Thomas estava ficando para trás. O fato de estarmos separados adicionava uma nova camada de medo à situação já desesperadora.
— Vamos, corre mais rápido! — Gritei, minha voz se elevando acima do som ensurdecedor das lâminas, enquanto meu olhar se movia rapidamente entre Thomas, que lutava para atravessar as lâminas, e o caminho à frente, onde novas lâminas se aproximavam ameaçadoramente.
Um alívio temporário tomou conta de mim quando vi o moreno finalmente conseguir atravessar para a fileira onde Minho estava. Minho, com sua habilidade e rapidez, ajudou Thomas a se recompor, mas mesmo enquanto se ajudavam mutuamente, os dois continuavam a correr sem parar.
— Mavie, passa pra cá! — Thomas gritou, estendendo a mão para mim apesar da distância. Seu chamado, cheio de urgência e preocupação, era uma tentativa desesperada de garantir que eu também conseguisse atravessar para a mesma fileira.
Tentei, com toda a força e habilidade que tinha, passar pelas paredes que se fechavam rapidamente. Cada movimento que fazia, cada tentativa de avançar, era marcada por um aperto crescente no meu coração. O medo de ficar presa, sozinha novamente, se intensificava a cada segundo que passava, e a sensação de desamparo aumentava.
Quando finalmente pensei que estava prestes a superar o obstáculo, o destino revelou sua crueldade. Meus joelhos colidiram violentamente com o chão, e um objeto dissimulado — uma pedra estrategicamente colocada — fez com que eu tropeçasse. O impacto foi tão severo que meu corpo se projetou para frente, e uma dor lancinante explodiu em meus joelhos, evidenciando o planejamento calculado do obstáculo.
O baque foi devastador. Minha cabeça se chocou contra o chão duro com uma força imensa, e uma dor pulsante tomou conta de mim. O impacto fez com que um zumbido ensurdecedor preenchesse meus ouvidos, abafando os gritos e os apelos desesperados dos garotos. Meu mundo começou a desmoronar em um borrão confuso e doloroso, enquanto a dor e o choque tomavam conta de cada sentido.
Senti o calor do sangue quente escorrendo pela minha cabeça, misturando-se com a poeira do chão e formando uma mistura viscosa. A visão começou a se obscurecer, como se uma sombra densa estivesse se espalhando, engolindo tudo ao meu redor.
Com os olhos semicerrados e a visão turva, tentei focar nas paredes que se moviam rapidamente ao meu redor. Elas avançavam e se fechavam em um padrão ameaçador e implacável, tornando a atmosfera ainda mais opressiva e claustrofóbica. A dificuldade de respirar exacerbava o sentimento de pânico, enquanto a escuridão se aprofundava e as paredes se fechavam ao meu redor.
Esforcei-me para me levantar, mas a tontura causada pelo impacto na minha cabeça era esmagadora. A sensação de desorientação e a pressão pulsante na cabeça foram demais para suportar, e acabei caindo novamente. A perda de consciência se aproximava, e a realidade começava a se desfazer diante dos meus olhos.
Enquanto o caos se instalava, a única coisa que conseguia ver eram fragmentos de memórias se sobrepondo umas às outras, como um mosaico quebrado. Cada recordação parecia cortante e dolorosa, surgindo com uma clareza impura. Essas memórias, antes enterradas no fundo da minha mente, emergiam agora em uma sucessão caótica e perturbadora.
Em meio à escuridão crescente e ao desespero final, a sensação de estar entre a vida e a morte se intensificava. As memórias escapavam como areia entre meus dedos, uma coleção de imagens e rostos desconexos que se misturavam ao caos. A última percepção que tive foi a de que estava submersa em um mar de lembranças e incertezas, antes de perder completamente a consciência.
O pior realmente estava por vir.
CAPÍTULO LONGO, É UM CAPÍTULO BOM!
Quem disse que esses dois não teriam um momentinho só deles ainda neste ato? Lógico que eu não deixaria passar :D
Passando para avisar que o Ato 1 está chegando ao fim, e preparem-se porque o melhor ainda está por vir. Muitas revelações estão a caminho, especialmente depois do baque na cabeça da May! Ela está prestes a enfrentar um turbilhão de emoções e descobertas.
E aí, gostaram do capítulo? Se sim, deixem um comentário e votem! Assim, eu me sinto super motivada a continuar escrevendo e entregando mais momentos incríveis (e talvez um pouco de caos) para vocês!! 💛
Um beijo gigante,
Liss. ♥
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