CAPÍTULO ESPECIAL : TRÊS

Era noite, não tão fria quanto se fazia em seu interior. Boruto escutou o barulho do copo de vidro em suas mãos se chocar contra o mármore da pia de sua casa. Naquela madrugada, provavelmente apenas ele estaria acordado em sua residência. O loiro parecia pensativo, encarando o vidro transparente entre os dedos enquanto mentalizava o que havia acontecido hoje.

Ele ainda sentia a pressão de ter a kunai em suas mãos, riscando o rosto de Uchiha em alta velocidade enquanto levava-a para longe. O Uzumaki provavelmente não esqueceria daquela cena tão cedo; observando tudo em terceira pessoa, sem qualquer controle ou sensação de seu próprio corpo a não ser a culpa. Evidentemente abalado com aquilo, culpado o suficiente para não conseguir dormir aquela noite.

Mas, por outro lado, Boruto ainda tinha a sensação dos lábios macios nos seus. A única coisa boa que aconteceu desde que tudo aquilo começou; sabendo que, provavelmente, não foi o melhor momento para que aquilo acontecesse. Ele havia escutado histórias de que o primeiro beijo deveria ser especial; mas não havia sido, havia sido em um hospital, um lugar horrível após uma situação horrível.

O loiro possivelmente acharia que havia arruinado tudo. Levando o copo até a pia para enche-lo uma última vez, depois -possivelmente- indo para a cama novamente para dormir -e falhando miseravelmente em todas as tentativas. Ele suspirou, ao fundo escutando os passos delicados de sua mãe ao descer as escadas da residência Uzumaki apressada, se perguntando do porque de haver apenas Kawaki no quarto dos garotos.

ᅳ Boruto! ᅳ A mulher chamou-o num tom baixo, mas que fora o suficiente para ele levar seus olhos azuis até Hinata. ᅳ O que faz aqui? Por que não está dormindo?

O garoto resmungou, elevando de leve o copo de vidro que estava em mãos.

ᅳ Sede. ᅳ Ele deu de ombros, num tom de "aquilo era obvio", enquanto sua mãe dividia a atenção de seus olhos entre o filho e o copo recém cheio.

Ela suspirou aliviada com a mão no peito. Após todo esse caos, provavelmente imaginaria que algo havia acontecido com seu garotinho no meio da noite; ela temia que algo acontecesse com alguns de seus filhos.

ᅳ Não me dê mais um susto desses. ᅳ Soprou, fechando os olhos por breves instantes antes de encara-lo de volta. ᅳ Não durma tarde, Boruto.

Hinata deu as costas, prestes a fazer com que seus pés tocassem o primeiro degrau da escada quando Boruto a chamou.

ᅳ Espera, mãe! ᅳ Seu nome ecoou na cozinha e corredor, fazendo com que Hinata se voltasse até o mais novo novamente, em um resmungo ao questionar o que ele desejava no meio da madrugada.

ᅳ Sim, o que foi? ᅳ Questionou, encostando-se no batente da porta da cozinha.

Boruto encarou o copo pela metade por uns instantes, num resmunfo solitário diante do silêncio da madrugada escura, levando suas orbes azuladas até Hinata novamente.

ᅳ Como você sabia que amava o papai? ᅳ Sua pergunta chegou até Hinata, que fizera uma face confusa diante de seu questionamento repentino.

ᅳ Por que está me perguntando isso agora? ᅳ Ela, por outro lado, devolveu em uma segunda pergunta, que o fez arregalar os olhos de bochechas quentes.

ᅳ Ah... é... ᅳ Boruto, em busca de uma tentativa de sair daquilo, resmungava a cada instante. ᅳ É um trabalho... da academia...

Hinata suspirou, ajeitando o cabelo azulado atrás da orelha.

ᅳ Eu sabia porque, sempre que eu olhava pra ele, eu sentia algo especial. Não era só admiração pelo jeito dele de nunca desistir... era uma vontade de estar ao lado dele, de vê-lo feliz, mesmo que eu precisesse abrir mão de algo. ᅳ A mulher começou, um sorriso involuntário surgindo em seus lábios quando se recordava dos velhos tempos. ᅳ Eu me preocupei com ele mais do que com qualquer outra pessoa. Eu queria vê-lo feliz, mesmo que isso signifique ficar em silêncio e apoiá-lo de longe. Quando ele estava triste ou machucado, era como se eu sentisse a dor dele. E quando ele sorriu, parecia que o mundo ficou mais brilhante.

Os olhos do garoto tomaram para si um brilho especial, refletindo a face sorridente de Hinata dentre a claridade da lua que ultrapassava as cortinas. Foi impossível para ele não se lembrar da dona dos cabelos rosados, como a tristeza dela o incomoda mais do que gostaria de admitir, e como ele se sente melhor só por estar ao lado dela.

O Uzumaki suspirou, seus olhos encararam o chão por um longo período ao refletir sobre os próprios sentimentos. Pensando se, tudo aquilo, não passava de uma besteira que ele estava usando para disfarçar sua culpa por tê-la machucado, mas...

Mas, será que ele se sentiria tão inquieto assim se isso fosse apenas uma "besteira"?

Eventualmente, seus olhos se encontraram com os da sua mãe de novo.

ᅳ E como você sabia que o papai também te amava? ᅳ A voz baixa de Boruto chegou a Hinata novamente, que tombou a cabeça um tanto para o lado ao observa-lo com esse interesse.

ᅳ No começo, eu não sabia. O Naruto sempre foi alguém muito ocupado com seus sonhos e responsabilidades. Mas com o tempo, eu percebi algo diferente entre nós. ᅳ Explicou breve, vendo-o com mais dúvidas.

ᅳ Diferente?

Ela sorriu, encarando a luz da lua que transpassava o tecido quase transparente das cortinas da sala.

ᅳ Como uma conexão, Boruto. Algo que não precise de palavras para existir. ᅳ A voz de Hinata se tornou suave ao explicar, pausando por breves segundos antes de continuar. ᅳ Eu acho que o amor não se trata apenas de palavras como "eu te amo", se você não estiver em sintonia com a pessoa, não irá funcionar.

Boruto elevou uma das sobrancelhas.

ᅳ Conexão? Isso é meio abstrato, mãe... ᅳ Resmunfou o garoto, deixando o copo de lado do cruzar os braços sobre seu busto.

Ela riu, tampando a boca com uma das mãos de forma meiga.

ᅳ Eu sei o que parece... mas o amor é assim. ᅳ Hinata entrelaçou as mãos a frente de seu corpo. ᅳ É quando você sente que entende a outra pessoa, e ela entende você, mesmo em silêncio. Quando parece que vocês veem algo invisível, mas muito forte.

Conexão...

Ele se virou, dando as costas para os armários da cozinha ao se encostar ali, pensativo.

ᅳ Mas... Como você soube que essa conexão não era apenas coisa da sua cabeça? ᅳ Novamente, mais uma pergunta. Hinata provavelmente questionária sobre esse seu "trabalho da escola".

ᅳ Boruto, o amor nem sempre é fácil de entender, mas quando você sente que essa conexão é real, é porque ela é. Às vezes, não temos todas as respostas imediatas, mas o coração sempre encontra o melhor caminho. ᅳ A Uzumaki explicou, sua voz calma e serena foi capaz de diexa-lo mais calmo diante de toda a mudança do início da puberdade.

O loiro piscou algumas vezes, encarando os próprios pés cobertos pelas meias -um pé de cada par- felpudas diante da escuridão. O vento assoviou próximo da dupla, era Hinata sorriu sozinha diante do semblante pensativo do mais baixo.

. . . ♥︎ ?! notas da autora:

Cada dia que se passa é uma surpresa nessa fanfic. 30K CARA, 30K AAAAAAA

Muitíssimo obrigada, meus amores! Eu os amo muito e estou grata por cada um de vocês, obrigada por todos os votos e comentários que tiraram muitas gargalhadas minhas! ❤️

Em especial de 30K, resolvi mostrar pra vocês um momentinho que ocorreu logo após o beijinho dos Borunami ;))

É isso, beijinhos e parabéns para nós!