𝟬𝟵. OS CHAVE DE PESCOÇO
EM UMA DAS SALAS DE TRÁS, Weishun Deneb e Roronoa Zoro estavam presos, separadamente, em duas tábuas redondas de madeira ─ aquelas em que normalmente se usa para se atirar facas. Ambos estavam em uma das posições do "homem vitruviano", com os braços abertos na altura do ombro e as pernas soltas. De um lado havia Deneb, tranquila, mas observadora. Ela olhava entre as entradas das cortinas ou entres os pertences que estavam naquela sala, tentando achar algo que poderia usar. Enquanto do outro estava Zoro, claramente com raiva e forçando o punho contra a corda que os amarrava.
A de cabelos rosas parou de olhar ao redor e ficou no Roronoa. Cada vez que Zoro tentava forçar mais e mais a corda, dava a impressão que o sisal natural da corda prensava ainda mais. Era admirável sua força de vontade, ela pensou ─ ele tinha certeza que a corda se quebraria a qualquer momento, apenas com sua força. Apesar de parecer burrice não pensar direito, ela não o julgava... Zoro era bem forte. Foi tão fácil notar o quanto seus músculos se expandiram com a mínima quantidade de força colocada...
Deneb, que não era mais uma adolescente, pensou estar passando por alguma crise tardia ao ter aqueles pensamentos. De um todo ela não era uma jovem experiente quando se tratava de romances ─ não que aquilo fosse um romance, e nem teve momentos marcantes como está tendo agora tão próxima do Roronoa, então... ela estava admirando um homem, de apenas um ano mais velho que ela, mas que não parecia ser tão perdido quanto ela na questão de "experiências".
Sinceramente, nem era um surto, era mais uma confusão mental de "isso significa que eu acho ele gostoso? mas e o que isso significa?".
Ela fechou os olhos e se xingou mentalmente, achando um total absurdo ter aquele tipo de pensamento sobre Zoro. Eles eram amigos... ou colegas... ou sei lá o que.
─ Porque você tá me encarando ao invés de colocar o seu "plano" em ação? ─ Mesmo odiando planos, ele estava esperando a boa vontade dela para fazer o que ela havia pensado.
Se ela ficou ali ao invés de correr e os ajudar de outra maneira, Deneb era obrigada a resolver esse problema.
─ Eu tô com fome. ─ Ela abriu os olhos e falou rapidamente a primeira coisa que veio na cabeça. Não sabia quantas horas fazia desde a última vez que comeu, mas parecia uma eternidade.
Mas... essa frase não pegou muito bem, quando a pergunta de Zoro foi "porque você está me encarando?". O Roronoa, que já não falava muito, ficou sem ter o que responder. Dentre os dois ele era o que mais tinha a mente poluída, então claramente viu aquela resposta com outro significado.
─ A gente comeu faz muito tempo. ─ Deneb continuou, tentando se corrigir, mas depois preferiu mudar de assunto. ─ Essas cordas são fortes até mesmo para você, cabeça de alga.
─ Já me livrei de coisas piores.
Insistindo, ele continuou tentando quebrar as cordas. Deneb bufou.
─ Será que a Nami e os meninos estão bem? ─ Se perguntou, preocupada com os outros. Até agora não ouviu nenhum barulho ou voz deles.
─ Como você consegue se preocupar com alguém que ia fugir e deixar a gente pra morrer? ─ O Roronoa retrucou, falando de Nami. Às vezes ele pensava que nunca deveria ter se juntado aquele bando de otários.
Meia hora antes, quando Zoro e Deneb estavam sendo arrastados para dentro daquela sala, eles viram Nami batendo em um dos homens e correndo para fora. No entando, sendo mais rápidos estando armados, não demorou muito para que eles a pegassem de novo.
─ Eu entendo que você está com raiva, mas ela estava com medo. ─ Deneb não julgaria Nami por ter tentado fugir, ela entendia. Mas também compreendia que Zoro, que já tinha dificuldade em confiar nas pessoas, poderia descontar da ruiva.
─ Eu conheço o tipinho dela: se não tem nada pra ganhar, cai fora. ─ Resmungou o espadachim.
─ Eu ouvi isso em! ─ Nami, do outro lado da parede de madeira, gritou.
─ Ótimo. ─ O Roronoa respondeu.
─ Vocês estão ai? ─ A Weishun gritou, sorrindo. Ufa, eles estavam bem. Imaginou que Nam deveria estar com Sanji e Usopp. ─ Porque não falaram?
─ Calem a boca! ─ Um homem ordenou a todos.
De repente, na direção do picadeiro, eles ouviram Luffy gritar. Zoro e Deneb se olharam, arqueando a sobrancelha.
─ Eu acho bom você se apressar.
─ Ei, você que está aí do outro lado, pode vir aqui por favor? ─ Deneb solicitou, mas não obteve nenhuma resposta. ─ Eu tenho um acordo pra fazer.
─ O que você tá fazendo? ─ Zoro questionou.
Não demorou muito para que a cortina do lado deles se mexesse e um homem montado em um monociclo entrasse. Seu cabelo ia até os ombros e estavam penteados para um único lado, de um jeito que cobria metade do rosto, enquanto o outro lado estava raspado com um desenho geométrico. Usava um grande lenço xadrez azul e branco, um casaco marrom sem mangas que chegava até os joelhos, calças brancas e um par de botas marrom.
Ele desceu do veículo e parou de frente para Zoro.
─ Você lembra de mim? ─ O homem perguntou, parecendo bravo. Deneb logo notou que, pela pergunta e pela sua expressão, ele devia ter algo contra o espadachim.
─ Não, deve ser algum outro palhaço homicida andando de monociclo. ─ O respondeu com deboche.
O homem nem pensou duas vezes antes de dá um soco bem no meio do estômago de Zoro, que grunhiu em resposta.
─ Tenho pensado em você há mais de 10 anos... em como matou meu irmão. ─ O Roronoa olhou para a cara do homem, com poucas idéias. ─ Meu nome é Cabaji e alguns anos atrás você nos caçou pelo Reino de Goa... ─ Ele tirou dois punhais da cintura. ─ Você nos seguiu durante semanas por terras pantanosas, dia e noite, sem cansar, como se fosse um demônio.
Zoro e Deneb se entre olharam, não conseguindo disfarçar tal interação. Ela gesticulou com a boca, sem fazer som, para que ele o fizesse olhar para ela ─ e por isso, o Roronoa encarou a espadachim. Cabaji, caindo na dos dois, olhou para trás.
─ Ah, foi pra encontrar sua princesinha lá? ─ Ele riu, se aproximando da garota. Zoro arqueou a sobrancelha, desentendido. ─ O que? Você não sabe?... A mãe dela? Ou melhor, o tio? ─ Cabaji tentou, mas Zoro continuou perdido. ─ O exército revolucionário?
Com a falta de resposta, nem mesmo com um "não", Cabaji irritou-se e arremessou um punhal na direção do Roronoa. Zoro não se assustou e nem mesmo olhou para o lado quando a lâmina entrou na madeira.
─ Espera, o que tem o exército revolucionário? ─ Deneb perguntou, tentando entender se havia escutado ou interpretado certo.
Talvez seu tio estivesse vivo.
─ Você cortou a cabeça do meu irmão e enfiou em um saco... tudo por alguns berries. ─ Cabaji cuspiu no chão, ao lado do Roronoa e o encarou furiosamente. ─ Vamos ver se consegue salvar sua cabeça.
O pirata circense se aproximou apenas para girar a grande roda de madeira e começar a atirar as facas. Ele lançou em umas dez segundos, ao menos umas cinco... todas tinindo próximo do rosto do Roronoa. E com certeza o que mais lhe dava raiva era ver que Zoro não se incomodava.
─ Ei, você não quer saber da minha proposta? ─ Deneb o chamou, inclinando a cabeça mais para frente.
O homem virou-se para encara-la com um sorriso no rosto.
─ E qual seria? ─ Indagou.
─ Chega um pouquinho mais perto.
Cabaji parou por um momento de atirar as facas e fez o que Deneb pediu. Ele chegou perto o suficiente para que o rosto da espadachim pudesse quase tocar o seu. O pirata sentiu o hálito de cereja da moça, que se manteve na boca dela mesmo depois de tanto tempo da última refeição. A Weishun olhou para ele e sorriu, com aquele mesmo sorriso 'inocente' e prático que todo mundo custava acreditar.
─ Eu sei onde está o mapa... ─ Ela disse, sussurrando. Mas não tão baixo o suficiente que Zoro, propositalmente, não pudesse ouvir. ─ Que tal ir comigo procurar o tesouro? Só nós dois?
─ E porque eu acreditaria em você? ─ Cabaji soltou uma risada, achando ridículo. ─ Acha que sou idiota? Você está com eles.
─ Eu? Com eles? ─ Deneb soltou um "puf", debochando. Como se dissesse que não era próxima. ─ Você não ouviu falar sobre mim? Porque alguém como eu ficaria com eles?
Ela nunca diria aquilo de verdade, até porque não se achava melhor que seus companheiros piratas, mas levantar o ego e mostrar que era egoísta, era uma boa tática. Todos sabiam daquela velha história com a espada, e como eram burros, acreditariam que ela poderia ter um ego elevado.
─ Eu só quero o ouro. ─ A espadachim fez um biquinho. ─ Se você quiser podemos ir juntos.
─ Hm... só acredito se você me disser onde está o mapa. ─ Os olhos de Cabaji brilharam ao falar aquele nome. Assim como todo mundo ele estava de olho no tesouro.
─ Na barriga do cara com chapéu de palha.
A roda parou de gira e Zoro olhou incrédulo para Deneb... Cabaji riu. Se ela fosse outra, até se incomodaria ou ficaria com o fato dele achar que ela realmente trairia eles, mas tudo bem, era o Roronoa. Ele era assim, facilmente se abalando quando o assunto se tornava confiança. No entanto, a surpreendendo totalmente, quando Cabaji se virou para ela de novo, Zoro fez um sinal de 'joinha' com a mão direita. Dando a entender que só estava atuando como ela queria.
─ Sua traidora!
Zoro fez força agora tentar se soltar das cordas, fingindo que estava extremamente bravo. Cabaji acreditou.
─ Tá vendo? Ele também sabe! ─ Deneb sorriu novamente para o pirata. ─ Então, você não quer vir comigo? Só eu e você? ─ Ela olhou diretamente para os olhos castanhos escuros do homem, quase o hipnotizando. ─ A gente não precisa contar a mais ninguém.
─ Mas o capitão... ─ Cabaji tentou falar, manso dessa vez, mas ela o interrompeu.
─ Você quer ficar na cola dele por quanto tempo? ─ A jovem bufou, demonstrando insatisfação. ─ Escuta, eu não fico com fracassados!
─ Então não deveria ficar com ele. ─ Zoro fez questão de provocar.
Cabaji virou-se com tudo na direção do Roronoa e jogou um punhal na direção dele. Porém, diferente dos outros lugares, a lâmina cravou bem encima da corda da mão direita de Zoro.
Bingo.
─ Você não tem mesmo medo da morte não é? ─ Cabaji riu com desdém.
─ Só não tenho medo de você.
Antes que o pirata se dispersa-se para longe dela novamente, Deneb usou toda a força que tinha nos braços, mesmo que machucasse seus punhos e empurrou os pés na tábua, conseguindo o impulso suficiente para jogar suas pernas ao redor do pescoço de Cabaji. Ela ajustou o aperto tempo suficiente, aguento o máximo que podia ao ter os braços presos todas as vezes que o pirata tentava ir para frente.
Até que o momento certo chegou e ela afrouxou o aperto, e chutou como um último recurso, Cabaji na direção de Zoro.
O Roronoa deu uma única puxada na mão direita e conseguiu rasgar a corda, no mesmo instante que Cabaji se chocou contra ele. Zoro segurou o pescoço do pirata com o braço, o pressionando por alguns segundos com seus músculos, até que o inimigo desmaiasse.
O espadachim pegou o punhal e soltou seu braço esquerdo. Livre, ele correu até o outro lado e ajudou Deneb. Zoro pôs a mão na cintura da jovem e a levantou um pouco do chão com apenas um braço, sem dificuldade, diminuindo a pressão da corda em seu braço. E com a mão livre, ele usou o punhal para cortar as cordas e finalmente liberta-la.
A Weishun resmungou ao sentir seu punho arder.
Sem muita delicadeza, mas analítico, Zoro segurou o braço dela e analisou seus punhos. Aparentemente estavam bem, mas ficaram vermelhos e havia um corte e um pouco de sangue em um deles.
─ Você não precisava fazer aquilo. ─ Ele resmungou, sem olhar diretamente para ela.
Zoro arrancou um pedaço de pano verde que estava soltou sua própria camiseta e o usou como atadura no punho ferido de Deneb. Nem mesmo as mãos calejadas do jovem Zoro pareciam ser tão grossas ou 'indelicadas' quanto elas eram, quando o que eles estava fazendo era um gesto tão bonito. E isso, vindo de Roronoa Zoro, era muito diferente... no bom sentido. Dava para sentir quão gentil e atencioso ele poderia ser, mesmo com toda essa carranca que ele carregava por aí.
─ Precisava, se não eu não conseguiria chutar ele até você. ─ Achando que Zoro estava falando apenas por causa do machucado, ela disse.
─ Tô falando de seduzir ele, é burrice, você não precisa.
Ah, então ele também estava "preocupado" como isso? Deneb pensou. O olhar dela pairou sobre ele com algumas perguntas que ela não pensaria em fazer, pois tinha certeza que levaria um fora ─ então preferia ficar já dela.
Quando a faixa verde acabou de ser enrolada no braço da Weishun, Zoro levantou o punho dela uma última vez apenas para ver se estava certo ─ mesmo depois de tantos machucados, ele ainda não era a melhor pessoa do mundo para fazer isso. Até a Weishun olhou, achando que estava ótimo.
─ Obrigado, cabeça de brócolis! ─ A Weishun agradeceu, deixando aqueles assunto citado de lado.
Não é que ela não quisesse respondê-lo, é que não sabia o que falar. Entendeu o ponto do Roronoa, mas estava confusa do motivo de ter citado.
─ Disponha, peixe-bolha. ─ Zoro a respondeu, a zoando de volta. Tinha haver com a cor do peixe que era mais rosada.
─ Tá bom, sapo boi. ─ Além da cara mal humorada, ela também referenciou a cor do cabelo dele, a cor do sapo.
─ E você, nariz de palhaço. ─ Roronoa retrucou, fazendo referência ao nariz dela que ficava vermelho com facilidade.
Os dois soltaram uma risada conjunta, se divertindo com os apelidos. É, talvez eles pudessem se chamar de amigos.
─ Sabe de uma coisa.
─ Não quero saber não. ─ Zoro disse, brincando.
Deneb, que havia encontrado as espadas de Zoro, as pegou e estendeu para o espadachim. Ele a olhou, esperando que falasse.
─ Você fica ainda mais bonito sorrindo. ─ A Weishun falou, sorrindo gentilmente. Seus dentes eram incrivelmente bonitos e seus lábios proporcionalmente perfeitos. ─ Deveria tentar mais.
Roronoa segurou as espadas com a mão direita, mas parou pouco depois de escutar o elogio. Seus olhos fitaram os da Weishun por alguns segundos, sem vergonha... Aqueles segundos pareceram horas ao vagar rapidamente por seus pensamentos.
Além de linda, ela era divertida e fofa.
Que raiva.
Para sorte do espadachim, Nami, Sanji e Usopp passaram pela cortina.
─ Finalmente, estão aqui! ─ Sanji correu na direção de Deneb e a abraçou. Empurrando Zoro para o lado. ─ O que aconteceu com seu braço?
─ Eu me cortei, mas o Zoro cuidou de mim. ─ Orgulhosamente, como se tivesse conquistado um prêmio, que nesse caso, era a abertura do Roronoa para cuidar dela, falou.
Zoro pigarreou, olhando para os lados.
─ Cuidou? ─ Usopp riu, tirando onda. ─ Que fofo, super machão!
Nami olhou para Zoro, e depois para Deneb, recebendo um olhar caridoso para espadachim. Tudo bem, ela entendia. A ruiva, meio sem graça, deu um meio sorriso para sua única... Amiga? Conhecida? Mulher? Daquele barco. Enquanto ao Roronoa... ele não falou nada. Então talvez estivesse com menos raiva. Só talvez.
─ Então, qual é o plano? ─ Zoro perguntou, olhando para Deneb e para Nami. Elas sempre tinham um plano. ─ Vocês tem a porra de um plano, não é? Você é cheia de planos!
─ Eu digo... pra gente dá uma surra em todos os palhaços daqui! ─ Nami falou, olhando para a Weishun.
─ E eu digo que... além da surra, vamos resgatar essas pessoas e ajudar Orange Town. ─ Deneb completou, agora, olhando para o resto do bando. ─ E bom, salvar o Luffy né!
super rookie, ⚔️
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