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⌗ 𝗣𝗿𝗼́𝗹𝗼𝗴𝗼: 𝗤𝘂𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗼𝘀 𝗰𝗮𝗺𝗶𝗻𝗵𝗼𝘀 𝘀𝗲 𝗰𝗿𝘂𝘇𝗮𝗺.

━━ Birka, Sudeste de Skypiea ; 17 anos atrás...

O som estridente de um choro ecoou por quase todos os cantos da cidade. Era o lamento de um bebê recém-nascido. A criança, pequena e delicada, assemelhava-se à fragilidade da porcelana, com a pele em um tom claro como nuvens no céu. Seus cabelos curtos e ralos tinham uma coloração platinada, semelhante à prata, e seus olhos pequenos eram azuis como o mar abaixo das Ilhas do Céu. O corpo rechonchudo e as bochechas redondas - com uma pequena pinta no lado esquerdo - estavam molhadas pelas lágrimas e sujas pelo próprio sangue, resultado da saída do ventre que a protegia do mundo lá fora. Uma menina. Uma linda menina.

Após ser banhada para remover os resquícios de sangue de sua pequena figura e ser envolta por uma manta branca, a mãe da bebê finalmente pôde segurá-la nos braços, proporcionando um aconchego próximo ao seu peito para amamentá-la. Os olhos castanhos da mulher se encheram de lágrimas ao sentir os lábios de sua filha tocar seu seio, experimentando a proximidade dela, finalmente no conforto de seu abraço. Sua mão direita percorreu cuidadosamente o rosto da recém-nascida enquanto sorria minimamente ao vê-la se alimentar de seu leite materno, sentindo-se orgulhosa por estar - finalmente - com sua menina após longos nove meses de espera.

O pai, por outro lado, não parecia feliz, tampouco triste ou enfurecido com o nascimento de sua primogênita.

Enel aproximou-se de sua esposa e a observou com um olhar indiferente, ao mesmo tempo que suas íris celestes exibiam certa curiosidade ao ver a criança no colo da mulher. Consciente da delicadeza e fragilidade daquela pequena criatura, o loiro passou cuidadosamente o dedo na testa da menina, que não demorou em abrir os olhos e encará-lo de soslaio, afastando sua boca do seio de sua mãe. Ela o olhou, e ele a olhou de volta com uma carranca confusa, sem saber como reagir ao ser encarado por um simples pedaço de gente. Enel estreitou o olhar, encarando a pequena com severidade; no entanto, diferente do que ele esperava, a recém-nascida apenas sorriu para ele.

- Sua filha gostou de você. - afirmou a mulher com um sorriso caloroso, fazendo gestos para que seu marido segurasse a filha nos braços. - Pegue. - pediu.

- É o mínimo, afinal, sou o pai dela. - retrucou enquanto revirava os olhos, pegando a garotinha no colo.

- Você é tão mal-humorado, querido.

- Calada, Freyja. - ele olhou para a filha envolvida em seus braços, que permanecia com o olhar fixo nele. ‐ Não me olhe assim, sua bebê gorda.

- "Bebê gorda"? - a mulher arqueou uma sobrancelha enquanto deixava uma risada escapar de seus lábios. - Esse vai ser o nome dela? Que exótico. - riu.

- Elisabette. Este será o nome da minha filha.

- Nossa filha, querido. - Freyja o corrigiu, dando um beliscão leve na cintura nua de seu marido.

Ignorando completamente o que sua mulher havia lhe dito, Enel permaneceu apreciando a manta branca que envolvia a criança em seus braços. O loiro de olhos celestes por fim esboçou um sorriso para a filha; agora, era ele quem se sentia orgulhoso pelo nascimento dela. Sentia-se poderoso por saber que ele, um birkan como qualquer outro daquela ilha, havia unido seu corpo ao de Freyja para trazer ao mundo aquela criatura tão maravilhosa. É claro que qualquer um poderia dar vida a um novo ser, mas ele sentia que apenas ele era capaz de trazer ao mundo uma criança tão perfeita e magnífica quanto Elisabette.

O poder da Goro Goro no Mi - a fruta da eletricidade - já estava presente no interior de Enel. Há algum tempo, ele havia consumido o fruto do diabo e adquirido os poderes que, para ele, eram divinos, tornando-o um Deus.

Sua esposa estava ciente das novas habilidades que ele havia adquirido, também já tinha conhecimento sobre quais eram os planos dele, seus próximos passos, o que ele faria em alguns anos. Enel era um homem estoico, egocêntrico e narcisista; no entanto, acima de todas as coisas, amava e confiava em Freyja de olhos fechados e mãos atadas. Para ele, ela era a única mulher no mundo digna de seu amor e cuidados como marido. Não foi à toa que não pensou duas vezes antes de tomá-la para si, fazendo dela a sua primeira e única, tornando-se também seu primeiro e único.

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━━ Birka, Sudeste de Skypiea ; 8 anos atrás...

Elisabette estava sentada na calçada de sua casa, brincando solitária com uma boneca de pano feita por sua mãe. Seus longos cabelos platinados estavam presos em uma trança frouxa jogada sobre seu ombro. Ela vestia um longo vestido na cor azul claro, quase branco, que ia do busto até seus pés descalços, tocando as nuvens fofas e sólidas.

Em Birka, não havia muitas crianças; a maioria delas ia embora com suas famílias para a cidade principal de Skypiea em busca de estudos e outras oportunidades essenciais para se tornarem adultos preparados e bem educados. Devido a viver em um lugar pouco desenvolvido - e rotulado como "pobre" -, a menina de cabelos platinados não possuía conhecimento básico. Ela não sabia ler nem escrever. Aos 9 anos de idade, Elisabette era uma criança analfabeta.

De repente, Freyja apareceu e envolveu sua filha por trás, segurando-a firmemente no colo enquanto suspirava pesadamente próximo ao ouvido da menina. A mais nova virou o rosto, arqueando uma sobrancelha e demonstrando dúvidas em relação ao comportamento brusco da mãe. Elisabette sorriu gentilmente para a matriarca, girou o corpo no colo dela e envolveu seus braços rechonchudos ao redor do pescoço de Freyja, que exibia uma expressão apreensiva e aflita em sua face angelical.

- Mamãe, o que você tem? - a garotinha perguntou, seus olhinhos azuis vagavam pelo ambiente à sua volta, depois fixaram-se em sua mãe novamente.

- Nada, Bett. - ela sorriu, acariciando levemente as bochechas rosadas da menor. ‐ Estamos de mudança! Vamos morar em um lugar muito bonito. Você vai adorar.

- Mudança?

- Isso, minha pequena.

- Por quê? Eu gosto daqui. - Elisabette fez um beicinho e cruzou os braços, apertando suas pernas ao redor do tronco de sua mãe.

- Eu sei, mas acredite em mim, vamos morar em um lugar melhor e mais bonito! Teremos muitos servos que irão nos tratar do jeito que sempre merecemos. Seremos as donas de toda Skypiea, Bett! Isso não é maravilhoso? Você entende, não entende? - a mulher mais velha ainda demonstrava estar apreensiva, e a garotinha em seu colo percebeu isso, não sabendo como reagir ou o que dizer.

Elisabette olhou assustada e confusa para Freyja, mas concordou com um aceno de cabeça enquanto sentia algo estranho em seu peito, uma sensação ruim. Ela nunca havia visto sua mãe daquele jeito, tampouco entendia o que queria dizer ao lhe garantir que elas seriam "donas de Skypiea". O que sua mãe queria dizer? O que aquilo deveria significar? Elas teriam servos que as tratariam da forma que mereciam, porém o que isso significava? Skypiea já não tinha alguém que a governava? Não era Gan Fall, o Cavaleiro dos Céus, também considerado Deus? Tudo na cabeça dela estava tão confuso que nada parecia funcionar, nem se encaixar.

Por fim, a platinada apenas cedeu às falas da mais velha, assentindo às ideias sobre mudar de Birka e ir para o tal lugar bonito que a mulher lhe garantiu que ela iria adorar. Entretanto, algo martelava em sua cabeça: por que sua mãe estava tão nervosa e o que a fez de repente vir com aquela ideia de mudança? Se Freyja estava pensando naquilo, com certeza seu pai estava ciente e até mesmo poderia ter sido ideia dele, mas o que eles pretendiam? Elisabette sentia uma angústia desconhecida no seu peito, um medo, uma ansiedade inexplicável, todavia manteve-se calada.

Chateada e assustada, a garotinha deitou a cabeça no peito de sua mãe e se agarrou ainda mais ao corpo da mulher, vendo alguns homens se aproximando pela sua visão periférica. Ela os conhecia bem, eram conhecidos de Enel, o seu pai, sendo eles: Ohm, Gedatsu, Shura e Satori.

Elisabette engoliu a seco assim que os olhos dos quatro se voltaram para ela e sua mãe, que ainda a carregava no colo com um aperto forte, como se tentasse impedir que ela fugisse ou estivesse a protegendo de algo - ou alguém. A menina nunca entendeu o porquê, mas desde sempre sentia um pressentimento ruim ao vê-los, sentia que eles não eram do bem, que não eram pessoas confiáveis, da mesma forma que ela se sentia na presença de seu próprio pai. Era nítido para a garota, mesmo tão jovem, que Enel era um tanto intrigante e louco de certa forma, assim como sua mãe, Freyja, também demonstrava ser ao concordar com todas as loucuras que seu marido cometia e até mesmo o acobertava.

- Já está quase na hora, onde Ele está? - Ohm questionou a mulher com a criança em seus braços, que logo se tranquilizou.

- Ele já está no local marcado, apenas esperando por nós.

- "Nós"? - Shura arqueou uma de suas sobrancelhas enquanto a encarava com confusão.

- Também quero estar presente nesse feito tão estupendo quanto a obliteração desta ilha maldita. - ela disse, agora colocando Elisanette no chão, que prontamente se agarrou às pernas dela.

- E quem vai cuidar dela? - Ohm apontou para a mais jovem entre eles, que parecia tão assustada quanto um passarinho ferido.

- Oh, não se preocupem com isso. Elisabette é filha do nosso Deus, ela pode se cuidar sozinha porque ele deu a ela a bênção divina ao nascer. Não é, Bett? - Freyja ajoelhou-se em frente à platinada, apoiando ambas as mãos nos ombros dela.

- Mamãe..?

- Minha filha, vá para o porto, tudo bem? Você pode fazer isso por mim, sim? Há um barco lá esperando por você, apenas amarre-o na ponte e me espere lá, certo? Você pode fazer isso sozinha, não pode? É claro que pode, você é uma garota esperta. - o semblante da mulher de olhos castanhos era sorridente, mas ao mesmo tempo sombrio.

Elisabette engasgou com a ordem dada pela mulher mais velha, tornando-se cada vez mais apreensiva e assustada com tudo o que estava acontecendo. Perguntava-se em silêncio por que todos estavam daquele jeito, agitados e agindo de maneira incomum. Ela segurou com força a boneca em suas mãos, balançou a cabeça lentamente para cima e para baixo, insinuando a sua concordância com aquele gesto. Um suspiro escapou de seus lábios rosados e então girou nos calcanhares, correndo na direção do porto de Birka. A pequena não entendia o motivo, mas sentia uma vontade intensa de chorar. Quando estava longe o suficiente de sua mãe e dos outros homens, viu-se livre para derramar lágrimas enquanto corria o mais rápido possível, apertando sua boneca contra o próprio peito.

• ʚĭɞ •

Com os olhos arregalados, a pequena garota de cabelos platinados observava com atenção e horror a cidade de Birka ser destruída por raios azulados que vinham do céu. Estava tão perplexa que sequer tinha forças para chorar ou esboçar qualquer reação que não fosse choque. A boca entreaberta, os olhos tão abertos que ardiam pela falta de hidratação - devido ao tempo que estavam arregalados daquela forma -, o corpo paralisado da mesma maneira desde o início daquele massacre em plena luz do dia; tudo estava sendo presenciado por ela.

Pessoas gritavam por socorro; outras tentavam escapar pelo mar branco e acabavam sendo atingidas por feixes de eletricidade, enquanto algumas simplesmente morriam por estarem feridas ou cansadas demais para continuar lutando por suas vidas. Elisanette observava tudo aquilo com um olhar confuso e perplexo, querendo entender o que estava acontecendo, onde estavam seus pais e os "colegas" deles. Estavam todos bem? Estavam vivos, mortos ou feridos? Ela só queria respostas, apenas desejava que tudo aquilo acabasse logo, que todos aqueles gritos de desespero cessassem de uma vez. Será que foi por isso que sua mãe havia dito que iriam se mudar? A mulher já sabia que aquela tragédia iria acontecer? Foi por conta desse fato que a mandou sair de onde estavam e correr para o porto? O sangue dela estava tão gelado quanto o próprio gelo, e seu coração batia tão rápido que era como se fosse rasgar o meio de seu peito.

- MAMÃE! PAPAI! - ela gritou com todas as suas forças, com todo o ar de seus pulmões enquanto apoiava suas mãozinhas na beirada do barco em que estava.

Duas, cinco, treze, vinte vezes, ela gritou trinte e oito vezes e não obteve uma resposta sequer. Sua garganta já estava dolorida, e a boca seca pela falta de água. Elisabette mordeu com força os lábios, engolindo o choro e impedindo-se de cair aos prantos novamente. Ela levou as mãos até o rosto, esfregou os olhos, enquanto sacudia a cabeça para tentar afastar todo aquele medo, nervosismo e ansiedade que tomavam conta de seu ser. Por não saber o que estava acontecendo, apenas de uma coisa a menina tinha certeza: precisava ficar atenta a tudo ao seu redor e esperar pelo retorno de seus pais ou de qualquer um que pudesse tirá-la dali.

- Oh, então eles a deixaram de fora deste genocídio... - uma voz rouca e masculina emergiu entre os sons dos trovões e das explosões. Era Urouge, um monge de Upper Yard, onde ficava o templo de Deus.

- Urouge-sama... - a garotinha murmurou assustada, seus olhos azuis lacrimejando enquanto falava com o mais velho parado na ponte.

- Você está sozinha?

- Sim... - fungou. - Onde estão meus pais? - perguntou com a voz trêmula e embargada.

Ele riu arrastado, aproximando-se do barco e colocando um pé dentro do pequeno meio de transporte onde Elisabette estava sentada. A platinada engoliu em seco e afastou-se para a ponta, pegando sua boneca de pano e abraçando-a com força, enquanto Urouge se aproximava com um olhar sombrio e macabro. Foi quando a menina finalmente se deu conta de algumas coisas: o birkan estava ferido, ensanguentado e com parte de suas roupas rasgadas e queimadas, como se tivesse escapado de uma explosão ou incêndio. Ele era um sobrevivente de todo aquele caos em Birka? Urouge estava ali para ajudá-la? Então, por que aquele homem a encarava daquela maneira? Elisabette respirou fundo e prendeu o ar no peito enquanto seus olhos se arregalaram ao ver uma espada em sua mão.

O monge ergueu a lâmina de sua arma, olhando nos fundos olhos azuis daquela criança indefesa, cujo semblante expressava o quão aterrorizada estava naquele momento. Ao perceber a vulnerabilidade dela, Urouge riu novamente. Ela era apenas uma menina assustada, ingênua e inocente no meio daquele caos, sem culpa alguma. Ela sequer sabia que eram seus pais e seus seguidores responsáveis pela destruição da ilha. Como poderia, então, tentar se defender e explicar seu lado? A garota de cabelos platinados não passava de um ser inofensivo naquela confusão toda.

Entretanto, ele não se importava com isso, não se importava com o fato de Elisabette ser apenas uma criança e não ter culpa das ações dos pais. Totalmente tomado por raiva, ódio, sede de vingança e ira ao testemunhar sua terra natal, Birka, ser dilacerada diante de seus olhos sem poder protegê-la, Urouge ignorava a inocência da menina.

Ele sabia que Elisabette era filha única de Enel e Freyja, ciente do vínculo afetivo entre eles. Era evidente que ela, querendo ou não, representava o ponto fraco daqueles dois. Por que, afinal, a teriam deixado em um local considerado seguro, o único lugar imune aos raios de Enel? Era tão claro que ele desejava protegê-la, mantê-la viva. Apesar de sua personalidade arrogante, rude, estoica e de seus comportamentos egocêntricos e narcisistas, ele ainda se importava com aquela menina. Afinal, era seu sangue, e às vezes, não importa quem são as pessoas, o sangue fala mais alto.

- O único erro de Deus foi ter-lhe concedido o dom da vida. - disse o homem de pele morena com a voz carregada de ódio, enquanto sua espada vinha rapidamente na direção da criança.

- Urouge-sama!?

- ELISABETTE! - Freyja gritou, jogando-se na frente de sua filha e, no lugar dela, teve seu peito e coração perfurados pela lâmina afiada da espada de Urouge.

Urouge arregalou os olhos ao ver sua arma cravada no corpo da mulher à sua frente, que não tardou em cair de costas no colo de sua criança. Ele imediatamente se arrependeu, mas já não se importava mais. Sabia que, de qualquer forma, a morte de Elisabette ou Freyja seria suficiente para atingir Enel onde mais doía. E por que não matar sua esposa? O alvo era a filha, porém se acertou a mulher, ótimo. Já era o bastante, aliás, mais do que o suficiente. Aquilo era o preço que aquele homem pagaria por ter tido a audácia de usar os poderes que Deus lhe concedera e destruir Birka e seu povo, até que não restasse nada além de ossos e escombros.

A pequena birkan paralisou novamente, sentindo sua respiração falhar no momento em que o corpo de sua mãe caiu bruscamente em seu colo, com suas costas deitadas sobre suas coxas e a sujando com o sangue que escorria de seu ferimento no peito. Elisabette, em completo estado de choque, inclinou um pouco o corpo para a frente, cobrindo o rosto de sua mãe com o seu e a olhou nos olhos com um olhar confuso e assustado. A mulher mais velha estava com as orbes castanhas semiabertas e quase sem vida, com a respiração fraca e lenta, sua visão já turva e aos poucos sentindo o sangue subir por sua garganta, escorrendo pelo canto de sua boca. Freyja sentia a ardência do furo em seu peito e o sangue pulando para fora, deslizando por seu vestido conforme os segundos se passavam. Era difícil acreditar, mas era inevitável; Freyja sabia que iria morrer em pouco tempo.

- Isso é sua culpa. Lembre-se disso, criança. - o monge disse e encarou a mais nova entre eles com desdém, depois fugiu antes que ela pudesse respondê-lo.

Elisabette permaneceu em silêncio, com os olhos arregalados, enquanto observava-o fugir. Ao mesmo tempo, segurava com força sua boneca em uma mão e o rosto da mãe com a outra. Seu coração acelerado, respiração ofegante, nenhuma palavra saía de seus lábios. Sentia-se incapaz de reagir, como se tudo ao redor delas fosse inexistente. Era como se somente elas e aquele barco existissem naquele momento, o restante era um imenso vazio repleto de escuridão.

Engoliu em seco e lágrimas começaram a se formar quando finalmente a ficha caiu. Percebeu que sua mãe fora morta para protegê-la de um monge que ela acreditava ser bom, puro e cheio de bondade e fé. No entanto, foi esse mesmo homem que tentou atingi-la com uma espada e, ironicamente, acertou a pessoa que sequer estava presente quando ele chegou: sua mãe, Freyja.

Elisabette segurava a boneca com mãos trêmulas, sentindo o peso insuportável do corpo de sua mãe nos braços. As lágrimas escorriam incessantemente por seu rosto, misturando-se ao sangue que manchava suas roupas. O barco parecia um túmulo flutuante, e o cenário ao redor era agora uma paisagem de desolação. O rosto de Freyja estava pálido, seus olhos sem vida fixavam o horizonte. O vestido antes imaculado estava tingido de vermelho, uma cruel obra de arte que narrava a tragédia que se desenrolara. O último suspiro da mãe ecoava na mente de Elisabette, uma melodia dolorosa que a acompanharia para sempre.

- Por quê? - sussurrou a pequena, sua voz ecoando no vazio do desespero.

A culpa e a impotência pesavam sobre ela como uma âncora, afundando-a ainda mais na escuridão que agora cercava seu coração. As ondas do mar branco, antes tranquilas, pareciam agora rugir em lamento, ecoando o luto da menina.

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━━ Upper Yard, Jardim Superior de Skypiea ; 6 anos atrás...

Quando completou 11 anos, Elisabette tornou-se a principal guardiã da terra sagrada de Upper Yard, o Jardim Superior de Skypiea. Os sacerdotes de seu pai ensinaram-lhe tudo o que era necessário para se tornar uma guerreira guardiã, a fim de servir a Deus com todo o seu ser, desde o corpo até a alma. Mesmo com tão pouca idade, ela dedicava-se a essa missão. Seu corpo magro, típico de uma pré-adolescente, já exibia pequenos músculos definidos em toda a sua estrutura física. Apesar disso, seu rosto ainda mantinha a forma rechonchuda e redonda característica de uma garota comum de sua idade.

Por ter nascido com uma certa deformidade nos ossos de suas asas, tornando-as um pouco maiores que o normal, Elisabette era o único ser em Skypiea - com exceção dos pássaros - que possuía a capacidade de voar. Isso nunca foi motivo de vergonha para ela; pelo contrário, Enel assegurou à sua filha que era uma bênção divina dos céus. Sua habilidade de voar como uma águia a destacava, tornando-a superior a todos os seres insolentes daquelas ilhas. Ele enfatizava que ela nunca deveria se limitar a viver com os simples mortais, pois seu lugar era acima do céu. Ele afirmava que sua presença seria sempre imponente, pois, sendo filha de Deus, todos se curvariam aos seus pés ou enfrentariam o Julgamento Divino.

Assim como o significado de seu nome indicava, Elisabette era dedicada ao seu pai, que era o seu Deus. Ela era totalmente devota aos desejos e ideais dele, acreditando que estavam corretos. Em sua concepção, independentemente do que acontecesse, Deus sempre seria Deus.

Para o povo de Skypiea, aquela menina - mesmo que aos seus olhos fosse apenas uma criança - era tão cruel e maldosa quanto Enel. Eles a viam e prontamente se curvavam, oferecendo-lhe seus pertences mais preciosos, roupas luxuosas, adereços, bijuterias, e se ofereciam para serem seus servos em troca de que ela lhes poupasse a vida, caso viessem a cometer algum "pecado" futuramente. Os skypieans a batizaram como "Anjo da Morte" e "A Santa Praga", pois sempre que ela aparecia na cidade principal, era para ceifar a vida de algum inocente que havia cometido um mínimo erro desagradável aos olhos de Deus.

- Elisabette, sabe por que eu te dei este nome? - o homem de cabelos loiros questionou enquanto levava uma maçã até sua boca e mordia um pedaço.

- Não, meu pai. - respondeu com sinceridade. - Por quê? - seus olhos azuis expressavam a curiosidade sobre os motivos de seu genitor ao lhe dar aquele nome.

- Seu nome tem raízes históricas e profundas, todas associadas à realeza ou religiões... significa que "Deus é juramento" e "Consagrada a Deus". - explicou, dando outra mordiscada no fruto vermelho. - Sabe o que isso quer dizer?

- O quê?

- Que teu dever, como sangue do meu sangue, carne da minha carne, é viver em prol do teu pai, do teu Deus. Me obedeça hoje, amanhã e para sempre, pois você é o que é porque eu concedi o dom da vida a você. - Enel disse com calma, mas de maneira arrogante e autoritária, observando o semblante neutro de sua filha única.

A garota permaneceu em silêncio ao escutar a resposta dele e assentiu delicadamente enquanto planava no ar com suas asas que batiam de forma majestosa para mantê-la flutuando. O olhar dela desviou-se dos olhos celestes de seu pai depois de um tempo apenas o encarando calada e, embora não gostasse daquele tratamento e nem da maneira que era vista pelo povo das Ilhas do Céu, Elisabette não queria perder o mínimo do afeto que ainda tinha de seu pai. Por mais prejudicial que fosse a sua saúde mental, no fim, ela o amava com todo seu coração e tinha grande admiração por aquele que havia lhe trago ao mundo junto de sua falecida mãe.

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━━ Upper Yard, Jardim Superior de Skypiea ; Meses atrás...

Elisabette estava sentada em um galho de árvore, usando seu longo casaco de penas pretas e seu vestido branco habitual. Ela observava o forasteiro andando despreocupado, cantando uma canção peculiar que ela achou divertida de ouvir. Apesar da letra boba, ele, um garoto da mesma idade que ela, exibia alegria, com seus cabelos pretos fatiados, vestindo colete vermelho, bermuda azul e chinelos. Carregava uma grande mochila laranjada, além de um marcante chapéu de palha na cabeça.

Desde que o desconhecido se aproximou de Upper Yard, Elisabette sentiu não apenas suas emoções, mas também as de outras seis pessoas: duas mulheres, três homens e um animal que falava e se comportava como humano. O menino, que momentos atrás observava cantar, parecia perdido, no entanto, mantinha-se tranquilo diante dessa situação.

Ela estava totalmente intrigada por ele, queria saber mais sobre de qual parte do mar azul ele tinha vindo e quais eram os seus objetivos ali. Conforme o garoto com chapéu de palha continuava andando e cantarolando uma melodia, a birkan o seguia silenciosamente, mantendo seus olhos fixos na figura abaixo dela. Sempre que ele se virava para olhar para cima, ela ia para um lado mais baixo, e quando ele olhava para baixo, ela voltava para cima. Isso durou alguns minutos até que ele parou de andar, e a garota simplesmente se deparou com o forasteiro do mar azul.

- Qual é a tua, minha filha!? - perguntou. - Você 'tá me seguindo já tem um tempão! - o garoto disse enquanto cruzava os braços com um olhar aborrecido.

- "Minha filha"? Eu não sou sua filha. - Elisabette retrucou e bateu as asas para voltar a flutuar, impressionando-o.

- QUE MANEIRO! Você é uma espécie de passarinho ou o quê!? - os olhos dele brilhavam como duas estrelas quando fitava suas asas.

- Eu não sou um passarinho!

- Ih, rapaz, então é um "passarão"?

- Você é burro!? - ela ficou vermelha e deu um soco na cabeça dele, que logo formou dois gânglios, um em cima do outro.

- AI! ISSO DÓI!

- Folgado... diga quem você é antes que eu te corte ao meio! - a de cabelos platinados ordenou, puxando sua foice e apontando para ele.

- Calma, mulher! Vamo' parar com essa presepada aí! - o garoto com chapéu de palha rapidamente esticou sua mão até o cabo da foice e segurou com firmeza, puxando-a para perto dele.

- QUE MEDO! - a garota engoliu seco ao ver o braço dele esticar e puxá-la. - Como fez isso!? Quem é você!? - ela arregalou seus olhos azuis em espanto enquanto o encarava em choque.

- Hein? Ah, eu comi a Gomu Gomu no Mi, sou um homem de borracha!

- Borracha? - Elisabette inclinou a cabeça para o lado, demonstrando confusão.

- Mas 'cê é burrinha, hein, minha filha?

- EU JÁ DISSE QUE NÃO SOU SUA FILHA! - outro soco foi desferido contra a cabeça dele.

Apesar da pequena desavença entre os dois naquele momento, a amizade entre os jovens se desenvolveu quase que instantaneamente. Ele era alguém completamente novo naquele lugar e, apesar de saber quais eram as intenções dele ali, ela não pôde deixar de se encantar com a presença daquele garoto com chapéu de palha e poderes daquele tal material chamado "borracha". Ela nunca havia tido interações diretas com ninguém de sua idade; ele foi o primeiro a falar com ela sem demonstrar medo ou se curvar diante dela por ser filha de Enel! Elisabette sentia sensações que nunca havia experimentado antes; era como se aquele rapaz fosse um livro aberto sobre histórias que ela nunca havia lido - não por ser analfabeta, mas por nunca ter saído das Ilhas do Céu -, e tudo o que ele lhe contava a fazia arregalar os olhos de excitação a cada minuto que passava ao lado dele.

Monkey D. Luffy, esse era o nome dele; foi por este nome que o garoto com chapéu de palha se apresentou. Ele era carismático, cheio de alegria! Apesar da situação em que se encontrava, Luffy demonstrava positividade e esbanjava um sorriso grande e contente em seu rosto, sem se importar com nada de ruim que pudesse acontecer consigo.

A birkan não pôde deixar de se sentir atraída por ele, e não era uma atração física ou romântica; era algo que ela não soube explicar. Era como se algo naquele forasteiro do mar azul lhe dissesse: "vem comigo". Elisabette olhava para ele com admiração, respeito e, principalmente, intrigada. Ela mal o conhecia, como ele havia causado todo aquele efeito nela? As histórias dele sobre suas aventuras durante a infância, no início de sua jornada como pirata para alcançar o topo do mundo ao se tornar o Rei dos Piratas, os ideais dele sobre liberdade e que todos os piratas são assim, livres de regras ou qualquer tipo de opressão. Aquelas palavras, aquelas histórias... Luffy soube seduzir a mente fechada de Elisabette de uma maneira surreal.

- E então, 'cê vem com a gente depois, né não? Você é boa de briga, te quero no meu bando! - Luffy disse com entusiasmo enquanto segurava as mãos da garota, que apenas franziu o cenho em resposta.

- O quê? Eu nunca faria isso! Além do mais, como eu iria para o mar azul com você se nem vivo estará? Meu Pai vai derrotá-lo, disso não tenho dúvidas... ou você realmente acha que pode desafiar Deus? - ela estreitou os olhos em um olhar severo e desafiador, queria ver até onde aquele rapaz iria para tentar convencê-la.

- Então, vamos fazer uma aposta, hein? O que me diz? Ou vai ficar com medinho de perder?

- Medo? De você? Até parece, Chapéu de Palha. - Elisabette cruzou os braços, sentiu-se indignada e até mesmo... intimidada pela confiança que aquele rapaz do mar azul tinha. - Enfim... e qual seria sua aposta?

- Vamos apostar que... se eu vencer o Enel, 'cê vem comigo e se torna minha companheira! Shishishishi! - ele riu, parecia mesmo estar tirando uma com a cara dela.

- Ah, é? Pois, se você perder, bom... acho que não terei nada a pedir; você já estará morto de qualquer forma. Eh eh eh eh!

- É o que vamo' ver! - Luffy estendeu a mão para Elisabette, que apertou logo em seguida, assim selando o acordo entre eles.

Enquanto o garoto gargalhava como se mais nada importasse, ela não pôde deixar de ficar cada vez mais fascinada e intrigada com o comportamento dele, como se não estivesse preocupado com o fato de que Enel poderia matar não só a ele, mas também a todos os seus companheiros. Era como se Luffy estivesse destinado a algo maior, a salvar a todos, a libertar as pessoas. Ela não sabia explicar, não sabia ao certo o que sentir, contudo, de uma coisa ela tinha certeza: iria para o mar azul com ele se o destino permitisse. Ela queria conhecer e desfrutar daquela tal liberdade que ele tanto falava, queria sentir o mar abaixo de seus pés, o frescor da brisa noturna enquanto o navio navega. Ela queria cantar, dançar, nadar e ter aventuras! Elisabette queria viver em prol de si mesma. Ela queria sentir o que era, de fato, ser livre.

"A liberdade é a capacidade de decidir-se a si mesmo para um determinado agir ou sua omissão" (ARISTÓTELES, citado por RABUSKE - 1999, p. 89).

Liberdade... o que era ser livre? O que era poder escolher entre fazer ou não fazer? Há anos ela não tinha tal escolha, ou melhor, nunca teve, afinal. Desde seu nascimento, Elisabette já havia sido doutrinada por seus pais para ver seu pai como seu único e verdadeiro salvador, o seu Deus e, acima de tudo, aquele que tinha poder sobre ela e todas as coisas que conhecia.

Podia não admitir para si mesma, entretanto, no fundo, sabia que era mais uma escrava de seu próprio pai, Enel, do que uma serva de Deus. Quantas vezes ela foi oprimida por ele? Quantas vezes foi obrigada a fazer coisas que não queria apenas para satisfazer os caprichos de seu pai? Quantas vezes ela precisou descer do Jardim Superior até a cidade principal de Skypiea para ceifar vidas inocentes por terem agido de forma inocente, mas sem a intenção de irritá-lo? Elisabette sabia que não tinha escolha a não ser obedecê-lo, por respeito por ser seu pai e, também, por medo de sofrer até a morte pelas mãos dele. Já havia perdido a conta das vezes que tentou se opor e foi brutalmente morta com sabe-se lá quantos volts desferidos contra ela, para depois ser reanimada para que Enel mostrasse o quão poderoso era, o tamanho do poder que tinha sobre ela. Odiava isso, mas o amava... porque, apesar dos apesares, ele ainda era seu pai.

Mas aquele garoto com chapéu de palha, Monkey D. Luffy, apareceu em sua vida, e Elisabette soube imediatamente que, se não fosse ele quem a libertasse daquelas correntes de laço sanguíneo que a prendiam a seu pai, ninguém mais seria capaz desse feito.


"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (BÍBLIA SAGRADA, Livro de João - capítulo 8, versículo 32).

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