
โโ ๐ฅ ึด เผ ุ ๐ณ๐ญ. ๐จ๐บ ๐ฐ๐ฎ๐๐ฎ๐น ๐๐ฟ๐ฎ๐ฑ๐ถ๐ฐ๐ถ๐ผ๐ป๐ฎ๐น.
โ - โฆ โฆ เญง โ . . .
๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ.๏ธถ
5.6K de palavras.
โ ๐๐ ๐๐พ๐๐๐๐พ ๐๐๐
๐๐ ๐๐บ๐๐บ ๐๐๐ผ๐พฬ, ๐บ๐ฒ๐ ๐ฎ๐บ๐ผ๐ฟ. โ
ๆใใไบบใใ็งใฏใใคใใใชใใฎใจใใใซๆปใฃใฆใใพใใ
โ ๐๐๐๐บ๐๐พ๐ ๐พ๐๐๐พ๐๐บ๐๐ฝ๐ ๐บ๐๐๐, ๐ฝ๐ฎ๐๐๐ฎ๐ฟ๐ถ๐ป๐ต๐ผ. โ
ๅฐ้ณฅใใใใใใงๅพ
ใฃใฆใพใใใ
โโโโ โง โน ๐ฆ โบ โง โโโโ
โโ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo; Paรญs de Wano.
"Nusuttoยน! Ladrรฃozinho miserรกvel!"
Bradou o padeiro, segundos antes de uma garotinha disparar da padaria em alta velocidade, carregando uma sacola cheia de pรฃes.
Ela era pequena demais para a idade que possuรญa e bastante magra, embora ostentasse um rosto arredondado e bochechas grandes โโ traรงos que denunciavam sua origem fora da capital e justificavam o desenvolvimento precรกrio de seu corpo. Suas mรฃos minรบsculas agarravam a sacola com toda a forรงa que lhe restava, enquanto corria o mais rรกpido que podia, ouvindo ao longe os gritos dos policiais da Capital das Flores, que a chamavam de ladra e ordenavam que parasse. No entanto, a menina nรฃo os ouviu โโ literalmente.
Cada passo representava uma nova dor nas solas de seus pรฉs descalรงos, jรก feridos pelo chรฃo duro e pelos pedregulhos que cobriam as calรงadas. Seus cabelos longos, esverdeados e desgrenhados balanรงavam ao vento com a corrida, e seus olhos โโ da mesma tonalidade โโ estavam arregalados e marejados. Chorava, assustada, nรฃo apenas pelo medo, mas tambรฉm pela fome. Hรก dias nรฃo se alimentava. Sua รบltima refeiรงรฃo fora uma casca de banana estragada, ingerida com รกgua suja retirada ร s escondidas da casa de banhos โโ um almoรงo miserรกvel para uma crianรงa nascida da prรณpria misรฉria de Okobore.
Segurando a sacola de pรฃes com a boca, a menina agarrou-se a uma das pilastras de madeira das casas da capital e escalou com agilidade surpreendente para alguรฉm de sua idade e fragilidade. Disparou pelos telhados, usando cada fragmento de forรงa que ainda lhe restava para saltar de uma estrutura a outra sem cair. De tempos em tempos, virava o rosto, os olhos arregalados de pรขnico, buscando atrรกs de si os passos insistentes da perseguiรงรฃo โโ e, para sua infelicidade, eles ainda estavam lรก.
Os policiais eram cruรฉis e impiedosos. Nรฃo se importavam com o fato de que ela era apenas uma crianรงa faminta vinda de fora da capital. Nรฃo lhes importava se hรก dias nรฃo comia, se o estรดmago doรญa de vazio, se o pequeno corpo padecia de anemia que afinava o sangue e tornava seus membros cada vez mais fracos, nem se as noites dormidas no chรฃo gelado estavam entortando sua coluna ainda em formaรงรฃo. Aos quatro anos, jรก sentia dores que muitos adultos nunca conheceriam.
Corria como podia, os pezinhos doendo, a barriga roncando alto, a visรฃo turva e o coraรงรฃo batendo em descompasso. E entรฃo, num instante de fraqueza, pisou em falso e despencou do telhado.
As lรกgrimas se lanรงaram de seus olhos no momento da queda. Ela apertou a sacola de pรฃes contra o peito com os braรงos finos e, ao erguer o olhar atraรญda pelo som de algo se quebrando, Elisabette arregalou os olhos e nรฃo teve tempo de desviar antes que o corpo mirrado da menina colidisse com o seu, derrubando ambas ao chรฃo. As compras que a mulher carregava se espalharam ao redor, misturadas aos pรฃes que rolaram para fora da sacola.
Elisabette caiu sentada no chรฃo. A poeira do solo levantou-se com o impacto, envolvendo-a em uma nuvem opaca que por um momento cegou sua visรฃo, antes de se dissipar e revelar a figura de uma crianรงa caรญda em seu colo. O rosto da menina exibia uma expressรฃo chorosa, os olhos semicerrados com lรกgrimas brilhando nos cantos. Um soluรงo fraco escapou de seus lรกbios enquanto fitava Elisabette com um olhar assustado. Encolheu-se em seu colo, tentando se proteger, o que apenas fez com que a mais velha franzisse o cenho, confusa.
Antes que pudesse reagir, os gritos dos policiais cortaram o ar, e em poucos segundos elas estavam cercadas. Como se isso pudesse protegรช-la de algum modo, a pequena agarrou-se ao corpo de Elisabette, escondendo o rosto em seu peito e ali permanecendo, trรชmula, deixando evidente o medo que sentia. Instintivamente, Elisabette lanรงou um olhar em volta, observando atentamente o rosto de cada policial antes de passar um braรงo ao redor da menina, protegendo-a de seus olhares.
- Essa menina estรก com vocรช? โ questionou um dos homens, apontando sua espingarda na direรงรฃo delas.
- Talvez... quem quer saber? โ retrucou Elisabette, erguendo o queixo e encarando-os com desdรฉm.
- Essa pirralha roubou uma sacola de pรฃes da padaria! Vamos levรก-la conosco. E se vocรช resistir, vai junto!
- Vรฃo levรก-la? Para onde? Para a prisรฃo? โ indagou Elisabette com indignaรงรฃo. - Ela รฉ sรณ uma crianรงa e, se roubou comida, รฉ porque estava com fome. Vรฃo prender uma garotinha por roubar uma sacola com... โ desviou o olhar para os pรฃes espalhados ao redor e, ao contรก-los, sua expressรฃo se contorceu em desgosto e irritaรงรฃo. Uma veia pulsou em sua tรชmpora. - Trรชs pรฃes!? Sรฃo sรณ trรชs pรฃes minรบsculos! Isso mal serviria para acalmar a fome dela!
- Que se dane! Furto รฉ furto, nรฃo importa o que foi roubado! โ berrou um dos policiais, puxando o gatilho contra Elisabette.
Ela arregalou os olhos e tentou desviar, mas nรฃo foi rรกpida o suficiente. Sentiu o ardor do disparo raspar sua bochecha, deixando uma linha quente de dor e sangue.
A Praga permaneceu imรณvel por alguns instantes, perplexa, com a mรฃo pousada sobre a ferida causada pelo disparo em sua bochecha. Voltou o olhar para os policiais, alternando entre o grupo de homens de coques samurais e a crianรงa em seu colo, que choramingava baixinho, emitindo sons quase inaudรญveis โโ pequenos arrulhos que denunciavam o medo e o pavor que tomavam conta de seu pequeno corpo. Aquela fragilidade, de certo modo, despertou na mais velha uma sรบbita empatia.
Movida nรฃo apenas por compaixรฃo, mas tambรฉm pela indignaรงรฃo de quase ter sido baleada no rosto, Elisabette, sem pronunciar uma รบnica palavra, retirou o machado das costas, girando-o com destreza nas mรฃos antes de se colocar de pรฉ e avanรงar contra os homens armados. Enfrentou-os com ferocidade, ferindo-os gravemente e os deixando ali, entregues ร morte.
Com a respiraรงรฃo pesada, limpou o sangue do rosto e soltou um suspiro antes de se abaixar para recolher suas compras โโ frutas, vegetais e alguns temperos โโ, colocando-os de volta na sacola. A menina a observava com os olhos arregalados, uma mescla de espanto e admiraรงรฃo refletida em sua expressรฃo. Sua boquinha permanecia entreaberta, formando um perfeito "o" diante do sorriso plรกcido da platinada, que simplesmente se virou e seguiu seu caminho, sem dizer nada.
A garotinha, sentindo-se acolhida de alguma forma, nรฃo tardou em segui-la, aliviada por nรฃo estar sendo enxotada dali.
- Se quiser comer, pode vir... quer dizer, vocรช jรก estรก vindo antes mesmo de eu te convidar, nรฃo รฉ? โ ela riu suavemente, observando a menina agarrar seu quimono com uma das mรฃos. - Qual รฉ o seu nome?
Silรชncio.
- Certo, ainda estรก tรญmida? Tudo bem, leve o tempo que precisar. Mas eu me chamo Shiranamiยฒ. Sabe aquela barraquinha de doces que fica perto da tenda de รณleo de sapo? Pois bem... รฉ minha! Sempre que tiver vontade de comer um doce, pode ir atรฉ lรก que eu lhe darei vรกrios, combinado? Vocรช gosta de doces? โ Elisabette sorriu amplamente, levando a mรฃo livre atรฉ a cabeรงa da garotinha de cabelos esverdeados.
Contudo, mais uma vez, a resposta veio apenas em um piscar de olhos silencioso, acompanhado de uma arfada suave.
- Vocรช nรฃo รฉ muito de falar, nรฃo รฉ, Tatuzinho?
A menina nรฃo compreendia realmente as palavras da mais velha, mas ainda assim sorriu โโ uma risadinha fanha e quase rouca escapou de seus pequenos lรกbios ressecados quando Elisabette lhe devolveu o gesto com ternura. Durante todo o trajeto โโ ou talvez apenas falando sozinha โโ, Elisabette manteve a conversa atรฉ que, por fim, ambas chegaram a uma residรชncia simples, localizada prรณxima ร s montanhas, entre outras casas modestas e discretas, se comparadas ร s da rua principal โโ ainda que fossem claramente superiores ร s habitaรงรตes das รกreas externas da Capital das Flores.
Caminharam juntas, com a garotinha seguindo atrรกs, curiosa e encantada. Seu olhar, surpreso, explorava cada detalhe das construรงรตes, que, para alguรฉm vinda de Okobore, pareciam luxuosas demais, embora fossem comuns para os padrรตes da capital. Um caminho de pedregulhos cuidadosamente alinhados formava uma calรงada delicada, conduzindo atรฉ a casa onde Elisabette residia. Pararam diante da porta deslizante de madeira, que ela abriu com cuidado, permitindo que o rangido suave ecoasse pelo ambiente antes de adentrarem.
Seguiram atรฉ a sala de chรก, onde Law se encontrava sentado sobre o tatami, concentrado na leitura de um jornal. Ao perceber a presenรงa da aliada, ergueu o olhar e, ao notar a crianรงa junto dela, arqueou uma sobrancelha, visivelmente intrigado.
- O que รฉ isso? โ indagou, os olhos fixando-se no rosto da menina, que, intimidada pelo olhar firme e frio do homem, escondeu-se atrรกs de Elisabette. - De quem รฉ esse bebรช?
- Ah, alguns policiais estavam perseguindo-a, entรฃo dei um jeito neles e, antes que me pergunte, nรฃo se preocupe, ninguรฉm viu. โ garantiu ela, sorrindo com orgulho e piscando de forma brincalhona.
- Certo... e por que a trouxe?
- Ela roubou trรชs pรฃes de uma padaria porque estava com fome. โ respondeu com seriedade, os olhos refletindo a indignaรงรฃo que ainda sentia. - Fiz algumas compras hoje, entรฃo vou preparar algo para que ela jante conosco.
- Que seja. โ Law suspirou, mas algo pareceu acender-se em sua mente. - Espera... vocรช nรฃo deveria estar trabalhando, Shiranami?
- Estou de folga.
- Vocรช jรก estava de folga ontem.
- E estou hoje de novo. โ deu de ombros, franzindo o cenho e fazendo um leve beicinho.
O Cirurgiรฃo da Morte nรฃo respondeu de imediato โโ limitou-se a suspirar, resignado, enquanto observava atentamente a pequena que fitava a casa com genuรญna admiraรงรฃo, como se aquela fosse sua primeira vez em uma residรชncia daquele estilo. Julgando por suas vestimentas humildes, pela extrema magreza, pelos cabelos longos e desgrenhados de tom esverdeado, bem como pelo rostinho pรกlido marcado por manchas de sujeira e leves arranhรตes โโ alรฉm da informaรงรฃo de que quase fora presa por furtar pรฃo โโ, era evidente que a menina nรฃo pertencia ร Capital das Flores. Tratava-se, com toda a certeza, de alguรฉm oriunda das vilas perifรฉricas e esquecidas pelo xogum Kurozumi Orochi, destinadas a apodrecer. Okobore, ao que tudo indicava, era sua cidade natal.
Elisabette seguiu em direรงรฃo ร cozinha, sendo acompanhada pela pequena, que parecia tรช-la escolhido instintivamente como uma figura de confianรงa e proteรงรฃo โโ ainda que fizesse menos de uma hora desde que haviam se encontrado e fugido juntas. Com mรฃos hรกbeis e dedicadas, a sentinela dos Chapรฉus de Palha preparou, com esmero, alguns onigiris e curry, observando o olhar ansioso da garotinha e ouvindo seus arrulhos eufรณricos, cheios de expectativa, enquanto se animava diante da possibilidade de jantar com aquele casal recรฉm-descoberto, com quem jรก se sentia segura.
Law, por sua vez, mantinha-se em silรชncio. Estava encostado ร porta da cozinha, observando a cena com atenรงรฃo analรญtica, ainda intrigado com a presenรงa daquela crianรงa tรฃo pequena e franzina, cuja estrutura corporal e comportamento infantil o levavam a estimar nรฃo mais do que quatro anos de idade. Por vezes, os olhos verdes da menina, carregados pela inocรชncia prรณpria de um bebรช, encontravam os seus โโ sempre bem abertos e expressivos, como se ainda buscassem compreender se aquele homem de mรฃos tatuadas e olhar acinzentado e gรฉlido representava uma ameaรงa ou proteรงรฃo. O semblante naturalmente carrancudo de Law, pouco convidativo, parecia confundi-la. Ainda assim, foi ao notar a maneira como Elisabette, sua salvadora, interagia com ele โโ com sorrisos suaves, piscadelas e beijinhos lanรงados no ar em sua direรงรฃo โโ que a pequena pareceu se tranquilizar. Mesmo que ele apenas desviasse o rosto, visivelmente constrangido, isso bastava para lhe indicar que estavam em seguranรงa.
Para os membros da Alianรงa, aquilo nรฃo passava de um mero teatro. No entanto, ambos se permitiam mergulhar na fantasia de uma vida comum โโ como se fossem apenas duas pessoas normais, com ocupaรงรตes comuns. Law assumia o papel de um discreto dono de casa, enquanto Elisabette sorria para adultos e crianรงas ao vender doces em uma barraca modesta na rua principal da capital.
"Law-dono! O-Eli-san! Como sรฃo muito amigos, nรฃo hรก problema em atuarem como se fossem um casal tradicional do Paรญs de Wano, certo?" โโ foram as palavras de Kin'emon, ao sugerir que se passassem por marido e mulher atรฉ que chegasse o momento de colocarem em prรกtica o plano para derrotar Kaido, das Cem Feras.
Trรชs meses haviam se passado desde que chegaram ao Paรญs de Wano. E, por todo esse tempo, permitiram-se viver daquela forma serena e clandestina, conscientes de que, enquanto mantivessem as aparรชncias fora de casa, poderiam estender a ilusรฃo o quanto desejassem dentro dela. Dormiam lado a lado todas as noites; os banhos eram partilhados, assim como as refeiรงรตes, a limpeza e a organizaรงรฃo โโ tudo era feito em conjunto, como se fossem, de fato, um casal unido nรฃo apenas por circunstรขncias, mas por afinidade e afeto.
Nรฃo se tratava apenas de desejo, nรฃo era apenas a uniรฃo de corpos em noites de sexo. Nรฃo era somente ele a tomรก-la com รขnsia, como se a prรณpria vida lhe escapasse pelos dedos e ela fosse o รบnico refรบgio, nem ela a beijรก-lo com uma paixรฃo tรฃo urgente que parecia brotar da alma. Mais do que o entrelaรงar de corpos em busca de alรญvio ou รชxtase, era a comunhรฃo silenciosa de dois coraรงรตes que haviam encontrado abrigo um no outro.
Era mais do que prazer carnal โโ era amor. Um sentimento cultivado com ternura, paciรชncia e zelo, como algo raro e precioso que desejavam preservar. Manifestava-se nas pequenas coisas do cotidiano: no "bom dia" sussurrado quando os primeiros raios do sol atravessavam a janela do quarto, tingindo de rosa o ambiente graรงas ร danรงa suave das flores de cerejeira ao vento; e no "boa noite" murmurado com delicadeza, quando Law a envolvia em seus braรงos, acolhendo-a contra o peito, como se ali, naquele gesto silencioso, prometesse protegรช-la de todo o mal. Nรฃo apenas com sua forรงa, mas com a mais pura forma de amor e devoรงรฃo que habitava em seu coraรงรฃo.
Concluรญda a preparaรงรฃo dos onigiris e do curry, Elisabette os levou atรฉ a chabudaiยณ, dispondo-os com cuidado sobre a superfรญcie de madeira. Sentou-se com serenidade, sendo logo acompanhada por seu aliado, que a seguiu com igual discriรงรฃo. Observando-os ร distรขncia, a menina hesitou por breves segundos antes de se aproximar, tรญmida, arrastando sua almofada atรฉ colรก-la ร da mulher de cabelos platinados. Com um gesto gentil, Elisabette sorriu e levou as mรฃos aos fios esverdeados da pequena, alisando-os com doรงura.
- Vai me contar seu nome agora? โ indagou com suavidade, mantendo os olhos fixos nos dela, notando a forma concentrada com que a crianรงa examinava seu rosto, como se se guiasse por ele.
No entanto, a รบnica resposta foi um silรชncio pleno.
- Tudo bem. โ murmurou com um sorriso resignado. - Vocรช me conta depois, entรฃo.
Quando iniciaram a refeiรงรฃo, Trafalgar manteve-se calado, mas seus olhos atentos passaram a estudar os movimentos da garotinha. Observava a maneira como suas pequenas mรฃos manuseavam os hashis com desajeitada concentraรงรฃo, e como ela mantinha o olhar fixo em tudo que Elisabette fazia โโ copiando-lhe os gestos com exatidรฃo. Contudo, o que mais lhe chamou a atenรงรฃo foi o fato de que, mesmo diante das palavras proferidas pela companheira, a crianรงa nรฃo reagia de imediato. Havia algo estranho ali. Ela nรฃo parecia ignorar... tampouco compreender. Era como se as palavras nรฃo a tocassem. Como se nรฃo as percebesse.
Enquanto comia, Law passou a perceber um padrรฃo peculiar em seus comportamentos. De seus lรกbios nรฃo saรญam palavras, apenas arrulhos e grunhidos suaves, que variavam em entonaรงรฃo conforme a situaรงรฃo. Em determinado momento, ao perceber que seu arroz havia acabado, um leve beicinho se formou em seus lรกbios, e ela manteve os olhos fixos na tigela vazia, umedecidos pela frustraรงรฃo silenciosa.
- Vocรช quer mais arroz? โ questionou Elisabette, em tom meigo e acolhedor.
Nรฃo houve resposta.
Os olhos da menina permaneceram presos ร tigela, imรณveis, atรฉ que um leve toque no ombro a fez virar-se com um sobressalto quase instintivo, como quem retorna de um lugar distante. Seu rosto voltou-se rapidamente para a mais velha, que arqueou as sobrancelhas, surpresa com a reaรงรฃo inesperada.
- Arroz, Tatuzinho. Vocรช quer mais? โ repetiu a pergunta, desta vez apontando para o pote de arroz sobre a mesa.
A menina acompanhou o gesto com os olhos, piscando devagar, como se processasse a informaรงรฃo atravรฉs da imagem e nรฃo do som. Um pequeno sorriso surgiu em seus lรกbios, seguido por um leve balanรงar de cabeรงa e um zumbido quase inaudรญvel โโ sua forma peculiar de responder.
Mesmo sem palavras, ela havia compreendido. E, aos poucos, Law comeรงava a perceber que havia algo naquela crianรงa que escapava ao ordinรกrio. Algo que se fazia presente justamente no silรชncio que a envolvia.
Discretamente, ele levou a mรฃo atรฉ o copo vazio ao lado de seu prato e, sem dizer uma palavra, o derrubou ao chรฃo. O ruรญdo seco do vidro contra o piso ressoou pelo ambiente, atraindo o olhar de Elisabette, que imediatamente fixou os olhos no objeto caรญdo e, em seguida, lanรงou ao aliado um olhar confuso, arqueando uma sobrancelha, tentando compreender o motivo daquela atitude.
Enquanto isso, a pequena continuava a comer com entusiasmo, deixando escapar suspiros finos e abafados por entre os lรกbios ressecados. A animaรงรฃo e ansiedade estavam estampadas em seu olhar infantil, enquanto devorava a comida com voracidade โโ o que fez com que o Cirurgiรฃo da Morte estreitasse os olhos, a resposta para a inquietaรงรฃo que o atormentava comeรงando a tomar forma. Entรฃo, ele aproximou a mรฃo do ouvido da menina e estalou os dedos.
Mais uma vez, nenhuma reaรงรฃo.
- O que vocรช estรก fazendo? โ questionou Elisabette, confusa, enquanto enfiava um onigiri na boca. - Vocรช tรก sendo mais estranho do que o de costume.
- Vocรช ainda nรฃo percebeu, nรฃo รฉ?
- Percebi o quรช?
- Chame por ela. โ disse ele, em tom firme.
Quando Elisabette estava prestes a tocar o ombro da menina, ele a interrompeu:
- Sem tocรก-la. โ complementou, arrancando-lhe uma expressรฃo ainda mais curiosa e confusa. - Apenas com a voz.
- Uh... tudo bem, eu acho. โ respondeu ela, fazendo um leve beicinho antes de se virar para a menor, que continuava comendo, alheia ร conversa. - Ei, Tatuzinho...
Silรชncio.
- Menina? Estou falando com vocรช.
- Elisabette, ela nรฃo te ouve.
- Shiranami! โ exclamou em tom desesperado, corrigindo-o imediatamente, fazendo uma careta ao encarรก-lo.
- Nรฃo... Elisabette. โ retrucou Law, agora com o olhar suavizado, ao perceber que os olhos da crianรงa comeรงavam a alternar entre os dois, tentando entender o que se passava. - Ela nรฃo ouve. Literalmente.
Elisabette piscou algumas vezes, processando a informaรงรฃo com surpresa e espanto, voltando o olhar para a menina encolhida, que parecia sentir-se oprimida pela tensรฃo repentina que se instaurara. Ela era pequena, bastante magra, com longos cabelos desgrenhados em um tom esverdeado. Sua pele clara era tรฃo pรกlida que chegava a beirar o tom acinzentado, refletindo a ausรชncia de cor em seu rosto redondo, marcado por olheiras profundas abaixo dos grandes olhos verdes.
Uma crianรงa solitรกria, frรกgil e vulnerรกvel naquele mundo hostil, parecia ter sido abandonada ร prรณpria sorte para sobreviver em um paรญs jรก esquecido pelos deuses. Restava apenas a resignaรงรฃo de que Orochi jamais lhes devolveria a paz. E ali ela estava โโ diante deles โโ alheia, distraรญda em seu prรณprio silรชncio.
Quieta, soltou os hashis e escondeu as pequenas mรฃos sobre o colo, observando-os com a expressรฃo de quem temia uma repreensรฃo, como se tivesse cometido alguma travessura. Contudo, ambos apenas se mantinham atรดnitos diante da recente descoberta sobre sua condiรงรฃo e de como, apesar de tudo, ela permanecia ali, frรกgil e delicada como um caco de porcelana fina.
Law suspirou, mas nรฃo disse nada. Apenas levou a mรฃo atรฉ os cabelos desalinhados da menina e os afagou com delicadeza. Depois, fitou seus olhos โโ aquele par esverdeado e inocente onde se mesclavam confusรฃo e surpresa โโ um reflexo transparente de sua vulnerabilidade. E se questionou, em silรชncio, como ela teria aprendido a se virar sozinha, naquele estado, vivendo em um lugar tรฃo cruel.
- Bem... isso explica por que ela nรฃo me disse o nome dela. โ comentou a platinada, rindo suavemente enquanto pegava um onigiri e o estendia ร menina, que piscou antes de sorrir e voltar a comer. - E eu achando que ela estava sรณ tรญmida. Que ingรชnua...
- Vocรช apenas nรฃo presta atenรงรฃo ao que acontece ao seu redor.
- Nรฃo seja rude com sua esposa. โ zombou, mostrando a lรญngua. - Serรก que ela sabe ler lรกbios? A Robin comentou que algumas pessoas como o Tatuzinho conseguem fazer isso.
- Acredito que nรฃo. Olhe bem para ela. โ respondeu ele, voltando o olhar para a pequena. - ร muito jovem. Praticamente um bebรช. Se tiver quatro anos, รฉ muito.
- Serรก que os pais dela sabem que ela estรก na Capital das Flores?
- Isso se ela tiver pais. โ suspirou. - A situaรงรฃo de quem vive fora da capital รฉ de misรฉria absoluta. Colocar uma crianรงa no mundo em condiรงรตes assim รฉ de uma irresponsabilidade absurda... e de um egoรญsmo profundo.
- ร... โ sussurrou Elisabette, pegando um guardanapo para limpar o cantinho da boca da menina. - ร injusto. Ela... ela รฉ sรณ uma crianรงa. Faminta. Vocรช lembra o que eu disse? Iam levรก-la para a prisรฃo porque roubou trรชs pรฃes. E vocรช precisava ver o tamanho deles... eram minรบsculos.
- Essa รฉ a vida de quem nรฃo tem a quem recorrer. Nรฃo se vive โโ se sobrevive. E esse รฉ o caso dela. Infelizmente.
- E tudo por culpa daqueles dois malditos... โ resmungou, apertando o guardanapo com forรงa atรฉ acidentalmente empurrar a menina, que caiu de costas no chรฃo, erguendo os pezinhos no ar. - Opa! Perdรฃo!
- Vocรช definitivamente nรฃo tem jeito para cuidar de crianรงas...
Elisabette encontrava-se sentada na varanda, contemplando o cรฉu enfeitado pelas estrelas da madrugada. Seus olhos, ainda tomados pela sonolรชncia, mantinham-se fixos na lua minguante, que pairava delicadamente entre os pontos cintilantes que bordavam o firmamento. Vestia uma yukata simples, e entre os dedos sustentava um pequeno prato com ervas cruas, salpicadas com farelos de fermento. Permitia que o frescor da noite acariciasse a pele sutilmente exposta, como um convite silencioso ร quietude daquele instante.
Passos suaves soaram por trรกs de si, mas ela nรฃo se virou. Sabia exatamente quem se aproximava. Um sorriso tรชnue curvou-lhe os lรกbios pouco antes de sentir um beijo demorado ser depositado na curva de seu pescoรงo โโ gesto que arrancou-lhe um suspiro leve, satisfeito, quase entregue. Ao virar o rosto, encontrou os olhos de Law, que a fitavam com a intensidade de quem devora segredos.
Ele envolveu seu rosto entre as mรฃos e a beijou com lentidรฃo, saboreando o momento como se o tempo lhes pertencesse. Quando se afastou levemente, foi apenas o suficiente para que pudesse encarรก-la novamente, detendo-se por alguns instantes em seu olho dourado, antes de finalmente dizer algo com a voz baixa e rouca:
- Como eu imaginava, ela รฉ de Okobore. โ disse ele, com a voz calma e tranquila, enquanto se sentava ao lado dela. - Ela me guiou atรฉ lรก.
- Alguรฉm a recebeu ou...?
- Uma senhora idosa. Disse ser sua avรณ. โ revelou, sem rodeios. Recostou-se na cadeira antes de continuar: - A propรณsito, o nome dela รฉ Kayoโด.
- Kayo? โ Elisabette arqueou as sobrancelhas, surpresa. - ร um nome fofo, combina com ela, mas...
Ele a fitou de relance, aguardando que ela completasse o pensamento.
- Ela parece uma vira-latinha arrepiada.
- Vocรช nรฃo deveria falar assim de uma crianรงa que sequer tem onde tomar banho, sabia? โ comentou Law com um sorriso enviesado, contendo o riso diante da franqueza impiedosa da mulher ao seu lado.
- Ah! Perdรฃo!
O moreno de pele tatuada nada respondeu โโ apenas deixou que um leve riso anasalado lhe escapasse ao erguer os olhos para o cรฉu, permitindo-se ser envolvido pela quietude serena do momento ao lado dela. A brisa fria da madrugada o fez estremecer, e no silรชncio que se instalou entre os dois, sua mรฃo procurou pela dela, encontrando-a com gentileza. Sentiu o coraรงรฃo acelerar quando os dedos delicados de Elisabette entrelaรงaram-se aos seus, apertando-os suavemente โโ como se, naquele gesto singelo, ela quisesse reafirmar que estavam, de fato, ali: juntos, em paz.
Viver aqueles trรชs meses ao lado de Law era, para Elisabette, como regressar no tempo โโ ร รฉpoca em que conhecera algo semelhante ร paz, embora, naquela ocasiรฃo, fora Bellamy quem lhe oferecera a doce ilusรฃo de uma vida tranquila. Ainda assim, de algum modo, aquele presente tambรฉm era bom, mesmo que em essรชncia tรฃo distinto. Eles viviam bem, ainda que nรฃo pudessem expor abertamente o que compartilhavam. Aproveitavam-se do disfarce, encenando em pรบblico a vida de um casal comum. E embora a carranca constante de Law e suas resmungos sobre a pegajosidade excessiva dela fossem recorrentes, no รญntimo ele nรฃo desejava outra coisa.
Estavam bem. Mesmo que fosse uma farsa, mesmo que durasse apenas enquanto a alvorada da guerra nรฃo chegasse, Law sentia-se, enfim, em paz. Ignorava โโ ao menos por instantes โโ a tensรฃo latente que pairava sobre Wano, os apelos dos samurais, os soluรงos contidos de Momonosuke. Permitindo-se um raro ato de egoรญsmo, ele entregava-se ao desejo de permanecer ao lado dela, sorvendo cada segundo como se fosse o รบltimo. Afinal, o Festival do Fogo se aproximava, e com ele, o dia decisivo: a batalha contra Kaido.
Naquela varanda simples, naquela casinha afastada, ao lado dela, Law podia fingir que eram apenas um casal comum โโ ou, como Kin'emon tanto insistira, um casal tradicional. Aproximou-a de si, com delicadeza, atรฉ que sua cabeรงa repousasse sobre o ombro dele. O som suave da respiraรงรฃo de Elisabette preencheu o silรชncio, embalando a quietude da noite. Ele passou o braรงo ao redor dela, pousando a mรฃo em seu ombro com ternura, enquanto a outra puxava, de dentro do kimono, uma pequena caixa de cigarros. Em poucos segundos, acendeu um.
O aroma sutil da fumaรงa atingiu as narinas de Elisabette, fazendo-as arder suavemente. Com um beicinho discreto, ela o olhou de canto. Era raro vรช-lo fumar โโ se tivesse que contar nos dedos, diria que o vira trรชs, talvez quatro vezes, sempre escondido, encostado em algum canto escuro, como se quisesse manter em segredo aquele hรกbito. Aquela, contudo, era a primeira vez que ele fumava diante dela. Talvez porque, agora, sentisse que podia confiar atรฉ mesmo esse pequeno segredo em suas mรฃos.
- Ei, Law... โ sussurrou ela, deixando o prato repousar sobre o colo ao segurar com delicadeza o tecido do kimono dele, em busca de sua atenรงรฃo. - Posso fazer uma pergunta?
- Hm.
- Por que vocรช fuma? โ a questรฃo escapou de seus lรกbios com a mesma suavidade da fumaรงa do cigarro, dissipando-se lentamente no ar, como se quisesse desaparecer junto com o silรชncio que se seguiu.
Afinal, havia sim um motivo para que Law fumasse โโ e, sobretudo, para que escolhesse sempre aquela marca especรญfica de cigarros.
- Por causa do cheiro. Ele me lembra... alguรฉm.
- Quem?
Mais uma vez, ele permaneceu calado, ponderando se deveria ou nรฃo compartilhar abertamente a lembranรงa daquele que o salvara. Donquixote Rosinante โโ ou, como ele o conhecera, Corazรณn โโ fora mais do que um salvador: tornara-se seu anjo com um chamado silencioso, seu precioso Cora-san.
Law manteve os olhos voltados ao cรฉu, inalando devagar a fumaรงa antes de soltรก-la suavemente, observando a nuvem esbranquiรงada se dissipar com a brisa noturna, sendo levada para longe sem que nada pudesse fazer para impedi-la. Uma imagem que, para ele, se tornava um reflexo perfeito daquele dia em que, ao mesmo tempo em que fora salvo, tambรฉm perdera aquele que havia dado tudo de si para mantรช-lo vivo.
- Comeรงou hรก dezesseis anos, quando eu tinha apenas dez. โ comeรงou ele, retirando o cigarro dos lรกbios e segurando-o exatamente como se lembrava de Cora-san fazer, em um gesto inconsciente que guardava tanto reverรชncia quanto saudade. - Foi em Flevance, um paรญs situado em uma ilha do North Blue.
Por um momento, calou-se. Inspirou profundamente, mas o ar pareceu lhe escapar, como se os pulmรตes se recusassem a cooperar. Um aperto doloroso tomou-lhe o peito, e a garganta, antes firme, formou um nรณ que ameaรงava desatar-se em lรกgrimas a qualquer instante. Era como se tudo dentro dele estivesse prestes a ruir. Mesmo apรณs tantos anos โโ quase duas dรฉcadas โโ o peso daquela lembranรงa continuava a consumi-lo com a mesma intensidade de antes.
Era um assunto que jamais cicatrizara. As memรณrias permaneciam intactas, dolorosamente vรญvidas, cravadas em sua mente como lรขminas que giravam sem cessar. Ele nunca se permitira esquecer. Nem por um รบnico e miserรกvel segundo. Carregava consigo o arrependimento constante, a culpa sufocante que o levava, noite apรณs noite, a se perguntar o que poderia ter feito para salvar Lammy... ou o que deveria ter evitado para impedir que Corazรณn fosse morto pelas mรฃos cruรฉis de Doflamingo.
Ao perceber a tensรฃo que tomava conta do homem diante de si, Elisabette ergueu a mรฃo com delicadeza e tocou-lhe o rosto. O gesto suave, quase etรฉreo, bastou para que ele voltasse a si โโ seus olhos, atรฉ entรฃo perdidos em um passado distante, encontraram abrigo no olhar dela. E, mesmo sabendo que aquela confissรฃo teria o poder de despedaรงรก-lo, expondo-lhe em lรกgrimas que tanto se esforรงara por conter, Law tambรฉm sabia que haveria, no colo dela, o conforto ameno e seguro onde, por fim, poderia desmoronar.
โโ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo; Paรญs de Wano | Castelo do Xogum Kurozumi Orochi.
Orochi estava em absoluto estado de pรขnico. Um suor frio escorria por suas tรชmporas enquanto seu corpo tremia dos pรฉs ร cabeรงa, tomado por um medo visceral que deixava todos os seus sentidos em alerta. Seus olhos arregalados se fixavam nas folhas trรชmulas entre seus dedos. Na mรฃo direita, ele segurava o retrato falado da criminosa que havia mutilado seus oficiais com um grande machado azul โโ os traรงos do rosto, o delineado dos olhos, tudo nela gritava o รณbvio: aquela mulher nรฃo era de Wano. A simples ideia de uma estrangeira, uma completa desconhecida, rondando impunemente a Capital das Flores fazia seu estรดmago revirar em puro terror.
Na mรฃo esquerda, apertava com forรงa uma sรฉrie de cartazes de procurados, mas foi o primeiro da pilha que congelou seu sangue โโ o rosto estampado ali era inconfundรญvel: Elisabette, o Anjo da Morte. Orochi sentiu os batimentos acelerarem descompassadamente, seu peito arfando com dificuldade.
Diante dele, sentado sobre o tatami com a cabeรงa baixa, estava um homem que soltava risadas abafadas e intermitentes, sons soturnos que cortavam o ar como navalhas, inflamando ainda mais o terror crescente do Xogum. Em um surto de histeria, Orochi explodiu em um grito estridente โโ de medo, de frustraรงรฃo, de desespero. Sua voz ecoou pelo salรฃo como o clamor de um homem prestes a perder o controle total sobre tudo o que julgava dominar.
- KILLER! โ berrou, descontrolado, as pernas trรชmulas mal sustentando seu corpo enquanto avanรงava atรฉ o pirata. - Vocรช a conhece! Jรก a viu antes! Diga-me! ร a mesma mulher ou nรฃo?!
- Fah! Fah! Fah! โ riu, o som de sua risada ecoando como um pressรกgio de tragรฉdia. Era dissonante, irritante, carregada de uma ironia que fazia atรฉ sua prรณpria garganta doer. - Quem sabe... Pode ser que sim. Ou nรฃo. Nรฃo a vejo desde que os Chapรฉus de Palha voltaram ร ativa.
- MALDIรรO! โ vociferou Orochi, dando um passo para trรกs, o grito rasgando sua garganta como uma lรขmina incandescente. Levou as mรฃos ร cabeรงa, o pavor colapsando dentro de si como um edifรญcio prestes a ruir. Sentia os รณrgรฃos falharem, um a um, esmagados sob o peso do medo absoluto.
O Xogum deixou-se cair sobre os joelhos, ofegante, o desespero transbordando em cada gesto. Precisava pensar, precisava agir โโ mas sua mente girava em cรญrculos viciosos de medo e confusรฃo. Se aquela mulher era ou nรฃo Elisabette, pouco importava. O simples fato de sua presenรงa ali, em Wano, jรก era suficiente para fazer sua espinha gelar. Aquilo era anormal. Inaceitรกvel. A presenรงa dela naquele territรณrio era, no mรญnimo, uma afronta ร seguranรงa do paรญs โโ e, no mรกximo, o prenรบncio de uma catรกstrofe.
"Por que ela estรก aqui?" โโ repetia a si mesmo, em silรชncio, como um mantra de desespero. "O que ela quer? Estรก sozinha? Ou pior... acompanhada? E por quem? Quantos?!"
Cada possibilidade o corroรญa por dentro. A mulher era uma ameaรงa por si sรณ, mesmo que seu propรณsito ainda fosse desconhecido. E o pior โโ como ela havia conseguido chegar atรฉ ali? Por onde entrou? Por quanto tempo jรก estaria escondida em seu territรณrio? Essas perguntas ecoavam em sua mente com uma forรงa quase alucinante.
As รบltimas informaรงรตes que possuรญam sobre ela datavam da queda de Doflamingo, em Dressrosa. Depois disso, seu nome caiu em silรชncio, atรฉ que, indiretamente, seu capitรฃo fora novamente mencionado โโ o maldito pirata que arruinou o casamento de uma das filhas de Big Mom, mergulhando o territรณrio da Imperatriz em caos. E entรฃo, como se nรฃo bastasse, veio o anรบncio mais aterrador de todos: Monkey D. Luffy havia sido declarado como o Quinto Imperador do Mar.
Pรขnico.
Medo.
Desespero.
Impotรชncia.
Sentimentos que se entrelaรงavam como serpentes venenosas dentro do peito do Xogum, ameaรงando esmagar seu coraรงรฃo a cada batida. Sentia-se ร beira de um colapso, como se a qualquer momento, ao virar um corredor ou abrir uma porta, encontraria aquela mulher prestes a lhe arrancar a cabeรงa.
Num impulso desesperado, Orochi girou o corpo, voltando-se novamente para Killer. O pirata permanecia imรณvel, sentado, os lรกbios arroxeados se curvando num sorriso largo e perturbador. Sua cabeรงa ainda completamente enfaixada, revelando apenas os olhos gรฉlidos e penetrantes, e os fios loiros que escapavam pelas bandagens โโ uma visรฃo perfeitamente alinhada com o disfarce de Kamazo, o Retalhador.
E Orochi soube, no mais profundo de seu ser, que nรฃo estava seguro. Nem ali. Nem em lugar algum.
- Kamazo... eu tenho uma nova missรฃo para vocรช. โ disse o Xogum, com a voz trรชmula, quase sufocada pelo prรณprio medo, como se cada palavra arranhasse sua garganta. - Algo... urgente. Inadiรกvel. E absolutamente necessรกrio.
โโโโโโโโโโโโโโโโโโ
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