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━━ 𖥔 ִ ་ ، 𝟳𝟭. 𝗨𝗺 𝗰𝗮𝘀𝗮𝗹 𝘁𝗿𝗮𝗱𝗶𝗰𝗶𝗼𝗻𝗮𝗹.

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❛ 𝐄𝗎 𝗌𝖾𝗆𝗉𝗋𝖾 𝗏𝗈𝗅𝗍𝗈 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝗏𝗈𝖼𝖾̂, 𝗺𝗲𝘂 𝗮𝗺𝗼𝗿. ❜
愛しい人よ、私はいつもあなたのところに戻ってきます。

❛ 𝐄𝗌𝗍𝖺𝗋𝖾𝗂 𝖾𝗌𝗉𝖾𝗋𝖺𝗇𝖽𝗈 𝖺𝗊𝗎𝗂, 𝗽𝗮𝘀𝘀𝗮𝗿𝗶𝗻𝗵𝗼. ❜
小鳥さん、ここで待ってますよ。

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━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo; País de Wano.

"Nusutto¹! Ladrãozinho miserável!"

Bradou o padeiro, segundos antes de uma garotinha disparar da padaria em alta velocidade, carregando uma sacola cheia de pães.

Ela era pequena demais para a idade que possuía e bastante magra, embora ostentasse um rosto arredondado e bochechas grandes ── traços que denunciavam sua origem fora da capital e justificavam o desenvolvimento precário de seu corpo. Suas mãos minúsculas agarravam a sacola com toda a força que lhe restava, enquanto corria o mais rápido que podia, ouvindo ao longe os gritos dos policiais da Capital das Flores, que a chamavam de ladra e ordenavam que parasse. No entanto, a menina não os ouviu ── literalmente.

Cada passo representava uma nova dor nas solas de seus pés descalços, já feridos pelo chão duro e pelos pedregulhos que cobriam as calçadas. Seus cabelos longos, esverdeados e desgrenhados balançavam ao vento com a corrida, e seus olhos ── da mesma tonalidade ── estavam arregalados e marejados. Chorava, assustada, não apenas pelo medo, mas também pela fome. Há dias não se alimentava. Sua última refeição fora uma casca de banana estragada, ingerida com água suja retirada às escondidas da casa de banhos ── um almoço miserável para uma criança nascida da própria miséria de Okobore.

Segurando a sacola de pães com a boca, a menina agarrou-se a uma das pilastras de madeira das casas da capital e escalou com agilidade surpreendente para alguém de sua idade e fragilidade. Disparou pelos telhados, usando cada fragmento de força que ainda lhe restava para saltar de uma estrutura a outra sem cair. De tempos em tempos, virava o rosto, os olhos arregalados de pânico, buscando atrás de si os passos insistentes da perseguição ── e, para sua infelicidade, eles ainda estavam lá.

Os policiais eram cruéis e impiedosos. Não se importavam com o fato de que ela era apenas uma criança faminta vinda de fora da capital. Não lhes importava se há dias não comia, se o estômago doía de vazio, se o pequeno corpo padecia de anemia que afinava o sangue e tornava seus membros cada vez mais fracos, nem se as noites dormidas no chão gelado estavam entortando sua coluna ainda em formação. Aos quatro anos, já sentia dores que muitos adultos nunca conheceriam.

Corria como podia, os pezinhos doendo, a barriga roncando alto, a visão turva e o coração batendo em descompasso. E então, num instante de fraqueza, pisou em falso e despencou do telhado.

As lágrimas se lançaram de seus olhos no momento da queda. Ela apertou a sacola de pães contra o peito com os braços finos e, ao erguer o olhar atraída pelo som de algo se quebrando, Elisabette arregalou os olhos e não teve tempo de desviar antes que o corpo mirrado da menina colidisse com o seu, derrubando ambas ao chão. As compras que a mulher carregava se espalharam ao redor, misturadas aos pães que rolaram para fora da sacola.

Elisabette caiu sentada no chão. A poeira do solo levantou-se com o impacto, envolvendo-a em uma nuvem opaca que por um momento cegou sua visão, antes de se dissipar e revelar a figura de uma criança caída em seu colo. O rosto da menina exibia uma expressão chorosa, os olhos semicerrados com lágrimas brilhando nos cantos. Um soluço fraco escapou de seus lábios enquanto fitava Elisabette com um olhar assustado. Encolheu-se em seu colo, tentando se proteger, o que apenas fez com que a mais velha franzisse o cenho, confusa.

Antes que pudesse reagir, os gritos dos policiais cortaram o ar, e em poucos segundos elas estavam cercadas. Como se isso pudesse protegê-la de algum modo, a pequena agarrou-se ao corpo de Elisabette, escondendo o rosto em seu peito e ali permanecendo, trêmula, deixando evidente o medo que sentia. Instintivamente, Elisabette lançou um olhar em volta, observando atentamente o rosto de cada policial antes de passar um braço ao redor da menina, protegendo-a de seus olhares.

- Essa menina está com você? ─ questionou um dos homens, apontando sua espingarda na direção delas.

- Talvez... quem quer saber? ─ retrucou Elisabette, erguendo o queixo e encarando-os com desdém.

- Essa pirralha roubou uma sacola de pães da padaria! Vamos levá-la conosco. E se você resistir, vai junto!

- Vão levá-la? Para onde? Para a prisão? ─ indagou Elisabette com indignação. - Ela é só uma criança e, se roubou comida, é porque estava com fome. Vão prender uma garotinha por roubar uma sacola com... ─ desviou o olhar para os pães espalhados ao redor e, ao contá-los, sua expressão se contorceu em desgosto e irritação. Uma veia pulsou em sua têmpora. - Três pães!? São só três pães minúsculos! Isso mal serviria para acalmar a fome dela!

- Que se dane! Furto é furto, não importa o que foi roubado! ─ berrou um dos policiais, puxando o gatilho contra Elisabette.

Ela arregalou os olhos e tentou desviar, mas não foi rápida o suficiente. Sentiu o ardor do disparo raspar sua bochecha, deixando uma linha quente de dor e sangue.

A Praga permaneceu imóvel por alguns instantes, perplexa, com a mão pousada sobre a ferida causada pelo disparo em sua bochecha. Voltou o olhar para os policiais, alternando entre o grupo de homens de coques samurais e a criança em seu colo, que choramingava baixinho, emitindo sons quase inaudíveis ── pequenos arrulhos que denunciavam o medo e o pavor que tomavam conta de seu pequeno corpo. Aquela fragilidade, de certo modo, despertou na mais velha uma súbita empatia.

Movida não apenas por compaixão, mas também pela indignação de quase ter sido baleada no rosto, Elisabette, sem pronunciar uma única palavra, retirou o machado das costas, girando-o com destreza nas mãos antes de se colocar de pé e avançar contra os homens armados. Enfrentou-os com ferocidade, ferindo-os gravemente e os deixando ali, entregues à morte.

Com a respiração pesada, limpou o sangue do rosto e soltou um suspiro antes de se abaixar para recolher suas compras ── frutas, vegetais e alguns temperos ──, colocando-os de volta na sacola. A menina a observava com os olhos arregalados, uma mescla de espanto e admiração refletida em sua expressão. Sua boquinha permanecia entreaberta, formando um perfeito "o" diante do sorriso plácido da platinada, que simplesmente se virou e seguiu seu caminho, sem dizer nada.

A garotinha, sentindo-se acolhida de alguma forma, não tardou em segui-la, aliviada por não estar sendo enxotada dali.

- Se quiser comer, pode vir... quer dizer, você já está vindo antes mesmo de eu te convidar, não é? ─ ela riu suavemente, observando a menina agarrar seu quimono com uma das mãos. - Qual é o seu nome?

Silêncio.

- Certo, ainda está tímida? Tudo bem, leve o tempo que precisar. Mas eu me chamo Shiranami². Sabe aquela barraquinha de doces que fica perto da tenda de óleo de sapo? Pois bem... é minha! Sempre que tiver vontade de comer um doce, pode ir até lá que eu lhe darei vários, combinado? Você gosta de doces? ─ Elisabette sorriu amplamente, levando a mão livre até a cabeça da garotinha de cabelos esverdeados.

Contudo, mais uma vez, a resposta veio apenas em um piscar de olhos silencioso, acompanhado de uma arfada suave.

- Você não é muito de falar, não é, Tatuzinho?

A menina não compreendia realmente as palavras da mais velha, mas ainda assim sorriu ── uma risadinha fanha e quase rouca escapou de seus pequenos lábios ressecados quando Elisabette lhe devolveu o gesto com ternura. Durante todo o trajeto ── ou talvez apenas falando sozinha ──, Elisabette manteve a conversa até que, por fim, ambas chegaram a uma residência simples, localizada próxima às montanhas, entre outras casas modestas e discretas, se comparadas às da rua principal ── ainda que fossem claramente superiores às habitações das áreas externas da Capital das Flores.

Caminharam juntas, com a garotinha seguindo atrás, curiosa e encantada. Seu olhar, surpreso, explorava cada detalhe das construções, que, para alguém vinda de Okobore, pareciam luxuosas demais, embora fossem comuns para os padrões da capital. Um caminho de pedregulhos cuidadosamente alinhados formava uma calçada delicada, conduzindo até a casa onde Elisabette residia. Pararam diante da porta deslizante de madeira, que ela abriu com cuidado, permitindo que o rangido suave ecoasse pelo ambiente antes de adentrarem.

Seguiram até a sala de chá, onde Law se encontrava sentado sobre o tatami, concentrado na leitura de um jornal. Ao perceber a presença da aliada, ergueu o olhar e, ao notar a criança junto dela, arqueou uma sobrancelha, visivelmente intrigado.

- O que é isso? ─ indagou, os olhos fixando-se no rosto da menina, que, intimidada pelo olhar firme e frio do homem, escondeu-se atrás de Elisabette. - De quem é esse bebê?

- Ah, alguns policiais estavam perseguindo-a, então dei um jeito neles e, antes que me pergunte, não se preocupe, ninguém viu. ─ garantiu ela, sorrindo com orgulho e piscando de forma brincalhona.

- Certo... e por que a trouxe?

- Ela roubou três pães de uma padaria porque estava com fome. ─ respondeu com seriedade, os olhos refletindo a indignação que ainda sentia. - Fiz algumas compras hoje, então vou preparar algo para que ela jante conosco.

- Que seja. ─ Law suspirou, mas algo pareceu acender-se em sua mente. - Espera... você não deveria estar trabalhando, Shiranami?

- Estou de folga.

- Você já estava de folga ontem.

- E estou hoje de novo. ─ deu de ombros, franzindo o cenho e fazendo um leve beicinho.

O Cirurgião da Morte não respondeu de imediato ── limitou-se a suspirar, resignado, enquanto observava atentamente a pequena que fitava a casa com genuína admiração, como se aquela fosse sua primeira vez em uma residência daquele estilo. Julgando por suas vestimentas humildes, pela extrema magreza, pelos cabelos longos e desgrenhados de tom esverdeado, bem como pelo rostinho pálido marcado por manchas de sujeira e leves arranhões ── além da informação de que quase fora presa por furtar pão ──, era evidente que a menina não pertencia à Capital das Flores. Tratava-se, com toda a certeza, de alguém oriunda das vilas periféricas e esquecidas pelo xogum Kurozumi Orochi, destinadas a apodrecer. Okobore, ao que tudo indicava, era sua cidade natal.

Elisabette seguiu em direção à cozinha, sendo acompanhada pela pequena, que parecia tê-la escolhido instintivamente como uma figura de confiança e proteção ── ainda que fizesse menos de uma hora desde que haviam se encontrado e fugido juntas. Com mãos hábeis e dedicadas, a sentinela dos Chapéus de Palha preparou, com esmero, alguns onigiris e curry, observando o olhar ansioso da garotinha e ouvindo seus arrulhos eufóricos, cheios de expectativa, enquanto se animava diante da possibilidade de jantar com aquele casal recém-descoberto, com quem já se sentia segura.

Law, por sua vez, mantinha-se em silêncio. Estava encostado à porta da cozinha, observando a cena com atenção analítica, ainda intrigado com a presença daquela criança tão pequena e franzina, cuja estrutura corporal e comportamento infantil o levavam a estimar não mais do que quatro anos de idade. Por vezes, os olhos verdes da menina, carregados pela inocência própria de um bebê, encontravam os seus ── sempre bem abertos e expressivos, como se ainda buscassem compreender se aquele homem de mãos tatuadas e olhar acinzentado e gélido representava uma ameaça ou proteção. O semblante naturalmente carrancudo de Law, pouco convidativo, parecia confundi-la. Ainda assim, foi ao notar a maneira como Elisabette, sua salvadora, interagia com ele ── com sorrisos suaves, piscadelas e beijinhos lançados no ar em sua direção ── que a pequena pareceu se tranquilizar. Mesmo que ele apenas desviasse o rosto, visivelmente constrangido, isso bastava para lhe indicar que estavam em segurança.

Para os membros da Aliança, aquilo não passava de um mero teatro. No entanto, ambos se permitiam mergulhar na fantasia de uma vida comum ── como se fossem apenas duas pessoas normais, com ocupações comuns. Law assumia o papel de um discreto dono de casa, enquanto Elisabette sorria para adultos e crianças ao vender doces em uma barraca modesta na rua principal da capital.

"Law-dono! O-Eli-san! Como são muito amigos, não há problema em atuarem como se fossem um casal tradicional do País de Wano, certo?" ── foram as palavras de Kin'emon, ao sugerir que se passassem por marido e mulher até que chegasse o momento de colocarem em prática o plano para derrotar Kaido, das Cem Feras.

Três meses haviam se passado desde que chegaram ao País de Wano. E, por todo esse tempo, permitiram-se viver daquela forma serena e clandestina, conscientes de que, enquanto mantivessem as aparências fora de casa, poderiam estender a ilusão o quanto desejassem dentro dela. Dormiam lado a lado todas as noites; os banhos eram partilhados, assim como as refeições, a limpeza e a organização ── tudo era feito em conjunto, como se fossem, de fato, um casal unido não apenas por circunstâncias, mas por afinidade e afeto.

Não se tratava apenas de desejo, não era apenas a união de corpos em noites de sexo. Não era somente ele a tomá-la com ânsia, como se a própria vida lhe escapasse pelos dedos e ela fosse o único refúgio, nem ela a beijá-lo com uma paixão tão urgente que parecia brotar da alma. Mais do que o entrelaçar de corpos em busca de alívio ou êxtase, era a comunhão silenciosa de dois corações que haviam encontrado abrigo um no outro.

Era mais do que prazer carnal ── era amor. Um sentimento cultivado com ternura, paciência e zelo, como algo raro e precioso que desejavam preservar. Manifestava-se nas pequenas coisas do cotidiano: no "bom dia" sussurrado quando os primeiros raios do sol atravessavam a janela do quarto, tingindo de rosa o ambiente graças à dança suave das flores de cerejeira ao vento; e no "boa noite" murmurado com delicadeza, quando Law a envolvia em seus braços, acolhendo-a contra o peito, como se ali, naquele gesto silencioso, prometesse protegê-la de todo o mal. Não apenas com sua força, mas com a mais pura forma de amor e devoção que habitava em seu coração.

Concluída a preparação dos onigiris e do curry, Elisabette os levou até a chabudai³, dispondo-os com cuidado sobre a superfície de madeira. Sentou-se com serenidade, sendo logo acompanhada por seu aliado, que a seguiu com igual discrição. Observando-os à distância, a menina hesitou por breves segundos antes de se aproximar, tímida, arrastando sua almofada até colá-la à da mulher de cabelos platinados. Com um gesto gentil, Elisabette sorriu e levou as mãos aos fios esverdeados da pequena, alisando-os com doçura.

- Vai me contar seu nome agora? ─ indagou com suavidade, mantendo os olhos fixos nos dela, notando a forma concentrada com que a criança examinava seu rosto, como se se guiasse por ele.

No entanto, a única resposta foi um silêncio pleno.

- Tudo bem. ─ murmurou com um sorriso resignado. - Você me conta depois, então.

Quando iniciaram a refeição, Trafalgar manteve-se calado, mas seus olhos atentos passaram a estudar os movimentos da garotinha. Observava a maneira como suas pequenas mãos manuseavam os hashis com desajeitada concentração, e como ela mantinha o olhar fixo em tudo que Elisabette fazia ── copiando-lhe os gestos com exatidão. Contudo, o que mais lhe chamou a atenção foi o fato de que, mesmo diante das palavras proferidas pela companheira, a criança não reagia de imediato. Havia algo estranho ali. Ela não parecia ignorar... tampouco compreender. Era como se as palavras não a tocassem. Como se não as percebesse.

Enquanto comia, Law passou a perceber um padrão peculiar em seus comportamentos. De seus lábios não saíam palavras, apenas arrulhos e grunhidos suaves, que variavam em entonação conforme a situação. Em determinado momento, ao perceber que seu arroz havia acabado, um leve beicinho se formou em seus lábios, e ela manteve os olhos fixos na tigela vazia, umedecidos pela frustração silenciosa.

- Você quer mais arroz? ─ questionou Elisabette, em tom meigo e acolhedor.

Não houve resposta.

Os olhos da menina permaneceram presos à tigela, imóveis, até que um leve toque no ombro a fez virar-se com um sobressalto quase instintivo, como quem retorna de um lugar distante. Seu rosto voltou-se rapidamente para a mais velha, que arqueou as sobrancelhas, surpresa com a reação inesperada.

- Arroz, Tatuzinho. Você quer mais? ─ repetiu a pergunta, desta vez apontando para o pote de arroz sobre a mesa.

A menina acompanhou o gesto com os olhos, piscando devagar, como se processasse a informação através da imagem e não do som. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, seguido por um leve balançar de cabeça e um zumbido quase inaudível ── sua forma peculiar de responder.

Mesmo sem palavras, ela havia compreendido. E, aos poucos, Law começava a perceber que havia algo naquela criança que escapava ao ordinário. Algo que se fazia presente justamente no silêncio que a envolvia.

Discretamente, ele levou a mão até o copo vazio ao lado de seu prato e, sem dizer uma palavra, o derrubou ao chão. O ruído seco do vidro contra o piso ressoou pelo ambiente, atraindo o olhar de Elisabette, que imediatamente fixou os olhos no objeto caído e, em seguida, lançou ao aliado um olhar confuso, arqueando uma sobrancelha, tentando compreender o motivo daquela atitude.

Enquanto isso, a pequena continuava a comer com entusiasmo, deixando escapar suspiros finos e abafados por entre os lábios ressecados. A animação e ansiedade estavam estampadas em seu olhar infantil, enquanto devorava a comida com voracidade ── o que fez com que o Cirurgião da Morte estreitasse os olhos, a resposta para a inquietação que o atormentava começando a tomar forma. Então, ele aproximou a mão do ouvido da menina e estalou os dedos.

Mais uma vez, nenhuma reação.

- O que você está fazendo? ─ questionou Elisabette, confusa, enquanto enfiava um onigiri na boca. - Você tá sendo mais estranho do que o de costume.

- Você ainda não percebeu, não é?

- Percebi o quê?

- Chame por ela. ─ disse ele, em tom firme.

Quando Elisabette estava prestes a tocar o ombro da menina, ele a interrompeu:

- Sem tocá-la. ─ complementou, arrancando-lhe uma expressão ainda mais curiosa e confusa. - Apenas com a voz.

- Uh... tudo bem, eu acho. ─ respondeu ela, fazendo um leve beicinho antes de se virar para a menor, que continuava comendo, alheia à conversa. - Ei, Tatuzinho...

Silêncio.

- Menina? Estou falando com você.

- Elisabette, ela não te ouve.

- Shiranami! ─ exclamou em tom desesperado, corrigindo-o imediatamente, fazendo uma careta ao encará-lo.

- Não... Elisabette. ─ retrucou Law, agora com o olhar suavizado, ao perceber que os olhos da criança começavam a alternar entre os dois, tentando entender o que se passava. - Ela não ouve. Literalmente.

Elisabette piscou algumas vezes, processando a informação com surpresa e espanto, voltando o olhar para a menina encolhida, que parecia sentir-se oprimida pela tensão repentina que se instaurara. Ela era pequena, bastante magra, com longos cabelos desgrenhados em um tom esverdeado. Sua pele clara era tão pálida que chegava a beirar o tom acinzentado, refletindo a ausência de cor em seu rosto redondo, marcado por olheiras profundas abaixo dos grandes olhos verdes.

Uma criança solitária, frágil e vulnerável naquele mundo hostil, parecia ter sido abandonada à própria sorte para sobreviver em um país já esquecido pelos deuses. Restava apenas a resignação de que Orochi jamais lhes devolveria a paz. E ali ela estava ── diante deles ── alheia, distraída em seu próprio silêncio.

Quieta, soltou os hashis e escondeu as pequenas mãos sobre o colo, observando-os com a expressão de quem temia uma repreensão, como se tivesse cometido alguma travessura. Contudo, ambos apenas se mantinham atônitos diante da recente descoberta sobre sua condição e de como, apesar de tudo, ela permanecia ali, frágil e delicada como um caco de porcelana fina.

Law suspirou, mas não disse nada. Apenas levou a mão até os cabelos desalinhados da menina e os afagou com delicadeza. Depois, fitou seus olhos ── aquele par esverdeado e inocente onde se mesclavam confusão e surpresa ── um reflexo transparente de sua vulnerabilidade. E se questionou, em silêncio, como ela teria aprendido a se virar sozinha, naquele estado, vivendo em um lugar tão cruel.

- Bem... isso explica por que ela não me disse o nome dela. ─ comentou a platinada, rindo suavemente enquanto pegava um onigiri e o estendia à menina, que piscou antes de sorrir e voltar a comer. - E eu achando que ela estava só tímida. Que ingênua...

- Você apenas não presta atenção ao que acontece ao seu redor.

- Não seja rude com sua esposa. ─ zombou, mostrando a língua. - Será que ela sabe ler lábios? A Robin comentou que algumas pessoas como o Tatuzinho conseguem fazer isso.

- Acredito que não. Olhe bem para ela. ─ respondeu ele, voltando o olhar para a pequena. - É muito jovem. Praticamente um bebê. Se tiver quatro anos, é muito.

- Será que os pais dela sabem que ela está na Capital das Flores?

- Isso se ela tiver pais. ─ suspirou. - A situação de quem vive fora da capital é de miséria absoluta. Colocar uma criança no mundo em condições assim é de uma irresponsabilidade absurda... e de um egoísmo profundo.

- É... ─ sussurrou Elisabette, pegando um guardanapo para limpar o cantinho da boca da menina. - É injusto. Ela... ela é só uma criança. Faminta. Você lembra o que eu disse? Iam levá-la para a prisão porque roubou três pães. E você precisava ver o tamanho deles... eram minúsculos.

- Essa é a vida de quem não tem a quem recorrer. Não se vive ── se sobrevive. E esse é o caso dela. Infelizmente.

- E tudo por culpa daqueles dois malditos... ─ resmungou, apertando o guardanapo com força até acidentalmente empurrar a menina, que caiu de costas no chão, erguendo os pezinhos no ar. - Opa! Perdão!

- Você definitivamente não tem jeito para cuidar de crianças...

Elisabette encontrava-se sentada na varanda, contemplando o céu enfeitado pelas estrelas da madrugada. Seus olhos, ainda tomados pela sonolência, mantinham-se fixos na lua minguante, que pairava delicadamente entre os pontos cintilantes que bordavam o firmamento. Vestia uma yukata simples, e entre os dedos sustentava um pequeno prato com ervas cruas, salpicadas com farelos de fermento. Permitia que o frescor da noite acariciasse a pele sutilmente exposta, como um convite silencioso à quietude daquele instante.

Passos suaves soaram por trás de si, mas ela não se virou. Sabia exatamente quem se aproximava. Um sorriso tênue curvou-lhe os lábios pouco antes de sentir um beijo demorado ser depositado na curva de seu pescoço ── gesto que arrancou-lhe um suspiro leve, satisfeito, quase entregue. Ao virar o rosto, encontrou os olhos de Law, que a fitavam com a intensidade de quem devora segredos.

Ele envolveu seu rosto entre as mãos e a beijou com lentidão, saboreando o momento como se o tempo lhes pertencesse. Quando se afastou levemente, foi apenas o suficiente para que pudesse encará-la novamente, detendo-se por alguns instantes em seu olho dourado, antes de finalmente dizer algo com a voz baixa e rouca:

- Como eu imaginava, ela é de Okobore. ─ disse ele, com a voz calma e tranquila, enquanto se sentava ao lado dela. - Ela me guiou até lá.

- Alguém a recebeu ou...?

- Uma senhora idosa. Disse ser sua avó. ─ revelou, sem rodeios. Recostou-se na cadeira antes de continuar: - A propósito, o nome dela é Kayo⁴.

- Kayo? ─ Elisabette arqueou as sobrancelhas, surpresa. - É um nome fofo, combina com ela, mas...

Ele a fitou de relance, aguardando que ela completasse o pensamento.

- Ela parece uma vira-latinha arrepiada.

- Você não deveria falar assim de uma criança que sequer tem onde tomar banho, sabia? ─ comentou Law com um sorriso enviesado, contendo o riso diante da franqueza impiedosa da mulher ao seu lado.

- Ah! Perdão!

O moreno de pele tatuada nada respondeu ── apenas deixou que um leve riso anasalado lhe escapasse ao erguer os olhos para o céu, permitindo-se ser envolvido pela quietude serena do momento ao lado dela. A brisa fria da madrugada o fez estremecer, e no silêncio que se instalou entre os dois, sua mão procurou pela dela, encontrando-a com gentileza. Sentiu o coração acelerar quando os dedos delicados de Elisabette entrelaçaram-se aos seus, apertando-os suavemente ── como se, naquele gesto singelo, ela quisesse reafirmar que estavam, de fato, ali: juntos, em paz.

Viver aqueles três meses ao lado de Law era, para Elisabette, como regressar no tempo ── à época em que conhecera algo semelhante à paz, embora, naquela ocasião, fora Bellamy quem lhe oferecera a doce ilusão de uma vida tranquila. Ainda assim, de algum modo, aquele presente também era bom, mesmo que em essência tão distinto. Eles viviam bem, ainda que não pudessem expor abertamente o que compartilhavam. Aproveitavam-se do disfarce, encenando em público a vida de um casal comum. E embora a carranca constante de Law e suas resmungos sobre a pegajosidade excessiva dela fossem recorrentes, no íntimo ele não desejava outra coisa.

Estavam bem. Mesmo que fosse uma farsa, mesmo que durasse apenas enquanto a alvorada da guerra não chegasse, Law sentia-se, enfim, em paz. Ignorava ── ao menos por instantes ── a tensão latente que pairava sobre Wano, os apelos dos samurais, os soluços contidos de Momonosuke. Permitindo-se um raro ato de egoísmo, ele entregava-se ao desejo de permanecer ao lado dela, sorvendo cada segundo como se fosse o último. Afinal, o Festival do Fogo se aproximava, e com ele, o dia decisivo: a batalha contra Kaido.

Naquela varanda simples, naquela casinha afastada, ao lado dela, Law podia fingir que eram apenas um casal comum ── ou, como Kin'emon tanto insistira, um casal tradicional. Aproximou-a de si, com delicadeza, até que sua cabeça repousasse sobre o ombro dele. O som suave da respiração de Elisabette preencheu o silêncio, embalando a quietude da noite. Ele passou o braço ao redor dela, pousando a mão em seu ombro com ternura, enquanto a outra puxava, de dentro do kimono, uma pequena caixa de cigarros. Em poucos segundos, acendeu um.

O aroma sutil da fumaça atingiu as narinas de Elisabette, fazendo-as arder suavemente. Com um beicinho discreto, ela o olhou de canto. Era raro vê-lo fumar ── se tivesse que contar nos dedos, diria que o vira três, talvez quatro vezes, sempre escondido, encostado em algum canto escuro, como se quisesse manter em segredo aquele hábito. Aquela, contudo, era a primeira vez que ele fumava diante dela. Talvez porque, agora, sentisse que podia confiar até mesmo esse pequeno segredo em suas mãos.

- Ei, Law... ─ sussurrou ela, deixando o prato repousar sobre o colo ao segurar com delicadeza o tecido do kimono dele, em busca de sua atenção. - Posso fazer uma pergunta?

- Hm.

- Por que você fuma? ─ a questão escapou de seus lábios com a mesma suavidade da fumaça do cigarro, dissipando-se lentamente no ar, como se quisesse desaparecer junto com o silêncio que se seguiu.

Afinal, havia sim um motivo para que Law fumasse ── e, sobretudo, para que escolhesse sempre aquela marca específica de cigarros.

- Por causa do cheiro. Ele me lembra... alguém.

- Quem?

Mais uma vez, ele permaneceu calado, ponderando se deveria ou não compartilhar abertamente a lembrança daquele que o salvara. Donquixote Rosinante ── ou, como ele o conhecera, Corazón ── fora mais do que um salvador: tornara-se seu anjo com um chamado silencioso, seu precioso Cora-san.

Law manteve os olhos voltados ao céu, inalando devagar a fumaça antes de soltá-la suavemente, observando a nuvem esbranquiçada se dissipar com a brisa noturna, sendo levada para longe sem que nada pudesse fazer para impedi-la. Uma imagem que, para ele, se tornava um reflexo perfeito daquele dia em que, ao mesmo tempo em que fora salvo, também perdera aquele que havia dado tudo de si para mantê-lo vivo.

- Começou há dezesseis anos, quando eu tinha apenas dez. ─ começou ele, retirando o cigarro dos lábios e segurando-o exatamente como se lembrava de Cora-san fazer, em um gesto inconsciente que guardava tanto reverência quanto saudade. - Foi em Flevance, um país situado em uma ilha do North Blue.

Por um momento, calou-se. Inspirou profundamente, mas o ar pareceu lhe escapar, como se os pulmões se recusassem a cooperar. Um aperto doloroso tomou-lhe o peito, e a garganta, antes firme, formou um nó que ameaçava desatar-se em lágrimas a qualquer instante. Era como se tudo dentro dele estivesse prestes a ruir. Mesmo após tantos anos ── quase duas décadas ── o peso daquela lembrança continuava a consumi-lo com a mesma intensidade de antes.

Era um assunto que jamais cicatrizara. As memórias permaneciam intactas, dolorosamente vívidas, cravadas em sua mente como lâminas que giravam sem cessar. Ele nunca se permitira esquecer. Nem por um único e miserável segundo. Carregava consigo o arrependimento constante, a culpa sufocante que o levava, noite após noite, a se perguntar o que poderia ter feito para salvar Lammy... ou o que deveria ter evitado para impedir que Corazón fosse morto pelas mãos cruéis de Doflamingo.

Ao perceber a tensão que tomava conta do homem diante de si, Elisabette ergueu a mão com delicadeza e tocou-lhe o rosto. O gesto suave, quase etéreo, bastou para que ele voltasse a si ── seus olhos, até então perdidos em um passado distante, encontraram abrigo no olhar dela. E, mesmo sabendo que aquela confissão teria o poder de despedaçá-lo, expondo-lhe em lágrimas que tanto se esforçara por conter, Law também sabia que haveria, no colo dela, o conforto ameno e seguro onde, por fim, poderia desmoronar.

━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo; País de Wano | Castelo do Xogum Kurozumi Orochi.

Orochi estava em absoluto estado de pânico. Um suor frio escorria por suas têmporas enquanto seu corpo tremia dos pés à cabeça, tomado por um medo visceral que deixava todos os seus sentidos em alerta. Seus olhos arregalados se fixavam nas folhas trêmulas entre seus dedos. Na mão direita, ele segurava o retrato falado da criminosa que havia mutilado seus oficiais com um grande machado azul ── os traços do rosto, o delineado dos olhos, tudo nela gritava o óbvio: aquela mulher não era de Wano. A simples ideia de uma estrangeira, uma completa desconhecida, rondando impunemente a Capital das Flores fazia seu estômago revirar em puro terror.

Na mão esquerda, apertava com força uma série de cartazes de procurados, mas foi o primeiro da pilha que congelou seu sangue ── o rosto estampado ali era inconfundível: Elisabette, o Anjo da Morte. Orochi sentiu os batimentos acelerarem descompassadamente, seu peito arfando com dificuldade.

Diante dele, sentado sobre o tatami com a cabeça baixa, estava um homem que soltava risadas abafadas e intermitentes, sons soturnos que cortavam o ar como navalhas, inflamando ainda mais o terror crescente do Xogum. Em um surto de histeria, Orochi explodiu em um grito estridente ── de medo, de frustração, de desespero. Sua voz ecoou pelo salão como o clamor de um homem prestes a perder o controle total sobre tudo o que julgava dominar.

- KILLER! ─ berrou, descontrolado, as pernas trêmulas mal sustentando seu corpo enquanto avançava até o pirata. - Você a conhece! Já a viu antes! Diga-me! É a mesma mulher ou não?!

- Fah! Fah! Fah! ─ riu, o som de sua risada ecoando como um presságio de tragédia. Era dissonante, irritante, carregada de uma ironia que fazia até sua própria garganta doer. - Quem sabe... Pode ser que sim. Ou não. Não a vejo desde que os Chapéus de Palha voltaram à ativa.

- MALDIÇÃO! ─ vociferou Orochi, dando um passo para trás, o grito rasgando sua garganta como uma lâmina incandescente. Levou as mãos à cabeça, o pavor colapsando dentro de si como um edifício prestes a ruir. Sentia os órgãos falharem, um a um, esmagados sob o peso do medo absoluto.

O Xogum deixou-se cair sobre os joelhos, ofegante, o desespero transbordando em cada gesto. Precisava pensar, precisava agir ── mas sua mente girava em círculos viciosos de medo e confusão. Se aquela mulher era ou não Elisabette, pouco importava. O simples fato de sua presença ali, em Wano, já era suficiente para fazer sua espinha gelar. Aquilo era anormal. Inaceitável. A presença dela naquele território era, no mínimo, uma afronta à segurança do país ── e, no máximo, o prenúncio de uma catástrofe.

"Por que ela está aqui?" ── repetia a si mesmo, em silêncio, como um mantra de desespero. "O que ela quer? Está sozinha? Ou pior... acompanhada? E por quem? Quantos?!"

Cada possibilidade o corroía por dentro. A mulher era uma ameaça por si só, mesmo que seu propósito ainda fosse desconhecido. E o pior ── como ela havia conseguido chegar até ali? Por onde entrou? Por quanto tempo já estaria escondida em seu território? Essas perguntas ecoavam em sua mente com uma força quase alucinante.

As últimas informações que possuíam sobre ela datavam da queda de Doflamingo, em Dressrosa. Depois disso, seu nome caiu em silêncio, até que, indiretamente, seu capitão fora novamente mencionado ── o maldito pirata que arruinou o casamento de uma das filhas de Big Mom, mergulhando o território da Imperatriz em caos. E então, como se não bastasse, veio o anúncio mais aterrador de todos: Monkey D. Luffy havia sido declarado como o Quinto Imperador do Mar.

Pânico.

Medo.

Desespero.

Impotência.

Sentimentos que se entrelaçavam como serpentes venenosas dentro do peito do Xogum, ameaçando esmagar seu coração a cada batida. Sentia-se à beira de um colapso, como se a qualquer momento, ao virar um corredor ou abrir uma porta, encontraria aquela mulher prestes a lhe arrancar a cabeça.

Num impulso desesperado, Orochi girou o corpo, voltando-se novamente para Killer. O pirata permanecia imóvel, sentado, os lábios arroxeados se curvando num sorriso largo e perturbador. Sua cabeça ainda completamente enfaixada, revelando apenas os olhos gélidos e penetrantes, e os fios loiros que escapavam pelas bandagens ── uma visão perfeitamente alinhada com o disfarce de Kamazo, o Retalhador.

E Orochi soube, no mais profundo de seu ser, que não estava seguro. Nem ali. Nem em lugar algum.

- Kamazo... eu tenho uma nova missão para você. ─ disse o Xogum, com a voz trêmula, quase sufocada pelo próprio medo, como se cada palavra arranhasse sua garganta. - Algo... urgente. Inadiável. E absolutamente necessário.

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