
โโ ๐ฅ ึด เผ ุ ๐ฒ๐ด. ๐ฃ๐ผ๐น๐ฎ๐ฟ ๐ง๐ฎ๐ป๐ด.
๐๐๐๐ ๐ข๐ ๐ฆ๐๐๐๐ก๐๐, ๐ต๐ณ๐ข๐ง๐ข๐ญ๐จ๐ข๐ณ ๐ฅ. ๐ธ๐ข๐ต๐ฆ๐ณ ๐ญ๐ข๐ธ.
๐ญ๐ข๐บ๐ฐ๐ถ๐ต ๐ฃ๐บ ๐ฏ๐ช๐ฏ๐ข, ๐ข๐ฌ๐ฎ๐ข๐ฏ๐ฎ๐ช.
โ๐ฏ๐ถ๐ฅ๐ฐ ๐ฐ ๐ฒ๐ถ๐ฆ ๐ฆ๐ถ ๐ง๐ช๐ป ๐ฏ๐ข ๐ท๐ช๐ฅ๐ข,
๐ฆ๐ถ ๐ง๐ช๐ป ๐ฑ๐ฐ๐ณ ๐ฆ๐ญ๐ฆ. โณ๐ข๐ด ๐ข๐จ๐ฐ๐ณ๐ข ๐ฆ๐ญ๐ฆ
๐ง๐ฐ๐ช ๐ฆ๐ฎ๐ฃ๐ฐ๐ณ๐ข, ๐ฆ ๐ฆ๐ถ ๐ข๐ช๐ฏ๐ฅ๐ข ๐ฆ๐ด๐ต๐ฐ๐ถ ๐ข๐ฒ๐ถ๐ช.โ
โ๐ฅ๐ฐ๐ค๐ฆฬ ๐ฆฬ ๐ฆ๐ด๐ฑ๐ฆ๐ค๐ช๐ข๐ญ ๐ฑ๐ฐ๐ณ๐ฒ๐ถ๐ฆ
๐ฏ๐ข๐ด๐ค๐ฆ๐ถ ๐ฏ๐ฆ๐ด๐ต๐ฆ ๐ฎ๐ถ๐ฏ๐ฅ๐ฐ.โ
โโ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Paรญs de Zou.
A primeira reaรงรฃo de Zoro ao adentrar a cabana foi empunhar uma de suas katanas presas ao quadril, enquanto arregalava os olhos e franzia o cenho. Seu olhar, confuso e perplexo, fixou-se nas duas figuras ร sua frente: Elisabette, com os cabelos extremamente curtos e as sobrancelhas demasiadamente finas; e Law, com um hematoma roxo e inchado ao redor de um dos olhos, dois galos na cabeรงa e um rastro de sangue seco escorrendo do nariz, enquanto trocava calmamente o curativo do peito da companheira.
Ela exibia uma expressรฃo claramente irritada, enquanto ele mantinha um semblante neutro, quase apรกtico โโ como se sua fisionomia, silenciosamente, gritasse: "Nรฃo quero falar sobre isso."
Roronoa, por sua vez, apenas franziu ainda mais o rosto, levando a mรฃo atรฉ a nuca e coรงando-a com desdรฉm, antes de soltar um pigarro e cair na gargalhada, dizendo:
- O que diabos aconteceu com vocรชs!? โ exclamou, rindo alto ao guardar sua katana e se aproximar dos dois. - Ei, Lis, por que vocรช estรก de capacete dentro da caba...
Antes mesmo que pudesse concluir a frase, o espadachim foi interrompido por um soco.
- Eu pedi para o Law-san cortar apenas metade do meu cabelo, e ele fez isso! โ Elisabette lamentou, levando as mรฃos ao rosto, enquanto seu aliado apenas revirava os olhos e levava uma das mรฃos ao hematoma inchado.
- Eu disse que deverรญamos esperar todos acordarem para procurar alguรฉm mais capacitado para essa tarefa, mas vocรช รฉ teimosa e insistiu que confiava nas "minhas habilidades".
- E eu me arrependi!
- Vocรช estรก fazendo tempestade em copo d'รกgua. โ retrucou Zoro, dando de ombros e cruzando os braรงos. - Cabelo cresce.
Elisabette fitava os olhos de seu companheiro, e por um breve instante, um brilho ingรชnuo de fragilidade cintilou em seu olhar โโ um vislumbre da mesma jovem que o Caรงador de Piratas um dia levara pelas ruas de Water 7, ansioso por mostrar-lhe o mundo que existia abaixo das nuvens. Tola, inocente apesar de tudo, atรฉ mesmo um tanto doce โโ era assim que ele a via naquele tempo. Parecia-lhe um bichinho criado em cativeiro, tocando o ar livre pela primeira vez, os olhos grandes e confusos explorando o entorno com uma atenรงรฃo quase desesperada, os ouvidos absorvendo cada som, cada sussurro da cidade, os pรฉs hesitantes ao pisarem um chรฃo estranho, tรฃo diferente do que conhecia, e as mรฃos inquietas, รกvidas por tocar e descobrir.
As palavras escapavam de seus lรกbios como disparos apressados, questionando tudo e qualquer coisa โโ por que isso? por que aquilo? โโ em uma รขnsia quase infantil por compreender o mundo ao seu redor.
Zoro, a princรญpio, a considerava irritante. Tentava ignorรก-la, impaciente com suas perguntas incessantes, frequentemente interrompido em seus cochilos por toques insistentes e curiosidades interminรกveis. Mas, com o tempo, passou a aceitรก-la. Entendeu, sem muitas palavras, que ela era assim porque havia vivido tรฃo pouco. Ou talvez, porque nunca tivera a chance de viver de verdade.
E, quando se deu conta, jรก era tarde. Estava envolvido demais, a enxergando como uma irmรฃzinha desajeitada e inquieta que sempre o seguia, chamando seu nome para mostrar algum achado brilhante do chรฃo ou, por vezes, para pedir que a ensinasse a manejar suas espadas โโ desejo que sempre era recebido com um nรฃo firme, mas nunca suficiente para apagar o entusiasmo dela.
Agora, diante de seus olhos, ali estava ela. E Roronoa Zoro, o Caรงador de Piratas, o imediato do Chapรฉu de Palha, compreendeu, com um pesar silencioso: Elisabette estava crescendo. Jรก nรฃo era mais a garotinha boba que conhecera โโ aquela que, em Sabaody, quase perdera para sempre.
Essa constataรงรฃo lhe causou um gosto amargo na boca, um peso que se instalou na lรญngua como ferrugem. Desviou o olhar, incapaz de encarรก-la por mais tempo, ciente de que, quanto mais a observasse, mais perceberia os detalhes que denunciavam o quanto ela havia mudado. E doรญa. Doรญa vรช-la crescer tรฃo depressa, mudar com uma rapidez que ele nรฃo estava pronto para aceitar.
- Pare de ficar mudando sempre que eu viro as costas, Pomba Lesa. โ resmungou Zoro, franzindo o cenho enquanto passava a mรฃo pelos cabelos platinados de sua jovem companheira, bagunรงando-os de leve.
- Eu nรฃo sou um pombo!
- ร... tรก mais para uma galinha depenada... โ zombou, agarrando-lhe as bochechas e apertando-as, fazendo com que ela cerrasse os dentes de irritaรงรฃo.
- Eu vou arrancar a sua cabeรงa fora! โ gritou ela, puxando-o pelos cabelos, iniciando entรฃo uma caรณtica disputa de estrangulamentos e puxรตes, onde nenhum dos dois parecia disposto a ceder.
Law permaneceu em silรชncio, observando a cena que se desenrolava diante de seus olhos. Com as costas apoiadas na cadeira em que estava sentado, nรฃo conseguiu evitar que um leve sorriso curvasse o canto de seus lรกbios ao perceber que, mesmo apรณs tudo o que presenciara na noite anterior โโ apรณs ter visto Elisabette ร beira de um colapso nervoso โโ, ela, de alguma forma, ainda conseguia manter-se lรบcida, sem se deixar dominar pela mente dividida entre duas personalidades completamente distintas que, apesar de tudo, pareciam, enfim, comeรงar a se conciliar. E isso, por si sรณ, jรก era o suficiente para lhe trazer uma tรชnue sensaรงรฃo de alรญvio.
Cerca de duas semanas haviam se passado desde que Luffy partira em direรงรฃo a Whole Cake ao lado de Nami, Chopper e Brook, levando consigo tambรฉm dois membros da Tribo Mink โโ Pedro e Carrot โโ bem como um dos subordinados de Big Mom, Pekoms, que os guiara atรฉ o territรณrio da Imperatriz do Mar.
Em Zou, os vassalos de Kozuki Oden se preparavam para o embarque de volta ao Paรญs de Wano, onde, enfim, confrontariam Kaido mais uma vez. Os Guardiรตes e Mosqueteiros do Ducado de Mokomo tambรฉm estavam em prontidรฃo, assegurando que tudo estivesse sob controle para a longa jornada que se aproximava. Estoques de alimentos foram cuidadosamente organizados para durar atรฉ a prรณxima parada de abastecimento, que inevitavelmente se faria necessรกria, dada a quantidade de pessoas que seriam transportadas, alรฉm de outras provisรตes รบteis para a viagem.
A tripulaรงรฃo dos Piratas de Copas jรก havia deixado o Polar Tang em modo de prontidรฃo, aguardando apenas o momento exato da partida. Ikkaku realizava inspeรงรตes finais na sala de propulsรฃo, enquanto Jean Bart conferia os sistemas de pressurizaรงรฃo e oxigenaรงรฃo do navio-submarino. Clione e Hakugan, por sua vez, examinavam os tanques de balastro e a sala de manutenรงรฃo, assegurando que tudo estivesse em ordem.
Assim que todos confirmaram que os preparativos estavam completos e nenhum contratempo se apresentava, notificaram seu capitรฃo, que, atento, jรก sabia que a hora de partir se aproximava.
A adaptaรงรฃo do corpo de Elisabette ร sua nova realidade sem as asas ocorreu de forma relativamente rรกpida, graรงas ร sua dedicaรงรฃo. Restava-lhe, no entanto, o auxรญlio de uma รบnica muleta, uma vez que ainda enfrentava certa dificuldade para manter o equilรญbrio sem qualquer apoio.
Seus olhos percorriam os arredores, observando alguns aliados carregando suprimentos de um lado para o outro. Apoiada de um lado sobre a muleta, segurava uma maรงรฃ com a mรฃo livre, mordiscando-a aos poucos enquanto os observava com uma mescla de tรฉdio e curiosidade. Ria alto sempre que alguรฉm tropeรงava e acabava esmagado pelo peso dos caixotes de madeira que estavam sendo transportados tanto para o Polar Tang quanto para o navio que seria utilizado pelos Minks.
Ao perceber aquela cena, Usopp fez uma careta e se aproximou com passos pesados. Cruzou os braรงos, bateu o pรฉ no chรฃo e a encarou fixamente, ao que Elisabette apenas arqueou uma sobrancelha, visivelmente confusa.
- Bonito, nรฉ, Lis? Todo mundo se matando de trabalhar e vocรช aรญ, parada, rindo dos outros caindo! โ disse o narigudo, sua voz carregada de indignaรงรฃo, ao passo que a jovem apenas estreitou os olhos e fez um beicinho desdenhoso.
- Estou com restriรงรฃo mรฉdica. โ respondeu ela com leve ironia, dando de ombros.
- Vocรช sรณ estรก se aproveitando do que o Tral disse!
- Eh eh eh! โ ela riu, levando uma das mรฃos aos lรกbios com um ar debochado, zombando da situaรงรฃo.
Usopp revirou os olhos, ciente de que, de fato, nada do que dissesse ou qualquer reclamaรงรฃo que fizesse poderia se sobrepor ร s orientaรงรตes de Law. O mรฉdico havia determinado que Elisabette nรฃo estava em condiรงรตes de realizar esforรงo fรญsico e deveria permanecer em repouso. Ainda assim, ela jรก possuรญa autorizaรงรฃo e recomendaรงรฃo mรฉdica para caminhar sozinha, desde que fizesse uso de uma muleta e estivesse acompanhada por alguรฉm โโ esse alguรฉm sendo o prรณprio aliado, de quem ela constantemente dava um jeito de escapar.
ร distรขncia, ela o avistou em companhia de um de seus companheiros, Shachi. Ambos conversavam atรฉ o momento em que o olhar afiado do Cirurgiรฃo da Morte encontrou o seu. Ele estreitou os olhos por breves segundos, como se, em silรชncio, tambรฉm a repreendesse por nรฃo estar contribuindo com nada. Dando de ombros, Elisabette afastou-se mancando com a ajuda da muleta, retornando aos seus aposentos para terminar de organizar os pertences ainda espalhados pelo local.
Ao chegar ร cabana, deparou-se com Franky, que segurava um embrulho. Logo ao lado, repousava o que restara de Inazuma โโ sua foice, agora completamente estilhaรงada apรณs a luta contra Wyper. A jovem engoliu em seco ao encarar os destroรงos da arma. Ao entrar, atraiu a atenรงรฃo do ciborgue, que logo abriu um sorriso pretensioso nos lรกbios. Seus olhos castanhos cintilaram ao vรช-la, e, animado, ele se aproximou com entusiasmo, puxando-a com cuidado para que se sentasse na cama. Elisabette o observava com confusรฃo e curiosidade diante de tamanha agitaรงรฃo, sobretudo por causa do embrulho misterioso que, ao olhar com mais atenรงรฃo, notou estar envolto por um laรงo vermelho.
- Bem, como a lรขmina da sua foice virou bagaรงo, passei a noite preparando uma super surpresa para vocรชโฆ โ disse Franky, sorridente, enquanto entregava o embrulho a Elisabette, depositando-o cuidadosamente sobre seu colo.
- Oh, entรฃo isso รฉ um presente? โ ela piscou, sem conseguir conter a expressรฃo de surpresa que tomou seu semblante. - Caramba, nรฃo precisavaโฆ
Elisabette sorriu e comeรงou a rasgar a embalagem, atรฉ que o conteรบdo, oculto pelo papel colorido e pelo laรงo vermelho, finalmente se revelou. No mesmo instante, ela parou e arregalou os olhos. Era um machado. Mas nรฃo um machado qualquer, como aqueles usados para cortar lenha ou abater animais โโ tratava-se de um machado de batalha, uma arma de guerra.
A lรขmina imponente parecia quase do tamanho da jovem. Seu cabo, em um azul celeste reluzente como o cรฉu em uma manhรฃ de verรฃo, ostentava delicados detalhes em dourado escuro, que contrastavam com a suavidade do azul cintilante. No centro do tambor que sustentava as lรขminas, repousava o sรญmbolo de trรชs tomoeยน, em um tom profundo de azul-marinho acinzentado, evidenciando que a arma fora forjada em kairouseki.
Elisabette arfou, tomada por uma sensaรงรฃo de encanto e reverรชncia. Seus dedos, mesmo diante da sรบbita fraqueza, deslizaram com cuidado pela superfรญcie lisa da lรขmina gรฉlida, como se buscassem compreender aquela nova conexรฃo silenciosa. Um suspiro escapou-lhe dos lรกbios, como se, de algum modo, estivesse se fundindo ร essรชncia da arma.
Levantando o olhar, encarou Franky, que a observava com um largo sorriso e os braรงos robรณticos cruzados. Sentiu, entรฃo, um calor familiar borbulhar em seu estรดmago. Sorriu novamente โโ um sorriso genuรญno, iluminado, como o de uma crianรงa ao ganhar um doce e um brinquedo novo. Ela jamais teria esperado por aquilo, especialmente depois de tudo o que havia acontecido no Going Luffy-Senpai, onde dissera palavras tรฃo duras ao carpinteiro. E, no entanto, ali estava ela, com uma nova arma feita exclusivamente para si โโ pelas mรฃos dele.
- Frankyโฆ eu nem sei o que dizer! Issoโฆ isso estรก incrรญvel! โ exclamou, voltando a fitar o machado com alegria e gratidรฃo. - Muito obrigadaโฆ de verdade, eu nรฃo sei como agradecerโฆ obrigada, Franky. Muito obrigada.
- Nรฃo hรก de quรช, maninha! Eu sei o quanto vocรช ficou abalada por causa da sua foice e o quanto estava frustrada por nรฃo conseguir consertรก-la. Entรฃo, resolvi construir uma arma novinha sรณ pra vocรช โ disse ele, dando alguns tapinhas carinhosos em sua cabeรงa. - Vocรช gostou?
- Se eu gostei!? Eu adorei! Issoโฆ isso รฉ simplesmente super!
- Au! ร isso aรญ! Um machado super incrรญvel para minha super maninha!
- Ele รฉ maravilhoso! ร quase do meu tamanho! โ exclamou Elisabette, eufรณrica, levantando-se com alguma dificuldade. Trincou os mรบsculos, reunindo forรงas para erguer o machado.
- Sim, sim! Ele tem um metro e sessenta e cinco de comprimento โโ apenas dez centรญmetros a menos que vocรช, hehehe! โ comentou Franky, sentindo o coraรงรฃo aquecer ao vรช-la tรฃo animada. Jรก fazia dias que a menor se mostrava xoxa e capenga. - Jรก pensou em um nome para ele?
- Hjรบrrยฒ!
- Que nome magnรญfico! Digno de um verdadeiro companheiro de batalha!
Elisabette estava eufรณrica, girando o machado nas mรฃos e atingindo diversas partes da cabana, destruindo tudo ao redor como se estivesse testando um brinquedo novo. Franky apenas ria diante da animaรงรฃo da companheira, satisfeito por vรช-la verdadeiramente alegre apรณs tantos dias fechada e deprimida. Era reconfortante vรช-la sorrir novamente, ainda que aquele sorriso fosse diferente do que ele conhecera โโ os dentes da frente, outrora tortos, quebrados e separados por causa de um incidente que ela relatava com vergonha, envolvendo uma surra de Zoro nas Ilhas do Cรฉu, agora estavam apenas separados, como se houvessem retornado ร aparรชncia original, antes de serem danificados pelo espadachim.
A jovem platinada lanรงou-lhe um sorriso animado, saindo de onde estava e se impulsionando para pular em seu pescoรงo. Franky a segurou no ar e girou com ela como se fosse uma crianรงa, parando apenas para encarรก-la.
- Vocรช gostou mesmo, hein!? Tรก toda feliz!
- Claro que gostei! Eu jรก estava achando que ficaria sem arma para lutar e teria que entrar no campo de batalha desarmada! โ respondeu, rindo e balanรงando as pernas antes de ser colocada no chรฃo. Abraรงou o machado contra o peito e se recostou na parede com o ombro. - Obrigada, pai!
As palavras escaparam-lhe dos lรกbios com tamanha naturalidade que ela sequer se deu conta de imediato. Manteve o sorriso por alguns segundos atรฉ que a ficha caiu. Seus olhos se arregalaram ao perceber o que dissera acidentalmente. A sentinela o encarou em choque, as bochechas, orelhas, ombros e o peito assumindo um rubor intenso ao ver a expressรฃo emocionada e surpresa no rosto do companheiro. Franky nรฃo hesitou em agarrรก-la pelos braรงos, erguendo-a no ar novamente e esfregando o rosto no dela enquanto chorava copiosamente, deixando-a ainda mais envergonhada diante da forma como havia se referido a ele.
Pai? Desde quando ele era seu pai? Desde nunca. Franky era apenas um companheiro de tripulaรงรฃo, um amigo. Nรฃo... nรฃo seu pai. O que estava acontecendo? Sua mente jรก estava tรฃo bagunรงada a ponto de comeรงar a confundir sentimentos? Como se nรฃo bastasse a atraรงรฃo por Law, agora sentia-se excessivamente acolhida por Franky? Aquela confusรฃo emocional estava se tornando incontrolรกvel. E, mesmo que o sentimento fosse agridoce e confortasse seu coraรงรฃo... Franky nรฃo era seu pai. Ele nรฃo era seu sangue.
- Ah! Essa รฉ a primeira vez que alguรฉm me chama de pai! Estou tรฃo honrado que tenha sido vocรช, maninha! โ Franky choramingou, praticamente berrando em seu ouvido, enquanto ela entortava o nariz, sentindo as lรกgrimas espessas dele molharem sua pele.
- Ai, Franky! Foi sem querer, escapou! โ ela retrucou, tentando empurrar o rosto dele para longe com as mรฃos. - Sรณ me lembrei de algo parecido que aconteceu, nรฃo foi nada demais!
- ร mesmo? Lembrou do quรช, hein? โ indagou, sorrindo e a colocando sentada novamente sobre a cama.
- Bemโฆ lembrei de quando meu pai me deu Inazumaโฆ Foi uma situaรงรฃo semelhanteโฆ โ murmurou a jovem de cabelos platinados, formando um pequeno beicinho em seus lรกbios pรกlidos e desviando o olhar. โ Eu tinha acabado de aprender a manusear espadas e bastรตes, entรฃo ele me presenteou com uma foice, como recompensa por estar sendo uma โboa meninaโ e por estar aprendendo tudo tรฃo bemโฆ
- Oh, agora entendi. Bem, ele nรฃo mentiu. Vocรช รฉ uma boa menina, e sempre aprende com rapidez.
- Acho que simโฆ โ sussurrou, com o olhar ainda distante. Apรณs um instante, voltou-se para ele de relance, com uma expressรฃo de culpa. - Esquece o que eu disse, tรก bom? Apenasโฆ escapou. Nem somos do mesmo sangueโฆ foi sem intenรงรฃo eโฆ
- Elisabette.
- Sim? โ ela ficou imรณvel, o encarando em silรชncio ao perceber o tom sรฉrio com que fora chamada por Franky.
- Famรญlia nรฃo se resume apenas ao laรงo sanguรญneo. Vocรช รฉ como uma filhinha para mim, e estarei sempre disponรญvel para oferecer meu colo quando precisar de apoio.
Franky lanรงou-lhe um รบltimo sorriso antes de segurar seu rosto com a grande mรฃo robรณtica, que cobriu por completo sua face, deixando um afago gentil sobre a bochecha corada. Pediu que terminasse de arrumar seus pertences e entรฃo se retirou, deixando-a sozinha na cabana.
Elisabette permaneceu em silรชncio, sentada sobre a cama. Seus olhos recaรญram sobre o machado repousado em seu colo; as mรฃos tocaram com ternura o cabo azul celeste, enquanto um sorriso fraco e doce se formava em seus lรกbios. Recordava-se das palavras que seu companheiro lhe dissera antes de partir. Simโฆ era verdade que o sangue nรฃo determinava quem pertence ou nรฃo a uma famรญlia. Afinal, via os Chapรฉus de Palha como tal. Contudo, o sentimento permanecia confuso โโ uma sensaรงรฃo estranha que ela nรฃo sabia se deveria acolher ou rejeitar com veemรชncia, como se aceitar esse afeto fosse trair aqueles que verdadeiramente partilhavam de seu sangue.
Havia algo de pecaminoso em se deixar pertencer a um lar construรญdo por laรงos recentes, ainda que sinceros, enquanto os elos antigos, familiares, permaneciam desfeitos, distantes, como ruรญnas de um tempo que jรก nรฃo voltaria. Suspirou profundamente. Seus olhos se prenderam a uma pilha de roupas dobradas sobre a cadeira, detendo-se por um instante no casaco de plumas negras que hรก muito nรฃo vestia โโ ou sequer abraรงava em busca de algum consolo.
Levantou-se com cuidado, como se temesse que o chรฃo pudesse ceder sob seus pรฉs, e arrastou-se atรฉ a cadeira. Apanhou o casaco com dedos trรชmulos e voltou ร cama, onde se deitou, apertando-o contra o peito. Inspirou profundamente, inalando o perfume antigo do tecido, jรก quase consumido pelo tempo, prestes a se desfazer como tantas outras coisas que um dia pareciam eternas. โO tempo estรก mesmo passando depressaโ, pensou, apertando contra si tanto o machado quanto o casaco โโ dois objetos preciosos, ofertados por figuras que, ร sua maneira, haviam lhe oferecido um tipo de amor paternal.
Mas, afinal, o que era aquilo tudo? Um deles lhe dera a vida. O outro lhe dera abrigo. E ambos, de formas distintas, habitavam agora um espaรงo sagrado dentro dela. E, ainda assim, por que tudo precisava ser tรฃo difรญcil? Por que ela mesma se tornava um labirinto sem saรญda? A verdade รฉ que as respostas estavam ali, simples, claras โโ e ainda assim inalcanรงรกveis para alguรฉm que sempre optava por complicar o que deveria ser apenas sentido.
Elisabette nรฃo sabia o que era paz. Nunca soubera. E talvez, no fundo, essa ausรชncia silenciosa e constante fosse a รบnica coisa que verdadeiramente a definia.
โโ Polar Tang, navio-submarino dos Piratas de Copas; em algum lugar da Novo Mundo, rumo ao Paรญs de Wano.
Havia-se passado um dia desde o inรญcio da viagem. Os Chapรฉus de Palha, juntamente com os samurais do Paรญs de Wano, jรก estavam devidamente acomodados a bordo do Polar Tang, o navio-submarino pertencente ร tripulaรงรฃo dos Piratas de Copas, que agora seguia rumo ao seu destino final.
O Polar Tang era acolhedor e mantinha um clima levemente frio, apesar de ser completamente fechado, uma necessidade natural por estarem submersos a vรกrios metros abaixo da superfรญcie do mar. Embora o espaรงo nรฃo fosse tรฃo amplo quanto o de um navio convencional, ainda havia alguns quartos desocupados espalhados pela embarcaรงรฃo โโ dormitรณrios simples, com beliches ou camas de solteiro, mas suficientes para acomodar nove novos passageiros: Zoro, Usopp, Robin, Elisabette, Franky, Kinโemon, Momonosuke, Kanjuro e Raizo.
A tripulaรงรฃo de Law mostrava-se notavelmente receptiva e solรญcita, esforรงando-se para fazer com que os convidados se sentissem confortรกveis no interior do Polar Tang. Conversas descontraรญdas, refeiรงรตes saborosas e atรฉ algumas desculpas bem-vindas para celebraรงรตes espontรขneas passaram a preencher os dias a bordo. Embora fosse incomum ocorrerem festas entre os Piratas de Copas โโ sobretudo considerando que seu capitรฃo dificilmente incentivava tais eventos โโ, a presenรงa dos Chapรฉus de Palha e dos samurais, com sua natureza expansiva e animada, acabou por transformar a viagem serena em um alegre pretexto para comemorar, comer e beber atรฉ a exaustรฃo. Era comum encontrar alguns deles caรญdos, embriagados, pelos cantos do submarino, tomados pela leveza de uma rara trรฉgua em meio ร rotina de batalhas.
- Quando foi que cortaste o cabelo, mana? โ Ikkaku passou um dos braรงos ao redor dos ombros de Elisabette, que apenas sorriu antes de responder.
- Cortei ontem de madrugadaโฆ quer dizer, nรฃo fui eu. โ disse, um pouco tรญmida, antes de apontar para seu aliado. - Ele cortou para mim.
- Ah, ele? โ a cacheada lanรงou um olhar surpreso e confuso ao seu capitรฃo, franzindo o cenho. - Cortou igual ร cara dele.
- O que isso significa?
- Nada, nรฃo, bichinha. Cabelo cresce!
Elisabette a olhou com curiosidade, mas nรฃo disse mais nada, limitando-se a manter o sorriso enquanto prosseguia a conversa com Ikkaku. Apesar de, num primeiro momento, ter estranhado a presenรงa da outra por imaginar estar sendo comparada a um animal ao ser chamada de โbichinhaโ, logo percebeu que Ikkaku era, na verdade, uma pessoa extremamente dรณcil e comunicativa, com grande facilidade em fazer amizades โโ o completo oposto de Trafalgar, assim como o restante de sua tripulaรงรฃo.
Desde o princรญpio, ele se mostrara mais reservado, mesmo com os sorrisos irรดnicos e os comentรกrios sarcรกsticos que escapavam ocasionalmente em certas situaรงรตes. Seus homens, por outro lado, revelavam-se mais animados, espontรขneos e falantes, o que levava os convidados a bordo a se questionarem como tamanha diferenรงa de personalidades podia coexistir com tamanha lealdade mรบtua demonstrada entre eles.
De um canto reservado da sala, Law observava em silรชncio a interaรงรฃo entre Elisabette e Ikkaku, sentindo o coraรงรฃo palpitar ao vรช-las tรฃo ร vontade uma com a outra. Havia algo de encantador naquela cena โโ e vรช-la vestindo o uniforme de sua tripulaรงรฃo despertava nele uma inquietaรงรฃo silenciosa, uma fantasia doce e persistente: a de que, em algum instante perdido no tempo, ela tivesse se tornado parte dos Piratas de Copas. Nรฃo apenas como uma tripulante ou companheira de jornada... mas como algo alรฉm. Como sua. Apenas sua.
Seus cabelos, agora bem curtos, estavam tranรงados em duas pequenas chiquinhas, e a franja era suavemente contida por um delicado arco dourado que ela encontrara entre os pertences de ouro e escolhera usar como acessรณrio. Aos olhos dele, esse pequeno adorno apenas acentuava ainda mais sua beleza โโ mesmo depois de ele prรณprio ter, de forma desajeitada, cortado seus longos e encantadores fios com uma tesoura cega e enferrujada, encontrada ร s pressas na lavanderia do navio-submarino.
No meio da alegria compartilhada entre piratas e samurais, os olhos coloridos de Elisabette encontraram os dele. Um sorriso gentil e sereno floresceu em seus lรกbios, que, aos poucos, voltavam ao tom rosado natural ร medida que sua saรบde se restaurava. E ele, mesmo com a habitual expressรฃo contida e o semblante estoico, permitiu-se um gesto sutil: um leve sorriso, quase imperceptรญvel, mas ainda assim sincero o suficiente para aquecer o coraรงรฃo dela.
Nesse instante fugaz, ambos sabiam โโ mesmo que secretamente โโ o quanto nutriam sentimentos profundos um pelo outro. Carinho, cumplicidade, desejo e afeto se entrelaรงavam em segredo, protegidos pelo vรฉu da noite, tendo apenas o cรฉu, a lua, as estrelas e o mar como testemunhas do que viviam longe dos olhos do mundo. Partilhavam, nas sombras, o calor de abraรงos apertados, beijos doces โโ por vezes desesperados โโ e o entrelaรงar de corpos guiados por ternura e paixรฃo.
Quando a mรบsica que tocava no Den Den Mushi chegou ao fim, o disco foi substituรญdo por outro cuja capa logo chamou a atenรงรฃo de Robin. Ela reconheceu de imediato o esqueleto de รณculos escuros e cabelo afro que estampava a embalagem. Um sorriso curioso surgiu em seus lรกbios, e, caminhando atรฉ Law, parou ao seu lado ainda sorrindo, tocando-lhe levemente o ombro no instante em que uma das faixas comeรงou a tocar ao fundo โโ The Wonder of Youยณ, uma canรงรฃo que se tornara bastante conhecida, assim como todas as outras compostas e interpretadas por seu companheiro Brook.
- Eu nรฃo sabia que vocรช gostava do Soul King, Law-kun. โ comentou ela, com seu habitual tom de voz suave e gentil, cruzando os braรงos enquanto observava os demais piratas se divertindo.
- Ainda que nรฃo pareรงa, eu aprecio mรบsica. E devo admitir que o seu companheiro รฉ um artista notรกvel.
- Oh, sim, ele รฉ mesmo. โ Robin concordou prontamente, soltando uma risada baixa antes de continuar: - A letra dessa canรงรฃo รฉ linda. ร uma das minhas favoritas entre os รบltimos รกlbuns que ele lanรงou, antes de retornarmos ร s nossas aventuras.
- Simโฆ รฉ uma letra bela. โ assentiu, ouvindo atentamente a melodia e os versos cantados por Brook.
- Your love to me is worth a fortuneโฆ your love for me is everythingโฆ โ a arqueรณloga cantarolou, acompanhando a canรงรฃo.
- I guess I'll never know the reason whyโฆ you love me as you doโฆ โ Law completou, em um murmรบrio tรญmido, como se temesse que alguรฉm o escutasse cantar. - That's the wonder, the wonder of youโฆ
- Para alguรฉm que estรก com vergonha, vocรช cantou com bastante emoรงรฃo a รบltima parteโฆ โ disse, lanรงando-lhe um olhar insinuante, com um sorriso ladino e uma sobrancelha arqueada. - Alguรฉm surgiu na sua cabecinha por causa da letra?
Law nรฃo respondeu, mas havia compreendido a indireta. Por um breve instante, sentiu o sangue gelar ao perceber que sua relaรงรฃo com Elisabette talvez nรฃo fosse tรฃo secreta quanto imaginava โโ nรฃo quando Nico Robin insinuava, de forma sutil, que sabia exatamente em quem ele estava pensando ao ouvir a letra da mรบsica que tocava. E ele tinha plena consciรชncia de que ela se referia ร sua companheira, aquela que nรฃo conseguia disfarรงar sequer um pouco a forma como o observava ร distรขncia, com aqueles olhos grandes e redondos, semelhantes a dois botรตes coloridos de azul e amarelo.
Nรฃo era segredo para ninguรฉm que Robin era uma mulher extremamente atenta, sempre observadora e ciente de tudo ao seu redor, capaz de captar atรฉ os menores detalhes โโ como se pesquisasse, com precisรฃo, o que valia ou nรฃo a pena ser conhecido. Ainda assim, era desconcertante constatar que justamente ela parecia saber da relaรงรฃo entre ele e Elisabette. No entanto, nรฃo havia o que fazer a respeito. E, considerando o comportamento da arqueรณloga โโ a maneira cordial com que sempre lhe tratava, sem jamais demonstrar qualquer desaprovaรงรฃo ou incรดmodo โโ, Law pรดde sentir-se seguro, mesmo que alguรฉm, de fato, soubesse daquilo que acontecia entre ele e Elisabette longe dos olhos e ouvidos dos demais.
O dia transcorreu lentamente, repleto de bebedeiras e comilanรงas, atรฉ que todos, exaustos e embriagados, desabaram na sala de estar. Restaram apenas Bepo eย Jean Bart na sala de controle, responsรกveis por garantir que tudo permanecesse em ordem. Franky, que permanecera acordado por nรฃo ter consumido tanto saquรช, ofereceu-se para auxiliรก-los. Movido por curiosidade quanto ao funcionamento do Polar Tang, decidiu que gostaria de aprender um pouco mais sobre a tecnologia do navio-submarino dos Piratas de Copas. Antes disso, encarregou-se de levar seus companheiros e aliados aos aposentos designados, demorando-se brevemente na cabine de Robin antes de retornar ao ponto onde Bepo e Jean Bart se encontravam.
Elisabette, por sua vez, nรฃo havia ingerido bebida suficiente para embriagar-se, mas sentia-se consideravelmente exausta e com o estรดmago excessivamente cheio apรณs apostar que conseguiria comer mais onigiris do que Zoro. O resultado foram ambos estirados lado a lado, com os rostos sujos de arroz e cream cheese, lamentando-se de dor e enjoo.
No quarto que lhe fora destinado havia apenas um beliche, o que significava que teria o cรดmodo para si. Sozinha, aproveitou o silรชncio e a penumbra do ambiente gรฉlido para contemplar as profundezas do mar por meio da pequena escotilha. Encostou o nariz na vidraรงa e apoiou as mรฃos ao redor do rosto, observando atentamente tudo o que conseguia vislumbrar sob a fraca iluminaรงรฃo dos farรณis do submarino โโ pequenos peixes apareciam aqui e ali, mas nada que despertasse seu interesse.
Entediada, afastou-se da janela, cruzou os braรงos e sentou-se na beirada da cama, soltando um suspiro de descontentamento ao nรฃo encontrar nada que a distraรญsse. Foi entรฃo que ouviu o leve ranger da porta metรกlica sendo cuidadosamente aberta. De forma lenta e quase silenciosa, uma silhueta alta e magra surgiu entre as sombras do corredor, revelando-se aos poucos sob a luz fraca do quarto. Surpresa com a visita inesperada ร quela hora da noite, Elisabette ergueu ambas as sobrancelhas.
- Oh, eu nรฃo esperava vรช-lo aqui. โ disse ela com um semblante surpreso e curioso, embora logo em seguida tenha esboรงado um sorriso.
- Vim verificar se vocรช estรก bem acomodada. โ respondeu Law, aproximando-se dela sem cerimรดnia e permanecendo de pรฉ ร sua frente. - A propรณsito, vocรช melhorou da dor de barriga e do enjoo?
- Sim, aquele remรฉdio que vocรช nos deu ajudou bastanteโฆ obrigada!
- Nรฃo tem de quรช. Fiz apenas o mรญnimo. โ deu de ombros e, entรฃo, agarrou-lhe as bochechas entre os dedos, puxando-as sem aviso. - Mas da prรณxima vez, vou deixรก-la caรญda no chรฃo como um saco ambulante de onigiris, para ver se aprende a nรฃo ser tรฃo imprudente.
- Nรฃo puxa!
- Puxo.
- Ai! โ ela reclamou, sentindo o รบltimo puxรฃo mais forte antes que ele a soltasse. Law sorriu com escรกrnio ao ver suas bochechas avermelhadas e inchadas.
A mais jovem trincou os dentes e franziu o cenho ao tocar as bochechas ainda doloridas, seus olhos irritados buscando os dele โโ e, mais uma vez, foi surpreendida. Com uma calma que contrastava com a intensidade do momento, Law a deitou delicadamente sobre a cama, posicionando-se sobre seu corpo com precisรฃo calculada. Suas mรฃos firmes afastaram as dela do rosto e as prenderam suavemente ao lado de sua cabeรงa, enquanto seus joelhos lhe serviam de apoio, impedindo que o peso de seu corpo repousasse por completo sobre o dela.
Ele permaneceu em silรชncio por alguns instantes, como se desejasse eternizar em sua memรณria cada traรงo daquela que ele desejava com tanta devoรงรฃo. Seu olhar percorreu cada detalhe de seu rosto com uma intensidade quase sagrada: os olhos grandes e redondos, antes ambos azuis, agora exibindo uma hipnotizante heterocromia โโ um azul profundo, o outro dourado como o sol, heranรงa do fruto do anjo; os lรกbios carnudos, com o formato delicado de um botรฃo de rosa prestes a desabrochar; as bochechas cheias e convidativas ao toque; a pintinha encantadora logo abaixo do olho direito; os dentes, que antes foram quebrados e agora se mostravam naturalmente separados, revelando um sorriso imperfeito, mas รบnicoโฆ tudo nela era distintivo, precioso, inconfundivelmente dela โโ e dele, pois amava cada fragmento, cada imperfeiรงรฃo, com um zelo possessivo.
Desprendendo-se com leveza do aperto das mรฃos dele, a jovem de cabelos platinados levou as suas atรฉ o rosto dele, envolvendo-o com cuidado. Encostou suas testas, permitindo que suas respiraรงรตes se encontrassem em um compasso suave e รญntimo. Por fim, ele cedeu โโ seus braรงos deslizaram ao redor da cintura dela e, com um gesto que misturava ternura e domรญnio, selou seus lรกbios nos dela. O beijo era doce, mas carregado de intenรงรตes silenciosas, possessivo em sua essรชncia, como se quisesse gravar em sua alma que ela era sua โโ e sรณ sua.
A lรญngua dele procurou a dela, enlaรงando-a com um cuidado quase reverente, explorando o calor do toque รบmido com lentidรฃo deliberada. Suas mรฃos desceram atรฉ os quadris dela, instigando-a com sutileza a abrir as pernas. E quando o fez, ele se acomodou entre elas, pressionando sua virilha contra a dela num movimento lento, provocador, que arrancou-lhe um arfar involuntรกrio. Ela separou-se do beijo por um instante, os olhos se encontrando mais uma vez com os dele, oferecendo-lhe um sorriso tรญmido, quase rendido โโ seus lรกbios vermelhos e inchados, marcados pelas mordidas suaves e pela sucรงรฃo gentil, denunciavam a intensidade daquele momento silencioso, รญntimo e arrebatador.
- Seria tolice da minha parte dizer que jรก imaginei inรบmeras vezes fodendo vocรช aqui, no Polar Tang? โ sussurrou ele, com a voz rouca e baixa, enquanto levava os lรกbios ao pescoรงo dela, espalhando beijos e mordidas suaves sobre a pele pรกlida e sensรญvel.
- N-nรฃoโฆ nรฃo seriaโฆ โ ela respondeu, a voz trรชmula, rendida ao toque.
- Entรฃoโฆ posso? โ murmurou Law, mesmo sabendo que nรฃo precisava da permissรฃo. A resposta jรก estava escrita nos olhos dela, no modo como seu corpo se entregava ao dele, sem resistรชncia.
- Vocรช sabe que simโฆ nรฃo diga essas coisas assimโฆ โ sussurrou ela, com as bochechas coradas, desviando o olhar com timidez.
- O que รฉ isso agora, Lizzy-ya? โ ele sorriu de canto, afastando-se ligeiramente de seu pescoรงo apenas para poder observรก-la nos olhos. Sua mรฃo, lenta e determinada, deslizou atรฉ a barra da camisola que ela vestia, erguendo-a devagar. - Estรก envergonhada?
Elisabette nรฃo disse uma รบnica palavra โโ apenas permaneceu em silรชncio, os lรกbios entreabertos e os olhos semicerrados ao sentir a mรฃo dele deslizar com cuidado por dentro de sua calcinha. Os dedos dele, รกgeis e experientes, nรฃo tardaram a encontrar o calor รญntimo de seu corpo, afundando-se lentamente em sua boceta estreita, arrancando-lhe um gemido baixo e entrecortado. Instintivamente, ela se agarrou ao pescoรงo dele, envolvendo o quadril com suas pernas num gesto de entrega silenciosa, enquanto sentia o movimento compassado dos dedos โโ o mรฉdio e o anelar โโ penetrando-a com uma profundidade precisa, provocando espasmos involuntรกrios que a faziam se apertar deliciosamente ao redor deles.
- Nรฃo se preocupeโฆ โ ele murmurou junto ร pele sensรญvel de sua orelha, com a voz carregada de desejo e ternura. - Desta vez, vamos com calmaโฆ
โโโโโโโโโโโโโโโโโโ
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