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โ”โ” Em algum lugar do North Blue ; Memรณrias...
แ˜กTrafalgar Law, Cirurgiรฃo da Morte. โชO ponto de vista deleโซ

Se havia algo que uma crianรงa de treze anos ainda nรฃo conseguia compreender por completo, era o verdadeiro significado da morte. E, ainda que eu jรก soubesse o que era morrer, jรก tivesse testemunhado incontรกveis vidas se esvaindo diante de meus olhos sem que eu pudesse mover um รบnico mรบsculo para impedir, o pavor continuava ali, implacรกvel. A qualquer momento, meu corpo poderia ceder ร  Doenรงa do Chumbo Branco, e eu simplesmente deixaria de existir.

As noites eram maldormidas, sufocantes, envoltas em febre e alucinaรงรตes, enquanto o temor de uma convulsรฃo febril me mantinha acordado, imรณvel, aterrorizado. A raiva e a revolta eram as รบnicas emoรงรตes que ainda me pertenciam, pois atรฉ mesmo a tristeza parecia ter se esvaรญdo. Restava apenas a angรบstia corrosiva, o medo incessante de que, ao fechar os olhos por um instante sequer, eu jamais voltaria a abri-los.

Nรฃo importava o quanto eu comesse, nem mesmo o quanto Cora-san se esforรงasse para me alimentar โ”€โ”€ pois, segundo ele, eu estava em fase de crescimento e precisava comer para me tornar "um homem forte" como ele. Meu corpo, entretanto, nรฃo reagia. Permanecia esguio, frรกgil, incapaz de se desenvolver como deveria. Aos treze anos, eu tinha o mesmo peso e altura de uma crianรงa de dez. Meu organismo simplesmente se recusava a amadurecer, preso no tempo como um corpo condenado ร  deterioraรงรฃo antes mesmo de alcanรงar a plenitude da vida.

O รบnico mรฉdico que me examinou com real preocupaรงรฃo foi aquele que, por fim, confirmou o que eu jรก suspeitava. Lembro-me com nitidez do seu olhar grave, das palavras ditas em tom seco e irremediรกvel, do modo como Cora-san apertou os punhos para conter as lรกgrimas que, mesmo que ele tentasse esconder, estavam ali, visรญveis sob aquela mรกscara de seriedade.

"A doenรงa estรก se alastrando por todo o corpo dele. ร‰ por isso que nรฃo apresenta sinais de puberdade ou crescimento desde que foi infectado. Em breve, todos os seus รณrgรฃos estarรฃo comprometidos, e entรฃo, de fato, os dias dele estarรฃo contados."

Respirei fundo, engolindo o choro, desviando o olhar para longe na tentativa inรบtil de me resignar ร  minha sentenรงa. Mas Cora-san... ele nรฃo se abalou. Nem por um segundo. Enquanto eu tentava aceitar o inevitรกvel, ele persistia. Continuou buscando, perguntando, arriscando-se, agarrando-se a qualquer fio de esperanรงa atรฉ que, enfim, surgiu a menรงรฃo da Ope Ope no Mi.

No inรญcio, nรฃo vi qualquer chance. Imaginei que seria apenas mais uma busca desesperada, outro caminho que nos levaria a lugar algum. No final, ele falharia, e eu morreria. E Cora-san, que tanto lutou, carregaria para sempre o peso da culpa por nรฃo ter conseguido me salvar. Mas o que ele nunca soube... รฉ que, por mais que eu desejasse sobreviver, eu nunca quis que a responsabilidade pela minha vida recaรญsse sobre ele.

Ele nรฃo tinha nada a ver com meu sofrimento.

Ou, pelo menos, era o que eu tentava me convencer. Porque, com o tempo, percebi que Cora-san nรฃo era apenas meu salvador. Ele era a รบnica pessoa no mundo em quem eu podia confiar.

E, de alguma forma, amar.

Todas as vezes em que eu fingia estar dormindo e ouvia o som abafado de seus soluรงos, enquanto bebia atรฉ o sono finalmente tomรก-lo, amaldiรงoando-se por nรฃo conseguir me ajudar como gostaria, algo dentro de mim se despedaรงava de um modo que eu sabia que jamais poderia consertar. Mesmo que eu sobrevivesse e tivesse a chance de levar uma vida pacรญfica ao seu lado, aquela fissura permaneceria, irremediรกvel.

No inรญcio, eu o odiei. Quis matรก-lo por ter me arrancado debaixo das asas de alguรฉm a quem eu admirava โ”€โ”€ Donquixote Doflamingo. Mas, com o tempo, quando compreendi o que ele realmente significava para mim, quando reconheci o turbilhรฃo de sentimentos que me tomava sempre que ele demonstrava cuidado e afeiรงรฃo, percebi que jรก nรฃo sabia mais como existir sem sua presenรงa.

Nรฃo poderia viver sem tรช-lo ao meu lado, sem ouvir suas palavras tentando aliviar meu humor, sem suas trapalhadas ridรญculas ou suas piadas sem graรงa. Tampouco saberia lidar com as madrugadas em claro sem suas histรณrias fantasiosas, aquelas que ele insistia em contar quando a dor me consumia e me mantinha acordado, ร  mercรช de uma agonia constante.

Naquele caos que era minha vida, a รบnica paz que conheci estava em suas palavras.

E, acima de tudo, em seu toque.

Certa noite, ao retornarmos de mais uma tentativa frustrada em um hospital, o cรฉu jรก estava tomado pela escuridรฃo, e o frio parecia ainda mais cortante. Ou, ao menos, era o que eu imaginava, pois jรก nรฃo conseguia distinguir se o ar gรฉlido realmente castigava minha pele ou se era apenas a febre maldita que me fazia tremer e bater os dentes contra o peito de Cora-san. Meu corpo pequeno e frรกgil estava envolto em seus braรงos firmes, protegido pelo calor do casaco de plumas negras que, apesar da dor e do delรญrio, me proporcionava um mรญnimo de conforto.

Minhas mรฃos trรชmulas se agarravam ao tecido de seu suรฉter enquanto minha respiraรงรฃo ofegante escapava em sussurros desconexos, palavras sem sentido que nem eu mesmo conseguia compreender. No entanto, mesmo diante da minha fragilidade, seus dedos deslizavam suavemente por minhas bochechas, em uma carรญcia leve e cuidadosa โ”€โ”€ como se qualquer deslize, qualquer passo em falso, pudesse me ferir ainda mais.

Chegamos a uma รกrea mais isolada, uma colina nรฃo muito distante do vilarejo, onde Cora-san decidiu que passarรญamos a noite. Com delicadeza, ele me deitou sobre o chรฃo, ajustando o moletom em meu corpo para cobrir completamente minha pele e minimizar o frio que me fazia tremer. Em seguida, retirou seu casaco de plumas e o utilizou para improvisar um colchรฃo, que, devido ao seu tamanho em comparaรงรฃo ao meu, tambรฉm serviu como cobertor. Com gestos cuidadosos, ele me aninhou ali, como se eu fosse um pequeno embrulho frรกgil.

Observei-o em silรชncio, o cenho franzido, a visรฃo embaรงada e o rosto corado pela febre. Sua mรฃo pousou suavemente sobre minha testa, a pele ligeiramente fria contrastando com o ardor abrasador do meu corpo. Ele suspirou, passando os dedos lentamente pelos cabelos loiros e desalinhados antes de voltar a me encarar. Um sorriso surgiu em seus lรกbios, e sua voz, embora gentil, carregava um tom brincalhรฃo ao dizer:

- Seu anjinho da guarda nรฃo tem sido de muita ajuda, nรฃo รฉ? Que sapequinha... O pequenino deve estar tirando uma soneca agora. โ”€ ele riu, um tanto desajeitado, enquanto se ajoelhava no chรฃo e comeรงava a organizar uma fogueira.

- ร‰ um imbecil que nรฃo serve pra nada... โ”€ murmurei, minha voz quase inaudรญvel devido ร  fraqueza, enquanto me encolhia sob o casaco.

- Como eu disse dias atrรกs, ele deve ser uma crianรงa como vocรช, sรณ que atrapalhada e bobinha... Nรฃo um bombom de limรฃo como vocรช.

- Eu nรฃo sou um bombom de limรฃo...! โ”€ tentei protestar, mas meu esforรงo foi em vรฃo. Uma pontada dolorosa atravessou meu peito, fazendo-me engolir em seco.

- Ah, sim, vocรช รฉ. โ”€ ele riu novamente, finalmente conseguindo acender a fogueira. Em seguida, aproximou-se de mim, deitando-se ao meu lado. Sua mรฃo encontrou meu peito, onde comeรงou a dar leves tapinhas, reconfortantes e ritmados. - Um bombom de limรฃo azedinho e ranzinza. Mas fique tranquilo, Law... Eu gosto de vocรช mesmo assim.

- Cora-san...

- Sim?

- Seu cabelo tรก pegando fogo... โ”€ murmurei, observando sua expressรฃo se transformar em puro choque antes que ele comeรงasse a rolar desesperadamente pela grama, tentando apagar as chamas em sua cabeรงa.

Permaneci em silรชncio, exausto demais para reagir com uma gargalhada ao vรช-lo rolar de um lado para o outro, cobrindo-se de grama e terra. Meus olhos, pesados pelo sono e pelo cansaรงo, permaneceram fixos em sua figura desajeitada, enquanto ele gritava e repetia inรบmeras vezes para que o fogo se apagasse โ”€โ”€ sendo que as chamas jรก haviam se extinguido no instante em que ele dera a primeira volta sobre o gramado.

Quando finalmente cessou seus movimentos, respirou fundo, deixando o antebraรงo repousar sobre a testa, enquanto o suor escorria por sua bochecha. Seu rosto trazia uma expressรฃo exagerada, como se tivesse acabado de enfrentar um grande perigo, transformando um pequeno incidente em uma verdadeira tempestade em copo d'รกgua.

Ao voltar a me encarar, ele sorriu largamente. Franzi o cenho e escondi parte do rosto na manga de seu casaco, lanรงando-lhe um olhar carrancudo, esperando que entendesse o recado: eu nรฃo queria mais ser incomodado e tentaria dormir. Contudo, percebi que ele ainda parecia disposto a passar horas conversando, e eu sabia exatamente o motivo de sua insistรชncia em manter o diรกlogo.

- E entรฃo, Law, o que vocรช quer ser quando crescer?

- Um defunto bem enterrado. โ”€ respondi com rispidez, desviando o olhar, enquanto ele arregalava os olhos, deixando seu queixo cair.

- QUANTA NEGATIVIDADE! โ”€ exclamou, cutucando minha bochecha com o indicador. - Vocรช nรฃo pode pensar assim! Vamos conseguir curar vocรช.

- Se vocรช diz... โ”€ murmurei, e, tomado por minha prรณpria vulnerabilidade e fragilidade, segurei sua mรฃo, que parecia grande demais comparada ร s minhas, e deixei meu rosto descansar em sua palma.

- Sabe, Law, eu tenho certeza de que vocรช serรก um grande homem quando crescer. Terรก muitos amigos e, quem sabe, atรฉ uma namoradinha, caso resolva melhorar um pouco esse seu humor.

- Nรฃo preciso de amigos... nem de namorada! Meninas sรฃo chatas e barulhentas, a voz delas me irrita! Sรฃo muito finas e estridentes!

- Engraรงado vocรช dizer isso quando sua voz tambรฉm รฉ fina e estridente...

- Nรฃo รฉ, nรฃo! โ”€ retruquei, emburrado.

- Claro que รฉ. E eu acho adorรกvel. โ”€ Cora-san riu, apertando levemente minha bochecha. Em seguida, se aproximou e, com a mรฃo livre, acariciou minha cabeรงa com cuidado. - Vocรช vai crescer, Law. Vai se tornar um homem forte e inteligente. E eu estarei lรก para puxar sua orelha sempre que for rabugento com seus colegas.

Eu nรฃo lhe respondi; apenas me mantive em silรชncio enquanto ele continuava a acariciar meu rosto, sua mรฃo, geralmente pesada e รกspera, agora tocava minha pele com uma leveza surpreendente. Seus dedos brincavam cuidadosamente com meus fios de cabelo grisalhos e deslizavam por meu rosto com um carinho afetuoso demais para alguรฉm que, em teoria, nรฃo possuรญa qualquer vรญnculo comigo โ”€โ”€ mas cuja presenรงa eu, no entanto, ansiava cada vez mais.

Durante semanas, tentei convencer a mim mesmo de que nรฃo precisava dele, de que nรฃo necessitava de ninguรฉm alรฉm de Doflamingo. Acreditava que apenas ele poderia compreender minha dor, minha revolta e a angรบstia entrelaรงada ร  raiva que mantinha meu coraรงรฃo em constante turbulรชncia, sufocado por rancor. Mas... os dias passaram, as semanas se transformaram em meses e, quando menos esperei, percebi que desejava a presenรงa de Cora-san mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Eu queria estar com ele sempre, receber seus cuidados e sua atenรงรฃo direcionados unicamente a mim, sem que nada pudesse nos separar. Se eu fosse salvo โ”€โ”€ se ele realmente conseguisse a Ope Ope no Mi e me curasse da Doenรงa do Chumbo Branco โ”€โ”€, tudo o que eu desejava era que, a partir daquele momento, nada mais mudasse.

Queria permanecer ao seu lado, sob sua proteรงรฃo, sob seus cuidados e sua atenรงรฃo constante, acompanhando seus passos, crescendo e me tornando alguรฉm como ele. Desejava que, a cada movimento que eu fizesse, a cada passo dado, sorriso esboรงado, promessa feita ou declaraรงรฃo pronunciada, ele estivesse ali. Que estivesse presente a cada laรงo que eu rompesse, a cada palavra que eu dissesse, em todos os dias e noites que viessem.

Queria que ele me visse jogar, fazer amigos ou atรฉ mesmo conhecer uma garota qualquer โ”€โ”€ e que, em todos esses momentos, ele estivesse ali, apenas me observando e sorrindo, como sempre fizera desde o inรญcio de nossa jornada em busca de uma cura para mim.

- Sabe, quando vocรช crescer, pode formar uma famรญlia. Uma famรญlia de verdade, diferente da Famรญlia Donquixote. โ”€ disse ele, sorrindo antes de afastar a mรฃo de mim. Em seguida, deitou-se de costas, apoiando a cabeรงa nos braรงos e cruzando as pernas de maneira relaxada.

- Nรฃo quero me casar... nem ter filhos. Se isso acontecesse, eles poderiam nascer doentes como eu. โ”€ retruquei, dando de ombros. Ergui o olhar para o cรฉu, observando o manto รญndigo pontilhado por estrelas cintilantes.

- Ah, Law... โ”€ ele sorriu, sem desviar os olhos do cรฉu. - Famรญlia nรฃo se resume a laรงos sanguรญneos. Jรก ouviu aquele ditado: "Seu sangue atรฉ pernilongo tem"? Famรญlia sรฃo as pessoas que te amam, que cuidam de vocรช e te respeitam. Qualquer um que te oferecer essas coisas รฉ sua famรญlia, Law. Nunca se esqueรงa disso.

- Nรฃo vou...

Observei Cora-san se acomodar no gramado, entregando-se ao calor da fogueira e ao abraรงo silencioso da noite, onde nossas รบnicas fontes de luz eram o fogo bruxuleante e as estrelas distantes. Nรฃo demorou para que o cansaรงo o vencesse, e seu ronco suave preenchesse o silรชncio, deixando-me "sozinho" com meus prรณprios pensamentos โ”€โ”€ e tudo o que me consumia: raiva, angรบstia, rancor. Encolhi-me dentro de seu casaco, buscando algum resquรญcio de calor, algo que pudesse tornar o chรฃo duro menos cruel.

Juntei as mรฃos, tentando aquecรช-las com o sopro fraco de minha respiraรงรฃo. Um arrepio percorreu minha espinha, e meus dedos tremeram. Eu sabia que famรญlia nรฃo se resumia ao laรงo de sangue, mas sim a respeito, lealdade, amor e cuidado. Eu nรฃo era ingรชnuo โ”€โ”€ sรณ tinha medo. Um medo sufocante, paralisante. Um medo que se entranhava em minha pele e se enroscava em meus ossos. Medo de amar de novo. Medo de me apegar a alguรฉm da mesma forma que amei meus pais, minha irmรฃ, meus amigos. Medo de que amar significasse condenรก-los, entregar-lhes o fardo da morte que sempre parecia me acompanhar, arrancando de mim tudo o que era bom.

Eu amava Cora-san. E o pavor de perdรช-lo, de vรช-lo desaparecer, de nunca mais ouvir sua risada desajeitada, corroรญa-me por dentro. No fim, meu pior temor se concretizou โ”€โ”€ vรช-lo morrer por minha causa foi o que estilhaรงou o que jรก estava quebrado: meu coraรงรฃo.

โ”โ” Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Paรญs de Zou.

Atualmente.

Meu olhar permanecia fixo em Elisabette-ya e no Mugiwara-ya, que se mantinham prรณximos demais, com as mรฃos nos rostos um do outro โ”€โ”€ uma intimidade comprometedora atรฉ mesmo para dois idiotas cuja dinรขmica sempre fora marcada por uma forte relaรงรฃo de capitรฃo e subordinada. Ele me fitou com naturalidade, mantendo a expressรฃo sรฉria por alguns segundos antes de exibir seu habitual sorriso largo. Ela, no entanto, manteve os olhos cravados em mim, o semblante indecifrรกvel, como se me analisasse. Minha atenรงรฃo prendeu-se no olho dourado dela, que atรฉ dois dias atrรกs permanecia com a coloraรงรฃo perolada, resultado do ferimento de bala que a deixara cega.

O silรชncio entre nรณs apenas nรฃo se tornou insuportรกvel porque o garoto do chapรฉu de palha nรฃo cessava de falar. Comentava sobre Elisabette-ya e sua recuperaรงรฃo, expressando sua gratidรฃo por eu ter me oferecido para cuidar dela na ausรชncia de Tony-ya, e dizia que seria eternamente agradecido por qualquer coisa que eu fizesse para ajudรก-la a se restabelecer. Entretanto, minha disposiรงรฃo em auxiliรก-la havia se dissipado com a mesma rapidez com que surgira ao me dispor a tratรก-la.

Meu estรดmago revirava e fervia de inquietaรงรฃo, e embora minha expressรฃo permanecesse fria como de costume, eu me segurava com esforรงo para nรฃo ir atรฉ ela e exigir explicaรงรตes โ”€โ”€ por que, diabos, ela estava beijando seu capitรฃo? Aquilo era algum tipo de brincadeira? Ou teria ela realmente perdido o juรญzo ao cair no mar?

- Vou deixar cรช cuidando dela e vou terminar de encher a panรงa pra viagem. Passo aqui antes de partir pra me despedir, tรก bom, Lis? โ”€ disse ele, com um sorriso ainda mais largo ao encarar sua companheira, que mantinha o olhar perdido nos olhos dele e, por fim, retribuiu com um sorriso fraco.

- Tรก bom, vou esperรก-lo... โ”€ ela sussurrou tรฃo baixo que mal pude ouvir, mas, devido ร  nossa proximidade, fui capaz de ler os seus lรกbios.

Quando o Mugiwara-ya se retirou da cabana, a porta se fechou atrรกs dele e, apรณs alguns segundos, virei-me para encarar Elisabette-ya, que jรก me observava com seus olhos grandes e cansados. Havia olheiras profundas e muito escuras marcando seu semblante, destacando-se de maneira drรกstica contra a palidez extrema de sua pele. Atรฉ mesmo suas bochechas, que costumavam ter um leve tom rosado, agora estavam alvas demais, dando-lhe uma aparรชncia quase sem vida.

Com um olhar clรญnico, analisei-a superficialmente, sem sequer precisar examinรก-la por completo. A tonalidade esbranquiรงada de sua pele tornava visรญveis as veias em tons azulados e arroxeados, sendo essas, junto aos olhos โ”€โ”€ um azul e o outro dourado โ”€โ”€, as รบnicas fontes de cor em seu corpo, que se mostrava apagado, ofuscado pelo ambiente, quase translรบcido.

Eu jรก havia cuidado de seus ferimentos em outras ocasiรตes โ”€โ”€ como quando a acolhi em Sabaody e a mantive sob meus cuidados atรฉ que pudesse se virar sozinha, ou no Thousand Sunny, quando tratei da Febre das รrvores, e mais tarde, em Dressrosa, apรณs o confronto com Doflamingo. Mas desta vez... desta vez era diferente. Ela nรฃo parecia tรฃo ferida fisicamente quanto antes e, ainda assim, jamais a vi tรฃo abatida. Era como se a vida jรก a tivesse deixado, como se, diante de mim, restasse apenas um corpo โ”€โ”€ uma casca vazia โ”€โ”€ que me fitava com olhos sonolentos e exaustos.

Nรฃo era ela.

Aquele olhar, embora exausto e praticamente destituรญdo de vida, era irreconhecรญvel. Mesmo que estivรฉssemos a milhas de distรขncia ou que mil anos se passassem sem vรช-la, ainda assim, eu seria capaz de reconhecรช-la. No entanto, ali, diante de mim, a me encarar... nรฃo era ela.

Apesar de o rosto ser o mesmo โ”€โ”€ as bochechas redondas e suavemente preenchidas, os lรกbios rosados e carnudos formando naturalmente um leve biquinho, os olhos grandes sempre atentos a tudo, os cabelos platinados com a raiz lisa e as pontas formando ondas de cachos dourados que se destacavam entre os fios prateados, o corpo curvilรญneo, as sardas delicadamente espalhadas pelo rosto e busto, pequenas demais para serem notadas ร  distรขncia, mas visรญveis o bastante de perto โ”€โ”€ aquela nรฃo era a Elisabette que eu conhecia. Aquela que eu havia aprendido a amar acima de quaisquer defeitos, alรฉm de todas as nossas diferenรงas. Eu podia sentir isso... pela forma como ela me olhava. Pela expressรฃo vazia em seus olhos.

Era a mesma pessoa que, a sangue frio, ceifara o Pรกssaro do Sul. A mesma que investira contra Doflamingo com fรบria desmedida, empunhando sua foice elรฉtrica. E, ainda assim, nรฃo era ela. Havia algo de profundamente errado. Era bizarro, estranho, inexplicรกvel... mas algo dentro de mim gritava, suplicava, quase soluรงava em desespero, alertando: aquela nรฃo era ela. Ainda que, de algum modo, fosse.

Era confuso. Drasticamente confuso. Porque nem eu compreendia aquela mudanรงa tรฃo sutil, tรฃo imperceptรญvel, e ao mesmo tempo alarmante, estrondosa, quase dilacerante.

Aproximei-me um pouco mais dela e, ao contrรกrio das outras vezes โ”€โ”€ em que sempre arregalava os olhos e me observava com desconfianรงa, mesmo sabendo que eu jamais lhe faria mal algum โ”€โ”€, Elisabette nรฃo recuou. Manteve-se quieta, em silรชncio, apenas observando aproximar-me, atรฉ o momento em que sua expressรฃo vazia se elevou e encontrou o meu olhar.

Permaneci em silรชncio, encarando-a, atรฉ que minha mรฃo tocou suavemente seu rosto. E, ainda assim, nenhuma reaรงรฃo. Nenhum rubor, nenhum arrepio, nenhum sorriso ou desvio de olhar. Apenas permaneceu ali, imรณvel, inexpressiva. Sua pele, outrora quente e macia, encontrava-se agora fria โ”€โ”€ gรฉlida como se tivesse acabado de emergir das profundezas do mar. Ela estava tรฃo fria quanto um cadรกver.

Quando percebi, ambas as minhas mรฃos jรก repousavam em seu rosto, como se buscassem, desesperadamente, algo familiar. E foi nesse instante que ela finalmente desviou o olhar, adotando um semblante abalado, como se, de alguma forma, compreendesse a dor que eu estava sentindo. Como se estivesse, ela mesma, tentando encontrar-se dentro de si.

Uma pontada atravessou meu peito โ”€โ”€ uma dor semelhante ร quela que senti quando perdi Cora-san. Entรฃo, apertei-lhe o rosto uma รบltima vez antes de afastar minhas mรฃos, dando um passo para trรกs. Respirei fundo, recompondo-me, recuperando a expressรฃo fria e firme que costumava usar como escudo, e voltei a encarรก-la em silรชncio... antes de finalmente comeรงar a falar:

- Vocรช estรก gelada... โ”€ comentei, soltando um suspiro enquanto colocava a maleta mรฉdica sobre a cรดmoda ao lado de sua cama. Abri-a em seguida e comecei a separar alguns medicamentos.

- Trafalgar... โ”€ ela sussurrou, chamando-me pelo nome e fazendo com que eu interrompesse meus movimentos. - Pegue minha bolsa... por favor.

- Certo. โ”€ respondi em um tom baixo. Virei-me e caminhei atรฉ a cadeira onde a bolsa estava apoiada. Retornei atรฉ ela e a coloquei com cuidado sobre seu colo.

- Depois de dois anos e alguns meses... finalmente tenho como te pagar.

- O quรช?

Ela abriu um sorriso fraco, o olhar sombrio, enquanto abria a bolsa e revelava diversas moedas douradas e algumas cรฉdulas. Contudo, nรฃo eram berries, o que me fez franzir o cenho e encarรก-la, confuso.

- O que รฉ isso?

- Extol. Moeda de Skypiea. โ”€ respondeu Elisabette-ya com um sorriso ladino, agarrando a bolsa e a lanรงando em minha direรงรฃo. Instintivamente, estendi as mรฃos e a segurei, ainda em choque.

Por um momento, permaneci em silรชncio, encarando seus olhos de cores distintas, sem saber que reaรงรฃo deveria esboรงar ou o que dizer. Eu pretendia falar algo, mas as palavras morreram em minha garganta antes mesmo de emitirem um รบnico som. O sorriso dela se desfez, e seu olhar manteve-se sombrio, ao passo que os meus olhos se estreitaram ao se fixarem nos dela. A tensรฃo retornou com a mesma rapidez com que havia se dissipado, e o ambiente ao nosso redor pareceu pesar sobre nossos ombros, tornando-se esmagador.

De fato, eu nรฃo planejava mais cobrar-lhe o coraรงรฃo; pretendia devolvรช-lo de uma forma ou de outra โ”€โ”€ especialmente apรณs tudo o que ocorreu em Dressrosa e, posteriormente, em Zou. Tampouco esperava que ela realmente quitasse a dรญvida. Aquela quantidade de moedas douradas e cรฉdulas dentro da bolsa me surpreendeu de tal forma que me vi sem palavras, tentando assimilar o fato de que o pagamento havia, de fato, sido efetuado โ”€โ”€ e, com ele, o vรญnculo que nos mantinha unidos de alguma forma havia se rompido antes que eu mesmo pudesse fazรช-lo.

- E entรฃo? โ”€ ela sussurrou, apoiando a mรฃo na cabeceira da cama ao tentar se levantar. - Jรก paguei vocรช. Agora, devolva o meu coraรงรฃo.

- Quando todos estiverem dormindo, nรณs iremos buscรก-lo. โ”€ respondi, lanรงando mais um olhar ao interior da bolsa.

- Estรก dizendo a verdade?

- A รบnica pessoa que sempre mente aqui รฉ vocรช. โ”€ as palavras escaparam de meus lรกbios de forma natural, impulsiva e cortante, em uma defesa precipitada que acabou por atingi-la sem qualquer aviso, o suficiente para fazรช-la franzir o cenho e arregalar os olhos.

Elisabette, diferentemente do que eu esperava, apenas assentiu e voltou a se sentar na cama, encostando-se de lado ร  cabeceira, com os olhos fixos no chรฃo em silรชncio resignado, sem sequer contestar o que eu havia dito. Senti o peito apertar ao ver a expressรฃo em seu rosto, mas me contive. Nada disse. Apenas iniciei o que havia vindo fazer: examinar seus ferimentos internos e verificar seu estado geral โ”€โ”€ algo que, graรงas ร  Ope Ope no Mi, seria consideravelmente mais simples e eficiente.

แ˜กNarrador. ; โชO ponto de vista do Leitorโซ

O dia transcorreu lentamente, chegando ao fim com a separaรงรฃo dos Chapรฉus de Palha de seu capitรฃo e de parte da tripulaรงรฃo, que seguira rumo a Whole Cake em busca do cozinheiro do bando, agora revelado como o Prรญncipe Vinsmoke Sanji, um ex-integrante do antigo Reino Germa. A despedida ocorreu de forma tranquila, com Luffy se despedindo de seus companheiros e os deixando sob os cuidados de seu imediato, Roronoa Zoro. Confiou tambรฉm em seu aliado, o capitรฃo dos Piratas de Copas, Trafalgar Law, para conduzi-los em seguranรงa atรฉ o Paรญs de Wano.

Em Zou, permaneceram apenas cinco membros dos Chapรฉus de Palha: Zoro, Usopp, Elisabette, Robin e Franky. Jรก Nami, Chopper e Brook partiram com o capitรฃo a bordo do Thousand Sunny em direรงรฃo ao territรณrio de Big Mom, unidos com o propรณsito de resgatar Sanji de um destino que poderia significar o fim de sua jornada como cozinheiro do bando e de sua busca pelo lendรกrio All Blue.

Quando a noite caiu sobre o Paรญs de Zou, apenas o som das cigarras cantando, dos sapos coaxando e o chilrear das corujas preenchia o ar. Os Guardiรตes do Ducado de Mokomo jรก se encontravam espalhados pelas diversas regiรตes do pequeno paรญs. Nekomamushi, por sua vez, repousava sobre o galho de uma รกrvore, observando a noite estrelada que iluminava o vilarejo. Enquanto isso, na parte traseira de Zunesha, prestes a descer pelo elevador improvisado, estavam Law e Elisabette.

Com cuidado, o moreno de pele tatuada auxiliou-a a subir, posicionando-a adequadamente sobre suas muletas antes de puxar, com lentidรฃo, a corda que os conduziria atรฉ onde estava o Polar Tang. Ambos permaneciam em silรชncio. Law, recostado, concentrava-se em guiรก-los na descida, com o olhar fixo na corda, sentindo a textura รกspera queimar levemente as palmas de suas mรฃos. Elisabette, por sua vez, mantinha o olhar voltado para o chรฃo, os cabelos platinados caindo suavemente sobre os ombros e balanรงando com a brisa noturna, que arrepiava sua pele e provocava um frio sutil, ainda que incรดmodo.

O cรฉu encontrava-se escuro, e nuvens de tonalidade marrom-clara comeรงavam a se formar, encobrindo as estrelas e ocultando a lua, o que tornava o ambiente ainda mais lรบgubre e sombrio, envolvendo-os em uma penumbra cada vez mais densa conforme se aproximavam do mar. Jรก podiam ouvir o som das ondas quebrando contra a lateral metรกlica do navio-submarino dos Piratas de Copas e tambรฉm contra as imensas patas do elefante colossal.

Logo, gotas de chuva comeรงaram a cair suavemente sobre suas peles, obrigando-os a erguer o olhar, surpresos e curiosos. A mรฃo da jovem de cabelos platinados ergueu-se discretamente, sentindo os pingos frios sobre a palma. Um suspiro escapou-lhe dos lรกbios ao perceber o vento se intensificar, lanรงando seus cabelos para trรกs. Ela voltou o olhar para Trafalgar em busca de alguma orientaรงรฃo, mas ele apenas desviou o rosto e continuou sua tarefa em silรชncio, fazendo com que a jovem apenas se encolhesse e colocasse a jaqueta sobre a cabeรงa, tentando, de alguma forma, se proteger da chuva.

Nรฃo demorou para que estivessem perigosamente prรณximos do mar. A รกgua salgada e gelada, revolta sob os ventos cortantes da tempestade que se armava no cรฉu enegrecido, comeรงava a invadir o espaรงo do elevador improvisado, encharcando o chรฃo de madeira rangente. A chuva aumentava com fรบria, e o som das ondas quebrando contra o casco metรกlico do submarino ecoava como um rugido ameaรงador. Elisabette arregalou os olhos em pรขnico, seus dedos cravando-se nas muletas enquanto dava passos trรชmulos para trรกs, como se cada centรญmetro de aproximaรงรฃo da รกgua fosse uma sentenรงa.

Tentou, em um impulso de desespero, abrir as asas e alรงar voo, mas uma dor aguda explodiu em sua cabeรงa, como se a forรงa vital estivesse sendo sugada para fora de seu corpo. Permaneceu ali, estรกtica, seus olhos perdendo o foco, mergulhados em uma negaรงรฃo silenciosa. Os pรฉs afundavam-se nas poรงas geladas, e ela apenas os encarava, impotente, observando-se afogar sem sequer ter caรญdo.

Um nรณ espesso e sufocante formou-se em sua garganta. A fraqueza que o mar lhe causava tornava-se insuportรกvel. O ar parecia rarefeito, sua visรฃo embaรงada pela chuva, pela vertigem. A realidade ร  sua volta distorcia-se como um pesadelo: borrรตes escuros, sons abafados, pulsos nas tรชmporas. As pernas cederam, e o medo de desabar no mar a esmagou por completo. Estava prestes a se perder, atรฉ que sentiu โ”€โ”€ como um choque contra o delรญrio โ”€โ”€ duas mรฃos grandes e firmes segurarem com forรงa seus ombros, a arrancando bruscamente daquele transe apavorante.

- Oi, Elisabette-ya! โ”€ ele gritou, com a voz sรฉria e fria, fazendo com que ela o encarasse, assustada. - Vocรช ouviu o que eu disse?

- N-nรฃo... desculpa... eu... โ”€ respondeu ela, desviando o olhar para a รกgua que lambia seus pรฉs descalรงos, enquanto suas mรฃos, instintivamente, buscavam apoio, agarrando-se ร  camisa dele.

- Fique tranquila, nรฃo รฉ o suficiente para enfraquecรช-la demais. โ”€ disse Law, agora em um tom mais suave, ciente de que aquela sensaรงรฃo de fraqueza era algo completamente novo para ela e do quรฃo apavorante podia ser na primeira vez. - Vamos... antes que a chuva piore e destrua o elevador com nรณs dois nele.

- Ai, minha nossa!

- Estou brincando... โ”€ murmurou, desviando o olhar enquanto a tomava nos braรงos e saltava com leveza para o convรฉs do Polar Tang.

Ciente das dificuldades que ela enfrentava para caminhar โ”€โ”€ agora agravadas pela ausรชncia de suas asas, que comprometia seu equilรญbrio natural โ”€โ”€, o moreno de pele tatuada optou por tomรก-la nos braรงos. Havia nela uma leveza desconhecida, quase etรฉrea, que lhe pareceu estranha e dolorosa, como se o corpo que agora sustentava nรฃo fosse o mesmo que outrora acolhera com familiaridade. Havia algo de diferente, de mais frรกgil, de mais vulnerรกvel โ”€โ”€ e isso o incomodava no รขmago. Parecia estar carregando outra mulher, qualquer uma, menos a sua... ou melhor, aquela que ele ainda desejava, com todas as forรงas, acreditar que era sua. A mesma que, tempos atrรกs, havia se entregado a ele por completo, despertando sentimentos hรก muito esquecidos: amor, paz... e um pertencimento raro.

Ela segurava contra o peito as muletas, os braรงos antes fortes agora pareciam finos, esguios, marcados pela perda de vigor. Ainda se viam traรงos de mรบsculos ali, discretos, como memรณrias de uma forรงa que jรก lhe pertencera. Mas a magreza a envolvia como um manto triste, e ele, mesmo sabendo que a Febre das รrvores havia sido vencida, nรฃo conseguia se livrar da dรบvida cruel: estaria ela verdadeiramente saudรกvel?

Engoliu as palavras que queriam sair, deixando-as guardadas no coraรงรฃo, sufocadas no silรชncio. Apenas a manteve junto ao peito, protegida, enquanto atravessava os corredores do navio-submarino. A escuridรฃo os envolvia ร  medida que adentravam o interior do Polar Tang, e as paredes de aรงo e latรฃo devolviam a ele a sensaรงรฃo de um frio reconfortante โ”€โ”€ familiar. Naquele ambiente silencioso, sentia-se, apesar de tudo, em casa.

Afinal, o Polar Tang era seu lar. E sua tripulaรงรฃo, mais do que aliados ou subordinados, era sua famรญlia. Como Corazรณn lhe dissera hรก treze anos, famรญlia nรฃo รฉ definida por sangue, mas pelo vรญnculo, pelo afeto, pelo cuidado e pelo respeito mรบtuo. E era isso que definia os Piratas de Copas: uma famรญlia construรญda nas margens do caos.

Seu amor, sua afeiรงรฃo, sua dedicaรงรฃo silenciosa a cada um deles โ”€โ”€ mesmo sob o peso do mau humor constante โ”€โ”€ era o que o mantinha de pรฉ. Trafalgar Law resistia, nรฃo por teimosia, mas porque sabia que havia pessoas que esperavam por ele. Amigos, irmรฃos... laรงos que nรฃo podiam ser rompidos pela morte. E talvez, sรณ talvez, fosse isso que ainda o definisse como homem: alguรฉm que, mesmo ferido, continuava caminhando por amor ร queles que escolheu chamar de lar.

Assim que chegaram ao quarto, Law a acomodou com cuidado sobre a prรณpria cama, retirando-lhe as muletas e apoiando-as suavemente contra a parede. Seu olhar encontrou o dela por um breve instante โ”€โ”€ mas dela, nada veio. O mais alto suspirou, afastando-se com hesitaรงรฃo, antes de dar alguns passos e apoiar o corpo contra a escrivaninha. Esse simples gesto atraiu o olhar da jovem, que o acompanhou com aquele brilho curioso e familiar nos olhos โ”€โ”€ embora, naquele instante, parecesse envolto em uma estranha e silenciosa distรขncia.

Elisabette repousou as mรฃos sobre as prรณprias coxas, sentindo o frio da pele em contraste com o calor confortรกvel do colchรฃo que a envolvia e aquecia, jรก que ainda trazia consigo os respingos de chuva do temporal que os havia alcanรงado minutos antes. Seus pensamentos estavam desordenados, um caos tanto quanto o prรณprio corpo. Parte dela desejava o calor dele โ”€โ”€ o aconchego, o carinho e o conforto que ele havia aprendido a oferecer com tanto cuidado. No entanto, outra parte sabia que nรฃo devia mais, que nรฃo podia mais. Sabia que nรฃo era mais a detentora daquele amor, que ele... de algum modo, compreendia que aquela que estava diante dele jรก nรฃo era a mesma.

- Honestamente, eu nรฃo esperava que fosse realmente quitar a dรญvida. โ”€ declarou Law, com os braรงos cruzados, os olhos parcialmente ocultos pela sombra projetada pela aba de seu chapรฉu. - Cheguei a considerar devolver seu coraรงรฃo sem cobrar nada em troca...

- Que tolice. Desde o inรญcio, deixei bem claro que iria pagรก-lo cada centavo. โ”€ retrucou ela, com a voz suave, porรฉm firme, buscando pelo olhar dele sob a tรชnue iluminaรงรฃo do abajur.

- Nรฃo me julgue. Eu tinha muitos motivos para duvidar de que seria capaz de cumprir essa promessa. โ”€ disse ele, permitindo-se esboรงar um leve sorriso de canto ao notar o brilho surpreso nos olhos dela.

- Bem, ao menos provei que honrei minha palavra e quitei o que devia. Entรฃo... onde estรก?

โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”


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