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━━ 𖥔 ִ ་ ، 𝟲𝟱. 𝗢 𝗿𝗲𝗻𝗮𝘀𝗰𝗶𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗱𝗮 𝗦𝗮𝗻𝘁𝗮 𝗣𝗿𝗮𝗴𝗮.

𝗖𝗔𝗟𝗟 𝗢𝗙 𝗦𝗜𝗟𝗘𝗡𝗖𝗘, 𝘵𝘳𝘢𝘧𝘢𝘭𝘨𝘢𝘳 𝘥. 𝘸𝘢𝘵𝘦𝘳 𝘭𝘢𝘸.
𝘭𝘢𝘺𝘰𝘶𝘵 𝘣𝘺 𝘯𝘪𝘯𝘢, 𝘢𝘬𝘮𝘢𝘯𝘮𝘪.

❛𝒯𝘶𝘥𝘰 𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘶 𝘧𝘪𝘻 𝘯𝘢 𝘷𝘪𝘥𝘢,
𝘦𝘶 𝘧𝘪𝘻 𝘱𝘰𝘳 𝘦𝘭𝘦. ℳ𝘢𝘴 𝘢𝘨𝘰𝘳𝘢 𝘦𝘭𝘦
𝘧𝘰𝘪 𝘦𝘮𝘣𝘰𝘳𝘢, 𝘦 𝘦𝘶 𝘢𝘪𝘯𝘥𝘢 𝘦𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘢𝘲𝘶𝘪.❜

❛𝓥𝘰𝘤𝘦̂ 𝘦́ 𝘦𝘴𝘱𝘦𝘤𝘪𝘢𝘭 𝘱𝘰𝘳𝘲𝘶𝘦
𝘯𝘢𝘴𝘤𝘦𝘶 𝘯𝘦𝘴𝘵𝘦 𝘮𝘶𝘯𝘥𝘰.❜

━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; País de Zou.
ᘡMagni D. Elisabette, Santa Praga. ❪O ponto de vista Dela❫

Acordei com a sensação de pressão esmagadora nas laterais da cabeça, como se algo estivesse comprimindo meu crânio, enquanto uma dor latejante pulsava na parte frontal, em ondas ritmadas e cortantes. O corpo parecia um peso morto, recusando-se a responder aos meus comandos, mas, com um esforço excruciante, consegui erguer a mão trêmula até o rosto. Os dedos deslizaram pela pele lisa e macia, arrancando-me um calafrio ── não fora um sonho.

Um suspiro exasperado escapou dos meus lábios, carregado de frustração. Frustração pelo que havia acontecido. Frustração pelo caos que causei entre os companheiros dela. Frustração por ter envolvido até mesmo o aliado deles na confusão. Lembranças fragmentadas surgiram em meio à névoa da dor ── vozes agitadas, discussões acaloradas. Trafalgar e Chopper trocando diagnósticos, conjecturando possibilidades sobre o que poderia ter acontecido com meu corpo. O som das palavras se sobrepunha, desfocado, quase indistinguível, como se tivessem sido ditas embaixo d'água.

Meus olhos vagaram pela cabana escura, as sombras dos corpos adormecidos projetadas nas paredes por frestas tímidas de luz. Chopper, Luffy e Trafalgar estavam espalhados pelo chão, suas respirações pesadas preenchendo o silêncio sufocante.

Eu precisava sair dali.

A droga das Extol ainda estavam comigo. Precisava entregá-las ao aliado deles, recuperar meu coração e acabar logo com essa maldita dívida que aquela idiota fez questão de negociar sem sequer pensar.

Prendi a respiração e reuni o que restava de força nos braços, fincando as mãos trêmulas no colchão improvisado antes de jogar o corpo para frente. Um erro.

A dor explodiu em minhas costelas como uma descarga elétrica, se espalhando em estalos afiados que pareciam perfurar cada osso. Meus dentes se cerraram em um reflexo automático para conter o gemido involuntário que ameaçou escapar. O mundo oscilou por um instante, e as bordas da minha visão se encheram de pontos brilhantes.

Fechei os olhos com força, buscando controlar a respiração instável, e, quando os abri novamente, o breu diante de mim pareceu ainda mais opressor. A única luz real vinha de um pequeno reflexo dourado que cintilava na penumbra, escapando da bolsa caída sobre uma cadeira.

As moedas.

Minha única saída.

Agora, finalmente, elas me salvariam da merda colossal que ela havia feito.

No entanto, meu corpo ardia em dor. Uma dor lancinante, tão insuportável que o simples ato de permanecer sentada, com o peso apoiado sobre a base do meu corpo, era o suficiente para me fazer querer rasgar a própria pele, arrancar cada nervo que latejava em agonia. Ela havia se segurado com Wyper. Ela havia hesitado porque sentiu pena, porque teve medo de matá-lo, porque sabia que podia se quisesse ── mas ela não queria. Ela se deixou levar pelos ideais ingênuos do Chapéu de Palha e seu bando, esquecendo de onde veio, esquecendo para o que nasceu: exterminar qualquer um que se opusesse a ela.

Virei o rosto apenas para me deparar com Trafalgar adormecido ao lado da cama, o corpo largado de qualquer jeito sobre uma cadeira, o semblante exausto denunciando que provavelmente esteve ali durante todo o tempo, esperando pelo meu despertar. Ou melhor, pelo dela.

Soltei um suspiro longo, revirando os olhos, sentindo cada músculo protestar contra o movimento. A fraqueza era esmagadora, cada gesto mínimo se transformava em um esforço sobre-humano. O que ela tinha na cabeça? O que a fez acreditar, nem que por um segundo, que resolveria tudo com essa tola tentativa de redenção? Se queria ser aceita, se queria se encaixar, agora só havia piorado tudo. Deveria ter ficado em silêncio. Deveria ter feito o que precisava ser feito, sem sentimentalismos, sem hesitação.

E agora, eu teria que explicar toda essa situação aos seus companheiros. Eu teria que lidar com as consequências das escolhas dela. E tudo isso apenas me trazia uma certeza absoluta: eu não sou ela. Porque ela morreu.

Eu não estou morta.

Você está.

Não estou.

Você não sabe lidar com o que tem em mãos. Você é fraca, ingênua demais. Burra. Já deveria ter morrido há muito tempo.

Não posso.

A dor na cabeça retornou, latejando incessantemente enquanto eu inspirava profundamente, tentando me manter lúcida ── sem ferir a mim mesma ou a qualquer outro que fosse imprudente o suficiente para estar perto e ao alcance das minhas mãos. Meus dedos deslizaram novamente pelos cabelos, encontrando pequenos inchaços no couro cabeludo, marcas indeléveis da luta contra Wyper. Um suspiro ficou preso na minha garganta quando uma pontada aguda irrompeu sob uma das feridas cobertas pelas ataduras ao redor do meu corpo, próxima ao seio esquerdo. Trinquei os dentes com força ── se Trafalgar não tivesse sido o responsável pelos curativos naquela área específica, então todos os companheiros dela já sabiam da minha condição atual: sem coração, literalmente.

Deixei o corpo afundar no colchão improvisado, sentindo a maciez do tecido me envolver como um manto quente e acolhedor, dissipando momentaneamente a dor, ainda que apenas pelo efeito dos analgésicos e anti-inflamatórios que, provavelmente, ainda estavam circulando no meu organismo. Caso contrário, eu estaria choramingando como uma completa imbecil.

Meus olhos vagaram até o teto rústico sobre nossas cabeças, um emaranhado de madeira, folhas de palmeira e palha, enquanto um suspiro escapava por entre meus lábios. Puxei o cobertor para mais perto, ajustando-o até o queixo, e, de relance, notei o corpo de Trafalgar prestes a tombar para o lado. Antes que ele caísse no chão, reuni forças e ergui o braço em um reflexo veloz, agarrando-o pelo pulso. Meus dedos se fecharam ao redor de sua pele fria, e, com um esforço que me fez prender a respiração, consegui impedir sua queda. Se tivesse batido a cabeça contra o chão, e sem exagero algum, provavelmente ficaria com um rombo no meio da testa.

Permiti que o silêncio se instalasse entre nós, puxando-o com delicadeza até que sua lateral repousasse contra a cabeceira da cama. Minha mão permaneceu sobre a sua pele por mais tempo do que o necessário, sentindo seu calor, a maciez sutil que contrastava com a frieza usual de seu olhar. Meus olhos vagaram até seu rosto adormecido, tão sereno, tão alheio ao caos que consumia minha mente. Honestamente, eu preferia que continuasse assim, sem saber ── sem carregar o peso de algo que sequer lhe pertencia. Mas ela... ela não conseguiu manter a boca fechada. Ela despejou tudo de uma vez, como uma criança desesperada por atenção, ansiando por um colo que jamais deveria ter almejado.

E, no entanto... não posso negar. O conforto que emana dele ── de Trafalgar ── é mais do que eu esperava. Mais do que ela esperava. No início, tudo me pareceu estranho; agi por impulso, joguei sobre os ombros dela a responsabilidade de resolver o que, no fim, recaiu sobre mim. Agora, estou aqui ── sem coração, envolta em uma dívida cuja salvação depende de uma bolsa repleta de Extol, uma quantia incerta que pode ou não ser suficiente. No fim, tudo dependerá dele.

E, no silêncio da noite, me pego questionando o que restará quando eu finalmente recuperar meu coração. Quando o elo que nos une se desfizer por completo ── a Febre das Árvores, a proteção, o coração ──, seremos ainda algo um para o outro? Ou tudo não passará de um instante fugaz, de um laço frágil que se dissipará no ar como se jamais tivesse existido? Depois de tudo... depois dos toques hesitantes, das carícias silenciosas, das súplicas murmuradas entre suspiros, dos beijos que carregavam mais promessas do que palavras... Depois de tudo que vivemos desde Punk Hazard, quando essa tênue linha entre devedor e cobrador começou a se desfazer, me pergunto se ainda haverá algo que nos ligue ── ou se, no fim, fomos apenas passageiros na história um do outro.

A voz dele soou distante, mas eu a ouvi com nitidez.

"Eu te amo."

Foram essas as palavras que Trafalgar Law, o temido Cirurgião da Morte, pronunciou para mim. Um sussurro abafado, quase inaudível, perdido entre o delírio do cansaço e a penumbra da minha consciência vacilante. Dividida entre o desejo de despertar por completo e a necessidade de repousar até que meu corpo enfim se recuperasse, ainda assim, eu o ouvi. Sua voz máscula, rouca, sempre tão grave, mas agora tingida de uma suavidade incomum, envolveu meus sentidos como um afago inesperado, um calor morno que me empurrou, de maneira delicada e inevitável, para o descanso. E assim, me permiti ceder. Deixei que os medicamentos e pomadas cumprissem seu papel, que o tempo seguisse seu curso, que a dor se dissipasse na escuridão do sono.

Um sorriso fraco ── quase imperceptível ── desenhou-se em meus lábios pálidos quando recolhi minha mão da dele, escondendo-a sob o cobertor. Meu olhar permaneceu fixo em seu rosto adormecido, permitindo-me absorver os traços que tanto haviam a fascinado. E, por fim, compreendi. Compreendi a atração dela, compreendi a fragilidade que ele lhe impunha, mesmo diante de sua força descomunal ── uma força que, nas Ilhas do Céu, comparariam à de um exército inteiro. Ela não entende completamente. Mas eu entendo.

É amor.

Desde o início. Sempre foi.

Mas ela tem medo.

Medo do depois, do amanhã, do que o futuro lhes reserva. Medo do que serão um para o outro quando a Aliança Ninja-Pirata-Mink-Samurai se desfizer. Medo do fim, da despedida inevitável, do momento em que precisarão encarar a verdade nua e crua: são piratas. De tripulações diferentes. Rivais em busca do mesmo tesouro, do mesmo poder que rege os mares.

E, no entanto, por mais óbvia que essa realidade pareça, algo em mim hesita. Algo em mim duvida. Trafalgar Law não é um homem que se deixa mover apenas pela cobiça do One Piece ── ele nunca disse que o desejava, nunca demonstrou essa ambição ardente que consome tantos outros. Seus olhos carregam algo mais profundo. Sua alma guarda um propósito oculto, um fardo não revelado. Assim como nunca explicou, com clareza, suas razões para desejar a queda de Donquixote Doflamingo, ele tampouco demonstrou estar pronto para compartilhar os segredos que o levaram até aqui.

E eu me pergunto: Trafalgar D. Water Law... o que aconteceu com você?

O que o fez trilhar esse caminho?

O que alimenta esse ódio silencioso que pulsa em suas veias, que transborda para além da sede de vingança contra Doflamingo? Algo nele parece mais... antigo. Algo que não pertence apenas ao passado recente, mas a uma dor que o moldou há muito tempo.

E eu queria saber.

Queria entender.

O amor... um sentimento tão paradoxal, tão absurdamente complexo. Um tormento doce, uma ruína inevitável. Ele me aquece e me consome, me liberta e me aprisiona. Amo Trafalgar Law, e sei que ele me ama de volta. Mas que diferença isso faz? No fim, o amor não passa de um alicerce frágil, uma mentira confortável que nos permite ter algo a que nos agarrar enquanto tudo ao nosso redor desmorona.

Os beijos são bons. O sexo, ainda melhor. Quando ele me toca, quando suas mãos me seguram com aquela firmeza calculada, sinto como se estivesse nos céus outra vez. Como se meu corpo deixasse de ser apenas matéria e carne, como se eu fosse arrancada da realidade e lançada para além do que é tangível. Como se nós dois, juntos, nos tornássemos algo maior, algo que não pode ser explicado, nem nomeado, apenas sentido. É como se eu já o conhecesse há vidas, como se esse amor sempre tivesse existido, adormecido em algum canto escuro da minha alma, esperando o momento exato para despertar.

Mas então me pergunto... esse amor que Trafalgar Law diz sentir, esse calor, esse desejo, essa urgência ── ele é para mim? Ou é para ela?

Será que o calor do seu corpo foi feito apenas para envolver a frieza da pele dela? Será que a umidade morna de sua língua só tocará os lábios dela? Será que ele afundará dentro dela, arrancando suspiros e gemidos cheios de amor e prazer, enquanto eu permaneço apenas como uma sombra, um eco distorcido daquilo que ela representa?

Porque, mesmo que sejamos as mesmas... não somos a mesma.

Nossos corpos são idênticos, nossa pele compartilha as mesmas cicatrizes, nossas mãos seguram a mesma dor. Mas eu nunca serei ela. Nunca fui. Nunca serei.

E ele? Ele percebe a diferença? Ele sente? Ou, para ele, só há uma?

Se nem meu pai percebeu, como ele perceberia? Ele, que surgiu na minha vida há poucos meses, não tem como enxergar o que sempre esteve diante dos olhos de todos e, ainda assim, permaneceu invisível. Se meu próprio pai nunca notou que minha cabeça sempre esteve ferida, como poderia ele? Ninguém nunca reparou. Ninguém nunca verá.

Foram anos aprendendo a me esconder, a me proteger, a manter tudo sob controle ── ou, pelo menos, a ilusão de controle. Mas tudo começou a ruir no instante em que um garoto de chapéu de palha apareceu cantando no Jardim Superior. Ele sorriu para mim. Como se me conhecesse. Como se enxergasse algo... bom em mim.

E foi ali que tudo começou a desmoronar.

Foi ali que ela viu uma fresta na minha muralha e se lançou para fora. Ela viveu o que eu nunca fui capaz de viver, sentiu o que eu nunca fui capaz de sentir, existiu de uma forma que eu nunca soube existir. E agora... agora eu vejo o que isso causou. Vejo o que fizemos. O que acabei permitindo.

Não posso deixá-la continuar.

Se ela continuar, vai se machucar ainda mais.

E, apesar de tudo, eu não quero que a única parte boa de mim seja destruída. Não quero que ela se quebre de uma forma irreversível. Não quero que ela sangre até não restar mais nada.

Eu preciso contê-la.

Antes que seja tarde demais.

Por fim, o cansaço físico e a exaustão mental tomaram-me por completo, arrastando-me para um torpor inevitável. As pálpebras, pesadas além do que deveria ser normal, caíam lentamente, enquanto meu corpo se entregava ao alívio ilusório do descanso, mesmo sob o peso da dor e da ardência persistente que castigavam minha pele.

Meus olhos permaneceram fixos no teto, mas a visão começou a se turvar, dissolvendo-se em um emaranhado de sombras indistintas. Os sons ao meu redor, antes tão nítidos, foram se distorcendo, tornando-se fragmentos dispersos de uma realidade que se esvaía. O canto estridente das cigarras e o farfalhar insistente dos grilos, antes insuportáveis, passaram a soar como um zumbido longínquo e inconsistente. O piar das pequenas corujas ao redor, cujos chamados ecoavam suavemente na noite, foi se tornando um sussurro abafado, quase irreconhecível.

E então, sem resistência, fui vencida.

Afundei na inconsciência, arrastada por um sono profundo e inevitável, como se a própria escuridão me envolvesse em um abraço silencioso e absoluto.

A primeira sensação que me atingiu ao despertar foi a ardência provocada por Chopper ao remover cuidadosamente os esparadrapos que fixavam as gazes sobre minhas feridas. Apesar de toda a delicadeza de seus movimentos, não foi o suficiente para evitar a dor lancinante da pele sendo arrancada junto ao adesivo.

Senti os olhos arderem com a dor aguda, mas me esforcei para manter a compostura, recusando-me a ceder às lágrimas que ameaçavam se formar por causa do incômodo da pele repuxada e dos pelos sendo arrancados. Trinquei os dentes por um instante e inspirei profundamente, percebendo que, embora meu corpo estivesse menos dolorido, ainda me sentia demasiadamente leve. A ausência das asas era uma lacuna quase física, desestabilizando meu equilíbrio, como se a perda delas tivesse alterado até mesmo minha postura.

Desviei o olhar para a pequena rena, que me observava com atenção. Chopper sorriu de forma gentil e, com um gesto leve, tocou minha cabeça com o casco ── um cumprimento silencioso, um consolo sutil para alguém que acabava de despertar após uma surra.

- Bom dia, Lis! Como se sente? Você dormiu bastante depois que fiz os curativos e parou de choramingar assim que apliquei os analgésicos. ─ ele sorriu, pegando um pão de batata e me estendendo.

- Me sinto... melhor. ─ respondi sem rodeios, mantendo o olhar fixo no dele. Então, enfiei o pão inteiro na boca, sentindo minha bochecha inchar do lado em que mastigava. - Cadê o pexoal?

- Bem, Nami, Luffy e Brook estão se preparando para irmos até Whole Cake buscar o Sanji, pois o casamento será em alguns dias. Robin, Franky, Zoro e Usopp estão lá fora. Daqui a pouco, vêm ver você.

- Espera... Quando vocês vão para Whole Cake?

- Ainda esta tarde. ─ o pequenino suspirou, me lançando um olhar culpado. - Queríamos esperar até que você estivesse recuperada, mas tememos não chegar a tempo de impedir que o Sanji cometa uma loucura.

- Ah, Chopper, que isso? Eu vou ficar bem, tá legal? Não é como se eu não soubesse fazer alguns curativos sozinha. Além do mais, a Robin pode me ajudar. ─ dei-lhe um sorriso, embora a ideia de continuar acamada me irritasse de certa forma.

- Quanto a isso... o Tral se ofereceu para cuidar dos seus ferimentos e... te ajudar, caso precise de fisioterapia.

- Fisioterapia? Por que eu precisaria de fisioterapia!? ─ arregalei os olhos, franzindo o cenho, confusa e intrigada com sua constatação.

Chopper suspirou, coçando a lateral do focinho antes de responder com o tom paciente e gentil de sempre, mas também carregado de preocupação genuína.

- Lis, você teve asas a vida inteira. Seu corpo se desenvolveu com elas, seus músculos, sua postura, seu equilíbrio... tudo foi condicionado à presença delas. Agora que não as tem mais, seu corpo precisa se adaptar a essa nova realidade. Você pode não perceber de imediato, mas a falta das asas afeta a sua coluna, o jeito que você se movimenta, até mesmo a forma como respira.

Ele fez uma breve pausa, observando minha expressão tensa antes de continuar:

- Seu centro de gravidade mudou, o que pode te fazer tropeçar ou sentir tonturas com mais frequência. Alguns músculos que antes sustentavam o peso das asas podem atrofiar se você não exercitá-los, e outros, que nunca precisaram trabalhar tanto, podem acabar sobrecarregados. Se não cuidarmos disso agora, pode acabar desenvolvendo dores crônicas ou até problemas mais graves no futuro.

Chopper cruzou as patas e me lançou um olhar firme, mas cheio de empatia.

- Não é questão de ser forte ou fraca, Lis. Seu corpo passou por uma mudança drástica, e é natural que precise de ajuda para se reajustar. E é pra isso que a fisioterapia existe.

De imediato, não respondi. Apenas mantive o olhar fixo nos olhos grandes e redondos de Chopper, duas esferas castanhas que refletiam a luz do ambiente com uma inquietação quase infantil. Meus lábios permaneceram comprimidos em um silêncio deliberado, pois sabia que minha expressão ── fria, analítica, carregada de uma tensão difícil de nomear ── poderia deixá-lo desconfortável. Ainda assim, assenti levemente, desviando o olhar, buscando refúgio em qualquer detalhe ao redor que me distraísse do caos que pulsava dentro de mim. Pensamentos fragmentados se atropelavam, ruídos ecoavam como gritos distantes em minha mente, e a sensação de desconexão com a realidade tornava cada segundo insuportavelmente lento.

Chopper continuou falando. Sua voz, normalmente reconfortante, soava distante, como se atravessasse um nevoeiro denso. Mencionou minha recuperação, as muletas que Franky havia construído para mim, a oferta de Trafalgar para me auxiliar na ausência dele, as instruções médicas que eu deveria seguir à risca para acelerar o processo de cura.

"Se fizer tudo certo, logo poderá andar sem apoio."

Palavras simples, pragmáticas. Mas nada soava simples dentro de mim.

Usar muletas? Isso não era um problema. Já havia usado antes. Não era a primeira vez que me via forçada a depender de algo externo para seguir em frente. O problema real era ela. O quanto ELA me havia fodido de um jeito irreversível. Quando pensei que finalmente nos livraria de Wyper, ela cedeu. Fez uma aposta estúpida. Uma escolha idiota. Uma decisão que nos trouxe até aqui.

Mas não posso permitir que isso me afete agora. Preciso focar. Preciso me reerguer. Meu corpo pode estar fraco, instável, despedaçado, mas minha determinação precisa ser mais forte. A Tenshi Tenshi no Mi... eu ainda al arranhei a superfície do que posso fazer com esse poder, e não há tempo para hesitação. Wano nos espera, e eu sei que a dificuldade será imensurável. Enfrentar um Shichibukai já foi um inferno. Agora estamos lidando com um Yonkou.

Não posso falhar.

Ela falhou.

E eu não cometerei o mesmo erro.

Não como aconteceu com Enel.

Por Luffy, eu...

Eu não sei até onde poderia ir. Não sei o que seria capaz de fazer.

Mas sei que, de alguma forma, preciso levá-lo até o topo.

Depois de um tempo, Chopper anunciou que precisava se retirar para se preparar para a partida com Luffy, Nami e Brook, deixando-me sozinha na cabana. O silêncio preencheu o espaço ao seu redor, mas dentro de mim, tudo era ruído ── pensamentos desordenados, urgentes, esmagadores. Soltei um suspiro longo, apoiando as costas contra a cabeceira da cama, e meus olhos se fixaram na bolsa largada sobre a cadeira.

Eu precisava do meu coração de volta. Agora.

Não importava se não tinha moedas o suficiente, se Trafalgar se recusasse ou se tentasse argumentar ── ele iria me devolver meu coração por bem ou por mal. Eu sentiria seu peso dentro do meu peito outra vez, seu pulsar rítmico ecoando através da carne e dos ossos, me ancorando na realidade. Eu não poderia continuar assim, esse vazio me corroendo por dentro, essa ausência que fazia meu próprio corpo parecer um espaço oco, uma concha vazia.

Agarrei a cabeceira da cama, preparando-me para levantar, mas no instante seguinte, um cheiro familiar de frango assado impregnou no ar, denso e inescapável, invadindo minhas narinas e paralisando meu movimento. O calor de uma presença conhecida se fez sentir antes mesmo de eu vê-lo. Meu corpo soube antes da minha mente. Luffy.

Agarrei o lençol com força, tentando ignorar o arrepio involuntário que percorreu minha espinha. Respirei fundo, forçando-me a acomodar-me novamente, a fingir que nada acontecia, que nada estava fora do lugar dentro de mim.

Foi então que ele entrou.

Luffy surgiu na cabana com sua despreocupação característica, segurando uma coxa de frango enorme em uma das mãos, o rosto lambuzado de molho, os olhos brilhando com aquela inocência infuriantemente desarmante. E, por um instante, enquanto ele mastigava com um sorriso satisfeito, como se nada no mundo pudesse estar errado, senti a tênue linha entre realidade e ilusão estremecer.

- Ei, Lis! O Chopper dixe que tinha acordado, então vim te ver! ─ exclamou ele com um sorriso radiante, pulando na cama e sentando-se na ponta, ainda assim permanecendo perto de mim. - Como tá, hein?

- Estou melhorando. ─ respondi, retribuindo o sorriso enquanto um calor reconfortante se espalhava pelo meu peito com sua presença.

- Que bom!

- Sim...

Permaneci em silêncio, observando-o devorar a carne suculenta, o som de seus dentes rasgando as fibras brancas preenchendo a cabana com um ritmo quase hipnotizante. A satisfação estampada em seu rosto era tão genuína que, por um instante, senti um ímpeto de abusar da nossa amizade e pedir uma mordida. Mas não o fiz. Apenas continuei a observá-lo, deixando que a confusão dentro de mim se tornasse um nó apertado, sufocante.

Ele sempre foi assim ── tão alheio, tão despreocupado com tudo que me cerca. Isso sempre me fez questionar: por que me trouxe com ele? O que há em mim que o cativou a ponto de ignorar minhas recusas, de não se importar com o que fui ou com os fantasmas que carrego? Ele simplesmente me quis ao seu lado, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Confiou-me a vigia de seu navio, entregou-me de mãos beijadas o posto de sentinela, sem hesitar, sem questionar.

Mas como? Como pode ter tanta certeza?

Eu, entre todas as pessoas, sou a última a quem ele deveria confiar essa responsabilidade. Ele nunca parou para pensar que eu poderia ser uma ameaça? Nunca cogitou que eu poderia, a qualquer momento, voltar-me contra ele? Vingar meu pai?

E os outros? Nem Robin, nem Zoro, nem Sanji... ninguém nunca ponderou essa possibilidade?

Você não teria coragem.

Cale-se.

Você nunca faria mal a eles. Especialmente a ele.

Mandei calar a boca.

Você não pode-

- SILÊNCIO! ─ o grito escapou antes que eu pudesse contê-lo, cortando o ar como uma lâmina afiada.

Luffy parou de mastigar no mesmo instante. Engoliu o que comia e me encarou, os olhos brilhando com aquela curiosidade infantil, mas agora carregando algo mais ── algo intrigado, atento.

E eu só conseguia sentir o coração martelando contra minhas costelas, a respiração acelerada e a sombra da dúvida sussurrando no fundo da minha mente.

- Mas eu tô calado, oxi.

- Desculpe, eu só... ─ suspirei, desviando o olhar. - Às vezes ainda me pergunto o porquê.

- Hm? O porquê do quê? ─ ele inclinou a cabeça para o lado, coçando-a, e me arrancando um sorriso fraco.

- Por que você me trouxe. Sabe, mesmo sabendo de tudo o que fiz, de tudo o que eu era... e ainda sou. Você confia em mim para navegar ao seu lado. ─ sussurrei, meus olhos finalmente encontrando os dele, e percebi seu olhar se fixar no meu olho dourado. - Por quê?

Luffy apenas soltou um zumbido baixo, fechando os olhos enquanto levava a mão ao queixo, refletindo. Talvez estivesse apenas buscando uma resposta simples, despretensiosa, algo que me faria rir ou bufar em frustração. Mas, no fim, qualquer resposta vinda dele era válida. Sempre foi.

Desde que nos conhecemos, eu gostava de olhar para ele. Amava vê-lo. Amava tê-lo por perto. Eu o amava. De uma forma que não conseguia explicar, de um jeito que beirava o irracional. Tudo nele me acalmava e, ao mesmo tempo, me dilacerava. Sentia paz ao estar ao seu lado, mas, dentro de mim, algo gritava em fúria ── uma culpa silenciosa e corrosiva, uma traição que queimava em meu peito toda vez que lembrava do meu pai. O que eu sentia por Luffy não era normal. Não era saudável. Mas também não era algo que me faria feri-lo. Pelo contrário... era um amor que me fazia sofrer por ele. Que me fazia machucar a mim mesma sem sequer hesitar, sem me importar com as consequências.

- Porque cê é muito forte. Ah, e é bonita também! Cê parece uma amarílis branca! Já viu uma? ─ ele sorriu, pegando uma mecha do meu cabelo e enrolando-a entre os dedos.

- Uma amarílis branca...?

- É uma flor! Lá onde eu morava, tinha um monte delas. ─ explicou, ainda sorrindo, usando minha mecha loira como se fosse um bigode falso. - Elas são bonitas e bem branquinhas. Igual você.

- Então você me chamou para o bando porque sou bonita e forte? ─ murmurei, confusa.

- Bem... acho que também porque você precisava de um lugar para ficar, né? Se não, o pessoal lá de Skypiea ia fazer picadinho de você, mulher!

- Você nunca pensou que eu poderia te trair?

Luffy inclinou a cabeça levemente para o lado, seu olhar escuro e profundo fixando-se no meu.

- Você vai me trair?

Fiquei em silêncio, meus olhos presos aos dele, enquanto minhas mãos subiam até seu rosto, unindo nossas testas. A respiração de ambos se misturava em um compasso tenso, carregado de algo que não conseguíamos nomear. Não havia palavras, apenas um duelo silencioso, onde nossas vontades colidiam em um embate psicológico. Seus olhos diziam algo que eu não conseguia decifrar, enquanto os meus gritavam um desespero reprimido.

Estávamos ali outra vez. Como há dois anos. Como no dia em que tentei tirar minha própria vida, e ele simplesmente veio para cima de mim. Do mesmo jeito. Agarrou meu rosto, segurou-me firme, seus olhos cravando-se nos meus como se quisesse arrancar de dentro de mim todas as respostas que eu mesma não sabia. E eu o encarei de volta, sem desviar, com a mesma intensidade. Foi naquele instante, naquele sorriso que ele deu, que tudo começou.

Engoli em seco ao sentir suas mãos se moverem, agarrando as laterais da minha cabeça. Seus dedos se entrelaçaram em meus fios platinados, puxando-me para mais perto. O ar ficou preso em meus pulmões, sufocando junto com a incerteza do que viria a seguir. Eu sabia que alguém se aproximava da minha cabana, sentia a presença, mas ela não era forte o suficiente para me arrancar desse transe, dessa batalha muda entre nós.

- Eu nunca vou te trair, Chapéu de Palha. ─ minha voz saiu fria, ríspida, carregada de algo que nem eu mesma entendia. - Se um dia eu fizer isso, você pode me punir com as próprias mãos.

Os dedos dele apertaram ainda mais minha pele, como se testasse a veracidade das minhas palavras.

- Eu acredito em você.

- Por quê? ─ meus olhos se estreitaram, os dentes cerrando em frustração.

- Porque você é minha companheira. ─ o tom dele era firme, quase desafiador. Exatamente o mesmo que o meu.

Eu estava pronta para responder quando o ranger da porta da cabana ecoou pelo ambiente, arrancando-nos abruptamente do transe em que estávamos. Meu corpo enrijeceu no instante em que meus olhos se voltaram para a entrada, onde Trafalgar Law se erguia como uma sombra silenciosa. Ele segurava uma pequena maleta médica em uma das mãos, enquanto a outra sustentava a alça da mochila jogada sobre os ombros.

Um arrepio percorreu minha espinha quando percebi a mudança sutil ── mas ameaçadora ── em sua expressão. A aba de seu chapéu projetava uma sombra ainda mais escura sobre o rosto, ocultando parte de seus olhos acinzentados, que alternavam entre mim e Luffy com um olhar afiado, analítico.

Luffy, alheio à tensão crescente, simplesmente se afastou como se nada tivesse acontecido, um sorriso largo ainda estampado nos lábios. Cruzou os braços e acenou para o cirurgião, a despreocupação em seu tom quase um insulto à tensão que agora pesava no ar.

Trafalgar não respondeu. Seus dedos apertaram a alça da maleta, e as veias em seus braços se destacaram sob a pressão do aperto. Uma energia crua e furiosa irradiava dele, densa o suficiente para me fazer engolir em seco.

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