Chร o cรกc bแบกn! Vรฌ nhiแปu lรฝ do tแปซ nay Truyen2U chรญnh thแปฉc ฤ‘แป•i tรชn lร  Truyen247.Pro. Mong cรกc bแบกn tiแบฟp tแปฅc แปงng hแป™ truy cแบญp tรชn miแปn mแป›i nร y nhรฉ! Mรฃi yรชu... โ™ฅ

โ”โ” ๐–ฅ” ึด เผ‹ ุŒ ๐Ÿฒ๐Ÿฏ. ๐—œ๐—ป๐—ถ๐—บ๐—ถ๐—ด๐—ผ๐˜€. | ๐Ÿ”ž

๐—–๐—”๐—Ÿ๐—Ÿ ๐—ข๐—™ ๐—ฆ๐—œ๐—Ÿ๐—˜๐—ก๐—–๐—˜, ๐˜ต๐˜ณ๐˜ข๐˜ง๐˜ข๐˜ญ๐˜จ๐˜ข๐˜ณ ๐˜ฅ. ๐˜ธ๐˜ข๐˜ต๐˜ฆ๐˜ณ ๐˜ญ๐˜ข๐˜ธ.
๐˜ญ๐˜ข๐˜บ๐˜ฐ๐˜ถ๐˜ต ๐˜ฃ๐˜บ ๐˜ฏ๐˜ช๐˜ฏ๐˜ข, ๐˜ข๐˜ฌ๐˜ฎ๐˜ข๐˜ฏ๐˜ฎ๐˜ช.

โ›๐’ฏ๐˜ถ๐˜ฅ๐˜ฐ ๐˜ฐ ๐˜ฒ๐˜ถ๐˜ฆ ๐˜ฆ๐˜ถ ๐˜ง๐˜ช๐˜ป ๐˜ฏ๐˜ข ๐˜ท๐˜ช๐˜ฅ๐˜ข,
๐˜ฆ๐˜ถ ๐˜ง๐˜ช๐˜ป ๐˜ฑ๐˜ฐ๐˜ณ ๐˜ฆ๐˜ญ๐˜ฆ. โ„ณ๐˜ข๐˜ด ๐˜ข๐˜จ๐˜ฐ๐˜ณ๐˜ข ๐˜ฆ๐˜ญ๐˜ฆ
๐˜ง๐˜ฐ๐˜ช ๐˜ฆ๐˜ฎ๐˜ฃ๐˜ฐ๐˜ณ๐˜ข, ๐˜ฆ ๐˜ฆ๐˜ถ ๐˜ข๐˜ช๐˜ฏ๐˜ฅ๐˜ข ๐˜ฆ๐˜ด๐˜ต๐˜ฐ๐˜ถ ๐˜ข๐˜ฒ๐˜ถ๐˜ช.โœ

โ›๐“ฅ๐˜ฐ๐˜ค๐˜ฆฬ‚ ๐˜ฆฬ ๐˜ฆ๐˜ด๐˜ฑ๐˜ฆ๐˜ค๐˜ช๐˜ข๐˜ญ ๐˜ฑ๐˜ฐ๐˜ณ๐˜ฒ๐˜ถ๐˜ฆ
๐˜ฏ๐˜ข๐˜ด๐˜ค๐˜ฆ๐˜ถ ๐˜ฏ๐˜ฆ๐˜ด๐˜ต๐˜ฆ ๐˜ฎ๐˜ถ๐˜ฏ๐˜ฅ๐˜ฐ.โœ

โ”โ” Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Paรญs de Zou.

O canto suave dos pรกssaros comeรงou a ecoar pelo cรฉu de Zou, embalado pela brisa gรฉlida da alvorada, que, aos poucos, se aquecia sob a ascensรฃo do sol no horizonte, derramando seus raios dourados sobre o mundo adormecido. No รญntimo de um refรบgio compartilhado, Elisabette suspirou preguiรงosamente, enroscando-se ainda mais contra o corpo esguio ao seu lado, buscando refรบgio nos braรงos firmes que a envolviam, mantendo-a segura, protegida, como se pertencesse ร quele lugar desde sempre.

A noite fora fria e densa, repleta de silรชncios carregados e palavras nรฃo ditas, mas terminara da รบnica maneira possรญvel para dois seres que, sem precisar de promessas, compreenderam que pertenciam um ao outro โ”€โ”€ na confianรงa cega dos olhares partilhados, no calor dos corpos entrelaรงados, na entrega devota do prazer que se fez linguagem entre eles.

Seus membros se enredavam como se temessem a separaรงรฃo, seus corpos compartilhando o calor reconfortante do toque. Quando Elisabette se moveu, ameaรงando despertar e escapar daquele abraรงo, um resmungo grave rompeu o silรชncio. Law, ainda sem abrir os olhos, apertou-a contra si, prendendo-a em seu domรญnio, fazendo com que ela voltasse o olhar sonolento para ele, os cรญlios pesados pelo torpor do despertar.

Mesmo de olhos fechados, ele sentia โ”€โ”€ como se fosse um sexto sentido โ”€โ”€ que era observado. Um bocejo rouco e profundo escapou de seus lรกbios, o som reverberando entre eles como um chamado silencioso, convidando-a a permanecer ali, onde ele queria que ela estivesse: junto a ele.

- Desta vez, vocรช fica atรฉ que eu diga o contrรกrio. Nas duas รบltimas vezes, vocรช aprontou. โ”€ a voz de Trafalgar soou grave e impositiva em seus ouvidos, com aquela sensualidade natural que fazia um arrepio percorrer sua espinha, arrancando-lhe um arfar involuntรกrio.

- Jรก amanheceu... โ”€ murmurou, ainda grogue pelo sono, os lรกbios se curvando em um beicinho preguiรงoso enquanto afundava a bochecha contra a dele. - Law-san, suas bochechas sรฃo tรฃo macias... โ”€ acrescentou em um sussurro manhoso, roรงando o rosto no dele em um gesto carente.

- Tch. Vocรช รฉ grudenta demais... โ”€ a queixa soou quase como um ronronar indulgente, um sorriso malicioso brincando no canto dos lรกbios do moreno enquanto sua mรฃo deslizava atรฉ o quadril dela, apertando-o com possessividade e traรงando cรญrculos sobre sua pele quente.

- Hein? โ”€ provocou, os olhos ainda semicerrados, mas reluzindo travessura. - Vocรช fala como se nรฃo gostasse...

Law ergueu o corpo, posicionando-se entre as pernas dela, o olhar predatรณrio capturando cada mรญnima reaรงรฃo de sua amada. Com um braรงo firme sustentando a curva delicada de seu pescoรงo e o outro envolvendo sua cintura, inclinou-se para selar seus lรกbios em um beijo lento e carregado de desejo, sua respiraรงรฃo misturando-se ร  dela. Enquanto seus corpos se fundiam, ele encontrou seu caminho para dentro dela com precisรฃo e anseio, encaixando-se perfeitamente no calor que o envolveu de imediato. Um grunhido rouco escapou de sua garganta ao sentir o aperto macio e escaldante da boceta dela o engolindo por inteiro.

Elisabette suspirou, a pele arrepiando-se sob o toque febril. Suas mรฃos deslizaram atรฉ as costas dele, os dedos afundando sem piedade em sua pele, arranhando e marcando-o a cada movimento profundo e impiedoso que ele desferia contra ela. O prazer era avassalador, tรฃo intenso que beirava a dor, e por um momento, sentiu-se como se fosse partir ao meio a qualquer instante.

Os sons de seus corpos se chocando ecoavam suavemente pelo ambiente, abafados pelas respiraรงรตes entrecortadas e pelos gemidos contidos que escapavam entre beijos e sussurros entrecortados. As mรฃos dele exploravam sua silhueta, arranhando e beliscando cada centรญmetro de pele que encontravam, deleitando-se com a forma como ela tremia sob seu domรญnio. Um sorriso satisfeito curvou seus lรกbios ao ver os rastros avermelhados que deixava nela, os olhos semicerrados brilhando com um prazer possessivo.

Num movimento sรบbito, ele a virou de costas, puxando-a para que se empinasse para ele, os quadris colidindo em um ritmo pecaminoso. A cada investida, suas nรกdegas chocavam-se contra o quadril dele, um espetรกculo tentador que apenas o atiรงava ainda mais. Os dedos dele se entrelaรงaram nos fios platinados de seus cabelos, puxando-os com firmeza, instigando-a a inclinar a cabeรงa para trรกs. Os olhos marejados dela buscaram os dele, que a fitavam com um desejo voraz e absoluto. Ele continuava a empurrar seus quadris contra ela, sentindo-a apertรก-lo deliciosamente em sua cavidade estreita, como se seu corpo o chamasse, como se apenas ele pudesse preenchรช-la daquela forma.

- Vocรช รฉ minha, entendeu? โ”€ a voz grave do maior deslizou pelo ar como um sussurro, fazendo-a arfar e apertar os olhos, dominada pelo arrepio que percorreu sua pele.

- Eu... eu nรฃo...

- Vocรช รฉ minha. โ”€ ele repetiu, sua voz cheia de autoridade e tesรฃo. No instante seguinte, sua palma pousou com firmeza sobre as nรกdegas dela, um estalo ecoando no ambiente silencioso. A pele pรกlida logo ganhou o contorno avermelhado de sua marca, enquanto um sorriso satisfeito curvava os lรกbios do moreno tatuado.

Elisabette gemeu, os lรกbios entreabertos tremendo ao perceber que seu gemido escapara alto demais. Antes que pudesse conter-se, sentiu Law inclinar-se sobre seu corpo, o calor de seu peito pressionando suas costas, enquanto as penas macias de suas asas roรงavam sua pele, provocando-lhe arrepios sutis.

A mรฃo que antes segurava seus cabelos deslizou atรฉ seu pescoรงo, envolvendo-o com firmeza. A pressรฃo sรบbita fez com que ela engasgasse, um gemido entrecortado escapando de sua garganta enquanto lรกgrimas deslizaram silenciosas por seu rosto.

Seus olhos se encontraram โ”€โ”€ os dela transbordando ternura e entrega, enquanto os dele cintilavam com luxรบria e desejo bruto. Por um instante, Law vacilou, hipnotizado pela forma como ela inclinava suavemente o rosto em sua direรงรฃo, atรฉ que suas testas se tocaram. O movimento, ainda que singelo, reacendeu nele uma fome avassaladora, e seus quadris voltaram a se mover com violรชncia, desferindo investidas intensas e profundas que a preenchiam por inteiro, cada estocada pulsando com a necessidade latejante que ele sentia por ela.

- Pode dizer que รฉ minha? โ”€ Law sussurrou contra sua pele, sua voz rouca e suplicante, enquanto seus lรกbios traรงavam beijos em sua bochecha. - Hein, passarinho? Diga que รฉ minha... Por favor...

- Eu... eu sou sua... โ”€ a jovem choramingou, a voz trรชmula e embargada pelo misto de dor e prazer que a consumia. Seu corpo estremecia a cada investida, o calor latejante que a preenchia tornando impossรญvel conter os soluรงos do prazer.

- Diga outra vez...

- Eu sou sua... โ”€ ela balbuciou em um gemido arrastado, sentindo o corpo arder sob as estocadas agressivas, os beijos dele marcando sua pele como se quisesse selar sua posse.

A forma como a sentinela havia falado despertou algo visceral dentro dele, quebrando os รบltimos vestรญgios de seu autocontrole e o fazendo mergulhar em uma necessidade primitiva e incontrolรกvel. Law ficou mais agressivo, mais faminto, suas mรฃos sedentas por possuรญ-la, reivindicรก-la, tornรก-la sua da รบnica maneira que sabia. Os olhos de Elisabette se arregalaram, os dentes trincando ร  medida que um formigamento avassalador percorria seu ventre, fazendo suas entranhas se contraรญrem a cada investida brutal. O toque firme dele segurava seu rosto, obrigando-a a encarรก-lo nos olhos, e no olhar dele, ela encontrou um caos devastador de desejo, amor e desespero.

Ele queria se perder nela outra vez. E de novo. E mais uma vez. Queria tomรก-la, ouvi-la gemer, vรช-la chorar de prazer, chamando por seu nome como se ele fosse a รบnica coisa que importava no mundo. Queria que ela delirasse, gritasse, que se entregasse a ele sem reservas. Queria marcรก-la, reivindicรก-la, tatuar seu nome em sua pele para que todos soubessem que ela lhe pertencia. Porque ela era dele.

Que se danasse o fato de que fazia parte de outro bando pirata. Que Luffy fosse para o inferno, que os Chapรฉus de Palha ardessem junto com ele. Elisabette era sua.

Os braรงos dela cederam, e seu corpo tombou para frente, exausto, mas isso nรฃo foi o bastante para fazรช-la recuar โ”€โ”€ nem para que Law abrandasse seu ritmo frenรฉtico. Com um movimento firme, ele segurou seu ventre com uma das mรฃos enquanto a outra mantinha-se firme em seu quadril. Os soluรงos manhosos de Elisabette se misturavam aos seus gemidos suplicantes, os dentes cravando-se no travesseiro enquanto seu corpo tremia, incapaz de conter o prazer que a consumia.

Quando a sentiu apertรก-lo com uma forรงa avassaladora, Law rosnou baixo, o prazer ameaรงando dominรก-lo por completo. Ele estava ร  beira do abismo, o corpo inteiro em chamas, tomado pela necessidade de se enterrar nela e perder-se para sempre. Por um instante, ele quase cedeu.

Com um grunhido frustrado, ele se afastou no รบltimo segundo, deixando-se derramar sobre as nรกdegas dela, ofegante e desorientado. Soltou o quadril dela, observando-a desfalecer contra os lenรงรณis, os cabelos desordenados, o corpo trรชmulo e o brilho de seu sรชmen escorrendo preguiรงosamente por sua pele pรกlida. O peito de Law subia e descia pesadamente enquanto ele levava uma mรฃo aos cabelos, tentando recuperar o controle sobre si mesmo.

Ele quase cometeu um erro irreversรญvel. Quase colocou tudo a perder. Porra, aquela mulher seria sua ruรญna.

- Law-san, minhas pernas estรฃo dormentes... โ”€ a Birkan choramingou dramaticamente, a voz abafada pelo travesseiro. - Como vou me vestir e tomar banho? Daqui a pouco, o capitรฃo vai chamar para o cafรฉ da manhรฃ...

- Vocรช tem asas para quรช?

- Que grosseria! โ”€ ela arregalou os olhos, indignada, franzindo o cenho, enquanto o mais velho apenas exibia um sorriso de escรกrnio.

- Perdรฃo, mas a culpa รฉ sua por ser gostosa. โ”€ as palavras escaparam antes que ele pudesse contรช-las, tรฃo naturais que atรฉ a si prรณprio pegaram de surpresa.

- Vocรช me acha "gostosa"? โ”€ um sorriso largo tomou os lรกbios dela, os olhos cintilando com surpresa e divertimento.

- Tch.

- Nรฃo faรงa "tch"! Diga de novo! โ”€ riu, zombeteira.

- Vai procurar o que fazer!

Elisabette era tudo para Law โ”€โ”€ sua perdiรงรฃo, sua maldiรงรฃo, sua bรชnรงรฃo, suas trevas e sua luz. Tudo o que ela fazia ou dizia exercia sobre ele um efeito avassalador, como se, dia apรณs dia, estivesse se moldando nรฃo apenas para se encaixar ao corpo dela, mas tambรฉm ao mundo que ela habitava, ร  forma como ela o enxergava.

A risada dela, por mais escandalosa que fosse, era para ele um bรกlsamo constante, uma prova inegรกvel de que, apesar de tudo o que haviam enfrentado em Dressrosa โ”€โ”€ apesar do sangue derramado e das cinzas espalhadas pelo vento โ”€โ”€, ela ainda estava ali. Seu coraรงรฃo ainda pulsava, seu peito ainda se enchia de ar, sua voz ainda ecoava no mundo e seu olhar permanecia vรญvido, brilhante, intenso.

Aquela mulher... aquela maldita mulher poderia pisoteรก-lo, esfaqueรก-lo, fazรช-lo chorar por amor, e, mesmo assim, ele jamais cederia ao รณdio ou ao ressentimento. Porque tudo nela o fazia se sentir vivo. A maldita Pirralha dos Chapรฉus de Palha o havia tornado um homem diferente โ”€โ”€ nรฃo melhor, nรฃo pior, apenas alguรฉm que experimentava sentimentos que jamais acreditou serem possรญveis para si. Ela era sua fortaleza, mas ele sabia que, um dia, ela tambรฉm seria sua ruรญna. E aceitaria a queda de bom grado, um sorriso nos lรกbios, se fosse ela quem o despedaรงasse em meio ao caos de uma guerra, seu corpo caรญdo em uma poรงa de sangue.

Ele se deitou sobre ela uma segunda vez, os braรงos envolvendo sua cintura esguia, e nรฃo tardou a salpicar beijos por sua pele, deslizando os lรกbios pela curva delicada do pescoรงo. Sorria preguiรงosamente ao ouvir a risada dela, suave e verdadeira, estremecendo sob o toque das cรณcegas. O som lhe pareceu uma melodia encantadora โ”€โ”€ e, por Deus, ele nunca se cansaria de ouvi-la.

- A que horas vocรช vai furar meus piercings, hein?

- Mais tarde, depois que vocรช tiver tomado banho e comido alguma coisa. โ”€ ele murmurou, a voz rouca deslizando como um sussurro contra seu ouvido.

- Vou ficar ainda mais bonita! Igual a vocรช! โ”€ ela sorriu com doรงura, virando-se para que ficassem frente a frente, as mรฃos delicadas envolvendo o rosto dele com carinho. - Vocรช รฉ tรฃo bonito.

- Vocรช jรก disse isso...

- E vou dizer de novo. Vocรช รฉ lindo.

Law a observou por um instante, os olhos suaves como se quisessem absorver cada detalhe dela. Entรฃo, num gesto raro de ternura, sorriu.

- Vocรช... รฉ maravilhosa.

As bochechas dela tingiram-se de um vermelho forte, assim como as orelhas e os ombros, que perderam sua habitual tonalidade alva para darem lugar a um rubor vergonhoso. Seus olhos encontraram os dele com uma admiraรงรฃo hesitante, enquanto a timidez a envolvia como um vรฉu, desconcertando-a com um simples elogio. Era apenas uma palavra, algo que jรก ouvira incontรกveis vezes โ”€โ”€ fosse da boca de Enel, dos Sacerdotes ou atรฉ mesmo de seus companheiros, especialmente Sanji. No entanto, quando se tratava de Trafalgar Law, o Cirurgiรฃo da Morte, um homem de poucas palavras, reservado ao ponto de beirar a introspecรงรฃo, qualquer elogio vindo dele soava como uma explosรฃo. Nรฃo havia como desviar, nรฃo havia como se proteger da forรงa daquele impacto. O fogo a consumia por completo, deixando-a em cinzas, vulnerรกvel diante do calor que ele despertava nela.

Quantas vezes jรก havia sido chamada de bonita, maravilhosa, bela? Inรบmeras, a ponto de perder a conta. Mas ouvir isso da boca de Law... aquilo era diferente. Era impossรญvel impedir que seu coraรงรฃo disparasse, mesmo que estivesse distante de seu prรณprio peito.

Elisabette sorriu, um sorriso tรญmido e melancรณlico, enquanto seus olhos suavizavam ao tocar a face dele com delicadeza. O polegar deslizou sobre sua pele em uma carรญcia sutil, memorizando o contorno do rosto que, em breve, estaria fora de seu alcance. Ela sabia que sentiria falta de tudo. Falta do contato pele contra pele, da voz rouca que fazia seu corpo arrepiar, das mรฃos quentes e firmes que a seguravam com uma possessividade protetora. Sentiria falta da forma como ele a tocava, da lรญngua dele deslizando sobre sua pele, dos olhares que a desnudavam sem precisar de palavras.

Mas, acima de tudo, sentiria falta dele. De tudo o que envolvia seu nome, sua presenรงa, sua existรชncia.

O coraรงรฃo dela sempre acelerava ao vรช-lo, tomado por todas aquelas tonalidades de azul, amarelo e preto que o faziam se destacar em meio ao seu olhar desprovido de cor. Ele sempre surgia assim, envolto em promessas nรฃo ditas, um chamado do silรชncio que fazia o amor parecer um pressรกgio temรญvel e a dor uma sentenรงa inevitรกvel โ”€โ”€ como se nem mesmo as mais fervorosas preces, sussurradas de joelhos sobre o milho, fossem capazes de arrancรก-la de seu peito.

Entretanto, quando o via sozinho, todas as dรบvidas que a atormentavam dissipavam-se como nรฉvoa ao amanhecer. Era como se, desde o momento em que viera ao mundo, estivesse, na verdade, morrendo um pouco a cada dia, esperando por ele.

Elisabette queria dizer-lhe para nรฃo temer, pois ela mesma jรก nรฃo sentia medo. E, no fundo de seu coraรงรฃo ferido โ”€โ”€ marcado por cicatrizes que se reabriam dolorosamente a cada segundo โ”€โ”€, pela primeira vez, ela admitiu para si mesma: amava-o.

Era um sentimento que a deixava insegura, mas, ao mesmo tempo, estranhamente serena, como se jรก o tivesse amado por mil anos e agora estivesse destinada a amรก-lo por mais mil.

- Preciso ir... โ”€ ela sussurrou, embora nรฃo fizesse nenhum movimento que indicasse, de fato, sua intenรงรฃo de se levantar da cama.

- Pode ir... โ”€ Law respondeu no mesmo tom baixo e sussurrado, os dedos deslizando suavemente pelos fios platinados dela em um afago quase inconsciente. - Nos vemos depois.

- Sim... depois...

- Me beije com forรงa antes de ir. โ”€ pediu em um murmรบrio quase inaudรญvel, o olhar fixo no dela, carregado de uma sรบplica silenciosa.

Elisabette sentiu uma pontada no peito ao perceber a maneira como ele a fitava naquele instante. "Como posso dizer 'nรฃo' a ele?", pensou, os lรกbios se curvando em um leve beicinho antes de puxรก-lo para um beijo ardente. Seus corpos se encaixaram com uma naturalidade quase instintiva, e um arrepio percorreu sua espinha quando sentiu o membro dele, jรก umedecido pelo prรฉ-gozo, roรงar provocativamente contra sua entrada. O toque incendiou seu ventre, fazendo-a estremecer e mover os quadris na รขnsia de senti-lo mais.

As lรญnguas se entrelaรงaram em um ritmo pecaminoso, explorando-se com uma fome insaciรกvel, enquanto carรญcias suaves e ao mesmo tempo ousadas deslizavam por suas peles aquecidas. O calor entre os dois os fazia arfar contra os lรกbios um do outro, atรฉ que se afastaram, a respiraรงรฃo entrecortada deixando um fino fio de saliva os conectando por um instante antes de se desfazer. O rubor tingia o rosto delicado de Elisabette, seus olhos enevoados pelo desejo, enquanto Law, mesmo exausto, exibia nas bochechas um tom rรณseo que o tornava ainda mais irresistรญvel.

Elisabette espiou para fora da cabana, seus olhos percorrendo as redondezas para se certificar de que ninguรฉm a veria saindo dos aposentos do outro capitรฃo pirata. Assim que constatou que a รกrea estava livre de olhares curiosos, retirou-se rapidamente, apressando os passos para garantir que estivesse de volta ร  sua cabana antes que fosse vista โ”€โ”€ e, principalmente, antes que Chopper despertasse de seu sono.

Ao chegar ao seu destino, soltou um suspiro aliviado, sentindo o peso da tensรฃo se dissipar. Seu olhar pousou sobre a pequena rena adormecida em sua cama, de barriga para cima, o peito subindo e descendo suavemente a cada respiraรงรฃo. Um sorriso involuntรกrio curvou seus lรกbios, e suas bochechas coraram diante da cena. Ele era adorรกvel! Chopper parecia um algodรฃo-doce, irresistivelmente fofo, e Elisabette sentia uma vontade imensa de apertรก-lo sempre que o via. Dormir abraรงada a ele era um privilรฉgio reconfortante, como segurar um urso de pelรบcia macio e quente.

A jovem caminhou atรฉ onde suas roupas e a toalha usada estavam, pegando um vestido branco-creme que lhe alcanรงava a metade das coxas, com delicados babados que se estendiam um pouco mais na parte de trรกs. Tambรฉm pegou uma calcinha de renda da mesma cor, enfiando ambas na bolsa. Ao fazรช-lo, seus olhos pousaram sobre algo familiar: seu casaco, amassado entre outros pertences. Mas foi o que estava logo abaixo que fez seu coraรงรฃo vacilar por um instante.

A Akuma no Mi que havia tomado na noite passada repousava ali, sua superfรญcie estranhamente hipnรณtica, desenhada em espirais que pareciam se mover sob a luz fraca do ambiente. Um arrepio gelado percorreu sua espinha, um instinto primitivo a alertando do perigo oculto naquela fruta proibida. Havia algo nela, algo que a chamava de forma insidiosa, um sussurro silencioso que parecia se enroscar em sua mente, tentando seduzi-la para um destino incerto.

Engolindo em seco, Elisabette desviou o olhar, recusando-se a ceder ร  tentaรงรฃo que comeรงava a enraizar-se em sua alma desde o momento em que sentira sua presenรงa pela primeira vez โ”€โ”€ lรก no topo da cabeรงa de Zunesha. E, ainda assim, mesmo sem encarรก-la, podia sentir aquela atraรงรฃo sombria pairando no ar, pulsando no fundo de sua consciรชncia como um convite perigoso ao desconhecido.

O dia transcorrera de forma tranquila, com os minks desfrutando da companhia dos humanos que estavam temporariamente hospedados em seu paรญs. Guloseimas eram distribuรญdas na tentativa de aliviar a tensรฃo da iminente viagem, enquanto os Chapรฉus de Palha se preparavam para zarpar rumo a Whole Cake nos prรณximos dias.

A ausรชncia de Sanji comeรงava a se tornar verdadeiramente incรดmoda. Nรฃo apenas sentiam a falta de seu companheiro carismรกtico e cavalheiro, dono de um coraรงรฃo gentil e uma simpatia natural, mas tambรฉm percebiam, com certo desespero, que nenhum deles possuรญa habilidades culinรกrias ร  altura do talentoso cozinheiro de olhos azuis.

Robin fora a primeira a se voluntariar para preparar o cafรฉ da manhรฃ, servindo tofu aos companheiros. Apesar do esforรงo, o grupo consumiu a refeiรงรฃo de forma mecรขnica, empurrando a comida garganta abaixo โ”€โ”€ nรฃo porque estivesse ruim, mas porque a ausรชncia da variedade de sabores e do toque especial de Sanji pesava mais do que o esperado. No almoรงo, Luffy tomou para si a responsabilidade de cozinhar e decidiu grelhar um peixe-boi. Contudo, em sua tรญpica imprudรชncia, acabou explodindo a fogueira e queimando a carne branca, o que resultou em uma refeiรงรฃo arruinada. Ainda assim, por pura empatia, os demais se obrigaram a comer para nรฃo desanimar o capitรฃo.

ร€ medida que a tarde avanรงava, os Chapรฉus de Palha reuniram-se novamente com seus aliados para discutir os planos futuros, antes de retornarem ร s festividades e distraรงรตes. Entretanto, Elisabette parecia distante. Seu olhar perdido e a mente inquieta denunciavam que sua atenรงรฃo estava em outro lugar โ”€โ”€ ou melhor, em outra pessoa.

Wyper.

Ela nรฃo sabia quando ele apareceria. Seria naquele dia? No seguinte? A incerteza consumia seus pensamentos, e a ansiedade corroรญa seu peito com um peso quase insuportรกvel. Temia o que poderia โ”€โ”€ ou nรฃo โ”€โ”€ acontecer quando finalmente estivessem frente a frente novamente, apรณs tantos meses de distรขncia. Afinal, seus reencontros nunca foram... amigรกveis. Muito menos calorosos.

Desde os dias de Skypiea atรฉ os confrontos em Upper Yard, cada reencontro entre os dois fora marcado por brigas, cortes e hematomas. Era sempre assim: uma batalha inevitรกvel travada em palavras rรญspidas e golpes ferozes.

Elisabette respirou fundo, tentando dissipar a inquietaรงรฃo que se instalara em sua alma. Colocou uma mecha de cabelo atrรกs da orelha e, num gesto automรกtico, voltou sua atenรงรฃo para Momonosuke, ajudando-o a amarrar seu rabo de cavalo samurai. Mesmo com as mรฃos ocupadas, sua mente continuava vagando, antecipando um futuro que parecia cada vez mais incerto.

- Aqui estรก, Momo-chan. โ”€ ela disse com um sorriso doce, ajudando-o a descer de seu colo e observando-o retribuir o gesto ao se olhar no espelho. - O que achou?

- Eu gostei! Valeu!

- E como vocรช se comportou muito bem e nรฃo reclamou enquanto eu penteava seus cabelinhos... โ”€ ela se ajoelhou ao lado dele e depositou um beijinho suave em sua bochecha. - Aqui estรก sua recompensa! E, se vocรช comer todos os legumes e vegetais do seu prato, amanhรฃ eu levo vocรช para dar uma volta pelo cรฉu.

- Uau! Sรฉrio?! โ”€ os olhos de Momonosuke brilharam, repletos de animaรงรฃo, enquanto ele a abraรงava com entusiasmo.

- Claro que sim. Por que eu mentiria para uma coisinha fofa como vocรช?

- Que legal! Eu vou comer tudinho!

Momonosuke saiu saltitante, deixando-a para trรกs com um olhar ameno e dรณcil. Aquele garoto era um verdadeiro encanto โ”€โ”€ mesmo apรณs uma vida marcada por tragรฉdias e provaรงรตes, ainda carregava uma inocรชncia intocada em seu olhar. Quando estavam juntos, Elisabette sentia que podia se permitir ser crianรงa novamente, brincar sem reservas, desenhar figuras tolas ou atรฉ mesmo estourar as bolhas de sabรฃo flutuantes que danรงavam ao redor deles quando era sua vez de lhe dar banho.

Ela permaneceu sentada, observando-o desaparecer de sua vista enquanto os pensamentos se enredavam em sua mente. Seus olhos desviaram-se da direรงรฃo por onde o pequeno samurai partira, buscando o cรฉu que, embora ainda claro, comeรงava a se tingir de laranja com a chegada do pรดr do sol. Desde que era apenas uma garotinha, sonhava em conhecer o mundo abaixo das Ilhas do Cรฉu, mas sonhos eram apenas sonhos, sempre distantes, inalcanรงรกveis. Afinal, nรฃo havia espaรงo para devaneios infantis quando precisava estar constantemente lutando para proteger e honrar Upper Yard.

Mas tudo mudou ao conhecer os Piratas do Chapรฉu de Palha. Pela primeira vez, ela viu o mundo como ele realmente era, enxergou um paraรญso alรฉm dos cรฉus com seus prรณprios olhos e experimentou uma liberdade que nunca acreditou ser possรญvel. Ainda assim, algo dentro dela permanecia acorrentado. Ela nรฃo se sentia livre. Nรฃo podia ser livre. Porque, nรฃo importava o quanto corresse, ainda perseguia a si mesma. Ainda corria atrรกs da sombra do que Enel representou um dia. Estava presa a um paradoxo que ela prรณpria havia criado ao ser arrancada de Skypiea โ”€โ”€ presa entre um passado que a chamava de volta e um presente que a obrigava a seguir em frente.

E agora, sentia sua mente se partir.

As dores de cabeรงa vinham com mais frequรชncia. Um latejar constante, como se algo em seu interior tentasse se libertar. A loucura espreitava nas frestas de sua sanidade, sorrateira, insinuando-se nos pensamentos que ecoavam como vozes conflitantes dentro de si. Sua mente se dividia em duas โ”€โ”€ duas versรตes de si mesma que se tornavam inimigas, travando batalhas invisรญveis em seu subconsciente. Quem era ela, afinal?

Era Elisabette, a sentinela dos Chapรฉus de Palha, subordinada de Luffy, temida pela Marinha como o Anjo da Morte?

Ou era Magni D. Elisabette, filha de Enel, a Santa Praga?

Ela nรฃo sabia. E, talvez, jamais soubesse.

Uma pontada aguda atravessou sua cabeรงa, fazendo-a trincar os dentes e apertar os olhos em reflexo. Instintivamente, levou a mรฃo ao local da dor, enquanto um suspiro ofegante escapava de seus lรกbios. Seu corpo se curvou levemente para frente, a respiraรงรฃo irregular, atรฉ que sentiu algo vibrar entre seus seios.

O Call Dial.

Seu peito subiu e desceu em um ritmo pesado ao perceber o que aquilo significava โ”€โ”€ Wyper estava ligando.

Ela hesitou por um instante, sentindo o suor frio escorrer pela testa. As pontadas na cabeรงa aumentavam em intensidade, pulsando como se algo dentro de seu crรขnio estivesse prestes a explodir. A dor se tornava cada vez mais lancinante, corroendo sua sanidade, tornando-a incapaz de ignorรก-la. Seu estรดmago se revirou, um enjoo sufocante subindo por sua garganta, enquanto franzia o cenho com frustraรงรฃo.

"Por Deus... o que estรก acontecendo agora?"

O pensamento ecoou em sua mente, acompanhando o gosto metรกlico que se formava em sua boca ao morder o lรกbio inferior. Entรฃo, tรฃo repentinamente quanto veio, a dor comeรงou a ceder, dissipando-se aos poucos, como se zombasse de sua fragilidade.

Mas o Call Dial ainda vibrava contra sua pele.

Com um movimento brusco, agarrou a concha e atendeu a ligaรงรฃo.

- Umbigo... โ”€ murmurou ela, a voz arrastada, enquanto seu corpo tombava para trรกs sobre o gramado. - Wyper?

"Elisabette, estou vendo Zou."

- Vocรช... vocรช estรก? โ”€ a jovem se sobressaltou, colocando-se de pรฉ no mesmo instante em que agarrava a Burn Bazooka e a pendurava no braรงo.

"ร‰ um ser colossal em movimento, nรฃo รฉ? O Vivre Card estรก me guiando nessa direรงรฃo", a voz do shandia soava confusa e levemente perdida, mas ainda mantinha a seriedade de sempre.

- Sim, รฉ exatamente isso. Jรก estou a caminho.

Elisabette lanรงou um olhar cauteloso ao redor, certificando-se de que nรฃo havia ninguรฉm por perto. Nenhum mink, nenhum de seus companheiros ou aliados. Provavelmente, todos estavam ocupados com algo trivial, tornando aquele o momento perfeito para desaparecer sem que ninguรฉm notasse sua ausรชncia.

Ajustando a bolsa contra o corpo, ela deslizou os dedos pelo casaco de plumas negras em suas costas, sentindo o peso da decisรฃo que estava prestes a tomar. Inspirou fundo, girou nos calcanhares e ergueu as asas, os olhos afiados e repletos de determinaรงรฃo. Aquela era a hora. Tudo finalmente chegaria ao fim.

Ela sรณ precisava encontrar Wyper e entregar o fruto. Entรฃo, tudo estaria resolvido... certo? Tinha que estar.

Mas, no fundo de sua mente, uma voz sussurrava uma verdade incรดmoda. Se a Tenshi Tenshi no Mi voltasse para Skypiea e fosse consumida por alguรฉm, o passado se dissolveria. Seu nome seria esquecido, a guerra civil cessaria e, com isso, nรฃo haveria mais culpa a assombrรก-la, nem remorso pesando sobre seus ombros.

Era o desfecho perfeito. E, ainda assim, algo dentro dela gritava que nรฃo seria tรฃo simples assim.

- Ei, Lis! Aonde vocรช vai? โ”€ de repente, Luffy apareceu, seu habitual sorriso largo a fazendo paralisar no lugar.

- Eu vou... vou atรฉ o Sunny pegar algumas roupas e tentar... tentar resolver o problema com Inazuma. โ”€ mentiu descaradamente, esforรงando-se ao mรกximo para manter o semblante neutro. - Precisa de algo, capitรฃo?

- Ah, nรฃo! Sรณ queria saber para onde vocรช estava indo. Shishishishi!

- Entendo... โ”€ um riso fraco escapou de seus lรกbios rosados, enquanto um leve rubor surgia em suas bochechas ao observar o garoto de chapรฉu de palha.

- Vai demorar?

- Nรฃo, logo estarei de volta. โ”€ respondeu, sustentando o sorriso, embora soubesse que sua "volta" talvez fosse incerta.

- Entรฃo te vejo mais tarde? โ”€ ele riu, cruzando os braรงos sobre o peito.

- Claro que sim.

Ela deu as costas para seu capitรฃo, que fez o mesmo, e os dois seguiram por caminhos distintos. Luffy retornou ao restante de seus companheiros, enquanto Elisabette se afastava deles a cada passo, sentindo o peito apertar e o estรดmago revirar conforme comeรงava a deixar a floresta e se aproximar das ruรญnas da cidade. A cada instante que se aproximava da entrada de Zou, sua ansiedade aumentava; provavelmente veria Wyper ao longe ou, na pior das hipรณteses, jรก o encontraria ali. Como seriam as coisas quando se reencontrassem? Iriam brigar, como sempre? Faziam meses que nรฃo se viam, e ela havia mudado tanto. Nรฃo era mais a mesma pessoa que havia saรญdo de Skypiea, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Sua pele estava queimada, cega de um dos olhos, e ela mancava de um lado. As mechas loiras em seus cabelos estavam mais nรญtidas, destacando-se com uma presenรงa mais forte entre os fios prateados que formavam uma cascata ondulada e reluzente ร  luz do sol e do luar.

A Birkan respirou fundo, sentindo um arrepio percorrer sua espinha enquanto acelerava os passos. Quando percebeu, jรก estava correndo, segurando a bolsa e a Burn Bazooka. Uma pressรฃo sobrenatural a impelia a correr o mais rรกpido que podia para encontrar Wyper e resolver aquela situaรงรฃo de uma vez por todas. Apรณs quase meia hora de corrida impetuosa, seus pรฉs sujos de terra frearam diante dos portรตes do paรญs, levando-a a encarar o horizonte alรฉm de Zunesha. Inquieta e sentindo seu coraรงรฃo acelerar a um ritmo distante, ela rodou o corpo para olhar ao redor, percebendo que seu Mantra falhava devido ร  sua falta de concentraรงรฃo e ร  agonia que a consumia, ciente de que, a qualquer momento, o veria. Suas mรฃos foram atรฉ os seios, pegando o Call Dial. Assim que tentou ligar para o Shandia, a chamada nรฃo foi realizada, pegando-a desprevenida. Entรฃo, um grito ecoou por toda a regiรฃo, fazendo-a congelar de frio:

- Elisabette!

- Ah, aรญ estรก vocรช. โ”€ a jovem murmurou, seu olhar oscilando entre as personalidades que a atormentavam.

- Jรก faz um tempo. โ”€ Wyper disse, descendo de cima de Pierre, o pรกssaro de Gan Fall. - O que aconteceu com vocรช?

- Muitas coisas aconteceram comigo. โ”€ ela zombou, revirando os olhos em deboche. - Pegue isso. โ”€ sem aviso, lanรงou o Fruto do Diabo em sua direรงรฃo, que ele agarrou imediatamente.

- Certo, agora vamos.

- Como assim, "agora vamos"? Que parte do "eu nรฃo vou voltar nunca mais" vocรช nรฃo consegue entender?

- Vocรช acha que eu quero que vocรช volte? Depois de tudo que testemunhei nas Ilhas do Cรฉu nos รบltimos meses, sou a รบltima pessoa que deseja seu retorno. Para mim, vocรช deveria ficar aqui e morrer aqui. โ”€ ele retrucou, o olhar afiado e enraivecido enquanto avanรงava em sua direรงรฃo com agressividade, fazendo-a recuar e adotar uma postura defensiva. - Mas vocรช precisa e vai lidar com as consequรชncias dos seus crimes, goste ou nรฃo.

- Eu nรฃo tenho culpa se a populaรงรฃo decidiu enlouquecer e se voltar uns contra os outros por minha causa! โ”€ Elisabette gritou, seus olhos adquirindo um brilho azul elรฉtrico enquanto cerrava os punhos.

- Pode nรฃo ser sua culpa que eles optaram por isso, mas vocรช รฉ responsรกvel pelo que desencadeou. Vocรช, seu pai, aqueles malditos sacerdotes; todos tรชm uma parcela de culpa! E sabe o que รฉ pior? Nenhum de vocรชs estรก pagando pelos crimes que cometeu! โ”€ ele se exaltou, agarrando-a com forรงa pelo braรงo, fazendo-a trincar os dentes e franzir o cenho. - Eu tentei ser seu amigo, tentei ter empatia, mas apรณs tudo que testemunhei, nรฃo consigo mais! Como vocรช consegue viver tranquilamente sabendo que um paรญs inteiro estรก em declรญnio por sua causa?

- Acha que estou tranquila?!

- Nรฃo acho, tenho certeza; basta olhar para o seu rosto!

- Eu sou a que mais sofre com isso tudo! โ”€ a jovem gritou novamente, mas um riso escapou de seus lรกbios acidentalmente, como se zombasse de si mesma naquela situaรงรฃo.

- Sua cรญnica!

Com a guarda baixa devido ao Mantra desativado, Elisabette nรฃo teve tempo de reagir antes que o punho de Wyper encontrasse seu rosto com brutalidade. O impacto a fez cambalear para trรกs, os dentes se chocando com violรชncia ao ponto de abrir um corte profundo em sua lรญngua. O gosto ferroso do sangue invadiu sua boca enquanto gotas carmesins se misturavam ร  saliva e voavam pelo ar. O mundo girou ao seu redor, mas instintos afiados tomaram conta de seu corpo.

Ela girou no chรฃo, os pรฉs traรงando um arco no solo antes de impulsionar-se para frente em um salto รกgil, disparando um chute certeiro no estรดmago do shandia. Wyper foi lanรงado para trรกs, caindo de costas com um baque surdo, mas nรฃo perdeu tempo. Com um movimento rรกpido, sacou um Heat Dialยน e disparou uma rajada de chamas em sua direรงรฃo. Elisabette arregalou os olhos, jogando-se para o lado no รบltimo segundo, rolando pelo chรฃo enquanto o fogo devorava uma รกrvore atrรกs de si.

O calor abrasador fez seu corpo estremecer, mas ela se forรงou a reagir. Com um gesto รกgil, agarrou sua Burn Bazooka, impulsionando-se para o alto e lanรงando a arma antes de pegรก-la novamente no ar, mirando diretamente no oponente. O disparo explodiu em um clarรฃo azul intenso, mas Wyper desviou no รบltimo instante, escapando da onda destrutiva.

Antes que Elisabette pudesse recalcular sua ofensiva, Wyper ativou seu Milky Dialยฒ, traรงando um caminho de nuvens que se formavam sob seus pรฉs. Ele deslizou atรฉ ela com uma velocidade impressionante, pulando no รบltimo segundo e agarrando-a pelo pescoรงo. O peso do impacto a arrastou para baixo, e seus corpos rolaram pelo chรฃo em um embate caรณtico, trocando socos e joelhadas ferozes. O sangue dos dois pintava a terra, misturando-se ao suor e ร  poeira.

Num movimento desesperado, Elisabette concentrou Haki em sua testa e desferiu uma cabeรงada violenta contra Wyper. O impacto o fez pender para trรกs, atordoado, e ela aproveitou a brecha para agarrรก-lo pelos ombros e lanรงรก-lo longe. O tempo que ganhou foi suficiente para correr na direรงรฃo de sua Burn Bazooka caรญda no chรฃo. Seus dedos quase tocaram a arma quando uma dor lancinante rasgou suas costas. O grito de agonia escapou involuntรกrio, os olhos lacrimejando pelo ardor insuportรกvel.

Quando tentou se virar, foi subitamente cegada por uma explosรฃo de luz intensa. O Flash Dialยณ de Wyper fez sua visรฃo se apagar por completo, deixando-a vulnerรกvel. Os passos se tornaram trรดpegos, vacilantes, atรฉ que sentiu o vazio sob os pรฉs. O precipรญcio.

Antes que pudesse reagir, um chute certeiro atingiu seu rosto, lanรงando-a ao chรฃo. A escuridรฃo comeรงou a se dissipar aos poucos, a visรฃo retornando de forma distorcida e tremeluzente. A primeira coisa que enxergou foi a silhueta de Wyper correndo em sua direรงรฃo.

Trincando os dentes, sentindo o gosto amargo da prรณpria resistรชncia se esvaindo, ela ergueu a mรฃo para o alto. O ar encheu seus pulmรตes e, assumindo os riscos, ela soltou um grito ensurdecedor, despejando toda sua fรบria em um รบltimo ato de desafio.

- INAZUMA! โ”€ a foice voou para suas mรฃos, e no instante em que seus dedos envolveram o cabo, trovรตes rugiram pelo cรฉu, seguidos por um clarรฃo ofuscante. O estrondo fez o solo estremecer, e por um breve momento, Elisabette franziu o cenho, hesitante. Havia algo diferente. A arma pulsava em sua palma, faiscando com uma intensidade que nunca experimentara antes.

Um calafrio percorreu sua espinha quando percebeu que os raios nรฃo apenas a envolviam โ”€โ”€ respondiam a ela. Seus olhos percorreram a lรขmina reluzente, e um temor incรดmodo se instalou em seu peito.

- Agora sim... exatamente como hรก dois anos. โ”€ Wyper interrompeu o prรณprio avanรงo, seus olhos avaliando cada detalhe da postura de Elisabette. O brilho elรฉtrico refletia em seu rosto endurecido pela desconfianรงa. - Vocรช mudou, mas nรฃo tanto quanto eu imaginei, Praga.

A alcunha foi o estopim.

- Eu jรก avisei para nรฃo me chamar assim! โ”€ o grito de Elisabette rasgou o ar, carregado de raiva e eletricidade.

Com um giro รกgil da Inazuma, ela se lanรงou contra Wyper, deixando um rastro de faรญscas azuladas que faiscavam no ar como serpentes famintas. O trovรฃo rugiu mais uma vez, como se o prรณprio cรฉu antecipasse o impacto iminente.

A foice, carregada com uma eletricidade selvagem, liberou uma rajada de raios cortantes que rasgou o ar em direรงรฃo a Wyper. Ele tentou desviar, movendo-se com a velocidade de um guerreiro forjado no campo de batalha, mas nรฃo foi rรกpido o suficiente. Os relรขmpagos o alcanรงaram, traรงando cortes ardentes pelo seu braรงo. O cheiro de carne chamuscada impregnou o ar. Ele grunhiu, os olhos queimando de fรบria, e a encarou como se visse um espectro do passado.

Aquela visรฃo... outra vez.

Quantas vezes jรก havia enfrentado essa mulher? Quantas vezes seu rosto fora esmagado contra o solo? Quantas vezes ela tentara estrangulรก-lo com as prรณprias mรฃos? Quantas vezes esse ciclo de violรชncia sem fim se repetiria? Atรฉ quando aquele maldito fantasma continuaria a existir, zombando de tudo o que era justo?

Wyper estava cansado.

Exausto.

Exausto de ver o sangue de seu povo tingindo o solo por culpa de pessoas como ela. Exausto da guerra civil que devastava Skypiea, onde fanรกticos acreditavam que Elisabette era uma salvaรงรฃo enquanto outros a viam como a ruรญna final das Ilhas do Cรฉu. O peso dessa batalha estava sobre seus ombros, esmagando-o. Ele sabia que nรฃo era o รบnico. Seu povo estava farto. O mundo estava farto. Ninguรฉm mais suportava o fantasma de Enel.

O simples fato de vรช-la acolhida pelos Chapรฉus de Palha como se fosse uma vรญtima fazia seu estรดmago revirar. Agradecia a Luffy por salvar Skypiea, mas a ideia de Elisabette como aliada... isso o enojava.

A raiva explodiu dentro dele. Um grito cortou sua garganta, forรงando as lรกgrimas a retrocederem. Nรฃo. Nunca mais. Nunca mais derramaria uma lรกgrima sequer por Enel. Nunca mais se deixaria consumir pelo sofrimento que Elisabette causava. Nunca mais. Nunca mais. NUNCA MAIS.

Com as mรฃos firmes, agarrou a Burn Bazooka e disparou. O Milky Dial liberou uma trilha de nuvens, permitindo que ele se lanรงasse com uma velocidade absurda, tornando-se um borrรฃo letal. Antes que Elisabette pudesse reagir, a explosรฃo azulada a atingiu em cheio no peito.

Ela sentiu.

O impacto rasgou seu corpo por dentro, fazendo-a cuspir sangue no ar. A dor abrasava seus ossos, queimando-a como da รบltima vez, em Dressrosa. O grito escapou de sua garganta antes que pudesse contรช-lo, um som brutal que se misturava ao rugido dos trovรตes acima.

Mas ela nรฃo caiu.

Lutando contra a vertigem e a agonia que latejava em cada fibra de seu ser, Elisabette agarrou a Inazuma com mรฃos trรชmulas. Seu olhar oscilava entre o medo e a determinaรงรฃo. Ela queria gritar para que Wyper parasse. Queria que essa batalha nรฃo existisse. Mas ao mesmo tempo... nรฃo podia. Nรฃo queria.

Ela jamais se renderia.

Mesmo que isso significasse morrer.

Ou matรก-lo.

Era assim que sempre fora. Ela deveria ter aceitado isso antes. Mas nunca quis. Preferiu fingir que nรฃo. No fundo, porรฉm, a verdade sempre esteve ali, brutal, inegรกvel, implacรกvel.

E agora, ela estava sendo lanรงada contra seu rosto como um tapa cruel da vida: eles eram inimigos.

Sempre foram.

Desde o momento em que nasceram.

Desde o primeiro suspiro atรฉ o รบltimo.

A vida sempre fora assim para ela. Qualquer resquรญcio de felicidade que ousasse tocar Elisabette era arrancado sem aviso, sem piedade. O mesmo acontecia quando, por um breve instante, ela se sentia mais humana, mais viva โ”€โ”€ o mundo se encarregava de golpeรก-la com brutalidade, lembrando-a de que nada daquilo lhe era merecido. Nada de bom lhe pertencia.

E, ao finalmente aceitar essa verdade cruel, Elisabette fechou os olhos e respirou fundo, concentrando-se inteiramente na batalha, como tantas vezes fizera antes. Seu corpo relaxou, seus mรบsculos ficaram leves, e no instante em que o Mantra captou a aproximaรงรฃo de Wyper, ela agiu.

Desapareceu diante de sua vista em um movimento tรฃo rรกpido e preciso que ele sequer teve tempo de reagir. Antes que pudesse levantar sua arma, sentiu a lรขmina de Inazuma perfurar seu ombro. O impacto veio acompanhado de uma descarga elรฉtrica que percorreu seus nervos como fogo lรญquido. Seu corpo estremeceu, e seus olhos se arregalaram ao encarรก-la โ”€โ”€ Santa Praga.

O olhar dela era gรฉlido, sem vestรญgios de piedade ou hesitaรงรฃo. Onde quer que aquele lado dela estivesse adormecido nos รบltimos anos, agora ele despertava com forรงa total. E Wyper soube, naquele instante, que nรฃo haveria mais espaรงo para palavras.

Trincando os dentes, ignorando a dor lancinante no ombro, agarrou o cabo da foice e, com um movimento bruto, lanรงou Elisabette para longe. Seu corpo deslizou pelo solo, os pรฉs riscando o chรฃo atรฉ colidir violentamente contra o muro da torre dos portรตes de Zou. Uma rachadura se abriu na pedra com o impacto, e a poeira se ergueu ao redor dela.

A distรขncia entre os dois agora era mais do que fรญsica. De onde estavam, seus olhares se cruzaram, e os รบltimos dois anos reverberaram como ecos distantes. As risadas compartilhadas, o aprendizado mรบtuo, os olhares furtivos trocados ao longo do tempo โ”€โ”€ tudo aquilo se dissipava como nรฉvoa sob a luz cruel da realidade. O que antes poderia ter sido uma amizade agora desmoronava, revelando-se apenas um castelo de falsas esperanรงas.

Por fim, Wyper compreendeu que nรฃo havia saรญda fรกcil. Ou sairia dali com Elisabette morta em seus braรงos, ou ele mesmo seria jogado, sem vida, no mar.

Respirou fundo. Fechou os punhos. Se quisesse salvar as Ilhas do Cรฉu, teria de ignorar seu รณdio e agir com razรฃo. Um plano comeรงou a se formar em sua mente โ”€โ”€ arriscado, talvez insano, mas a รบnica chance que lhe restava.

- Tempo, Elisabette. โ”€ a voz dele cortou o ar como uma lรขmina afiada.

- Vai desistir? โ”€ o tom dela jรก nรฃo carregava a doรงura de antes. Havia se tornado frio, autoritรกrio, vazio de qualquer hesitaรงรฃo. Seus olhos, desprovidos de cor, refletiam apenas determinaรงรฃo e algo que beirava a indiferenรงa.

- Nรฃo.

Ele mal teve tempo de concluir a resposta antes que ela avanรงasse, a foice cortando o ar em um arco devastador. Wyper desviou por um triz, o impacto da lรขmina abrindo um sulco profundo no chรฃo onde ele estivera um instante antes.

- Vamos fazer uma aposta! โ”€ gritou, recuperando o fรดlego.

Elisabette ergueu uma sobrancelha. A cautela brilhou em seu olhar, mas um sorriso pรกlido e cรญnico danรงou em seus lรกbios.

- Uma aposta, hein? โ”€ ela se aproximou com passos lentos, meticulosamente calculados, atรฉ que suas respiraรงรตes quase se mesclaram no ar tenso entre eles. - E qual seria a sua aposta?

Sem hesitar, Wyper ergueu a Tenshi Tenshi no Mi diante dela. E, sem um segundo de dรบvida, partiu a fruta ao meio. Elisabette congelou. Seu olhar se estreitou, os dedos crispando levemente sobre a foice enquanto estudava cada movimento dele.

- Elabore.

- Nรณs dois comeremos uma metade da Akuma no Mi ao mesmo tempo. โ”€ a voz de Wyper era firme, carregada de um peso quase solene. - E, entรฃo, nos lanรงaremos ao mar.

O coraรงรฃo dela falhou uma batida.

- Se vocรช receber os poderes, virรก comigo para Skypiea. Mas se eu os receber... vocรช estarรก livre. Livre de seus crimes. Livre de sua perseguiรงรฃo. E eu mesmo me encarregarei de garantir que ninguรฉm mais vรก atrรกs de vocรช.

O silรชncio caiu sobre ambos, pesado como chumbo. A proposta era absurda. Irracional. Uma roleta russa cruel e impiedosa que fez algo se revirar no estรดmago de Elisabette. Mas ao mesmo tempo... uma chance. Uma possibilidade de redenรงรฃo, ou, ao menos, de fim.

- Isso รฉ um absurdo. โ”€ zombou, revirando os olhos, mas sua mente jรก trabalhava freneticamente.

Porque, no fundo, a insanidade daquela aposta era tentadora.

- ร‰ sim ou nรฃo.

Por um longo momento, ela apenas o encarou. O peso de uma decisรฃo irreversรญvel pairava entre os dois, e pela primeira vez em anos, Elisabette sentiu a incerteza rastejar por seus pensamentos. Entรฃo, sorriu.

- Certo, Wyper... vamos fazer do seu jeito, entรฃo.

A Praga soltou a foice. A lรขmina tombou no chรฃo com um baque surdo, esquecida no calor daquele momento fatรญdico. Seus dedos se fecharam ao redor de uma das metades da Tenshi Tenshi no Mi, enquanto a outra permanecia firmemente nas mรฃos do homem ร  sua frente.

O silรชncio entre os dois era absoluto. Um duelo sem palavras.

O sangue escorria pelo rosto dela, traรงando caminhos irregulares por sua pele pรกlida. Uma explosรฃo carmesim manchava a face delicada, misturada ao suor que borrava o delineado ao redor dos olhos, formando rastros escuros nas laterais do rosto. Seus lรกbios, feridos, tremiam levemente, e o gosto metรกlico da prรณpria vitalidade se misturava ao ar seco e carregado de poeira.

O vestido, outrora branco-creme, era agora um retrato de guerra โ”€โ”€ encardido de poeira, terra e sangue. Sangue dela. Sangue dele. Wyper estava igualmente ferido. O ombro aberto pulsava com uma dor quente e insistente, enquanto arranhรตes queimavam ao longo de seu braรงo. Seu nariz jorrava sangue, mas ele ignorava a ardรชncia latejante, o gosto ferruginoso escorrendo atรฉ seus lรกbios. Nada disso importava agora.

Em silรชncio, sem hesitaรงรฃo, eles caminharam atรฉ a beirada do traseiro de Zunesha.

Um รบltimo olhar.

Uma รบltima chance de recuar.

Nenhum deles o fez.

Ao mesmo tempo, ergueram os pedaรงos da Akuma no Mi ร  boca e engoliram.

O amargor pรบtrido da fruta rasgou suas gargantas, um gosto grotesco e pegajoso que os fez querer cuspir. Os fluidos espessos da fruta deslizavam como um veneno viscoso, revoltando seus estรดmagos em nรกusea imediata. Elisabette estremeceu, cuspindo saliva misturada com sangue no chรฃo, tentando se livrar da sensaรงรฃo repugnante. Wyper tossiu, engasgando-se momentaneamente, mas se recusando a ceder ร  fraqueza.

Por fim, suas mรฃos se entrelaรงaram.

E saltaram.

O vento cortou seus rostos como lรขminas invisรญveis, assobiando em seus ouvidos enquanto caรญam em queda livre. O coraรงรฃo de Elisabette martelava onde quer que estivesse, a adrenalina latejando nas veias como fogo lรญquido. Wyper manteve os olhos fixos no abismo abaixo, o mar crescendo rapidamente em sua visรฃo โ”€โ”€ um destino inevitรกvel, uma sentenรงa de morte.

Pierre, o pรกssaro de Gan Fall, se lanรงou atrรกs deles, suas asas se abrindo num golpe violento de vento. Seu corpo se transformou no majestoso Pรฉgaso, um clarรฃo dourado no cรฉu tempestuoso. Mas nรฃo foi rรกpido o suficiente.

Os corpos atingiram o oceano como estilhaรงos de vidro contra pedra.

Dor. Agonizante. Insuportรกvel.

A รกgua salgada os engoliu como um monstro faminto, o impacto dilacerando seus corpos e sufocando seus pulmรตes. Tudo se tornou um caos de escuridรฃo e desespero, e entรฃo โ”€โ”€ o silรชncio.

โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”


Bแบกn ฤ‘ang ฤ‘แปc truyแป‡n trรชn: Truyen247.Pro