𝗖𝗔𝗟𝗟 𝗢𝗙 𝗦𝗜𝗟𝗘𝗡𝗖𝗘, 𝘵𝘳𝘢𝘧𝘢𝘭𝘨𝘢𝘳 𝘥. 𝘸𝘢𝘵𝘦𝘳 𝘭𝘢𝘸.
𝘭𝘢𝘺𝘰𝘶𝘵 𝘣𝘺 𝘯𝘪𝘯𝘢, 𝘢𝘬𝘮𝘢𝘯𝘮𝘪.

❛𝒯𝘶𝘥𝘰 𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘶 𝘧𝘪𝘻 𝘯𝘢 𝘷𝘪𝘥𝘢,
𝘦𝘶 𝘧𝘪𝘻 𝘱𝘰𝘳 𝘦𝘭𝘦. ℳ𝘢𝘴 𝘢𝘨𝘰𝘳𝘢 𝘦𝘭𝘦
𝘧𝘰𝘪 𝘦𝘮𝘣𝘰𝘳𝘢, 𝘦 𝘦𝘶 𝘢𝘪𝘯𝘥𝘢 𝘦𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘢𝘲𝘶𝘪.❜

❛𝓥𝘰𝘤𝘦̂ 𝘦́ 𝘦𝘴𝘱𝘦𝘤𝘪𝘢𝘭 𝘱𝘰𝘳𝘲𝘶𝘦
𝘯𝘢𝘴𝘤𝘦𝘶 𝘯𝘦𝘴𝘵𝘦 𝘮𝘶𝘯𝘥𝘰.❜

━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Algum lugar do mar.
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫

Dois dias já haviam se passado e Inazuma ainda estava me causando choques sempre que eu tocava sua lâmina na tentativa de consertá-la. A situação tornava-se cada vez mais agonizante do que frustrante, pois eu não estava conseguindo lidar ou suportar as ondas de eletricidade, mesmo que fossem fracas e quase imperceptíveis. Foram tantos anos sendo imune que um simples choque, não importando quão fracos fossem os volts transmitidos, era capaz de me incomodar a ponto de causar dor e ranger os dentes de agonia.

E, obviamente, minha frustração tornava-se evidente para meus companheiros, assim como a maneira inconsciente pela qual eu me afastava deles para me isolar e tentar resolver aquele problema, junto com todos os outros que ocupavam minha mente - faltava muito pouco para eu não surtar, me atirar no mar e deixar que Wyper se encarregasse de resolver tudo sem que eu tivesse que me envolver ainda mais.

Minha relação com Law-san também estava começando a me incomodar mais do que eu imaginei que incomodaria, pois ele simplesmente não falava comigo, tampouco olhava para mim. Nas vezes em que tentei conversar com ele, ele me interrompeu ou apenas me ignorou, como se eu não estivesse ali. Foram atitudes inesperadas, especialmente após tudo o que vivemos não somente em Porzellanpuppen, mas desde Punk Hazard.

Quer dizer, ele cuidou de mim; fez de tudo para me manter viva até chegarmos a Dressrosa. Muitas coisas aconteceram e, depois de finalmente termos feito sexo, ele... parou? Ele finge que eu não existo mais? Eu esperava que algo assim pudesse acontecer, mas não imaginei que isso começaria a me afetar a ponto de eu pensar nisso o dia inteiro, embaralhando tudo na minha cabeça e perdendo o foco no que acontece ao meu redor para pensar nele.

Eu tentei ignorar inicialmente; contudo, não estava mais conseguindo. Sentia-me sufocada, pois a tensão entre nós dois tornava-se incômoda para ambos. Afinal, ninguém mais sabia o que havíamos feito naquela ilha, naquela pousada, naquele quarto e naquela cama. Todas as vezes em que nossos olhares se cruzavam ao longo do dia, era como uma discussão silenciosa, com a minha necessidade de respostas, desejando saber qual era a dele, enquanto ele se mantinha afastado, como se nada daquilo tivesse significado.

Tudo bem; pode não ter significado, deve ter sido algo que costumam chamar de "lance", mas, da mesma forma, isso não deveria ter mudado nada entre nós dois. Deveria? Ainda éramos aliados. Parceiros. Ainda iríamos lutar juntos pelo mesmo objetivo; morreríamos ou viveríamos pelo mesmo motivo. Então, por que?

Eu não queria pensar nessas questões. É fútil. Não me levará a lugar nenhum, assim como essas emoções que comecei a sentir por ele - esse desejo intenso que beira o absurdo, sendo quase impossível de se concretizar em algo sério além de meros beijos e toques íntimos e ousados. Somos de tripulações diferentes, unidos por um objetivo em comum, e, no instante em que essa aliança se desfizer, voltaremos a nos encarar no mar como bandos rivais na luta pelo One Piece e pela reivindicação do posto de Rei dos Piratas para o seu capitão, embora eu não tenha certeza de que seja, de fato, isso que o Cirurgião da Morte busca.

É verdade que ele planejava há anos derrotar Doflamingo, incluindo a queda de Kaido em seus planos, unindo o útil ao agradável. Mas e depois? O que ele fará depois? Ele não revela nada. Ele não me conta nada. Não que eu me importe; eu apenas... queria entendê-lo.

Eu gosto dele, porém... não da maneira convencional. Ele é encantador, possui uma beleza singular! Um tanto esquisitinho, seu humor é um pouco... fuleiro? Sim, definitivamente é. Bem, todos nós temos nossos defeitos, não é mesmo? Mas, ah... ele é tão... tão. Seus olhos são acinzentados, profundos e cansados... como uma manhã repleta de nuvens que prenunciam uma tempestade para uma tarde chuvosa. Ele é esguio, como se estivesse passando fome, mas sei que sob aquelas camisas largas e sobretudos há... músculos ocultos.

E suas mãos... caramba! Elas são macias e aveludadas, suaves como seda. O aroma que emana dele é tão agradável que, apesar de provocar uma leve irritação nas minhas narinas e fazer minha garganta coçar por razões que ainda me escapam, é inegavelmente encantador. Seu cheiro remete a uma flor - uma flor de fragrância delicada, mas ao mesmo tempo cítrica; e, às vezes, quando ele sai do banheiro, um perfume medicinal invade o ar - um aroma forte que causa aquela mesma reação.

Seus cabelos são sedosos e bem cuidados, reluzindo sob a luz do sol com um brilho azulado. As tatuagens que adornam sua pele são verdadeiras obras de arte; corações entrelaçados com chamas? Não sei ao certo se aquilo é fogo. Um rosto sorridente cercado por um coração em chamas e algo que se assemelha a penas... penas negras, talvez? Dizem que as tatuagens carregam significados profundos - memórias de quem partiu, eventos marcantes ou símbolos de suas paixões. Quais serão os significados das dele? São tantas... corações, sorrisos e algo que lembra engrenagens.

Trafalgar Law talvez seja a pessoa mais enigmática que já conheci; pois, enquanto conheço algumas facetas dele, outras permanecem obscuras. Ele fala sobre certas coisas, mas também omite tantas outras.

Meu olhar repousou sobre o caderno em minhas mãos - um "presente" que ele me oferecera - e percebi o esboço malfeito, os rabiscos tortuosos de um rosto que deveria ser o de meu pai. Engoli em seco e suspirei, sentindo uma angústia densa se apoderar de meu peito enquanto fitava a ausência de um rosto completamente delineado; restava apenas o contorno, desprovido de quaisquer traços que o identificassem. Mordi a bochecha por dentro e prendi a respiração, como se a realidade me socasse no estômago e esfregasse na minha cara a amarga verdade: a imagem de Enel estava se dissipando das minhas lembranças, sua voz começava a distorcer-se nas minhas memórias - eu estava esquecendo meu pai.

O que eu deveria esperar que acontecesse? Em algum momento, o inevitável ocorreria. Não o vejo há dois anos. Desenhos ou esboços preguiçosos não seriam suficientes para manter viva a sua lembrança em minha mente, nem mesmo reviver memórias seria capaz de preservar sua voz em meu subconsciente. Tentei segurar, agarrar com mãos nuas uma corda ardente de ácido - era uma tentativa fútil. Enel estava escapando de mim mais uma vez, mas agora, para sempre. Suas feições se esvaindo, sua voz desaparecendo; eu estava perdendo-o irremediavelmente. Nem mesmo o espelho poderia salvar-me, tampouco os outros desenhos que já fizera dele; afinal, cada um deles se transformava à medida que eu o esquecia. Um olhar diferente, o nariz maior ou menor, um sorriso excessivamente grande ou diminuto demais; o contorno de seu rosto se dissipando - tudo isso doía, doía intensamente. Uma dor que eu não suportaria por muito mais tempo; em algum momento, eu... simplesmente explodiria.

Não havia para onde correr, ninguém a quem me acolher; Bellamy não estava mais por perto para me confortar, para me segurar e dizer que tudo ficaria bem - eu teria que enfrentar essa dor sozinha, em silêncio. Luffy não entenderia, Zoro muito menos; Nami? Faria uma careta. Usopp fingiria compreender, mas não conseguiria ocultar seu olhar julgador. Sanji falaria coisas doces, tentaria expressar seu carinho por mim e diria que eu deveria seguir em frente, pois estaria melhor sem ele. Quanto a Robin? Não diria nada, mas me abraçaria e me seguraria como se eu fosse um filhote desamparado.

Todos eles me acolheriam; sei que sim. Entretanto, não é apenas acolhimento que desejo; anseio também que compreendam a dor que sinto, a falta que ele me faz e que... apesar de tudo, ele era meu pai.

Encolhi-me no canto do navio, segurando o caderno contra o peito enquanto apoiava o queixo nos joelhos, abrindo as asas para abraçar meu próprio corpo - como se isso pudesse me proteger de algo, talvez de mim mesma. Engoli um soluço que tentava escapar, fazendo força para contê-lo, empurrando-o goela abaixo e respirando fundo para suprimir o nó que se formava em minha garganta e a ardência nos olhos. Sentia-me à beira de um colapso, onde tudo o que eu poderia fazer seria gritar e chorar desesperadamente, como uma criança a lamentar a ausência do papai, ansiando pelo colo da mamãe.

"Chefe! Estou avistando algo há duas horas!"

A voz de um dos companheiros de Bartolomeu me tirou de meus pensamentos e me fez levantar de onde estava para voar até ele, assumindo o controle da situação e verificando o que ele estava observando. Pois bem, os subordinados daquele homem não eram tão eficazes em suas funções; ao menos, não permitiam que o navio afundasse com todos nós a bordo. Pedi licença e peguei o binóculo de suas mãos, trazendo-o até meus olhos - embora uma luneta fosse mais precisa, dada a minha condição atual. Assim que a névoa se dissipou minimamente, proporcionando uma visão clara do que havia à frente, meu estômago despencou e o sangue gelou instantaneamente.

- É UM MONSTRO! - gritei, descendo rapidamente do ninho do corvo até onde todos estavam. - É enorme, como uma montanha! Maior que um Rei dos Mares! Esá se movendo!

- Vamos lá ver! Um bichão do tamanho de uma montanha? - Luffy gritou entusiasmado, erguendo os braços em excitação. - Vamos lá ver! Aposto que rende um bom churrasco!

- Não, idiota! - Usopp interveio, agarrando o rosto de nosso capitão. - Antes de tudo, temos que sair desse nevoeiro! Senão, vamos bater em um recife e naufragar!

- Espere, God-ya.

- Você me chamou de "Deus"? Que lisonjeiro! Eu sou um homem de 200 milhões de berries e estou lisonjeado! - sua fala foi o suficiente para fazer com que não apenas a minha expressão, mas também a de Franky escurecesse em uma raiva genuína.

- Tenho certeza de que até os Almirantes da Marinha já sabem quem é você.

- Vixe! - Usopp engoliu em seco. No entanto, não teve tempo de fugir dos dois murros combinados que eu e o ciborgue desferimos em seu rosto.

Por fim, Law-san nos mostrou o Vivre Card em sua mão, que se movia na direção daquela coisa, revelando que havíamos chegado a Zou. A ilha possuía um sistema de defesa natural, criando um nevoeiro denso e uma corrente contrária para bloquear invasores. Isso significava que, devido às circunstâncias em que nos encontrávamos naquele momento, aquilo que estava diante de nós realmente se tratava da Ilha Fantasma, Zou.

E, onde quer que meu coração estivesse, ele palpitava de um lado para o outro.

Zou era uma ilha peculiar pelo simples fato de não ser uma ilha comum; era um elefante gigante, mil vezes maior que Oars, que abrigava uma floresta e construções em suas costas, visíveis apenas de forma ligeira pela distância em que estávamos do colossal animal. Para minha surpresa e a de todos, a ilha estava viva e se movendo - o que me fez entender o porquê de Law-san ter reclamado de que a "maldita ilha poderia se afastar mais". Tudo fazia sentido agora e, de repente, pude compreender sua preocupação.

Tenshi Tenshi no Mi.

Finalmente, após meses de espera, eu estaria prestes a obter a Fruta do Anjo Seraphim. Minha dívida com Gan Fall seria quitada e eu não precisaria mais me preocupar com Skypiea. Eu finalmente me libertaria daquelas amarras ao adquirir a Akuma no Mi para entregá-la nas mãos de Wyper. A qualquer momento, estaria frente a frente com Nekomamushi e lhe diria quem sou; então, ele me entregaria o fruto e... tudo acabaria. Eu... ficaria livre? Meu estômago gelou com um vento frio que percorreu meu corpo, arrepiando minha pele e fazendo-me arfar. Estava tão perto. Tão perto que parecia um sonho. Demorou tanto; passei por tantas dificuldades para chegar até aqui que parece que estou prestes a realizar algo extraordinário. Até poderia chorar de emoção se todos não estivessem aqui... Finalmente, finalmente, finalmente!

Não demorou para que avistássemos o Thousand Sunny, e um sorriso se abrisse em meus lábios ao vê-lo - era como se uma eternidade inteira tivesse se passado desde a última vez em que o havia visto. Luffy rapidamente saltou para o convés do nosso navio, procurando pelo restante de nossos companheiros, mas não havia ninguém, o que significava que, de alguma forma, eles tinham conseguido chegar às costas do elefante, onde se localizava a ilha. Bartolomeu criou escadas com os poderes de seu fruto para ajudar Usopp, Robin, Franky e Law-san a atravessar.

Eu poderia ir voando para o Sunny e assim o fiz, pousando em nosso convés e sentindo a grama fresca sob meus pés, deixando escapar um suspiro acompanhado de um sorriso. Eu não podia negar que sentia falta dele, como se fosse realmente meu lar - o lugar ao qual eu pertencia de verdade.

Ajoelhei-me sobre o chão e toquei a grama, minhas mãos dedilhando as folhas úmidas com aquele cheiro suave e terno de terra molhada que fazia minhas narinas agradecerem pelo aroma reconfortante. Estive apenas algumas semanas longe do Thousand Sunny; entretanto, era como se tivesse passado mais dois anos distantes do conforto e do ar agradável que nosso navio possuía.

E, se agora estávamos novamente em nosso navio, significava que eu finalmente poderia trocar aquela maldita calcinha e colocar fogo naquela roupa horrenda que estava usando, principalmente os shorts que não paravam de se enfiar na minha bunda e assar minha virilha. Não pude aguentar, e então lágrimas começaram a rolar de meus olhos enquanto eu tentava enxugá-las, mas não conseguia, e elas continuaram a descer à medida que meus soluços se tornavam perceptíveis, acompanhados do ranho que escorria do meu nariz, o que atraiu a atenção de um dos meus companheiros.

- Lis! O que aconteceu? - Usopp agarrou meus ombros de repente, e eu chorei mais alto. - Por que você está chorando!?

- Eu... eu... - funguei. - Eu... eu estou... - assoei o nariz em sua camisa.

- Está o quê!?

- Estou feliz porque vou trocar de calcinha!

O semblante de Usopp ficou inexpressivo enquanto ele me encarava em silêncio, minhas lágrimas ainda escorrendo dos olhos quando o encarei com os lábios trêmulos.

- ISSO NÃO É MOTIVO PARA CHORAR, SUA PALHAÇA! - ele gritou, indignado.

- ESSE É UM JEITO MUITO RUDE DE TRATAR UMA DAMA!

Desvencilhei-me dele, aplicando uma rasteira que o fez cair de costas no chão, e corri para o interior do Sunny, dirigindo-me ao quarto que eu dividia com Nami e Robin. Arranquei aquelas roupas do corpo, junto com a calcinha que estava virada do avesso, e joguei tudo em um saco preto - o qual eu atearia fogo mais tarde. Em seguida, fui até o meu armário e, mais uma vez, senti vontade de chorar ao ver todos os meus vestidos, minhas blusinhas, os croppeds e as saias que eu tanto adorava. Finalmente poderia usá-los depois de semanas com shorts apertados que me assavam e camisas justas demais que esmagavam meus seios.

Puxei minha toalha e, sabendo que meus companheiros iriam pegar coisas no navio antes de tentarmos subir em Zou, aproveitei para tomar um banho, desta vez utilizando shampoo e condicionador de verdade, além de esfoliantes corporais com cheiro de amêndoas e flores, cremes faciais e tudo o que eu merecia, ao invés de lavar os cabelos com sabão de cachorro fora da validade e sabonete para sarna que havia no navio do... nosso "fã".

Saí do quarto sentindo-me renovada, como se o banho que havia tomado tivesse lavado não apenas meu corpo, mas também minha alma. Meus cabelos estavam realmente limpos, e eu me sentia envolta por uma aura de frescor. As mechas loiras em minhas madeixas platinadas destacavam-se com uma intensidade sutil, uma mudança natural que eu aprendi a aceitar com graça, ao invés de me preocupar como antes.

Escovei-os com o mesmo penteado habitual: uma divisão ao meio, com meu franjão elegantemente jogado para trás da orelha, enquanto pequenas mechas caíam delicadamente ao lado do meu rosto. Apliquei um toque de brilho rosado e iluminador na ponta do nariz, além de um leve blush que tentava - embora sem sucesso - ofuscar as olheiras que traíam minhas noites inquietas. A enorme cicatriz de queimado ao redor do meu olho esquerdo permanecia visível, um lembrete da vida que vivemos, mas eu a aceitava como parte da minha história em Dressrosa.

Minhas unhas foram pintadas de branco perolado, um toque de sofisticação que combinava perfeitamente com as joias que adornavam meu corpo: a gargantilha cintilante, as argolas que dançavam suavemente em meus ouvidos, a pulseira que abraçava meu pulso e a corrente de perna que acentuava minha silhueta. Para completar o visual, um cinto de corações - claro, tudo em ouro puro.

Vesti um conjunto encantador que havia adquirido no Arquipélago Sabaody durante meu retorno ao Mar Azul. Consistia em uma minissaia e um top halter drapeado, com um decote audacioso que delineava a base dos meus seios, tudo em um tom de azul fosco. Finalmente, estava vestida com algo confortável e, claro, com uma calcinha limpa.

Em virtude dos problemas com Inazuma, deixei-a a bordo do Sunny e, para não ficar desarmada, peguei meus dials e os armazenei nos seios. Pelo canto dos olhos, pude avistar a Burn Bazooka que Wyper me havia presenteado dias antes de eu deixar as Ilhas do Céu. Não sabíamos o que nos aguardava em Zou, nem como seríamos recebidos pela Tribo Mink, mas uma coisa era certa: qualquer precaução seria válida. Eu não me daria o luxo de ir àquela ilha sem armas, pois, mesmo sendo excelente no combate corpo a corpo, nem sempre socos e chutes seriam tão eficazes quanto uma arma branca ou de fogo, tampouco em comparação aos dials que, honestamente, eram extremamente úteis.

Portanto, sem muita cerimônia, peguei a Burn Bazooka e a pendurei no ombro, retirando-me do interior do navio com ela em mãos. Os problemas com Inazuma eu resolveria mais tarde; também tentaria encontrar uma solução para o contratempo envolvendo os choques.

Quando retornei ao convés, onde todos os meus companheiros e aliados estavam, vi-os reunidos em círculo, rodeando algo que se encontrava no chão. Motivada pela curiosidade, voei até onde estavam, apenas para entortar o rosto em uma careta de desgosto diante do que havia sido desenhado no chão de maneira extremamente rabiscada e pouco estética: um dragão nascente cor-de-rosa, com escamas laranjas e amarelas, chifres marrons, focinho de porco e uma expressão nada favorável. Céus, não sou ninguém para julgar a arte das pessoas, mas... poxa vida. Que desenho tenebroso. Com apenas seis anos de idade, eu desenhava dragões e serpentes mais bonitos do que aquilo.

- Cruzes... - resmunguei, parando ao lado de Zoro, que me encarou de lado com um sorriso zombeteiro.

- Parece você! - ele riu, dando um peteleco no meu nariz.

- Que criatura ridícula! - exclamou Usopp, sua voz carregada de desgosto e indignação.

- Qual é a função desse... bicho? - aproximei-me de Kanjuro, cruzando os braços enquanto ainda observava aquele dragão grotesco.

- Oh, ele nos levará até o topo de Zou! - ele sorriu, ao que eu franzi ainda mais o cenho.

- Eu ia levá-los voando...

- Qual é, Lis! Vamos montados no dragão! Vai ser divertido! - Luffy me agarrou de repente, passando o braço por cima dos meus ombros e puxando até que nossas bochechas se chocassem uma contra a outra. - Simbora!

Pela minha visão periférica, pude notar o olhar do Cirurgião da Morte fixo em mim, especificamente na região do meu decote - ou melhor dizendo, nos meus seios. Enquanto Luffy falava, tentando convencer a mim e a Usopp a irmos "sem frescura" no rabisco mal feito de dragão, meus olhos mantiveram-se focados nas orbes acinzentadas de Law-san até o momento em que seus próprios olhos se ergueram e encararam os meus. O silêncio acumulado entre nós dois causava novamente aquele clima pesado que apenas nós dois éramos afetados. Somente quebrei o contato visual ao sentir um aperto forte no meu quadril, virando o rosto assustada para encarar meu capitão passando os braços borrachudos em minha volta, prestes a se atirar na direção do dragão que, aparentemente, não conseguia sequer se manter erguido com aquele corpo enorme e as patas ridiculamente minúsculas e desproporcionais para ele.

- Eu não vou subir nisso! - protestei, afastando-me dele e abrindo as asas. - Eu vou voando.

- Necas de pitiririba! Você vem sim! - ele me agarrou pelo rosto, segurando minhas bochechas.

- Não, não e não!

- Vem! Vai ser divertido, Lis! Shishishishishi! - Luffy riu, tentando me puxar, e eu apenas me debatía em seus braços como um pombo capturado.

- Não vou nem que me amarrem!

Apenas pisquei e, quando percebi, estava amarrada com cordas e correntes, sendo carregada por Kin'nemon, que segurava meu tronco, e Kanjuro, que segurava minhas pernas. Também havia uma fita em minha boca para que eu não mordesse ninguém, além de amarras em minhas mãos para mantê-las juntas, enquanto minha Burn Bazooka estava no braço de Zoro, que seguia mais à frente, próximo a Luffy.

Já havíamos escalado boa parte da pata esquerda traseira do elefante gigante, mas ainda era como se estivéssemos no começo. O dragão tropeçava constantemente e, nas vezes em que escorregava e deslizava, quase fui derrubada no mar - totalizando seis ocasiões em que fui agarrada pelos cabelos, pelo pé e pelo pescoço para não cair e morrer afogada ou sofrer o impacto do meu corpo ao bater na água.

Enquanto escalávamos, eu me via forçada a ficar calada, apenas encarando o céu enquanto eles conversavam. Foi então que Luffy perguntou aos samurais qual era o objetivo deles em Zou, revelando que, desde que haviam saído do país de Wano, Zou era o destino deles. Eles queriam saber se um de seus companheiros, Raizo, um "ninja", havia chegado em segurança na ilha. Isso, por algum motivo, deixou todos os rapazes eufóricos, enchendo-os de perguntas sobre quais eram as habilidades ninjas do tal Raizo.

Eu sentia a língua doer, minha mandíbula se debatendo e os dentes rangendo. Queria falar, queria perguntar o que era um ninja, pois nunca havia ouvido falar de um e queria saber o que era; no entanto, não podia sequer proferir uma única palavra, não enquanto estivesse calada com aquela bendita fita presa aos meus lábios. Eu fuzilava meu capitão com o olhar, evidentemente brava por estar amarrada e amordaçada como uma prisioneira apenas para subir naquele elefante, enquanto eu poderia muito bem acompanhá-los em voo.

- Luffy, olhe lá em cima! Tem algo caindo sobre nós! - a voz suave de Robin surgiu em meio à conversa, tirando nossa atenção dos samurais.

- O QUÊ!? - o garoto com chapéu de palha arregalou os olhos ao ver a criatura vindo em nossa direção em alta velocidade e fazendo um som estranho. - "Etê"?

- Isso mesmo, o Raizo corre bem rápido, fazendo "etetetê" com os pés. - Kanjuro disse, mais uma vez me soltando para brincar com seu companheiro. - Técnica Ninja... Técnica do Tapa-Olho! - falou, tampando os olhos do outro samurai. - Adivinhe quem é!

- É o Kanjuro!? Só pode ser; só tem você aí.

- Cuidado! Desviem! - meu capitão ordenou e quase todos obedeceram, fazendo com que eu me debatesse no colo dos samurais.

O aviso não foi suficiente e um macaco colidiu contra os dois, fazendo-os cair de cima de Ryonosuke e, consequentemente, me fazendo despencar junto com eles.

Enquanto caía, sentia todos os meus órgãos se revirando e meus olhos ardendo devido ao forte vento que batia contra meu rosto. Meus cabelos voavam violentamente enquanto descia junto de Kin'nemon e Kanjuro. No entanto, antes que eu chegasse mais perto de cair no mar, a ventania parou repentinamente e eu caí sobre o colo de alguém. Senti um braço envolver meu corpo e, assim que olhei para cima, senti o ar faltar em meus pulmões: Law-san me segurava e encarava meus olhos de forma fria e penetrante, como se desaprovasse não apenas sua própria ação, mas também minha falha.

Surpreendendo-me, ele arrancou a fita dos meus lábios e utilizou suas habilidades para remover as cordas e correntes que prendiam meu corpo, libertando-me delas. Em seguida, abri as asas e me afastei dele, começando a voar ao lado do dragão nascente. Dirigi-me até Luffy e cruzei os braços com uma expressão irritada. Contudo, ele riu e disse:

- Não falei que seria divertido? Shishishishishi!

- DIVERTIDO?

Reconhecendo que não teria outra escolha a não ser aceitar meu destino, suspirei e pousei na ponta de Ryonosuke, atrás de Law-san. Fechei as asas com um beicinho, decidindo dar uma última - ou primeira - chance ao dragão feioso e permitindo que ele me levasse junto aos meus companheiros e aliados, percebendo que não havia mais nada que pudesse fazer a não ser acompanhá-los. Sua textura era estranha e peculiar, assim como ele em sua totalidade; era gelado e liso, semelhante a uma folha de papel. Sinceramente, nem fazia sentido eu estar surpresa por ele ser daquela forma; afinal, tratava-se de um desenho - um desenho malfeito, mas ainda assim um desenho.

O vento suave acariciou nossos rostos, trazendo consigo o aroma inconfundível do corpo de Law-san, um perfume que me fez corar enquanto meus olhos se fixavam em suas costas. O aroma intenso de remédios provocava um leve enjoo em meu estômago, como se, por algum motivo desconhecido, eu estivesse à mercê de uma fragância que me irritava as narinas. Silenciosamente, questionava-me se teria alguma alergia ao perfume que ele usava; sabia que ele o aplicava, pois já o havia visto espirrar um frasco pequeno e retangular, guardando-o em seguida na mochila.

Anseio por me aproximar mais dele, por alcançar sua nuca e sentir a força de sua essência a poucos centímetros de mim. Mesmo ciente de que poderia espirrar logo após ou que minha garganta poderia coçar, o desejo de abraçá-lo novamente era avassalador. Queria sentir seus braços ao meu redor e o calor que emanava dele. Contudo, uma voz interior sussurrava que estávamos melhor assim, distantes das interações desnecessárias; afinal, não havia razão para retomarmos aquele tipo de intimidade ou conversas prolongadas que compartilhamos antes de chegarmos a Dressrosa e durante nossa estadia em Porzellanpuppen.

No final das contas, nada disso importava. Se eu deveria guardar em segredo o que vivenciamos e como nos sentimos um pelo outro, era porque aquilo não era, realmente, algo sério. Fui tola ao pensar demais nele; tão tola. E estávamos tão próximos - ele a apenas alguns centímetros de mim - eu podia sentir seu coração pulsar contra o peito, sua ansiedade por reencontrar seus companheiros, sem saber que eu poderia compreendê-lo tão bem.

Num gesto tímido e discreto, ciente de que ninguém nos observaria no final de Ryonosuke, quando todos estavam distraídos apoiando o dragão em sua incessante subida, levei minha mão até o passante de sua calça. Enrosquei meu dedo indicador ali e segurei firme. Notei quando ele percebeu meu ato; virando levemente o rosto, seus olhos encontraram os meus em um silêncio eloquente. Não havia reprovação ou qualquer sinal que indicasse que eu deveria me afastar; ele permaneceu em silêncio e voltou a se virar - talvez concedendo-me uma permissão silenciosa para me aproximar daquela forma.

O final da tarde havia chegado, pincelando o céu com uma paleta de cores que se entrelaçavam em um crepúsculo repleto de belos tons de laranja, amarelo, lilás e rosa. Era uma vista deslumbrante, que se revelava ao atingirmos o topo de Zou após uma escalada turbulenta em Ryonosuke, que agora se desfezera, reduzindo-se a um mero desenho no chão. Meu olhar se iluminava diante do pôr do sol; aquela visão magnífica despertou em meu peito um sentimento de nostalgia que me envolveu, enquanto contemplava as nuvens amareladas que flutuavam acima do gigante elefante.

Um sorriso tímido brotou em meus lábios, enquanto o vento suave balançava meus cabelos, levando consigo algumas penas e penugens das minhas asas, enquanto eu segurava minha bolsa com firmeza. Estou em Zou. Finalmente, estou em Zou. A qualquer momento, poderei encontrar Nekomamushi e... tudo finalmente se resolverá. Então poderei concentrar-me apenas em saldar minha dívida com Law-san e dedicar-me plenamente ao meu capitão e companheiros.

- Deve ser a entrada para o país. É óbvio que haveria uma civilização nas costas do elefante. - a voz do meu companheiro atraiu minha atenção para a enorme construção de mármore erguida diante de nós.

- Que maneiro! - Luffy saiu correndo à nossa frente, enquanto eu permaneci parada, confusa, encarando a torre na entrada com o cenho franzido.

- Há uma torre, mas não há nenhum guarda. Eles protegem a fronteira de maneira bastante ineficaz.

- Tch. Como eles são desalmados!

Olhei ao redor, curiosa e confusa. Aquele lugar... eu nunca havia estado em Zou, nunca sequer havia escutado o nome da ilha antes de Gan Fall me falar sobre ela, sobre Nekomamushi e a Tenshi Tenshi no Mi. No entanto, algo em meu âmago fez com que me sentisse tão... em casa? As construções eram familiares para mim, como se eu já as tivesse visto há muito tempo, como se tudo aquilo fosse comum em meu dia a dia. Até que algo acendeu em minha mente: aquelas construções eram idênticas às ruínas de Shandora.

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