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โ”โ” ๐–ฅ” ึด เผ‹ ุŒ๐Ÿฑ๐Ÿณ. ๐—˜๐—ฐ๐—น๐—ถ๐—ฝ๐˜€๐—ฒ ๐˜๐—ผ๐˜๐—ฎ๐—น ๐—ฑ๐—ผ ๐—ฐ๐—ผ๐—ฟ๐—ฎ๐—ฐฬง๐—ฎฬƒ๐—ผ.

5.3K de palavras.


โ”โ” Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Ilha de Porzellanpuppen, Cidade das Ruas de Kristalle.
แ˜กElisabette, Anjo da Morte. โชO ponto de vista Delaโซ

Meus olhos se abriram lentamente e pisquei algumas vezes para tentar entender onde eu estava, tambรฉm tentando identificar o que me segurava firmemente, atรฉ que reconheci seu rosto em meio ao embaรงado da minha visรฃo. Instantaneamente, um sorriso suave brotou em meus lรกbios ao ver Law-san adormecido, com seus braรงos envolvendo meu corpo nu e me mantendo segura e aquecida contra seu peito. Ele parecia tรฃo tranquilo que eu poderia afirmar que aquela talvez fosse uma das poucas vezes em que ele dormia, de fato, profundamente. ร‰ um sentimento bobo, mas fico feliz por, talvez, proporcionar um pouco de paz a ele, mesmo em uma situaรงรฃo tรฃo turbulenta quanto a nossa - esquecidos em uma ilha, sem previsรฃo certa para retornarmos aos nossos companheiros.

Bocejei baixinho e, com cuidado, me afastei dele, notando que ele franzia levemente o cenho ao fazer isso. Isso resultou em uma de minhas sobrancelhas se arqueando enquanto, em silรชncio e sendo o mais cuidadosa possรญvel, comecei a me arrastar para a beirada da cama. Sentei-me na ponta e encarei o chรฃo em silรชncio, permitindo-me ser envolvida pela calmaria e pelo ambiente pacรญfico ao nosso redor para refletir e colocar a cabeรงa no lugar.

Senti o vento morno do meio-dia adentrar pelas pequenas frestas da janela e vir atรฉ mim, arrepiando minha pele e fazendo meus poros se dilatarem com a leve quentura que de repente me percorreu por inteiro.

Um suspiro escapou entre meus dentes e minha mรฃo imediatamente foi atรฉ a boca, cutucando o espaรงo onde havia perdido um dente. Isso me levou a bufar e fazer uma careta mal-humorada pelo fato de ter levado uma surra boa o suficiente para arrancar um dente com tanta facilidade. Foi vergonhoso e, alรฉm de vergonhoso, humilhante, pois apanhei como uma estรบpida fraca - era assim que me sentia desde que a Febre das รrvores comeรงara a me corroer como uma praga se alastrando em uma plantaรงรฃo.

Tentei tanto evitar o que faria que fiquei desesperada ao descobrir que Kaminari estava contaminada com a Febre das รrvores. Nรฃo pensei duas vezes antes de eliminรก-la, a fim de evitar que a doenรงa se alastrasse pelo navio, contaminando meus companheiros e, principalmente, Luffy. A simples ideia de vรช-lo adoecer e morrer por culpa daquela desgraรงada me revirou o estรดmago de tal maneira que sรณ consegui raciocinar depois que decepei sua cabeรงa e a joguei no mar, para enfim estourar seus ovos, sem deixar nenhum. Eu nรฃo poderia permitir que algo acontecesse com ele; nada de ruim poderia ocorrer com Luffy sem que eu pudesse impedir. Como sua subordinada, fiz o que deveria ser feito.

No entanto, isso me custou muito. Como diabos eu enviaria as malditas plantas para Skypiea? Como faria para que a Tenshi Tenshi no Mi fosse enviada com seguranรงa para as mรฃos de Wyper? Manter Kaminari viva nรฃo adiantaria em nada; apenas pioraria a situaรงรฃo. Porรฉm... por Deus, o que custava aqueles shandias imbecis me entregarem um Pรกssaro do Sul saudรกvel? Se nรฃo fosse por Law-san, eu teria morrido muito antes; eu nรฃo estaria aqui agora.

Engoli em seco, levando as mรฃos ร  cabeรงa e sentindo o suor frio escorrer pelas bochechas enquanto virava minimamente o rosto para encarรก-lo por cima dos ombros. Observei em um silรชncio tenso sua figura adormecida envolta nos lenรงรณis, com um semblante cansado de quem nรฃo conseguia dormir hรก dias.

Tivemos relaรงรตes. Estive na cama com ele e me entreguei a ele sem mais nem menos, como se fรดssemos algo mais do que aliados. Deixei que ele tocasse em mim como se eu fosse sua mulher. Nรฃo foi uma experiรชncia negativa, mas tambรฉm nรฃo sei dizer se foi a coisa certa a fazer. Quero dizer, eu gostei. Senti-me bem. Ele foi gentil. Nunca esperei que algum dia passaria por isso; nunca foi algo que almejava fazer e, mesmo assim, nรฃo sei o que pensar. Nรฃo foi algo... planejado, eu acho.

Suas mรฃos deslizavam pelo meu corpo como se estivesse me reverenciando, como se eu fosse algo maior do que sua aliada; seus olhos me admiravam como se nunca tivesse visto alguรฉm igual a mim - como se eu fosse algo bom a ser visto, apreciado e adorado.

ร‰ um sentimento estranho, algo que sei identificar, embora nรฃo possa afirmar se sou digna de senti-lo ou... se sou digna de ser retribuรญda.

Nรฃo sou boba, tampouco ingรชnua. Sei o que acontece ao meu redor; vejo tudo, apenas nรฃo falo. E, se falo, รฉ porque quero saber se realmente entendi e, caso permaneรงa em silรชncio, รฉ porque compreendi e prefiro manter para mim. Sei o que os homens desejam de mulheres jovens com um aspecto ingรชnuo e uma personalidade inocente, como pensam e julgam que eu tenho; eu simplesmente... nรฃo sou assim. Nรฃo sou burra. Sou inteligente; tenho plena consciรชncia disso. Apenas nunca sei como expressar o que sei.

Eu simplesmente nรฃo sei se esse รฉ o caso dele, se para ele eu sou isso. Nรฃo รฉ algo que desejo ponderar ou acreditar; contudo, รฉ tรฃo estranho. Desde muito jovem, eu compreendia como funcionava uma relaรงรฃo sexual, como uma crianรงa era concebida e gerada, e que, apรณs algum tempo, ela nasceria e cresceria. Meu pai nunca me ocultou nada; sempre quis que eu soubesse me comportar como uma mulher da minha idade, que tivesse uma mente repleta de informaรงรตes valiosas sobre a vida. Eu sabia muitas coisas, tantas que levaria dias para listar.

Eu apenas queria entender o porquรช de me sentir assim quando estou com Law-san; por que sinto tanto nervosismo a ponto de agir como uma tola em sua presenรงa, como se eu fosse realmente uma estรบpida que nรฃo sabe de nada e apenas vรช graรงa nas coisas... Nรฃo รฉ medo, nรฃo mais. Deixei de temer sua presenรงa quando ele estendeu a mรฃo para mim ao oferecer ajuda sem hesitaรงรฃo, proporcionando-me o conforto de um tratamento duradouro que me fez acreditar que a vida ainda sorriria para mim.

Mas agora, ao olhรก-lo depois de tudo o que vivemos em tรฃo pouco tempo, nรฃo sei mais o que pensar ou como me sentir. Ao mesmo tempo em que quero senti-lo novamente, ter seu corpo junto ao meu, seus lรกbios nos meus com aquela agressividade possessiva como se temesse minha fuga de seus braรงos, tambรฉm sinto que nรฃo deveria alimentar o que sinto; nรฃo deveria me deixar levar por um sentimento que alguรฉm como eu - uma praga - sequer deveria experimentar.

O amor รฉ... um sentimento muito bonito. ร‰ um sentimento doce e suave, do qual muitas pessoas desfrutam enquanto outras se veem amaldiรงoadas por nรฃo terem o luxo de amar ou serem amadas... e meu caso รฉ esse. Nรฃo posso afirmar que o amo, mas gosto dele sim; gosto muito... Entretanto, nรฃo posso garantir que o sentimento seja recรญproco e, sendo honesta comigo mesma, รฉ preferรญvel que nรฃo seja. Com o realismo dominando tudo o que nos envolve, jamais seria recรญproco.

Acho que estou com medo.

Por que vocรช estรก com medo?

Eu nรฃo sei.

Vocรช tem medo dele?

Do Law-san?

Sim.

Nรฃo mais.

Entรฃo, vocรช tem medo do quรช?

De mim.

Nunca sei o que pensar sobre mim mesma; nunca sei o que realmente sou ou o que desejo. ร‰ tรฃo curioso que eu esteja ponderando sobre todas essas questรตes apenas apรณs ter transado duas vezes, quando poderia ter feito uma reflexรฃo dessas, com uma pitada de choque de realidade, por diversos outros motivos. Sinto que sou uma piada de mau gosto que a vida criou para o universo, que apenas se diverte e ri das minhas desgraรงas para evitar um clima constrangedor.

Em silรชncio, levantei-me da cama e caminhei em direรงรฃo ao armรกrio, abrindo-o devagar para evitar ruรญdos desnecessรกrios. Meu olhar imediatamente se fixou na minha bolsa, e a agarrei no mesmo instante, trazendo-a para perto do peito. Comecei a revirรก-la em busca do Call Dial estilhaรงado que eu havia guardado dentro de um pequeno saco, para nรฃo perder nenhum fragmento da concha e, assim, nรฃo comprometer meu meio de comunicaรงรฃo com as Ilhas do Cรฉu. Nรฃo tardei a encontrรก-lo embrulhado em um canto da bolsa; peguei-o bruscamente e o joguei novamente dentro do armรกrio.

Ainda preciso de uma cola. Nรฃo posso demorar mais um รบnico dia para falar com Wyper novamente e entender melhor a situaรงรฃo de Skypiea, desta vez sem que acabemos discutindo e eu faรงa uma ameaรงa ridรญcula. Santa Praga estรก morta, morreu junto com o impรฉrio que Enel havia construรญdo ao se autodenominar Deus. O que restou foi o Anjo da Morte, que deu seus primeiros passos ao navegar pela primeira vez pelos mares da Grand Line sob a bandeira dos Piratas do Chapรฉu de Palha.

Nรฃo sei o que levou o povo a comeรงar a brigar entre si, especialmente alegando fazรช-lo em meu nome! Cรฉus, o paรญs jรก estava uma bagunรงa devido ร  epidemia, e eles ainda resolveram guerrear uns com os outros por motivos fรบteis? E pior, jogando a culpa em mim. Tudo que sei รฉ que preciso fazer algo para resolver essa situaรงรฃo... de alguma forma.

Eu nรฃo tenho mais dinheiro. Tudo que eu tinha acabou quando comprei algumas coisas na feira. E agora? Eu realmente preciso de uma cola e nรฃo deve custar tรฃo caro; deve ser apenas alguns berries, bem poucos, tรฃo poucos... e eu sรณ tenho duas moedas de prata. No entanto, parando para pensar um pouco, sei quem tem dinheiro de sobra e nรฃo vai sentir falta se eu pegar apenas algumas notas que nรฃo farรฃo diferenรงa alguma em sua carteira. E, mesmo que faรงam... eu o pagarei quando a dรญvida for quitada.

Sorrateira como uma cobra e silenciosa como uma lagarta, caminhei na ponta dos pรฉs atรฉ o cabide onde as roupas de Law-san estavam penduradas, junto com as minhas, das quais eu nem lembrava quando haviam sido colocadas ali.

Cuidadosamente, enfiei a mรฃo no bolso das calรงas dele para procurar sua carteira. Quando finalmente a encontrei, um sorriso travesso surgiu em meus lรกbios ao abri-la e ver o monte de dinheiro verdinho e cheirosinho brilhando em meus olhos, me persuadindo a pegar dez cรฉdulas. Estava prestes a enfiรก-las na bolsa da minha saia para vesti-la em seguida, quando ouvi um bocejo rouco e baixo vindo de trรกs de mim, o que me fez arregalar os olhos, empalidecer a pele e gelar o sangue, quase trincando as veias como gelo.

- Elisabette-ya... que horas sรฃo? - a voz de Law-san ecoou no silรชncio do quarto, fazendo-me estremecer e engolir em seco.

- Acho que jรก รฉ quase uma da tarde.

- O que estรก fazendo aรญ? - ele perguntou, ainda sonolento, enquanto me virei lentamente com sua carteira ainda em minhas mรฃos. Senti um frio na espinha quando ele franziu o cenho e arregalou os olhos ao notar o objeto que eu segurava. - Por que estรก com minha carteira!?

Assim como hรก dois anos, sem pensar duas vezes ou ponderar sobre as possรญveis consequรชncias dos meus atos, avancei em sua direรงรฃo e desferi um chute certeiro em seu rosto, fazendo-o voar para o outro lado do quarto, totalmente desacordado.

- Nรฃo leve para o pessoal! Eu preciso do seu dinheiro bem rapidinho! - exclamei, desesperada, correndo novamente para onde estavam minhas roupas e vestindo-as o mais rรกpido que pude.

Jรก vestida, fugi pela janela e caรญ de bunda no chรฃo. Foi uma queda de alguns metros, mas nรฃo morri porque sou quase indestrutรญvel, dependendo do grau da pancada, e essa com certeza nรฃo foi forte o suficiente para me levar para o outro lado; apenas foi dolorida o bastante para que eu sentisse a bochecha das minhas nรกdegas arderem pelo impacto do meu corpo batendo com forรงa e em alta velocidade no chรฃo.

ร‰, ele vai ficar bravo como na primeira vez, sรณ que agora foi por uma boa causa! Eu preciso de uma cola e de um jeito de juntar os estilhaรงos do Call Dial. Caso contrรกrio, terei que esperar atรฉ estar novamente no Going Luffy-senpai para pedir ao Franky que conserte para mim. Isso, se ele nรฃo tiver nenhum equipamento e me fizer esperar ainda mais atรฉ que estejamos em Zou, onde ele poderรก usar as ferramentas de sua oficina, o que, sem sombra de dรบvidas, รฉ um milhรฃo de vezes melhor e mais eficaz do que tentar arrumar a concha com cola, sabendo que as chances de voltar a funcionar sรฃo mรญnimas... e isso sรณ pioraria minha situaรงรฃo com Law-san, que terรก sido nocauteado em vรฃo.

Em passos mancos, observei atentamente as casas e lojas ao meu redor, olhando curiosa para tudo o que havia na Cidade das Ruas de Kristalle.

Havia diversos estabelecimentos que vendiam uma variedade de itens elegantes, com aparรชncia de grande valor, o que, de fato, eram. As roupas femininas nas vitrines, especialmente os vestidos, apresentavam detalhes de cristais no busto e babados nas mangas, alguns com desenhos em dourado que conferiam um ar de graรงa a quem os vestisse. Se o dinheiro que eu possuo nรฃo fosse tรฃo precioso e fosse realmente meu... eu com certeza compraria vรกrios deles e poderia ter um pouco de dignidade, em vez de usar bermudas que assam minhas coxas e fazem minha calcinha entrar dentro da bunda.

Enquanto passeava pela estrada de pedras cristalinas da pequena avenida, notei uma espรฉcie de casinha de madeira com uma placa na entrada, o que me fez estreitar os olhos e me aproximar com cautela, enquanto cruzava os braรงos e encarava as letras embaralhadas.

A letra C, com a forma "ca"... com o R no meio entre as palavras, forma uma puxadinha engraรงada, como se estivesse esbarrando, nรฃo รฉ? Portanto, temos "car". A letra P com I forma "pi", "carpi"... Cรฉus, nรฃo lembro qual รฉ o som do N entre as palavras! Ah... acho... bem... e se eu entrar e perguntar? Talvez seja uma carpintaria! Ou uma loja de carpim. Nรฃo sei. Que inferno, sรณ entrando para saber e, se for uma loja de carpim... jรก era. Vou ter que andar mais - ou mancar mais.

- Boa tarde. - falei em um tom de autoridade, enquanto erguia a cabeรงa e olhava de cima para um senhor que estava sentado em um pequeno banco de madeira, raspando uma tรกbua.

- Oh! Boa tarde, mocinha! - ele sorriu, sua gengiva quase ร  mostra pela falta de dentes em sua boca. - O que traz uma dama tรฃo bonita a uma carpintaria caindo aos pedaรงos?

- Ah, aqui รฉ uma carpintaria?

- Sim!

- Vocรช faz de tudo?

- Tudo e mais um pouco!

- Entรฃo conserte isso. - ordenei, sem fazer mais perguntas, aproximando-me dele e arrancando o saquinho com os pedacinhos da concha do Call Dial. - Isso รฉ um dial que funciona como um Den Den Mushi... sรณ que melhor e mais prรกtico.

- Hm... - ele pegou o saco das minhas mรฃos e jogou cuidadosamente as peรงas no chรฃo para observรก-las com mais atenรงรฃo. - ร‰ uma gambiarra interessante essa aqui, mocinha. Vocรช quem construiu?

- Nรฃo interessa. Pode consertar?

- Sim, sim. Sinceramente, vai ser bem rapidinho! - o senhor sorriu novamente e direcionou seu olhar para o meu. - Na verdade, isso aqui tem a mesma tecnologia usada nos Den Den Mushi; a diferenรงa รฉ que estรก tudo enfiado numa concha. O problema maior รฉ que a concha quebrada nรฃo pode ser reutilizada porque estรก muitรญssimo danificada e eu nรฃo tenho conchas aqui.

- Uff... se eu encontrar uma concha, vocรช resolve isso para mim, moรงo? - cruzei os braรงos e agachei-me para ficar ร  sua altura. - E, a propรณsito, quanto fica?

- Nรฃo cobro de mulher bonita.

- Oh. - franzi o cenho, mas nรฃo pude evitar que um sorrisinho tรญmido brotasse em meus lรกbios. - Que gentil.

Deixei as peรงas com ele e girei nos calcanhares para sair da carpintaria e seguir em direรงรฃo ร  praia, onde encontraria conchas espalhadas pela areia. Bem... tudo parecia fรกcil se a praia nรฃo estivesse a quilรดmetros de distรขncia da cidade, o que me tomaria pelo menos duas horas atรฉ que eu estivesse com os pรฉs na areia e sentindo o vento forte da brisa marรญtima golpeando minhas bochechas sem piedade. Claro, eu poderia ir voando, mas minhas asas ainda estavam um pouco doloridas, e forรงรก-las a bater rapidamente sรณ faria com que doรชssem ainda mais. O que me restou foi apelar para minha perna manca fazer o trabalho.

Law-san ainda deve estar desmaiado no quarto depois do chute certeiro, e ele nรฃo imaginarรก que estou indo para a beira da praia caso acorde - ou melhor, caso ele acorde antes de eu voltar. Eu o chutei com tanta forรงa e ele bateu a cabeรงa tรฃo forte que, quando acordar, estarรก com tanta dor que nรฃo vai querer perder tempo me caรงando como um maluco, igual fez em Sabaody... eu espero.

Talvez eu devesse fazer algo por ele ou oferecer alguma coisa para compensรก-lo pelo trabalho que lhe dei hรก dois anos, assim como por tรช-lo acertado com um chute e o desmaiado novamente. No entanto, o que serรก que ele gostaria? Eu nรฃo sei muito sobre ele, apenas o bรกsico do bรกsico do muito bรกsico. Ele รฉ bastante reservado e sempre me interrompe quando pergunto algo pessoal, mesmo que estejamos navegando juntos hรก tanto tempo... Jรก se passaram o quรช? Quase dois meses, certo? Para mim, isso รฉ tempo suficiente para que ele me visse como amiga ou... algo a mais, eu acho. Nรฃo sei o que ele vรช quando me olha; nรฃo sei se ele me considera sua amiga, mas ele รฉ meu amigo, sim! Gostando ou nรฃo, รฉ meu amigo, querendo ou nรฃo, esse magrelo esquisito.

"Magrelo esquisito", nรฃo sei se esse termo ainda se aplica a ele. Hรก dois anos, quando nos vimos pela primeira vez e no pouco tempo que passamos juntos, ele era realmente bem magrinho, raquรญtico, e os ossos do rosto marcavam nas bochechas. Os olhos dele tambรฉm estavam sempre vermelhos e com olheiras, como se nรฃo dormisse hรก dias! Nรฃo que agora ele nรฃo as tenha; contudo, naquela รฉpoca, suas olheiras pareciam mais fundas e escuras... Hoje em dia, ele รฉ... bonito? Bem, antes ele era bonito; um pouco estranho e bizarro? Sim, mas ele tinha um charme, embora eu nรฃo tenha prestado tanta atenรงรฃo nele para poder afirmar.

Entretanto, se eu for pensar nele dessa forma agora... Law-san realmente รฉ um homem muito atraente, tรฃo atraente que me sinto uma boba por todas as idiotices que faรงo ou falo na presenรงa dele. Ele deve me achar uma estรบpida com peitos enormes.

Enfim, Law-san รฉ lindo e considero isso incrรญvel, pois ele รฉ a combinaรงรฃo perfeita entre beleza e malignidade, como se fosse o prรณprio Anjo Caรญdo das histรณrias que os monges contavam para as crianรงas em Birka - Lรบcifer, o mais belo entre os querubins. Nรฃo que Law-san seja uma pessoa mรก; ele estรก longe de ser. O coraรงรฃo dele possui tudo: rancor, mรกgoa, desespero e um lampejo fraco de amor, mas nรฃo contรฉm nada que possa ser considerado mal. Ele nรฃo รฉ uma pessoa ruim; jamais seria, e isso soa tรฃo irรดnico quando me pego a comparar-nos.

Os anjos sรฃo interpretados como criaturas belas, graciosas e perfeitas aos olhos de todos, com seus corpos delicados e aparรชncia frรกgil, pele macia e suave, alรฉm de um par de lindas asas brancas em suas costas. Eles sempre apresentam uma aparรชncia amorosa e gentil, seres aos quais as pessoas olharรฃo e confiarรฃo suas vidas de forma cega, sem qualquer dรบvida. E eu, por mais mesquinho que possa parecer admitir isso, possuo essa aparรชncia, essa figura de anjo descrita por essas pessoas, enquanto Trafalgar Law estรก distante de se comparar a essa imagem; aqui reside a ironia. Eu sou assim, aparentemente bondosa aos olhos de quem estรก ao meu redor, mas nรฃo sou. Desde o momento em que nasci, jรก era podre, suja e corrompida por aqueles que me conceberam e trouxeram ao mundo; jรก ele nรฃo.

Seu olhar, sua personalidade e seu coraรงรฃo pesado; sua alma cansada e exausta dizem o contrรกrio de sua aparรชncia. Nรฃo sei o que ocorreu em sua vida, o que lhe fizeram ou quem tentou sujรก-lo, tornรก-lo imundo pelas maldades do mundo. Contudo, nรฃo conseguiu porque, apesar de tudo - de sua revolta, de sua expressรฃo fechada e de sua personalidade fria com olhar duro - Trafalgar Law, o famoso Cirurgiรฃo da Morte, possui um dos coraรงรตes mais fortes e bons que jรก pude sentir em todos esses anos desde que aprendi a usar o Mantra.

Que pena. Talvez ele seja demais para mim. Bom... demais para mim. Fico feliz que ele pense que sou apenas uma bobinha conhecendo o mundo, ao mesmo tempo em que gostaria que ele soubesse quem realmente sou, o que fiz e... quem eu costumo ser de verdade, mas tenho medo. Tenho medo do que ele vai dizer, do que vai pensar e de como vai me olhar. Queria nรฃo ser complicada. Eu queria... ser normal.

Acabei me distraindo na costa e passei a tarde inteira jogando vรดlei com algumas crianรงas que estavam na praia. No entanto, consegui pegar uma concha que serviu muito bem para reconstruir o Call Dial, e fiquei tรฃo surpresa com a rapidez com que o senhor consertou para mim. Para evitar que Law-san brigasse tanto comigo - pois, com certeza, ele irรก brigar - comprei um presente para ele: uma moldura decorada com conchas azuis e brancas. Assim, irei emprestar meu Vision Dial para que ele possa tirar uma foto de algo que goste e colocรก-la lรก! Se ele nรฃo gostar, jรก era... Porรฉm, se gostar, terei tido sorte e conseguirei me livrar da sensaรงรฃo de estar sem cabeรงa outra vez.

Em passos suaves, cheguei ร  recepรงรฃo do hotel e vi a recepcionista de antes lendo um livro. Acenei para ela e me dirigi ao quarto onde estรกvamos hospedados, notando que a porta nรฃo estava trancada, o que significava que Law-san jรก havia recobrado a consciรชncia e provavelmente estava bufando como um touro raivoso do outro lado.

Respirei fundo e girei a maรงaneta com cuidado, abrindo a porta e notando que o quarto estava com as lamparinas apagadas e a janela fechada, coberta pelas cortinas. Isso me fez erguer uma sobrancelha e suspirar. Por Deus, esse homem nรฃo se cansa de ficar nesse breu? Revirei os olhos e tranquei novamente a porta atrรกs de mim, caminhando devagar atรฉ a cรดmoda onde estavam a caixa de fรณsforos, para que eu pudesse acender ao menos uma lamparina e iluminar o quarto, mesmo que apenas um pouco.

- Desgraรงada! - fui pega de surpresa ao sentir algo colidir fortemente com meus pรฉs, fazendo-me cair de costas no chรฃo. - Cadรช a minha carteira!?

- AI! - gritei, assustada, ao sentir a lรขmina gรฉlida de sua nodachi raspando minha garganta e me fazendo engolir em seco. - MINHA BOLSA! DENTRO DELA! Sร“ USEI QUATRO MOEDAS DE OURO! - exclamei, segurando firmemente seu pulso na tentativa de impedi-lo de decapitar-me.

- E por que vocรช nรฃo pediu?

- Porque vocรช nรฃo ia querer dar!

- Nรฃo mesmo, mas custava pedir? Maluca. - Law-san aproximou-se ainda mais de mim, e senti minha pele ser ferida levemente, mas o suficiente para que algumas gotรญculas de sangue descessem pelo meu pescoรงo e busto.

Arfei, mordendo os lรกbios enquanto o encarava assustada. Vi-o afastar a nodachi e agarrar minha blusa para erguer meu corpo, deixando-me sentada de joelhos em sua frente. Todos os pelos do meu corpo estavam arrepiados, e meus olhos estavam tรฃo arregalados que eu poderia jurar que iriam saltar para fora do meu rosto a qualquer momento. No entanto, nada era mais arrepiante e tenebroso do que seu olhar frio e penetrante, que me fuzilava como se a prรณpria morte estivesse ali, prestes a me assombrar e levar-me embora.

Minhas mรฃos trรชmulas seguraram seus pulsos novamente; sendo honesta, eu poderia muito bem quebrรก-los se quisesse. Eu poderia reverter a situaรงรฃo e tornรก-lo meu refรฉm. Contudo, estar ร  mercรช dele era algo que havia descoberto recentemente que me agradava mais do que poderia ser considerado normal. A maneira como ele me agarra, como me segura e age como se nunca fosse me soltar รฉ algo que me desarma completamente, fazendo-me esquecer totalmente da forรงa que possuo e como ela รฉ superior ร  de qualquer ser humano normal que exista no Mar Azul.

Ele aproximou-se lentamente de mim, e eu fechei os olhos, sentindo sua lรญngua deslizar suavemente pela ferida aberta em meu pescoรงo, demorando-se no sangue que jorrava suavemente pela pele e deixava rastros vermelhos por onde passava. Um suspiro fraco foi a รบnica resposta que pude lhe dar quando ele continuou lambendo meu sangue como se estivesse provando o mais saboroso e fino vinho, fazendo-me arrepiar mais uma vez e entregando-me ao deleite de estar em suas mรฃos. Quando parou, abri os olhos e o encarei, com as bochechas coradas e os lรกbios comprimidos de forma trรชmula enquanto nos encarรกvamos fixamente - como sempre, como todas as vezes.

Foi entรฃo que, sem aviso prรฉvio, ele me empurrou e bati com as costas no chรฃo. Minhas pernas se ergueram instintivamente no ar enquanto ele se levantava e arrancava minha bolsa, caminhando em direรงรฃo ร  cama para virรก-la de ponta cabeรงa e derrubar tudo o que havia dentro sobre o colchรฃo: sua amada carteira, o Call Dial, o Vision Dial, algumas pedras brilhantes que encontrei na rua, uma escova de cabelo, calcinhas, uma marmita com comida provavelmente mofada, o caderno de desenhos que ele havia me dado, um cartaz de procurado de Bellamy, o mais recente - recebendo dele um leve olhar de surpresa. Ah, e claro, por รบltimo e nรฃo menos importante: a moldura de conchas.

- Por que vocรช fica deixando lixo entre suas coisas? - ele resmungou, abrindo o cartaz e fazendo uma bolinha para jogar em minha direรงรฃo, acertando-me em cheio na testa. - E, a propรณsito, o que vocรช comprou? - perguntou com rispidez, demonstrando uma agressividade passiva enquanto pegava o Call Dial e observava-o com atenรงรฃo.

- Nรฃo รฉ lixo! Sรฃo coisas que achei interessantes e peguei para levar ao Sunny. Vou mostrรก-las ao Chopper. - dei de ombros e me levantei, endireitando a bermuda para tirรก-la de dentro da bunda e caminhei atรฉ ele. - Comprei uma moldura. - respondi enquanto cruzava os braรงos. - Cuidado com essas conchas, elas nรฃo podem se quebrar. Vocรช รฉ muito brusco com as mรฃos.

- Nรฃo sabia que vocรช era acumuladora. - ele sorriu de canto de forma provocativa enquanto eu ergui uma sobrancelha, demonstrando minha confusรฃo, e ele revirou os olhos. - Esquece. Enfim, para que diabos vocรช comprou uma moldura, pirralha?

- Para isso. - peguei o Vision Dial e fotografei o rosto dele com um flash extremamente forte que o fez fazer careta.

- CACETE!

- Vocรช nรฃo รฉ nada fotogรชnico... - murmurei, observando-o pegar o dial da minha mรฃo para examinรก-lo melhor, desta vez mais atento aos detalhes incomuns da concha.

- Isso รฉ como um Den Den Mushi, mas em formato de concha... ร‰ daquela sua terra, Skypiea? A tecnologia das Ilhas do Cรฉu รฉ bem interessante. - ele disse em um sussurro, concentrado na observaรงรฃo.

- Sim, รฉ com isso que tiramos fotos dos criminosos para levรก-los ao julgamento divino.

- Que seja. O que eu vou fazer com isso?

- Oh, vocรช pode fotografar algo que gosta muito e colocar na moldura que comprei para vocรช! ร‰ um presente de desculpas por ter chutado vocรช e roubado seu dinheiro novamente. - dei um sorriso sem jeito enquanto o olhava com sรบplica, implorando em silรชncio por sua aceitaรงรฃo.

- Deixe-me ver se entendi corretamente: vocรช comprou um presente para mim a fim de me pedir desculpas... usando meu prรณprio dinheiro? - a sobrancelha de Law-san se ergueu e seu olhar se intensificou de uma maneira que me fez ponderar; minha pele ficou pรกlida e uma gota de suor escorreu pela bochecha. - Vocรช precisa pensar duas vezes antes de agir.

- Mas eu pensei duas vezes!

- Certo, na prรณxima pense trรชs.

Encolhi os ombros e permaneci em silรชncio, apenas olhando em seus olhos sem pronunciar uma รบnica palavra atรฉ o momento em que peguei a moldura de cima da cama e a enfiei entre meus seios, notando como ele me fitou confuso atรฉ que falei novamente:

- Se nรฃo gostou, posso devolver e pegar seu dinheiro de volta. - respondi calmamente, afastando-me em passos lentos atรฉ a porta; antes que eu pudesse tocar nas chaves, ele agarrou meu pulso.

- Nรฃo. Me dรก.

- Vocรช nรฃo gostou e estรก certo; o dinheiro รฉ seu, entรฃo o presente nรฃo รฉ realmente um presente e nรฃo estou desculpada.

Ele trincou os dentes e enfiou a mรฃo na minha camisa, fazendo-me soltar um gritinho de surpresa que logo cessou ao ver a moldura de conchas sendo segurada por ele. Fiquei quieta novamente e o olhei com um misto de indignaรงรฃo e confusรฃo, vendo-o virar o rosto para longe do meu campo de visรฃo; quase podia jurar que suas orelhas estavam vermelhas, assim como parte das bochechas ainda visรญveis para mim. Ele forรงou a garganta e me encarou pelo canto do olho.

- Eu vou ficar com essa coisa sรณ porque vocรช se deu ao trabalho de ir comprar para nรฃo me deixar irritado. - Law-san falou e virou-se novamente, fixando seu olhar no meu.

- Oh, isso รฉ bom. - dei um sorriso genuรญno desta vez. - Entรฃo vocรช me desculpa?

- Nรฃo.

- POR QUรŠ?

Law-san permaneceu em silรชncio, fixando seu olhar em mim. Quando eu estava prestes a me afastar novamente, um movimento รกgil de seus dedos me fez compreender o que se seguiria. Num instante, encontramos nossos corpos colapsando sobre a cama, enquanto minhas pertenรงas se espalhavam pelo chรฃo, empurradas por ele em busca de espaรงo no colchรฃo. Minhas pernas se posicionaram de cada lado do seu corpo, e suas mรฃos firmemente se agarraram ร s minhas coxas, provocando um calor prazeroso que formigava em meu ventre e agitava as paredes do meu estรดmago com um vento frio. Eu me tornava uma verdadeira confusรฃo ambulante de emoรงรตes reprimidas que se alojavam em minha garganta.

Suspirei ao sentir seus dedos suaves deslizarem por minhas pernas e adentrarem meu short. O volume de suas calรงas jรก roรงava minha virilha, fazendo com que um gemido baixo escapasse de meus lรกbios ao perceber o quรฃo duro e necessitado ele estava sob mim.

Inclinei-me ligeiramente atรฉ que nossos rostos ficassem a meros centรญmetros de distรขncia, nossos lรกbios quase se tocando. Foi nesse momento que senti suas mรฃos agarrando com forรงa minhas nรกdegas, desferindo um tapa contundente o suficiente para me fazer grunhir alto, enquanto tentava sufocar o grito estridente que quase escapou. Olhei em seus olhos e vi a sede ardente que neles habitava, a luxรบria estampada em seu olhar. Diferente das duas primeiras vezes, desta vez eu nรฃo soube como reagir. Nรฃo consegui discernir se realmente estava satisfeita por estar ao seu lado - mas, mesmo assim, rendi-me e o beijei com toda a intensidade que meu ser era capaz.

Sua lรญngua invadiu minha boca sem misericรณrdia, violando meus lรกbios como um animal faminto. Minhas mรฃos correram atรฉ seu rosto, segurando-o para impedir que se afastasse de mim, mesmo ciente de que aquela nรฃo era a nossa realidade.

Eu estava completamente consumida pela loucura, esgotada mentalmente; provavelmente meu corpo comeรงaria a refletir o estado do meu espรญrito ร  medida que continuasse a me deteriorar diante de tudo que me atingia e envolvia, tanto direta quanto indiretamente. Nรฃo sabia mais se ao entregar meu corpo a ele da forma mais profana e pecaminosa ainda era eu mesma - ainda era Elisabette, o Anjo da Morte; ou Magni D. Elisabette, a Santa Praga. Talvez em todos aqueles momentos futuros nos quais eu me encontrasse daquele jeito por causa dele, eu pudesse esquecer quem realmente sou e permitir-me ser quem ele desejasse acreditar que eu era.

Afinal, nรฃo havia amor - pelo menos nรฃo da parte dele. Portanto, nรฃo havia razรฃo para desejar algo inexistente e que eu nรฃo merecia: o amor de um homem que nรฃo me amava e nunca estaria disposto a fazรช-lo. O que compartilhรกvamos era puramente carnal; isso era evidente. Contudo, se assim deveria ser, entรฃo assim seria: nas mรฃos dele, sendo usufruรญda de todas as maneiras possรญveis por um homem com uma mulher. Eu aceitaria.

Porque se fosse para ser uma miserรกvel, que ele tambรฉm fosse miserรกvel ao meu lado.

โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”

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