━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Reino de Dressrosa.

Law e Elisabette permaneceram em silêncio enquanto tudo ao redor deles parecia desmoronar, apenas se encarando nos olhos. Estavam fracos, exaustos e com as energias se esvaindo de seus corpos a cada segundo, e a situação piorava ao escutarem os gritos de Luffy e Doflamingo, voltando-se para observar os dois lutando no ar. A sentinela posicionou-se à frente do aliado, segurando sua foice com a pouca força que ainda lhe restava, arregalando os olhos ao ver o Shichibukai disparar inúmeras Cordas Projétil em direção a eles. Ela sabia que não teriam como desviar e teve apenas tempo de se virar para agarrar Trafalgar, segurando-o com firmeza, como se, de alguma forma, pudesse protegê-lo de ser atingido e agravar seu estado.

No entanto, como um milagre vindo dos céus, Cavendish surgiu com sua espada e não tardou a ricochetear os disparos efetuados por Doflamingo, salvando e protegendo os dois piratas atrás de si, que naquele momento se viam indefesos e vulneráveis devido à fraqueza de seus corpos exaustos.

- Cavendish-kun! ♡ - um sorriso largo e apaixonado brotou nos lábios da mais jovem, o que fez o Cirurgião da Morte franzir o cenho diante da rápida mudança de comportamento.

- Sinto muito. Eu estava cochilando.

- Eli-chan! - Robin a agarrou de repente pelos ombros, várias mãos surgindo para tocar seu rosto e virá-lo de um lado para o outro, analisando seus ferimentos. - Doflamingo fez isso com você!?

- Sim. Mas não se preocupe. Foi apenas um tiro.

- Um tiro!? Ele atirou em você, Eli-chan!? - os olhos da arqueóloga se arregalaram em horror, perplexa com a revelação de sua companheira.

Princesa Mansherry aproximou-se da platinada, escalando suas pernas até chegar aos seios e pousar neles, olhando-a com os olhos marejados e atraindo um olhar confuso da maior, que apenas franziu o cenho ao notar a pequenina ali, observando-a com tanta aflição.

‐ Seu olho está muito ferido! Deixe-me curá-lo! - ela pediu, chorosa, erguendo as mãos na direção de Birkan, que apenas sorriu de canto.

- Não. Obrigada. Ele precisa mais. - Elisabette disse, apontando para Law, que permanecia caído no chão, sendo avaliado por Leo e Kyros.

Com a pequenina agora em suas mãos, ela voou até onde Trafalgar estava deitado e se ajoelhou ao lado dele, puxando-o cuidadosamente até que sua cabeça estivesse apoiada em suas coxas. Ela o olhou com atenção, analisando suas feridas e as marcas de bala em seu peito e abdômen, sentindo um nó se formar em sua garganta e uma pontada em seu próprio peito a afligir ao vê-lo daquela maneira. Cuidadosamente, ela segurou o rosto dele e acariciou suas bochechas com os polegares; então, olhou para Leo, observando-o costurar o braço do pirata novamente no lugar, o que a deixou aliviada e surpresa ao mesmo tempo.

Enquanto os observava, sua mente a transportou para o instante em que ele tomou seus lábios para um beijo que nem ela imaginava estar ansiando até aquele momento: um ato que ocorreu sem nenhum aviso prévio, simplesmente acontecendo e a deixando chocada a ponto de se entregar à sensação satisfatória e doce que sentiu quando suas bocas se uniram e suas línguas se encontraram.

Onde quer que estivesse, seu coração estava disparado, e suas bochechas ardentes revelavam a tempestade de emoções que a consumia. Recordava-se de cada instante vivido, como se o tempo houvesse se comprimido em uma sequência de eventos rápidos e inesperados. Em um momento, encontrava-se desfalecida no chão; no seguinte, entregou-se à queda do palácio, segurando-o nos braços, como se aquele ato fosse a única salvação para suas almas. E ao final, selaram seus lábios em um beijo que parecia ser a própria essência da vida, como se nada ao redor existisse além da conexão profunda entre eles.

Um suspiro quebrado escapou entre seus lábios ao vê-lo grunhir de dor, um lamento que ecoava em seu coração. Sentia-se tomada pela culpa por tudo o que lhe havia ocorrido. Ah, se apenas estivesse bem! Poderia tê-lo protegido com mais fervor; se não estivesse apodrecendo internamente, poderia ter feito tantas coisas em vez de apenas suportar as agruras e fugir para salvar sua própria vida. E agora... ali estava ela, ferida e sem forças, enfrentando a dolorosa realidade de Law quase à beira da morte, tudo isso por conta de sua imprudência em baixar a guarda diante do destino cruel que os cercava.

O capitão dos Piratas do Chapéu de Palha havia dado uma ordem clara a Cavendish para que ele retirasse todos dali, protegesse Elisabette e Robin, e também levasse Law para longe do alcance de Doflamingo. Apesar da relutância, o loiro cedeu ao comando do garoto e correu com os três para longe, a fim de levá-los a um lugar seguro, uma vez que os três, especialmente o Cirurgião da Morte e a sentinela, estavam muito feridos.

Enquanto corriam para longe, muitas coisas rodavam na mente de Trafalgar, tantas que sua cabeça doía e latejava com tantos pensamentos que o faziam sentir-se doente.

Ao mesmo tempo em que se sentia confiante na vitória de Luffy, também sentia que não podia apenas ficar parado e assistir a tudo sem fazer nada. Não depois de tudo o que havia acontecido; não depois de treze longos anos se preparando para aquele dia, o dia em que presenciaria a queda de Doflamingo com seus próprios olhos e finalmente sentir satisfação, um verdadeiro alívio e paz, nem que fossem momentâneas por alguns dias. Aquela luta, aquela vingança... era o seu propósito de vida, a sua razão de viver, o único motivo que ainda o mantinha de pé dia e noite.

- Espere! - Law arfou, com a voz rasgada e fraca, quase rouca pela debilitação de seu corpo. - Deixe-me aqui...

- Como assim!? - o do Cavalo Branco o encarou espantado, perplexo com tamanha ousadia vinda de alguém que estava praticamente morrendo em seus braços.

- Tral-kun, você está muito ferido. Se ficar aqui, será um alvo fácil. - disse Robin, aproximando-se ainda mais dos dois para tentar, de alguma forma, trazer razão ao mais jovem. - Você mal consegue ficar de pé sozinho.

- Vocês... vocês não entendem.

- Tral-san... - a platinada murmurou em um tom suave, quase inaudível devido à exaustão. - Por favor, não se esforce mais.

Contudo, nada parecia clarear a mente do tatuado, que apenas arfou novamente, sentindo suas entranhas revirarem em seu corpo, como se a qualquer momento tudo fosse explodir. Ele respirou fundo, tentando manter-se acordado, não querendo mais sucumbir ao cansaço e à exaustão. Precisava manter-se alerta, precisava continuar são; ele precisava... ver.

- Há 13 anos, eu vivo para matar Doflamingo! Eu fiz tudo o que pude! Agora só depende do Mugiwara-ya! - começou, agarrando mais uma vez o ombro de Cavendish, que começara a se sentir pressionado. - Se ele vencer ou não, preciso ver com meus próprios olhos daqui! Se ele perder, eu preciso estar aqui... para morrer com ele!

Law estava fraco, tão fraco que sua pele bronzeada parecia pálida como a de um cadáver. Suas feridas abertas ainda sangravam e, mesmo após ter tido o braço costurado novamente no lugar, era como se seus movimentos não tivessem voltado completamente. Sua situação era precária; ele estava sim acabado, destruído por dentro e por fora, física e psicologicamente. O que ele precisava era apenas de uma comida quente e um cobertor macio para se aconchegar. Qualquer coisa que lhe proporcionasse o mínimo de conforto seria bem-vinda naquele momento; porém... tudo o que ele menos queria era conforto.

Tudo o que Law queria era que sua vingança fosse realizada, que Corazón pudesse descansar em paz - afinal, na visão do pirata, seu tão querido Cora-san jamais descansaria em paz nem teria um bom sono eterno enquanto seu desejo de derrubar o irmão não fosse cumprido.

- Fui eu quem o envolveu neste conflito... preciso ver como ele vai terminar! Deixe-me aqui!

- Tral-kun... capitães aliados estão em pé de igualdade. Luffy está aqui porque assim desejou. - Robin interveio novamente, com suor frio escorrendo por seu rosto delicado. - Ele não luta quando não tem vontade de lutar.

- Deixe-me aqui... eu imploro!

Elisabette sentiu um aperto no peito e um nó se formar em sua garganta ao notar um brilho choroso nos olhos de Trafalgar. Era como se ele estivesse se segurando ao máximo para não desabar ali, na frente de todos, como um covarde, a figura que ele temia se tornar. Ela engoliu em seco, seus olhos se encontrando com os dele, fixos um no outro, enquanto uma série de lembranças passava por sua mente - lembranças que retratavam toda a sua trajetória desde que o conheceu em Sabaody até aquela situação em que se encontravam.

Diante de todas aquelas desgraças que vinham acontecendo e da dor que ela sentia disparar no peito de Law, desejou profundamente que, se pudesse, faria um acordo com Deus para que ele os trocasse de lugar e que ele não se sentisse mais daquela forma, tão angustiado e imerso em seus sentimentos miseráveis e ordinários.

Por fim, Cavendish se deu por vencido e suspirou ao deitar o Cirurgião da Morte cuidadosamente sobre o gramado, cravando sua espada no chão e sentando-se ao lado do moreno tatuado. Robin observou a situação em choque, desviando sua atenção deles para Rebecca, que lhe dizia sobre escadas criadas por Bartolomeo. A mulher os encarou aflita, receosa em partir antes de receber o sobretudo do loiro para esconder a ferida em suas costas. Ela deu uma última olhada em seu aliado, recebendo um aceno como forma de dizer "vou ficar bem". Por fim, suspirou e olhou para sua companheira mais jovem, que estava quieta com a mão sobre o ferimento ainda sangrando.

Elisabette não sabia o que fazer. Por um lado, queria seguir a ordem de seu capitão e sair dali para se salvar; era quase uma necessidade essencial para ela naquele momento. Entretanto, também desejava permanecer ali ao lado de Law; queria estar com ele, protegê-lo, cuidar dele, não deixar que mais nada o atingisse e, se fosse necessário, morrer com ele - deixando tudo de lado e importando-se somente... com ele. Ele. Ele. Só ele. Apenas ele. Ninguém mais. Ele.

Ela suspirou, trêmula, e olhou de lado para a arqueóloga de seu grupo, seu olhar confuso e perdido, quase como o de uma criança buscando a aprovação da mãe para fazer alguma travessura.

E Robin conhecia aquele olhar. E, Deus, como ela conhecia. Lembrou-se de inúmeras vezes em que viu sua menina querendo fazer algo, mas hesitando devido a alguma ordem ou intervenção de seu capitão. Era doloroso; no entanto, Robin buscava a cada dia entender a mente dela, compreender a confusão que Enel havia causado para torná-la assim, tão presa a alguém, tão obediente, tão... submissa. Um suspiro suave foi a única coisa que a mulher mais velha conseguiu exalar naquele momento, sua mão encontrando o rosto da jovem enquanto a olhava seriamente.

- Você quer ficar aqui? - ela perguntou amorosa e gentilmente, seus dedos delgados traçando sua bochecha, cuidadosa para não tocar na ferida aberta em seu rosto.

- Eu... acho que sim.

‐ É "sim" ou "não", Eli-chan.

- Eu quero. Eu posso?

- Não sei. Você pode?

- Luffy nos mandou fugir, mas eu... - tentou protestar ao mesmo tempo em que sentiu uma pontada na cabeça, uma forma inconsciente de seu corpo lembrá-la de que precisava obedecer às ordens do capitão a todo custo. - Não sei se devo...

- Você pode ficar. - Robin sorriu fraco e então saiu correndo para o precipício junto com Rebecca e Kyros.

Quando os três partiram, restaram apenas Cavendish, Law, Elisabette, Leo e a Princesa Mansherry no Campo de Flores. A jovem de cabelos platinados estava prestes a sucumbir ao cansaço e não viu outra escolha a não ser cair sobre o gramado, sentindo-se abraçada e confortada pela grama e pelas pequenas flores que a envolviam. Seus braços e pernas estavam abertos, uma de suas mãos segurando Inazuma, enquanto sua bolsa estava presa ao torso. Sua cabeça latejava após desobedecer a uma ordem de seu capitão, mas ela tentou ignorar a dor a todo custo, buscando manter-se focada apenas na situação que os mantinha presos naquele estado.

Ela podia ouvir ao longe o som dos impactos da troca de golpes entre Luffy e Doflamingo; seu Mantra fraco conseguia identificá-los e senti-los, mesmo debilitada.

Foi então que, de repente, a birkan ficou agitada, levantando-se bruscamente para encarar o alto do palácio com um olhar perplexo e paralisado. Luffy havia mudado de forma. Tornara-se mais forte. Tão forte que quase a fez acreditar que era outra pessoa.

Os cinco se encolheram ao ver algo sendo arremessado com força do alto do palácio, percebendo imediatamente que se tratava de Doflamingo sendo lançado para longe por um único golpe certeiro desferido pelo garoto com chapéu de palha. Este também saiu voando do palácio na direção para onde seu adversário havia sido lançado, dando continuidade à luta uma vez que o soco não fora suficiente para derrotá-lo, apesar do estrondo causado.

- Não consigo acreditar como ele mudou... É realmente o Chapéu de Palha? - indagou Cavendish, chocado, enquanto observava a situação se desenrolar diante de seus belos olhos azuis, que brilhavam como safiras à luz do sol.

- O poder e a força dele mudaram repentinamente, estão se igualando ao nível de Doflamingo... ambos se tornaram iguais em termos de força bruta e poder. - revelou Elisabette, enquanto se agarrava aos cabelos loiros e sedosos do pirata ao seu lado, colocando-se de joelhos no chão. - Luffy está tão forte que cheguei a pensar que fosse outra pessoa.

- Ele está superando o invencível Doflamingo! Que poder incrível!

- Mas ele está usando Haki demais...

- E isso não deveria ser um bom sinal? - perguntou a jovem, arqueando uma sobrancelha.

- Isso pode deixar o corpo dele escasso de energia... o uso contínuo e excessivo de Haki pode cansá-lo tanto que ele poderá ficar sem forças para se movimentar. - disse o Cirurgião da Morte aos dois, que apenas o olharam aflitos.

- Sempre que você abre a boca, é para dar más notícias... - murmurou ela com um beicinho, jogando algumas flores no rosto do maior.

A luta entre Luffy e Doflamingo prosseguia intensamente, com ambos os combatentes trocando golpes poderosos que eram capazes de arremessar um ao outro para todos os lados. O impacto de seus ataques destruía partes do chão e danificava prédios nas proximidades, levantando nuvens de poeira que obscureciam a visão. A força demonstrada por ambos surpreendia a todos os presentes, deixando-os atônitos diante da magnitude do confronto. O que se poderia esperar de um novato promissor como o Chapéu de Palha e de um Shichibukai influente e poderoso como o Rei de Dressrosa, Donquixote Doflamingo? Muito, sem dúvida.

Os socos de Luffy ressoavam no ar como explosões, enquanto ele utilizava todo o seu treinamento para desferir ataques cada vez mais rápidos e precisos. Doflamingo, por sua vez, respondia com uma agilidade impressionante, desviando-se dos golpes enquanto lançava cordas de seda cortantes em direção ao seu adversário. A batalha se tornava um verdadeiro espetáculo de habilidades e estratégias, onde cada movimento era crucial para a sobrevivência. Os cidadãos de Dressrosa observavam com apreensão e expectativa, sabendo que o destino da ilha estava em jogo.

Em um momento crítico da luta, Luffy conseguiu conectar um golpe direto no rosto de Doflamingo, fazendo-o recuar alguns passos. A determinação no olhar do Chapéu de Palha era inabalável; ele sabia que precisava vencer para proteger seus amigos e a liberdade da ilha. No entanto, Doflamingo não se deixava abater facilmente. Recuperando-se rapidamente, ele lançou uma série de ataques rápidos e imprevisíveis, cercando Luffy com suas cordas e tentando imobilizá-lo. Cada movimento era calculado, uma demonstração do intelecto tático que o tornara um adversário tão temido.

Foi então que, surpreendentemente, Luffy conseguiu derrubar Doflamingo com toda a sua força e o Haki concentrado em um único punho, fazendo com que o homem afundasse em um buraco na parede do planalto. Esse feito trouxe aos presentes raios de esperança em seus corações, e as comemorações começaram a ser ouvidas nos quatro cantos do país, todos alegres com a "derrota" daquele que, por anos, os manipulou e utilizou para efetuar suas maldades sob a fachada de um reinado glorioso e próspero.

Elisabette sentiu um arrepio percorrer suas asas e sua espinha ao olhar para o céu e perceber que a gaiola ainda estava ali, o que significava que Donquixote ainda não havia sido derrotado e continuava vivo. Essa constatação fez com que ela engolisse em seco e levantasse voo na direção para a qual Luffy havia lançado Doflamingo, conseguindo ter uma breve visão do homem cravado na parede de terra do planalto enquanto seu capitão se dirigia rapidamente até ele, preparando-se para desferir o golpe final.

Os pés da jovem de cabelos platinados tocaram suavemente o solo gramado, a ponta de seus pés pisando delicadamente sobre as flores macias até que finalmente se firmaram na terra. Seu olhar, desprovido de brilho e opaco, contemplava seu capitão desinflar como um balão murchando, perdendo todas as forças. Aquela cena devastadora extinguia, de maneira irremediável, a esperança daqueles que acreditavam em uma fuga triunfante de Dressrosa e na vitória sobre Doflamingo.

Ela tombou de joelhos, incapaz de crer no que presenciava, e lançou um olhar furtivo para Law, que, assim como ela, permanecia atônito diante da tragédia que se desenrolava. O coração dele apertou-se em seu peito, um gosto amargo invadiu sua boca ao conceber a terrível realidade de que todos os esforços haviam sido em vão. Anos dedicados ao estudo meticuloso e à revisão incessante de seu plano até alcançar a perfeição; anos carregando o peso da culpa nos ombros desde os treze anos... tudo em vão. Tudo em vão. Tudo. Tudo. Tudo.

- Não é possível... Como ele sobreviveu àquele ataque? Maldição... O Chapéu de Palha está reduzido a farrapos...

- Capitão...

Em meio ao silêncio que permeava o caos provocado pela destruição causada pela Gaiola, uma voz cansada emergiu como um mantra divino, fazendo com que todos olhassem ao redor em busca de Luffy, aquele que gritava com todas as forças de seus pulmões.

"ELISABETTE! VOCÊ PODE SEGURAR O MINGO PARA MIM POR 10 MINUTOS?"

O olhar dela iluminou-se ao ouvi-lo solicitar sua ajuda, seus olhos brilhando em um tom distinto do azul habitual que sempre reluzia nas manhãs ensolaradas. Ela piscou algumas vezes, tentando raciocinar, até que sua cabeça latejou novamente - obedecer, ela deveria obedecer.

Law arregalou os olhos diante da ordem absurda que o Chapéu de Palha havia dado à sua companheira, sentindo o sangue ferver e o cenho franzir ao vê-la abrir as asas e segurar a foice com ambas as mãos, preparando-se para partir sem questionar ou olhar para trás, ciente de que aquela ordem não poderia ser negada em hipótese alguma. O moreno suspirou e arrastou-se até ela, agarrando seu tornozelo. Ele notou que ela o sentiu e o encarou, percebendo que... novamente, aquela não era ela... ao mesmo tempo em que era.

- Você não está em condições de lutar... pare de ser imprudente, sua pirralha maldita... - murmurou Trafalgar, sem que seu aperto no tornozelo dela parecesse surtir efeito algum.

- São ordens.

- Ele não ordenou nada; apenas perguntou se você podia... não foi uma ordem, é importante saber diferenciar.

- Não posso. Preciso lutar. - ela murmurou, sua voz soando desesperada em um tom moderado, quase beirando o choro e o medo.

- Você não está em condições de lutar!

- Mas eu preciso lutar por ele!

Os olhos de Law escureceram diante da tamanha estupidez humana, sentindo cada osso de seu corpo ranger em resposta à teimosia que ele acreditava ter aprendido a lidar. No entanto, quanto mais tempo passava com Elisabette, mais ela o surpreendia; mais ela se mostrava instável e prestes a explodir tudo e qualquer um ao seu redor, como uma bomba nuclear capaz de disseminar qualquer mínimo sinal de vida existente em sua proximidade.

Ao perceber que suas palavras e protestos nada poderiam fazer contra a obstinação dela, o moreno tatuado, em um gesto de resignação, a soltou. Observou-a escapar entre seus dedos, como areia fina que se esvai inexoravelmente, sem que ele pudesse detê-la ou mantê-la segura, longe daquela confusão infernal à qual a havia conduzido. A angústia se apoderou de seu coração ao constatar que não poderia protegê-la da tempestade que se aproximava.

Com ambas as mãos segurando Inazuma firmemente, Elisabette voou entre os prédios, rodopiando com o vento enquanto sentia a brisa seca tornar o sangue em seu rosto ainda mais seco. Contudo, não se importou, não quando os gritos desesperados das pessoas preenchiam seus ouvidos, tornando a situação cada vez mais opressora, quase levando-a à loucura com tanto clamor e desespero. Os choros assustados das crianças e os pedidos de ajuda vindos de todos os lados a faziam lembrar de seu papel naquele país, de sua função na missão que lhe fora designada. Não era que tudo dependesse exclusivamente dela; não era ela quem estava encarregada de tudo. Mesmo assim, desejava ardentemente mostrar o que era capaz, queria demonstrar ao seu capitão que era uma boa companheira... não, uma boa serva.

No instante em que seus olhos captaram Donquixote Doflamingo, a fúria borbulhou em suas veias como o mais ardente dos fogos, levando-a a avançar sobre ele como um animal faminto há muito enjaulado. Com um movimento decidido, lançou uma rajada elétrica através da Electric Fury. Em seguida, saltou de prédio em prédio até desferir uma voadora no rosto do homem, sentindo quando ele agarrou seus pés e a rodou, arremessando-a contra uma parede. Seu corpo foi lançado de um lado para o outro até que ela jurou ter visto um de seus dentes saltar de sua boca.

Elisabette girou no ar e encontrou impulso em uma barraca para se desvincular das mãos de Doflamingo. Com destreza, rodou sua foice no ar e utilizou a força para desferir diversos chutes no peito de seu oponente. No entanto, ele não tardou a laçar suas cordas em torno dos braços dela e prendê-la. Contudo, não teve tempo de segurá-la com firmeza antes que ela utilizasse seus músculos para romper os fios como se fossem meros filamentos, conseguindo assim se libertar.

Os pés da birkan arrastaram-se pelo chão, causando-lhe dor até o momento em que conseguiu frear, apoiando uma mão no solo e mantendo a outra suspensa, ainda segurando Inazuma em uma posição de defesa, sem ousar desviar os olhos de Doflamingo.

- Certo, certo... agora que você se acalmou, que tal conversarmos um pouco sobre a sua situação atual, hein? Fuffuffuffuffu! - o homem riu de forma debochada, caminhando lentamente em direção a ela.

- Não tenho nada para discutir com você.

- Não? Nem se eu disser que... bem, vazei as coordenadas para chegar até as Ilhas do Céu, hum? O que você vai fazer? - ele riu novamente, seu sorriso se alargando ao perceber um olhar apavorado tomar conta do semblante dela.

- Você... fez o quê? - os olhos dela tremiam de terror, enquanto sua pele empalidecia pelo pânico.

Tudo o que ela ouviu em seguida foi a risada de Doflamingo aumentando conforme os segundos se passavam, a frase dele ainda ecoando em seus ouvidos, quase fazendo-a vomitar ao pensar na possibilidade de piratas e traficantes invadindo Skypiea, causando mais ondas de horror e medo para os habitantes - algo que, Deus, ela não podia permitir.

- Desgraçado...

Enquanto esteve nas Ilhas do Céu, Elisabette descobriu ser capaz de replicar algumas das habilidades de seu pai, embora sempre acabasse ficando bastante debilitada e fraca após o uso, devido às altas ondas de energia e eletricidade que ultrapassavam os limites de sua imunidade aos raios elétricos. Foram necessários meses de treinamento para que ela conseguisse lançar uma pequena réplica de Raigo e tivesse a capacidade de destruir por completo um amontoado de rochas e troncos em Upper Yard. Consciente disso, ela sabia que ainda havia uma única habilidade de Enel que nunca havia treinado efetivamente; apenas a testara algumas vezes, falhando miseravelmente a ponto de ficar de cama após o uso: o El Thor.

Tomada pelo ódio, Elisabette ergueu Inazuma e saiu voando o mais alto que pôde, sentindo Doflamingo ir atrás dela e lhe atirar inúmeras Cordas Projétil. Ele acertou algumas delas, mas nunca conseguiu fazê-la cair, o que o deixava enfurecido e frustrado pela insistência dela em continuar lutando - estúpida como um maldito cão adestrado.

Quando se elevou a uma altura suficiente, ela encarou Doflamingo, que vinha em sua direção de forma frenética. Isso a fez respirar fundo, abrir as asas e apontar Inazuma para ele.

Ela não sabia se sobreviveria.

Seu corpo estava fraco.

Acabado.

Desgastado.

Em condições saudáveis, o uso do El Thor duas ou três vezes era capaz de fazê-la desmaiar de exaustão e provocava queimaduras em seu corpo. O que aconteceria com ela estando praticamente com os dias contados? Não lhe restava... nada.

Faíscas elétricas de cor azulada começaram a percorrer seu corpo e a correr em direção à lâmina de sua foice, criando um brilho que cegaria momentaneamente qualquer um que olhasse diretamente para os feixes de luz emanados da lâmina. Seu corpo começou a sofrer espasmos, e sangue passou a escorrer tanto pelo nariz quanto pelos lábios, enquanto uma pressão crescente a apertava, conforme uma enorme esfera de eletricidade se formava na ponta de Inazuma. Esse fenômeno atraiu o olhar de todas as pessoas para ela, enquanto tudo parecia escurecer, restando apenas o brilho de Elisabette, que lhes fornecia alguma claridade.

Erguendo a foice para o alto e lançando-a para longe de suas mãos, a birkan a agarrou pelo cabo e girou-a no ar até apontar novamente para Donquixote, que parou por um momento e a encarou, seu sorriso se desfazendo instantaneamente.

- Eu disse... eu vou obliterar cada canto deste lugar! - ela gritou, sentindo seu peito arder enquanto os pulmões queimavam com as ondas elétricas que quase a fritavam.

- Sua vadia...!

- EL THOR!

No instante em que as palavras deixaram seus lábios, a esfera de eletricidade disparou em direção a Doflamingo como um relâmpago. A luz ofuscante iluminou o campo de batalha, e o som estrondoso da descarga elétrica ecoou por toda parte. Doflamingo tentou desviar, mas era tarde demais; a força do ataque era avassaladora.

O impacto foi devastador. A eletricidade percorreu seu corpo, fazendo-o tremer sob a potência da habilidade. Seus fios de cabelo ficaram eriçados e seu sorriso se transformou em um grito de dor. Ele se viu forçado a recuar, os olhos arregalados pela surpresa e pela intensidade do ataque.

Ao longe, Zoro arregalou os olhos ao reconhecer aquele ataque, lembrando-se de onde e quando havia presenciado algo semelhante, assim como Robin e Usopp, que também ficaram surpresos com o surgimento repentino de tal poder em Dressrosa. Os três ponderaram: seria possível? Não, não poderia ser. Ou poderia? Enel... teria voltado? Não. Não. Impossível. Luffy o derrotou e, mesmo que não o tivesse feito, o que ele estaria fazendo ali?

Elisabette.

O nome da garota surgiu em suas mentes, trazendo à tona suas lembranças sobre os próprios poderes elétricos e o quão perigosa ela costumava ser considerada em Skypiea. Recordaram como ela era temida e como nunca haviam visto seu poder real sendo utilizado; ela nunca havia se entregado completamente... e aquilo era magnífico e, ao mesmo tempo, assustador. O fato de Elisabette poder replicar uma habilidade tão poderosa e ter devastado a região em que se encontrava, transformando tudo em cinzas e pó, os fez sentir como se estivessem voltando ao passado, no momento em que precisaram lidar com alguém tão poderoso quanto Enel.

E, como havia dito a si mesma, o corpo de Elisabette não aguentou. Logo após lançar o El Thor contra Doflamingo, ela desmaiou no ar. Seu corpo desfalecido começou a despencar e, antes que atingisse o chão, Law conseguiu trazê-la para perto de si, fazendo-a cair sobre seu colo.

Assim que a segurou em seus braços, logo pôde notar que seu corpo estava quase queimando de tão quente. Pequenas queimaduras cobriam suas mãos e braços; seu nariz estava ensanguentado e seus lábios também. Era como se ela tivesse sido cozida de dentro para fora, e essa imagem fez seu coração falhar uma batida ao imaginar a cena aterrorizante que seria, até mesmo para ele. Law suspirou ao sentir o pulso dela; pelo menos estava viva, por mais fraca que fosse sua pulsação ou que seu corpo tivesse quase sido fritado pelos próprios poderes.

Pelo menos... estava viva.

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