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โ”โ” ๐–ฅ” ึด เผ‹ ุŒ๐Ÿฐ๐Ÿฑ. ๐—”ฬ€ ๐—บ๐—ฒ๐—ฑ๐—ถ๐—ฑ๐—ฎ ๐—พ๐˜‚๐—ฒ ๐—ผ ๐—บ๐˜‚๐—ป๐—ฑ๐—ผ ๐—ฑ๐—ฒ๐˜€๐—บ๐—ผ๐—ฟ๐—ผ๐—ป๐—ฎ.





















โ”โ” Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Reino de Dressrosa.
แ˜กElisabette, Anjo da Morte. โชO ponto de vista Delaโซ

Nasci com um รบnico propรณsito: servir e proteger. Toda a minha existรชncia foi moldada por esse ideal. Desde os dez anos, empunhava machados, espadas e tridentes, lutando atรฉ o momento em que fui agraciada com uma foice que, desde entรฃo, se tornou minha fiel companheira de batalha. Sou uma guerreira - a Guerreira Perfeita, a Filha de Deus. Possuo a forรงa de um exรฉrcito, a agilidade de uma รกguia e um Mantra tรฃo afiado que รฉ capaz de detectar inimigos a quilรดmetros de distรขncia. Nada era capaz de me derrubar, exceto ele, รฉ claro: Enel.

Lutar, lutar e lutar. Esse era o meu destino. Lutava atรฉ que meus ossos se tornassem fragmentos. Porque, se vencer, viverรก; se perder, morrerรก. Sem luta, nรฃo hรก vitรณria.

Meu corpo รฉ delineado por mรบsculos, ainda que discretos, o que se deve ao fato de ser uma mulher de porte mediano e fรญsico esguio. Se eu fosse homem, certamente seria mais forte e imponente, talvez me assemelhasse ainda mais a meu pai do que jรก me pareรงo agora.

Sempre correndo na chuva, segurando algum bastรฃo para me defender dos lobos que me perseguiam ou dos ataques dos sacerdotes que chegavam por trรกs, sem aviso, e me pegavam desprevenida. Sempre escondida em buracos, com a mรฃo pressionada contra a boca para nรฃo deixar nenhum som escapar dos meus lรกbios, para nรฃo ser devorada e morta pelo Mestre do Cรฉu, Nola, a serpente gigante que habitava o Jardim Superior. Suportando tantas adversidades com apenas onze anos de idade e sem entender, a princรญpio, para que eu treinava e pelo que lutaria... mas eu lutava mesmo assim, pelo meu pai, pelo meu Senhor, pelo meu Deus.

Eu lutaria, eu sangraria, eu morreria por ele. Eu sabia que meu corpo aguentaria quantas pancadas o mundo fosse capaz de desferir e que nunca me derrubaria; e se eventualmente eu caรญsse, eu me reergueria logo em seguida.

Entretanto, desta vez, acho que nรฃo conseguirei me reerguer.

Eu nรฃo conseguia ouvir mais nada alรฉm de zumbidos. Meu corpo estava flรกcido e tudo o que sentia era uma dor insuportรกvel, ร  medida que a bala parecia deslizar de um lado para o outro na minha cabeรงa. Nรฃo sei se isso รฉ possรญvel; apenas sinto como se estivesse assim, e isso me deixa... louca. Nรฃo sei o que estรก acontecendo ao meu redor; nรฃo tenho forรงas sequer para me levantar e ver o que aconteceu com Tral-san ou se Luffy conseguiu derrotar Bellamy e retornar ao alto do palรกcio.

A cada minuto que passava, tudo parecia se tornar mais distante e, mesmo longe, eu podia sentir meu coraรงรฃo enfraquecer, tentando a todo custo me reanimar - uma pena, pois eu estava distante o suficiente para nรฃo conseguir a energia que meu pai me concedeu.

Acho que a vida รฉ feita disso: momentos. Sejam eles bons ou ruins, sรฃo esses momentos que nos moldam como pessoas.

E eu fui moldada para isso: para ser nada alรฉm de uma arma humana. E o que as armas fazem? Elas matam.

Nunca tive certeza sobre quem eu era, nem sobre o que realmente queria da vida. Digo... o que EU realmente queria. Passei anos acreditando que tudo se resumia a ser forte, lutar e matar aqueles que fossem contra os princรญpios de Deus. No entanto, quando finalmente pude viver em paz por meros meses de calmaria nas Ilhas do Cรฉu, compreendi que tudo o que eu realmente desejava era ter paz.

Bellamy chegou ร  minha vida - ou eu cheguei ร  dele? Nรฃo importa - em um momento em que ambos estรกvamos vulnerรกveis e quebrados, magoados e frustrados conosco mesmos a ponto de nรฃo conseguirmos lidar bem um com o outro, devido ร  frustraรงรฃo e ร  raiva que sentรญamos, acabando por descontar um no outro. Claro, nรฃo foi assim sempre; houve um tempo em que estabelecemos um tratado de paz e passamos a viver em harmonia, apesar de termos nossas desavenรงas de vez em quando.

Apesar de tudo, era uma vida boa. Acordรกvamos cedo, sempre antes do sol nascer, e entรฃo รญamos cuidar das coisas da casa de Gan Fall. Cuidรกvamos da horta, da granja, do jardim e tambรฉm รญamos pegar รกgua com balde no riacho que ficava logo atrรกs do quintal. Bellamy vivia reclamando, o que nos fazia brigar; contudo, acho que sinto falta disso. Sinto falta daquela paz, daquela vida que eu me permiti viver por um tempo.

Ser a Guardiรฃ de Upper Yard foi um trabalho desafiador, algo que me consumia lentamente e que me deixou feridas que nunca cicatrizarรฃo. Eu me sinto... cansada e infeliz. E acho que ninguรฉm se importa de fato com o que eu sinto, especialmente quando isso se refere ร  vida que eu costumava ter, ร s pessoas com quem costumava conviver e ao pai que me criou e que, apesar de tudo, me amou.

Olhando para trรกs, nรฃo apenas para o que tive com Bellamy, mas tambรฉm para o tempo em que รฉramos apenas eu, meu pai e minha mรฃe, percebo que gostaria de ter aquela vida tranquila de volta. Sem alarmes, sem surpresas; apenas uma casa silenciosa por estarmos ocupados com tarefas domรฉsticas ou cuidando uns dos outros.

Uma casa bonita, com um jardim encantador... creio que รฉ tudo o que eu gostaria de ter, mesmo que fosse apenas eu a viver sozinha.

E agora... este รฉ o meu รบltimo suspiro.

E acho que estรก tudo bem.

Eu... eu fiz o que pude, nรฃo fiz? Eu lutei, eu sangrei, eu matei, fiz tudo ao meu alcance por todos aqueles que eu... amo? Eu lutei pelo meu pai, eu lutei por Robin, lutei por Brook e lutei por Luffy; eu lutei pelos meus companheiros nรฃo porque eles pediram, mas porque eu quis. Eu tentei lutar por Trafalgar Law e nรฃo consegui.

"Elisabette..?"

Eu realmente desejava lutar por ele, mesmo sem entender o motivo de sua insistรชncia naquela luta, naquela vinganรงa contra Doflamingo. No fundo, creio que sรณ queria me sentir verdadeiramente รบtil novamente. Nรฃo se tratava de "vou protegรช-lo pelo meu coraรงรฃo", e sim de "quero provar meu valor". Talvez tenha sido um comportamento egoรญsta, nรฃo querendo deixรก-lo morrer por aquilo que desejava apenas para me manter viva e... acho que estava apenas com medo do que vem a seguir, do preรงo que teria de pagar por tudo que jรก fiz ou deixei de fazer.

Se eu pudesse me levantar agora e olhar em seus olhos, pediria desculpas por ser tรฃo egoรญsta.

Eu pediria desculpas por todas as vezes em que o perturbei dia e noite.

Eu pediria desculpas por todas as vezes em que ri alto quando ele me pedia silรชncio.

Eu pediria desculpas por incomodรก-lo com a Febre das รrvores, sendo que poderia ter resolvido sozinha ao invรฉs de achar que ele tinha a obrigaรงรฃo de cuidar de mim.

Eu... eu apenas desejava vรช-lo uma รบltima vez. Pedir desculpas por tudo. Por nรฃo ter conseguido ajudรก-lo, por ter sido um obstรกculo em seu caminho, por nรฃo ter logrado salvรก-lo a tempo, e agora ele se encontra ร  beira da morte. Ele nรฃo sobreviverรก a todos aqueles disparos, enquanto que a mim... um รบnico tiro foi suficiente para me derrubar. Oh, Deus, quando foi que me tornei tรฃo fraca? Senhor, peรงo-lhe com fervor: nรฃo permita que ele morra. Nรฃo quero que Tral-san parta deste mundo. Anseio por sua vida; desejo que ele permaneรงa entre nรณs para testemunhar a queda de Doflamingo.

Deus... nรฃo. Pai. Pai, por favor. Eu imploro-te por tudo que รฉ mais sagrado; se houver alguma possibilidade... leva-me em seu lugar, mas nรฃo permitas que ele pereรงa. Por favor. Por favor.

"Elisabette!"

Eu sei que nรฃo sou a melhor pessoa para fazer pedidos, que nรฃo sou alguรฉm de bom carรกter e coraรงรฃo puro. Muitas mortes pesam sobre minhas costas; muitos sofrem em angรบstia e mรกgoa apenas por eu continuar viva, e hรก aqueles que se entristecem com a minha existรชncia. Portanto, Senhor, eu imploro do fundo do meu coraรงรฃo: entrego minha alma em troca da vida dele. Por favor, salve-o.







แ˜กNarrador. ; โชO ponto de vista do Leitorโซ

No mesmo instante em que Trebol ateou fogo contra o palรกcio, a primeira reaรงรฃo de Luffy foi correr para agarrar Elisabette, que ainda permanecia desacordada e jogada de lado como um cadรกver. Ao encarรก-la, o coraรงรฃo do garoto com chapรฉu de palha falhou em suas batidas ao vรช-la naquele estado deplorรกvel. Ele sabia que ela havia dado tudo de si para chegar a essa situaรงรฃo; ele a conhecia, ele sabia. Contudo, nรฃo era hora para lamentos ou lรกgrimas; ele precisava tirar ela e Law dali o mais rรกpido possรญvel e sabia que, para isso, ela precisava acordar.

Gentilmente, Luffy passou uma mรฃo cuidadosa pelo rosto dela, afastando os cabelos que haviam ficado grudados em sua pele devido ao sangue e ao suor. Ela parecia tรฃo frรกgil, tรฃo vulnerรกvel, pensou consigo mesmo enquanto mantinha o olhar focado no semblante sereno dela, como se estivesse apenas dormindo e desfrutando de um doce sono... quando ele sabia que a verdade era cruel demais, diferente daquela que desejava. Ela nรฃo estava dormindo, nรฃo estava descansando, muito menos sonhando; ela estava sofrendo, sentindo dor. Ele sabia disso e odiava o fato de vรช-la assim, sem poder evitar cada ardor, cada latejar e cada arrepio que seu corpo sentia naquele momento.

- Lis... levanta e anda.ยน - disse o Chapรฉu de Palha em um tom suave, porรฉm autoritรกrio e firme.

Quando Law pensou em protestar, em repreender seu aliado por tamanha imprudรชncia, seus olhos se arregalaram ao ver a platinada se erguendo e colocando-se de pรฉ imediatamente.

Aquilo foi surreal, por assim dizer. Ver ela se levantar de maneira quase automรกtica assim que escutou a ordem de seu capitรฃo. O Cirurgiรฃo da Morte jรก havia notado a lealdade e obediรชncia extremas de Elisabette em relaรงรฃo ao capitรฃo, mas cada vez mais ele se via intrigado e curioso com o quรฃo leal e obediente ela era capaz de ser ao acatar alguma ordem dele, quando nรฃo parecia hesitar antes de cumprir o que lhe era dito.

O rosto dela estava pรกlido, sangue escorria de seu ferimento e suas pernas pareciam fracas, como se pudessem se quebrar com qualquer ventania forte que surgisse. O pรณ de arroz escorria por sua pele junto ao suor, tornando as manchas verdes espalhadas por seu corpo um pouco mais visรญveis. No entanto, ela parecia tรฃo alheia a isso, quase como se apenas seu corpo tivesse respondido ao chamado de Luffy, nรฃo sua consciรชncia. Era como se tudo tivesse ocorrido como uma resposta rรกpida de seu subconsciente ร s palavras dele, como se o corpo dela fosse programado para aquilo: para... seguir ordens, obedecer.

Por fim, como um choque de realidade, Elisabette sentiu um frio na barriga e um arrepio percorrer seu corpo ao sair de seu transe. Um grito estridente e desesperado de dor escapou do fundo de sua garganta enquanto ela levava ambas as mรฃos atรฉ o ferimento em seu olho e comeรงava a bater as asas freneticamente, incapaz de suportar a ardรชncia e o latejar que sentia na regiรฃo - era como se milhares de fogos de artifรญcio estivessem explodindo em seu rosto ou como se punhais ardendo em chamas a atingissem inรบmeras vezes. Era insuportรกvel.

- Lis! Pega o Tral e vaza daqui!

- Argh! Mas e vocรช? - ela o encarou assustada, embora nรฃo estivesse disposta a contrariar suas ordens.

- Eu cuido do Mingo!

A jovem de cabelos platinados permaneceu em silรชncio, observando o rosto dele, antes de receber um aceno de cabeรงa acompanhado de um sorriso ladino. Em seguida, assentiu de volta, voltando-se para Trafalgar e o vendo ajoelhado no chรฃo. Nรฃo hesitou em pegรก-lo nos braรงos e comeรงou a correr em direรงรฃo ร  beira do palรกcio, ao mesmo tempo em que Doflamingo avanรงava em sua direรงรฃo, sendo contido por Luffy, que lhe desferiu um forte soco no rosto e o atirou para o canto no exato momento em que sua companheira se lanรงou ladeira abaixo com o capitรฃo dos Piratas de Copas.

Law arregalou os olhos ao sentir que ela se jogava com ele, enquanto o segurava com ambos os braรงos e mantinha uma das mรฃos no braรงo decepado dele. Ficou ainda mais perplexo quando ela inverteu as posiรงรตes e ficou por baixo dele, antes que ambos caรญssem ao chรฃo, sentindo o impacto do corpo dela contra o gramado e os dois desaparecendo em meio aos girassรณis.

Elisabette o largou e rolou para o lado, respirando ofegante e observando o palรกcio que se perdia nas chamas do incรชndio causado por Trebol. Tudo havia acontecido de forma rรกpida demais, tรฃo rรกpida que ela sequer conseguia recordar o que a atingiu, de onde veio ou quem a feriu. Seu peito subia e descia enquanto lรกgrimas escorriam por ambos os olhos, tanto pelo ferido quanto pelo que restava. Que desgraรงa! Ela quase se perdeu novamente, quase se viu partir sem poder ajudar aqueles que precisavam dela.

- Vocรช se machucou? - um sussurro fraco escapou de seus lรกbios trรชmulos ao mesmo tempo em que tentava se colocar de joelhos no chรฃo e o via sentar-se com dificuldade.

- Seu corpo amorteceu a queda... - Law a agarrou pelo cabelo, puxando-a para perto e analisando o ferimento em seu olho. - Por que fez isso!? Vocรช poderia ter morrido com a altura!

- Quem liga!? O importante รฉ VOCรŠ estar vivo!

- "Quem liga"!? Eu ligo! - ele gritou, soltando o cabelo dela bruscamente enquanto a observava se encolher, levando novamente uma mรฃo ao rosto.

Quando o ouviu pronunciar aquelas palavras, foi o estopim para que ela perdesse suas รบltimas barreiras que ainda a mantinham sรฃ diante de tudo o que estava acontecendo, tanto em Dressrosa quanto em sua vida. Os olhos de Elisabette se encheram de lรกgrimas, e ela comeรงou a chorar alto, com as mรฃos na cabeรงa, enquanto se encolhia no chรฃo, usando suas asas como um escudo protetor para se esconder do olhar julgador dele ao vรช-la em uma de suas crises de fraqueza. Nรฃo queria que ele a visse, mas sabia que nรฃo havia mais escapatรณria; nรฃo importava o quanto tentasse se esconder, ele a encararia e a julgaria de qualquer forma.

- Me desculpe! Me desculpe! Me desculpe por ser tรฃo egoรญsta e tรฃo irritante! Eu sei que vocรช me odeia por isso, me desculpe! - ela esperneou em meio ao pranto desesperado, sua voz fraca e ao mesmo tempo alta, quebrada pelos soluรงos. - Me desculpe, Trafalgar! Me desculpe! ME DESCULPA!

- Ei... isso nรฃo รฉ hora de... - o moreno foi interrompido quando ela o agarrou pelo capuz do casaco.

- Sร“ DIZ QUE VOCรŠ ME DESCULPA, POR FAVOR! ME DESCULPA POR FAZER VOCรŠ PERDER TEMPO COMIGO E COM MEUS PROBLEMAS!

- Para com isso!

- Eu estou fraca... a Febre das รrvores estรก destruindo meu corpo de dentro para fora... - murmurou a mais nova, suas mรฃos tremendo contra ele. - Eu nunca me senti assim antes... eu odeio isso... eu nรฃo nasci para ser fraca... eu preciso ser forte... e eu sรณ te usei para tentar provar isso... eu...

- Elisabette-ya... - Law tentou afastรก-la, mas nรฃo conseguiu.

- Eu sou egoรญsta. A morte nรฃo seria um castigo para mim; seria a liberdade. E eu nรฃo mereรงo ser livre.

Law nรฃo a entendia. Nunca a entendeu. Nunca conseguiu compreender quais eram os ideais dela sobre ser livre, sobre ser uma serva, ou o que realmente se passava em sua mente para que ela fosse tรฃo submissa daquela maneira. Questionava-se sobre o que diabos ela havia enfrentado na vida para se comportar como uma panela de pressรฃo. Ela parecia sempre calma, quieta e sorridente, rindo e fazendo brincadeiras com seus companheiros, ou simplesmente aconchegando-se em algum canto do navio para dormir, abraรงada a um travesseiro ou ao seu casaco - algo que ele tambรฉm nรฃo compreendia: o motivo daquele apego ao casaco, que ร s vezes exalava um odor desagradรกvel por estar sempre com ela e nunca ser lavado.

Entretanto, aquele momento nรฃo parecia ser o adequado para discutir tais questรตes, especialmente quando tudo ao redor deles estava em completo caos.

Chamas ardiam por todos os lados, consumindo o palรกcio por inteiro; a gaiola diminuรญa a cada segundo, destruindo todas as construรงรตes aprisionadas dentro dela. Pessoas controladas por Doflamingo gritavam por ajuda, pedindo para que fossem socorridas. Ouviam-se explosรตes e tiroteios provenientes de todos os cantos de Dressrosa, um lembrete doloroso do inferno que aquele reino havia se tornado em questรฃo de minutos.

Ele a encarou novamente, observando-a chorar, as mรฃos cobrindo o rosto, enquanto sangue e lรกgrimas escorriam pelas frestas entre seus dedos. Seu corpo tremia, parecendo mais frรกgil do que na primeira vez em que a viu gemer de dor, as manchas da Febre das รrvores pulsando de maneira tรฃo intensa que a impediam de sustentar a voz ou de permanecer em pรฉ. Nem mesmo o incรดmodo da fricรงรฃo dos tecidos contra sua pele sensรญvel parecia incomodรก-la. Ela estava destruรญda. Por dentro e por fora. Estava acabada. Ele nutria um รณdio profundo por isso. Odiava vรช-la naquela condiรงรฃo. Tudo o que desejava era envolvรช-la em seus braรงos e sussurrar que cuidaria dela, que a faria melhorar; mas nem ele mesmo sabia qual seria o desfecho daquela situaรงรฃo.

Apรณs um tempo que pareceu eterno, Elisabette levantou o olhar, e seus olhos se encontraram com os dele, tรฃo atรดnitos quanto os dela, embora menos evidentes em sua expressรฃo. Law, com delicadeza, levou a mรฃo atรฉ o rosto dela e acariciou gentilmente a bochecha manchada de sangue, observando-a inclinar-se em sua direรงรฃo atรฉ que suas testas se tocassem, fazendo com que mais lรกgrimas rolassem de seus olhos.

Se aquele paรญs realmente estivesse condenado ร  destruiรงรฃo, se o mundo estivesse prestes a se desvanecer, eles se contentariam em ao menos enfrentar aquilo juntos, lado a lado. Se a terra estivesse se despedaรงando sob seus pรฉs, talvez Law pedisse para abraรงรก-la por um breve momento e partir com um sorriso nos lรกbios. Nรฃo importava onde ou quando; mesmo que deixasse algumas pendรชncias ou questรตes nรฃo resolvidas... se fosse ao lado dela, tudo estaria bem.

Lentamente, Law inclinou-se para mais perto dela, atรฉ que seus lรกbios se encontraram em um beijo terno e suave, sentindo-a responder instantaneamente ao movimento cuidadoso que iniciara. As mรฃos dela agarraram seu rosto com fervor, enquanto ela prรณpria aprofundava o รณsculo, invadindo a boca dele com sua lรญngua. Seus olhos se fecharam com forรงa, permitindo que o momento fluรญsse sem preocupaรงรตes, ciente de que aquele nรฃo seria apenas o primeiro beijo que compartilhavam, mas que tambรฉm parecia estar se configurando como o รบltimo.

O mundo ao redor deles parecia se autodestruir, como se o tempo houvesse parado em um instante perfeito, onde apenas a intensidade daquele beijo importava.

O moreno tatuado sentiu uma onda de emoรงรตes invadir seu ser, uma mistura de ternura e desespero que o envolvia como um manto pesado. Cada toque de seus lรกbios era carregado de promessas nรฃo ditas, de sonhos que poderiam nunca se realizar. Enquanto a suavidade da boca dela se misturava ร  sua, ele percebeu que cada segundo ali era um eco de tudo o que haviam vivido e perdido. O gosto salgado das lรกgrimas dela ainda permanecia em seus lรกbios, lembrando-o da fragilidade daquela conexรฃo.

E, naquele instante efรชmero, ele desejou que pudessem permanecer assim para sempre, esquecendo as dores do mundo exterior, os horrores que os aguardavam alรฉm daquela bolha de amor e desolaรงรฃo. Era como se a essรชncia de suas almas se entrelaรงasse em uma danรงa silenciosa, onde cada suspiro e cada batida do coraรงรฃo se tornavam um testemunho do que eram: dois seres perdidos no caos da existรชncia, buscando refรบgio um no outro. Ele sabia que o futuro era incerto e sombrio, mas ali, com ela, naquele momento fugaz e intenso, tudo parecia possรญvel.

- Se um dia vocรช for embora, eu irei atrรกs de vocรช e a matarei com minhas prรณprias mรฃos. - sussurrou o maior contra os lรกbios dela, afastando-se minimamente para poder encarรก-la.

- Nรฃo รฉ como se eu tivesse para onde ir...

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