Chร o cรกc bแบกn! Vรฌ nhiแปu lรฝ do tแปซ nay Truyen2U chรญnh thแปฉc ฤ‘แป•i tรชn lร  Truyen247.Pro. Mong cรกc bแบกn tiแบฟp tแปฅc แปงng hแป™ truy cแบญp tรชn miแปn mแป›i nร y nhรฉ! Mรฃi yรชu... โ™ฅ

โ”โ” ๐–ฅ” ึด เผ‹ ุŒ๐Ÿฏ๐Ÿด. ๐— ๐˜‚๐—ฑ๐—ฎ๐—ป๐—ฐฬง๐—ฎ ๐—ฑ๐—ฒ ๐—ฝ๐—น๐—ฎ๐—ป๐—ผ๐˜€.



















โ”โ” Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Norte de Dressrosa, Green Bit.
แ˜กTrafalgar Law, Cirurgiรฃo da Morte. โชO ponto de vista deleโซ

Senti meu coraรงรฃo falhar uma batida quando Doflamingo pisou na mรฃo de Elisabette-ya, atraindo o olhar assustado dela para si. Seus olhos estavam arregalados ao encarรก-lo, e meu sangue ferveu no instante em que aquele maldito se agachou e a agarrou pelo pulso, suspendendo-a no ar. Embora seus olhos estivessem escondidos sob os รณculos escuros, era evidente que ele a analisava - analisava o corpo dela. Sua pele estava ainda mais pรกlida do que o habitual, deixando claro seu pรขnico diante daquela situaรงรฃo, e, por mais ingรชnua que fosse na maioria das vezes, pude notar no desespero de seu semblante que ela compreendia, sim, a intenรงรฃo dele naquele momento.

A mรฃo livre de Doflamingo deslizou por sua bochecha, o polegar roรงando seu lรกbio inferior, atรฉ o momento em que ela reagiu, batendo as asas de maneira agitada e balanรงando as pernas para frente e para trรกs.

Por mais jovem que eu fosse naquela รฉpoca, ainda me lembrava bem das vezes em que mulheres desconhecidas eram levadas amarradas para o antigo covil da Famรญlia Donquixote, assim como recordava das noites em que ficava acordado ouvindo seus gritos, sempre implorando para que ele parasse ou para que nรฃo fizesse aquilo.

Doflamingo sempre dizia que as mulheres nรฃo passavam de "depรณsitos de porra", que existiam apenas para dar prazer aos homens e para serem nossos brinquedos, nossos passatempos. E eu, claro, naquele tempo, acreditava fielmente em suas palavras, pois o enxergava como alguรฉm que eu gostaria de me tornar um dia, apesar das constantes lembranรงas ofuscadas por borrรตes, nas quais sempre via meu pai tratando minha mรฃe e minha irmรฃ com tanto carinho, com tanto amor, fazendo tudo por elas. Algo que me deixava pensativo: se ambas eram mulheres, por que aquele tratamento?

Eu era um menino sozinho no mundo, sem ninguรฉm - era eu por mim mesmo e nada mais. Donquixote Doflamingo foi quem me moldou durante o tempo que vivi com eles, aprendendo suas maneiras de viver, sua cultura familiar e sua forma de sobrevivรชncia em um mundo que eu acreditava ser podre e sem salvaรงรฃo.

Entretanto, quando me vi sem chances de viver e meus dias se esgotavam aos poucos, sem que eu pudesse fazer nada alรฉm de aceitar, Corazรณn apareceu. Inicialmente, eu o odiava, desejava sua morte a todo custo, ansiava por sua morte como um homem faminto deseja um mero pedaรงo de pรฃo, nรฃo importando o quรฃo mofado ou velho estivesse - ele apenas quer e deseja atรฉ conseguir. Nรฃo achei que fosse me sentir verdadeiramente acolhido novamente. Afinal, o acolhimento que senti por parte de Doflamingo era mais uma ilusรฃo criada por mim ao acreditar nas palavras daquele miserรกvel, que sempre dizia: "nรณs somos iguais." E, por mais estรบpido que fosse, por mais ingรชnuo que eu tivesse sido, eu adorava aquele falso conforto, me agarrava ร  ideia de sermos iguais, mesmo sem entender o que ele realmente queria dizer com aquilo.

- Vocรช รฉ ainda mais bonita pessoalmente. Aqueles malditos cartazes ofuscam toda a sua... - ele parou, levando a mรฃo atรฉ o queixo dela. - Beleza. Fuffuffuffuffu! ~โ™ก

- E-ei! Nรฃo toque aรญ! - vi-a apertar as pernas quando ele tentou levantar sua saia e, droga, aquilo foi a gota d'รกgua.

- Bastardo... nรฃo suje ela! - gritei, o รณdio me consumindo de forma avassaladora. - Shambles! - com um movimento rรกpido dos meus dedos, ela estava caรญda em meus braรงos, e nรฃo tardei a apertรก-la contra o meu peito.

- Tral-san! โ™ก

- Calada! - falei em um tom rรญspido, segurando-a com toda a forรงa enquanto retomava a fuga, dessa vez me recusando a soltรก-la novamente.

Jรก nรฃo me importava mais com o quรฃo irritante ela podia ser, nem com o nรบmero de noites em que nรฃo consegui pregar os olhos por conta das estupidez que ela insistia em murmurar atรฉ o amanhecer. Quando me dei conta, tudo o que eu almejava era escutar sua voz, ainda que entremeada de bobagens, cada vez mais. A vida dela estava, literalmente, ร  mercรช da minha sobrevivรชncia e, por Magni D. Elisabette, eu me recusaria a morrer atรฉ ter a certeza de que ela estaria viva e segura, longe de qualquer doenรงa ou ameaรงa que minha prรณpria existรชncia pudesse trazer ao seu destino.

A simples visรฃo dela, com os olhos desprovidos de qualquer brilho de esperanรงa e o rosto ensanguentado ao descobrir que logo seria mais uma vรญtima fatal da Febre das รrvores, foi como um retorno cruel ร quele mesmo inferno que eu vivi anos atrรกs. Mas, desta vez, assim como Corazรณn antes de mim, eu era o espectador. Eu a via tremer de frio todas as noites, metade do corpo suspenso para fora do Thousand Sunny para que pudesse vomitar, sem deixar rastros de sua enfermidade pelos corredores do navio. Recordo-me das incontรกveis vezes em que me sentei diante de seu corpo nu, aplicando-lhe pomada com mรฃos cuidadosas, tentando transmitir algum tipo de seguranรงa, uma promessa muda de que, apesar de tudo, eu nรฃo a abandonaria.

Entretanto, a cada dia que passava, a pele dela parecia definhar, apodrecer lentamente, e eu podia ver em seu olhar o quanto estava debilitada, embora se recusasse a deixar de sorrir ou de rir junto aos companheiros. Tambรฉm era evidente a dor que ela tentava ocultar sempre que se afastava de Tony-ya sem qualquer explicaรงรฃo, deixando o pequeno confuso e entristecido com sua mudanรงa de comportamento, que, a julgar pela reaรงรฃo dele, parecia tรฃo repentina.

Nunca fui alguรฉm que realmente se importasse com os outros, salvo por minha tripulaรงรฃo. Sempre me esforcei para manter o estoicismo, para nรฃo aparentar preocupaรงรฃo, para nรฃo parecer fraco, e para que meu apego ao meu bando nรฃo se tornasse o motivo da minha queda. Contudo... jรก nรฃo consigo me manter assim em relaรงรฃo a ELA. Tudo o que ela faz, tudo o que diz, qualquer coisa que a envolva jรก รฉ motivo suficiente para que eu queira me aproximar ainda mais, estar cada vez mais perto, ร  sua disposiรงรฃo, para evitar que qualquer mal continue a corroer o que ainda lhe resta de doรงura, de pureza - de sua inocรชncia.

Enquanto a segurava firmemente em meus braรงos, percebi que ela me agarrava como se sua vida dependesse disso. Aproveitando sua forรงa, soltei uma das mรฃos para pegar um Den Den Mushi de dentro do meu sobretudo e nos escondi atrรกs de uma รกrvore. Eu precisava, de alguma forma, entrar em contato com Nami e os outros. Caesar precisava ser levado embora de Dressrosa a qualquer custo; eu nรฃo poderia perder a oportunidade de ver Doflamingo em ruรญnas.

- Nami ainda nรฃo atendeu?!

- Nรฃo.

- Tente outra vez! - seu pedido soou como uma ordem que, por mais que eu detestasse, me fez obedecer rapidamente, sem hesitar por mais que alguns segundos, tentando ligar novamente.

- Nรฃo estรก atendendo!

- Continue!

- Mas ela nรฃo estรก...!

"Alรด! Sou eu! Quem รฉ?", conseguimos ouvir a voz do mรฉdico dos Chapรฉus de Palha do outro lado da linha, soando desesperada e tensa. "Estamos em apuros! Socorro!"

- Tony-ya? Nรฃo importa o que estรก acontecendo aรญ! Preste atenรงรฃo!

"O quรช!? Trafalgar!?"

Mais uma vez, fomos atingidos por um dos meteoritos de Fujitora. Apenas vi Elisabette-ya cruzando os braรงos em um formato de X para nos defender de algo que quase caiu em nossa direรงรฃo, aparando o ataque e repelindo-o com um chute. Ela me encarou assustada, um rastro de sangue atravessando seu rosto, enquanto eu sentia minha testa molhada da mesma forma.

"O que estรก fazendo, Tral!? Vem logo para cรก!"

"Ela jรก nos transformou em obras de arte! Socorro!"

- Nami! Brook! O que estรก acontecendo no Sunny!? - ela se soltou dos meus braรงos e tomou o Den Den Mushi de minhas mรฃos, caindo de joelhos no chรฃo. - Jรก estou indo! - tomei o comunicador antes que fรดssemos atingidos outra vez. Precisava passar a mensagem o mais rรกpido possรญvel, antes que fosse tarde demais e tudo se perdesse.

- Prestem atenรงรฃo, vocรชs precisam trazer o navio para Green Bit agora! Eu quero deixar Caesar com vocรชs!

- O quรช!?

- Nรฃo tenho como explicar agora! Venham imediatamente para Green Bit!

A jovem me encarou com fรบria, como se faltasse apenas um รบltimo impulso para que ela se voltasse contra mim, como se eu fosse seu inimigo. Era evidente, atรฉ para alguรฉm com cรฉrebro de paรงoca como ela, que deixar Caesar Clown no Thousand Sunny, sob a proteรงรฃo de apenas trรชs de seus companheiros, seria extremamente arriscado para a vida deles, pois os colocaria diretamente na mira de Donquixote Doflamingo e seus homens, que nรฃo descansariam atรฉ cumprir as ordens de seu Jovem Mestre.

Ignorando sua reaรงรฃo, agarrei sua mรฃo e voltei a correr, sentindo minhas prรณprias pernas enfraquecidas apรณs percorrer quase toda a ilha, apenas para escapar da Marinha e do Shichibukai, que nรฃo pareciam dispostos a descansar atรฉ terem nossas cabeรงas em suas mรฃos e o prazer de ver o sangue de um inimigo escorrer de suas espadas como um trofรฉu. Lancei um olhar de relance para Elisabette-ya e percebi que ela sempre olhava na direรงรฃo do seu navio, a preocupaรงรฃo clara em seu olhar. Tudo o que eu podia fazer naquele momento era segurar sua mรฃo e mantรช-la o mais longe possรญvel das garras de Doflamingo.

De repente, senti algo atingir meu braรงo, e entรฃo minha mรฃo se soltou da dela, fazendo com que ambos caรญssemos no chรฃo ao tropeรงarmos. Apesar das dificuldades, rapidamente me levantei, assim como ela, que, em questรฃo de segundos, jรก estava ร  minha frente, com a postura sรฉria e segurando sua foice, a lรขmina apontada para a frente. Seus olhos estavam arregalados, as pupilas quase desaparecendo em suas รญris azuladas, e seu rosto tรฃo pรกlido quanto no dia em que a vi em Punk Hazard - quase congelando de frio. Ao olhar na direรงรฃo que ela encarava, senti meu sangue gelar e meu corpo se tornou estรกtico ao avistar o Rei de Dressrosa, parado a alguns metros de onde estรกvamos.

- Nรฃo adianta, Law! Pediu ajuda a quem? - seu sorriso ladino e debochado ainda me causava รขnsia, especialmente quando era direcionado a mim. - Devolva-me o coraรงรฃo de Caesar agora. ร‰ inรบtil insistir nisso. Fuffuffuffuffu!

- Tral-san, fique atrรกs de mim. Eu cuido disso. - a voz dela soou firme e determinada; pude ver seus mรบsculos tensionando enquanto falava e se colocava na defensiva.

- Elisabette-ya... eu... - agarrei seu pulso e a vi me encarar com os olhos de quem estava prestes a cometer uma chacina.

- Seu parceiro, o Chapรฉu de Palha, jรก caiu na armadilha que preparei.

- O quรช!? O que vocรช fez com ele!? - quando percebi que ela se preparava para avanรงar, segurei-a novamente. - Desgraรงado! Eu vou obliterar este paรญs se vocรช encostar em um รบnico fio de cabelo dele!

- Fuffuffuffuffu! Ele estรก lutando agora no Coliseu. Competidores poderosos de todo o mundo vieram participar deste torneio de foras-da-lei. Quando alguรฉm perder, รฉ um passaporte direto para o inferno. Ele jamais sairรก vivo do Coliseu.

- Maldito...

- ร‰ o fim da sua alianรงa, Law! Desista!

Quando me dei conta, estรกvamos ambos lutando contra Doflamingo. Elisabette lanรงava raios e rajadas de eletricidade precisas, mas o maldito conseguia absorver o dano atravรฉs de suas cordas e redirecionรก-las contra ela. No entanto, seus esforรงos eram em vรฃo, pois o corpo dela era completamente imune ร  eletricidade, e nenhum de seus ataques refletidos surtia efeito. Eu me sentia impressionado pela dualidade que existia naquela mulher que, embora passasse boa parte do tempo agindo como uma garota ingรชnua, que pouco conhecia do mundo e estava sempre fazendo perguntas tolas ou errando ditados populares, tambรฉm era capaz de ser cruel e impiedosa, como seu apelido sugeria: Anjo da Morte. Estar ao lado dela e testemunhar essas duas facetas era como ver duas pessoas completamente diferentes em aรงรฃo e, honestamente, nรฃo sei quem ela realmente รฉ, se รฉ aquela jovem abobalhada ou essa mรกquina cuja รบnica habilidade รฉ matar.

Tanto ela quanto eu estรกvamos enfrentando dificuldades naquele momento; embora fรดssemos dois contra um, ambos jรก se encontravam debilitados e exaustos demais para continuar lutando. Ela estava doente, com apenas dois dias restantes para encontrar a cura para sua enfermidade e sobreviver. Alรฉm disso, estava ferida pelas vezes em que fomos atingidos por explosรตes ou caรญmos pelo gramado, nos chocando repetidamente antes de retomarmos nossa fuga. Eu, por outro lado, estava machucado pelos golpes recebidos e pela quantidade de vezes em que havia utilizado a Ope Ope no Mi para nos salvar de sermos capturados ou atingidos fatalmente.

Eu sabia como irritar Doflamingo. Conhecia bem seus negรณcios com Caesar, sua grande parceria com Kaido das Cem Feras, e sabia que, se ele deixasse de produzir o SMILE, o Yonkou nรฃo hesitaria em matรก-lo e destruir Dressrosa como um aviso aos demais piratas que negociam com ele no mercado negro. Afinal, atรฉ mesmo alguรฉm como Donquixote Doflamingo possui medos e receios, e eu sei que o temor daquele maldito era perder sua renda proveniente do trรกfico ilegal de armas, drogas, e da venda de escravos, que era sua maior fonte de berries, depois de suas negociaรงรตes com Kaido.

Porรฉm, devido ร  sua evidente debilitaรงรฃo, as pernas da pirralha falharam enquanto ela saltava de uma planta para outra, e tudo o que vi foi um borrรฃo negro caindo entre alguns arbustos, acompanhado do som de seu grito histรฉrico, tanto de dor quanto de raiva. Agarrei Kikoku com forรงa e corri atรฉ ela, mas, antes que eu pudesse pegรก-la para sairmos dali, fui puxado pelas linhas de Doflamingo e lanรงado ao chรฃo, com ele sentado sobre mim e uma mรฃo em meu pescoรงo.

Mais uma vez, encontrava-me completamente vulnerรกvel, uma vez que minha espada havia sido arremessada para longe e eu nรฃo tinha forรงas suficientes para conseguir afastar aquele homem de cima de mim. Tudo em mim jรก doรญa e latejava; tambรฉm sentia fome e sede - sensaรงรตes que nรฃo imaginei que me incomodariam novamente apรณs tantos anos. Trinquei os dentes e soltei um grunhido enraivecido e frustrado, encarando aquele que se apossava da minha vulnerabilidade e da diferenรงa de tamanho entre nรณs dois para me manter refรฉm de suas habilidades, observando-o balanรงar os dedos e erguer as mรฃos, prestes a rasgar meu rosto com seus fios cortantes.

- Seu merdinha... - quando ele estava prestes a me atingir, fechei os olhos e jรก me preparava para a dor, mas apenas tive tempo de abri-los novamente ao ouvir o som da voz dela.

- IMPAC...! - entretanto, antes que ela pudesse atacรก-lo de volta, uma pressรฃo a fez cair no chรฃo de costas ao meu lado, nossos corpos sendo brutalmente pressionados contra o gramado a ponto de uma cratera se formar. Era o Almirante.

- Fujitora!

- Com sua licenรงa.

- Por que vocรช o ajudou!?

- Eu tenho que detรช-lo aqui mesmo, Demรดnio Celestial. - o peso aumentou e nossos corpos afundaram mais alguns centรญmetros no chรฃo, provocando em mim o desgosto de ouvir um gemido doloroso escapar da mulher ao meu lado. - Estou aqui para... prendรช-lo, nรฃo para matรก-lo.

- Certo.

A insistรชncia de Doflamingo em relaรงรฃo ao coraรงรฃo de Caesar estava me irritando, e eu sabia o motivo daquela exigรชncia. Afinal, sem a produรงรฃo de SMILE, ele estaria perdido e Kaido o mataria. No entanto, nรฃo era apenas isso que me intrigava; tudo que envolvia aquele homem me deixava repleto de questionamentos e dรบvidas. Nรฃo demorou muito para eu juntar alguns pontos aqui e ali e chegar ร  conclusรฃo mais รณbvia sobre todo o poder que Donquixote possuรญa, mesmo antes de se tornar um Shichibukai protegido pelo Governo Mundial e pela Marinha: o desgraรงado era um Tenryubito, ou melhor, costumava ser um. Contudo, isso nรฃo mudava o fato de que ele ainda mantinha certos privilรฉgios que sempre o fizeram passar despercebido diante de todo o caos que jรก causou na vida de muitos.

Essa revelaรงรฃo se tornou clara em minha mente. As complicaรงรตes na vida de Corazรณn, seu desejo de deter o irmรฃo, sua confissรฃo sobre os D. serem inimigos dos Deuses - tudo isso torna os membros desse clรฃ inimigos diretos dos Dragรตes Celestiais e do Governo Mundial, que estรฃo na linha de frente quando se trata de proteger os nobres. A verdade por trรกs do sรฉculo perdido, a vontade dos D., a natureza do One Piece - todas essas questรตes estรฃo interligadas, de alguma forma, ร s pessoas que habitam Mariejois.

Agora compreendo por que Corazรณn insistiu em minha sobrevivรชncia e na "liberdade" que ele proclamou que eu agora possuรญa. Essas foram as รบltimas palavras que ouvi dele antes que fosse morto pelo prรณprio irmรฃo, a quem defendia ao afirmar que seria incapaz de feri-lo. Afinal, eles eram sangue do mesmo sangue, e o fato desse laรงo os unir pelo resto de suas vidas foi o que fez com que ele me garantisse que nada lhe aconteceria.

Mas era mentira.

Ele mesmo sabia que eram, contudo, preferiu refugiar-se em sua fantasia, acreditando que os laรงos genรฉticos prevaleceriam quando a verdade sobre sua traiรงรฃo e sua verdadeira identidade emergissem das sombras.

Naquela รฉpoca, eu jรก havia aceitado minha morte. A ideia de perecer tornara-se uma certeza irremediรกvel, e pouco me importava com as vidas que se desenrolavam ao meu redor; meu รบnico desejo era encontrar a paz na morte e assistir ao sofrimento alheio. Mas...

Ele parecia se recusar a me deixar sucumbir. Por quรช? Nรฃo sei. Se ele era um nobre, talvez sua vontade de me ajudar fosse fruto de culpa. Culpa por saber que, mesmo sem envolvimento direto, o Governo Mundial fora o responsรกvel pelo extermรญnio da vida em Flevance, ao invรฉs de buscar uma cura verdadeira para a Doenรงa do Chumbo Branco.

Corazรณn, vocรช era tรฃo ingรชnuo que me provocava uma raiva incontenรญvel todas as vezes em que o via tropeรงar ou colocar fogo em si mesmo.

Vocรช era tรฃo tolo que deu a vida por alguรฉm como eu - alguรฉm que, em รบltima anรกlise, apenas lhe entregou de bandeja a morte.

No momento em que Caesar se deu conta de que nรฃo era seu coraรงรฃo que estava com Doflamingo e, momentos antes, havia sido feito refรฉm por mim, o som dos trovรตes e a visรฃo do cรฉu limpo foram o que me fez perceber a oportunidade de fugir dali o mais rรกpido possรญvel ao notar que o navio dos Chapรฉus de Palha estava nas proximidades. Abri uma Room o mais rรกpido que pude, agarrando o pulso de Elisabette-ya e, atravรฉs do Shambles, nos teletransportamos para onde Caesar se encontrava, colocando os dois sob meus braรงos para poder escapar sem interrupรงรตes.

Eu precisava colocar Caesar no navio com urgรชncia e deixar Elisabette junto; era evidente que ela nรฃo estava em condiรงรตes de lutar. Seu corpo estava praticamente mole sob meu braรงo, e ela nรฃo reagia aos solavancos enquanto eu corria ou me esquivava de tocos de รกrvores, flores e pedras. Era quase como se ela estivesse lutando com todas as suas forรงas apenas para permanecer consciente e nรฃo desfalecer completamente. Ela estava pรกlida e pude notar saliva misturada com sangue escorrendo do canto de seus lรกbios quando me olhou pelo canto dos olhos, quase como se estivesse implorando para que eu fizesse algo. Eu jรก nรฃo sabia mais o que fazer. Precisava atrair Doflamingo para a ponte e evitar que ele se dirigisse ao Thousand Sunny; por outro lado, nรฃo poderia deixรก-la naquele estado ou ela morreria antes mesmo de conseguir se curar.

De repente, senti um espasmo vindo dela e a encarei com os olhos arregalados antes de ser atraรญdo para o mar ao escutar gritos vindos da direรงรฃo onde o navio se encontrava. Puta que pariu. Fodeu pra caralho. Os gritos deles chamaram tanto a atenรงรฃo de Doflamingo quanto a minha e de Elisabette, nossos corpos ficando tensos ao notarmos que ele havia compreendido o que eu pretendia fazer. Engoli em seco ao vรช-lo disparar naquela maldita direรงรฃo.

- ME SOLTA, TRAFALGAR! - ela gritou de repente, toda a sua energia retornando no momento em que percebeu que seus companheiros estavam em perigo.

A pirralha se soltou do meu aperto e, mesmo cambaleando devido ร  fraqueza e com a asa ferida, a vi levantar voo quase na velocidade da luz, dirigindo-se a Doflamingo o mais rรกpido que pude julgar que ela poderia. Ela estava tรฃo veloz que eu mal conseguia ver sua figura nos cรฉus, apenas um borrรฃo escuro formado pelo casaco que ela ainda insistia em usar, o que me deixava com a sanidade por um fio todas as vezes que via a penugem escura recostada em algum canto do Sunny ou estendida na lavanderia.

Meu peito apertou ao perceber que ela nรฃo chegaria a tempo, nรฃo importava quรฃo rรกpida fosse. Ela nรฃo conseguiria salvar seus companheiros e, mais uma vez, por minha culpa, pessoas inocentes morreriam devido ร  minha teimosia ou fraqueza - o que me fez querer rir da tragรฉdia da situaรงรฃo ao lembrar que trรชs dos Chapรฉus de Palha seriam brutalmente assassinados pela mesma pessoa que me fez ver o homem que me salvou ser morto diante de meus olhos, sem que eu pudesse fazer nada, nem mesmo mover um รบnico dedo; e agora a situaรงรฃo era a mesma. Soul King, Nami, Tony-ya e Momonosuke seriam mortos os quatro de uma vez, assim como Elisabette-ya tambรฉm seria assim que chegasse perto o suficiente de Doflamingo e tentasse parรก-lo.

Enquanto observava a situaรงรฃo se desenrolar, meu coraรงรฃo acelerou ao notar que a mulher estava a meio caminho de Doflamingo. A tensรฃo no ar era sufocante e palpรกvel, e a sensaรงรฃo de impotรชncia me consumia cada vez mais. Mas, de repente, algo inesperado aconteceu. Um movimento rรกpido cortou o espaรงo entre nรณs e Doflamingo: Kuroashi-ya surgiu como um raio, interrompendo o ataque do Shichibukai.

Os dois trocaram golpes por um perรญodo que nรฃo durou menos de 10 minutos, atรฉ que o cozinheiro dos Chapรฉus de Palha ficasse preso pelas cordas de Doflamingo, tornando-se completamente vulnerรกvel a ele, como um inseto na teia de uma aranha faminta.

Nรฃo demorei a criar outra Room, trazรช-lo de volta para o navio e explicar a falha que havia sido meu plano, recebendo nada alรฉm de olhares assustados e frustrados diante da situaรงรฃo em que eu os havia colocado. Eles se recusavam a ir para Zou sem seu capitรฃo. Tudo estava se tornando um verdadeiro caos desde o momento em que meus planos comeรงaram a desandar. Elisabette estava ao longe segurando Doflamingo para impedi-lo de se aproximar do navio; um encouraรงado da Marinha estava voando em nossa direรงรฃo, meteoritos caรญam no mar e causavam ondas enormes que nos faziam balanรงar de um lado para o outro - era um cenรกrio digno de ser chamado de inferno.

E a รบnica coisa que reverberava em minha mente naquele momento era a รบltima frase que Sanji me dissera antes de seguirmos por caminhos distintos.

"Eu entendo a necessidade de mantermos Caesar, e รฉ evidente que temos de sair daqui agora. Mas achei que Dressrosa seria sรณ de passagem. Nosso propรณsito principal รฉ matar Kaido, dos Quatro Imperadores, nรฃo รฉ? Nรฃo estamos nos prendendo demais a Doflamingo?"

No mรญnimo, todo aquele alvoroรงo serviu para que eles aceitassem meu pedido para que fossem definitivamente para Zou. Consegui pegar Giolla e trazรช-la para a ponte como minha refรฉm, sabendo que Doflamingo nรฃo me atacaria enquanto eu estivesse com ela sob minha espada. Rapidamente notei que, mais ร  frente, estava a pirralha do bando do Chapรฉu de Palha parada, agarrada a uma das colunas de ferro que sustentavam a ponte.

Elisabette estava com o rosto horrorizado, encarando o Thousand Sunny sumir de nossa vista atรฉ o momento em que ela se aproximou de mim e ficou em silรชncio, olhando nos meus olhos com uma expressรฃo que, pela primeira vez, eu nรฃo consegui decifrar. Ela estava sรฉria, mas ao mesmo tempo parecia em pรขnico, com raiva ou triste - eu nรฃo sabia ao certo. Abri os lรกbios para falar algo, no entanto, fui surpreendido por um tapa forte no rosto que quase me fez cair. Imediatamente levei a mรฃo atรฉ minha bochecha e a senti arder como se tivesse sido atingido por uma bola de fogo. Encarei-a confuso e irritado, franzindo o cenho e me preparando para repreendรช-la, porรฉm fui atingido por outro tapa.

- SE NรƒO FOSSE PELO SANJI, ELES TERIAM MORRIDO! EU NรƒO IA CONSEGUIR CHEGAR A TEMPO! - ela gritou de repente, sua voz fina soando estridente e irritante aos meus ouvidos enquanto sua pele normalmente pรกlida se tornava vermelha. - ISSO Jร NรƒO SE TRATA MAIS DE APENAS DERROTAR UM YONKOU, MAS SIM DE ALGO PESSOAL SEU!

- Isso... nรฃo รฉ bem assim. - tentei me defender, o que apenas a irritou mais.

- Nรฃo รฉ bem assim? Nรฃo รฉ bem assim!? - ela me agarrou pelo colarinho do sobretudo, aproximando nossos rostos de forma que nossos narizes se tocaram. - Entรฃo por que ele estava falando aquelas coisas? Por que o Vergo disse aquelas coisas em Punk Hazard!? SE QUER MORRER, ENTรƒO MORRA! MAS MORRA SOZINHO!

โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”


Bแบกn ฤ‘ang ฤ‘แปc truyแป‡n trรชn: Truyen247.Pro