
โโ ๐ฅ ึด เผ ุ๐ฏ๐ฐ. ๐๐ต๐ฎ๐บ๐ฎ๐ฑ๐ผ ๐ฑ๐ผ ๐ฆ๐ถ๐น๐ฒฬ๐ป๐ฐ๐ถ๐ผ.
๐ก๐ข๐ง๐ ๐๐ ๐๐ซ๐ง๐ฅ๐๐ ๐ ๐๐ ๐ฃ๐ข๐ฅ๐ง๐๐ก๐๐๐: O conteรบdo a seguir contรฉm cenas envolvendo vรดmito e sangue. Caso haja algum tipo de sensibilidade, recomendo que pule diretamente para os parรกgrafos finais para evitar qualquer desconforto ao ler.
โโ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; em algum lugar do mar.
Robin estava com Elisabette na sala de estar do Thousand Sunny, ambas sentadas no grande sofรก em frente ao aquรกrio. Alguns peixes nadavam ali, enquanto outros apenas observavam as mulheres com seus olhos arregalados e curiosos, fixos nos seios voluptuosos das duas. A arqueรณloga segurava um livro didรกtico, ensinando a mais jovem a escrever com mais precisรฃo, uma vez que ela sabia escrever algumas palavras, mas com letras desorganizadas e, na maioria das vezes, inelegรญveis.
De fato, Elisabette havia melhorado consideravelmente, embora ainda cometesse alguns erros em letras aqui e ali. A birkan tinha escrito alguns nomes, as letras do alfabeto e tambรฉm os nรบmeros de um a dez. Nico Robin sentia seu coraรงรฃo aquecer sempre que percebia a evoluรงรฃo de sua eterna menina, sentindo-se orgulhosa ao vรช-la sorridente ao escrever corretamente o nome de algum companheiro, nรฃo se importando tanto se alguma letra estivesse de cabeรงa para baixo ou virada para o lado oposto. Para ela, o simples fato de a platinada ter escrito o mais prรณximo do correto jรก era suficiente para fazรช-la sorrir de orgulho.
- Eli-chan.
- Sim?
- Vocรช estรก bem? - perguntou a mulher mais velha com um sorriso, sua mรฃo movendo-se atรฉ o rosto da mais jovem para colocar uma mecha de cabelo atrรกs de sua orelha. - Vocรช emagreceu alguns quilinhos.
- Ah, รฉ mesmo? Nem reparei. - Elisabette levantou as sobrancelhas com surpresa, depois olhou para o prรณprio corpo com um olhar confuso.
- E estรก dormindo demais tambรฉm. Sabe, isso nรฃo รฉ comum em vocรช. - Robin observou, fechando o livro e colocando-o sobre suas coxas.
- Bem... eu sรณ estou um pouco cansada esses dias. Nรฃo รฉ nada sรฉrio.
โ Verdade?
- Absoluta!
- Nรฃo estรก mentindo?
- Necas de pitiririba!
- Venha aqui, venha. - a morena abriu os braรงos, convidando a jovem para um abraรงo e, sem hesitar por um instante, ela a abraรงou.
Elisabette envolveu a cintura da mais alta com os braรงos, enquanto Robin, por sua vez, envolveu os ombros da jovem com os seus, repousando o rosto sobre os cabelos platinados da mais nova. Suas mรฃos acariciavam delicadamente a cabeรงa de Elisabette, depositando beijos suaves em sua testa, como se estivesse cuidando de uma crianรงa pequena e indefesa - e, talvez, apenas talvez, Robin a enxergasse dessa forma, uma menina que necessitava de seu abraรงo, de seus beijos, de seus cuidados e, acima de tudo, de seu colo acolhedor.
Enquanto estava aninhada nos braรงos da companheira, a jovem de cabelos platinados sentiu sua mente se encher de pensamentos que a assombravam, rememorando tudo o que havia ocorrido nos รบltimos dois anos.
Ela sentia como se sua cabeรงa fosse um verdadeiro inferno. Tantas coisas em tรฃo pouco tempo para processar e sem ninguรฉm em quem realmente pudesse confiar para compartilhar seus sentimentos. Ela sabia que, se desabafasse, seus companheiros apenas a olhariam com aquele olhar de pena que tanto detestava, um olhar que a fazia sentir-se uma idiota vulnerรกvel. Embora gostasse de ser a coitadinha que recebia atenรงรฃo por estar sofrendo ou ter sofrido, Magni ainda desejava... compreensรฃo.
Nรฃo uma compreensรฃo superficial, pois sabia que ninguรฉm seria capaz de entendรช-la verdadeiramente. Afinal, como poderiam entendรช-la se sequer haviam passado por algo semelhante? Era doloroso, mas Elisabette sabia que ninguรฉm poderia compreender o que ela sentia em relaรงรฃo ร sua vida, a Enel, a Skypiea e a si mesma. E... ela estava bem com isso. Ela havia aceitado tal fato. Ela havia aprendido a lidar com a realidade de que jamais teria alguรฉm com quem compartilhar seu sofrimento, sua dor. Havia aprendido que, naquele mundo, sua dor era somente sua e de mais ninguรฉm. Seus companheiros estavam ali, mas o que poderiam dizer? Nunca olhavam para ela com verdadeira compreensรฃo quando falava sobre Enel ou fazia insinuaรงรตes sobre ele, e isso doรญa. O olhar deles, o olhar de pena, como se fosse um tabu o fato de que ela amava o pai apesar de tudo.
Naquele dia, horas mais tarde, quando o sol comeรงava a se pรดr, os Chapรฉus de Palha, como de costume, estavam reunidos no convรฉs em pequenos grupos, ocupados com suas atividades diรกrias. Alguns pescavam, outros riam e cantavam, enquanto alguns poucos simplesmente aproveitavam o fim do dia.
Elisabette e Law estavam juntos, apoiados na amurada, observando o pรดr do sol em silรชncio, desfrutando da calmaria do final de tarde. Desde que o aliado de seu capitรฃo havia garantido que a ajudaria, eles comeรงaram a passar mais tempo juntos, conversando sobre a evoluรงรฃo da Febre das รrvores em seu corpo, com ele lhe administrando alguns medicamentos na esperanรงa de retardar o avanรงo da doenรงa, ou simplesmente ficando assim, em silรชncio, mas unidos. Embora ainda nรฃo fossem amigos ou colegas, apesar de ela jรก o considerar como tal, haviam aprendido a apreciar a companhia um do outro.
- Posso perguntar uma coisa? - a mais nova sussurrou, com o queixo apoiado nos braรงos, que descansavam sobre a madeira da amurada do navio.
- Jรก estรก perguntando. - ele a encarou de soslaio e notou seus olhos arregalados, como se estivesse prestes a atacรก-lo. Law estalou a lรญngua e revirou os olhos. - O quรช?
- Vocรช acha que eu emagreci?
- Um pouco. - murmurou, olhando-a dos pรฉs ร cabeรงa e analisando seu corpo, notando que, de fato, a magreza estava visรญvel, mesmo que nรฃo fosse tรฃo nรญtida.
- Mas que mer... - ela se calou, nรฃo terminando sua frase.
- Pode xingar se quiser, nรฃo รฉ como se eu fosse brigar com vocรช por isso.
- O Franky diz que รฉ feio xingar... - Elisabette encolheu os ombros, seus olhos azuis buscando os dele em busca de algum consolo, mas encontrando apenas desdรฉm, o que a fez franzir o cenho.
- Nรฃo vou contar a ele.
- Nรฃo?
- Nรฃo.
Elisabette deu-lhe um sorriso suave, um gesto que fez Law erguer as sobrancelhas em surpresa. Ele nรฃo esperava que ela ficasse tรฃo feliz apenas por ter a liberdade de falar palavrรตes em sua presenรงa, sem temer que ele contasse aos seus companheiros de bando. Law nรฃo compreendia completamente, mas notava que ela sempre parecia se conter em certos comportamentos diante de seus amigos, seja ao rir ou ao expressar certos pensamentos, como se estivesse constantemente temerosa. Embora ele nรฃo a conhecesse tรฃo bem, algo em seu รญntimo dizia que ela prรณpria se reprimia.
Ela, por outro lado, desviou o olhar do dele e passou a contemplar o sol que comeรงava a se esconder por trรกs do mar. O crepรบsculo alaranjado e rosado refletia em seus olhos azulados, como se eles prรณprios houvessem capturado aquelas cores, conferindo-lhes um brilho quase รบnico e vรญvido. Os รบltimos raios solares daquele dia cintilavam em suas mechas loiras, tornando-as mais destacadas, como se elas prรณprias fossem a luz do sol em meio ร s nuvens brancas que eram seus fios platinados.
Os pensamentos da jovem estavam distantes, perdidos em um lugar longรญnquo, alheios a todos ao seu redor, mas, como sempre, centrados nele - em Enel. Por mais magoada que estivesse, por mais rancor que houvesse em seu peito e por mais perguntas que se acumulassem em sua mente, ela se sentia incapaz de odiรก-lo. Tudo o que lhe restava era sofrer em silรชncio pela ausรชncia daquele que lhe deu o "dom da vida", como ele costumava dizer.
Seu olhar encontrou a lua no cรฉu, ainda pequena e sem luz para refletir, apenas presente. Elisabette manteve-se quieta, observando o satรฉlite, imaginando como seria estar lรก, naquele lugar que por muitos anos chamou de Fairy Vearth, pois acreditava tanto em seu pai a ponto de crer que a lua era chamada assim. Que ingรชnua, nรฃo? Quantas outras mentiras ele havia lhe contado que ela ainda acreditava, como uma crianรงa inocente que confia cegamente nas palavras dos pais? Oh, pobre crianรงa tola que ela costumava ser e, de certa forma, ainda era. Uma mulher tola. Fรบtil. Acreditava em tantas coisas bobas, tantas mentiras. Quรฃo imbecil ainda era? Elisabette se questionava todos os dias, a todo momento.
Deus era aquele capaz de segurar raios, em cuja presenรงa tambores ressoavam. E era isso que ela via em seu pai, era essa a razรฃo pela qual acreditava que ele era um deus, aquele a quem ela deveria servir, diante de quem deveria se ajoelhar e adorar.
Mas se ele era tรฃo poderoso, por que foi derrotado? E, principalmente, se ele era seu pai, por que nรฃo voltou para procurรก-la? Ela havia passado trรชs dias e quatro noites esperando por ele, porรฉm... Enel nรฃo voltou. Ele se foi. Ele foi embora, deixando-a para trรกs, sozinha, desolada, sem ninguรฉm para cuidar dela ou protegรช-la. Isso รฉ, atรฉ que aquele garoto com chapรฉu de palha a encontrou sentada, envolta em seu casaco, estendeu a mรฃo para ela e disse: "vamos". Elisabette recusou. Lutou para nรฃo ir. Gritou, brigou e atรฉ mesmo tentou tirar a prรณpria vida, entretanto... Monkey D. Luffy nรฃo lhe permitiu morrer.
- Minha Anjinha. - Sanji surgiu de repente, estendendo uma bandeja com uma taรงa de suco. - Para vocรช, querida.
- Obrigada, Sanji. - ela sorriu gentilmente, acenando com a cabeรงa e observando-o segurar sua mรฃo para beijar-lhe o dorso.
- O que deseja comer durante seu turno? Jรก deixarei preparado, pois sei que logo irรก dormir para retornar ร meia-noite.
- Onigiri, por gentileza.
- Onigiri? - o loiro a olhou confuso, mas nรฃo deixou de manter o sorriso em seus lรกbios. - Achei que nรฃo gostasse.
- Eu gosto, mas... sem umeboshi, por favor.
- Certo. Deixarei alguns onigiris preparados para vocรช, mas os esconderei na geladeira para que, vocรช sabe quem, nรฃo os coma e deixe nada para vocรช, Minha Anjinha. - ele disse, dando um รบltimo beijo terno em sua mรฃo antes de girar nos calcanhares e caminhar rebolando atรฉ Nami e Robin, seus olhos exibindo grandes coraรงรตes saltitantes.
- Vocรช vai ficar de vigia hoje tambรฉm?
- Antes era por causa do Caesar, mas agora tambรฉm preciso ficar de olho em vocรช. - Law respondeu em um tom monรณtono, encarando-a de soslaio. โ Nรฃo posso arriscar dormir e deixar que vocรช se engasgue com o prรณprio sangue. Seria patรฉtico.
- Que gentil... - ela murmurou com ironia, um beicinho se formando em seus lรกbios.
Trafalgar a observou com o cenho franzido, notando como suas bochechas inflavam junto com o beicinho. Ele a amaldiรงoava mentalmente por sempre deixรก-lo com as pernas fracas quando a via fazendo aquela expressรฃo que ele detestava achar fofa. Quer dizer, quando foi que ele comeรงou a reparar que as bochechas dela sempre ficavam mais cheias quando comprimia os lรกbios em um bico? Ou que seu sorriso era um pouco torto por causa dos dentes ligeiramente separados e quebrados? O moreno de pele tatuada imediatamente engoliu em seco e colocou a mรฃo no rosto dela, afastando-a, para entรฃo voltar a encarar o pรดr do sol e a luz da lua surgindo no cรฉu em meio ร s estrelas.
Law estava recostado no mastro do navio, vestindo uma camisa de mangas compridas preta com a pequena Jolly Roger dos Piratas de Copas estampada no lado esquerdo do peito, na direรงรฃo de seu coraรงรฃo - irรดnico, por assim dizer. Seus braรงos estavam cruzados sobre o busto, com sua espada apoiada ao lado, enquanto observava Caesar Clown roncar como uma baleia sofrendo de dor. Seu rosto exibia um semblante cansado e exausto como de costume, as olheiras abaixo de seus olhos acinzentados mais nรญtidas na penumbra daquela noite, em que a lua, embora presente, estava escondida por trรกs das nuvens, assim como as estrelas, cujo brilho tambรฉm era ofuscado por elas.
Jรก havia passado da meia-noite; ele podia perceber isso pelo silรชncio que envolvia o Thousand Sunny. Nem mesmo as vozes dos tripulantes eram ouvidas vindas da cozinha, o que certamente indicava que todos estavam dormindo, inclusive ela.
Nรฃo que ele estivesse preocupado ou ansioso para vรช-la; desde quando ficava esperando que ela aparecesse sempre que chegava aquele horรกrio? Law apenas havia se acostumado com a presenรงa dela, mesmo que isso significasse ficar atรฉ as seis da manhรฃ escutando as tolices que ela dizia, aturando sua risada escandalosa ou os tapas que ela lhe dava quando ria, que ele nunca esperou que pudessem ser tรฃo fortes ou pesados vindos de mรฃos pequenas e esguias como as dela.
E falando no diabo... Elisabette finalmente apareceu. Seus cabelos, normalmente soltos, estavam presos em uma tranรงa desgrenhada e bagunรงada, com um fio de saliva que ia do canto direito de seu lรกbio atรฉ o queixo, indicando que havia acabado de acordar. Ela vestia apenas uma camisola branca diferente das que costumava usar; era um pouco mais larga e longa, indo atรฉ os pรฉs e com mangas compridas que cobriam parcialmente suas mรฃos, deixando visรญveis apenas a ponta de seus dedos e as unhas pintadas. Quem a visse de longe poderia jurar que era um fantasma. Em uma das mรฃos, ela segurava uma pequena vasilha envolta em um pano e um laรงo, provavelmente um bentรด.
Law ficou em silรชncio, observando-a se aproximar dele com passos lentos atรฉ que ela se jogou no chรฃo para se sentar, encostando-se folgadamente ao seu ombro. Ele estreitou os olhos e a encarou com o cenho franzido, ainda aprendendo a lidar com seus toques inesperados que, aos poucos, estavam se tornando comuns. Era sempre assim. Elisabette o abraรงava do nada, apertava sua mรฃo para cumprimentรก-lo, dava tapinhas em suas costas ou braรงo, pedia "toca aqui", e ele, desde que havia comeรงado a passar mais tempo com ela, apenas aceitava tudo em silรชncio.
- Onigiri. - ela abriu a vasilha e mostrou a ele os bolinhos de arroz bem feitos pelo cozinheiro do bando, estendendo a vasilha para que ele pegasse um. - Pedi sem umeboshi, lembra? Pode comer tambรฉm, tem o bastante para nรณs dois. - sorriu fracamente.
- Ah... valeu. - respondeu com um tom fraco de surpresa, pegando um e dando uma mordida cuidadosamente para ter certeza de que nรฃo havia aquele bendito ingrediente que ele detestava, confirmando que realmente nรฃo havia.
- Pedi muito porque sabia que vocรช ia ficar aqui hoje.
- Obrigado. - ele sussurrou, sentando-se ao lado dela e pegando outro onigiri.
- Por nada! โก
Enquanto comiam em silรชncio, os dois estavam sentados lado a lado, observando o cรฉu noturno. O som suave do mar contra o casco do navio era a รบnica mรบsica que os acompanhava. As estrelas comeรงavam a surgir lentamente de trรกs das nuvens, pontuando o cรฉu com seu brilho tรญmido. Trafalgar mastigava seu onigiri de forma pensativa, ocasionalmente lanรงando olhares furtivos para o Anjo da Morte. Ele nรฃo podia deixar de notar como a luz suave das estrelas refletia nos olhos dela, criando um brilho cintilante que parecia hipnotizar seus sentidos. Cada piscada dela era como um brilho fugaz das estrelas, um vislumbre efรชmero da vastidรฃo do universo que parecia se encantar em seus olhos azuis.
A mais jovem, por sua vez, mantinha seu olhar perdido nas profundezas celestiais, saboreando cada mordida do onigiri com uma tranquilidade que ele nรฃo conseguia compreender por completo. Ele sentiu-se atraรญdo por aquele brilho, como se cada estrela no cรฉu estivesse conspirando para aproximรก-los ainda mais. Sem dizer uma palavra, eles compartilhavam um momento de intimidade silenciosa, onde o simples ato de comer juntos sob o cรฉu estrelado criava um elo profundo e inexplicรกvel entre eles.
Por um momento que parecia inevitรกvel e predestinado, seus olhos se encontraram, prendendo-se em um olhar mรบtuo e profundo. Elisabette nunca compreendeu plenamente por que isso sempre acontecia, por que seus olhares se cruzavam com uma necessidade quase telepรกtica de se manterem fixos um no outro. Desde a primeira vez que o viu, no Arquipรฉlago Sabaody, durante o leilรฃo de escravos, e posteriormente, na รบltima vez que se encontraram em Amazon Lily, horas antes de tudo desmoronar e seu coraรงรฃo ser feito refรฉm por ele, parecia que o destino insistia em uni-los. Nรฃo importava o tempo ou o lugar, seus caminhos sempre se cruzariam de alguma forma, como se uma forรงa maior estivesse determinada a mantรช-los conectados.
Seja ela uma menina perdida em um mundo desconhecido ou ele um pirata temido em busca de informaรงรตes; seja ela uma mulher cujos dias estavam contados ou ele um homem que, sem entender o motivo, sentia a obrigaรงรฃo de salvรก-la.
"ร preciso ter um caos dentro de si para dar ร luz uma estrela danรงante." (FRIEDRICH NIETZSCHE, Assim Falou Zaratustra - 1883, 1885)
Assim que terminou seu รบltimo onigiri, Elisabette sentiu algo borbulhar em seu estรดmago, como se milhรตes de pedacinhos de arroz estivessem se agitando dentro dela, recusando-se a digerir e queimando as paredes de seu esรดfago. Levou a mรฃo atรฉ a barriga e pressionou por cima da camisola, sentindo uma sensaรงรฃo estranha em sua lรญngua, como se ela quisesse saltar para fora de sua boca, e sua garganta comeรงou a se contorcer. Em um movimento rรกpido, a jovem se levantou com a mรฃo tampando a boca, sentindo um bolo se formar no estรดmago e se misturar com algo quente e azedo, trazendo um sabor desagradรกvel para sua lรญngua.
- O que foi?
- Eu vou vomitar!
Law arregalou os olhos, mal tendo tempo de reagir enquanto a via voar velozmente para longe dele, abrindo a porta do interior do navio de forma brusca e correndo para o banheiro. A mulher de cabelos platinados levantou a tampa do vaso sanitรกrio, apoiando as mรฃos na beirada enquanto comeรงava a expelir tudo o que havia consumido ao longo do dia, misturado com sangue.
O cafรฉ da manhรฃ, o almoรงo, o lanche da tarde e atรฉ mesmo os onigiris que havia comido junto a Trafalgar Law estavam sendo despejados em uma torrente de lรญquidos avermelhados dentro do vaso. Elisabette sentia sua garganta arder a cada rodada de vรดmito, e seus olhos lacrimejavam pelo esforรงo de forรงar a garganta a expelir tudo de uma vez, como se estivesse rasgando com uma lรขmina de fogo, deixando-a fraca e tonta. Ela olhou para dentro do vaso e viu a รกgua suja com sangue e restos de comida, seus olhos arregalando-se no mesmo instante em que se lembrou da รบltima vez que algo parecido havia acontecido.
No Arquipรฉlago Sabaody, hรก dois anos. Recordar tudo o que havia vivido em um รบnico dia naquele lugar foi como receber um golpe certeiro na nuca, fazendo sua visรฃo embaรงar e seu coraรงรฃo apertar ao reviver aquela mesma sensaรงรฃo angustiante. E, mais uma vez, ela voltou a vomitar, dominada pela agonia do momento.
Law chegou correndo ao banheiro e se deparou com ela ajoelhada diante do vaso sanitรกrio, seu corpo inteiro tremendo e suando frio, suas asas escolhidas soltando algumas penas. Aproximou-se rapidamente e puxou seu cabelo para trรกs, enrolando as madeixas platinadas em seu punho para que nรฃo se sujassem, enquanto com a outra mรฃo segurava-a pela barriga para mantรช-la erguida o suficiente, evitando que vomitasse fora do vaso sanitรกrio. Ele podia sentir o corpo dela tenso e rรญgido a cada espasmo, enquanto vomitava, e seu prรณprio coraรงรฃo disparava ao vรช-la novamente naquele estado deplorรกvel e angustiante.
Elisabette permaneceu naquela condiรงรฃo por alguns minutos, atรฉ que finalmente cessou. Limpou os lรกbios com o pulso e olhou para trรกs, seus olhos encontrando os de Trafalgar, que a encarava com a mesma expressรฃo de preocupaรงรฃo que havia demonstrado dias antes.
Num movimento impensado, Law a puxou para perto e a fez repousar sobre si, envolvendo-a com seus braรงos e segurando-a firmemente contra seu peito. Ele podia sentir o corpo dela tremendo contra o seu, as mรฃos dela agarrando com forรงa o tecido de sua camisa, como se temesse que ele a soltasse. Mas isso nรฃo era necessรกrio, pois ele seria incapaz de deixรก-la naquele momento, permitindo que sofresse sozinha. Suas mรฃos seguravam o corpo dela com cuidado e firmeza, garantindo que ela tivesse o mรญnimo de conforto. Ele sabia como era sofrer daquela forma e nรฃo ter ninguรฉm para oferecer consolo, pois por muito tempo ele mesmo nรฃo tivera, atรฉ que Corazรณn apareceu em sua vida, proporcionando-lhe uma segunda chance de viver e oferecendo cuidado quando tudo parecia desmoronar.
- Tral-san... eu nรฃo quero morrer... - murmurou ela, encolhendo-se no peito dele como um filhote assustado em meio a uma tempestade.
- Eu sei.
- Eu... eu estou com medo... - fungou, esfregando o rosto na camisa dele, praticamente desfalecida em seu colo. - Estou com medo de morrer... eu nรฃo quero...
- Vocรช... vocรช nรฃo vai. - sussurrou ele de volta, apertando-a firmemente contra si e repousando o rosto sobre a cabeรงa dela, inconscientemente inalando o cheiro de seus cabelos. - Eu nรฃo vou deixar.
Magni olhou para ele e manteve-se em silรชncio, seus olhos quase gritando por ajuda, implorando por um mรญnimo de esperanรงa de que tudo ficaria bem, de que ela ficaria bem. Entretanto, o olhar dele era um misto de "eu nรฃo posso te ajudar" e "sinto muito". Nรฃo era necessรกrio que ele verbalizasse para que ela compreendesse que era exatamente isso que ele desejava dizer, mas se sentia incapaz de fazรช-lo, e ela sequer entendia o porquรช.
No entanto, ela sabia que iria morrer algum dia, talvez sucumbisse ร Febre das รrvores ou perecesse em batalha caso fosse necessรกrio, afinal, estava fraca demais atรฉ mesmo para utilizar o Mantra. Elisabette simplesmente nรฃo aceitava que seu fim fosse este: morrer por conta de uma doenรงa que ela inconscientemente ajudou a espalhar. Nรฃo era sua intenรงรฃo, e ela acreditava que nem mesmo Enel tinha tal objetivo, pois ele nรฃo imaginava que poderia desencadear o retorno daquele vรญrus ao destruir algumas plantaรงรตes. Mas, no fundo... quando vocรช sabe, vocรช sabe. E ela sentia isso. Ela sabia que iria morrer.
Apenas nรฃo sabia quando. E tinha medo desse momento.
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