𝗖𝗔𝗩𝗔𝗟𝗘𝗜𝗥𝗢 𝗕𝗥𝗔𝗡𝗖𝗢 ;

𝗥𝗲𝗽𝗿𝗲𝘀𝗲𝗻𝘁𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼: Conquista ou Peste.
𝗗𝗲𝘀𝗰𝗿𝗶𝗰̧𝗮̃𝗼: Montado em um cavalo branco, ele carrega um arco e é coroado.

𝗜𝗻𝘁𝗲𝗿𝗽𝗿𝗲𝘁𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼: Este cavaleiro é frequentemente visto como um símbolo de conquista e vitória. Algumas interpretações modernas também o associam à peste ou doença.

a ilustração acima é uma arte feita por mim, mostrando o biquíni dela
muito atraente, não é? uma verdadeira gostosa 🫦

━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; em algum lugar do mar.

Zoro agarrou a bola arremessada em sua direção com toda a força, segurando-a firmemente enquanto respirava fundo, sentindo o suor escorrer por seu peito nu. Ele encarou o outro lado da linha traçada no chão gramado do convés e viu Elisabette, que sorria com desdém, como se dissesse: "Vai desistir?". Essa atitude fez o espadachim rosnar. Ele girou com a bola na mão e a lançou com toda a sua força na direção da jovem, que a segurou antes mesmo de ser tocada. No entanto, ela ainda foi capaz de sentir a intensidade do arremesso, que quase a atingiu no peito. Então, a platinada voou o mais alto que pôde e concentrou toda a sua força no braço direito, finalmente atirando a bola na direção de seu companheiro. Ele desviou rapidamente, fazendo com que Usopp fosse atingido no rosto, sendo lançado ao chão devido à força do impacto.

O jogo continuou daquela maneira por horas a fio, com cada lado do time perdendo seus jogadores, até o momento em que restaram apenas a sentinela e o imediato do bando, ambos ainda de pé - embora exaustos -, dando tudo de si para tentar derrotar um ao outro no jogo de queimada.

Enquanto isso, os demais piratas estavam reunidos, bebendo e comendo, observando a partida se desenrolar. Nami bocejou e revirou os olhos, abrindo uma garrafa de saquê e bebendo um grande gole antes de se levantar e caminhar até onde os dois companheiros ainda disputavam. Com dois socos certeiros, ela derrubou Elisabette e Zoro no chão, fazendo-os cair sentados com as mãos nas cabeças, choramingando pela brutalidade nada repentina da amiga ruiva.

- Sua bruxa!

- Por que eu apanhei também!?

- Para deixarem de ser dois bestas! - retrucou a Gata Ladra, limpando as mãos uma na outra enquanto os encarava com um beicinho. - Chega disso, vamos beber.

- Opa! Agora você falou a minha língua! - Roronoa se levantou imediatamente, passando o braço em volta do pescoço da mais baixa, que apenas bufou.

- Beber? Por quê?

- Precisa de motivo para beber?

A bela Birkan simplesmente riu diante da resposta do seu companheiro esverdeado, assentindo em silêncio e acompanhando-os até onde os demais se encontravam, percebendo a ausência do jovem Momonosuke e de Chopper. "Devem ter ido brincar nos arredores", refletiu consigo mesma, acomodando-se graciosamente ao lado de Sanji, que a fitou com olhos amorosos, elogiando seu traje de banho e declarando que torcera por ela o tempo todo, ciente de que era apenas questão de tempo até derrotar seu oponente no jogo de queimada. Magni soltou uma risada suave, cobrindo levemente os lábios com a mão antes de pegar uma garrafa de saquê, retirar a rolha e saborear um gole da bebida doce, limpando os lábios úmidos com o polegar.

Elisabette ostentava um biquíni cor-de-rosa quase salmão, que contrastava com a suavidade da sua pele. Alguns corações de plástico adornavam as peças de banho, conferindo-lhes um ar delicado e encantador. A vestimenta sensual realçava suas curvas nos quadris e ombros amplos, assim como os músculos das pernas e dos braços, destacando com elegância a plenitude dos seus seios na parte superior.

No entanto, não era a beleza de seu corpo que capturava a atenção de Trafalgar, nunca fora. Os olhos do Shichibukai estavam fixos no antebraço dela, região mal coberta pelo pó de arroz, local onde ele sabia existir uma mancha, uma mancha que a consumiria aos poucos até levá-la à morte. Ele recordava vividamente - afinal, era impossível esquecer - o desespero nos olhos dela ao perceber a adversidade que enfrentava, o pavor refletido em cada lágrima que descia por suas bochechas rosadas e como tentara desesperadamente remover o verde de sua pele, como se pudesse purificar-se de um destino já selado.

Algo nela o perturbava: a maneira como sorria e ria, fingindo que a noite anterior não havia ocorrido, ignorando o impacto daquela noite, fingindo que não chorara como uma criança assustada e não tivesse dissecado um animal como se fosse algo trivial. Law sentia seu estômago revirar diante da cinismo daquela mulher e de quão perigosa ela era, mas ao mesmo tempo parecia inocente como um filhote.

Ele não a detestava, como poderia? Para ele, Magni D. Elisabette não representara nenhum perigo ou ameaça, pelo contrário, esforçara-se para salvá-lo e até mesmo suportara socos e pontapés para evitar que fosse ferido. Mesmo relutante em admitir, agora estava em dívida com ela, embora a dívida dela com ele fosse consideravelmente maior do que qualquer golpe ou puxão de cabelo que a jovem recebera de Vergo quando ainda estavam em Punk Hazard. Afinal, 1 bilhão de berries não era quantia insignificante, era uma quantia considerável demais para ser ignorada simplesmente por conta de algumas defesas.

Foi então que, de repente, Nami colocou uma garrafa de vinho vazia no centro do grupo e sorriu com sugestão nos lábios presunçosos, olhando maliciosamente para todos ali, que pareceram engolir em seco, como se já soubessem o que a navegadora estava prestes a aprontar. As bochechas da ruiva já estavam rubras pelo álcool, assim como as dos demais membros da tripulação e o samurai, com exceção de Elisabette e Luffy; ela por ter começado a beber e ele por não consumir álcool.

- Vamos animar um pouco as coisas, que tal jogarmos verdade ou desafio? - ela propôs, dando mais um gole no saquê.

- Nem pensar! Da última vez que jogamos verdade ou desafio, você nos deixou sem um tostão! - Usopp retrucou, lançando um olhar furioso à amiga, que simplesmente revirou os olhos.

- Verdade ou desafio?

- Nunca jogou antes? - Luffy perguntou com um largo sorriso para a platinada, que negou com a cabeça.

- Oh, minha cara senhorita Lis! Deixe-me lhe explicar... - Brook interveio na conversa. - Então, "Verdade ou Desafio" é o seguinte: você escolhe entre responder uma pergunta sincerona ou encarar um desafio proposto pelo pessoal. É só diversão e muita revelação! Yohohoho!

- Entendi... - a mais nova entre eles sussurrou, fazendo um biquinho enquanto os observava se preparar para o jogo.

- Eu não vou perder meu tempo com isso. - Law disse, fazendo menção de se levantar quando sentiu algo enrolar em seu pescoço e de repente caiu sentado. - Mugiwara-ya!

- Nada de pressa! Fica aí sentado mesmo! Shishishishi!

O Cirurgião da Morte bufou impaciente, cruzando os braços contrariado e encarando a maldita garrafa no meio deles, que logo começou a ser girada e parou em cada um dos presentes no círculo. Até mesmo Kin'nemon parecia se divertir entre eles, o que apenas aumentou sua irritação. Seria somente ele quem estava levando a situação para a qual estavam se encaminhando a sério? Por que ninguém mais demonstrava preocupação ou pensava em estratégias? Em um mês chegariam em Dressrosa para lidar com um dos Sete Corsários. Por que estavam apenas enchendo a cara e rindo feito idiotas? Isso fez seu sangue ferver.

Após alguns minutos de perguntas bestas e desafios estúpidos, a garrafa finalmente parou na direção de Elisabette, que já exibia uma vermelhidão em suas bochechas e ombros, lutando para se manter acordada e não desmaiar devido à sua primeira embriaguez.

Com o olhar perdido, ela fitou Sanji do outro lado, que sorria radiante, sentindo seu coração acelerar ao imaginar que teria alguma chance de ganhar um beijo caso ela escolhesse o desafio em vez da verdade. Enquanto isso, a platinada enxergava tudo embaçado, seus pensamentos embaralhados, o estômago revirando e o corpo quente a levando a apoiar ambas as mãos no chão de madeira enquanto sorria confusamente para o loiro à sua frente, arqueando uma sobrancelha.

- Verdade ou desafio, Minha Anjinha?

- Ahm... verdade... - ela murmurou, deixando escapar um soluço.

- Maldição... - o homem de cabelos loiros lamentou, mas logo um sorriso travesso surgiu em seu rosto. - Bem, Minha Anjinha, com todo respeito, é claro... mas se você pudesse beijar alguém, quem seria?

- Beijar... eu..? - soluça. - Eu acho que beijaria a Camie-chan... de novo... - ela riu.

- VOCÊ BEIJOU A CAMIE!? - Nami.

- VOCÊ E A CAMIE SE BEIJARAM!? - Franky.

- VOCÊ SABE O QUE É UM BEIJO!? - Zoro.

- Não entendi... claro que sei o que é um beijo... - Elisabette os olhou confusa e soluçou novamente. Parecia que a birkan havia se tornado um livro aberto, e talvez até demais. - Não pode ser... Eu ter beijado a Camie-chan foi errado?

- Claro que não, querida. Não foi errado. - a ruiva riu, dando alguns tapinhas na cabeça da amiga, que se inclinou para os toques com um sorriso.

- Minha Anjinha! Outra pergunta! - Sanji aproximou-se. - Se você pudesse beijar outra pessoa, quem seria?

- O Sogeking... ele era... ele era muito maneiro... queria casar e ter filhos poderosos com ele... - ela piscou para o loiro, que pareceu desmoronar por dentro com as palavras da mais baixa.

- Sogeking!? - Usopp sorriu, olhando de lado para Robin, que também riu.

Pelo visto, permitir que Elisabette ingerisse tanto álcool de uma só vez, sem qualquer cautela, acabou proporcionando risadas aos seus companheiros - igualmente embriagados -, que não hesitavam em fazer perguntas bobas e íntimas à jovem mulher, que, por sua vez, não tinha papas na língua ao respondê-los. Os questionamentos variavam desde qual era a coisa mais estúpida em que ainda acreditava até o tipo de roupa íntima que costumava usar com mais frequência. Descobriu-se que ela jogava fora os sutiãs que ganhava de presente de Nami ou Robin e usava calcinhas apenas para proteger-se e não deixar sua bunda exposta quando voava de minissaia por aí.

No final, todos estavam se divertindo. Elisabette, apesar de tudo, também se divertia. O jogo de verdade ou desafio transformou-se subitamente em uma festa animada entre eles, com Brook cantando e todos dançando e acompanhando o músico, que entoava a mesma canção que havia tocado para eles em Thriller Bark, "Bink's Sake".

Desde que escutara aquela melodia pela primeira vez, a birkan não se cansava de cantarolá-la em seu dia a dia, sentindo-se viciada no ritmo, na letra, em tudo. Magni sempre pedia ao seu companheiro que cantasse para ela durante os momentos de lazer dos dois, como nas vezes em que solicitava ajuda ao mais velho para pentear seus cabelos, quando se oferecia para ajudá-lo a limpar seus instrumentos, ou nas poucas ocasiões em que timidamente pedia para que ele lhe ensinasse a tocar lira¹, um instrumento que lhe despertava interesse por achar seus sons belos e calmantes.

De repente, Elisabette sentiu algo queimar seu mamilo, e um arrepio percorreu seu corpo ao se lembrar do Vivre Card de Gan Fall que estava ali, guardado. Com passos cambaleantes, ela agarrou sua bolsa e a colocou no ombro, saindo do interior do navio e indo para o convés, onde ainda podia ouvir seus companheiros festejando.

Tempestades vão chegar e até podem assustar
Siga as ondas, deixe a dança conduzir você
Se não avistar um fim e pensar em desistir
Fique firme, pois um novo dia vai surgir...
🎶

Ainda sentindo sua cabeça girar e seu corpo quente e pesado devido à quantidade de álcool em seu sangue, a platinada sentou-se próxima ao mastro e olhou ao redor, não vendo ninguém além de Caesar Clown no canto do convés. Ela suspirou profundamente e retirou o Call Dial de dentro de sua bolsa, olhando para a concha branca. Em seguida, puxou de seu biquíni o Vivre Card, arregalando os olhos bêbados ao perceber que o papel, antes reduzido à metade, agora estava apenas uma minúscula ponta prestes a terminar de queimar.

Yohohoho, yohohoho... 🎶

Elisabette sentiu tudo ao seu redor se transformar em uma imensidão de trevas, enquanto a canção de Brook soava abafada em seus ouvidos. Seu olhar estava fixo no papel em sua mão, enquanto a outra apertava fortemente a concha, formando algumas rachaduras antes de diminuir a pressão para não destruir o dial e perder a chance de manter contato com seus aliados das Ilhas do Céu.

Sua respiração tornou-se descompassada, e, tomada pelo pânico, ela sentiu como se todo o álcool fervilhando em seu sangue estivesse se dissipando no suor nervoso que começara a deslizar por suas curvas e testa. Ela engoliu em seco, a mão trêmula, e tentou fazer uma ligação para Gan Fall. Após três tentativas fracassadas de contato, a mulher desistiu ao não obter respostas, o que apenas intensificou o estado frenético de seus pensamentos, que não cessavam por um único segundo enquanto ela tentava entender o que diabos estava acontecendo.

Com um saquê de Bink em mãos, eu não temo a escuridão
Seja amanhã ou hoje, sonhos vou viver
Sinto por me despedir de quem teve de partir
Mas fico em paz, pois junto a Lua você brilhará...
🎶

Elisabette, então, decidiu tentar contatar os sacerdotes e, mais uma vez, sem sucesso - sem nenhuma resposta. Com um soco forte no chão, ela sentiu-se frustrada e ansiosa, sempre olhando para o Vivre Card agora pousado no gramado onde estava sentada. Seu peito estava apertado, tomado por uma sensação ruim, uma angústia que a fazia sentir-se prestes a explodir em trilhões de pedaços, espalhando-se por todos os lados, sem chances de se reencontrar.

Entretanto, como um milagre, Wyper foi o único que atendeu sua ligação. Sentindo seu corpo inteiro colapsar, um gemido de alívio e medo escapou por seus lábios no instante em que escutou a voz dele, parecendo tão desesperada quanto a dela, embora ainda mantivesse seu tom estoico habitual.

- Wyper!

"Elisabette!? Sabe há quantos dias estou tentando falar com você? Há quantos dias todos estão!?", era nítido o estresse na maneira como falava, fazendo-a estremecer por dentro.

- Eu sei, me desculpe! Eu estava ocupada, não tive tempo de retornar as ligações ou atendê-las! - ela se defendeu, apertando o punho com força.

"Estamos com problemas sérios, Elisabette!"

- Eu sei, eu imagino! Eu estava vendo o Vivre Card do Gan Fall e...

"Ele não vem ao caso", o shandia a cortou antes mesmo de finalizar sua frase, fazendo-a franzir o cenho em irritação. "Gan Fall já é um homem morto."

- Do que você está falando!? Eu estou neste exato momento indo para Dressrosa, é apenas questão de tempo até que eu entregue as plantas! - retrucou Magni, cerrando os dentes e sentindo o rosto arder de raiva diante do colapso iminente de tudo. ‐ Eu vou salvá-lo! Eu vou entregar as plantas!

"O vírus conseguiu contaminar todo o Jardim Superior, alcançando as plantas e animais naturais da cidade principal de Skypiea e Shandia. Está tudo contaminado."

- ...o quê?

"A Febre das Árvores se espalhou um pouco tarde, mas mais rapidamente do que os médicos e curandeiros previam."

Elisabette ficou em silêncio por um momento, tentando processar as palavras do mais velho, que parecia tenso ao despejar tantas informações em tão pouco tempo, sobrecarregando-a como um coelho inofensivo capturado por um caçador. Ela coçou a garganta e levou a mão até a testa, depois contemplou o céu noturno, onde a lua brilhava intensamente, por um instante a fazendo sentir-se... observada. "Se estiver aí, me ajude", sussurrou em seus pensamentos, um apelo silencioso por ajuda ao seu pai.

"Há mais pessoas adoecendo, mais baixas, e nossos médicos e curandeiros também estão perecendo pelo contato direto com os animais infectados que utilizam para testes de possíveis curas e tratamentos", ele disse com a voz carregada de peso, à beira do colapso, e ela sentiu isso atingi-la como uma faca no peito.

- Não se preocupe. - ela sorriu desesperadamente, sentindo seus olhos tremerem pelo pavor que começava a consumi-la. - Eu vou dar um jeito. Quando eu... quando eu chegar em Dressrosa... eu mesma levarei as plantas.

"Você...? O que aconteceu com o Pássaro do Sul?"

- Eu o matei.

"VOCÊ FEZ O QUÊ!?"

- Ele estava infectado. Ele me contaminou. Eu... - engoliu em seco e mordeu os lábios com força. - Eu precisava proteger meu capitão. Caso contrário, ele também seria contaminado.

"Elisabette... você... não... isso... você está com a Febre das Árvores?", sua pergunta soou trêmula, a voz embargada e rouca. Foi então que, naquele momento, ela se deu conta de algo: Wyper estava chorando.

A birkan encolheu-se como uma bola, seus braços abraçando as pernas nuas e escondendo metade do rosto entre os joelhos enquanto olhava para o nada, imersa em seus pensamentos sobre tudo e todos. Tudo o que ela mal conhecia, todos que nunca teve a oportunidade de conhecer como realmente desejava. O que deveria fazer? E se não chegasse a Dressrosa a tempo de salvar Gan Fall, ou a si mesma? Seria tudo em vão? O que ela suportou em Skypiea não foi suficiente? O esforço que fez para mostrar que estava bem não foi suficiente? Elisabette apertou os olhos ao sentir as lágrimas chegarem novamente, determinada a não permitir que sua fraqueza a dominasse.

Chorar era coisa de criança; apenas crianças choravam, e ela não era mais uma criança. Então, por que sentia vontade de chorar? Por que um nó se formava em sua garganta, fazendo-a engolir toda aquela angústia como uma bola de ferro fervente, que queima e consome como uma mera desgraça?

Com um saquê de Bink em mãos, nós cantamos a canção
Vamos todos juntos velejar por esse mar
Você deve ser você, no fim só ossos vamos ser
Então apenas viva a vida como conseguir...
🎶

Encostado a uma certa distância, oculto pelas sombras, estava Law, observando tudo em silêncio. Ele via a dor no olhar dela, o medo, o desespero expresso em sua linguagem corporal e compreendia que, apesar de estar embriagada naquele momento, ela ainda tentava se manter sã para lidar com aquela situação que a estava destruindo por dentro. Odiava admitir, mas sentia pena daquela mulher. Não por ser uma pessoa empática, mas por compreender como ela se sentia, como era estar naquele estado de vulnerabilidade, sem ter com quem contar, sem alguém para cuidar dela ou algum fio de esperança ao qual se agarrar para lutar pela própria vida.

Odiava reconhecer a dor das pessoas, a dor da solidão. Para Law, após perder sua família, seus amigos e ver tudo o que conhecia ser destruído sem que ele pudesse fazer nada, foi um tormento se apegar aos outros. Para Law, viver era um fardo - ainda era difícil. Quando teve a oportunidade de entrar para a Família Donquixote, não hesitou em se oferecer como uma arma humana capaz de aniquilar tudo ao seu redor, envolvendo seu corpo de garoto de 11 anos com granadas, apenas para encontrar uma morte que o fizesse sentir-se útil após perder tudo.

Trafalgar Law perdeu tudo o que amava. Perdeu seus pais, sua irmã, seus amigos, e viu o hospital onde cresceu ser incinerado como se fosse nada, algo descartável, feito lixo. Flevance, seu lar... tudo o que ele tinha, evaporou. Cada fragmento de felicidade, cada traço de segurança... desapareceu. Tudo por causa da ganância insaciável dos nobres, pela indiferença cruel do Governo Mundial, que ao invés de admitir seus erros e buscar uma cura para a Doença do Chumbo Branco, preferiu destruir toda a cidade e massacrar seus habitantes.

Yohohoho, yohohoho... 🎶

Ao encará-la novamente, ele percebeu o quão pequena ela parecia na posição em que estava. Seu corpo encolhido, abraçando a si mesma, conversando com alguém do outro lado da concha, sempre atento a tudo que falava. Talvez, esse fosse o seu mal: querer inconscientemente saber mais sobre ela.

Em silêncio, ele se manteve ali, oculto pelas sombras que o mantinham sublime no convés, apenas observando-a, atento aos seus movimentos, à sua voz, aos seus olhos, questionando a si mesmo o que poderia se passar na cabeça dela, sabendo que a morte já lhe era um destino selado, que... a qualquer dia, ela poderia dormir e nunca mais acordar. Elisabette se sentia da mesma forma que ele, começando pela negação, recusando-se a morrer para, quando visse que não lhe restava nada, apenas aceitar que aquele era seu destino traiçoeiro. Law sabia que sim, sabia que era assim que ela se sentia porque... foi assim que ele se sentiu.

- Eu quero... falar com Gan Fall. Você... não pode ir até o Templo Sagrado? - ela sussurrou com a voz trêmula, segurando as lágrimas a todo custo.

"Estou com Gan Fall neste exato momento. Ele... estava sendo tratado em Shandia, mas... já não há mais nada que possa ser feito, o corpo dele foi totalmente tomado pela doença."

- Entendo... - cuidadosamente, a jovem pegou o Vivre Card, vendo que aos poucos a pontinha diminuía. - Ele consegue me ouvir?

"Sim... minha ne- Elisabette", Gan Fall, por fim, a respondeu. A voz do idoso estava fraca e cansada, tanto que fora quase difícil para ela escutá-lo, e isso a fez engasgar com as lágrimas.

- Está tudo bem. Você pode me chamar de neta... eu sou sua neta, não sou?

"Sim, você é minha neta. Você é minha... família."

- Sim... - ela cravou as unhas da mão na perna, tentando segurar o choro em sua garganta, o prendendo como um animal feroz numa jaula de aço.

"Há alguns meses, você me perguntou uma coisa, algo para o qual eu nunca consegui te dar uma resposta. Estávamos sentados observando o pôr do sol, você estava pensativa como sempre, imagino que pensando naquele homem que roubou seu coração... mas seria tolice ser tão ingênuo a este ponto, sei que quem domina seus pensamentos é o seu pai."

- ...eu me lembro.

"Você me perguntou se era especial, como seu pai dizia... mas acrescentou algo a mais. Você pode repetir a pergunta, minha neta?"

- Sim... - a moça respirou fundo e soltou um suspiro pesado, já sentindo os olhos ardendo e sem forças para engolir o pranto que ameaçava apertá-la como um nada. - Eu posso.

"Vá em frente."

- Eu sou especial porque sou filha de Deus ou... eu sou filha de Deus porque sou especial?

"Você nasceu. Você existe. E isso já é motivo suficiente para fazer de você alguém especial, isso... já é razão para que sua existência seja significativa. Você não é especial por ser filha de Enel, nem ser filha de Enel a torna especial."

- O quê..? - ela murmurou, sentindo os olhos se encherem de lágrimas e o peito apertar.

"O que quero dizer é..."

Ele se calou. O silêncio de Gan Fall foi seguido por uma agitação do outro lado da linha, fazendo-a arregalar os olhos e se levantar bruscamente. Ela segurou o Call Dial com força, ainda mantendo o Vivre Card entre dois dedos, aproximando-o enquanto olhava desesperada para a concha que segurava, tentando compreender o que estava acontecendo. Por que ele havia se calado? Por que todos começaram a falar ao mesmo tempo frases desconexas? Droga, o que estava acontecendo? Por que ele parou de falar? Ela começou a chamar por ele, tentando de alguma forma atrair sua atenção, mesmo estando tão longe.

- Gan Fall! Gan Fall! - ela gritou, sabendo que seus companheiros não iriam ouvi-la devido à música alta.

"Eli...sa...be...tte..."

- Estou aqui! Estou escutando!

"Você... você é especial..."

- Por quê...? - a birkan sussurrou, trazendo a concha para perto de seu rosto, apoiando a testa em sua superfície lisa. - Por que sou especial?

Com suas derradeiras forças, utilizando os últimos resquícios de oxigênio em seus pulmões exauridos tanto pela vida longa quanto pela exaustão e a Febre das Árvores, Gan Fall sussurrou com a voz mais firme que pôde:

"Você é especial porque nasceu neste mundo."

Aquela frase, embora breve, abriu um arrombo ainda maior no peito de Elisabette, que desabou de joelhos enquanto testemunhava o Vivre Card se desintegrar por completo, escapando de suas mãos como cinzas, sem que ela pudesse sequer tocá-lo uma última vez. Gan Fall havia partido. Gan Fall, a única família que restava para ela no mundo, havia falecido antes mesmo de poder cumprir a promessa de salvá-lo, de curá-lo. Agora... Elisabette se via, mais uma vez, solitária no mundo.

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