
โโ ๐ฅ ึด เผ ุ๐ฏ๐ฌ. ๐๐ผ๐ป๐๐ฎ๐ด๐ฒ๐บ ๐ฟ๐ฒ๐ด๐ฟ๐ฒ๐๐๐ถ๐๐ฎ.
๐ก๐ข๐ง๐ ๐๐ ๐๐ซ๐ง๐ฅ๐๐ ๐ ๐๐ ๐ฃ๐ข๐ฅ๐ง๐๐ก๐๐๐: O conteรบdo a seguir contรฉm cenas envolvendo sangue e ferimentos graves/abertos. Caso haja algum tipo de sensibilidade, recomendo que pule diretamente para os parรกgrafos finais para evitar qualquer desconforto ao ler.
โโ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; em algum lugar do mar.
แกElisabette, Anjo da Morte. โชO ponto de vista Delaโซ
Tral-san nos informou que nosso prรณximo destino seria o Reino de Dressrosa, e isso fez meu corpo inteiro gelar, ficando totalmente paralisado no lugar enquanto o encarava com os olhos arregalados. Desde que retornei para o Mar Azul, aquela ilha jรก era o local para onde eu precisava ir e nรฃo sabia como convencer meus companheiros a seguirmos tal rota, mas agora tenho a desculpa perfeita para irmos atรฉ lรก. Posso finalmente alcanรงar Green Bit e procurar pelas plantas que produzem a cura para a Febre das รrvores! Estรก tudo correndo tรฃo bem, tudo conforme eu nรฃo havia conseguido planejar. Entretanto, se estรก certo, isso รฉ o que importa.
Jรก havรญamos nos distanciado quilรดmetros de Punk Hazard de forma que sequer conseguรญamos sentir o fervor do mar ao seu redor ou o frio de sua nevasca, nem mesmo o som de crianรงas brincando e rindo ou da gritaria de homens bรชbados se divertindo uns com os outros.
Estรกvamos reunidos para discutir nossos prรณximos passos, o nosso plano para derrotar Donquixote Doflamingo e tirรก-lo da jogada para enfim derrubarmos o Yonkou Kaido, das Cem Feras. Era nรญtido desde nossa primeira conversa sobre alianรงas que os capitรฃes piratas tinham concepรงรตes diferentes de uma alianรงa; enquanto Luffy acreditava que Tral-san era seu amigo e nosso novo colega temporรกrio de bando, ele apenas nos via como ferramentas para juntos derrotarmos um dos Quatro Imperadores do Mar. Isso foi algo que atรฉ mesmo surpreendeu Sanji, que ainda estava confuso com a presenรงa de Caesar Clown em nosso navio, vez ou outra lhe dando alguns chutes por seus comentรกrios desagradรกveis ou ameaรงas que jamais seriam cumpridas.
- Por isso, Luffy falava toda hora em "captura", coisa que nunca faz. Se ele tivesse me aparecido com esse carneiro estranho e me pedido para cozinhar, eu nรฃo ia saber o que fazer. - nosso cozinheiro disse, parando prรณximo ao cientista que estava acorrentado e sendo tratado pela pequena rena.
- Miserรกveis... isso nรฃo vai ficar assim. - ele praguejou de cabeรงa baixa, antes de erguer o olhar e nos encarar com รณdio. - Gente muito influente vai caรงar vocรชs! Idiotas! Vรฃo perceber o tamanho da idiotice que fizeram! - e um chute foi o suficiente para fazรช-lo cair.
- ร, Sanji! Ele estava em tratamento! - Chopper gritou em desespero, indo impedir o loiro de desferir mais golpes contra Caesar.
Revirei os olhos, dando um sorriso ao ver a preocupaรงรฃo do nosso pequeno companheiro com o nosso refรฉm, que jรก estava machucado o suficiente para receber mais algumas pancadas secas. Sentei-me de joelhos no chรฃo ao lado de Zoro, que cochilava como sempre fazia, e voltei minha atenรงรฃo ao Cirurgiรฃo da Morte, que nos explicava sobre Doflamingo e sua grande influรชncia como um dos maiores traficantes do submundo, vulgo mercado negro, tambรฉm nos revelando que nรฃo sรณ os leilรตes que ocorrem no Arquipรฉlago Sabaody, mas todos os leilรตes de escravos espalhados pelas ilhas sรฃo patrocinados por ele, que investe nesses leilรตes e na venda de pessoas como escravos para aqueles que querem e podem comprรก-las como se fossem meras mercadorias.
E quando ele mencionou Kaido, tanto Kin'nemon quanto seu filho Momonosuke pareceram ficar aflitos, totalmente atordoados com o nome dito, tanto que o menino sumiu em uma nuvem de fumaรงa laranja e reapareceu na forma de dragรฃo rosa outra vez, atraindo nossos olhares para a dupla de samurais. Porรฉm, nos desfocamos da tensรฃo deles quando o mais velho se assustou com a transformaรงรฃo do garoto, nรฃo sabendo que aquele era seu prรณprio filho.
Fiquei em silรชncio, observando a interaรงรฃo familiar entre os dois, novamente me fazendo sentir uma pontada de inveja no peito, trazendo ร tona lembranรงas dos inรบmeros momentos bons que vivi ao lado do meu pai, do meu Deus, antes de tudo se tornar... diferente.
Ainda me sinto uma tola por pensar tanto nele, por ainda sentir tanto a sua falta. Mas o que poderia fazer? Como eu seria capaz de odiรก-lo, quando ele รฉ tudo que eu tenho na vida? A รบnica famรญlia que me resta. Eu... eu quero tentar sentir raiva de sua ida sem uma despedida, sem um aviso de volta ou ao menos o porquรช de ter me deixado para trรกs, no entanto, eu nรฃo consigo. Eu nรฃo consigo odiรก-lo, nem sentir mรกgoa. De certa forma, me sinto culpada. Talvez... eu sรณ tenha sido fraca. Fraca porque nรฃo fui capaz de lidar com Zoro e seguir meu pai, fraca porque nรฃo acordei a tempo de impedir a sua derrota ou fraca porque nรฃo pude ser capaz de alcanรงรก-lo quando se foi com a arca.
- Vou dormir. - falei, levantando-me e batendo nos joelhos para tirar a grama.
- Agora vocรช vai ter trabalho dobrado, hein, Lis? - Usopp gargalhou, apontando para o cientista que trouxemos de Punk Hazard. - Cuidar do Sunny e vigiar aquele patife ali.
- ร moleza. Ele รฉ inofensivo enquanto estiver algemado, certo?
- Sรณ nรฃo vai cair na conversa dele, pomba lesa. - Zoro sorriu de canto.
- Como se cai na conversa de alguรฉm? - coloquei as mรฃos na cintura, inclinei a cabeรงa para o lado e arqueei uma sobrancelha. - Essa frase nem faz sentido.
- Oh, Lis... - Nami se aproximou, me abraรงando e, devido ร nossa diferenรงa de altura, seu rosto descansou em meus seios. - Nรฃo escute esse imbecil. Apenas faรงa seu trabalho de sentinela bem certinho, sim? Vocรช arrasa, garota.
- Ninguรฉm vigia esse navio melhor que eu.
- ร, disse a pessoa que foi rendida por 100 caรงadores de recompensas que roubaram todo o nosso tesouro guardado na despensa do Sunny. - declarou o atirador do nosso bando, pontuando a mentira que eu havia contado sobre o sumiรงo do nosso dinheiro. Eu engoli em seco e encarei nosso aliado rapidamente, notando um sorriso de escรกrnio em seus lรกbios.
- Bem... - cocei a garganta e sorri nervosa. - Eu estava ferida e assustada! Nunca fiquei sozinha no Mar Azul, o que queriam que eu fizesse? Eu estava vulnerรกvel! - fiz um beicinho e encarei nossa navegadora, sabendo que aquilo sempre funcionava com ela.
- Oh, pobrezinha...
- ร ruim, hein?
- Pega visรฃo! - apontei minha foice para Zoro e um raio caiu em sua cabeรงa, deixando seu corpo com algumas queimaduras.
Escutei a risada dos meus companheiros enquanto me afastava deles com o nariz erguido. Passei por Tral-san, lanรงando-lhe um olhar de soslaio e estreitando os olhos ao encontrar os dele, que ainda sorriam. Achei que ele havia mudado, mas me enganei. O sorriso de deboche ainda estava lรก, zombando de mim mentalmente. Magrelo esquisito, vocรช tem sorte de estar com meu coraรงรฃo e minha vida depender de vocรช. Caso contrรกrio, eu o jogaria deste navio sรณ para vรช-lo se afogar e implorar que eu pulasse na รกgua para resgatรก-lo... e eu o resgataria, porรฉm morrerรญamos juntos, pois eu nรฃo sei nadar.
Caminhei para o interior do Sunny, espreguiรงando-me enquanto seguia para o quarto das meninas. Nรฃo demorou para eu pegar minha toalha, que estava perfeitamente dobrada sobre a cama de Robin, acompanhada de um bilhete com seu nome e um rostinho piscando. Provavelmente era um sinal indireto de que ela havia dobrado a toalha e a deixado ali para eu usar apรณs o banho.
Bocejei e cobri a boca com uma mรฃo, enquanto com a outra coรงava o abdรดmen por cima da blusa, sentindo algo pinicando ali. Deixei isso de lado e tirei minhas roupas, ficando apenas de calcinha, dobrando-as e colocando-as no cesto de roupa suja. Depois, me envolvi na toalha e saรญ do quarto, encontrando imediatamente Nami apresentando o Thousand Sunny para Momonosuke, que parecia encantado com nosso aquรกrio onde guardรกvamos os peixes que pescรกvamos para comรช-los bem frescos. Sanji sempre diz que peixe grelhado fresco รฉ melhor do que congelado, e eu acredito nele com toda a confianรงa possรญvel quando se trata de comida.
Chegando ao banheiro, tranquei a porta e pendurei a toalha no cabide, mas fui pega de surpresa por um pingo de sangue no chรฃo, que logo se transformou em vรกrias gotas. Arregalei os olhos e corri atรฉ a pia, olhando-me no espelho e notando meu nariz sangrar novamente, alรฉm de uma mancha vermelha na regiรฃo das costelas, um pouco abaixo do meu seio esquerdo. Passei a mรฃo ali e senti uma sensaรงรฃo de queimadura, recuando imediatamente o toque e voltando a encarar o espelho. Estava tรฃo distraรญda com o banquete e as crianรงas que esqueci de falar com Chopper sobre a alergia, e agora estรก se tornando algo sรฉrio... oh, cรฉus.
Balancei a cabeรงa para afastar os pensamentos e desviei a atenรงรฃo do espelho quando comecei a ver um vislumbre de Enel em meu prรณprio rosto, apesar do olho roxo e da expressรฃo cansada depois de um dia tรฃo cheio como o de hoje.
Dirigi-me para o chuveiro e liguei a รกgua, sentindo o calor comeรงar a deslizar pelo meu corpo ainda afetado pelo tempo que fiquei exposta ao frio miserรกvel. E... embora tenha me machucado um pouco - devo admitir, por minha prรณpria culpa -, a neve รฉ tรฃo bonita, eu queria tรช-la visto antes. O sangramento havia parado, mas eu ainda sentia que algo estava errado.
Peguei o sabonete e o espalhei pelo corpo, deslizando cuidadosamente as mรฃos pelas minhas curvas e pelo meu abdรดmen. Senti um arrepio ao passรก-lo levemente sobre a vermelhidรฃo na costela, deixando escapar um gemido fino dos lรกbios, entรฃo encostei as costas na parede. Soltei um suspiro e apertei os olhos, abrindo-os devagar apenas para ver minha visรฃo ficar turva rapidamente. Apoiei-me com as mรฃos na parede para me equilibrar. Fiquei quieta, inspirando e expirando atรฉ que tudo voltasse ao normal, observando o sabonete escorrer pelo ralo enquanto ainda deslizava pelas minhas coxas e pernas.
- O que รฉ isso agora..? - sussurrei para mim mesma, desligando o chuveiro e estendendo a mรฃo para pegar a toalha.
Sequei meus cabelos com cuidado, em seguida bati as asas para sacudi-las e secรก-las. Depois, envolvi meu corpo novamente com a toalha e dei uma รบltima olhada no espelho, observando o hematoma roxo no olho. Toquei suavemente a pele machucada ao redor com uma mรฃo, enquanto a outra segurava a toalha para nรฃo cair.
Por fim, vi meu pai em meu prรณprio reflexo, olhando-me com algo como... decepรงรฃo. Ele certamente ficaria desapontado ao me ver em tal estado deplorรกvel. Machucada, sofrendo como uma humana normal, como uma pessoa fraca e frรกgil, quando nรฃo foi para isso que ele me criou, quando nรฃo foi para isso que ele me abenรงoou com o dom da forรงa, da agilidade e da crueldade que sรณ existe no meu sangue. Eu sou a guerreira perfeita. Foi para isso que nasci, foi para isso que ele me criou. Para ser forte. Para ser perfeita. Para ser... a filha de Deus. Carne da tua carne, sangue do teu sangue, como ele me disse e como sempre irei repetir para mim mesma quantas vezes for preciso.
Para lembrar de onde eu vim.
Lembrar de quem eu sou.
Para o que fui moldada.
Soltei um chiado entre os dentes e virei o rosto bruscamente, recusando-me a olhar nos olhos dele, no rosto dele, no rosto de Deus, que tanto me observava de uma maneira angustiante. Senti ardรชncia na bochecha, no antebraรงo e na costela, um lembrete de quรฃo fisicamente frรกgil eu havia me tornado ao me deixar perturbar por simples alergias, como uma garotinha chorona. Olhei novamente para o espelho e o golpeei com forรงa, vendo-o estilhaรงar em vรกrios pedaรงos e ferir meu punho.
Depois disso, abri a porta e me deparei com Luffy, que piscou ao me ver e olhou para o espelho quebrado, fazendo um beicinho e me encarando novamente antes de dar um peteleco na minha testa. Franzi o cenho ao encarรก-lo de volta. Ele entrou no banheiro para avaliar a situaรงรฃo e cruzou os braรงos, balanรงando a cabeรงa em negaรงรฃo com uma expressรฃo engraรงada e pensativa, certamente tentando encontrar uma soluรงรฃo antes que Nami visse e me desse um cascudo. Nรฃo era a primeira vez que eu descontava minhas frustraรงรตes com minha aparรชncia quebrando espelhos, seja no banheiro ou no quarto das meninas.
- Caramba, 'cรช quebrou outro espelho? Ninguรฉm nunca te disse que isso dรก azar, mulher!?
- Nรฃo gostei do que vi nele.
- E o que vocรช viu? - ele me olhou confuso, coรงando a cabeรงa por cima do chapรฉu de palha.
- Eu.
O olhar do mais baixo se endureceu e vi seu semblante escurecer ao me encarar, ciente do meu especรญfico problema com a aparรชncia. Luffy sabia que eu tambรฉm me achava parecida com meu pai, algo que ouvi desde a infรขncia e que, mesmo que nรฃo concordasse, a semelhanรงa era inegรกvel. Meus companheiros acham que sou muito parecida com ele fisicamente, eu tambรฉm penso assim, e isso... รฉ algo que ao mesmo tempo que me agrada, tambรฉm me assombra profundamente.
- Estou indo dormir para passar a noite de sentinela. Meia-noite eu acordo. - murmurei, prestes a me retirar quando senti ele segurar minha mรฃo livre e virei para encarรก-lo nos olhos.
- Espere. - ele disse.
- Sim, capitรฃo?
- Sua beleza nunca me assustou.
Ao ouvir as palavras de Monkey D. Luffy, meu coraรงรฃo deve ter dado um salto. Surpreendida e confusa, senti uma mistura de emoรงรตes se agitando dentro de mim. Era raro ver Luffy tรฃo sincero e perceptivo sobre algo que nรฃo envolvesse comida ou batalhas. Seus olhos sinceros e seu tom simples, porรฉm direto, tocaram profundamente o meu รขmago. Pela primeira vez, percebi que ele notava mais do que apenas a minha forรงa ou habilidade em combate; ele via algo que atรฉ eu mesma tinha dificuldade em aceitar. Um sorriso tรญmido brotou em meus lรกbios enquanto uma onda de calor me envolvia.
Era reconfortante saber que, apesar de todas as minhas inseguranรงas e da minha busca incessante por ser forte, o Chapรฉu de Palha via alรฉm disso. Seu comentรกrio simples, mas genuรญno, era como um raio de sol perfurando todas as inseguranรงas, embora sem forรงas o suficientes para afastรก-las de vez.
โฆ ใ . โ ห โ
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โ แกNarrador. ; โชO ponto de vista do Leitorโซ
Elisabette despertou com um bocejo que escapou de seus lรกbios rosados. Ao olhar ao redor, percebeu que o quarto jรก estava escuro, com suas companheiras e Momonosuke dormindo serenamente. A jovem de cabelos platinados esticou os braรงos e as asas num gesto de alongamento, erguendo-se da cama para buscar uma camisola em seu baรบ de roupas, uma vez que tinha o hรกbito de dormir desnuda. O tecido de seda fina, num tom azul claro, delineava suas curvas suaves, deixando o contorno de seus seios perceptรญveis. Bocejando novamente, ela pegou sua foice que repousava ao lado da cama e saiu do quarto.
Seus cabelos platinados caรญam como fios de prata sobre um de seus ombros, enquanto a outra parte estava jogada para trรกs, balanรงando-se sobre suas asas brancas que, pela primeira vez em dias, estavam calmas, suas penas alinhadas e tranquilas como se nรฃo fossem mais iguais aos pelos de um gato arisco assustado com a prรณpria sombra.
Ela caminhava com passos leves, um rebolado natural, como uma modelo desfilando na passarela. Elisabette exibia postura e classe. Era a imagem da mulher bela e desejada pela sociedade, embora nรฃo tivesse suficiente amor prรณprio para reconhecer-se assim, como verdadeiramente era, quem deveria ser. A seus prรณprios olhos, azuis como o cรฉu ou o mar que abraรงava cada pedaรงo de terra ao redor do mundo, ela se via apenas como uma cรณpia imperfeita de Enel, seu pai, seu mestre, seu Deus.
Para nรฃo acordar seus companheiros com o ranger da porta, a birkan a abriu com cuidado, tambรฉm tendo cautela ao fechรก-la atrรกs de si, suspirando em alรญvio por ter conseguido passar para o lado de fora do navio sem ruรญdos.
Um arrepio percorreu seu corpo, coberto apenas pela camisola, sua pele imediatamente se arrepiando ao sentir a brisa noturna brincar suavemente com seus cabelos e asas, soltando algumas penas ao vento. Magni envolveu-se em um abraรงo consigo mesma e dirigiu-se ร amurada em busca de Zoro, ciente de que o espadachim estaria por ali dormindo, aguardando apenas sua chegada para assumir o turno como sentinela da tripulaรงรฃo dos Piratas do Chapรฉu de Palha. Contudo, ao olhar ao redor, nรฃo encontrou o esverdeado; apenas viu Caesar Clown roncando num canto do convรฉs, enquanto o Cirurgiรฃo da Morte permanecia silencioso nos bancos junto ao mastro do navio.
A jovem o olhou confusa, arqueando uma sobrancelha antes de voar atรฉ ele, pousando elegantemente em sua frente e capturando a atenรงรฃo de Law, que ergueu seus olhos acinzentados para os dela. Permanecia como sempre, sรฉrio, com um olhar indiferente e um ar de superioridade diante dela, o que provocou apenas um suspiro vindo da moรงa. Ela se desfez do prรณprio braรงo, estufou o peito e colocou as mรฃos na cintura, adotando uma pose de autoridade. No entanto, seu beicinho e olhos grandes fixos no rosto dele apenas o fizeram pensar: "Maldita, pare de agir como se fosse fofa."
- Se veio aqui para cobrir o Zoro, jรก pode ir dormir. - disse ela, desfazendo o cruzamento dos braรงos e recuando as mรฃos para trรกs, acompanhado de um sorriso gentil.
- Volte a dormir. Eu fico de olho no Caesar.
- A sentinela do navio sou eu, nรฃo vocรช. Alรฉm disso, sรณ obedeรงo ร s ordens do meu capitรฃo.
- Nรฃo me importo. Quero ficar aqui e vigiรก-lo. Nรฃo dรก para confiar em alguรฉm que foi rendida por 100 caรงadores de recompensas e deixou todo o tesouro do navio ser levado. - provocou Trafalgar, sorrindo debochadamente. O chapรฉu em sua cabeรงa sombreava seus olhos, dando-lhe um ar sombrio.
- Seu...! - o Anjo da Morte fechou a cara e cerrou os punhos, formando um beicinho nos lรกbios. โ Vocรช quem me rendeu! Arrancou minha cabeรงa e me deixou como uma barata!
Ao dar-se por vencida, Elisabette simplesmente virou as costas para ele e dirigiu-se atรฉ onde o cientista estava adormecido, roncando tรฃo alto quanto ela era capaz. Ela parou em frente a ele e chutou-lhe o rosto para acordรก-lo, observando o homem ficar atordoado e comeรงar a gritar por misericรณrdia enquanto olhava de um lado para o outro, deparando-se com a sentinela e sorriu diabolicamente. Desde que a avistara, Caesar Clown nรฃo pรดde evitar sentir um enorme interesse por aquela jovem mulher, em como seu corpo era forte, resistente e, acima de tudo, capaz de suportar eletricidade e atรฉ mesmo perpetrar as atrocidades que testemunhara atravรฉs dos Den Den Mushi transmissores de vรญdeo, que lhe proporcionaram a visรฃo de Magni D. Elisabette massacrando seus capangas em questรฃo de poucos minutos.
Ele havia ouvido falar dela, seja por rumores que escutava pelos corredores de seu laboratรณrio, falados por seus homens, seja pelas informaรงรตes que Monet coletava ao ler jornais e contar para ele, ou ainda atravรฉs de seu prรณprio chefe, Joker - Donquixote Doflamingo. O Shichibukai havia descoberto informaรงรตes valiosas sobre a platinada, desde as coordenadas de como chegar ร s Ilhas do Cรฉu sem sofrer danos atรฉ a existรชncia de Shandora, a lendรกria cidade de ouro mencionada em muitos livros sobre mitos e lendas transmitidos de geraรงรฃo em geraรงรฃo.
Elisabette era uma peรงa-chave para essa cidade, sua sabedoria sobre Skypiea era mais valiosa do que um diamante. Elisabette, sem sequer saber disso, havia despertado um grande interesse nos olhos do Corsรกrio. Afinal, o homem tinha conhecimento de que seu sangue era "azul", quase nobre. Ela era jovem, bonita... estava no mesmo nรญvel. Donquixote Doflamingo era um pirata temido, um Shichibukai, um Tenryubito - apesar de renegado - com influรชncia. Era um Rei. E todo Rei precisa de herdeiros.
E quem melhor do que ela? Jovem, bonita, forte, poderosa... quase uma rainha perfeita. Ele tinha um conhecimento bรกsico de sua personalidade, mas se considerava capaz de domar seu lado selvagem e transformรก-la em seu passarinho obediente.
Entretanto, a atenรงรฃo de Caesar foi desviada para uma mancha no rosto da birkan. Ele arqueou uma sobrancelha, mantendo o sorriso e um olhar curioso, direcionando o olhar para o antebraรงo dela e soltando uma risada alta que tambรฉm chamou a atenรงรฃo do moreno de pele tatuada. Este imediatamente os encarou com cautela, tentando descobrir sobre o que estavam conversando. Em silรชncio, Trafalgar se levantou e caminhou atรฉ eles, parando ao lado de Elisabette e encarando o cientista, ciente de que ele iria dizer algo que poderia ser tanto uma ameaรงa desesperada por clemรชncia quanto uma informaรงรฃo relevante.
- Sabe, eu jรก soube de muitos casos assim, mas por terem ocorrido hรก centenas de anos, nunca tinha visto com meus prรณprios olhos! - falou ele com animaรงรฃo em sua voz grotesca, olhando-a com um brilho nos olhos. - Vocรช รฉ realmente uma criatura surpreendente! Shurororo!
- Do que vocรช estรก falando? - Elisabette arqueou uma sobrancelha, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.
- Ignore esse idiota, tudo que sai da boca dele รฉ besteira. Ele sรณ estรก tentando te incomodar.
- Ah, mas ela precisa saber, nรฃo precisa? Vocรช รฉ mรฉdico e nรฃo percebeu essa coisa no rosto dela!?
- Que coisa? - ao virar-se para olhรก-la, Law arregalou os olhos ao notar uma pequena mancha verde em sua bochecha direita, logo abaixo do olho roxo.
A mais jovem entre eles os encarou confusa, seu olhar alternando entre o Cirurgiรฃo da Morte e o cientista, que ria diante da confusรฃo dela e do choque nรญtido nos olhos acinzentados do moreno de pele tatuada. Sentiu-se estranha, sua visรฃo ficando turva novamente, e percebeu o nariz sangrar. Deu alguns passos para o lado, apoiando uma mรฃo na amurada enquanto a outra ia para o local do sangramento, sentindo seu corpo inteiro entrar em estado de agonia e desespero. Elisabette olhou assustada para eles, apavorando-se ainda mais com a forma como ambos a encaravam: um rindo e o outro demonstrando algo que ela jamais imaginara que ele poderia sentir, pรขnico.
- Que coisa!? O que tem no meu rosto!?
- Essa mancha verde no seu rosto... รฉ Febre das รrvores, nรฃo รฉ? - Caesar Clown sorriu, fitando-a com desdรฉm e escรกrnio.
- Mancha... verde...? - a jovem de cabelos platinados arregalou os olhos azuis, suas pupilas diminuindo de uma forma que quase desapareceram em suas รณrbitas. - Nรฃo... vocรช... vocรช sรณ estรก querendo me incomodar, como o Tral-san disse... - murmurou ela, a voz falhando enquanto o sangue pingava de suas narinas.
- Eh? Vocรช nรฃo se olha no espelho, sua tonta? Basta olhar para esse seu braรงo musculoso que vocรช vai ver sua pele apodrecendo!
Elisabette sentiu tudo ao seu redor desaparecer, como se tudo se tornasse um vazio e restasse apenas ela e Caesar frente a frente um com o outro. Ela olhou imediatamente para o antebraรงo e, vendo o local que antes estava vermelho, agora coberto por uma mancha verde que parecia ter aumentado de tamanho desde a รบltima vez que havia a visto. Sua respiraรงรฃo comeรงou a ficar artificial e sua pele empalideceu, enquanto suor frio comeรงava a escorrer por sua testa ao finalmente se dar conta do que estava acontecendo consigo, do que de fato nรฃo eram apenas alergias inofensivas, nas quais tanto quis acreditar.
Magni D. Elisabette havia sido contaminada com a Febre das รrvores. A contagem regressiva para o fim de sua vida havia comeรงado quando menos esperava. Ela jรก estava em seu limite. Nรฃo havia mais nada que pudesse fazer alรฉm de chegar o mais rรกpido possรญvel em Dressrosa antes de ser consumida pela doenรงa e sucumbir a ela. Onde quer que estivesse seu pobre coraรงรฃo, estaria disparado.
A birkan engoliu em seco e sentiu seus olhos arderem e um nรณ se formar em sua garganta. A ideia da morte ainda lhe era insuportรกvel e ela nรฃo queria partir, nรฃo antes de obter suas respostas, de descobrir quem era e para o que veio. Um suspiro entrecortado escapou de seus lรกbios quando saiu correndo, dirigindo-se para aparte de trรกs do navio em busca da torneira onde Nami e Usopp costumavam conectar a mangueira para lavar suas plantas. Chegando lรก, praticamente jogou-se de joelhos, rasgou um pedaรงo de sua camisola, abriu a torneira e mergulhou seu braรงo ali.
Num ato de desespero avassalador, Elisabette comeรงou a esfregar seu braรงo com violรชncia, como se de alguma forma pudesse eliminar aquela mancha indelรฉvel. Seus olhos estavam marejados e ela tremia descontroladamente, repetindo insistentemente a palavra "saia", sem obter resultados alรฉm do sangue que comeรงava a escorrer ao ferir-se pela fricรงรฃo impiedosa do tecido em sua pele jรก sensibilizada pela contaminaรงรฃo. Ela mordeu os lรกbios com fรบria, ignorando tanto a dor quanto o lรญquido escarlate que comeรงava a brotar, prosseguindo a esfregar com rapidez e toda a forรงa que possuรญa em sua mรฃo, numa tentativa desesperada de se purificar da mancha, de se livrar dela e de vislumbrar novamente a saรบde.
Seus olhos comeรงaram a derramar lรกgrimas abundantes de puro pavor, seu nariz voltou a sangrar, encharcando seu rosto e busto com o lรญquido que pingava incessantemente. Sua respiraรงรฃo tornou-se entrecortada e ela engasgava com sua prรณpria saliva, passando o tecido rasgado em sua bochecha tambรฉm, enquanto tremia e soluรงava, ignorando todas as vezes em que afirmara que chorar era coisa de crianรงa.
- Chega! - com aspereza, Law segurou seu pulso com firmeza, a ponto de causar-lhe dor, mantendo-o preso com forรงa.
- Nรฃo... eu... preciso... retirar... - ela murmurou, desesperada e com a voz trรชmula, seus olhos refletindo pavor e angรบstia.
- Nรฃo serรก removido com essa agressividade! ร burrice e imprudente!
- Eu... nรฃo posso... recorrer ao Chopper, senรฃo... senรฃo... senรฃo vou contaminar ele tambรฉm... - seus olhos se encheram de mais lรกgrimas enquanto tremia e o fitava.
- ร contagioso..? - ao sentir um frio familiar em seu รขmago, o Cirurgiรฃo da Morte afastou-se quase abruptamente dela.
- Nรฃo de humano para humano... apenas de animal para humano e de humano para animal... - sua voz vacilou, suas mรฃos agarrando sua camisa de maneira desesperada. - Vocรช รฉ mรฉdico, nรฃo รฉ!?
Quando ela se lanรงou sobre ele, para evitar a queda em seu colo, Trafalgar segurou-a pela cintura e a manteve ร certa distรขncia, permitindo-lhe apenas a proximidade necessรกria para manter as mรฃos em sua camisa. Ele a fitou com uma mescla de surpresa e apreensรฃo. Nรฃo era o medo dela que o assombrava. Era o receio de reviver o mesmo desespero que hรก anos o consumira, quando se viu sozinho e ร beira da morte pela doenรงa do Chumbo Branco. As lรกgrimas, o medo, o desespero, as lรกgrimas, o muco escorrendo pelo nariz em decorrรชncia do pranto de angรบstia e pavor.
Tudo aquilo ele jรก enfrentara e, embora aquela mulher nรฃo passasse de uma simples aliada, nรฃo pรดde deixar de se compadecer dela ao testemunhar sua afliรงรฃo, uma vez que jรก havia experimentado tal tormento, embora, ao contrรกrio dela, tivesse alguรฉm a quem recorrer. Ou melhor dizendo, alguรฉm que o salvou.
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