โโ ๐ฅ ึด เผ ุ๐ฎ๐ต. ๐๐๐ด๐ถ๐ฟ ๐ท๐๐ป๐๐ผ๐, ๐๐ผ๐ฑ๐ผ๐ ๐ท๐๐ป๐๐ผ๐.
๐๐๐๐๐ ๐๐ ๐๐๐๐๐๐
Oiiiie, tudo bem? Sei que ultimamente eu tenho andado um pouco sumida, mas como jรก falei milhares e milhares de vezes, eu finalmente consegui um emprego com carteira assinada. Tรด trabalhando na escala 12x36, e isso tem me deixado bastante cansada por ainda nรฃo estar acostumada com a rotina. Por conta desse cansaรงo mental e fรญsico, eu tenho deixado um pouco de lado tanto a minha conta de artes (me sigam no Instagram: @river.breeze1) quanto minhas fanfics. Embora eu possa demorar para atualizar, isso nรฃo significa que vou abandonรก-las. Entรฃo, quanto a isso, nรฃo se preocupem! Apenas respeitem meu tempo, sim? Agradecida desde jรก! ๐ค
โโ Ilhas do Cรฉu, Skypiea ; Memรณrias...
แกElisabette, Anjo da Morte. โชO ponto de vista Delaโซ
Eu estava plantando algumas sementes de abรณbora na horta, enquanto Bellamy retirava as ervas daninhas e as colocava em um saco, sempre reclamando de como deixou de ser pirata para se tornar um "agricultor de merda". Eu apreciava nossa convivรชncia, mas suas reclamaรงรตes constantes, que surgiam nos momentos de maior tranquilidade do dia, eram irritantes. Essas queixas ocorriam especialmente de manhรฃ cedo, para ser mais exata. Sempre acordรกvamos antes mesmo de o sol nascer completamente, a fim de agilizar nossos afazeres antes do meio-dia e termos o restante da tarde livre para aproveitar tranquilamente, sem nos preocupar com nada alรฉm de nosso prรณprio lazer.
Olhei de soslaio para ele e o vi deitado de costas, com os braรงos apoiados atrรกs da cabeรงa e uma perna cruzada sobre a outra, deixando de lado sua tarefa. Franzi o cenho, levantei-me da horta, limpei os joelhos sujos de terra e caminhei atรฉ ele com uma pรก. Assim que me aproximei o suficiente, comecei a golpeรก-lo com o cabo da pรก para despertรก-lo de seu sono. Ele me olhou atordoado, agarrou minha perna e me lanรงou para o lado, fazendo-me cair sobre algumas abรณboras e quebrรก-las com o meu peso.
- Bellamy! - gritei assim que me levantei, coberta de polpa. - Esse รฉ um jeito muito rude de tratar uma dama!
- Dama, uma ova!
- Que grosseria! - arremessei uma abรณbora na direรงรฃo dele, mas ele a aparou no ar.
- Larga do meu pรฉ, eu tรด cansado! - ele se levantou e veio atรฉ mim, limpando meu rosto com suas mรฃos. - Quero dormir. Nรฃo tรด acostumado com essa rotina que 'cรช 'tรก me obrigando a ter.
- Pois bem, acostume-se.
- 'Cรช tem sorte, hein, menina? - rosnou Bellamy, agarrando meu rosto entre as mรฃos e apertando minhas bochechas, forรงando um beicinho em meus lรกbios devido ao aperto. - Se nรฃo tivesse essa cara redonda e bochechuda, nunca deixaria vocรช impor autoridade sobre mim!
Ele sempre dizia coisas assim para mim, com aquele sorriso largo de escรกrnio, cheio de provocaรงรตes, como se eu fosse um animal minรบsculo - e, talvez, de fato, eu fosse, uma vez que o Hiena tinha 2,40 metros de altura, enquanto eu estava lutando para sair dos 1,70 metros desde que tinha 15 anos de idade. Eu nรฃo odiava suas provocaรงรตes ou as piadas sobre como eu parecia uma bonequinha delicada e frรกgil, nem sobre como eu nรฃo sabia fazer nada sem transformar tudo em uma bagunรงa de sons estridentes ecoando pela casa inteira. Afinal, eu gostava de sua companhia e da amizade que havรญamos construรญdo em alguns meses de convivรชncia sรณ nรณs dois.
Quer dizer... eu apreciava tudo o que tรญnhamos. Valorizava a paz que reinava em nosso canto em Skypiea, embora ร s vezes fosse difรญcil lidarmos um com o outro devido aos nossos comportamentos tรฃo semelhantes, o que acabava nos levando a aceitar nossos momentos de irritaรงรฃo mรบtua por coisas que fazรญamos, dado que รฉramos tรฃo parecidos.
Sempre fui uma pessoa calma e paciente, mesmo em situaรงรตes com meus companheiros. No entanto, Bellamy parecia ter o dom de me tirar do sรฉrio com seus movimentos mรญnimos, resultando frequentemente em brigas intensas: atirando-nos objetos, agarrando-nos pela casa e rolando pelo chรฃo enquanto puxรกvamos o cabelo um do outro. Porรฉm... ele sempre parecia evitar me machucar de fato, enquanto eu o agredia para infligir dano, resultando em diversas ocasiรตes em que deixei marcas de mordidas, tufos loiros de seu cabelo espalhados pelo chรฃo, ou atรฉ um dente perdido. Por outro lado, ele apenas me segurava com firmeza, nunca me ferindo de verdade.
- Ei, Bellamy.
- O que foi agora? - ele franziu o cenho, retirando a รบltima semente de abรณbora do meu cabelo e virando minha cabeรงa de um lado para o outro, procurando por mais vestรญgios da fruta.
- Eu gosto muito de vocรช.
- O quรช!? Como assim?
- Como assim "como assim"? Estou dizendo que gosto muito de vocรช. Nami sempre diz que devemos expressar nossos sentimentos, entรฃo estou sendo sincera. Gosto muito de vocรช. - arqueei uma sobrancelha e cruzei os braรงos, observando-o se afastar ligeiramente. - O que foi?
- Nada, vocรช sรณ fala besteira demais ร s vezes.
Revirei os olhos e entรฃo virei as costas para ele, seguindo ร frente enquanto sentia a brisa matinal novamente, que soprava suavemente em minhas narinas o ar fresco das oito da manhรฃ. Respirei fundo e sorri, sentindo minhas asas se moverem delicadamente com a brisa leve.
- Elisabette!
- Sim? - virei-me para ele, abaixando-me para pegar o saco de sementes do chรฃo.
- Olha, escute aqui! Que isso fique entre nรณs! - ele disse, aproximando-se e segurando meus ombros. - Eu tambรฉm gosto muito de vocรช, 'tรก bem!?
- 'Tรก bem sim!
- Pare de sorrir assim!
- Tudo te incomoda! - mostrei a lรญngua para ele.
- Vou arrancar sua lรญngua com os dentes! - ele abriu a boca, como se fosse realmente me morder.
- Nรฃo vai nรฃo!
Se eu soubesse que aquele momento seria o รบltimo em que nos verรญamos, certamente teria tentado elucidar melhor nossos sentimentos. Naquela รฉpoca, eu percebia meu "gostar dele" como algo similar ao carinho que nutria por meus companheiros do bando, uma forma inocente de afeto. ร doloroso reconhecer minha ingenuidade naquela รฉpoca, incapaz de reconhecer meus prรณprios sentimentos, de nรฃo ter podido confessar a Bellamy que, na verdade, estava profundamente apaixonada por ele. Quem sabe, apenas quem sabe... ele nรฃo teria partido na manhรฃ seguinte e escolhido estar comigo.
โโ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Punk Hazard.
Atualmente.
O rosto de Bellamy sorrindo para mim foi a รบltima visรฃo borrada que tive antes de acordar de uma lembranรงa que mais me pareceu um sonho agridoce. Senti meu corpo mole, preso a algo firme que imobilizava meus braรงos e busto. Algo me fazia vibrar levemente e, quando abri os olhos - ou apenas um deles -, olhei em volta e pude notar que ainda estava na fรกbrica. Um suspiro doloroso escapou de meus lรกbios, pois nรฃo queria acreditar que talvez tivesse sido capturada mais uma vez. Tentei mover os braรงos e acabei batendo a lateral do rosto em algo metรกlico, soltando um choramingo acompanhado por um beicinho ao sentir um calombo crescer no lado da cabeรงa.
- Precisamos mesmo disto? - ouvi uma voz grossa e potente falar, atraindo minha atenรงรฃo. Imediatamente arregalei os olhos ao reconhecer quem era o dono da voz.
- Sim. Usam este contรชiner para transportar SAD. Vamos transportรก-los nisto aqui. - tambรฉm vi Tral-san; ao lado dele estava o Caรงador Branco. - O laboratรณrio desmoronarรก em breve. Precisamos fugir imediatamente.
Fiquei quieta, olhando para eles, sem saber para onde estรกvamos indo, mas sabia que poderia confiar neles para o que viesse a seguir. Descansei a cabeรงa, observando as amarras de fumaรงa que me mantinham suspensa no ar e me traziam junto deles, nรฃo me deixando nem tรฃo perto, tampouco longe. Meu corpo ainda estava dolorido pela luta com Vergo, e nรฃo precisava ser uma profissional da รกrea para identificar que tanto Tral-san quanto o Caรงador Branco estavam tรฃo exaustos quanto eu; bastava olhar para a forma como andavam, quase se arrastando pelo corredor.
Minha bochecha coรงou novamente e senti uma agonia perturbadora percorrer minha espinha ao nรฃo poder arranhar com as unhas a coceira latejante que desde cedo me incomodava, tanto naquela regiรฃo do rosto quanto no pulso. Nรฃo sabia a causa, mas algo me dizia que poderia ser resultado do contato direto com o veneno daquele homem-peixe polvo, que espirrou seus fluidos em mim para tentar me enfraquecer.
E o sangue... lembro bem de ter me distraรญdo por um momento ao ver sangue escorrendo de meu nariz, mesmo sem ter sido ferida naquela regiรฃo. Pergunto-me se deveria verificar se รฉ algo sรฉrio, algum dano causado pelo veneno, ou se meu nariz criou ferimentos internos por conta do frio, resultando em feridas que se abriram e causaram o sangramento. Nรฃo vejo outra explicaรงรฃo. Assim como nรฃo vejo outro motivo para essas brotoejas. Sรณ pode ser o veneno. Tem que ser. Precisa... ser.
- Ei... vocรช poderia me colocar no chรฃo, por favor..? - murmurei timidamente, olhando para o vice-almirante da Marinha, que imediatamente me encarou com desdรฉm.
- Sente-se melhor?
- S-sim! - senti meu rosto arder, com as bochechas ficando rosadas ao ter os olhos dele fixos nos meus.
- Certo! - a nuvem de fumaรงa se desfez e imediatamente caรญ de pรฉ no chรฃo, nรฃo tardando em comeรงar a voar no mesmo ritmo em que eles corriam.
Queria saber como meus companheiros estรฃo, se estรฃo bem de verdade como meu Mantra indica. Hรก muitas baixas. Dezenas de pessoas jรก morreram desde que aquela coisa chegou aqui, mas ainda nรฃo posso afirmar se as vidas que sinto sรฃo deles ou de fuzileiros navais e lacaios de Caesar Clown. Isso nรฃo me รฉ claro, e por nรฃo ser claro, me deixa atordoada. Peguei um Impact Dial do meio dos meus seios e o encarei. Algo me dizia que eu precisaria usรก-lo e, se as coisas apertassem, deveria recorrer ao Reject Dial, mesmo sabendo das consequรชncias que isso poderia trazer ao meu corpo.
O manuseio de um Reject Dial requer muita forรงa fรญsica e energia vital concentrada para nรฃo perder a consciรชncia ou o movimento do braรงo, jรก que o impacto causado รฉ vรกrias vezes mais forte que um simples Impact. Sรณ o usei uma vez e quebrei o braรงo e as costelas do lado esquerdo no processo. O que poderia acontecer se eu o usasse em um estado como este? Lembro bem de quando Wyper o usou contra meu pai, hรก dois anos, causando a "morte" de Enel e quase a sua. Posso imaginar que meu corpo nรฃo suportaria uma segunda vez, portanto devo usรก-lo somente em emergรชncias. No entanto, toda essa situaรงรฃo em Punk Hazard me acende gritos na cabeรงa, todos mandando que eu use o Reject Dial na primeira oportunidade desesperadora que surgir.
Pai... vocรช acha que eu deveria usar aquele dial, mesmo sabendo que รฉ do mesmo tipo que quase lhe tirou a vida? Seria um desrespeito com sua pessoa? Hรก anos eu nรฃo sei o que fazer sem antes consultรก-lo. Entretanto, agora que te perdi, me vejo sem saber o que fazer com minha prรณpria vida, me vendo sob ordens de um pirata do Mar Azul, que eu sei que me salvou de vocรช, embora eu nunca tenha pedido ou agradecido por isso. Porque, ao mesmo tempo que me sinto aliviada, ainda nรฃo me sinto livre, como ele garante que sou.
Liberdade. O que รฉ liberdade?
Pai, o que รฉ ser livre? Eu sou mesmo livre? Ser livre รฉ viver como eu vivo? Eu nรฃo sei o que รฉ ser livre, como poderei ser?
Luffy diz que sou livre. Mas eu sou? Eu nรฃo sei.
Balancei a cabeรงa, tentando desesperadamente afastar aqueles pensamentos para nรฃo sucumbir ร amargura, especialmente em um momento em que preciso focar na minha sobrevivรชncia, na dos meus companheiros e... na de Trafalgar Law. Por mais que eu relute, minha vida agora depende, literalmente, da dele. Nรฃo se trata de algo sentimental ou de um eufemismo, como nos romances que Robin lรช para mim - รฉ algo literal. Por ironia do destino, minha existรชncia estรก na palma das mรฃos dele, e eu sequer sei como resolver isso. Tudo o que me resta... รฉ aceitar.
Quando chegamos ao local onde todos estavam reunidos, vi-o dirigindo-se imediatamente ao meu capitรฃo para perguntar sobre Caesar Clown, enquanto eu pousava no chรฃo e me recostava na parede, levando a mรฃo ao olho roxo ainda latejante em meu rosto. Aquele maldito Vergo conseguiu quebrar meu ego em milhรตes de pedaรงos ao me deixar com um hematoma em uma รกrea tรฃo visรญvel aos olhos dos outros.
Olhei em volta e notei que nem todos os meus companheiros estavam presentes; ainda faltavam Franky, Chopper, Brook, Usopp e o samurai, assim como uma das crianรงas, a garotinha gigante chamada Mocha. Eu nรฃo sabia onde estavam, contudo ainda sentia a presenรงa de cinco deles no laboratรณrio, apenas nรฃo sabia quem eram. Engoli em seco ao ouvir murmรบrios sobre um gรกs venenoso que havia dizimado soldados e lacaios e que se aproximava de onde estรกvamos. Um arrepio percorreu minhas asas ao imaginar que o pior poderia acontecer com todos nรณs, incluindo as crianรงas.
- Minha anjinha! - Sanji aproximou-se bruscamente de mim, segurando meu rosto entre as mรฃos e acariciando minhas bochechas com os polegares. - O que aconteceu? Quem fez isso com vocรช? Trafalgar! Por que deixou que ela se ferisse assim, seu palerma!?
- Sanji... - murmurei, sentindo ele dar vรกrios beijinhos no meu rosto, arrancando-me algumas risadinhas.
- Meus beijos milagrosos vรฃo curar suas feridas, minha doce Elisabette! - ele disse, abraรงando-me com forรงa e ainda segurando meu rosto, apertando minhas bochechas e forรงando um beicinho nos meus lรกbios. - Como pรดde deixรก-la se machucar assim, hein!? Olhe para o rostinho dela, estรก todo machucado!
- Eu nรฃo sou babรก dela.
- Como... como pode ser tรฃo rude com as damas!?
- Tch. - Tral-san estalou a lรญngua e deu de ombros.
- Nรฃo se preocupe, Sanji! Eu pedirei ao Chopper para cuidar de mim assim que voltarmos ao navio.
Sanji apenas suspirou em resposta e depositou um beijo em minha testa, deixando mais algumas carรญcias em minhas bochechas antes de se afastar e correr em direรงรฃo a Nami, lanรงando suas costumeiras cantadas, arrancando-me algumas risadas ao vรช-la retribuir com cascudos. Desviei minha atenรงรฃo deles e olhei para o lado, encontrando Tral-san que conduzia as crianรงas para um grande carrinho, dizendo-lhes que aquela seria nossa รบnica chance de fugir e nรฃo sermos soterrados.
Por um momento, ele me olhou e, no instante em que seus olhos encontraram os meus, foi como na primeira vez em que nos vimos. Contudo, desta vez, ele nรฃo exibia o mesmo ar de deboche daquele dia, nem o sorriso sarcรกstico. Trafalgar Law, desde o nosso primeiro encontro, sempre me pareceu um enigma fascinante, nรฃo por seu codinome de pirata, Cirurgiรฃo da Morte, ou pela sua fama de homem sรกdico que sente prazer em aterrorizar e torturar suas vรญtimas como se fossem meros ratos. Era ele em si que me deixava confusa e curiosa. Melhor dizendo, intrigada. Ele... mudou? Nรฃo sei, mas algo em mim insiste que sim, que mudou.
Nรฃo tive a oportunidade de conhecรช-lo de forma mais profunda, nรฃo nos tornamos รญntimos, e acho que sequer poderรญamos dizer que nutrimos algum vรญnculo de amizade nos dias em que convivemos tanto no Arquipรฉlago Sabaody quanto em Amazon Lily.
Ele parecia ser mais presunรงoso, de certa forma. Sorridente. Nรฃo que ele fosse do tipo que gargalhava ou sorria constantemente, mas desde que nos reencontramos, tudo o que vejo nele รฉ uma carranca, um olhar mais... sombrio.
ร como se ele tivesse se transformado em outra pessoa, como se houvesse se entregado aos desesperos que assombram seu coraรงรฃo. E eu sei, eu sei que seu coraรงรฃo estรก repleto de amargura, arrependimento e, acima de tudo, culpa. Ele se sente culpado por algo, desesperado para obter algo. Sinto isso perturbando seu interior desde a primeira vez que o vi, atรฉ mesmo na รบltima vez em que nossos olhares se encontraram antes de nos reencontrarmos novamente aqui, em Punk Hazard. Isso envolve Vergo, posso garantir apenas pelo que os ouvi conversar e, embora relutante em admitir, isso tambรฉm me fez pensar em Bellamy, a quem tanto tento afastar dos meus pensamentos para nรฃo sucumbir ร dor da saudade.
Tral-san mencionou um tal de Joker, a quem Vergo se referiu como Jovem Mestre, e eu me lembro bem das vezes em que Bellamy se referiu ao seu "chefe" por esse apelido. Seriam os dois a mesma pessoa? Joker e Jovem Mestre... sรฃo Donquixote Doflamingo? Se for assim, isso significa que ele รฉ o responsรกvel por essas crianรงas estarem nessa situaรงรฃo? E Bellamy sabia disso? Se sabia, ele apoiava? Ele concordava com essas atrocidades? Quais outras monstruosidades aquela maldita hiena conhecia? Bellamy... vocรช me causa dor de cabeรงa e insรดnia.
Um suspiro escapou de meus lรกbios enquanto eu voava atรฉ onde meus companheiros estavam, pousando prรณximo a eles e me colocando em prontidรฃo, assim como todos os outros. O restante da tripulaรงรฃo ainda nรฃo havia chegado, assim como os fuzileiros navais e a menina gigante. Precisรกvamos esperรก-los. Era nosso dever, รฉramos leais uns aos outros, e eu, assim como meus amigos fariam por mim, os esperaria atรฉ no inferno se necessรกrio fosse.
Foi entรฃo que o alarme comeรงou a ecoar e, ao longe, pudemos ver uma fumaรงa roxa se aproximando em alta velocidade. Nรฃo tememos, nem nos afastamos; pelo contrรกrio, permanecemos parados, ร espera de Brook, Usopp e Chopper. Em breve, eles estariam conosco. Em breve, serรญamos os Piratas do Chapรฉu de Palha reunidos novamente. Era nรณs contra o mundo e o mundo contra nรณs; nada nos faria desistir de nossa uniรฃo, nem mesmo um gรกs venenoso e a iminรชncia da morte. Pois, unidos, a ideia de morrer nรฃo nos assustava, sabรญamos que lutarรญamos com forรงa e garra para manter nossa seguranรงa e sanidade.
A porta estava prestes a fechar, e o veneno gasoso de Caesar Clown quase adentrava o local onde estรกvamos em prontidรฃo, quando escutamos a voz de Chopper gritando pelo nosso capitรฃo. Um ar de alรญvio tomou conta de todos nรณs. Contudo, nossa alegria foi breve ao notarmos que eles nรฃo conseguiriam chegar a tempo antes que as portas se fechassem completamente, o que gerou tumulto novamente. Crianรงas gritando, soldados em desespero e lacaios correndo de um lado para o outro, todos temendo pela vida daqueles que ainda estavam do lado de fora.
- Elisabette. - Luffy murmurou, fazendo-me olhar atentamente para ele. Era sempre arrepiante quando ele me chamava pelo nome e nรฃo por "Lis".
- รs suas ordens, capitรฃo.
- Segura aquela merda. - ele disse com firmeza, me dando apenas o tempo necessรกrio para assentir e pegar impulso no chรฃo para voar em alta velocidade.
Coloquei-me entre as portas que se fechavam, abrindo as pernas e os braรงos, usando ambos como apoio para impedir que se fechassem enquanto esperava que o restante dos meus companheiros atravessasse a รบltima passagem para sua sobrevivรชncia contra o gรกs. Senti meus ossos sendo pressionados, meu quadril doendo e os ossos das minhas costas rangendo. Tentava ignorar a dor e o desgaste fรญsico do meu corpo apรณs a luta contra a mulher-pรกssaro e Vergo, que tanto me feriram e cansaram.
Olhei para trรกs, vendo que eles ainda estavam longe e quase sendo alcanรงados pela nuvem de fumaรงa roxa. Fiz mais forรงa nos membros para manter as portas bem abertas, tentando a todo custo impedi-las de se fechar.
Porcaria. Se eles demorarem mais um pouco, nรฃo sรณ serei esmagada, como eles tambรฉm serรฃo mortos, asfixiados ou soterrados. Qualquer dessas alternativas รฉ terrรญvel. Preciso aguentar. Sรณ mais um pouco, Elisabette. Sรณ mais alguns minutos. Aguente. Aguente firme. Por favor. Por eles. Pelos seus companheiros. Respire fundo. Respire fundo e pense neles. Eles precisam viver. Tudo isso vale o seu esforรงo fรญsico. Vocรช รฉ forte, nรฃo รฉ? Mostre para que treinou, mostre que seu corpo รฉ muito forte. Mostre. Aguente. Por favor. Sรณ mais um pouco. Sรณ mais um...
Senti o braรงo de Luffy se erguer ao redor da minha cintura e me puxar bruscamente, trazendo-me em sua direรงรฃo. Caรญ sobre suas mรฃos, que me seguraram firmemente enquanto eu o olhava atordoada. Virei o rosto imediatamente para encarar a passagem se fechando, mas dando brecha suficiente para Brook, Usopp, Chopper e os outros passarem com seguranรงa. Suspirei aliviada antes de me esparramar sobre o colo do meu capitรฃo, sentindo a exaustรฃo tomar conta do meu corpo e agradecendo mentalmente por ele ter me puxado. Caso contrรกrio, eu teria sido esmagada antes mesmo que eles chegassem onde estรกvamos.
- Vocรช mandou bem! - Luffy falou com uma gargalhada, nรฃo tardando em sorrir para mim. Ah, esse sorriso. Esse bendito sorriso. - Valeu por segurar para eles!
- Tudo que faรงo, faรงo por vocรช. - sorri fracamente ao Chapรฉu de Palha, que logo me colocou no chรฃo.
- Certo! Vamos, pessoal! Esse lugar vai desmoronar!
Todos assentimos ao pedido de nosso capitรฃo com sorrisos determinados e presunรงosos no rosto, correndo para os carrinhos que nos ajudariam em nossa fuga. Nรฃo sabรญamos se daria certo, se conseguirรญamos atravessar o gรกs sem sermos mortos ao termos contato com ele ou se tudo sairia conforme o planejado, resultando em nossa vitรณria.
Precisรกvamos apenas confiar em Trafalgar Law. E eu nรฃo sei se ele, de fato, รฉ alguรฉm confiรกvel, apesar do meu Mantra gritar para que eu confie cegamente nele.
Por fim, todo o nosso desespero havia sido substituรญdo por paz e risadas, acompanhadas por cantoria, pessoas danรงando, crianรงas brincando e outros apenas aproveitando a deliciosa sopa quentinha e saborosa que Sanji havia preparado para nรณs. Havรญamos conseguido novos casacos para nos aquecer e, embora eu estivesse bem aquecida nas minhas plumas negras, aceitei de bom grado algumas mantas e um casaco novo oferecidos pelos fuzileiros navais, recusando apenas as botas que insistiam que eu usasse para proteger meus pรฉs de queimaduras pelo gelo. Expliquei que nรฃo gostava de usar sapatos, e eles pareceram compreender, mesmo demonstrando relutรขncia em me deixar sem nenhuma proteรงรฃo nos pรฉs.
Kin'nemon - o samurai de antes - havia, pelo visto, reencontrado seu filho, um menino chamado Momonosuke, que estava transformado em um pequeno dragรฃo rosa, alternando entre essa forma e a humana. Nรฃo pude evitar sorrir ao ver a emoรงรฃo deles ao se reencontrarem, o que despertou em mim uma sensaรงรฃo de angรบstia. Queria, de certa forma, que algo assim tivesse acontecido comigo, que meu pai me procurasse, se arriscasse para me encontrar e chorasse ao me ver, que me abraรงasse. Eu sรณ queria me sentir segura ao seu lado outra vez, mas... sei que ele nรฃo me quer por perto, ou quer? Nem eu mesma sei as respostas para minhas prรณprias perguntas.
Eu estava sentada sobre uma caixa de madeira que o cozinheiro do nosso bando havia separado para distribuir mantimentos e alimentos aos soldados do G-5, observando todos se divertirem. Luffy brincava com Usopp e Chopper, jogando bolas de neve uns nos outros; Nami e Robin estavam com as crianรงas; Zoro bebia com os marinheiros; Sanji e Brook estavam com o samurai e seu filho; enquanto Tral-san permanecia quieto em um canto mais afastado, acompanhado do vice-almirante Smoker, parecendo estar em uma conversa sรฉria.
Senti um frio na barriga ao lembrar de suas palavras, de que eu morreria caso ele morresse. Nรฃo quero que isso aconteรงa. Eu nรฃo quero morrer. Recuso-me a morrer. Eu... nรฃo posso. E, goste ele ou nรฃo, nรฃo permitirei que seja morto ou que tire a prรณpria vida, nรฃo enquanto meu coraรงรฃo estiver sob seus cuidados, envolto por sua proteรงรฃo.
- Ei, Lis!
- Luffy...
- Vem brincar com a gente! Vocรช nunca brincou na neve, nรฉ? - meu capitรฃo pulou em meu colo, passando seus braรงos e pernas ao meu redor, pressionando sua testa na minha.
- Nรฃo... eu nรฃo gosto da neve.
- Por quรช?
- Machuca meus pรฉs! - falei com autoridade, franzindo o cenho e cerrando os punhos.
- ร sรณ vocรช colocar sapatos, uรฉ. - ele fez um beicinho e levou ambas as mรฃos atรฉ minhas bochechas, as esticando para cima e para baixo. - Mas se o problema sรฃo sรณ seus pรฉs, eu posso te carregar para vocรช brincar com a gente e nรฃo ficar sozinha! Que tal?
- Luffy... eu nรฃo sei se... - antes mesmo que eu pudesse terminar de falar, ele me agarrou com as pernas e deu uma cambalhota de costas, virando-se rapidamente para me colocar montada nele.
- Nรฃo vou te deixar sozinha! Nunca!
Dei um grito assustada quando ele comeรงou a correr comigo em suas costas, pulando na neve, desviando de bolas e rolando no chรฃo, cobrindo-nos de neve. Mas, para minha surpresa, eu gostei. Foi divertido. Estava sendo divertido. A neve era gelada, mas macia. Luffy pulava de um lado para o outro comigo, entregava bolinhas em minhas mรฃos para que eu jogasse em Usopp e Chopper, e eu o ajudava a desviar dos tiros deles. Construรญmos bonecos de neve e fazรญamos anjos no chรฃo. Minha risada era alta, e atรฉ mesmo lagrimei algumas vezes. Sentia-me como uma crianรงa novamente, ou melhor dizendo, eu deixava a crianรงa em mim se divertir como nunca pรดde antes.
A Elisabette de 8 anos estaria feliz, alegre no meio de tudo isso, brincando e se divertindo com os amigos que ela nunca soube que precisava atรฉ tรช-los ao seu lado.
Por um momento, ao virar o rosto enquanto Luffy saltitava feito um coelho de pedra em pedra, notei o olhar do Cirurgiรฃo da Morte fixo em mim. Um sorriso se formou em meus lรกbios ao cruzar meus olhos azuis com os seus acinzentados, que sempre me lembram o cรฉu antes de uma tempestade: escuro, mas ainda claro. Trafalgar Law รฉ como um pacto nรฃo totalmente consumado. Ao mesmo tempo em que nรฃo temos nenhuma ligaรงรฃo, ainda somos atraรญdos um para o outro de alguma forma. Deve ser o meu coraรงรฃo ligado a ele, que preciso recuperar.
Enquanto meu coraรงรฃo estiver com ele, nรฃo poderei abandonรก-lo nunca.
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