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โ”โ” ๐–ฅ” ึด เผ‹ ุŒ๐Ÿฎ๐Ÿฏ. ๐—ฆ๐—ต๐—ถ๐—ฐ๐—ต๐—ถ๐—ฏ๐˜‚๐—ธ๐—ฎ๐—ถ.


โ”โ” Upper Yard, Jardim Superior de Skypiea ; Memรณrias...
แ˜กElisabette, Anjo da Morte. โชO ponto de vista Delaโซ

Eu deitava suavemente sobre o regaรงo de meu pai, com meu pequeno e rechonchudo corpo encolhido entre suas pernas, ao passo em que minha cabeรงa repousava sobre sua coxa. Uma de suas mรฃos afagava gentilmente meu rosto, acariciando suavemente minha bochecha, enquanto a outra segurava uma taรงa de vinho, bebericando de tempos em tempos. Estรกvamos ร s margens de Upper Yard, contemplando o Mar Branco-Branco desde as primeiras horas do dia. O vento soprava, balanรงando meus curtos cabelos e os de meu pai, que nรฃo estavam cobertos pelo lenรงo que ele sempre usava.

Jรก se passara um ano desde que estรกvamos vivendo no Jardim Superior, assim como tambรฉm se passara um ano desde que minha mรฃe havia falecido. Apesar do ocorrido e da dor dilacerante de sua partida, ainda tรญnhamos um ao outro. Eu ainda tinha meu pai, e meu pai ainda me tinha.

Nunca mencionรกvamos sua ausรชncia, embora a tristeza que ambos sentรญamos fosse palpรกvel. Eu sabia que meu pai a amara verdadeiramente, que minha mรฃe fora o primeiro e รบnico amor em toda a sua vida, o verdadeiro amor, o amor da sua existรชncia. Naquela รฉpoca, eu ainda era apenas uma menina e nรฃo conseguia compreender plenamente o significado de todas aquelas palavras que ele costumava dirigir a mim quando falava dela.

Enel sempre foi um enigma para mim, envolto em mistรฉrio tanto em relaรงรฃo ao seu passado quanto ร s suas ambiรงรตes, e eu jamais ousava indagar ou desvendar. Aceitรกvamos nossa condiรงรฃo taciturna, contentando-nos com a opacidade das nossas existรชncias. Eu me enganava, ou talvez preferisse enganar-me, acreditando que tudo estava bem. Era uma crenรงa necessรกria, uma ilusรฃo imprescindรญvel para minha prรณpria sanidade.

Mesmo lutando contra o torpor que me envolvia, forcei-me a manter os olhos abertos, fixando-me nele e contemplando a desolaรงรฃo que pairava em seus olhos, tรฃo perdidos quanto os meus. ร‰ramos reflexos distorcidos um do outro, marcados pelas รญris azuis que emolduravam nossos olhares, pela palidez de nossa pele, pela semelhanรงa de nossos traรงos. Nossos olhos, nossas sobrancelhas, atรฉ mesmo a estrutura do rosto, tudo ecoava uma cรณpia quase perfeita, uma sombra de parentesco que sรณ se quebrava na redondeza de meu rosto, na fofura de minhas bochechas. Eu, com meus cabelos platinados, herdados de minha mรฃe, รบnica heranรงa que extraรญ de minha presenรงa passageira em seu ventre, pois de resto, eu era a mera emulaรงรฃo feminina de Enel - meu pai, meu fardo, meu cรกrcere e, principalmente, meu Deus.

- Elisabette. - sua voz ecoou suavemente, enquanto ele delicadamente tomava meu rosto entre as mรฃos, gentilmente inclinando-o para que nossos olhares se encontrassem.

- Sim? - respondi com um sorrisinho, que foi prontamente correspondido pelo dele.

- O que vocรช quer ser quando crescer?

- Quando crescer? - indaguei, um lampejo de perplexidade refletindo em meus olhos, antes de me recolher ao silรชncio, contemplando o que poderia ser.

Aquilo era algo que nunca havia considerado, afinal, aos nove anos de idade, eu era apenas uma crianรงa recรฉm-tornada รณrfรฃ de mรฃe. O conceito de crescer nรฃo tinha lugar em meus pensamentos. O que realmente significava crescer? Seria meramente adquirir estatura, desenvolver curvas femininas e adotar o olhar maduro de uma mulher? Ou haveria algo mais intrรญnseco nessa jornada? Nรฃo tinha respostas naquele momento, nem as tenho agora.

- Eu quero ser boazinha com todo mundo. - foi a รบnica frase que consegui articular naquele instante, enquanto ele permanecia calado, seus olhos ainda fixos nos meus.

Pelo olhar penetrante de Enel, percebi que minha resposta nรฃo atendia ร s suas expectativas. Entretanto, ele pareceu resignar-se ao reconhecer que era a รบnica manifestaรงรฃo plausรญvel que uma menina ingรชnua, como eu, poderia oferecer naquele momento, imersa na minha prรณpria inocรชncia e inexperiรชncia sobre o mundo.

- E quem รฉ vocรช?

- Eu sou a Elisabette!

- Nรฃo. - respondeu, num tom sรฉrio, sentindo-me erguida de seu colo e colocada de pรฉ diante dele, enquanto ele permanecia assentado, segurando-me pelos braรงos.

- Nรฃo? - perguntei, atordoada, enquanto piscava algumas vezes para tentar entender sua perspectiva.

- Quem รฉ vocรช, Elisabette?

Uma vez mais, encontrei-me perplexa diante de uma de suas indagaรงรตes, mergulhando em um silรชncio que ecoava minha confusรฃo, enquanto nossos olhares se mantinham presos, intensificando-se a cada instante que se passava. Qual seria a resposta adequada? Declarei ser eu mesma, porรฉm essa afirmaรงรฃo se mostrou inadequada, deixando minha mente vazia e tumultuada. Se nรฃo sou eu, entรฃo quem sou eu? Sou Elisabette, nรฃo sou? Magni D. Elisabette. Este รฉ o nome que me foi atribuรญdo. Elisabette. Magni D. Elisabette, primogรชnita e รบnica filha do Deus de Skypiea. No entanto, se minha afirmaรงรฃo nรฃo se sustenta, que resposta devo entรฃo proferir? Quem devo me tornar? Que direรงรฃo devo seguir? ร“ cรฉus, mal sei quem sou realmente, ou quem deveria ser.


โ”โ” Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Punk Hazard.

Atualmente.

Aos poucos, despertei, sentindo um afago delicado em minha bochecha, enquanto sons metรกlicos ressoavam ao meu redor. Ao recobrar plenamente a consciรชncia, deparei-me com a pequena mรฃo robรณtica de Franky acariciando meu rosto, enquanto meus outros companheiros pareciam ร  beira de um colapso nervoso diante da situaรงรฃo em que nos encontrรกvamos, capturados e aprisionados em algum lugar desconhecido.

-O que aconteceu? - murmurei fracamente, ainda sonolenta, enquanto observava ao meu redor.

- Ei, Lis, vocรช acordou! - Franky exclamou com seu sorriso maroto, ajudando-me a ficar de pรฉ. - Como se sente?

- Bem... eu acho. - respondi, no mesmo instante em que senti um arrepio percorrer minhas asas, voltando-me imediatamente para trรกs, deparando-me com um dispositivo que as mantinha presas uma ร  outra, impedindo-me de voar caso fosse necessรกrio.

- Tentamos remover isso de vocรช, mas parece estar preso...

Eu franzi o cenho e tentava em vรฃo libertar-me do dispositivo que me prendia. Minhas tentativas foram em vรฃo, e a frustraรงรฃo crescia ร  medida que minhas asas permaneciam imobilizadas. Desde quando aprisionar as asas de alguรฉm se tornou uma aรงรฃo benevolente? Exasperada, sentei-me no chรฃo e rolei de um lado para o outro, em uma tentativa desesperada de livrar-me daquele artefato que me impedia de voar. Precisava escapar com meus companheiros, e aquilo estava obstaculizando meus esforรงos. Que inferno! Quem ousou fazer isso? Quando eu o encontrar... nรฃo restarรก nem sequer os restos para um funeral.

Meus companheiros desviaram seu foco de minha figura e foram olhar para uma espรฉcie de cabeรงa retalhada e falante que estava caรญda no chรฃo. Apesar da curiosidade, optei por tentar resolver o meu problema daquele momento: aquela maldita porcaria que prendia minhas asas uma na outra e me impedia de levantar voo. Eu estava sem Inazuma para tentar arrancรก-lo com um corte, e nem mesmo minha Burn Bazooka estava por perto. Provavelmente haviam ficado as duas no navio e, quem quer que nos tenha trazido aqui, foi bem perspicaz em me trazer sem minhas armas. Afinal, uma vez com a foice em mรฃos, eu poderia muito bem cortar as paredes de metal e abrir caminho, ou entรฃo atirar com a arma de fogo contra a porta para enfim criar um buraco grande o suficiente para que todos saรญssemos daqui e nos reencontrรกssemos com Luffy, Zoro e Usopp... oh, Brook!

Confusa, olhei em volta para procurar o mรบsico do nosso bando e nรฃo o vi. Isso explicaria o porquรช de eu nรฃo ter escutado nenhuma piada seguida de um alto e longo "yohohoho", um pedido para ver minha calcinha ou, no mรญnimo, saber a cor dela. Obviamente, eu diria ou lhe mostraria sem problema algum.

E aรญ, uma luz se acende em minha mente. Meus dials estรฃo escondidos entre os seios!

Um sorriso presunรงoso se forma em meus lรกbios enquanto coloco a mรฃo entre meu decote e puxo um Impact Dial junto com um Breath Dial, que podem ser necessรกrios dependendo da situaรงรฃo em que estamos no momento.

Observo ao redor e nรฃo vejo nada que possa ser uma porta ou algo semelhante, o que me arranca um suspiro de frustraรงรฃo. Usar o Impact poderia ajudar, mas tambรฉm poderia causar um desmoronamento, jรก que os golpes que consigo extrair equivalem, no mรญnimo, a alguns tiros de canhรฃo. Nossa aventura no Reino Ryugu serviu para mais do que nos trazer dor de cabeรงa; afinal, os homens-peixes com quem lidei foram de grande ajuda para aumentar a potรชncia do meu dial, e desde entรฃo nรฃo o utilizei, jรก que estou sempre com Inazuma e atรฉ agora nรฃo surgiu nenhuma oportunidade de usรก-lo. Falando nisso... acredito que o Reject Dial tambรฉm deve estar por aqui, em algum lugar.

Novamente, coloco a mรฃo entre os seios e comeรงo a procurar pela concha. Quando a encontro, puxo-a imediatamente e a encaro com seriedade e apreensรฃo.

O Reject Dial รฉ muito mais poderoso do que o Impact Dial, pois sua potรชncia e eficiรชncia sรฃo maiores, cerca de 20 vezes mais potente e causam danos ainda maiores em quem for atingido. No entanto... o dano nรฃo รฉ apenas no adversรกrio, mas tambรฉm no usuรกrio. Nรฃo posso usรก-lo agora, nรฃo aqui, nรฃo quando ainda posso utilizรก-lo em outra oportunidade. Verei-me na obrigaรงรฃo de guardรก-lo novamente e, caso a situaรงรฃo se torne apertada, eu o usarei. Mas por enquanto... o guardarei. Dito isto, coloco-o entre os seios novamente.

Meus olhos percorrem novamente todo o ambiente, detendo-se desta vez no local onde meus companheiros se encontram, todos eles fixados na cabeรงa decepada agora presa na parede - resultado dos chutes incrivelmente poderosos de Sanji. Curiosa para entender a situaรงรฃo peculiar pela qual passรกvamos, aproximo-me para averiguar a cena bizarra diante de nรณs. Hรก poucos minutos, essa cabeรงa estava fragmentada em vรกrios pedaรงos como um quebra-cabeรงa; agora, embora montada de forma incorreta, isso รฉ tรฃo evidente que chega a ser ridรญculo e, ao mesmo tempo, engraรงado de se observar.

- Aliรกs, quem sรฃo vocรชs? Ouvi dizer que foram capturados em um navio. - questiona a cabeรงa, encarando-nos com desconfianรงa.

- Somos piratas. - responde nosso cozinheiro de forma direta e sem rodeios, o que parece ser suficiente para deixar o "homem" completamente atordoado.

- Piratas!? Vocรชs sรฃo piratas? Nรฃo me surpreende que sejam bรกrbaros! - ele exclama, repleto de รณdio em sua face desfigurada. - Odeio piratas! Me dรฃo nojo!

Suas palavras estรฃo impregnadas de raiva, amargura, assim como a aura que ele emana, que parece estar repleta de incertezas, รณdio e vestรญgios de angรบstia misturados com medo. Reconheรงo esses sentimentos, embora nรฃo compreenda seus motivos... as emoรงรตes que percebo atravรฉs do Mantra sรฃo semelhantes ร s do povo de Skypiea, da mesma forma que eles se sentiam na minha presenรงa, quando eu era o foco de suas conversas e revoltas.

Observo-o, ainda encarando-nos com raiva e pronunciando algumas palavras. No entanto, algo chama a atenรงรฃo de Nami, quando ele menciona que fomos reunidos pelo destino e trazidos para uma "ilha gรฉlida". De fato, isso รฉ estranho e surpreendente, considerando que, de onde estรกvamos, sรณ vรญamos chamas, vulcรตes e um mar vermelho fervente capaz de cozinhar os animais marinhos. Nossa navegadora concluiu que a ilha รฉ dividida em dois biomas: um coberto de neve e outro de fogo. E o que รฉ neve? Jรก ouvi Chopper falar sobre isso, porรฉm nunca a vi. Em Skypiea, nรฃo hรก invernos nevados; nosso clima frio รฉ marcado por chuvas abundantes e ventos gelados que, ร s vezes, causam enchentes ao encher as crateras de Upper Yard.

Precisรกvamos encontrar uma maneira de sair daquele lugar, porรฉm nada parecia capaz de romper as paredes de metal, nem mesmo os chutes poderosos de Sanji. Estรกvamos perdidos? Fadados a permanecer presos aqui por tempo indeterminado? Respirei fundo, cruzando os braรงos e tentando conceber uma soluรงรฃo. Parecia uma tarefa impossรญvel para mim, uma vez que nunca fui conhecida pela minha perspicรกcia, sempre resolvi as coisas com forรงa bruta e impulsividade, ร  semelhanรงa de... Luffy! Onde estaria ele agora? Nรฃo sรณ ele, mas Zoro, Robin e Usopp. Brook tambรฉm nรฃo estรก conosco.

Fui tirada dos meus devaneios pelo som de uma explosรฃo extremamente alta e estrondosa o suficiente para fazer todo o chรฃo abaixo de nossos pรฉs tremer, levando-me a agachar assustada, com as mรฃos cobrindo os ouvidos, enquanto olhava atรดnita para Franky, o responsรกvel pelo disparo que perfurou a parede de metal com forรงa suficiente para criar um enorme rombo. As penas de minhas asas se eriรงaram, meus olhos tremiam e minha pele empalideceu de susto, enquanto encarava em choque o ciborgue, que se vangloriava das melhorias em seu corpo nos รบltimos dois anos de treinamento do nosso bando.

ร€s vezes, sons altos como esse me assustavam quando eram tรฃo repentinos. Nunca entendia o motivo, mas sempre me deixavam desorientada, levando alguns segundos e, em algumas ocasiรตes, atรฉ mesmo minutos para me recompor. Engoli em seco e soltei um suspiro, levantando-me e sentindo um arrepio novamente, agora em meu antebraรงo esquerdo.

Confusa, olhei para aquela รกrea especรญfica do membro, vendo uma pequena irritaรงรฃo crescente, como se fosse algum tipo de alergia. Pergunto-me se isso seria resultado do veneno dos tentรกculos do homem-peixe que enfrentei, que por um รบnico segundo acabaram por encostar em minha pele. Tenho quase certeza de que nรฃo foi por tempo suficiente para me ferir e, alรฉm disso, jรก faz dias desde aquela batalha. Por que sรณ agora veio se manifestar? Atรฉ mesmo coรงa um pouco, mas pelas orientaรงรตes que recebi de Chopper, sei que nรฃo devo coรงar, senรฃo pode piorar a situaรงรฃo. Portanto, tudo o que me resta รฉ deixar isso de lado e focar novamente no que estava acontecendo. Levei meus olhos para a cabeรงa caรญda prรณxima aos meus pรฉs, que, assim como eu estava hรก poucos segundos, tambรฉm parecia surpreso e assustado com o disparo de laser pelas mรฃos de nosso companheiro ciborgue.

- Vocรช estรก bem, senhor cabeรงa? - ajoelhei-me para pegรก-lo em minhas mรฃos, o que pareceu assustรก-lo ainda mais.

- Solte-me, sua mulher depravada!

- Nรฃo vou machucรก-lo. Nรฃo se preocupe! Eu sou legal. - dei um sorriso gentil para ele, porรฉm nรฃo adiantou.

- Minha Anjinha, deixe que eu cuido dele. - Sanji interveio, e a cabeรงa saltou de minhas mรฃos, voltando para o chรฃo. - O que vai fazer? Vocรช disse que nรฃo queria fugir com um bando de piratas, nรฃo รฉ?

- Cale-se e vรก embora, pirata!

No fim, descobrimos que a cabeรงa decepada pertencia ao samurai do qual havรญamos ouvido falar atravรฉs do pedido de S.O.S. que recebemos quando ainda estรกvamos no Thousand Sunny. Alรฉm disso, o cozinheiro confirmou que ele nรฃo era apenas um samurai, mas sim um Samurai do Paรญs de Wano, o que ficou evidente devido ao penteado que ele usava, um rabo de cavalo tradicional usado pelos homens daquela naรงรฃo. Devo confessar que fiquei inicialmente confusa, pois escutei Brook ter murmurado mais cedo com Zoro sobre Wano ser "fechado para o mundo", um lugar onde ninguรฉm de fora entra e ninguรฉm de dentro sai. Entรฃo, como o filho daquele homem estava aqui? Por que ele foi pego? E como isso aconteceu? Toda essa histรณria me parece confusa e estranha; algo me diz que ele estรก mentindo, mas ao mesmo tempo nรฃo sei se isso รฉ apenas uma desconfianรงa nascida da forma como ele nos tratou quando descobriu que somos piratas e nรฃo simples refรฉns.

Soltei um suspiro e cruzei os braรงos, retirando-me daquela sala ao lado de Nami e Chopper, que estavam apavorados com a ideia de estarmos trazendo o samurai conosco, o mesmo que causou a ligaรงรฃo de alguรฉm implorando por ajuda. Isso significava que ele era perigoso... e isso me deixou ainda mais em alerta em relaรงรฃo a ele, mesmo que Sanji tenha se comprometido a cuidar dele e tรช-lo como sua responsabilidade enquanto estivรฉssemos neste lugar, seja lรก onde estejamos.

Tambรฉm havia algo que estava... estranho, por assim dizer. Eu sentia a presenรงa de todos aqui; o Mantra me alertava sobre os inรบmeros perigos, sobre as forรงas que provavelmente em breve irรญamos enfrentar. Entretanto, entre todas elas, havia uma que chamava minha atenรงรฃo de forma especial, que despertava meu interesse, que instigava a curiosidade e uma espรฉcie de urgรชncia em meu peito. Contudo, eu nรฃo sabia o que era, nem quem poderia ser. Nรฃo conseguia explicar aquela necessidade que emergia, o desejo de vรช-la ou vรช-lo. Quem poderia ser essa pessoa? O que estava acontecendo? Havia algo em meu peito... sinto alguรฉm, sinto que preciso encontrรก-lo, mas nรฃo sei quem รฉ ou o motivo dessa sensaรงรฃo.


Eu estava com pelo menos cinco crianรงas penduradas em mim: duas nos braรงos, uma nas costas, outra na cabeรงa e mais uma na perna. Todas estavam desesperadas e assustadas com os cadรกveres que acabamos de ver no grande corredor de gelo pelo qual passamos correndo, tentando sair daquele lugar que descobrimos ser um "hospital", conforme relatado pelas prรณprias crianรงas, a quem Nami insistiu que resgatรกssemos. Elas nos informaram que foram tiradas de suas casas por estarem doentes, porรฉm Chopper garantiu que nรฃo pareciam doentes, e elas mesmas confirmaram que sabiam que algo estava errado naquele lugar, Punk Hazard.

De fato, todas elas estavam com uma aparรชncia saudรกvel. Nรฃo pareciam sequer estar resfriadas ou gripadas, aparentando total saรบde, sem nenhum sinal de virose, alergia ou afins. Os relatos que nos forneceram apenas aumentaram nossa desconfianรงa em relaรงรฃo ร quele lugar, assim como nossa curiosidade sobre quem seria o suposto Mestre do qual elas mencionavam ter cuidado delas durante todo aquele tempo. Isso me deixou ainda mais atenta, ciente de que esse homem nรฃo era confiรกvel e provavelmente havia feito algo para manter essas crianรงas ali por tanto tempo, privadas de voltar para seus lares, para junto de seus pais e o conforto de suas famรญlias.

- Vejam aquela porta! ร‰ a saรญda! - Nami gritou, apontando para a luz esbranquiรงada no fim da sala por onde corrรญamos.

- AYA! - Chopper gritou, acertando a porta metรกlica com toda a forรงa de seus cascos e a arrombou. - Saรญmos!

- Que frio! - gritei, rapidamente abraรงando meu prรณprio corpo conforme as crianรงas pulavam de cima de mim.

- Finalmente vamos voltar para casa!

Franky chegou logo apรณs nรณs, com seu corpo transformado em algo que se assemelhava a um tanque, o que pareceu deixar os meninos agitados e cheios de excitaรงรฃo ao vรช-lo nessa forma. Sanji e o samurai tambรฉm estavam com eles, ambos se aproximando para nos socorrer.

Meu corpo comeรงou a tremer com o vento frio que soprava contra nรณs, uma sensaรงรฃo bem diferente da ventania dos invernos chuvosos de Skypiea. Encolhi-me, com os joelhos ligeiramente dobrados, e abracei-me com forรงa, tentando gerar calor com meus prรณprios braรงos - uma ideia tola. Mordi os lรกbios com forรงa enquanto observava ao redor, contemplando apenas uma bela paisagem branca e brilhante, com pequenos granizos caindo no chรฃo, tingindo-o com uma cor clara.

No entanto, ao olhar para o lado, meus olhos se arregalaram e minha boca formou um perfeito "o", sentindo minha pele empalidecer pelo susto.

Trafalgar Law estava recostado de lado na parede, me encarando de soslaio com aquele olhar penetrante e repleto de frieza. Ele fitava-me diretamente nos olhos, como da รบltima vez em que nos encontramos. Mantinha a mesma essรชncia desde o nosso primeiro encontro, a mesma da รบltima vez em que nossos olhares se cruzaram, em que nossos olhos se fixaram um no outro. Todavia, havia uma diferenรงa: a forma como ele me encarava naquele dia era de desdรฉm, asco e indiferenรงa; enquanto eu, por outro lado, encontrava-me na mesma situaรงรฃo que agora, assustada, nervosa e com medo diante de sua presenรงa. Tambรฉm estava surpresa por reencontrรก-lo apรณs dois anos sem saber seu paradeiro, suas atividades e, principalmente, como ele havia cuidado do meu coraรงรฃo durante esse tempo.

- Trafalgar-san... - uma gota de suor escorreu por minha testa.

- Vocรช.

- E-eu...

- Droga, รฉ a Marinha! - Sanji gritou, agarrando minha mรฃo e puxando-me para correr.

- Vamos fugir pelo outro lado! - ordenou Franky, dando a volta com as crianรงas, que imediatamente o obedeceram.

Enquanto corrรญamos para o lado oposto, inรบmeros pensamentos invadiam minha mente, tantos que sentia minha cabeรงa latejar, meu pulso coรงar e pinicar, minha bochecha direita arder, e meu corpo todo gelar, tanto pelo frio quanto pelo nervosismo ao reencontrรก-lo nesse estado. Deveria ter imaginado que fora ele quem cortara o samurai, deveria ter suspeitado! Estava tรฃo รณbvio, tรฃo claro. Quem mais poderia cortar alguรฉm em vรกrios pedaรงos sem causar dano mortal? Fui vรญtima de sua habilidade, deveria ter percebido que ele era o causador daquela situaรงรฃo.

Levei a mรฃo atรฉ o lado esquerdo do peito e senti o buraco oculto sob minhas roupas, recordando imediatamente daquele fatรญdico dia em que tudo mudou drasticamente em nossa relaรงรฃo. Vi-me entรฃo diante de uma imensa dรญvida para com ele, uma dรญvida que seria impossรญvel quitar naquele momento e que seria igualmente inviรกvel obter tal quantia em tรฃo pouco tempo, de qualquer forma.

De repente, uma pelรญcula de cor azul nos alcanรงou e acelerei os passos, segurando a mรฃo de Nami firmemente, gritando para que todos saรญssemos o mais rรกpido possรญvel. Era uma Room. Nรฃo tinha dรบvidas de que Trafalgar-san faria conosco o mesmo que fizera com o samurai. Se ele estivesse por trรกs do sequestro daquelas crianรงas, ou pelo menos conivente com quem estivesse tramando tudo aquilo, nรฃo nos permitiria sair dali com suas vรญtimas tรฃo facilmente, sem tentar fazer algo a respeito.

Entretanto, nossos esforรงos para fugir foram todos em vรฃo, pois, quando menos esperรกvamos, precisamos interromper nossa corrida para tentar entender o que havia acontecido com seus corpos. Chopper estava com o corpo de Sanji, que por sua vez estava com o corpo de Nami, que estava com o corpo de Franky, que havia se transformado em um guaxinim gigante. Minha primeira reaรงรฃo foi arregalar os olhos e abrir a boca, perplexa diante daquela situaรงรฃo. O que ele fez? Como vamos reverter isso? E, principalmente, eu ainda sou eu?

โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”

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