━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟭𝟲. 𝗤𝘂𝗲𝗺 𝗿𝗲𝘀𝘁𝗼𝘂?
━━ Upper Yard, Jardim Superior de Skypiea ; Memórias...
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫
Eu estava sentada nas margens da floresta, com os pés balançando sobre o mar branco, observando alguns barcos ao longe, provavelmente vindos de outras ilhas do céu. Me perguntava em silêncio como seriam as pessoas que viviam nas outras regiões, como eram os formatos de suas asas ou a forma como falavam, se eram iguais ou diferentes do povo de Skypiea e Birka. Suspirava pesadamente, imaginando como poderia ser uma vida onde eu fosse uma garota normal, vivendo uma vida normal, imaginando como seria ter uma família completa com um ou dois irmãos. Por mais que gostasse da vida que tinha, ainda queria poder experimentar o que para muitos era considerado "tradicional": um pai e uma mãe em uma casa com seu ou seus filhos.
Sonhos e mais sonhos. Sonhos e mais sonhos que eu me via na obrigação de abandonar e deixar de lado para viver o que tinha, desfrutar do que já vivia. Afinal, era uma vida perfeita, não? Um pai que governava uma nação inteira, servos para fazerem tudo o que fosse desejado por mim, comida e roupas que eram de bom e de melhor, embora eu ainda sofresse punições aqui e ali... ainda era uma boa vida para se viver.
Olhava para o céu azul e via algumas poucas nuvens, sentia minha pele arder minimamente pelo calor que o sol emanava em dias quentes como aquele e respirei fundo, sentindo o ar fresco preencher meus pulmões. Deixei que um longo suspiro escapasse por meus lábios, deitando-me na grama logo em seguida, mas sem tirar meus olhos da paisagem acima de mim.
Haviam muitas coisas que eu gostaria de aprender, coisas que qualquer pessoa da minha idade sabia e eu não, como ler, escrever, nadar ou cozinhar. Eu tinha muita responsabilidade sobre mim para ter tempo de aprender o que eu queria e, como meu pai sempre dizia... meus sonhos são apenas sonhos. Sonhos são apenas sonhos, sonhos e mais sonhos que eu sempre vou ter que deixar escapar pelos meus dedos o tempo todo. Um dos meus sonhos é conhecer o mar azul, descobrir o que tem lá e porque muitos das Ilhas do Céu optam por ir viver no mundo abaixo de nós. Outro dos meus sonhos é poder ter uma vida... simples. Apenas eu, minha própria companhia e talvez alguém para chamar de amigo.
Mas, outra vez, terei de dizer que meus sonhos são apenas sonhos. Sonhos estes que... talvez em outra vida... ou em outro universo... eu possa realizar sem medo.
Queria ter amigos, era algo que eu almejava. Queria ter alguém para conversar, alguém para me ouvir, para responder às perguntas que eu tinha e me fazer outras para que eu as respondesse. Queria ter alguém em quem realmente pudesse contar. Queria ter alguém a quem eu pudesse olhar e dizer sem medo: "fica comigo", alguém que me olhasse de volta e dissesse: "eu fico".
Sonhos de menina. Entretanto, eu já não era mais uma menina. Eu era uma mulher e mulheres crescidas não podiam chorar, não podiam se prender a sonhos impossíveis de alcançar; deviam apenas agir de acordo com o que eram. Postura ereta, queixo levantado, nariz empinado e olhos erguidos, nunca abatida e sempre olhando em frente, nunca para baixo ou para trás. Era assim que eu vivia, a maior parte do tempo calada e seguindo as ordens que me eram designadas. Ordens que iam desde afundar algum navio que transportava fugitivos do Julgamento Divino até ir à cidade principal de Skypiea para fazer anúncios ou simplesmente ceifar a vida de alguém por não pagar os impostos. Não era à toa que o medo que tinham de mim estava impregnado desde os meus 11 anos de idade.
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━━ Arquipélago Sabaody, Grand Line ; próximo a Red Line.
Atualmente.
O Luffy não seria maluco de se meter em uma confusão dessas, seria? Mas que pergunta idiota essa minha, é claro que ele seria! Se ele fez o que fez em Enies Lobby apenas para resgatar a Robin, imagine o que ele fará por seu irmão? Esse garoto... não sei o que fazer! Quero ajudá-lo, porém não faço ideia de como sair daqui. Shakky não irá me deixar agir com imprudência desse jeito, nem Rayleigh vai querer me ajudar a ir, também não vou tentar nada por conta própria ao pegar o Thousand Sunny e sair por aí enlouquecida. Primeiro, eu não sei como pilotar um navio; segundo, eu não sei ler e o manual de instruções só iria me fazer perder tempo; terceiro, não sei como chegar a Marineford.
Estou completamente sozinha nessa situação, não tenho a quem recorrer e duvido que o Trafalgar-san vá querer olhar na minha cara depois do que eu fiz... inclusive, prefiro nem encontrá-lo mais, quero nem pensar no que ele vai fazer comigo quando me ver outra vez. Fui ingrata ao atacá-lo, mas eu precisava fazer alguma coisa, aquela carta me deixou atordoada e eu queria, de alguma forma, chegar a Skypiea e descobrir mais sobre quem sou, sobre meu passado, por isso roubei o log pose dele, entretanto... talvez eu tenha exagerado ao roubar o dinheiro e uma das blusas dele.
Ele deve estar super irritado, já estou até imaginando a confusão que vai acontecer se nos encontrarmos... justamente por isso, devo sair do Arquipélago Sabaody o quanto antes! Porém... me reunir com meus companheiros novamente, mas como? Nem eu sei, e se eles demorarem mais alguns dias para voltar? Porcaria! O que eu faço? Continuo no Olho da Cara ou vou para o Sunny e espero por eles lá?
Pensando bem, aqui, eu tenho comida e pessoas para conversar, enquanto no navio eu ficaria sozinha e teria que cozinhar por conta própria, o que não é difícil, contudo... eu não quero ficar sozinha.
Mas, caramba... eu quero trocar essas roupas. Estou usando minha calcinha do avesso desde ontem à noite e as roupas do Trafalgar-san são maiores do que eu, sem falar que estou usando calças e eu não suporto usá-las. Não consigo nem andar direito, sinto que minhas pernas vão se enrolar em um nó com tanto tecido as cobrindo. Andar é complicado com calças, nem correr eu consigo, parece que... sei lá, que o tecido está dificultando meus movimentos? Preciso, ao menos, ir ao Sunny tomar outro banho, me trocar e, assim que feito, volto para o bar e penso em como chegar a Marineford.
- Eu vou até o navio para pegar algumas roupas, tudo bem? Não vou demorar. - eu disse, notando Shakky virar para me olhar com um sorriso amável.
- Claro, Bette-chan. - respondeu, desligando o fogo e vindo até mim. - Apenas tome cuidado, viu? Não esqueça que a Marinha está espalhando que você morreu, causaria muita confusão se viessem o seu rostinho fofo por aí.
- Não se preocupe! Eu vou me cuidar, ninguém vai me reconhecer.
- Tudo bem, mas volte logo... ou pretende ficar no navio?
- Talvez... ainda não pensei. - suspirei. - Rayleigh ainda não o revestiu, não é? Pode ser que eu não volte.
- Que pimentinha. - ela riu.
- Não sou uma pimenta...
Shakky não me respondeu mais, apenas passou a mão em minha bochecha e apertou de leve, depois saiu da cozinha e me deixou para trás. Ela é uma mulher legal, fico feliz por ela estar me recebendo aqui com tanta gentileza e ter me tratado tão bem, mesmo sabendo da situação em que estou.
Mesmo que eu esteja no mar azul há pouco tempo e tenha vivido muitas coisas ao lado dos meus companheiros, ainda fico encantada com a forma como o capitão consegue conquistar a todos ao seu redor apenas por ser do jeito que é. O Luffy é tão... espontâneo. Será que são as risadas dele que conquistam todo mundo que o conhece? Será a forma como ele age? Ou é porque ele vive tendo atitudes consideradas heroicas sem nem querer receber tal título, como quando salvou Skypiea de ser destruída e apenas festejou com todos, mas sem aceitar ser chamado e reconhecido como um "herói"? Ele é tão... ele.
Isso meio que me faz rir, porque por ele ser do jeito que é, consegue tantos e tantas ao lado dele, para lutar com ele e por ele. Ele consegue aliados desde meros carpinteiros navais até piratas poderosos com recompensas maiores ou quase iguais à sua, como foi o caso de Eustass "Capitão" Kid e Trafalgar Law. Por mais que eles não tenham de fato sido uma aliança para lutar contra aqueles marinheiros... ainda lutaram juntos.
Suspirei novamente, dessa vez, com um sorriso nos lábios. Girei nos calcanhares e andei para fora da cozinha, voltando para o bar e me deparei com Shakky atendendo alguns clientes e nada do Rayleigh. Velho maldito, onde ele se meteu? Preciso tanto de uma informação que ele pode me dar, mas não faço ideia de onde ele foi e quando volta! Que droga... vou ter mesmo que me virar sozinha para achar um jeito de ir para Marineford... no entanto, primeiro vou trocar essas roupas que já estão me incomodando... e essa calcinha deve estar fedida! Que horror. Como pude me descuidar assim? Tudo culpa daquele Dragão Celestial desgraçado.
- Volto mais tarde... - falei, me aproximando da entrada e dei uma última olhada na mulher mais velha que me acolheu. - Ou não!
- Volte se sentir fome, não vá colocar fogo no seu navio, Bette-chan.
- NÃO VOU!
- Cuidado, querida. - foi a última coisa que escutei antes de lançar um sorriso para ela e sair pela porta.
Dei uma olhada em volta e respirei fundo, inalando o cheiro do gramado de Sabaody, sentindo o aroma do ar fresco preencher meus pulmões e misturar-se com o cheiro da comida que vinha da cozinha do Olho da Cara, causando em mim sensações calorosas e, de certa forma, até familiares. O cheiro de comida caseira misturada com o da grama me remete muito aos aromas que vêm da cozinha do Sunny no nosso dia a dia quando Sanji está preparando o almoço, o jantar ou qualquer lanche para nos empaturrarmos ao longo das manhãs e das tardes navegando pelos mares da Grand Line. Me pergunto se será assim, se teremos um pouco dessa paz algumas vezes mesmo quando estivermos no Novo Mundo e, sinceramente, espero que sim.
Olhei para baixo e franzí o cenho, agarrando a barra da calça e puxando-a para cima para endireitá-la em meu quadril - uma vez que ela ficava deslizando por ser grande demais -, mas nada parecia adiantar, pois sempre que eu andava, ela continuava a escorregar. Essa situação já estava se tornando tão irritante que, em breve, eu iria removê-la e descartá-la.
Quando finalmente consegui ajustá-la de forma que não escorregasse mais do quadril, sorri vitoriosa e ri sutilmente. Tecidos nunca, em hipótese alguma, serão capazes de causar transtorno à filha de Deus! Eu poderia eliminar todas as calças do mundo e obrigar todos a usarem saias e vestidos, pois são mais confortáveis!
Era o que eu gostaria de continuar pensando, enquanto imaginava como poderia eliminar todas as calças e bermudas do mundo, antes de tropeçar no tecido do jeans frouxo e cair escada abaixo, rolando e batendo a cabeça em todos os degraus. Gritava a cada batida que recebia na testa, no nariz, nos ombros, na barriga e, por fim, bati com a bunda no último degrau e caí com o rosto atolado na grama grudenta e gosmenta do arquipélago.
Não pude evitar choramingar ao me levantar com o corpo todo dolorido e latejando, principalmente nas áreas onde já havia me machucado anteriormente devido ao incidente ocorrido dias atrás. Levei uma mão até a cabeça e senti um galo crescendo, enquanto a outra apalpava a bunda e realizava uma massagem leve para tentar aliviar a dor. Por que essas coisas acontecem comigo nos momentos menos oportunos? Tantas superfícies para cair, por que tinha que ser justamente de uma escada de quase 30 degraus subindo uma colina? Que horrível! Meu corpo já está todo enfaixado e ainda acontece isso... maldito Dragão Celestial! Ou seria culpa do Luffy, por tê-lo socado? Não, foi culpa dele, por tentar comprar a Camie-chan e por atirar no Hachi... então por que sou eu quem está pagando por isso? Maldito Governo Mundial.
• ʚĭɞ •
Assim que cheguei no Thousand Sunny, a primeira coisa que fiz foi sorrir ao avistar o leãozinho amarelo na proa do navio. Embora ainda me sentisse fraca e voar fosse um pouco doloroso, esforcei-me e peguei impulso no chão para alcançar o rostinho redondo com a juba pontiaguda e acariciar o focinho do leão. O Sunny é tão adorável, tão amável... e é apenas um navio, Elisabette. Por que estou tão emocionada com um navio? Que tolice... é apenas... um navio.
Subi pela proa e deslizei até o convés, sentindo meus pés tocarem a grama gélida e úmida espalhada no chão. Girei o corpo com os braços esticados, como se estivesse dançando com o vento, e senti uma sensação de alívio e paz percorrer meu corpo, aquecendo meu coração. É tão reconfortante sentir-se assim, em casa? Sim, exatamente. É tão gratificante sentir-se em casa. Pode ser apenas um navio, mas em tão pouco tempo - cerca de três meses -, tornou-se o lugar mais próximo que já tive de um lar. O Thousand Sunny é meu lar, e o bando do Chapéu de Palha é o que tenho mais próximo de uma família.
Olhei ao redor e, a pequena dose de felicidade que habitava meu ser desapareceu ao perceber um detalhe que, no final, se mostrou tão alarmante quanto as vezes em que fui eletrocutada em uma poça de água: o navio estava silencioso, tão silencioso que eu podia ouvir as batidas do meu coração.
Caminhei pelo convés, escutando o som dos meus passos ecoando pelo Sunny onde quer que eu pisasse, seja no gramado ou no piso de madeira. Não há ninguém aqui, apenas eu e minha própria companhia; meus próprios passos e minhas respirações suaves, mas também frustradas pelo silêncio que consegue me atormentar e, também, me abalar. Este navio... costuma ser tão turbulento, tão barulhento. A risada alta de Luffy ecoando por todas as partes; os gritos de Nami discutindo com Zoro; Sanji nos chamando para comer; Usopp e Chopper pescando enquanto Robin lhes diz algo sobre não caírem na água e morrerem devorados; Brook cantando e Franky dançando.
E agora... quem resta? Eu. Apenas eu.
Não há mais ninguém aqui, apenas eu.
E isso é doloroso.
Ficar sozinha é doloroso, é... assustador.
Assim que entrei no navio, deparei-me com ele... vazio. Silencioso. Um silêncio que doía aos ouvidos de tão absoluto. Causou-me desespero, medo. Olhei ao redor, não vi ninguém. Nem mesmo suas sombras, os vislumbres de quem eles são. Apenas... vi o vazio. Foi como voltar no tempo, à época em que vivia sozinha, caminhando pelo Jardim Superior para evitar as broncas do pai ou os elogios exagerados dos sacerdotes, que sempre tentavam me agradar de todas as formas possíveis.
• ʚĭɞ •
Ao sair do banheiro, a primeira coisa que fiz foi buscar minhas próprias roupas e escolhi um vestido simples na cor branca, fazendo um laço no peito para cobrir o decote. Tentei amarrar o cabelo, porém desisti e o deixei solto. Ao me olhar no espelho, percebi com surpresa quatro coisas que ainda não havia notado: minha gargantilha, bracelete, pulseira e corrente de perna haviam desaparecido. Senti o desespero subir à cabeça e comecei a revirar o quarto, jogando roupas para o alto, travesseiros para todos os lados, puxando lençóis da cama e movendo os móveis de um lado para o outro, em busca dos objetos. Depois de revirar todo o quarto das garotas, amaldiçoei-me ao lembrar onde e com quem poderiam estar: no quarto do Trafalgar-san, na pousada.
Como pude ser tão descuidada e só me dar conta disso agora? Espero que, ao menos, ele se contente com aquelas joias e consiga trocá-las por uma boa quantia de berries, caso contrário, meus problemas com ele não terão acabado e ainda estarei em uma enrascada envolvendo aquele homem.
Pensar nisso me causou calafrios. Eu tenho total conhecimento de que sou forte o bastante para me defender de usuários de Akuma no Mi, sejam eles do tipo zoan, paramecia ou logia. Tenho força suficiente para não me dar por vencida e ser derrotada. Porém... estou fraca demais para lutar com tudo que tenho. Nem meu Mantra consigo usar direito sem sentir dor de cabeça e cansaço. Preciso ficar atenta para não vacilar novamente e ser cautelosa para não cruzar com ele enquanto ainda estiver no Arquipélago Sabaody, porque não se sabe o que ele fará comigo se me encontrar.
Suspirei frustrada e me sentei na cama de Nami, observando a bagunça que havia causado ao espalhar tudo enquanto procurava por meus pertences. Afundei as mãos no rosto e gritei histericamente. Minha mente estava dividida, meu peito cheio de tantas emoções ao mesmo tempo que me assolavam e me envolviam como um manto espesso que me impedia de respirar profundamente.
Raiva, medo, tristeza, desespero, angústia e pânico, eram essas malditas emoções que estavam me enlouquecendo e me deixando atônita, incapaz de pensar com clareza. A imagem do rosto da minha mãe quando era mais jovem vem à mente e tudo que consigo pensar é no quanto estou confusa, no quanto estou... assustada. Não sei quem sou, nem quem eu deveria ser, nunca soube ao certo e, de repente, Gan Fall me vem com isso? É claro que não estou com raiva, por que estaria? Eu apenas... não sei como me sentir. Ver o rosto dela me deixou tão... perdida. E eu não queria mais vê-la. A necessidade de lembrar de seu rosto era tão avassaladora que, quando tive a chance e finalmente a vi, todas as nossas lembranças juntas me atingiram como um soco forte na cabeça e... eu só queria esquecê-la outra vez.
Olhei para o espelho à distância, observando meu reflexo e desviei o olhar novamente. Todos têm razão, eu me pareço com ele, eu me pareço com o Enel.
A cor da minha pele, o formato do meu nariz e dos meus lábios, meus olhos azuis e as olheiras naturais abaixo deles, as sobrancelhas grossas e a voz suave, mas ao mesmo tempo potente, são todos semelhantes a ele.
Balanceei a cabeça freneticamente até sentir-me tonta com o sangue movendo-se daquele jeito, levantei-me e a visão escureceu devido à rapidez com que me ergui; mais uma vez, caí de cara no chão. Grunhi de raiva e permaneci um tempo deitada, aguardando até que minha visão voltasse ao normal e a tontura passasse. Assim que me senti melhor, levantei-me novamente e bufei. Estava irritada e frustrada, mais uma vez com fome... de doce.
Voltando ao convés, uma mistura de desejos e temores me assalta enquanto me afasto da área da cozinha. Meu paladar anseia por algo doce para saciar meu apetite, contudo o receio de repetir os desastres culinários do passado me paralisa. Recordo-me vividamente das vezes em que minhas tentativas na cozinha resultaram em verdadeiros caos, desde pratos queimados até panelas em chamas. A lembrança desses incidentes me faz hesitar, deixando-me com a sensação de estar aprisionada em um dilema entre o desejo por um sabor adocicado e o medo de causar danos ao pobre do Sunny.
- Shambles! - ouvi a voz de alguém que eu não queria ver naquele momento, e meu sangue gelou ao vê-lo surgir diante de mim, pressionando-me contra a parede de madeira com sua nodachi apontada para o meu pescoço.
- QUE SUSTO!
- Devolva o meu dinheiro que você roubou, o meu log pose e as minhas roupas. - a lâmina tocou meu pescoço, fazendo-me sentir o choque térmico da lâmina gelada contra minha pele quente. - E, se quiser continuar com esse corpo inteiro, me traga todo o tesouro do seu navio.
- Não! - gritei e vi um sorriso ladino surgir nos lábios dele.
- Tudo bem. - uma de suas mãos foi até meu rosto e apertou minhas bochechas com força, fazendo-me arfar. - Vamos ver quanto tempo você consegue se virar sem o corpo.
- É O QUÊ!?
- Amputante. - assim que Trafalgar-san proferiu a palavra, senti minha cabeça deslizar do corpo e cair sobre o piso de grama do navio.
Ao erguer os olhos, deparei-me com ele me observando, enquanto mantinha meu corpo pressionado contra a parede com uma mão, enquanto a outra ainda segurava sua espada. Aquela cena foi perturbadora. Meu corpo sem cabeça, porém funcionando perfeitamente enquanto o via ali, imóvel, ainda com vida. O que é isso? Estou sou uma barata? Meu corpo vai vagar por aí por uma semana até finalmente sucumbir? Que horror! Céus... e agora? Estou tão chocada que não consigo articular uma palavra sequer... maldição! Como vou chegar a Marineford assim, apenas com a cabeça? Nem consigo mexer minhas mãos. Não posso acreditar! Que situação humilhante... não me resta escolha... maldito, soube muito bem como me deixar ainda mais vulnerável.
- Tudo bem! Você venceu! - eu disse, tentando me mover, porém tudo em vão. - Eu entrego nosso tesouro! Só, por favor, devolva-me o meu corpo!
- Primeiro o tesouro, depois o seu corpo.
- Negativo! Primeiro o meu corpo, depois o tesouro.
- Escute aqui... - ele soltou meu ombro e se agachou, segurando-me pelos cabelos e erguendo minha cabeça. - Você acha que vai me enganar de novo, ô pirralha?
- Claro que não! Mas não poderei mostrar onde está se eu for apenas uma cabeça, não é? - sorri.
- Apenas diga onde está, e eu irei sozinho buscar.
- ...que inteligente!
- Você não é muito esperta...
Por fim, meu corpo cedeu quando Trafalgar-san me soltou, e caí de joelhos no chão, inclinando-me para frente. Ele não proferiu mais nenhuma palavra, apenas gesticulou para que eu indicasse o caminho até o local onde guardávamos nossos tesouros. Sabendo que provavelmente levaria uma bronca da Nami, não tive outra escolha senão fazer o que ele desejava. Caso contrário, permaneceria sem corpo para sempre, condenada a ser apenas uma cabeça ambulante.
Ao chegarmos à despensa, sabendo das grandes quantias de berries ali guardadas, observo o pirata mais velho examinando cuidadosamente os compartimentos. Com habilidade cirúrgica, ele vasculha os locais desconhecidos e, com um gesto sutil, revela o fundo falso. Meus olhos acompanham fascinados enquanto ele retira as tábuas e descobre o verdadeiro tesouro escondido ali. A visão das montanhas de moedas douradas me deixa impressionada, mesmo que já soubesse da existência delas.
- E então, satisfeito?
- É melhor do que nada. - ele sussurrou, me jogando no chão, e rolei algumas vezes até bater com a testa na parede.
- Que rude!
- Fique quieta, senão arranco sua língua... de forma dolorosa. - um sorriso sádico surgiu nos lábios dele enquanto colocava as moedas em um saco.
Enquanto Trafalgar-san coloca as moedas no saco com calma e destreza, sinto a raiva fervendo dentro de mim. Ainda estou furiosa por ele não ter devolvido meu corpo e por ter me tratado tão brutalmente, jogando minha cabeça no chão sem o menor escrúpulo. Cada moeda que ele coloca ali é como uma gota de combustível para minha indignação crescente. No entanto, por mais que eu esteja encaralhada, sei que preciso manter a compostura e encontrar uma maneira de recuperar o controle da situação antes que seja tarde demais.
- Ei, Trafalgar-san... - chamei por ele em um sussurro.
- Mandei ficar quieta.
- É rápido!
- O que você quer agora? - os olhos dele se fixaram nos meus; pude notar sua testa franzida pelo aborrecimento.
- Quanto você quer para me ajudar a chegar em Marineford?
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