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โ”โ” ๐–ฅ” ึด เผ‹ ุŒ๐Ÿญ๐Ÿฐ. ๐—ข๐˜€ ๐—ฝ๐—ฒ๐—ฐ๐—ฎ๐—ฑ๐—ผ๐˜€ ๐—พ๐˜‚๐—ฒ ๐—ฟ๐—ฒ๐—ณ๐—น๐—ฒ๐˜๐—ฒ๐—บ ๐—ฒ๐—บ ๐—บ๐—ถ๐—บ.

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๐—ก๐—ข๐—ง๐—” ๐——๐—˜ ๐—˜๐—ซ๐—ง๐—ฅ๐—˜๐— ๐—” ๐—œ๐— ๐—ฃ๐—ข๐—ฅ๐—ง๐—”๐—ก๐—–๐—œ๐—”: A carta vai ser postada em outro capรญtulo separado, que vai fazer parte deste. Depois, no capรญtulo 15, eu vou dar continuidade.
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โ”โ” Arquipรฉlago Sabaody, Grand Line ; prรณximo a Red Line.

Elisabette encarava Urouge em silรชncio, processando aos poucos a informaรงรฃo que lhe foi dada tรฃo repentinamente. Sua primeira reaรงรฃo foi arregalar os olhos e prender a respiraรงรฃo no peito, em choque. Depois, franziu o cenho e cerrou os dentes, indignada. Aquilo nรฃo podia ser possรญvel, nรฃo tinha como, nรฃo tinha porquรช. Ela ficou irritada, seu coraรงรฃo disparou no peito, fazendo-a sentir as correntes elรฉtricas pinicando em suas veias enquanto a tensรฃo entre eles aumentava e seu sangue fervia. Odiava quando mentiam para ela ou tocavam em assuntos que, para a garota, eram delicados como sua "famรญlia". Afinal, se Gan Fall era de fato seu avรด, por que ele iria querer entrar em contato com ela depois das inรบmeras vezes em que batalharam a ponto de ambos, principalmente ela, saรญrem debilitados das lutas? Era um absurdo na visรฃo dela.

Seus cabelos platinados balanรงavam com a brisa noturna que, ao mesmo tempo que bagunรงava seus longos fios, tambรฉm refrescava seu corpo por debaixo do casaco. Elisabette nรฃo queria acreditar, nรฃo queria lidar com aquele fato. Com forรงa, ela apertou a carta em sua mรฃo, a fazendo amassar ao meio, e suspirou, desviando sua atenรงรฃo do Supernova.

Muitos pensamentos percorriam sua mente, desde indagaรงรตes atรฉ suposiรงรตes e incertezas que deixavam sua cabeรงa a mil por hora. Se ele era mesmo seu avรด, onde esteve quando ela sofria nas mรฃos de Enel? Por que nรฃo a salvou? Nรฃo que ela quisesse ser salva, mas ainda assim... por quรช? A birkan nรฃo sabia se deveria ceder ร s palavras de Urouge e acreditar, aceitar a carta e dar um jeito de decifrar o conteรบdo, ou se deveria continuar relutante e mandรก-lo ร  merda, dizendo para nunca mais perturbรก-la, ou o mataria.

Elisabette deu de ombros e passou a mรฃo livre pela cabeรงa, frustrada e sendo tomada pelos pensamentos que a deixavam atordoada, tambรฉm assustada. Todo esse tempo, todos esses anos, ela sempre teve alguรฉm alรฉm de seu pai? Teve alguรฉm alรฉm de Enel com quem ela tivesse laรงos de sangue? Era por isso que seu pai sempre lhe disse para ficar longe de Gan Fall, que ela sempre deveria partir para cima dele quando tentasse se aproximar de Upper Yard ou ousasse colocar os pรฉs no Templo Sagrado novamente? Sรณ isso poderia explicar o porquรช da insistรชncia do Cavaleiro dos Cรฉus em tentar falar com ela, em aceitar seus insultos e as agressรตes que vinham da parte dela contra ele.

- Mentira. - comeรงou, sua respiraรงรฃo comeรงando a ficar descompassada. - Isso sรณ pode ser mentira! - gritou.

- Acredite no que quiser, Praga.

- Nรฃo ouse me chamar disso! - ela bateu com o pรฉ no chรฃo, olhando-o com รณdio.

- Estou te chamando pelo que vocรช รฉ. - Urouge deu um passo para frente, aproximando-se dela. - E vocรช, Elisabette, รฉ uma praga. ร‰ um erro. Se veio ao mundo, รฉ por um erro que Deus deixou passar despercebido. - ele comeรงou a dar dedadas fortes no meio do peito da mais jovem enquanto falava.

- Nรฃo encoste esses dedos imundos em mim.

A platinada permaneceu com seu olhar carregado de fรบria fixo nos olhos daquele homem, aos poucos deixando-se levar pela raiva, pelo desgosto, pela amargura que hรก anos era nutrida dentro de seu coraรงรฃo. Odiava aquele nome, odiava aquela forma pejorativa ร  qual o povo de Skypiea se referia a ela. Era doloroso, humilhante e, principalmente, deprimente. Entretanto, entendia o รณdio que a "Santa Praga" carregava em suas costas, compreendia o porquรช de todos aqueles xingamentos e o medo que recebia da civilizaรงรฃo das Ilhas do Cรฉu. Nรฃo tinha como fugir deles, afinal, sempre foi culpada por toda aquela carga pesada que era obrigada a carregar. Uma pirata ou nรฃo, uma garota normal ou nรฃo, aos olhos deles, ela sempre seria a filha de Enel.

Um suspiro escapou por seus lรกbios e seu olhar foi para o chรฃo, ainda segurando firme a carta em enquanto a outra mรฃo segurava com forรงa o pulso do monge, afastando o dedo indicador dele que estava sendo pressionado inรบmeras vezes contra seu peito. "Talvez ele esteja certo", pensou consigo mesma assim que o soltou e deu outro passo para trรกs, sentindo seu estรดmago revirar dentro de seu corpo.

A menor sentia um peso insuportรกvel sobre seus ombros ao mesmo tempo em que as palavras de Urouge ecoavam em sua mente. As dรบvidas a consumiam, cada uma mais dolorosa que a anterior. Ela se perguntava se algum dia seria capaz de escapar do estigma de ser a filha de Enel e se poderia encontrar seu prรณprio caminho, longe das sombras do passado. A tristeza tomava conta de seu coraรงรฃo, misturada com a sensaรงรฃo de desamparo. Ela se sentia perdida em um mar de incertezas, sem saber em quem confiar ou no que acreditar. O peso das expectativas e julgamentos dos outros pesava sobre ela como uma รขncora, impedindo-a de se libertar e encontrar sua verdadeira identidade.

Enquanto lutava para conter as lรกgrimas que ameaรงavam escapar, Elisabette se viu mergulhando em um turbilhรฃo de emoรงรตes. A confusรฃo e a dor pareciam se entrelaรงar, deixando-a ร  deriva em um oceano de angรบstia. Ela sabia que precisava encontrar forรงas dentro de si mesma para enfrentar os desafios que estavam por vir, mas o caminho ร  sua frente parecia tรฃo obscuro e desconhecido quanto as profundezas do mar azul que tรฃo pouco ela conhecia.

- Por que essa carinha? Vocรช quer chorar? - o Supernova agarrou o rosto dela com sua mรฃo grande em comparaรงรฃo com sua face, segurando-a pelas bochechas e aproximou-se dela. - Sua sorte รฉ ser neta de Gan Fall, senรฃo eu esmagaria sua cabeรงa agora mesmo.

- Cale essa boca. - a voz da platinada soou trรชmula, ela sentia como se estivesse prestes a desabar se continuasse ouvindo tantas coisas sobre si e seu passado.

- Nรฃo pense que sou como aqueles idiotas que escolheram seguir o desgraรงado do seu pai a serem mortos. Diferente daqueles imprestรกveis, eu segui com minha lealdade ao verdadeiro Deus das Ilhas do Cรฉu! - o aperto dele no rosto de Elisabette aumentou de uma forma que deixou de ser apenas desconforto e se tornou dor intensa.

- Que culpa eu tenho!? - ela o empurrou com um chute certeiro no meio de suas pernas, fazendo Urouge arquear as costas e depois inclinar o corpo para frente. - Eu nรฃo obriguei ninguรฉm! Apenas segui ordens!

- Sua... sua pirralha rebelde e malcriada! - um soco dele foi suficiente para derrubรก-la no chรฃo.

- DESGRAร‡ADO! QUEM VAI TE MATAR SOU EU!

Os dois residentes de Birka se encararam com intensidade, o ar eletrificado pelo conflito iminente entre os dois. Ambos estavam prontos para enfrentar o outro, seus corpos tensos e mรบsculos preparados para o embate. Sem hesitaรงรฃo, Elisabette avanรงou com agilidade, sua determinaรงรฃo evidente em cada movimento. Ela lanรงou uma sรฉrie de golpes rรกpidos e precisos em direรงรฃo ao homem de pele morena, cada golpe carregado com a forรงa de sua fรบria e determinaรงรฃo.

Urouge, por sua vez, mostrou-se um oponente formidรกvel. Com sua habilidade de luta incomparรกvel, ele esquivou-se dos ataques da garota de cabelos platinados e contra-atacou com golpes poderosos e precisos. Seus punhos eram como martelos de ferro - graรงas ao Haki de Armamento -, desferindo golpes que reverberavam pelo ar com cada impacto. A luta continuou, os dois combatentes se movendo com graรงa e maestria pelo campo de batalha improvisado. Cada troca de golpes era intensa, com Elisabette e Urouge se desafiando mutuamente em uma danรงa mortal de forรงa e habilidade da parte de ambos, que eram lutadores e guerreiros em potencial.

Apesar do esforรงo de seus esforรงos durante a luta, nenhum dos dois conseguia ganhar vantagem sobre o outro. A determinaรงรฃo de Elisabette era igualada pela habilidade de Urouge, e vice-versa. A luta parecia destinada a continuar atรฉ que um deles caรญsse exausto, mas nenhum dos dois estava disposto a recuar enquanto ainda restasse forรงa em seus corpos.

No entanto, um passo em falso e o Anjo da Morte foi ao chรฃo ao tropeรงar em seu prรณprio pรฉ, caindo sentada e, imediatamente, sendo atingida por um pรฉ em cheio em sua face delicada, deixando-a deitada, presa no gramado com o peso do pรฉ do oponente mais velho em seu peito, impedindo-a de se levantar. Com um olhar cansado e assustado, a birkan mais jovem encarou o homem com os olhos cerrados e imediatamente tentou se levantar, porรฉm seus esforรงos foram em vรฃo. Odiou a si mesma naquele momento, por mais uma vez se ver sendo derrotada por aquele a quem chamava de desgraรงado, de maldito. Detestou estar novamente imobilizada, incapaz de se levantar ou de afastรก-lo.

- Vocรช รฉ apenas uma extensรฃo dos fracassos e pecados de seus pais, Elisabette. Sua existรชncia รฉ um lembrete constante de suas falhas. - ele sussurrou, aumentando o peso no peito dela, a fazendo arfar e cuspir sangue.

- C-cala... cala essa boca!

- Vocรช รฉ um lembrete constante de sua famรญlia manchada. - e aumentou o peso mais uma vez. - Cada passo que vocรช dรก รฉ uma afronta ร  memรณria daqueles que vieram antes de vocรช.

- Pare... pare de falar! - ela gritou, agarrando o pรฉ dele com as duas mรฃos, embora nรฃo tivesse forรงas o suficiente para tirรก-lo de cima. - Eu nรฃo tenho culpa! - tentou novamente se soltar, mas continuava sendo em vรฃo.

- Culpada ou nรฃo, vocรช continua a carregar o fardo dos pecados deles. Cada respiraรงรฃo que vocรช toma รฉ um insulto aos que sofreram por causa deles.

Por fim, ele retirou o pรฉ de cima dela, aliviando todo o seu peso e fazendo-a puxar o ar com forรงa, levantando-se rapidamente e apoiando as mรฃos no chรฃo. Permaneceu sentada, respirando ofegante enquanto o encarava horrorizada, ainda digerindo tudo o que ele havia lhe dito. Cada frase, cada palavra, a entonaรงรฃo de sua voz potente aos seus ouvidos, a maneira cruel com que falava e seu olhar enojado e cheio de indignaรงรฃo diante de sua vida, repugnรขncia pelo ar que ela ousava respirar, indignaรงรฃo pelo sangue que corria em suas veias e pela vida que ousava continuar vivendo.

Elisabette nรฃo queria aceitar, nรฃo queria lidar com aquele peso, com aquela culpa, nรฃo podia! Afinal, era mesmo culpa dela? Ela realmente deveria aceitar calada aquelas acusaรงรตes? No fim, era mesmo verdade que deveria carregar aquele fardo? Receber puniรงรตes pelos erros de Enel e Freyja? Quando Birka foi destruรญda, ela nรฃo passava de uma menina, uma crianรงa de apenas 8 anos de idade que assistiu a tudo calada, de longe, sem fazer nada para impedir ou ajudar na obliteraรงรฃo da ilha. Quer dizer, o que ela poderia fazer? O que ela deveria dizer para impedir seus pais e seus seguidores de fazer o que estavam fazendo naquele momento? Eles nunca escutariam ninguรฉm, principalmente a ela, que nรฃo passava de uma crianรงa que, aos olhos dele, era apenas mais um dos peรตes do usuรกrio da Goro Goro no Mi.

Com um pouco de dificuldade e sentindo seu corpo inteiro latejar, alguns de seus ferimentos abrindo por debaixo das ataduras feitas por Law, a platinada se colocou de pรฉ. Colocou uma mรฃo no quadril - local onde havia sido baleada -, pressionando sua palma contra o curativo em seu ferimento que sangrava e manchava de vermelho o branco da atadura. Suspiros pesados e respiraรงรตes ofegantes escapavam por seus lรกbios rosados, sujos de seu prรณprio sangue.

De dentro do bar, Trafalgar Law finalmente surgiu, abrindo a porta e se colocando para fora do estabelecimento, mantendo a expressรฃo estoica mesmo ao se deparar com aquela cena: Elisabette mais ferida do que antes, com o rosto ensanguentado, seu casaco rasgado e penas de suas asas espalhadas pelo ambiente. Seus cabelos bagunรงados caรญam por sua face, e seu corpo tremia enquanto lutava para se manter de pรฉ. Ao lado dela, Urouge tambรฉm estava ferido, mas nรฃo tanto quanto a mais nova entre eles. A รบnica reaรงรฃo de Law foi franzir o cenho e arquear uma das sobrancelhas, tentando entender o que estava acontecendo e finalmente compreendendo o motivo da demora dela na ida ao banheiro.

- Leia essa carta com atenรงรฃo, Praga. - o Monge Louco avisou, colocando a mรฃo no queixo dela com forรงa. - E, depois, repense tudo o que eu lhe disse. - ele afastou-se novamente.

- ...pare de me tocar.

- Argh... - pigarreou. - Vocรช รฉ igualzinha a ele, alguรฉm jรก falou isso para vocรช? - a mรฃo dele outra vez foi em direรงรฃo ao rosto de Elisabette, afastando os cabelos de seus olhos.

- Nรฃo. E-eu nรฃo sou igual a ele..! - ela deu uma bofetada no braรงo dele, afastando-o mais uma vez.

- Sim, vocรช รฉ. Seus olhos, o tom de sua voz, o jeito que age... seu pai sempre foi um problema, apenas nรฃo imaginei que isso fosse se repetir com o seu nascimento.

- Nรฃo รฉ minha culpa.

- Os filhos tambรฉm sรฃo culpados pelos erros dos pais.

Urouge se afastou lentamente, deixando a menor para trรกs, com seus grandes olhos azuis arregalados e uma sensaรงรฃo avassaladora de desamparo e desespero diante de toda aquela situaรงรฃo. Seu coraรงรฃo batia descontroladamente no peito, enquanto as palavras cruรฉis daquele homem ecoavam como trovรตes em sua mente atordoada por tudo que ouviu e viveu. Cada frase foi como milhares de adagas em seu corpo , apodrecendo sua visรฃo de si mesma e deixando-a ร  mercรช de uma dor intensa e crescente no peito, que agora se tornara frรกgil como vidro.

E ela permaneceu ali, imรณvel, a sensaรงรฃo deprimente de impotรชncia a envolvendo como um manto sombrio de um passado que tentava fugir a todo custo, mas que agora retornara como uma explosรฃo de lembranรงas e julgamentos destroรงados. Ela se sente pequena e frรกgil diante da magnitude da situaรงรฃo, incapaz de conter as lรกgrimas que comeรงam a brotar de seus olhos em cascata. Cada lรกgrima que cai รฉ como um eco silencioso da devastaรงรฃo interna que ela enfrenta, uma representaรงรฃo fรญsica de sua dor e desespero. Enquanto isso, o tatuado a encarava com uma sensaรงรฃo de curiosidade crescente.

Ele viu o desespero estampado no olhar de Elisabette, e tudo que conseguia fazer naquele momento era observar em silรชncio, ao mesmo tempo em que caminhava para perto dela. Seu olhar vagou atรฉ a figura mais alta do outro Supernova, que agora se dirigia para dentro do bar, deixando apenas os dois ali, do lado de fora, naquela madrugada fria que parecia demorar para o sol nascer e raiar no Arquipรฉlago Sabaody.

- Vamos embora. - disse Trafalgar em um sussurro, logo notando o semblante indiferente da mais jovem parada ao seu lado.

โ€ข สšฤญษž โ€ข

Nรฃo demorou muito para que retornassem ร  pousada e o Cirurgiรฃo conseguisse levรก-la para seu quarto sem que a recepcionista do lugar notasse a platinada. O olhar dela era diferente do de antes, era inexpressivo e nem uma รบnica vez ele a escutou falar ou rir durante o percurso do bar-restaurante atรฉ onde ele estava hospedado, o que achou estranho e levantou certa preocupaรงรฃo em seu subconsciente - embora nunca admitisse para si mesmo.

Em silรชncio, os dois entraram no quarto, Law indo na frente e a mais nova entrando logo apรณs, fechando a porta em seguida. Depois, ela caminhou em passos lentos e silenciosos atรฉ o canto que havia escolhido para deitar. Cansada e exausta, tambรฉm sem se preocupar com suas feridas abertas que sangravam por debaixo dos curativos e faixas espalhados por seu corpo, ela apenas deitou-se no chรฃo e ficou ali, calada, sentindo-se a mais miserรกvel das pessoas. Ainda sentia dor em seus ferimentos que haviam aberto e tambรฉm sentia o latejar dos hematomas recentes apรณs ter se deixado levar pela raiva e brigado com Urouge, mesmo sabendo da delicadeza de seu estado atual depois do que havia acontecido com Kuma, os Pacifistas, Sentomaru e contra o Almirante Kizaru.

Trafalgar Law a encarava em silรชncio, sentado em sua cama e ponderando se deveria manter as coisas como estavam ou se deveria arriscar perguntar se podia limpar os ferimentos dela novamente. Nรฃo que estivesse preocupado, mas sabia que seria pior se as feridas dela acabassem infeccionando por conta da sujeira ou se ela enfraquecesse novamente perdendo mais sangue do que quando foi baleada. Era irritante, ao ver dele, o quรฃo quieta ela estava, o quรฃo vulnerรกvel ela aparentava ser naquele momento, quando hรก pouco tempo a garota de cabelos platinados havia lutado contra uma horda de fuzileiros navais, derrubado guardas de Dragรตes Celestiais e, agora, ele a via daquele jeito, deprimida e em um estado tรฃo deplorรกvel que chegava a lhe causar รณdio.

Ele suspirou e entรฃo se levantou, caminhando atรฉ onde sua bolsa estava e retirando o kit de primeiros socorros que levava consigo para onde ia, para casos de emergรชncia, e aquela em que Elisabette estava, sem dรบvidas, acabara de se tornar um desses casos.

Quando o moreno tatuado ajoelhou-se ao seu lado, a birkan o olhou de canto - ainda em silรชncio -, logo notando uma caixa pequena com uma Jolly Roger sorridente estampada nela. Eles permaneceram daquele jeito, apenas olhando um nos olhos do outro em silรชncio. Ele, sem saber o que dizer; e ela, nรฃo querendo falar mais nada, cansada demais para formular frases e desgastada demais para querer conversar com ele.

- Eu vou limpar os seus ferimentos, depois vocรช vai tomar banho para se limpar, e eu farei novos curativos em vocรช. - Law disse, perfurando-a com seu olhar penetrante.

- 'Tรด com sono. - ela retrucou. - Eu vou dormir e amanhรฃ vocรช me ajuda.

- Eu nรฃo estou pedindo, estou mandando.

- Apenas recebo ordens do meu capitรฃo. - ela finalmente sentou-se no chรฃo, ficando na direรงรฃo dele e o encarando da mesma forma.

E era esse o motivo pelo qual Trafalgar a queria longe dele, longe de seus aposentos e o mais distante possรญvel de onde quer que ele estivesse, por conta da maldita rebeldia que pessoas da idade dela costumavam ter e pela escolha que faziam de infernizar qualquer um que demonstrasse o mรญnimo de preocupaรงรฃo com a medรญocre vida que tinham. Era nรญtido aos olhos dele que ela estava abatida com algo, contudo aquilo nรฃo era razรฃo para ser uma maldita pirralha desobediente que quisesse bancar a durona quando era claro que precisava ser tratada naquele momento, ou entรฃo as coisas se tornariam piores, causando mais problemas a ele e, principalmente, para ela e ao seu bem-estar fรญsico.

- ร” pirralha do bando do Chapรฉu de Palha, vocรช precisa entender a gravidade dos seus ferimentos. Nรฃo รฉ apenas uma questรฃo de dor temporรกria; essas feridas podem se tornar sรฉrias complicaรงรตes se nรฃo forem tratadas adequadamente. - o maior falou, enquanto segurava com forรงa moderada o pulso dela.

- Tudo bem! Tudo bem!

Law procedeu com habilidade ao retirar os curativos sujos que cobriam os ferimentos da mais nova. Cada movimento era preciso e delicado, demonstrando uma destreza adquirida ao longo de anos de prรกtica mรฉdica. Ele nรฃo podia deixar de notar a expressรฃo de dor no rosto da jovem enquanto trabalhava, seus mรบsculos tensos e os olhos cerrados em uma tentativa de suportar o desconforto. Conforme os curativos eram removidos, revelando as feridas subjugadas, ele mantinha uma expressรฃo sรฉria e concentrada, totalmente focado em sua tarefa. A visรฃo dos ferimentos expostos era repugnante, mas ele se recusava a permitir que suas emoรงรตes interferissem em seu trabalho, concentrando-se apenas em limpar cada ferida.

E ela suportava os desconfortos em silรชncio enquanto o moreno tatuado limpava seus ferimentos. A sensaรงรฃo de suas mรฃos habilidosas tocando sua pele ferida era dolorosa, contudo ela se forรงava a permanecer quieta, determinada a nรฃo mostrar fraqueza diante dele. Seus pensamentos giravam em torno da intensidade da dor e da gratidรฃo por ele estar ali para ajudรก-la. Enquanto ele trabalhava, ela tentava bloquear a sensaรงรฃo aguda de desconforto e se concentrar na sensaรงรฃo reconfortante de ter alguรฉm cuidando dela.

Quando terminou, ele se levantou e a olhou de cima com o olhar estreito focado nos olhos azuis dela, que pareciam estar marejados. Silenciosamente, Law deu as costas e caminhou de volta para a sua cama, onde se sentou com as pernas cruzadas e os braรงos atrรกs da cabeรงa, apoiando-se na cabeceira e fechando os olhos para descansar, mesmo que fosse sรณ um pouco.

- Agora vรก tomar um banho para limpar todo esse sangue do seu rosto e das suas mรฃos, vou arranjar uma muda de roupas para vocรช.

- Obrigada.

- Nรฃo foi uma boa aรงรฃo. - rebateu, franzindo o cenho e a encarando de lado.

- Vocรช sรณ sabe dizer isso...

Elisabette deu de ombros e caminhou atรฉ o banheiro do quarto, entrando e trancando a porta. Em silรชncio, ela encarou novamente seu reflexo no espelho, sentindo o peso das palavras de Urouge em sua mente, causando um forte tumulto emocional e uma dor intensa no peito, como se tudo o que ele havia dito fosse a mais pura verdade, e, entre nรณs, ela acreditava que sim.

Acreditava ser culpada pelos erros de seus pais, pensava que poderia ser tรฃo ruim quanto eles, que era um fardo vivente enquanto as pessoas ainda sofriam pelas consequรชncias dos erros cometidos por eles no passado. Sentia-se responsรกvel por tudo: pelos gritos de medo, pelo choro clamando por misericรณrdia, pelo desespero no olhar dos Skypieans e dos Shandians, pelo sangue derramado e pela raiva que havia sido incutida no coraรงรฃo de seu povo.

โœฆ ใ€€ . โ‹† หš โ˜†

โ”โ” Elisabette, Anjo da Morte. โชO ponto de vista Delaโซ

Quando saรญ do banho, Trafalgar-san me entregou uma blusa e uma calรงa para vestir. Embora nรฃo gostasse desse tipo de roupa - prefiro vestidos e saias -, aceitei de bom grado e nรฃo demorei em vesti-las assim que ele fez os curativos em mim. Simplesmente me sentei no mesmo canto de antes, encolhida, abraรงando minhas prรณprias pernas, olhando para o chรฃo e pensando em tudo, absolutamente tudo o que jรก vivi. Pensei nos meus pais, pensei na minha mรฃe e lutei para lembrar, mesmo que fosse um รบnico traรงo dela ou de sua personalidade. Pensei em meu pai e em nossos momentos juntos, desde os bons atรฉ os ruins. Pensei em Birka, no pouco que ainda me lembrava dela e, principalmente, em Skypiea.

E ainda tinha aquela carta... a carta que Gan Fall me enviou atravรฉs de Urouge. ร‰ perturbador saber que nunca vou saber o conteรบdo, que nunca conseguirei descobrir o que ele me escreveu, o porquรช dele nunca ter dito nada e se, de fato, eu realmente sou sua neta.

Tudo aconteceu tรฃo repentinamente, tรฃo rapidamente, tรฃo... inesperadamente. Minha mente estรก inundada por milhares de pensamentos e nรฃo consigo acompanhรก-los, pois estรฃo sendo mais rรกpidos do que consigo digerir. Se Freyja, minha mรฃe, era realmente filha daquele homem, por que ela esteve a favor do golpe contra sua soberania? Se ela era realmente sua filha, por que nunca me disse? O que aconteceu? Por que todas essas questรตes estรฃo vindo ร  tona agora, quando nรฃo tenho como tirar minhas dรบvidas pessoalmente com ele? E quanto ao meu pai, por que ele sempre foi um problema? Por que estou sendo uma repetiรงรฃo? Tudo isso estรก me corroendo e nรฃo tenho a quem recorrer.

Engoli em seco e retirei a carta de dentro da minha bolsa, percebendo-a um pouco manchada com meu sangue. Respirei fundo, olhando para Trafalgar-san em sua cama, quase dormindo... droga. Nรฃo queria ter que compartilhar minha vida com um desconhecido, nem mesmo com ele, apesar de ter me ajudado... ele ainda รฉ um completo estranho. Mas sinto que, se nรฃo souber o que estรก escrito aqui, irei enlouquecer! Inferno... inferno! Desgraรงa! Caralho! Vou surtar.

- TRAFALGAR-SAN! - estava tรฃo afoita que nem percebi quando gritei por ele sem mais nem menos.

- Se vocรช fizer isso outra vez, vou lhe dar um bom motivo para gritar. - ele fechou o punho em formato de soco. - O que vocรช quer agora!?

- Desculpe! - levantei-me e corri atรฉ ele, pulando em sua cama e sentando na beirada, o fazendo pular com o impacto do meu peso quando saltei sobre o colchรฃo. - Eu realmente preciso de um favor seu! Por favor.

- Nรฃo.

- Por favor...

- Nรฃo.

- Por favor!

- Nรฃo.

- POR FAVOR! - mostrei a carta a ele e isso pareceu despertar algum interesse. - Eu sรณ preciso que vocรช leia... รฉ tudo que peรงo.

Ele apenas me encarou como se fosse me agarrar a qualquer momento e me arremessar pela varanda para nรฃo ter mais que lidar com minha importunaรงรฃo. Entรฃo, tomou o envelope das minhas mรฃos, deu uma olhada no papel e finalmente o abriu. Leu em silรชncio e arregalou os olhos em confusรฃo... atรฉ que comeรงou a ler em voz alta.

โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”

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