━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟭𝟰. 𝗢𝘀 𝗽𝗲𝗰𝗮𝗱𝗼𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝗿𝗲𝗳𝗹𝗲𝘁𝗲𝗺 𝗲𝗺 𝗺𝗶𝗺.
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𝗡𝗢𝗧𝗔 𝗗𝗘 𝗘𝗫𝗧𝗥𝗘𝗠𝗔 𝗜𝗠𝗣𝗢𝗥𝗧𝗔𝗡𝗖𝗜𝗔: A carta vai ser postada em outro capítulo separado, que vai fazer parte deste. Depois, no capítulo 15, eu vou dar continuidade.
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━━ Arquipélago Sabaody, Grand Line ; próximo a Red Line.
Elisabette encarava Urouge em silêncio, processando aos poucos a informação que lhe foi dada tão repentinamente. Sua primeira reação foi arregalar os olhos e prender a respiração no peito, em choque. Depois, franziu o cenho e cerrou os dentes, indignada. Aquilo não podia ser possível, não tinha como, não tinha porquê. Ela ficou irritada, seu coração disparou no peito, fazendo-a sentir as correntes elétricas pinicando em suas veias enquanto a tensão entre eles aumentava e seu sangue fervia. Odiava quando mentiam para ela ou tocavam em assuntos que, para a garota, eram delicados como sua "família". Afinal, se Gan Fall era de fato seu avô, por que ele iria querer entrar em contato com ela depois das inúmeras vezes em que batalharam a ponto de ambos, principalmente ela, saírem debilitados das lutas? Era um absurdo na visão dela.
Seus cabelos platinados balançavam com a brisa noturna que, ao mesmo tempo que bagunçava seus longos fios, também refrescava seu corpo por debaixo do casaco. Elisabette não queria acreditar, não queria lidar com aquele fato. Com força, ela apertou a carta em sua mão, a fazendo amassar ao meio, e suspirou, desviando sua atenção do Supernova.
Muitos pensamentos percorriam sua mente, desde indagações até suposições e incertezas que deixavam sua cabeça a mil por hora. Se ele era mesmo seu avô, onde esteve quando ela sofria nas mãos de Enel? Por que não a salvou? Não que ela quisesse ser salva, mas ainda assim... por quê? A birkan não sabia se deveria ceder às palavras de Urouge e acreditar, aceitar a carta e dar um jeito de decifrar o conteúdo, ou se deveria continuar relutante e mandá-lo à merda, dizendo para nunca mais perturbá-la, ou o mataria.
Elisabette deu de ombros e passou a mão livre pela cabeça, frustrada e sendo tomada pelos pensamentos que a deixavam atordoada, também assustada. Todo esse tempo, todos esses anos, ela sempre teve alguém além de seu pai? Teve alguém além de Enel com quem ela tivesse laços de sangue? Era por isso que seu pai sempre lhe disse para ficar longe de Gan Fall, que ela sempre deveria partir para cima dele quando tentasse se aproximar de Upper Yard ou ousasse colocar os pés no Templo Sagrado novamente? Só isso poderia explicar o porquê da insistência do Cavaleiro dos Céus em tentar falar com ela, em aceitar seus insultos e as agressões que vinham da parte dela contra ele.
- Mentira. - começou, sua respiração começando a ficar descompassada. - Isso só pode ser mentira! - gritou.
- Acredite no que quiser, Praga.
- Não ouse me chamar disso! - ela bateu com o pé no chão, olhando-o com ódio.
- Estou te chamando pelo que você é. - Urouge deu um passo para frente, aproximando-se dela. - E você, Elisabette, é uma praga. É um erro. Se veio ao mundo, é por um erro que Deus deixou passar despercebido. - ele começou a dar dedadas fortes no meio do peito da mais jovem enquanto falava.
- Não encoste esses dedos imundos em mim.
A platinada permaneceu com seu olhar carregado de fúria fixo nos olhos daquele homem, aos poucos deixando-se levar pela raiva, pelo desgosto, pela amargura que há anos era nutrida dentro de seu coração. Odiava aquele nome, odiava aquela forma pejorativa à qual o povo de Skypiea se referia a ela. Era doloroso, humilhante e, principalmente, deprimente. Entretanto, entendia o ódio que a "Santa Praga" carregava em suas costas, compreendia o porquê de todos aqueles xingamentos e o medo que recebia da civilização das Ilhas do Céu. Não tinha como fugir deles, afinal, sempre foi culpada por toda aquela carga pesada que era obrigada a carregar. Uma pirata ou não, uma garota normal ou não, aos olhos deles, ela sempre seria a filha de Enel.
Um suspiro escapou por seus lábios e seu olhar foi para o chão, ainda segurando firme a carta em enquanto a outra mão segurava com força o pulso do monge, afastando o dedo indicador dele que estava sendo pressionado inúmeras vezes contra seu peito. "Talvez ele esteja certo", pensou consigo mesma assim que o soltou e deu outro passo para trás, sentindo seu estômago revirar dentro de seu corpo.
A menor sentia um peso insuportável sobre seus ombros ao mesmo tempo em que as palavras de Urouge ecoavam em sua mente. As dúvidas a consumiam, cada uma mais dolorosa que a anterior. Ela se perguntava se algum dia seria capaz de escapar do estigma de ser a filha de Enel e se poderia encontrar seu próprio caminho, longe das sombras do passado. A tristeza tomava conta de seu coração, misturada com a sensação de desamparo. Ela se sentia perdida em um mar de incertezas, sem saber em quem confiar ou no que acreditar. O peso das expectativas e julgamentos dos outros pesava sobre ela como uma âncora, impedindo-a de se libertar e encontrar sua verdadeira identidade.
Enquanto lutava para conter as lágrimas que ameaçavam escapar, Elisabette se viu mergulhando em um turbilhão de emoções. A confusão e a dor pareciam se entrelaçar, deixando-a à deriva em um oceano de angústia. Ela sabia que precisava encontrar forças dentro de si mesma para enfrentar os desafios que estavam por vir, mas o caminho à sua frente parecia tão obscuro e desconhecido quanto as profundezas do mar azul que tão pouco ela conhecia.
- Por que essa carinha? Você quer chorar? - o Supernova agarrou o rosto dela com sua mão grande em comparação com sua face, segurando-a pelas bochechas e aproximou-se dela. - Sua sorte é ser neta de Gan Fall, senão eu esmagaria sua cabeça agora mesmo.
- Cale essa boca. - a voz da platinada soou trêmula, ela sentia como se estivesse prestes a desabar se continuasse ouvindo tantas coisas sobre si e seu passado.
- Não pense que sou como aqueles idiotas que escolheram seguir o desgraçado do seu pai a serem mortos. Diferente daqueles imprestáveis, eu segui com minha lealdade ao verdadeiro Deus das Ilhas do Céu! - o aperto dele no rosto de Elisabette aumentou de uma forma que deixou de ser apenas desconforto e se tornou dor intensa.
- Que culpa eu tenho!? - ela o empurrou com um chute certeiro no meio de suas pernas, fazendo Urouge arquear as costas e depois inclinar o corpo para frente. - Eu não obriguei ninguém! Apenas segui ordens!
- Sua... sua pirralha rebelde e malcriada! - um soco dele foi suficiente para derrubá-la no chão.
- DESGRAÇADO! QUEM VAI TE MATAR SOU EU!
Os dois residentes de Birka se encararam com intensidade, o ar eletrificado pelo conflito iminente entre os dois. Ambos estavam prontos para enfrentar o outro, seus corpos tensos e músculos preparados para o embate. Sem hesitação, Elisabette avançou com agilidade, sua determinação evidente em cada movimento. Ela lançou uma série de golpes rápidos e precisos em direção ao homem de pele morena, cada golpe carregado com a força de sua fúria e determinação.
Urouge, por sua vez, mostrou-se um oponente formidável. Com sua habilidade de luta incomparável, ele esquivou-se dos ataques da garota de cabelos platinados e contra-atacou com golpes poderosos e precisos. Seus punhos eram como martelos de ferro - graças ao Haki de Armamento -, desferindo golpes que reverberavam pelo ar com cada impacto. A luta continuou, os dois combatentes se movendo com graça e maestria pelo campo de batalha improvisado. Cada troca de golpes era intensa, com Elisabette e Urouge se desafiando mutuamente em uma dança mortal de força e habilidade da parte de ambos, que eram lutadores e guerreiros em potencial.
Apesar do esforço de seus esforços durante a luta, nenhum dos dois conseguia ganhar vantagem sobre o outro. A determinação de Elisabette era igualada pela habilidade de Urouge, e vice-versa. A luta parecia destinada a continuar até que um deles caísse exausto, mas nenhum dos dois estava disposto a recuar enquanto ainda restasse força em seus corpos.
No entanto, um passo em falso e o Anjo da Morte foi ao chão ao tropeçar em seu próprio pé, caindo sentada e, imediatamente, sendo atingida por um pé em cheio em sua face delicada, deixando-a deitada, presa no gramado com o peso do pé do oponente mais velho em seu peito, impedindo-a de se levantar. Com um olhar cansado e assustado, a birkan mais jovem encarou o homem com os olhos cerrados e imediatamente tentou se levantar, porém seus esforços foram em vão. Odiou a si mesma naquele momento, por mais uma vez se ver sendo derrotada por aquele a quem chamava de desgraçado, de maldito. Detestou estar novamente imobilizada, incapaz de se levantar ou de afastá-lo.
- Você é apenas uma extensão dos fracassos e pecados de seus pais, Elisabette. Sua existência é um lembrete constante de suas falhas. - ele sussurrou, aumentando o peso no peito dela, a fazendo arfar e cuspir sangue.
- C-cala... cala essa boca!
- Você é um lembrete constante de sua família manchada. - e aumentou o peso mais uma vez. - Cada passo que você dá é uma afronta à memória daqueles que vieram antes de você.
- Pare... pare de falar! - ela gritou, agarrando o pé dele com as duas mãos, embora não tivesse forças o suficiente para tirá-lo de cima. - Eu não tenho culpa! - tentou novamente se soltar, mas continuava sendo em vão.
- Culpada ou não, você continua a carregar o fardo dos pecados deles. Cada respiração que você toma é um insulto aos que sofreram por causa deles.
Por fim, ele retirou o pé de cima dela, aliviando todo o seu peso e fazendo-a puxar o ar com força, levantando-se rapidamente e apoiando as mãos no chão. Permaneceu sentada, respirando ofegante enquanto o encarava horrorizada, ainda digerindo tudo o que ele havia lhe dito. Cada frase, cada palavra, a entonação de sua voz potente aos seus ouvidos, a maneira cruel com que falava e seu olhar enojado e cheio de indignação diante de sua vida, repugnância pelo ar que ela ousava respirar, indignação pelo sangue que corria em suas veias e pela vida que ousava continuar vivendo.
Elisabette não queria aceitar, não queria lidar com aquele peso, com aquela culpa, não podia! Afinal, era mesmo culpa dela? Ela realmente deveria aceitar calada aquelas acusações? No fim, era mesmo verdade que deveria carregar aquele fardo? Receber punições pelos erros de Enel e Freyja? Quando Birka foi destruída, ela não passava de uma menina, uma criança de apenas 8 anos de idade que assistiu a tudo calada, de longe, sem fazer nada para impedir ou ajudar na obliteração da ilha. Quer dizer, o que ela poderia fazer? O que ela deveria dizer para impedir seus pais e seus seguidores de fazer o que estavam fazendo naquele momento? Eles nunca escutariam ninguém, principalmente a ela, que não passava de uma criança que, aos olhos dele, era apenas mais um dos peões do usuário da Goro Goro no Mi.
Com um pouco de dificuldade e sentindo seu corpo inteiro latejar, alguns de seus ferimentos abrindo por debaixo das ataduras feitas por Law, a platinada se colocou de pé. Colocou uma mão no quadril - local onde havia sido baleada -, pressionando sua palma contra o curativo em seu ferimento que sangrava e manchava de vermelho o branco da atadura. Suspiros pesados e respirações ofegantes escapavam por seus lábios rosados, sujos de seu próprio sangue.
De dentro do bar, Trafalgar Law finalmente surgiu, abrindo a porta e se colocando para fora do estabelecimento, mantendo a expressão estoica mesmo ao se deparar com aquela cena: Elisabette mais ferida do que antes, com o rosto ensanguentado, seu casaco rasgado e penas de suas asas espalhadas pelo ambiente. Seus cabelos bagunçados caíam por sua face, e seu corpo tremia enquanto lutava para se manter de pé. Ao lado dela, Urouge também estava ferido, mas não tanto quanto a mais nova entre eles. A única reação de Law foi franzir o cenho e arquear uma das sobrancelhas, tentando entender o que estava acontecendo e finalmente compreendendo o motivo da demora dela na ida ao banheiro.
- Leia essa carta com atenção, Praga. - o Monge Louco avisou, colocando a mão no queixo dela com força. - E, depois, repense tudo o que eu lhe disse. - ele afastou-se novamente.
- ...pare de me tocar.
- Argh... - pigarreou. - Você é igualzinha a ele, alguém já falou isso para você? - a mão dele outra vez foi em direção ao rosto de Elisabette, afastando os cabelos de seus olhos.
- Não. E-eu não sou igual a ele..! - ela deu uma bofetada no braço dele, afastando-o mais uma vez.
- Sim, você é. Seus olhos, o tom de sua voz, o jeito que age... seu pai sempre foi um problema, apenas não imaginei que isso fosse se repetir com o seu nascimento.
- Não é minha culpa.
- Os filhos também são culpados pelos erros dos pais.
Urouge se afastou lentamente, deixando a menor para trás, com seus grandes olhos azuis arregalados e uma sensação avassaladora de desamparo e desespero diante de toda aquela situação. Seu coração batia descontroladamente no peito, enquanto as palavras cruéis daquele homem ecoavam como trovões em sua mente atordoada por tudo que ouviu e viveu. Cada frase foi como milhares de adagas em seu corpo , apodrecendo sua visão de si mesma e deixando-a à mercê de uma dor intensa e crescente no peito, que agora se tornara frágil como vidro.
E ela permaneceu ali, imóvel, a sensação deprimente de impotência a envolvendo como um manto sombrio de um passado que tentava fugir a todo custo, mas que agora retornara como uma explosão de lembranças e julgamentos destroçados. Ela se sente pequena e frágil diante da magnitude da situação, incapaz de conter as lágrimas que começam a brotar de seus olhos em cascata. Cada lágrima que cai é como um eco silencioso da devastação interna que ela enfrenta, uma representação física de sua dor e desespero. Enquanto isso, o tatuado a encarava com uma sensação de curiosidade crescente.
Ele viu o desespero estampado no olhar de Elisabette, e tudo que conseguia fazer naquele momento era observar em silêncio, ao mesmo tempo em que caminhava para perto dela. Seu olhar vagou até a figura mais alta do outro Supernova, que agora se dirigia para dentro do bar, deixando apenas os dois ali, do lado de fora, naquela madrugada fria que parecia demorar para o sol nascer e raiar no Arquipélago Sabaody.
- Vamos embora. - disse Trafalgar em um sussurro, logo notando o semblante indiferente da mais jovem parada ao seu lado.
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Não demorou muito para que retornassem à pousada e o Cirurgião conseguisse levá-la para seu quarto sem que a recepcionista do lugar notasse a platinada. O olhar dela era diferente do de antes, era inexpressivo e nem uma única vez ele a escutou falar ou rir durante o percurso do bar-restaurante até onde ele estava hospedado, o que achou estranho e levantou certa preocupação em seu subconsciente - embora nunca admitisse para si mesmo.
Em silêncio, os dois entraram no quarto, Law indo na frente e a mais nova entrando logo após, fechando a porta em seguida. Depois, ela caminhou em passos lentos e silenciosos até o canto que havia escolhido para deitar. Cansada e exausta, também sem se preocupar com suas feridas abertas que sangravam por debaixo dos curativos e faixas espalhados por seu corpo, ela apenas deitou-se no chão e ficou ali, calada, sentindo-se a mais miserável das pessoas. Ainda sentia dor em seus ferimentos que haviam aberto e também sentia o latejar dos hematomas recentes após ter se deixado levar pela raiva e brigado com Urouge, mesmo sabendo da delicadeza de seu estado atual depois do que havia acontecido com Kuma, os Pacifistas, Sentomaru e contra o Almirante Kizaru.
Trafalgar Law a encarava em silêncio, sentado em sua cama e ponderando se deveria manter as coisas como estavam ou se deveria arriscar perguntar se podia limpar os ferimentos dela novamente. Não que estivesse preocupado, mas sabia que seria pior se as feridas dela acabassem infeccionando por conta da sujeira ou se ela enfraquecesse novamente perdendo mais sangue do que quando foi baleada. Era irritante, ao ver dele, o quão quieta ela estava, o quão vulnerável ela aparentava ser naquele momento, quando há pouco tempo a garota de cabelos platinados havia lutado contra uma horda de fuzileiros navais, derrubado guardas de Dragões Celestiais e, agora, ele a via daquele jeito, deprimida e em um estado tão deplorável que chegava a lhe causar ódio.
Ele suspirou e então se levantou, caminhando até onde sua bolsa estava e retirando o kit de primeiros socorros que levava consigo para onde ia, para casos de emergência, e aquela em que Elisabette estava, sem dúvidas, acabara de se tornar um desses casos.
Quando o moreno tatuado ajoelhou-se ao seu lado, a birkan o olhou de canto - ainda em silêncio -, logo notando uma caixa pequena com uma Jolly Roger sorridente estampada nela. Eles permaneceram daquele jeito, apenas olhando um nos olhos do outro em silêncio. Ele, sem saber o que dizer; e ela, não querendo falar mais nada, cansada demais para formular frases e desgastada demais para querer conversar com ele.
- Eu vou limpar os seus ferimentos, depois você vai tomar banho para se limpar, e eu farei novos curativos em você. - Law disse, perfurando-a com seu olhar penetrante.
- 'Tô com sono. - ela retrucou. - Eu vou dormir e amanhã você me ajuda.
- Eu não estou pedindo, estou mandando.
- Apenas recebo ordens do meu capitão. - ela finalmente sentou-se no chão, ficando na direção dele e o encarando da mesma forma.
E era esse o motivo pelo qual Trafalgar a queria longe dele, longe de seus aposentos e o mais distante possível de onde quer que ele estivesse, por conta da maldita rebeldia que pessoas da idade dela costumavam ter e pela escolha que faziam de infernizar qualquer um que demonstrasse o mínimo de preocupação com a medíocre vida que tinham. Era nítido aos olhos dele que ela estava abatida com algo, contudo aquilo não era razão para ser uma maldita pirralha desobediente que quisesse bancar a durona quando era claro que precisava ser tratada naquele momento, ou então as coisas se tornariam piores, causando mais problemas a ele e, principalmente, para ela e ao seu bem-estar físico.
- Ô pirralha do bando do Chapéu de Palha, você precisa entender a gravidade dos seus ferimentos. Não é apenas uma questão de dor temporária; essas feridas podem se tornar sérias complicações se não forem tratadas adequadamente. - o maior falou, enquanto segurava com força moderada o pulso dela.
- Tudo bem! Tudo bem!
Law procedeu com habilidade ao retirar os curativos sujos que cobriam os ferimentos da mais nova. Cada movimento era preciso e delicado, demonstrando uma destreza adquirida ao longo de anos de prática médica. Ele não podia deixar de notar a expressão de dor no rosto da jovem enquanto trabalhava, seus músculos tensos e os olhos cerrados em uma tentativa de suportar o desconforto. Conforme os curativos eram removidos, revelando as feridas subjugadas, ele mantinha uma expressão séria e concentrada, totalmente focado em sua tarefa. A visão dos ferimentos expostos era repugnante, mas ele se recusava a permitir que suas emoções interferissem em seu trabalho, concentrando-se apenas em limpar cada ferida.
E ela suportava os desconfortos em silêncio enquanto o moreno tatuado limpava seus ferimentos. A sensação de suas mãos habilidosas tocando sua pele ferida era dolorosa, contudo ela se forçava a permanecer quieta, determinada a não mostrar fraqueza diante dele. Seus pensamentos giravam em torno da intensidade da dor e da gratidão por ele estar ali para ajudá-la. Enquanto ele trabalhava, ela tentava bloquear a sensação aguda de desconforto e se concentrar na sensação reconfortante de ter alguém cuidando dela.
Quando terminou, ele se levantou e a olhou de cima com o olhar estreito focado nos olhos azuis dela, que pareciam estar marejados. Silenciosamente, Law deu as costas e caminhou de volta para a sua cama, onde se sentou com as pernas cruzadas e os braços atrás da cabeça, apoiando-se na cabeceira e fechando os olhos para descansar, mesmo que fosse só um pouco.
- Agora vá tomar um banho para limpar todo esse sangue do seu rosto e das suas mãos, vou arranjar uma muda de roupas para você.
- Obrigada.
- Não foi uma boa ação. - rebateu, franzindo o cenho e a encarando de lado.
- Você só sabe dizer isso...
Elisabette deu de ombros e caminhou até o banheiro do quarto, entrando e trancando a porta. Em silêncio, ela encarou novamente seu reflexo no espelho, sentindo o peso das palavras de Urouge em sua mente, causando um forte tumulto emocional e uma dor intensa no peito, como se tudo o que ele havia dito fosse a mais pura verdade, e, entre nós, ela acreditava que sim.
Acreditava ser culpada pelos erros de seus pais, pensava que poderia ser tão ruim quanto eles, que era um fardo vivente enquanto as pessoas ainda sofriam pelas consequências dos erros cometidos por eles no passado. Sentia-se responsável por tudo: pelos gritos de medo, pelo choro clamando por misericórdia, pelo desespero no olhar dos Skypieans e dos Shandians, pelo sangue derramado e pela raiva que havia sido incutida no coração de seu povo.
✦ . ⋆ ˚ ☆
━━ Elisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫
Quando saí do banho, Trafalgar-san me entregou uma blusa e uma calça para vestir. Embora não gostasse desse tipo de roupa - prefiro vestidos e saias -, aceitei de bom grado e não demorei em vesti-las assim que ele fez os curativos em mim. Simplesmente me sentei no mesmo canto de antes, encolhida, abraçando minhas próprias pernas, olhando para o chão e pensando em tudo, absolutamente tudo o que já vivi. Pensei nos meus pais, pensei na minha mãe e lutei para lembrar, mesmo que fosse um único traço dela ou de sua personalidade. Pensei em meu pai e em nossos momentos juntos, desde os bons até os ruins. Pensei em Birka, no pouco que ainda me lembrava dela e, principalmente, em Skypiea.
E ainda tinha aquela carta... a carta que Gan Fall me enviou através de Urouge. É perturbador saber que nunca vou saber o conteúdo, que nunca conseguirei descobrir o que ele me escreveu, o porquê dele nunca ter dito nada e se, de fato, eu realmente sou sua neta.
Tudo aconteceu tão repentinamente, tão rapidamente, tão... inesperadamente. Minha mente está inundada por milhares de pensamentos e não consigo acompanhá-los, pois estão sendo mais rápidos do que consigo digerir. Se Freyja, minha mãe, era realmente filha daquele homem, por que ela esteve a favor do golpe contra sua soberania? Se ela era realmente sua filha, por que nunca me disse? O que aconteceu? Por que todas essas questões estão vindo à tona agora, quando não tenho como tirar minhas dúvidas pessoalmente com ele? E quanto ao meu pai, por que ele sempre foi um problema? Por que estou sendo uma repetição? Tudo isso está me corroendo e não tenho a quem recorrer.
Engoli em seco e retirei a carta de dentro da minha bolsa, percebendo-a um pouco manchada com meu sangue. Respirei fundo, olhando para Trafalgar-san em sua cama, quase dormindo... droga. Não queria ter que compartilhar minha vida com um desconhecido, nem mesmo com ele, apesar de ter me ajudado... ele ainda é um completo estranho. Mas sinto que, se não souber o que está escrito aqui, irei enlouquecer! Inferno... inferno! Desgraça! Caralho! Vou surtar.
- TRAFALGAR-SAN! - estava tão afoita que nem percebi quando gritei por ele sem mais nem menos.
- Se você fizer isso outra vez, vou lhe dar um bom motivo para gritar. - ele fechou o punho em formato de soco. - O que você quer agora!?
- Desculpe! - levantei-me e corri até ele, pulando em sua cama e sentando na beirada, o fazendo pular com o impacto do meu peso quando saltei sobre o colchão. - Eu realmente preciso de um favor seu! Por favor.
- Não.
- Por favor...
- Não.
- Por favor!
- Não.
- POR FAVOR! - mostrei a carta a ele e isso pareceu despertar algum interesse. - Eu só preciso que você leia... é tudo que peço.
Ele apenas me encarou como se fosse me agarrar a qualquer momento e me arremessar pela varanda para não ter mais que lidar com minha importunação. Então, tomou o envelope das minhas mãos, deu uma olhada no papel e finalmente o abriu. Leu em silêncio e arregalou os olhos em confusão... até que começou a ler em voz alta.
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