━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟭𝟯. 𝗨𝗺 𝗽𝗮𝘀𝘀𝗮𝗱𝗼 𝗾𝘂𝗲 𝗱𝗲𝘀𝗰𝗼𝗻𝗵𝗲𝗰̧𝗼.
━━ Upper Yard, Jardim Superior de Skypiea ; Memórias...
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫
Era um dia comum como qualquer outro; eu estava sozinha como sempre, descansando o corpo em uma nuvem densa enquanto olhava para o céu em silêncio, observando alguns pássaros voando e sentindo o calor do sol esquentar minha pele, deixando-a vermelha. A brisa da manhã refrescava meu corpo, apesar do leve calor que eu sentia. Eu ainda gostava de deitar e aproveitar o silêncio de um dia tranquilo e pacífico, o que há poucos anos havia se tornado frequente desde que meu pai havia tomado o Templo Sagrado para si.
Os únicos sons que eu podia escutar em momentos como aquele eram os que vinham de Upper Yard: os animais que habitavam ali, como lobos, south birds, insetos gigantes e as ondas do mar branco. Eram sons que se tornaram familiares para mim tão rapidamente que me era estranho pensar que, em determinado momento da minha vida, eu não tinha o costume de ouvi-los.
O conforto que eu sentia ao ficar sozinha em dias em que podia desfrutar um pouco do sossego e da minha própria companhia era suave, tão suave que eu poderia optar por ficar assim para sempre. Embora houvesse horas em que odiava isso, odiava a solidão e a falta de alguém para segurar na mão e passear, deitar no colo e ser consolada ou consolar, sentar ao seu lado e apenas conversar sobre o mundo em que vivemos. Conversar sobre o porquê das coisas, por que o céu é azul ou por que letras formam palavras e quais palavras elas formam nos livros e nas escrituras nas paredes dos escombros de Jaya.
Sempre que me pegava pensando nessas coisas, suspiros escapavam pelos meus lábios e um pouco da minha paz também. Escapava sempre, simples assim. Escorregava dos meus dedos sem que eu pudesse agarrá-la e nem o meu maior apelo a faria ficar, igual à minha mãe, que sequer conseguia lembrar como era seu rosto, sua voz ou nossa relação, se ela era uma boa mãe e se eu era uma boa filha. Depois que a perdi, minhas lembranças sobre ela antes do dia de sua morte simplesmente foram ofuscadas da minha memória, restando apenas fragmentos do que um dia fomos. Tudo que lembro é quando ela caiu de costas em meu colo, com uma espada atravessando seu peito e um borrão no rosto distorcido pela minha própria mente.
Eu sentia sua falta, é claro que sentia. Ela era minha mãe, e em algum momento da minha vida foi ela quem me pegou no colo e se tornou meu porto seguro. Em algum momento da minha infância, foi ela quem acalmou meu pranto e enxugou minhas lágrimas.
Agora, anos após sua morte, nem seu rosto eu conseguia lembrar. Não conseguia formular sua voz, o formato de sua face, o tamanho de seus olhos, a cor de seus lábios ou como ela andava e falava. Me via presa por horas pensando nela, no quanto a queria e no tanto que necessitava do seu colo, do seu abraço, de suas carícias. Estava atordoada com o quão desesperada estava pelo conforto do amor materno, mesmo que me visse na obrigação de reprimir e esconder o que sentia, do luto que ainda me consumia.
Entretanto, no fim, eu ainda tinha Enel, apesar de tudo eu ainda o tinha ao meu lado e por mais cruel que ele costumasse ser, ele ainda era o meu pai, o meu Deus. Sempre o terei, afinal de contas. Sempre seremos eu e ele, sempre poderei contar com ele porque... ele é Deus. Ele sempre, sempre, sempre me garantiu que, quando preciso, quando eu percebesse que não poderia lidar, eu poderia clamar por ele, que ele viria ao meu encontro, que ele iria me salvar, que ele iria me proteger e me acolher.
No entanto, é comum reconhecermos a veracidade das situações, não é mesmo? Sempre temos essa percepção. Identificar uma mentira não é uma tarefa complicada, pois enquanto a boca articula falsidades, os olhos e nossas ações revelam a verdade.
Em passos lentos, eu caminhava de volta para o templo ao anoitecer, com meu Mantra desativado e minhas asas descansando, permitindo-me sentir o solo sob meus pés. Refletia sobre minha vida, meu dia, sobre tudo, sem expressar nem metade do que gostaria. Quase sempre permanecia quieta e observadora, olhando ao redor, escutando tudo e todos, mas raramente sendo escutada.
Quando estava prestes a chegar, me deparei com uma mulher sentada de joelhos próxima à entrada, chorando desesperadamente, porém em silêncio. Confusa com a aparição repentina, me perguntei em silêncio quando ela havia chegado ali e, principalmente, por que ela estava desse jeito, tão desolada e em prantos. Não sabia quem era, tampouco o que queria, mas não consegui evitar me aproximar, mesmo que com receio e desconfiada de sua aparição e comportamento.
Logo pude notar, pelo formato de suas asas e pelas antenas em sua cabeça, que ela era uma residente de Skypiea. Olhei para ela; seu rosto ainda estava escondido entre as mãos, mas o vislumbre que tive de sua face foi suficiente para identificar que não era tão jovem, nem tão velha. Supus que poderia ter entre 25 e 30 anos. Sua pele era clara, seus cabelos possuíam uma coloração escura, com algumas mechas loiras na franja, e eram cacheados - tão cacheados como um bonito cacho de uvas. Suas vestimentas eram comuns, bastante simples, porém belas. A mulher usava um vestido preto, botas marrons e tinha uma bolsinha da mesma cor em volta da cintura.
- Quem é você e o que faz aqui? - perguntei, enfatizando minha voz para intimidação.
- Santa... - ela murmurou, retirando as mãos do rosto e me encarando com um olhar derrotado. - Eu... eu... me desculpe... já estou indo embora... - continuou choramingando enquanto limpava as lágrimas e o nariz escorrendo.
- Não quero saber se já está indo, quero saber quem é você e o que faz aqui.
- Meu nome... meu nome é... Vik Ophelia... - a mulher manteve o olhar em mim, ainda chorando.
- Vik Ophelia... - repeti comigo mesma, encarando-a com desdém. - O que a traz aqui? Imagino que saiba que é proibida a entrada de pessoas do seu tipo aqui, a não ser que... - arqueei uma sobrancelha. - Ah, veio implorar alguma coisa a Deus? - sorri.
- ...sim.
- Ah, é? O quê?
- Ele mandou eu me calar. Não posso falar. Me desculpe. Adeus! - a vi se levantando e arregalei os olhos ao ver um inchaço na área do seu ventre.
Antes que eu pudesse fazer qualquer pergunta ou falar algo, Ophelia passou correndo por mim sem dizer absolutamente nada. Apenas pude escutar o som de seu pranto desesperado desvanecendo-se à medida que sua figura se perdia na escuridão das árvores, afastando-se da entrada do Templo Sagrado onde, há poucos segundos, estávamos juntas. Fiquei parada, confusa e calada, segurando a respiração no peito enquanto meu coração disparava e implorava por fôlego. Eu estava estática, incapaz de fazer qualquer coisa além de encarar a direção para onde aquela mulher havia corrido até desaparecer da minha vista.
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━━ Arquipélago Sabaody, Grand Line ; próximo a Red Line.
Atualmente.
Eu estava comendo em silêncio. Talvez fosse a primeira vez em meses que eu estava de fato quieta e apenas aproveitando minha refeição, onde os únicos sons eram emitidos pelas pessoas ao meu redor. Trafalgar-san acabou não pedindo a torta que eu havia dito que queria, mas fiquei feliz por ele ter optado por um prato com o básico, que seria suficiente para saciar minha fome: bife e molho, com um copo cheio de suco. Enquanto ele comia o mesmo, contudo com uma exceção, ele estava bebendo um caneco de cerveja.
Ambos estávamos quietos, apenas aproveitando a refeição e trocando alguns olhares vez ou outra, o que já não era mais desconfortável para mim, e acredito que para ele também não. Eu gostaria de poder conversar mais, não gosto de ficar tanto tempo em silêncio, porém o barulho no bar era tão atordoante que eu nem conseguia pensar em como poderia puxar assunto com ele e ele... bem, ele não parecia ser do tipo que gosta de conversar.
Mastigando devagar para poder aproveitar o sabor, pude sentir a textura macia da carne e o gosto suave que tinha. O molho também era bom, tinha um gosto levemente adocicado e ao mesmo tempo salgado, aquilo que chamam de agridoce. Eu não podia negar ou mentir, a comida estava maravilhosa. Tinha um gosto tão familiar, como se eu pudesse sentir que era algo do qual eu estivesse acostumada a comer sempre. Um gosto bom que... eu poderia chamar de "gosto de casa"? Acho que este seja o termo correto. Pode não ter o gosto exato dos pratos que Sanji costuma preparar para os almoços e jantares no nosso navio, mas ainda assim era tão reconfortante comer daquela carne banhada por aquele molho que eu me sentia relaxada para me saciar em silêncio.
Por um momento, minha atenção desviou do prato em minha frente e fui atraída involuntariamente para um homem que passou ao meu lado, fazendo um contato visual rápido comigo. Levantei uma sobrancelha ao ver um sorriso de canto nos lábios vermelhos dele, o que me fez franzir o cenho imediatamente e voltar a focar minha concentração no que estava fazendo antes de me distrair: comer o que restava em meu prato até me sentir satisfeita.
Eustass "Capitão" Kid... Me surpreende que esse homem tenha uma recompensa maior que a do Luffy apenas por fazer muitas vítimas. Eu poderia dizer que isso é uma tremenda bobagem, porém... ora, somos piratas e quanto mais cruéis formos, maiores serão nossas recompensas. Então, bem, não devo ficar admirada que ele tenha um preço de 300 milhões de berries por sua cabeça. Confesso até mesmo que isso possa ser invejável. Fiz muitas coisas em Enies Lobby, briguei feio com Jabra e até mesmo tive um momento em que quase consegui derrotar Rob Lucci, apenas não foi possível porque, querendo ou não, aquele cara era ainda mais forte e resistente do que eu.
Aquele homem maldito conseguiu me entortar toda e ainda teve a audácia de dizer que pássaros são as presas favoritas dos felinos! Quantas vezes eu vou ter que explicar para as pessoas do mar azul que eu não sou um pássaro? Essa ignorância me irrita. Não sou um pássaro, sou uma pessoa. Eles não poderiam ao menos me confundir com a falsa imagem que criaram de anjos, peladinhos, pequeninos, gordinhos e com asinhas nas costas? Isso seria bem mais válido do que olhar para mim e perguntar que espécie de passarinho eu sou.
Respirei fundo e olhei para o prato vazio. Depois, encarei o pirata mais velho à minha frente, vendo que ele sequer havia tocado na comida e estava com uma expressão sombria encarando o alimento posto na mesa. Inclinei a cabeça para o lado confusa. Ele realmente parecia bravo, e confesso que, mesmo que por um momento, senti medo e receio de perguntar. Mas a curiosidade acabou falando mais alto, então, novamente, puxei o ar para os pulmões e bati as mãos com força na mesa.
- Por que não comeu? - perguntei e me arrependi no mesmo instante em que o olhar irritado de Trafalgar-san se direcionou ao meu rosto.
- Eu disse que não queria umeboshi¹ na minha refeição e eles colocaram mesmo assim.
- Hein? - franzi o cenho e uma gota de suor escorreu por minha testa. - Só por isso não vai comer? Por que não vai reclamar? Você está pagando, eles deveriam ser mais atentos!
- Deixa isso 'pra lá. - ele desviou os olhos dos meus. - Você quer?
- ...que mimado.
- O que você disse, sua pirralha?
- Eu resolvo isso, tudo bem? Digamos que vai ser minha forma de agradecer por você ter me "alimentado". - sorri e então me levantei da mesa.
Ele me olhou com desdém - como imaginei que faria -, entretanto não disse nada e apenas me seguiu com os olhos enquanto eu pegava o prato dele de cima da mesa e caminhava em direção ao balcão com um olhar sério e uma carranca se instalando na minha face. Nami sempre me disse que, se estou pagando por algo, é obrigatório que eu receba o que pedi e se erros forem cometidos, devo reclamar e, caso não arquem com as consequências, devo extorqui-los. E, bem, se esse for o caso, "vou tocar o puteiro nesse lugar", como o Franky costuma dizer sempre que vai causar alguma confusão.
- Com licença, mas ele disse "sem umeboshi". - falei enquanto apontava para o Trafalgar-san e encarava o barman com um olhar sombrio, sorrindo diabolicamente para ele.
- Desculpe! Não vamos cometer outro erro! - ele disse, e então colocou uma sacola de moedas em cima do balcão, empurrando em minha direção com um semblante assustado. - Pode ficar!
- Não, eu não quero isso. - o segurei pela gola da camisa. - Eu quero outro prato e, se possível, sem umeboshi!
- Minha nossa... sim, senhorita!
Não demorou muito para que ele me entregasse outro prato e novamente se desculpasse pelo ocorrido, o que apenas me arrancou um sorrisinho bobo e satisfeito, não tardando em voltar para a mesa em que eu estava com Trafalgar-san. Assim que me sentei em sua frente, empurrei o prato para ele, que evitou me olhar nos olhos e apenas murmurou alguma coisa que não consegui entender pelo barulho no bar, mas levei como um agradecimento e retribuí um sorriso largo.
Enquanto ele comia, simplesmente deitei a cabeça na mesa de madeira e fiquei observando ao redor, observando todos os presentes, prestando atenção na música que era tocada e sentindo os aromas da comida e da bebida impregnarem minhas narinas conforme o tempo passava lentamente. Se eu estivesse com meus companheiros, provavelmente estaríamos nos divertindo juntos. Luffy estaria comendo com Usopp e Chopper, Nami e Robin estariam bebendo em silêncio enquanto Sanji as cortejava, Brook provavelmente teria tomado posse de alguma mesa para si e estaria cantando para todos no bar, Franky, com certeza, estaria dançando para animar ainda mais a situação, e Zoro, sem dúvida alguma, estaria bebendo copos e mais copos de saquê, enquanto eu... estaria participando de todas essas atividades um pouco.
Bocejei. Já estava sentindo o sono pesar nos meus olhos e encarei o pirata mais velho de soslaio, vendo que ele ainda estava comendo e, irritantemente, muito devagar. Como ele consegue? Comer devagar só vai fazer a comida esfriar e perder todo o sabor de comê-la quentinha. Outro bocejo. Cocei os olhos e me encolhi onde estava, mais um pouco e eu acabaria adormecendo em cima da mesa.
Levantei-me e fitei Trafalgar-san assim que notei os olhos dele em mim quando fiz aquele movimento. Ficamos em silêncio, apenas nos encarando por alguns segundos. Não somos nada, nem mesmo amigos, e por mais que eu não sinta firmeza nele, não acho que eu possa confiar em outra pessoa nesse momento a não ser nele que, apesar de tudo, tem sido um tanto prestativo comigo... eu acho. Ele não fala tanto comigo, também não parece interessado no que tenho para dizer, então prefiro continuar assim, apenas em silêncio e, sinceramente, agradeço a Deus por momentos como esse - em que ficamos apenas calados - não sejam desconfortáveis ou constrangedores.
O olhar dele, de certa forma, ao mesmo tempo em que me sinto um pouco intimidada, também não consigo evitar de achar intrigante. Trafalgar Law está sempre calado na minha presença e não fala a não ser que seja realmente necessário, mas seus olhos frios e cansados já dizem muito por si. Odeio ser muito perceptível com as pessoas e com o que elas sentem em silêncio, sem dizer nada, apenas guardando. Sinto como se estivesse me intrometendo em suas vidas, todavia, é inevitável, assim dizendo.
- Vou ao banheiro.
- O toalete feminino é o que está escrito na cor vermelha. - ele falou, desviando seu olhar do meu para o seu prato.
- Obrigada! Se não tivesse mencionado, eu teria entrado no masculino sem querer... outra vez. - fiz um beicinho e uma gota de suor escorreu por minha testa.
- Você realmente não sabe ler?
- Nunca aprendi, mas estou aprendendo.
- Entendo.
Eu não disse mais nada; um sorriso foi o suficiente para mostrar minha gratidão pelo aviso. Mesmo que, para ele, não fosse grande coisa, para mim era algo realmente importante. Inicialmente, ler nunca foi algo que fez falta na minha vida, e por isso não procurei aprender. Então, vivi sem isso por muitos anos até o momento em que cheguei ao mar azul e revelei à Robin que não sabia. Ela, indignada, não pensou duas vezes antes de se oferecer para me ensinar nos nossos momentos livres, e claro, eu aceitei a oferta com muito bom grado e feliz pelo aprendizado que ela queria me fornecer sem cobrar nada em troca.
Finalmente me afastando dele, comecei a caminhar em direção ao banheiro calmamente. O bar estava cheio, por isso acabei esbarrando em algumas pessoas algumas vezes enquanto andava. Pisaram no meu pé, me deram empurrões, acertaram cotoveladas no meu rosto, na minha testa, no meu estômago, e tudo isso apenas para chegar ao banheiro. Que terror... bares parecem ser piores que o Sunny quando fazemos festinhas.
Assim que cheguei ao toalete feminino, notei que era bem arrumado para um banheiro de bar. Um sorriso se formou nos meus lábios e então me olhei no espelho, que estava com algumas rachaduras e sujo de poeira e... céus, quero nem pensar no que é esse líquido amarelo escorrendo na parede. Balancei a cabeça para mandar tais pensamentos assombrosos embora e voltei a encarar meu reflexo, vendo o quão cansada eu estava. Dei uma risada sincera com isso, fazia um tempo que eu não me via assim, com os olhos caindo de tanto sono.
Liguei a torneira e enchi as mãos com água, jogando um pouco em meu rosto para molhar minha face e me deixar alerta. A água fria, assim que entrou em contato com minha pele quente, provocou um choque térmico por todo o meu corpo, fazendo-me sentir um arrepio percorrer minha espinha e meus pelos se arrepiarem.
Eu gostava de como a água do mar azul sempre era fria e refrescante, diferente das águas do mar branco, que tinham uma temperatura um pouco morna, mas eram perfeitas para tomar um bom banho relaxante antes de deitar para dormir, apesar de eu sempre ter tido preferência por banhos gelados.
Passei as mãos pelos meus cabelos, jogando minha franja para trás, e meus olhos imediatamente miraram o curativo que antes estava oculto por detrás das mechas platinadas. O Pacifista conseguiu me deixar toda machucada, com muitas ataduras espalhadas por todo o meu corpo, porém a que mais me preocupa é a do quadril... provavelmente vai resultar em uma cicatriz considerável. Isso afeta um pouco minha autoestima, contudo prefiro lidar com uma cicatriz do que com uma lápide com meu nome.
Um suspiro escapou de meus lábios e então dei as costas para o espelho, andando para fora do banheiro. Assim que coloquei os pés no bar novamente, meu olhar se cruzou com o de uma pessoa que havia acabado de passar pela porta de entrada do estabelecimento. Urouge! O que esse velho faz aqui? Ou melhor, por que há tantas pessoas nesse bar? Isso são horas para estar bebendo? Devido ao tempo em que estamos aqui, já deviam ser, no mínimo, duas ou três da manhã.
Urouge estava da mesma forma que sempre, me olhando como sempre me olhou: com ódio e desprezo. Franzi o cenho e apertei os punhos com força enquanto ainda nos encarávamos. Eu podia sentir a tensão entre nós dois se espalhando pelo ambiente, mesmo que fosse notada apenas por nós dois. Minha vontade era de avançar nele, arrancar sua cabeça e quebrar seu crânio em vários pedaços, e sabia que ele nutria um desejo igual ao meu, uma vez que nosso ódio é recíproco. Ele me odeia por ser filha de Enel, e eu o odeio por ter matado minha mãe... mesmo que, no fundo, eu saiba que a culpa foi minha. Afinal, se ela não tivesse me salvado, estaria viva e com meu pai, e eles estariam felizes juntos.
Discretamente, ele fez um sinal para que eu fosse ao seu encontro e então saiu novamente do bar, deixando apenas alguns de seus subordinados entrarem e logo eles ocuparam uma mesa, se enturmando no meio do barulho do ambiente.
Eu não vou segui-lo, claramente é uma armadilha... não é? De qualquer forma, vou lá.
Em silêncio, passei pelo meio de todos em passos rápidos, me espremendo para passar por alguns homens exageradamente altos e músculosos que estavam no meu caminho. O fedor de suor subiu pelo meu nariz e precisei fazer um grande esforço para não desmaiar ou vomitar com aquilo, lembrando-me imediatamente de Zoro quando sai da cabine de treinamento e caminha pelo navio como se o seu odor insuportável não fosse capaz de asfixiar qualquer um por onde passasse.
Saí do bar, o ruído ensurdecedor do ambiente ficando para trás enquanto eu adentrava a calçada iluminada pela fraca luz dos postes. A brisa noturna agitava meus cabelos e o ar gélido cortava minha pele, mas era o encontro inesperado com Urouge do lado de fora que gelava meu sangue. Seu semblante sério e imperturbável, combinado com aquele olhar sombrio que parecia penetrar minha alma, causava um arrepio incontrolável em minha espinha. Mesmo sob a escuridão da noite, sua presença imponente era inegável, destacando-se como uma figura intimidadora e ameaçadora. Eu tentava manter a compostura, mas a tensão no ar era palpável, como se estivéssemos à beira de um confronto inevitável. Cada passo que eu dava em direção a ele era como atravessar um campo minado, consciente de que uma palavra errada ou um gesto em falso poderia desencadear uma série de eventos irreversíveis.
- Obediente como sempre, Elisabette? - ele disse, com um sorriso se formando em seu rosto.
- A você com certeza não. - respondi e sorri também. - O que você quer? - perguntei sem rodeios.
- Que fedelha rebelde... isso não é jeito de tratar os mais velhos, sabe? Ou seu pai só se ocupava em te eletrocutar ao invés de educá-la com decência?
- Cala essa boca! - gritei, já estava perdendo a paciência e isso era raro. - Diga logo o que quer, não tenho a noite toda.
Sem dizer nada, ele apenas enfiou a mão dentro de seu manto e retirou um envelope lacrado com um carimbo que eu conhecia bem: o símbolo de Skypiea, da nossa bandeira. Arqueei uma sobrancelha quando ele jogou o envelope na minha direção e imediatamente agarrei, olhando na frente e no verso, confusa por não entender de quem era e desconfiada pelo gesto aparentemente amigável daquele homem que sempre me odiou, assim como eu sempre o odiei.
- É uma mensagem do seu avô para você.
- Avô!? - arregalei os olhos. - Que avô? E como você conseguiu receber uma carta de Skypiea?
- Quase 17 anos de idade e ainda é burra desse jeito, me admira que esteja viva depois de sair de debaixo dos braços do seu pai. - Urouge respondeu com rispidez, quase rosnando de raiva.
- Dane-se! Diga de uma vez, que avô?
- Gan Fall é seu avô, Elisabette.
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tmnc mlk com 1.90 de altura fazendo birra por causa de tomatinho pqppppp
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