
━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟭𝟮. 𝗖𝗼𝗻𝘃𝗶𝘃𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮 𝗲𝗻𝘁𝗿𝗲 𝗽𝗶𝗿𝗮𝘁𝗮𝘀.
━━ Arquipélago Sabaody, Grand Line ; próximo a Red Line.
ᘡTrafalgar Law, Cirurgião da Morte. ❪O ponto de vista dele❫
Olhei para o relógio de parede pendurado acima da minha cama e vi que marcava exatamente uma e trinta da manhã. Eu não conseguia dormir, por mais cansado que estivesse me sentindo. A maldita garota também não parecia conseguir pegar no sono, mas pelo menos estava quieta no canto, distraída com um caracol-comunicador bebê. Isso me fez respirar aliviado, pois, apesar do incômodo de dividir meu quarto com uma fedelha, pelo menos a presença dela era sossegada e tranquila, bem diferente do que eu esperava que fosse ser.
Vez ou outra, percebia que ela sussurrava algumas coisas para o pequeno molusco em suas mãos, e não ficaria surpreso se estivesse conversando com ele. Também não seria novidade se a pirralha do bando do Chapéu de Palha estivesse optando por tentar se comunicar com aquele animal, sendo que já a cortei todas as vezes em que tentou falar comigo.
Ela estava deitada de bruços sobre o casaco de penas pretas que usava quando chegou aqui e continuava vestindo as mesmas roupas. Acredito que todas as mudas que ela tenha estejam no seu navio. As asas dela batiam algumas vezes e, sempre que isso acontecia, elas soltavam penugem que aos poucos formava alguns montinhos ao redor dela. Nesse momento, realmente agradeço por não ser alérgico a penas, caso contrário essa peste nem estaria aqui.
Fiquei a encarando pelo canto dos olhos por um tempo, observando seu corpo e vendo o estado em que estava. Felizmente, a recuperação de Elisabette era rápida, e não seria intrigante se, na manhã seguinte, ela conseguisse voar normalmente ou andar sem mancar. Embora ainda esteja verdadeiramente curioso e interessado no coração dela, ainda me pergunto como seria tê-lo em minhas mãos e estudá-lo para saber mais sobre como funcionam as ondas de eletricidade que ele emana, e também como ela é capaz de se reanimar com eletropulso mesmo depois de morta. O que sei sobre algumas Akuma no Mi é que há sim uma que produz eletricidade, a fruta do trovão, Goro Goro no Mi, contudo é um fruto do diabo do qual não se ouve falar há anos.
Todavia, quando a examinei novamente, não encontrei nada no sangue dela que indicasse alguma alteração relacionada a tais poderes. Caso ela realmente fosse usuária de um fruto do tipo logia, a bala não teria a atravessado e feito todo aquele estrago no quadril dela. Convenhamos, se ela não tivesse retirado a bala - mesmo que sozinha -, o sangramento poderia não ter se intensificado, mas ela morreria pela infecção.
Por fim, levantei da minha cama e caminhei até onde estava uma bolsa com alguns dos meus pertences, retirando uma caixa de cigarros e pegando um junto com um isqueiro. Notei o olhar curioso da menina para os objetos em minhas mãos, era quase como se ela estivesse implorando para que eu desse atenção a ela. Eu podia não ser um especialista em sentimentos ou entender como uma pessoa da idade dela realmente funciona, mas não era preciso ser um gênio para perceber que ela estava entediada e agitada.
Fiquei um tempo a encarando em silêncio, com os olhos estreitos e fixos no olhar azulado da garota mais nova; logo pude perceber algumas coisas que não havia percebido antes.
Os lábios dela aparentavam estar ressecados, como se há horas ela estivesse desidratada. Seus olhos também estavam fundos e sua pele um pouco mais pálida do que anteriormente. Há quanto tempo ela não se alimenta ou se hidrata? Bepo havia preparado uma marmita para ela, entretanto sequer cheguei a entregar a ela, pois quando ia, ela já tinha ido para o outro mangue. Parando para pensar, acredito que ela não comeu ou bebeu nada desde o momento em que foi separada dos seus companheiros de tripulação e, vendo o jeito que ela tem agido nas últimas horas, provavelmente não sabe se virar estando completamente sozinha. Que maravilha, além de ceder um canto no meu quarto para ela dormir, também vou servir de médico particular.
- Você quer comer alguma coisa? - perguntei com a voz ríspida, ainda mantendo meu olhar no rosto dela.
- Pão.
- Então morra de fome.
- QUE HORROR! - a pirralha franziu o cenho e me olhou horrorizada.
- Não pode ser outra coisa?
- Torta! - ela sorriu. - Obrigada.
- Não foi uma boa ação. Apenas não quero acordar com um cadáver no meu quarto de uma pivete que morreu de fome.
- Não diga coisas assim!
Respirei fundo com o que ela disse e pude ter certeza de que, assim que me virei de costas, ela riu da minha frustração em ter que aturá-la. Eu não a odeio, apenas a situação em que ela me colocou. A maldita praticamente conseguiu me comprar um espaço no meu quarto. Suspirei e a encarei por cima dos ombros, vendo-a se levantar e pegar o casaco do chão, vestindo-o e caminhando até mim com um sorriso presunçoso no rosto.
- O cozinheiro do nosso bando não me deixa comer doces depois da meia-noite, ele diz que faz mal. - a garota comentou enquanto passava por mim e caminhava em direção à porta.
- Realmente não é recomendado dar açúcar a crianças em fase de crescimento. - falei com zombaria, puxando-a pelo ombro para tirá-la da frente da porta e a abri, dando espaço para que ela fosse para o lado de fora.
- Esse é um jeito muito rude de tratar uma dama.
- Vamos logo, ô pirralha do bando do Chapéu de Palha. - puxei-a pelo braço e saímos do quarto, indo direto para o corredor da pousada.
Ela saiu andando na minha frente e falando coisas das quais eu não tinha um pingo de paciência para ouvir. Tranquei a passagem atrás de mim e guardei as chaves no bolso da calça, depois a segui em passos lentos. Não havia me preocupado em levar Kikoku comigo, assim como a garota também não parecia estar preocupada em levar sua foice consigo. Imagino que os pensamentos dela sobre ir apenas comer e retornar sem causar nenhum transtorno sejam os mesmos que os meus, porque assim como ela, também sou um pirata procurado, embora ela ainda esteja na mira da Marinha pelo que aconteceu com os outros chapéus de palha.
A fedelha falava algumas asneiras e me perguntava outras bobagens, às quais eu respondia apenas para que ela calasse logo a boca - o que não acontecia - enquanto ainda caminhávamos pelo corredor da pousada. Passamos pela recepção, comigo avisando que ia sair e retornaria em breve, logo nos retirando do estabelecimento e encarando as ruas do Arquipélago Sabaody.
Tomei a liderança em nossa caminhada ao agarrá-la pelo braço e colocá-la atrás de mim, recebendo alguns resmungos como reclamação, e revirei os olhos. Adolescentes nessa idade me tiram do sério, e eu nem convivi com tantos assim, nem mesmo com Buffalo ou Baby 5; tampouco Bepo era um adolescente insuportável... na verdade, ele sempre teve comportamentos infantis, mas nunca foi algo que me incomodou de verdade. Confesso que na maioria das vezes ele é... fofo.
✦ . ⋆ ˚ ☆
━━ ᘡNarrador. ; ❪O ponto de vista do Leitor❫
Apesar do horário, as ruas dos manguezais por onde passavam estavam animadas, seja pelos residentes do arquipélago ou pelos visitantes que entravam e saíam das lojas ou bares espalhados pelos mangues. O Cirurgião da Morte andava em passos vagarosos e lentos, vez ou outra dando uma olhada para trás para se certificar de que Elisabette ainda o seguia. Para sua infelicidade, ela permanecia atrás dele, rindo e falando coisas aleatórias sobre bobagens que descobrira desde que saiu das Ilhas do Céu, fato este que ela não havia chegado a citar, e o próprio ainda não havia tido confirmação sobre a origem da garota de cabelos platinados. Ele tentava ignorá-la, porém era difícil, uma vez que sua voz - apesar de suave - era alta o bastante para fazê-lo suspirar em revolta.
Os pensamentos da birkan iam desde a saudade que sentia de seus companheiros até o momento em que estavam, onde ela desfrutava da companhia quase ausente de Trafalgar Law, ou Trafalgar-san, como ela passou a chamá-lo desde que passou a ter uma certa consideração pelo rapaz mais velho desde que ele, supostamente, a "salvou".
As asas dela estavam escondidas novamente por seu casaco de penas pretas, mas seu rosto e cabelos estavam expostos. Também não havia levado consigo Inazuma, pois acreditava que tudo ficaria bem e retornaria à pousada sem causar nenhum conflito. Mas caso ocorresse algum imprevisto, lutaria no mano a mano, sem o uso de sua arma. Afinal, ela tinha plena consciência de que não era dependente da foice elétrica para se defender e lutar.
Por um momento, ainda andando atrás de Law, a platinada olhou para o céu, encarando a lua imediatamente. "Você realmente está aí?", ela pensou consigo mesma enquanto observava o astro noturno que brilhava na noite estrelada. Seu semblante era sereno e terno, quase deprimido pelas lembranças da vida que um dia teve ao lado de seu pai quando ainda vivia em Skypiea. Seus olhos azuis cintilavam com o reflexo da luz da lua e das estrelas em suas orbes, que pareciam mais brilhantes que o normal. Elisabette sempre se via nesse estado nas poucas vezes em que tinha coragem de encarar a escuridão da noite e observar o satélite natural, que por muitos anos chamou pelo nome de "Fairy Vearth, a Terra Sem Fim".
Não gostava de pensar nele, não suportava lembrar do seu pai em momentos em que deveria estar feliz, no entanto... cada dia que passava se tornava difícil viver e não ter lembranças de Enel vindo à tona em suas memórias. Seja na hora de dormir, ao acordar, ao se banhar, ao comer ou quando está apenas de bobeira com seus companheiros, tudo que fazia lhe arrancava recordações do tempo em que vivia com aquele homem.
O coração dela pesou, sua respiração travou, e ela engasgou com a vontade de chorar surgindo e a fazendo cessar os passos para tentar se recompor. "Chorar é coisa de criança", ela repetiu isso para si mesma inúmeras vezes em silêncio enquanto encarava o chão e via a sombra do pirata mais velho sumir de sua frente, agradecendo mentalmente por ele não ter se virado para conferir como ela estava. Odiaria que ele a visse novamente em um estado humilhante, antes desmaiada e ferida, agora à beira de um colapso mental por não conseguir mais guardar todas as suas mágoas sem deixá-las sair.
Conseguindo se recompor rapidamente, a garota de cabelos platinados voltou a caminhar atrás de Trafalgar, que há pouco tempo já deixara de averiguá-la quando se deu conta de que ela iria segui-lo mesmo que ele fosse para debaixo de uma pedra.
O silêncio entre eles não era desconfortável; pelo contrário, era tranquilo e terno. Elisabette estava com sono; entretanto, estava ansiosa demais para conseguir dormir. Também faziam horas desde que ela havia se alimentado ou bebido algo. Ela estava faminta e sedenta, mas não ousou confessar isso ao mais velho. Não queria perturbá-lo ainda mais e agradeceu quando ele praticamente lhe ofereceu a chance de poder comer depois de tanto tempo de estômago vazio.
Inconscientemente, mesmo com poucas horas de convivência, a birkan já havia se acostumado com a presença do Cirurgião da Morte, apesar dos olhares de desdém ou da indiferença com que ele a tratava. Ela não diria a ele, mas estava gostando de interagir com outra pessoa que não fossem seus companheiros do bando.
Law parou de andar e virou-se para encará-la. A garota não disse nada, apenas sorriu como se dissesse "ainda estou aqui" e então suspirou, girando nos calcanhares e voltando a caminhar em direção a algum bar-restaurante que não estivesse cheio e, de preferência, com nenhum soldado da Marinha dentro ou qualquer idiota caçador de recompensas que os reconhecesse e tentasse capturá-los, assim tirando o pouco do sossego que o capitão dos Piratas de Copas ainda tinha.
- Você veio de onde? - ela quebrou o silêncio com sua pergunta inesperada, dando um passo largo para chegar ao lado dele para caminharem lado a lado.
- North Blue.
- Oh, por isso você fala diferente. - a garota sorriu novamente, o fazendo revirar os olhos e suspirar.
- E você? - o maior perguntou de volta, encarando-a pelo canto de seus olhos acinzentados e cansados.
- De lá! - Elisabette apontou o dedo indicador para o céu.
- Do céu? - ele arqueou uma sobrancelha. - Sei. - ironizou.
Ela não entendeu a ironia na fala dele, dificilmente entendia quando as pessoas eram sarcásticas e irônicas consigo, então facilmente acabava sendo feita de boba. Foram anos vivendo isolada numa floresta, cujo seu único objetivo era protegê-la, e suas interações com pessoas de sua idade só vieram quando saiu das Ilhas do Céu e veio para o mar azul no navio dos chapéus de palha.
Elisabette voltou a caminhar ao lado dele, falando sobre coisas aleatórias, e ele apenas desistiu de tentar ignorar e cedeu às histórias da menor, respondendo vez ou outra com alguns murmúrios. De alguma coisa o homem tatuado tinha certeza: dar açúcar para ela iria piorar a situação e deixá-la ainda mais agitada, seria melhor optar por um prato de comida ao invés de uma torta, como a própria havia dito que queria. Law a olhou de canto e a viu rindo de alguma coisa e dizendo outras, balançando as mãos, gesticulando com os dedos, apontando para ele, depois para outra direção, rindo e rindo. Olhando para o rosto da mais nova, ele franziu o cenho ao imaginá-los como um gato sonolento querendo dormir e um pássaro pequeno pulando em sua cabeça enquanto cantava alto.
"Muito barulhenta", o moreno pensou consigo mesmo e desviou sua atenção da figura feminina ao seu lado, agora levando o olhar até um bar não muito longe de onde estavam. Segundo os cálculos do Cirurgião da Morte, não levaria mais de 10 minutos para chegarem ao estabelecimento que parecia não estar muito cheio, e isso significava que logo teria momentos de silêncio quando ela se calasse para comer e ele poderia desfrutar de um pouco de sossego mesmo na presença daquela maldita pirralha.
No instante em que entraram no bar-restaurante, a primeira reação da platinada foi agarrar o braço de Trafalgar e se encolher ao lado dele no momento em que ambos notaram que havia sim bastante gente naquele local.
Ele arqueou uma sobrancelha e a olhou de cima, pelo canto dos olhos, com um olhar carregado de julgamentos pelo repentino comportamento infantil que Elisabette acabara de ter. Há poucos segundos, ela estava agitada como uma criança hiperativa ao ganhar um brinquedo novo e agora estava ali, encolhida ao seu lado e quase escondida em suas costas, encarando as pessoas no bar com desconfiança e algo que ele identificou como vergonha ou medo. Nem o próprio Law foi capaz de entender o que se passava na cabeça da menina naquela hora.
- Tem muita gente aqui... vamos embora. - a mais nova disse, girando nos calcanhares e dando um passo para fora, mas foi puxada pelo braço.
- Não. Vamos comer aqui.
- Que crueldade! - reclamou enquanto fazia um beicinho. - Você é muito grosso.
- Escuta, ô pirralha do bando do Chapéu de Palha, nós vamos comer aqui e voltar para a pousada ou você vai dormir com fome. - ele deu o ultimato, a fazendo franzir o cenho e suspirar pela derrota.
- Desgraça!
Entrando no bar, os dois piratas foram direto ao balcão para pedir algo para comer. A garota de cabelos platinados abriu a boca para falar que queria torta, porém o maior interveio com uma de suas mãos agarrando os lábios dela em um bico, a impedindo de proferir qualquer palavra. "Que abuso!", ela o xingou mentalmente enquanto ele permanecia com a mão calando-a para que não dissesse nada. Trafalgar Law encarou o barman com seu olhar habitual - estoico e intimidante -, ao passo que o homem por trás do balcão apenas engoliu em seco ao reconhecê-lo dos cartazes de procurado espalhados tanto pelo Arquipélago Sabaody, quanto por outras regiões da Grand Line.
De fato, a fama daquele rapaz cheio de tatuagens e olhar penetrante não era das melhores, seja pelos seus feitos como pirata ou por sua afiliação com os Piratas Donquixote. Para alguns, sua fama era invejável, já para outros, ele era apenas mais um que seria esquecido em breve quando a próxima geração chegasse.
Elisabette estava alheia aos olhares assustados; seu foco no momento era sua barriga que roncava de fome e seus rins que imploravam por míseras gotas d'água. Ela afastou a mão de Law de seus lábios e se distanciou um pouco dele, com os braços cruzados e um olhar de desdém que lançava a todos ali, desde outros piratas até alguns civis. Em passos apressados, acompanhados por seu pouco pé manco, ela caminhou até uma mesa afastada das outras, com uma janela ao lado, sentando-se ali e esperando pelo maior que a acompanhava.
Quando se sentou, os olhares de alguns homens presentes no bar a seguiram até o momento em que chegou à mesa e ficou ali. Ela notou que estava sendo observada, mas não viu malícia, apenas acreditava que havia sido reconhecida por ser quem era e, embora esse fosse um dos motivos, o buraco era ainda mais profundo do que apenas ter sido reconhecida como "O Anjo da Morte".
Não era preciso que ela estivesse sem seu casaco de penas pretas cobrindo seu corpo para que fosse notável as suas pequenas curvas e seios fartos mesmo com pouca idade, e querendo ou não, isso era algo que chamava a atenção. Elisabette sentiu-se incomodada com tantos homens mais velhos e desconhecidos a encarando daquele jeito, a deixando confusa e até mesmo assustada por não saber o que esperar. Imediatamente ativou o seu Mantra e ficou atenta a cada mínimo movimento ao seu redor, encolhendo-se na mesa e quase sumindo em meio às plumas negras que usava.
Ao sentar-se na cadeira em frente à mais jovem, foi possível para Law notar o desconforto nítido na expressão da garota de cabelos platinados que estava sentada com ele. De imediato, ele achou estranho e não entendeu, mas ao olhar em volta, estreitou os olhos ao perceber a forma como aqueles porcos imundos a encaravam.
Por mais que não se importasse com ela e seus laços fossem mais parte de um acordo do que uma amizade em si, ele não conseguiu evitar que a raiva transparecesse em sua face e uma veia saltasse em sua testa coberta pelo gorro. Ele os encarou de volta com um olhar ameaçador, que foi o bastante para afastar a atenção dos homens da platinada. Elisabette notou e o olhou nos olhos com um misto de medo e pânico, resultado do que acabara de passar. Um sorriso curto formou-se nos lábios rosados dela, que rapidamente se recompôs e sentou-se adequadamente.
- Devem ter me reconhecido dos meus cartazes de procurada.
- Não acho que era por isso que estavam olhando para você, ô pirralha.
- Eh? - ela arqueou uma sobrancelha e franziu o cenho. ‐ Então por quê?
- Por nada, esquece.
Os dois piratas se encararam, cada um olhando nos olhos do outro, ambos com os cenhos franzidos enquanto o silêncio entre eles voltava a predominar. Elisabette ressentia a maneira como Trafalgar a tratava, como se ela fosse inferior a ele ou não passasse de uma fedelha problemática. De fato, a diferença de idade entre eles era considerável, porém, ela questionava se era realmente necessário esse tipo de tratamento, especialmente quando ela demonstrava ser tão resiliente quanto ele. Um suspiro escapou de seus lábios enquanto ela apoiava os cotovelos na mesa, segurando o queixo com as mãos e desviava o olhar do rosto do moreno em sua frente, demonstrando um semblante tedioso, enquanto observava o ambiente do bar ao seu redor.
- Que demora... - ela murmurou, fazendo um beicinho.
- Não faz nem 15 minutos que fiz o nosso pedido.
- "Nosso pedido"? Você também vai comer?
- Vou. - ele deu de ombros.
- Achei que você não gostasse de comer! - a garota de cabelos platinados o encarou de cima abaixo. - Você é tão magrinho.
- Isso é genética.
A mais nova ficou em silêncio novamente, olhando para ele com um sorriso bobo e estúpido. "Por que ela me encara assim?", ele perguntava a si mesmo sempre que se deparava com aquele olhar ingênuo e tonto da garota.
Ao parar de olhá-la, do outro lado do bar, Trafalgar percebeu alguns rostos conhecidos que o fizeram respirar fundo e revirar os olhos ao sentir o odor forte e sufocante de problema que aquele grupo de pessoas espalhadas pelas mesas irradiava. Eustass "Capitão" Kid e alguns de seus companheiros, Scratchmen Apoo e Hawkins, os dois também com parte de suas tripulações. Por muita sorte, não haviam notado a sua presença e a de Elisabette, caso contrário poderia ser um problema, uma vez que ele não sabia quais poderiam ser suas reações ao vê-lo com uma garota que estava na mira da Marinha e sendo tratada como prioridade.
A platinada os viu também, mas ignorou e começou a batucar os dedos na mesa de madeira, ansiosa pela comida e sentindo-se delirar de fome enquanto encarava o esmalte branco de suas unhas com aparência desgastada, a fazendo suspirar de frustração e encarar Law com raiva, que fez o mesmo.
- Pode pintar minhas unhas?
- Não.
- Por que? - ela levantou e apoiou as mãos na mesa, inclinando-se para frente e quase ficando em cima do mais velho.
- Sente-se direito. A comida está vindo. - o Cirurgião da Morte disse em um tom ríspido que foi o suficiente para fazê-la se acomodar novamente.
Assim que escutou o anúncio dado por Trafalgar Law, os olhos azuis de Elisabette brilharam como duas safiras postas contra a luz do sol. Seu estômago roncou alto só de imaginar um bom prato cheio para saciar sua fome depois de horas sem comer nada, e isso a fez salivar e delirar. No entanto, sua felicidade não durou muito ao lembrar de seu capitão. Como ele estaria? Será que estava com fome? Luffy adorava comer, principalmente carne... ela se sentiu preocupada com o bem-estar dele, mas também com o de seus outros amigos, principalmente Chopper, que era tão indefeso quando assustado. Ela deitou a cabeça na mesa e encarou o chão com tristeza.
- Estou com saudades deles... - a menor sussurrou.
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