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❝ 𝐈𝐝𝐞𝐢𝐚𝐬 𝐩𝐞𝐥𝐨 𝐡𝐨𝐦𝐞𝐦, 𝐞 𝐬𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐞𝐬𝐭𝐚𝐬 𝐝𝐮𝐫𝐚𝐫𝐚̃𝐨
𝐀𝐨 𝐥𝐨𝐧𝐠𝐨 𝐝𝐨 𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨, 𝐚𝐩𝐫𝐞𝐧𝐝𝐞𝐦𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐩𝐚𝐬𝐬𝐚𝐝𝐨
𝐐𝐮𝐞 𝐡𝐨𝐦𝐞𝐦 𝐧𝐞𝐧𝐡𝐮𝐦 𝐞́ 𝐚𝐩𝐭𝐨 𝐚 𝐠𝐨𝐯𝐞𝐫𝐧𝐚𝐫 𝐨 𝐦𝐮𝐧𝐝𝐨 𝐬𝐨𝐳𝐢𝐧𝐡𝐨
𝐎 𝐡𝐨𝐦𝐞𝐦 𝐦𝐨𝐫𝐫𝐞𝐫𝐚́, 𝐦𝐚𝐬 𝐧𝐚̃𝐨 𝐬𝐮𝐚𝐬 𝐢𝐝𝐞𝐢𝐚𝐬 ❞

𝙷𝚊𝚙𝚙𝚢 𝙽𝚊𝚝𝚒𝚘𝚗 - 𝙰𝚌𝚎 𝚘𝚏 𝙱𝚊𝚜𝚎
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━━ Arquipélago Sabaody, Grand Line ; próximo a Red Line.
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫

Por mais machucada que eu estivesse, após uma longa noite de sono e os medicamentos que Trafalgar-san me deu, eu estava disposta o suficiente para sair daquele quarto e ir diretamente para onde eu queria: o Mangue #1, onde ficava a casa de leilões. Eu lembrava bem o caminho, não seria difícil chegar até lá, eu só precisava me manter com o rosto e as asas escondidos para não ser reconhecida, tinha conhecimento de que, mesmo que descansada e medicada, não tinha forças suficientes para lutar. Querendo ou não, eu precisava ser cautelosa e executar meu plano com maestria para não me apontarem como a pessoa que o cometeu. E meu plano era... destruir aquele mangue inteiro, sem deixar sobrar nada.

Sou grata àquele homem por toda a ajuda que ele me forneceu sem pedir nada em troca - o que me levantou muita desconfiança -, mas não posso ficar nem mais um minuto parada, não agora que sei como funcionam os poderes da fruta da patinha... agora sei que em alguns dias irei reencontrar meus companheiros novamente.

Coloquei um pano preto sobre minha cabeça de forma a esconder meu rosto e meus cabelos; também vesti meu casaco para ocultar minhas asas e o restante do meu corpo. Após isso, pulei da varanda do quarto onde estava e pousei no chão, sentindo um pouco de fraqueza, contudo não me deixei levar por isso e me pus de pé imediatamente. Olhei ao redor e as pessoas ainda pareciam um pouco agitadas pelo que havia acontecido no dia anterior; também havia alguns marinheiros, no entanto, não era com eles que eu iria me preocupar.

Dei uma última olhada para a varanda do quarto da pousada onde havia passado a noite, provavelmente sob os cuidados de Trafalgar-san e sua tripulação. Suspirei e cruzei os braços, não consegui evitar sentir um pouco de peso na consciência. Quer dizer, ele me ajudou e eu vou simplesmente embora sem agradecer? É, eu vou. Sou pirata! Piratas agradecem? Nem sempre, eu acho. Bem, se eu encontrá-lo novamente, eu agradeço.

Meu único receio neste momento é ter o azar de encontrar o Almirante Kizaru novamente, um Pacifista ou, na pior das hipóteses, o Shichibukai Bartholomew Kuma. Se me deparar com algum deles, duvido que saia viva ou tenha a sorte de fugir, considerando o quão debilitada estou. Posso sobreviver, mas isso não significa que conseguirei escapar. E se for capturada? Não terei quem me salve, Luffy e os outros não estão aqui para impedir minha prisão. Não posso vacilar e ser capturada. Tudo que eu fizer, devo fazer com cautela e sem levantar suspeitas sobre minha pessoa.

Eu também queria encontrar minha bolsa para finalmente procurar Rayleigh. Precisava falar com ele, dizer que estava bem e, por questões de conforto e segurança, pedir ajuda a Duval e os Cavaleiros dos Peixes-Voadores. Claro que ele não poderia me garantir proteção total, mas poderia me indicar um lugar seguro até a volta dos meus companheiros. Trafalgar-san foi prestativo, todavia... tenho um pressentimento ruim sobre ele.

Não sei exatamente o que me faz ficar em alerta quando o vejo, talvez seja o mesmo que acontece com todos que considero inimigos em potencial. Mesmo que ele tenha me ajudado ao me resgatar e cuidar dos ferimentos - até mesmo me cedendo sua cama para repousar -, eu não consigo confiar nele e, querendo ou não, me sinto até ingrata por isso.

Quer dizer, ele me encontrou, me acolheu no seu quarto naquela pousada, cuidou de mim e até mesmo me deu banho e fez questão de pentear meus cabelos, por que me sinto assim em relação a ele? Oh, é mesmo. É o jeito que ele me encara. Aquele olhar frio... e penetrante. Sinto como se ele estivesse olhando no fundo da minha alma, julgando tudo que há em mim e criticando até meus mínimos detalhes. A voz dele também... é profunda. Grave. Parece cansada, mas ao mesmo tempo é potente. Odeio admitir, entretanto devo dizer que me sinto um pouco intimidada por ele. Imagino que seja por conta de sua idade, ele parece ser bem mais velho que eu.

Última vez que me senti intimidada por alguém com mais idade, foi quando confrontei Absalom em Thriller Bark, quando ele sequestrou Nami. Eu não sei o porquê, mas me senti estranha quando ele passou uma de suas mãos em mim. Eu não entendi o que ele estava fazendo, nem por que Usopp ficou tão irritado com ele ou o motivo de Chopper ter quase avançado naquele homem sem pensar duas vezes.

Confesso que senti desconforto ao sentir a mão dele me agarrando daquele jeito, também não gostei do jeito que ele me olhava... como se fosse me atacar, acredito eu. Foi esquisito. Não consegui entender a intenção dele ao me tocar daquele jeito, fiquei presa em um transe tentando processar o que estava acontecendo, só voltei para mim quando o atirador do bando me agarrou pela cintura, passando o braço em volta dela, e me carregou, saindo correndo do salão da mansão.

Respirei fundo ao lembrar daquele ocorrido, de como foi desconfortável e me deixou pensativa, até um pouco calada por um tempo, até o momento em que tivemos que nos unir para lutar contra Oars.

Eu comecei a caminhar em passos rápidos pelas ruas de Sabaody, olhando para os manguezais para me localizar e não acabar me perdendo sem antes cumprir o meu objetivo: chegar ao Mangue #1 e destruí-lo inteiro. Esse era o desejo que eu tinha no momento, eliminar aquele mangue, sem me importar com as pessoas que ali viviam, afinal, a vida delas realmente valia a pena? Pessoas que compactuam com a discriminação dos homens-peixe e sereias, que também apoiam a venda de escravos? Não. Não vale. Jamais.

Agindo assim, sei que estou sendo exatamente como meu pai, fazendo o mesmo que ele fez com Birka e quase fez em Skypiea inteira. No fundo... eu e ele somos iguais. Eu e meu pai. Eu e Deus... ou seria eu e o diabo? Para muitos, devido às suas atitudes, ele seria considerado o próprio demônio, o cão, o "tinhoso", mas não para mim. Independente de tudo o que aconteceu, Deus sempre será Deus. Mas, céus, meu pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como você quer¹. Eu, apesar dos apesares, não quero ser igual a você.

Mesmo sendo carne da tua carne e sangue do teu sangue, eu jamais poderia suportar tomar tal posição, agir como tal ser poderoso. Já é um fardo pesado que carrego apenas por ser sua filha, não quero carregar mais um peso que é ser o que você foi.

Anos e anos se passaram, anos e mais anos seguindo ordens, sendo obediente, sendo aquela que, um dia, segundo as palavras de Enel, seria aquela que governaria Skypiea. Eu teria Skypiea na palma da minha mão... mas eu nunca quis, apenas concordava com a ideia porque, quando criança, me parecia algo divertido e, mesmo bobo, também parecia mágico, como um conto de fadas. Me imaginava no trono do Templo Sagrado com um manto branco e um vestido bonito, com um cajado igual ao do meu pai, sendo adorada e venerada como ele costumava ser... isso foi até o momento em que percebi que toda aquela adoração não passava de medo que seu povo tinha dele.

E, no fundo, até eu sentia medo do meu pai. Era medo do jeito que ele agarrava meu braço, da forma como ele encarava meu rosto sempre que eu não conseguia cumprir suas ordens ou a maneira em que ele me eletrocutava como punição, também medo pelas vezes em que fui jogada em poças de água apenas para que ele pudesse usar seus raios para disparar energia elétrica em todo meu corpo. Eu percebi que... ele era cruel. E mesmo assim, nunca o odiei e nem conseguiria odiá-lo... porque apesar de tudo, ainda tivemos bons momentos e são dessas boas memórias que sempre irei me recordar.

Desde que fui embora de Skypiea e o vi pela última vez, tenho o desenhado todos os dias sempre que estou sozinha e tenho tempo para fazê-lo. Esqueci o rosto da minha mãe poucos meses após a morte dela, não quero esquecer o dele também. Não tenho fotografias suas, nem nada do tipo, tudo o que me resta são desenhos e mais desenhos, alguns esboços e outros rabiscos, todos com a mesma expressão, a mesma expressão de nosso último momento juntos. Um olhar vazio, o cenho franzido e uma mão segurando o pescoço enquanto me dizia o quão vulnerável eu era, o quão indefesa eu era nas suas mãos. Ele não mentiu. Era verdade. Eu podia ser o que fosse, derrubar quem quer que seja, mas se tratando do meu pai, nem a voz eu conseguia levantar para protestar. Acima de tudo... ele era meu pai e eu o respeitava.

Suspirei novamente, agora olhando para cima, notando um manguezal bem na minha frente. Retirei Inazuma das minhas costas e segurei com força no cabo, já sentindo as fracas correntes elétricas correndo por minhas veias enquanto encarava a maldita casa de leilões não muito longe do meu campo de visão.

Havia pessoas indo e vindo ao meu redor, crianças, idosos, casais com seus filhos e até fuzileiros navais que provavelmente patrulhavam naquele dia. Abaixei minha cabeça e olhei para o chão, notando a grama gosmenta abaixo dos meus pés com faixas nos tornozelos. Novamente, lembrei de Trafalgar-san e uma rápida e vaga memória surgiu na mente quando recordei a forma como ele se referia a mim nos poucos momentos em que conversamos. "Pirralha do bando do Chapéu de Palha", onde já escutei isso antes? Oh. Oh... quando Urouge estava prestes a me fritar. Não creio! Ele também me salvou naquela hora? O que esse homem tem? Que magrelo esquisito.

Caminhei com passos lentos e um olhar determinado até a casa de leilões, onde pude escutar vozes masculinas - possivelmente pertencentes à Marinha - , ordenando-me que recuasse e não entrasse naquele local. No entanto, não me submeto a ordens de ninguém além do meu capitão. Sou livre para tomar minhas próprias decisões e escolhi seguir Luffy; ser sua subordinada, navegar sob seu comando e lutar ao seu lado.

- Eu obliterarei cada canto desse lugar! - falei com determinação, já sentindo energia emanando pela lâmina de minha foice.

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━━ ᘡTrafalgar Law, Cirurgião da Morte. ❪O ponto de vista dele❫

Quando retornei ao meu quarto, percebi que a garota havia sumido e sua arma também, o que deixou mais do que óbvio que ela tinha ido embora. Suspirei, mas estava agradecido, no final. Não ia mais precisar lidar com a fedelha e podia ter minha cama novamente. Entretanto, havia uma marmita em mãos que pedi para Bepo preparar para ela e agora que ela havia resolvido ir embora sem dar explicações - ou no mínimo deixar um recado -, me vi obrigado a comer para não fazer desfeita com a comida que meu companheiro fez com tanto esforço e, o conhecendo há anos o suficiente, também com muito carinho.

Revirei os olhos e sentei na beirada da cama com o corpo inclinado para a frente, segurando a marmita em mãos e encarando a tampa com o cenho franzido.

Enquanto comia, lembrei do que vai acontecer em alguns dias: a execução de Portgas D. Ace, comandante da 2ª divisão dos piratas do Barba Branca, e isso me arrancou um sorriso imediatamente ao imaginar o caos que se alastrará em Marineford, onde provavelmente se tornará um campo de batalha entre a Marinha e Edward Newgate. Confesso que a dúvida paira no ar, quem vencerá a guerra? Isso é apenas um plano do Governo Mundial para finalmente encurralar o dito "homem mais forte do mundo".

Sendo sincero, minha vontade era ir embora logo do Arquipélago Sabaody e continuar minha jornada para o Novo Mundo, porém me vejo na obrigação de ficar aqui e assistir à transmissão que será feita no dia da execução daquele homem. Quem iria imaginar, o "Punhos de Fogo", que há anos no passado se recusou a se tornar um Shichibukai após derrotar um logo quando entrou para a pirataria. Querendo ou não, ele é um pirata digno de respeito e não fico surpreso se um dos motivos que levaram Marshall D. Teach, vulgo Barba Negra, a entregá-lo à Marinha tenha sido inveja. Afinal, quem iria imaginar que, após anos no bando do velho Newgate, um cara mais jovem tornaria-se seu "chefe". É estupidamente humilhante e engraçado de se pensar.

E, como sempre, todos com o "D." em seus nomes. Monkey D. Luffy, que destruiu Enies Lobby apenas para resgatar uma companheira que por anos foi caçada pelo Governo Mundial por conter informações valiosas e conhecimento necessário para decifrar os poneglyphs que contêm a verdade por trás do século perdido; Monkey D. Garp, o homem mais forte da Marinha; Portgas D. Ace, um pirata renomado e visto por muitos como extremamente poderoso graças à sua fruta e força física; Gol D. Roger, aquele que se tornou o Rei dos Piratas, que encontrou o tesouro lendário e criou uma nova era ao morrer; entre muitos outros piratas, marinheiros e revolucionários que carregam o "D." consigo.

E sempre que penso nessas coisas, apenas consigo me lembrar do que Corazón me disse há muitos anos, quando o próprio me revelou que podia falar, sobre a lenda dos "D." serem ditos como "inimigos dos deuses" e terem... uma tal vontade. Me pergunto se ele sabia qual era, se conhecia a vontade, se sabia qual era a vontade daqueles que possuem "D." e se foi por isso que ele me salvou, porque sabia da ameaça que eu poderia representar ao Doflamingo.

Me intriga que ele tenha dedicado seis meses inteiros me levando de hospital em hospital para tentar encontrar uma cura para minha doença até o momento em que ficamos sabendo da fruta da operação, e ele não pensou duas vezes em desafiar o próprio irmão para me salvar... Eu realmente não sei o que pensar, nem consigo formular o que se passava na cabeça de Donquixote Rosinante para ele ter feito o que fez.

Um único "eu te amo" foi o suficiente para me fazer perder a minha postura naquele momento, quando não me aguentei e caí na gargalhada diante de sua expressão boba e o sorriso de orelha a orelha. Como eu poderia imaginar que aquela seria a última vez que eu iria vê-lo com vida? E o pior, mesmo conhecendo Doflamingo e sabendo o demônio encarnado que ele era, como pude acreditar em suas palavras ao dizer que por serem irmãos, "Doffy" não o mataria? Fui ingênuo em acreditar. Ou melhor, fui estúpido por me forçar a acreditar em suas palavras.

Apesar de tudo, ainda assim continuei sob o comando de Donquixote Doflamingo, mesmo depois de tudo, mas agora com um novo propósito. E este propósito é derrubar Joker, ou seja, derrubar Donquixote Doflamingo, fazê-lo desmantelar a fábrica de S.M.I.L.E e, em seguida, derrubar Kaido. Pode parecer algo impossível de se fazer sozinho, entretanto já tenho alguém em mente para formar uma aliança... o do Chapéu de Palha.

Ele pode parecer idiota e não ser tão inteligente, mas todas as minhas expectativas estão depositadas nele e no seu bando. Se eles foram capazes de causar tudo o que causaram em apenas três meses, o que posso esperar deles no Novo Mundo? Acredito que possam haver dificuldades em nosso caminho para realizar meu plano de derrotar um dos quatro Imperadores do Mar, porém sei que unindo forças dará certo e, para isso, eles precisam estar reunidos de novo... e todos vivos. Isso me faz lembrar que deixei aquela pirralha maldita à solta, mesmo sabendo que ela está sendo caçada pela Marinha por ter sido "sobrevivente" do que aconteceu com o bando dos Chapéus de Palha.

Que merda... eu não faço ideia onde aquela garota se enfiou, nem mesmo estou com ânimo para ir procurá-la. Ela não me parece burra, só não demonstra ser tão esperta, mas posso relevar isso e deixar-me acreditar que, se for preciso, uma hora ela volta aqui e, sinceramente, depois de tudo que vi ontem, não ficarei surpreso se ela aparecer com duas ou mais feridas novas para que eu tenha que tratá-la de novo.

Na verdade, não sei absolutamente nada sobre ela, nem mesmo de onde ela veio ou o que diabos ela é, se é algum tipo de mink pássaro híbrido com humano - duas coisas que eu não sei se são possíveis -, se aquelas asas são dela ou se é efeito colateral de algum experimento. Somente isso poderia explicar o porquê dela ter imunidade a descargas elétricas e ter aquela barreira de eletricidade ao redor do coração. Há um tempo, tenho lido alguns jornais e nunca houve sequer uma única informação válida sobre ela, apenas especulações. Até mesmo entre os mercadores do submundo, nunca viram nada igual, exceto... Urouge, o Monge Louco.

Quando a vi pela primeira vez pessoalmente, os dois estavam juntos e pareciam já se conhecer. Algumas vezes ele se referia à pirralha do bando do Chapéu de Palha como "Santa Praga". Também lembro dele ter perguntado algo sobre por que ela estava se fazendo de vítima.

Me pergunto qual o tipo de relação entre eles e o que tornou aquela batalha rápida entre os dois algo tão violento a ponto de ele ter quase a matado se não fosse pela imunidade dela à eletricidade. Quer dizer, a pirralha parece ser imune até certo ponto, pois quando ele usou aquela concha que disparou aquele golpe - "Reject" -, que repeliu o ataque dela, pareceu tão forte que ela própria não aguentou e desmaiou assim que a tirei do meio da briga.

• ʚĭɞ •

Já haviam se passado horas desde que eu tinha visto a garota pela última vez; eu só tinha descoberto que, para variar, ela fez uma zona no Mangue #1.

Shachi contou que ela, Elisabette, conseguiu pulverizar boa parte daquele lugar, e eu imagino o porquê. O que aconteceu no dia anterior deve ter mexido bastante com ela. Bem, ela é uma adolescente; adolescentes costumam agir por impulso e deixar seus hormônios falar por si. Não me impressiona que a pirralha tenha voltado lá apenas para aniquilar tudo e todos daquele mangue.

Sinto muito pelas pessoas que ali viviam, mas fazer o quê? Resolveram fechar os olhos para as atrocidades cometidas pelos Dragões Celestiais e outros poderosos. Agora encontraram alguém que resolveu tomar a dor dos escravos para si e fez o que fez. Sinceramente? Isso me diverte.

Meus olhos vagaram até a varanda, podendo ver o quão escuro estava o lado de fora, e então encarei o relógio pendurado na parede, indicando que eram quase dez da noite. Eu já havia tomado banho, já estava com roupas confortáveis para dormir e também tinha jantado com meus companheiros antes de nos recolhermos para dormir. O próximo dia seria cheio e provavelmente iríamos comprar alguns mantimentos para o Polar Tang. Talvez até resolvesse comprar alguns discos novos para escutar nos momentos em que eu estivesse sossegado em meu quarto no nosso submarino.

Eu me levantei e comecei a caminhar devagar até a varanda para fechá-la e me trancar no quarto, deixando-o o mais escuro possível e dormir sem nenhuma interrupção... pelo menos era o que eu gostaria.

Tudo que vi antes de desviar foi um vulto preto aterrissando no chão do meu quarto e rolando várias vezes até dar de encontro com a parede. Naquele momento, franzi o cenho e estreitei os olhos em descrença. "Não é possível...", pensei comigo mesmo quando reconheci a silhueta da pessoa toda arreganhada de ponta cabeça no chão, com as pernas para cima e o restante do corpo esparramado no chão de braços abertos. Era ela outra vez, a maldita pirralha do bando do Chapéu de Palha.

- Você costuma invadir o quarto das pessoas assim, de repente, ou é a primeira vez? - perguntei com ironia, vendo-a se levantar um pouco tonta e colocando uma mão na cabeça.

- Ai, ai, ai... - ela parecia sentir dor, acariciando a nuca enquanto choramingava com um beicinho. - Na verdade, são as pessoas que costumam invadir meu quarto.

- Seja como for! Por que voltou?

- Eu não ia voltar, mas encontrei minha bolsa e resolvi vir aqui te propor uma coisa. - a garota disse com um sorriso no rosto enquanto se levantava e endireitava o casaco em seu corpo.

Sem dizer nada de imediato, apenas a observei caminhar até minha cama e se deitar nela com as pernas cruzadas e os braços atrás da cabeça, o que fez uma carranca aparecer imediatamente em minha face. Eu não estou mais na idade para aguentar adolescente folgado, nem quando eu era adolescente eu me aguentava. Agora vou ter que lidar com... isso? Respirei fundo. Respirei fundo novamente. De novo e de novo. Tentei me acalmar para não colocá-la numa Room e fatiá-la em vários pedaços. Respirei fundo. Olhei para ela.

- O quê?

- Posso passar a noite aqui? - a pirralha sorriu, como se aquele pedido fosse a coisa mais normal do mundo a se fazer para alguém.

- Não. Sai fora.

- Eu tenho algo que vai te fazer mudar de ideia, Trafalgar-san! - confesso que sua resposta me deixou curioso, principalmente quando ela sentou-se no colchão e abriu a bolsa, fazendo um sinal para que eu me aproximasse.

Mesmo desconfiado, caminhei até a cama e fiquei a uma distância favorável, longe o suficiente dela, mas perto o bastante para conseguir dar uma boa olhada no interior do objeto. Assim que notei o que ela quis dizer com "vai te fazer mudar de ideia", meus olhos se arregalaram instantaneamente e meu queixo caiu. Havia inúmeras quantias de dinheiro e algumas joias de ouro que, apenas pelo brilho, era possível notar que eram puras e não banhadas. Essa garota... está tentando me comprar com tesouro? Se eu fosse outro, teria aceitado sem pensar duas vezes, porém me vejo na obrigação de pensar primeiro na proposta antes de aceitá-la.

Sou um pirata nomeado como um "Supernova" por conta da minha recompensa de mais de 100 milhões de berries, entretanto nunca paramos para saquear as ilhas em que atracávamos - também era difícil fazermos isso -, as vezes que paramos era apenas para comprar suprimentos e outras coisas que nos tirassem do tédio de passar o tempo todo submersos ou na superfície sem parar em terra firme.

- Certo, mas você dorme no chão.

- Esse é um jeito muito rude de tratar uma dama.

- Chão ou rua. Escolha. - a empurrei de cima da minha cama e sentei.

- Que grosseria! Tudo bem, eu durmo no chão. - ela se levantou e andou até um canto do quarto, sentando-se ali e me encarando com um semblante emburrado.

Ficamos nos encarando em silêncio, eu com meus olhos estreitos e ela com aqueles olhos azuis arregalados, enquanto franzia o cenho para demonstrar sua irritação. Suspirei e repousei o rosto nas mãos. O que eu mais queria agora era uma noite sossegada e um pouco de paz, contudo vou ficar acordado mais uma vez sem conseguir dormir, graças aos roncos dela ou dela rindo e falando enquanto dorme.

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