━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟭𝟬. 𝗖𝗼𝗺𝗽𝗹𝗲𝘁𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲 𝘀𝗼𝘇𝗶𝗻𝗵𝗮?
━━ Arquipélago Sabaody, Grand Line ; próximo a Red Line.
Na manhã seguinte, Law acordou cedo, antes mesmo de o sol estar completamente exposto no céu. Assim que se levantou, o moreno não tardou em iniciar suas higienes pessoais, organizar o quarto em que estava dormindo - com exceção de sua cama, pois a mesma ainda estava ocupada por alguém -, vestir suas roupas e verificar como estava o estado da garota que havia trazido consigo na noite passada.
Ele ainda estava atordoado com o fato de Elisabette ter recobrado a vida eletrocutando o próprio corpo para realizar uma reanimação através de eletropulso e, depois de alguns exames, chegou à conclusão de que ela, de fato, não era usuária de Akuma no Mi, logo a possibilidade de ter usado alguma habilidade para realizar aquilo foi totalmente descartada. Entretanto, isso não foi suficiente para que o moreno não continuasse realizando pequenos testes na jovem, testes estes que iam desde exames de DNA, sangue, urina, etc. O que presenciou no dia anterior foi algo que ele, como médico, não poderia ignorar.
E, no fim, tudo o que o Cirurgião da Morte conseguiu descobrir foi o estranho modo como o coração da mais jovem tinha uma fina barreira de eletricidade em volta do órgão.
Law, no entanto, não fez mais nada a respeito depois de ter feito tal descoberta, embora gostasse de pegar o coração dela para estudá-lo mais e com mais tempo. Entretanto, não podia fazê-lo, não quando sua "paciente" estava toda esparramada em sua cama, em um sono pesado e roncando alto desde às 3 da manhã.
Sentado em uma cadeira próxima à cama, ele ficou observando-a com uma carranca no rosto, irritado com os sons altos que ela fazia e pela maneira como falava algumas frases desconexas inconscientemente. Elisabette estava daquele jeito há horas e isso estava fazendo sua paciência se esgotar. Ele queria respostas, respostas que somente ela poderia lhe dar, mas ao invés disso, o que ela fez? Passou a noite dando trabalho a ele, que lhe deu banho, medicamentos, fez curativos, desinfetou o ferimento da bala, removeu qualquer resquício de pólvora contaminada por chumbo branco de seu sangue e corpo, depois dormiu por algumas horas enquanto acordava vez ou outra com os roncos altos da platinada.
Em contrapartida, a birkan estava presa em um ciclo de pesadelos que assolavam sua mente e atormentavam seu corpo adormecido, fazendo-a ter pequenos espasmos e suspirar pesado de vez em quando. Ela via seus amigos desaparecendo, sendo mortos ao acontecer isso, via Luffy gritando para ela fugir e ela ficando sozinha, sem rumo e ferida, perambulando como um gato abandonado.
Para ela, que passou a vida toda isolada da sociedade, convivendo apenas com alguns animais, seu pai, os sacerdotes e seus servos - com os quais sequer conversava -, ficar solitária de novo era um medo que lhe fazia suar frio só de imaginar. Pela primeira vez em meses, a garota de cabelos platinados se via em tal situação novamente e era assustador. Para onde iria? Com quem ficaria? E, principalmente, o que aconteceria com ela? Não tinha noção de como navegar, sequer sabia ler para pedir um mapa emprestado e tinha medo de falar com desconhecidos para pedir informações.
Não era que Elisabette fosse tímida ou introvertida, ela apenas não sabia como se enturmar com as pessoas. Afinal, apenas se tornou amiga do garoto com chapéu de palha - e eventualmente sua companheira - porque ele foi quem a abordou primeiro e a encheu de informações, para depois falar sobre si mesmo sem que ela sequer tivesse tempo de perguntar alguma coisa. No fim das contas, foi bom, pois pôde aprender e conhecer mais sobre aquele rapaz que, para ela inicialmente, não passava de um mero invasor.
E agora, cá estava ela, dormindo em um sono profundo no quarto de um desconhecido em uma pousada no Arquipélago Sabaody. Ela estava uma bagunça, mesmo após Law ter lhe limpado e feito alguns curativos, ela ainda estava acabada.
Sua pele ainda estava mais pálida do que o habitual, suas olheiras estavam mais profundas e escuras, indo para uma coloração roxeada e vermelha, seus cabelos platinados estavam presos em um rabo de cavalo desajeitado - obra de Penguin, que não soube manusear suas grandes mechas prateadas -, havia ataduras em grande parte de seu corpo e suas roupas, embora aparentemente limpas, ainda tinham manchas pouco visíveis de sangue. E a birkan sempre foi uma garota vaidosa, apenas se deixou chegar em tal situação por não ter recobrado a consciência desde que havia desmaiado pela perda de sangue; caso contrário, teria dado um jeito de estar arrumada, mesmo estando só o pó da rabiola.
Impaciente, Trafalgar levantou-se da cadeira em que estava sentado e foi até a varanda para observar o nascer completo do sol.
Ele vestia uma camisa preta e calças jeans num tom azul claro com pintas marrons. Seu gorro estava pendurado na cabeceira da cama e ele usava um par de sapatos pretos.
O moreno olhava para o céu, para o sol nascendo no horizonte, e os primeiros raios solares da manhã refletiam em seus olhos, que brilhavam como nuvens cinzentas ao anunciar o início de uma tempestade. A brisa suavemente fria da manhã veio até ele, que apenas recostou-se com o quadril no corrimão e cruzou os braços, apoiando as costas na parede, mas sem desviar nem por um único momento o olhar do firmamento diante de suas orbes.
Law jamais iria admitir para si mesmo, achava-se infantil e idiota por isso, porém detestava o fato de que observar tanto o nascer do sol quanto o pôr do sol o faziam lembrar de Corazón. Ele não sabia o porquê, talvez fosse porque os tons amarelos que o céu obtinha durante esses fenômenos ou como, às vezes, o alaranjado do crepúsculo do entardecer fazia com que ele tivesse vagas lembranças dos olhos cor de âmbar que o homem costumava ter.
De soslaio, o pirata encarou o chão e repreendeu a si mesmo por tais pensamentos fúteis e toscos. De que adiantaria ficar lembrando daquele homem, quando o culpado de sua morte não foi ninguém mais do que ele? Pois, de tantos soldados que viu passar diante, foi justo Vergo - membro da Família Donquixote e o primeiro Corazón - que ele decidiu pedir ajuda. Claro, Trafalgar Law, naquela época, era apenas uma criança assustada e desesperada, com medo de perder um amigo, amigo este que era o mais próximo que ele podia chamar de "pai". Afinal, o que aquele homem havia feito por ele foi o que qualquer pai faria por seu filho, não é? E isso era o que pesava ainda mais na consciência do Cirurgião da Morte.
- Pai... - uma voz feminina soou fraca e quase inaudível pelo pequeno cômodo, chamando a atenção do tatuado.
Ele ergueu as sobrancelhas surpreso pelo chamado repentino e, em passos lentos, mas cuidadosos, aproximou-se da cama onde Elisabette repousava.
Deixando uma distância confortável entre eles, Law colocou o dorso de sua mão na testa da mais nova para conferir se ela estava com febre novamente, pois caso estivesse, teria que medicá-la novamente. Contudo, para sua sorte e alívio, apesar de tudo, a garota de cabelos platinados estava se recuperando mais rápido do que ele imaginara. Com atenção e em silêncio, ele sentou-se na mesma cadeira onde havia passado a noite para dormir - por menos de 3 horas - e observar a melhora do estado da menor. Para não assustá-la caso estivesse de fato recobrando a consciência e finalmente acordando, ele optou por ficar um pouco distante da cama, afastando a cadeira do móvel.
Depois de uma relutância contra o cansaço de seu corpo, os olhos da garota começaram a se abrir lentamente e percorrer o quarto com o cenho franzido ao notar que estava em um local aparentemente desconhecido.
Elisabette se manteve calada, ainda não havia notado a presença de Trafalgar ali, então não disse nada nem fez qualquer movimento brusco. Por um momento, suspirou ao imaginar que havia sido acolhida por Silver Rayleigh, agradecendo a Deus por ele ter atendido às suas orações desesperadas e clamantes por ajuda, feliz por seu pai tê-la enviado o imediato do Rei dos Piratas ao seu socorro. Com certas dificuldades, ela sentou-se na cama e apoiou as costas na cabeceira, levando ambas as mãos até o rosto e esfregando os olhos, por fim encarando ao lado e percebendo, finalmente, onde e com quem estava.
- O que... você...? - a garota arregalou os olhos, assustada e confusa, mas fraca demais para reagir.
- E aí, pirralha do bando do Chapéu de Palha?
- C-cadê o Rayleigh!? - ela tentou se levantar e seu corpo pesou, a fazendo tombar e cair na cama novamente.
- Não sei. - Law arqueou uma sobrancelha, pensando em qual seria o tipo de relação da tripulação "rival" com aquele homem.
Não era de seu habitual ficar assustada com certas coisas, porém, levando em consideração tudo o que havia acontecido no dia anterior, também lembrando que estava completamente sozinha e desamparada em Sabaody, a platinada só conseguia sentir medo. Ela estava totalmente desesperada e apavorada com toda aquela situação. Olhava para o Cirurgião da Morte, encarava os olhos dele e aquele sorriso sádico, e isso fazia seu estômago revirar em seu corpo, fazendo cada músculo mínimo se enrijecer e seus pelos ficarem arrepiados. Ele a ajudou, isso ela não tinha dúvidas, mas por quê? Todos os piratas eram inimigos, certo? Então, por quê? Elisabette se sentia como uma criança indefesa sem seus companheiros.
O homem imediatamente percebeu o pavor no olhar dela, na forma como ela tremia ao encará-lo nos olhos, e isso o irritou profundamente. "Porra, não me olhe assim", o moreno pensava consigo mesmo ao fitá-la da mesma forma fria que sempre fazia com todos.
Ele a salvou, tirou-a das mãos da Marinha e evitou que ela morresse como um animal numa cela ou pior, que sobrevivesse e passasse anos em Impel Down apenas aguardando o dia em que seria executada por seus crimes e envolvimento com a pirataria. E seria desse modo que aquela maldita pirralha iria agradecê-lo? Olhando para ele como se, a qualquer momento, ele fosse machucá-la? Isso o enfureceu, mas preferiu não se exaltar, pois apenas pioraria a situação e aumentaria o medo que Elisabette estava demonstrando sentir dele.
- Você fraturou duas costelas, mas já resolvi isso e agora você está parcialmente fora de perigo. - começou, levantando-se e andando até alguns papéis que estavam em cima de uma mesinha encostada no canto do quarto. - Aqui, eu anotei tudo o que tinha de errado no seu corpo e consegui consertar. - ele disse, entregando um bloco de notas à mais jovem.
- Conseguiu... consertar..? - a garota de cabelos platinados arqueou uma sobrancelha, sentindo-se confusa com a afirmação de Law, mas deu de ombros e encarou o objeto em mãos.
A birkan fez um beicinho e olhou para cima pelo canto de seus olhos azuis, olhando para o mais velho um pouco próximo a ela, que a encarou de volta, sem entender o olhar confuso que agora estava estampado no semblante dela. Os dois ficaram se encarando por um tempo em silêncio, sem mudar suas expressões ou fazer qualquer movimento. Ele, com o cenho franzido e os olhos estreitos, enquanto ela o encarava com um misto de confusão e medo, coisa que o deixou, novamente, irritado.
- Eu não sei ler.
- Você não sabe ler?
- Não. - Elisabette respondeu quase agressiva ao notar o sorriso zombeteiro que se formava nos lábios do tatuado.
- Isso só pode ser brincadeira, fala sério... - ele revirou os olhos, tomando o bloco de notas da mão dela. - Então vai ficar sem saber como está.
Ela deu de ombros, desviando o olhar do dele e encarando o céu pela varanda, que estava com a porta aberta. Naquele momento, Elisabette teve um flash rápido de memórias, como se um filme passasse por sua cabeça, um filme onde o enredo era a tragédia que havia acontecido com seus companheiros e com ela, que quase veio a óbito por ter sido baleada. Ela arrepiou-se inteira, passando uma mão na região onde havia sido atingida e sentiu os curativos feitos, também notou que havia vários por todo o seu corpo. Com cuidado, retirou o cobertor de suas pernas e viu mais faixas passando por suas coxas, tornozelos, pés e pequenos arranhões que agora estavam com pomadas.
- Você... quem fez?
- Sim.
- Por que?
- Porque se você morresse, eu não ia saber o que realmente aconteceu com o pessoal do seu bando. - Law disse, levando uma mão até o queixo dela e a encarando nos olhos. - Vai me dizer ou vou ter que usar força para você me falar?
- Não é óbvio? Os caracóis comunicadores repetiram o mesmo aviso por horas. - ela afastou a mão dele de seu queixo.
- Ah, sim, o do Chapéu de Palha foi derrotado por um almirante? O mesmo que destruiu Enies Lobby e socou um Dragão Celestial sem pensar duas vezes? - sorriu de canto, afastando-se dela.
- Não foi um almirante que o "derrotou". - a mais jovem sussurrou, sentindo suor frio escorrer por sua testa ao reviver aquelas lembranças. - Foi um Shichibukai. Bartholomew Kuma. - admitiu, atraindo um olhar confuso do Cirurgião da Morte.
- Bartholomew Kuma? E como ele "derrotou" o do Chapéu de Palha?
- Eu não sei, provavelmente fez o mesmo que fez com os outros...
- O que ele fez? - ele já tinha uma ideia, conhecia os poderes da fruta da patinha graças a um livro que havia lido, mas queria ouvir da boca dela para ter certeza.
- Um toque daquele homem foi o suficiente para fazê-los desaparecer em um piscar de olhos... sequer tivemos tempo de reagir ou contra-atacar, estávamos tão fracos e exaustos que não pudemos fazer nada a não ser tentar fugir... eu não quero acreditar nisso, mas é inevitável pensar que eles estejam mortos. - uma pontada forte em seu coração a fez arrepiar ao imaginar seus companheiros sem vida.
- Não estão mortos. - Trafalgar a cortou antes que ela continuasse falando. - Uma das habilidades da Nikyu Nikyu no Mi pode transportar uma pessoa de uma ilha para outra em 3 dias.
Elisabette não disse nada, apenas manteve-se calada e encarando o rosto do moreno com um olhar surpreso, enquanto um sorriso largo se formava nos lábios rosados dela. Foi um alívio para a garota de cabelos platinados saber que havia sim uma possibilidade de seus companheiros estarem vivos e não mortos, como por muito tempo ela ficou lutando para não acreditar. Agradecendo aos céus por estar errada e ao mesmo tempo se amaldiçoou por ter chegado a pensar em tal ideia. Eles eram fortes! Muito fortes. Ela viu isso com seus próprios olhos inúmeras vezes desde que havia se tornado uma pirata do bando do Chapéu de Palha.
O combinado seria que eles se encontrassem em três dias; entretanto, esse seria o tempo que eles estariam sendo levados para outra ilha, o que significava que o encontro deles demoraria mais algum tempo para ser realizado.
"Tudo bem", a platinada pensou consigo mesma, ainda sorrindo enquanto olhava Law nos olhos. O silêncio entre eles naquele momento era tranquilo e confortável, o olhar dela também não era mais de alguém assustado, então ele não se importou e sua irritação com ela se esvaiu, apenas focando-se em manter o contato visual com a mais nova.
Todavia, a garota de cabelos platinados tinha um único desejo: que o reencontro acontecesse antes de seu aniversário de 17 anos. Lembrou-se com carinho de quando Sanji lhe disse que é comum as pessoas comemorarem seus aniversários com quem amavam, no caso, amigos e família. O cozinheiro até havia lhe prometido fazer um bolo com recheio de avelã e cobertura de "troço rosa" - como ela chamava o creme de morango -, e isso a fazia pensar no quanto adorava seus companheiros e como seria maravilhoso compartilhar um momento assim com eles. Afinal, ela sequer sabia que aniversários costumavam ser comemorados, pois seu pai apenas lhe dizia que estava completando tal idade e nada mais.
- Obrigada. - ela agradeceu, agora sorrindo gentilmente.
- Não foi uma boa ação.
- Não importa, sou grata por isso. - a garota fez um sinal de "dois" com a mão enquanto sorria.
Law nada lhe disse, apenas esboçou um sorriso breve e desfez imediatamente, afastando-se dela novamente e caminhando até a porta do quarto, anunciando que iria sair e buscar algo para ela comer. Mais uma vez, ela o agradeceu, embora o moreno continuasse pontuando que aquilo não era uma boa ação, logo não deveria ser agradecido por nada do que estava fazendo.
Quando o mais velho finalmente havia se retirado do quarto, Elisabette não tardou em se levantar e caminhar em passos desajeitados até o local que parecia ser o banheiro. Assim que se olhou no espelho, notou o cabelo ridiculamente amarrado em um rabo de cavalo. Ela suspirou. Suspirou duas vezes. Suspirou três, quatro, dez vezes. Não sabia quem havia lhe penteado, tampouco quem prendeu suas madeixas daquele jeito, mas iria matar assim que descobrisse. A pessoa foi capaz de pentear seu cabelo e criar nós mesmo assim, também havia tufos de cabelo seus no chão daquele banheiro. A garota levou as mãos até o rosto e suspirou outra vez. "Não reclama, ele te ajudou", murmurou para si mesma, voltando a encarar o espelho.
Seu reflexo, pelo menos naquele momento, não foi um dos melhores que ela já tinha visto ao longo de sua vida. A garota riu anasalado, passando a mão direita pela franja e jogando para trás da orelha, podendo ter uma visão melhor de sua face.
A pele bastante alva como um algodão, mas marcada por pequenos hematomas e arranhões que tinham um contraste maior em sua palidez; suas olheiras mais profundas que o habitual - levando em conta que naturalmente já as tinha ao puxar tais traços de Enel; os lábios esbranquiçados e secos, pois já fazia um tempo que não comia ou bebia algo.
Entretanto, enquanto olhava para si mesma naquele pequeno espelho, o vislumbre de seu pai apareceu atrás de si, como uma visão do seu passado ou sua mente cansada querendo lhe pregar uma peça para deixá-la pior do que estava. Com um olhar derrotado, ela encarou fixamente os olhos do homem, que quase lhe dizia algo como "eu avisei" ou "você é muito teimosa". Ela apertou os punhos e desviou sua atenção de Enel, agora encarando a si mesma novamente.
"Você vai embora com eles, Elisabette?"
"Não vá se arrepender disso quando for tarde demais."
"Você não sabe lidar com nada sozinha, você nasceu e cresceu seguindo ordens."
As palavras de seu pai voltaram a ecoar em sua mente, fazendo-a dar um passo para trás e encostar as costas na parede do banheiro, logo abraçando o próprio corpo enquanto respirava fundo algumas vezes, lutando para não desabar em lágrimas ali mesmo, longe de todos os seus companheiros e longe de tudo que conhecia. Suas risadas, suas vozes, as cantorias, tudo estava distante dela e o que lhe restava era sua própria companhia. O que ela faria? Enel não mentiu quando disse que sozinha não saberia lidar com nada, nem consigo mesma.
Mas não podia. Não podia chorar. Porque chorar era coisa de criança, e ela não era mais uma. Há anos deixara de ser. Rapidamente, Elisabette se recompôs e saiu do banheiro, olhando imediatamente para o canto do quarto, onde viu Inazuma encostada. Ela caminhou em passos largos até sua foice, agarrando-a com força pelo cabo.
A garota encarou a varanda aberta e logo recordou de algo que havia pensado enquanto ainda estava junto de seus amigos: ela queria destruir a casa de leilões. Ela já estava toda machucada de qualquer forma, havia curativos por todo seu corpo e sua asa estava com uma tala, provavelmente quebrada, contudo, não se importou. A platinada ainda estava disposta a fazer aquilo. Lembrou de como Camie foi exposta ao ridículo e quase foi vendida como escrava, e jamais permitiria que um lugar como aquele, que causou tanto sofrimento a sabe Deus quantas pessoas, continuasse existindo.
"Quando todos eles sumirem da sua vida, você ficará completamente sozinha e não terá a quem recorrer."
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