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━━ 𖥔 ִ ་ ، 𝟲𝟳. 𝗔𝗽𝗲𝘀𝗮𝗿 𝗱𝗲 𝘁𝘂𝗱𝗼, 𝗮𝗶𝗻𝗱𝗮 𝗲́ 𝘃𝗼𝗰𝗲̂.

⚠️ 𝗡𝗢𝗧𝗔 𝗗𝗘 𝗘𝗫𝗧𝗥𝗘𝗠𝗔 𝗜𝗠𝗣𝗢𝗥𝗧𝗔𝗡𝗖𝗜𝗔 ⚠️


O capítulo a seguir contém cenas explícitas de órgãos humanos expostos e incitação a experimentos científicos em cadáveres. Também há cenas de mutilação e ferimentos abertos. Se você é sensível a esses temas, aconselho que não leia e aguarde o próximo capítulo ou simplesmente pule para o final. Nada aqui será romantizado; apenas aprecie a leitura e entenda que tudo não passa de ficção.

𝗖𝗔𝗟𝗟 𝗢𝗙 𝗦𝗜𝗟𝗘𝗡𝗖𝗘, 𝘵𝘳𝘢𝘧𝘢𝘭𝘨𝘢𝘳 𝘥. 𝘸𝘢𝘵𝘦𝘳 𝘭𝘢𝘸.
𝘭𝘢𝘺𝘰𝘶𝘵 𝘣𝘺 𝘯𝘪𝘯𝘢, 𝘢𝘬𝘮𝘢𝘯𝘮𝘪.

❛𝒯𝘶𝘥𝘰 𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘶 𝘧𝘪𝘻 𝘯𝘢 𝘷𝘪𝘥𝘢,
𝘦𝘶 𝘧𝘪𝘻 𝘱𝘰𝘳 𝘦𝘭𝘦. ℳ𝘢𝘴 𝘢𝘨𝘰𝘳𝘢 𝘦𝘭𝘦
𝘧𝘰𝘪 𝘦𝘮𝘣𝘰𝘳𝘢, 𝘦 𝘦𝘶 𝘢𝘪𝘯𝘥𝘢 𝘦𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘢𝘲𝘶𝘪.❜

❛𝓥𝘰𝘤𝘦̂ 𝘦́ 𝘦𝘴𝘱𝘦𝘤𝘪𝘢𝘭 𝘱𝘰𝘳𝘲𝘶𝘦
𝘯𝘢𝘴𝘤𝘦𝘶 𝘯𝘦𝘴𝘵𝘦 𝘮𝘶𝘯𝘥𝘰.❜

━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; País de Zou.

Law manteve-se em silêncio enquanto a fitava nos olhos. Seu olhar sério e gélido permanecia fixo no semblante de sua aliada, que agora lhe parecia exausta, abatida, desolada ── e, acima de tudo, morta por dentro. Tudo nela exalava morte. Elisabette se assemelhava a um cadáver ambulante: fria ao toque, inexpressiva, silenciosa ── características que ele desconhecia nela e às quais, com todas as forças, se recusava a se habituar.

Ele desejava vê-la rir novamente de forma escandalosa, fazer caretas exageradas por nunca conseguir disfarçar suas emoções, ouvir sua voz fina e estridente comentando com entusiasmo sobre tudo e qualquer coisa. Sentia falta das mãos inquietas, sempre gesticulando, apontando, dos pés descalços que batiam no chão com força por falta de delicadeza ── embora ela vivesse proclamando ser uma dama frágil e sensível. Sentia falta da sua energia constante, da agitação vibrante que a fazia parecer viva como nenhuma outra. Agora, porém, o que via à sua frente era o completo oposto: uma mulher irreconhecível, um corpo que se movia apenas como forma de protesto, como se a vida lhe houvesse sido arrancada cedo demais, contra sua vontade.

E, naquele instante, tudo o que Law mais queria era poder envolvê-la nos braços, apertá-la contra o peito e acolhê-la como ela tantas vezes fizera com ele. Queria abraçá-la como se o mundo ao redor não importasse, beijá-la como se nada mais existisse além deles dois, como se tudo o que restasse na existência fosse aquele instante compartilhado.

Um nó apertou-se em seu peito, enquanto suas mãos tremiam com o impulso de tocá-la. Por Deus, ele renunciaria a uma eternidade apenas para poder senti-la como antes. Porque, apesar de tudo, ela era o mais próximo do céu que ele já havia alcançado ── e perdê-la para ela mesma doía mais do que mil punhaladas cravadas no coração.

- O seu coração está aqui. ─ disse ele, a voz rouca e baixa como um sussurro que rasgava o silêncio. Sem encará-la, desviou o olhar e se dirigiu calmamente a uma prateleira encostada no canto do quarto ── um espaço sombrio, repleto de frascos contendo líquidos opacos, vísceras preservadas e instrumentos de dissecação perfeitamente organizados.

- Um local... esquisito para guardar o órgão vital de alguém, não acha? ─ ironizou Elisabette, arqueando uma sobrancelha ao se erguer com esforço, apoiando-se nas muletas para segui-lo. - E, honestamente, você guarda coisas estranhíssimas aqui. ─ murmurou, os olhos passeando pelas prateleiras. Ela estacou diante de um crânio humano exposto ao lado de um caderno coberto de anotações apinhadas e manchadas ── talvez de sangue seco. Seu estômago revirou violentamente. - Isso aqui é real!?

- Se você derrubá-lo e ele se quebrar, o próximo será o seu. ─ respondeu ele com frieza, sem sequer virar o rosto em sua direção.

- Ai, que sensação ruim!

- Está exagerando demais para alguém que dilacera corpos a dentadas. ─ retrucou Law com sarcasmo ácido, lançando-lhe um olhar cortante por sobre o ombro antes de voltar a examinar as prateleiras.

- Pelo menos eu deixo os corpos onde caem quando morrem, e não os trago para o meu quarto! ─ rebateu com desdém, franzindo o nariz ao parar diante de um armário. Movida por um impulso curioso, abriu a porta... e então paralisou. O choque percorreu sua espinha feito uma lâmina de gelo. Frascos e mais frascos, organizados em fileiras perfeitas, continham órgãos humanos preservados em líquidos translúcidos e viscosos ── corações, olhos, fígados, até línguas. - E ISSO AQUI?

- Materiais de estudo. Não toque em nada. ─ alertou ele com severidade, empurrando-a para o lado com um gesto firme antes de fechar o armário. Em seguida, abaixou-se e deslizou um compartimento oculto sob a prateleira. Uma gaveta secreta se abriu com um estalo seco.

A gaveta era ampla, espaçosa, dividida em compartimentos que abrigavam diversos frascos, papéis com anotações rabiscadas às pressas, documentos envelhecidos e, em um deles, algo se movia. Não era grande, tampouco pequeno ── pulsava em um ritmo constante, emitindo um som abafado e rítmico, como batidas de um tambor molhado, acompanhado por um fraco brilho azulado que tremeluzia na penumbra.

Elisabette estreitou os olhos, tentando discernir o que via naquela luz precária, até que a verdade tomou forma diante dela como um soco na barriga. Arfou alto, agarrando-se com força às muletas quando reconheceu o que jazia ali, envolto em um cubo translúcido e gelatinoso: era seu coração.

Ele pulsava com violência, acelerado, respondendo às emoções que a invadiam naquele instante com uma sincronia aterradora. Faíscas elétricas azuladas dançavam em sua superfície, como um escudo protetor frágil e vivo. O nojo e o pânico colidiram dentro dela. O estômago se contorceu em náusea, as pernas fraquejaram, e um nó espesso subiu à garganta, ameaçando fazê-la vomitar.

Contudo, ela engoliu o desconforto com esforço, sufocando o impulso de fugir dali. Estendeu a mão hesitante, trêmula, os dedos pairando sobre o recipiente como se temesse tocar algo sagrado e profano ao mesmo tempo. Quando enfim encostou na superfície do cubo, o toque foi suave, cauteloso ── quase temeroso, como se pudesse ferir a si mesma.

Engoliu em seco, mordeu o lábio inferior até sentir o gosto metálico do sangue e, com um gesto contido, envolveu o cubo com firmeza, embora o corpo inteiro estremecesse. Seus olhos então buscaram Law, e o que encontrou a fez congelar.

Ele a observava em silêncio, o rosto impassível, mas os olhos... os olhos eram frios, clínicos, invasivos. Uma análise silenciosa e minuciosa, como se a estivesse dissecando com o olhar. Sentiu-se exposta, vulnerável, invadida. E não era apenas desconforto ── era um alarme instintivo.

O submarino, outrora apenas silencioso, agora parecia sufocante. As paredes pareciam se fechar em torno dela. Estar a sós com o Cirurgião da Morte já não era uma situação inofensiva ou sequer neutra ── era perigosa. Aquilo não era uma visita, era uma exposição, um alerta. Algo dentro dela gritava para que se colocasse em guarda, para que esperasse o momento em que teria de se defender... ou fugir.

Elisabette desviou os olhos dos dele, inspirando profundamente. Após dois anos inteiros ansiando por aquele instante, ela ergueu a camisa até expor o peito e, com delicadeza, posicionou o coração no lugar ao qual verdadeiramente pertencia. Um arrepio eletrizante percorreu-lhe todo o corpo, uma onda de energia reverberou por suas veias e tendões, e suas pupilas contraíram-se por um breve momento, enquanto um raio azul cintilante circulava suas íris.

Ela prendeu a respiração e pressionou a mão contra o próprio peito ao sentir a pele se fechar instantaneamente sobre o órgão recém-reposto. Piscou algumas vezes, tentando assimilar a sensação do retorno de sua força vital ── não que estivesse fraca antes, mas a ausência do coração em seu corpo, da eletricidade que o envolvia, havia lhe causado uma limitação sutil, como se estivesse sendo contida contra a própria vontade.

Inspirou novamente, desta vez com mais firmeza, sentindo o corpo tornar-se leve, desperto e inteiro. Estava de pé, os pés firmes sobre o chão, apesar do apoio das muletas ── agora, finalmente, sentia-se completa.

- Quando soube que você havia entregue cem corações de piratas à Marinha para se tornar um Shichibukai, confesso que tive medo de que o meu estivesse entre eles. ─ disse Elisabette, rompendo o silêncio. Um sorriso amargo curvou seus lábios pálidos enquanto o fitava com atenção.

- Se quer saber a verdade, quase cogitei entregá-lo. ─ retrucou ele, com rispidez, desviando o olhar e soltando um suspiro. - Tive alguns problemas com a caçadora que me ajudou a coletar os corações¹. Mas havíamos feito um acordo, e eu não quebraria sua confiança... sabia que você não quebraria a minha.

- Eu nem sabia como iria pagá-lo, na verdade... tantas coisas começaram a acontecer de forma tão repentina que eu apenas comecei a aceitar que talvez nunca o recuperaria. Ou que teria que, sei lá, estragar tudo de uma vez e roubá-lo de você... mesmo que isso significasse nunca mais... ─ murmurou a jovem, mantendo a cabeça baixa, os olhos fixos no chão amadeirado.

- Nunca mais o quê...?

- Não importa. Pelo menos... não mais...

- Elisabette-ya. ─ chamou ele, a voz suavizando-se até quase soar como um lamento, enquanto segurava o queixo dela, obrigando-a a encará-lo. - Naquele dia, quando você caiu no mar... o que realmente aconteceu? Por que comeu o Fruto do Anjo?

Por um instante, Elisabette sentiu o calor tomar-lhe as bochechas diante do toque inesperado dele. O aperto em seu queixo era suave, porém firme, e fez sua respiração vacilar por breves segundos antes que ela apertasse com mais força as muletas nas mãos, numa tentativa falha de se manter firme. Seu coração, recém-reinstalado em seu peito, disparava de forma intensa ── de um jeito que há muito não sentia. Em silêncio, questionou-se se aquele era o ritmo que ele sempre assumia quando estava com Law. Sua mão, quase por reflexo, foi até o peito, onde os batimentos pareciam querer romper a pele, pulsando com violência sob a palma trêmula. Era uma sensação estranha, mas que ela conhecia bem. Sempre fora assim com ele.

A jovem de cabelos platinados engoliu em seco e esboçou um recuo, mas ele a impediu com a outra mão, envolvendo-lhe o braço e a mantendo próxima, cativa. Suas respirações se encontraram, mornas, entrelaçadas no espaço estreito entre seus rostos. Ela desviou o olhar, mas ele não permitiu que se afastasse. Não queria que ela se fosse. Não podia vê-la longe. Não ainda. Não enquanto não compreendesse por completo o que se passava por trás dos silêncios e omissões dela. Mesmo após todas as palavras já ditas, ele sentia, no âmago, que havia mais ── verdades que ela enterrava sob camadas de dor e orgulho.

Essa ignorância o consumia, corroía sua sanidade, transformando sua inquietação em algo doentio. Doía-lhe saber que não havia nada ao seu alcance que pudesse salvá-la dela mesma, que ele era impotente diante das feridas que ela insistia em abrir e manter expostas. E essa impotência o envenenava com uma agonia silenciosa, como um corte profundo apodrecendo ao toque de sal e álcool.

Por mais que odiasse admitir, por mais que lutasse contra a verdade, sabia que já estava envolvido demais ── além do que consideraria prudente, além do desejo carnal, além do mero afeto. Era uma obsessão disfarçada de zelo, um desejo possessivo e quase patológico de tê-la sob seu domínio, de vê-la viva, consciente, reagindo. Era a necessidade desesperada de sentir que ela ainda lhe pertencia, que ainda estava ali... e que, de algum modo, só ele poderia tocá-la dessa forma.

- Porque eu não posso mais fugir das consequências das minhas próprias ações. ─ a resposta rompeu a quietude do momento, embora não fosse suficiente para dissipar a tensão que pairava no ar como uma tempestade prestes a desabar. - Quando derrotarmos Kaido, eu irei embora. ─ murmurou, a voz trêmula e embargada pelo choro contido, tentando se afastar, ainda que o aperto firme em seu queixo e em seu braço já começasse a machucá-la.

- O Mugiwara-ya sabe disso?

- Eu pretendia contar antes dele partir para Whole Cake, mas... eu sabia que aquele não era o momento certo... ─ desviou o olhar, os lábios tremendo. - Eu vou esperar ele voltar para anunciar minha saída e, então, eu...

Ela não conseguiu terminar a frase. Foi empurrada com brutalidade contra a parede, o impacto reverberando em suas costas, fazendo-a prender a respiração.

- Então você o quê? ─ ele rosnou, os lábios perigosamente próximos dos dela, o calor de sua pele invadindo o espaço entre os dois, quase tocando-a. Ela arfou, engasgando-se com a própria saliva diante da proximidade sufocante.

- Então... eu vou embora. ─ repetiu, com a voz quase inaudível, como se, ao dizê-lo em voz alta, tornasse aquilo mais real ── mais dolorosamente inevitável.

Law pretendia responder. Repreendê-la. Gritar, se necessário. Dizer, com todas as letras, que não ── que ela não iria embora, que ele jamais permitiria que ela desse fim à própria existência daquela forma silenciosa e cruel. Mas as palavras morreram em sua garganta no instante em que ela se inclinou e repousou a testa em seu ombro ── sem, no entanto, tocá-lo por completo. Havia hesitação em seu gesto. Havia medo. E isso o destruiu.

Ele permaneceu imóvel por um momento, sentindo o frio de sua pele roçar a sua, tão leve e distante que parecia um sussurro. Sua presença, antes tão viva, agora se tornava fantasmagórica. Então, como se tentasse trazê-la de volta ao mundo dos vivos, ele a envolveu com força nos braços, pressionando seu corpo curvilíneo contra o dele, tentando aquecê-la com seu próprio calor. Mas o que encontrou foi a frieza mórbida de sua carne, a leveza absurda de um corpo que parecia não carregar mais nenhuma vida, mesmo que ela ainda falasse, respirasse, se movesse ── ainda que estivesse ali.

Aquilo o dilacerava.

Doía porque estava além de qualquer reparo. Doía porque não havia cirurgia, não havia bisturi, não havia técnica ou perícia que pudesse salvá-la. A Ope Ope no Mi, com todos os seus milagres, não poderia curá-la. Porque, mesmo que seus olhos ainda brilhassem em tons mortais, ela já não era mais. Ela estava se esvaindo, fragmento por fragmento, e ele sabia ── sabia ── que estava prestes a perdê-la para sempre.

Suas mãos, trêmulas, deslizaram pelas costas dela, adentrando o tecido da blusa, tocando a pele onde antes haviam asas. Asas que ela mesma dizia serem desproporcionais, cheias de penas macias, exageradamente grandes ── "como eu", ela dizia, com um sorriso triste. Law se perguntou se doeu perdê-las. Se ela sentia falta delas. Se ainda doía caminhar sem o peso que carregava nas costas. Se a ausência desequilibrava seu corpo. Se o céu fazia falta. Mas nenhuma dessas perguntas ousou sair de sua boca. Só o silêncio restava entre eles, tão denso que parecia sufocá-lo.

Ela não reagia. Não dizia nada. E ele também não.

Foi quando um soluço rompeu a quietude ── frágil, quebrado, tão humano que o paralisou. Seus dedos apertaram sua cintura com mais força, como se pudesse mantê-la ali apenas por vontade, por desespero, por pura obstinação. Ele precisava mantê-la próxima. Segura. Protegida de tudo, até dela mesma.

Law estava adoecendo.

Ou talvez já estivesse doente há muito tempo. Alucinado. Despencando em queda livre em direção a ela, sem ter onde se segurar, sem qualquer esperança de salvação. E talvez nem quisesse ser salvo. Porque, mesmo que a amasse em meio ao desespero, ele sabia: ela estava morrendo. E ele estava morrendo junto.

- Você me faz sentir fraca... ─ a voz de Elisabette escapou em um sussurro trêmulo, embargado pelo choro entalado, tão baixo que quase não existia. Suas mãos, antes hesitantes, enfim encontraram o corpo dele, agarrando-se à camisa com um aperto débil, desesperado. - É uma sensação angustiante, sufocante... Eu queria tanto que você simplesmente... desaparecesse. Que morresse. Que deixasse de existir, para que eu não precisasse mais carregar esse inferno que você causa no meu peito... ─ sua confissão saiu como um veneno misturado à dor, e a fragilidade de seus dedos tremendo sobre ele fez Law respirar fundo, encostando o rosto em seus cabelos em silêncio.

- Está dizendo que me quer morto? ─ perguntou, a voz rouca e densa, oscilando entre incredulidade e resignação. Havia ali algo de quebrado, algo que se partia em silêncio, como se estivesse tentando compreender até que ponto aquilo era real ── e até onde ele mesmo suportaria ouvi-la.

- Eu... talvez... ─ ela gaguejou, engolindo em seco, o olhar perdido em alguma lembrança longínqua. - Sentir o que sinto por você me enfraquece. Me torna vulnerável, exposta, humana demais... e eu não posso continuar assim... não posso mais...

A frase se partiu em meio ao caos que explodia dentro dela. Um engasgo. Um soluço. As mãos antes frágeis agora subiam lentamente até o pescoço dele, os dedos se fechando ao redor da pele quente. Seus olhos encontraram os dele, e o vazio que ele via ali o aterrorizava. Não era mais a mulher que conhecia. Aquela que amava... já não estava presente. O que restava diante dele era a verdade crua e dilacerante ── a face despida da dor, da sanidade, da esperança.

- Eu vou te matar. ─ ela murmurou, e a ameaça, dita de forma tão calma, fez com que o tempo parecesse congelar entre eles.

- Vá em frente. ─ ele respondeu sem hesitar, a voz fria como aço, sem sequer piscar.

- Eu vou.

- Então vá. ─ Law manteve-se imóvel, suas mãos ainda presas à cintura dela, o toque firme, possessivo, como se dissesse silenciosamente que, mesmo diante da morte, não a soltaria. Seus olhos, opacos e insondáveis, encaravam os dela com uma intensidade gélida, e sua expressão inexpressiva ── vazia de medo, de súplica, de raiva ── fez o corpo dela estremecer.

A Praga fitava profundamente os olhos do Cirurgião da Morte enquanto apertava seu pescoço com crescente intensidade. A cada segundo que se esvaía, a pressão de seus dedos tornava-se mais firme, mais cruel. As mãos dele, antes presas com força à cintura dela, começavam a ceder, escorregando como se estivessem desistindo. Suas pernas tremiam, e a escuridão nublava sua visão enquanto a urgência por oxigênio transformava-se num tormento abrasador e insuportável.

No instante em que acreditou estar prestes a sucumbir à falta de ar, os dedos de Law se moveram num impulso desesperado, ativando uma Room que o arrancou violentamente da frente dela. O movimento foi brusco, instintivo ── e a surpreendeu por completo. Ela arregalou os olhos, os dentes cerrados em raiva e susto, mas não foi rápida o bastante: o canivete lançado por ele cravou-se em seu ombro com precisão cirúrgica. Um arquejo escapou de seus lábios, misto de dor e incredulidade. Ainda assim, seu punho se fechou e, mesmo enfraquecida, ela tentou golpeá-lo com a violência instintiva de quem luta pela própria sanidade.

Ele desviou com uma frieza inquietante e, num só empurrão, a lançou para trás. O corpo dela cambaleou até colidir com a escrivaninha, caindo de costas com um estrondo seco que derrubou papéis, frascos e canetas sobre o chão. O impacto ecoou como um grito mudo no silêncio do quarto.

Elisabette tentou se erguer, os lábios entreabertos num suspiro arrastado, enquanto uma das mãos alcançava o ferimento latejante no ombro. Antes que pudesse se mover mais, seus pulsos foram tomados com força por Law ── ele já estava entre suas pernas, o rosto ofegante, os olhos arregalados, ambos encharcados pelo caos da luta. As respirações estavam entrecortadas, febris, como se os dois tivessem despertado de um torpor prolongado para um pesadelo ainda maior.

Uma gota de suor escorreu pela testa dela, e seus olhos, aflitos, procuraram os dele ── dilatados, selvagens, mas frios. Então, a chama da lamparina vacilou e se apagou, engolindo ambos na penumbra do quarto gélido de Trafalgar. A escuridão os tragou sem aviso, e o silêncio que se seguiu parecia berrar. Ele apertou ainda mais os pulsos dela, como se temesse que, ao soltá-la, ela desaparecesse ── ou o matasse.

A lâmina do canivete cravada no ombro de Elisabette começou a se desprender lentamente da carne, deslizando para fora do ferimento com uma languidez quase cruel, até cair com um som metálico sobre a superfície da escrivaninha onde seu corpo ainda jazia pressionado. O sangue, agora livre do lacre da lâmina, começou a escorrer em filetes espessos, formando respingos desordenados que manchavam sua pele pálida com traços vívidos de vermelho. A iluminação tênue da lua, filtrada pela escotilha semicerrada do quarto de Law, mal tocava o cenário ── as nuvens densas e carregadas encobriam o céu e traziam consigo uma tempestade que sacudia o mar com violência. O navio-submarino balançava incessantemente, como se refletisse o caos dentro deles.

Foi então que um peso cálido e opressivo se impôs sobre ela ── Law deitou-se sobre seu corpo ferido, os movimentos pesados e contidos, como se algo dentro dele tivesse finalmente cedido. Sua cabeça repousou sobre o ombro ensanguentado dela, a testa encostando suavemente em seu pescoço, como se buscasse ali, no frio daquela pele, algum consolo que lhe escapava. Sua respiração era descompassada, presa entre a culpa e o desejo. Os pensamentos, confusos e conflituosos, giravam como um turbilhão: prós e contras se chocando numa dança desesperada ── os contras gritavam alto, mas ele ainda assim se agarrava aos frágeis prós. Ele não queria soltá-la. Não queria afastá-la. Não queria perdê-la ── não mais.

Por que ela precisava tornar tudo ainda mais difícil do que já era? Desde o princípio, ele tentara conter o que sentia, restringir tudo a toques ocasionais, olhares furtivos, silêncios compartilhados. Mas ela... ela cruzava todas as linhas sem perceber, invadia seus limites, desarmava suas defesas, e tornava tudo entre eles mais complexo, mais íntimo, mais inevitável. Era como afundar em um abismo e desejar nunca mais emergir.

Ela o perturbava.

Ela o enfeitiçava.

Ela o destruía.

Cada gesto seu era um veneno doce ── o aroma de chuva no algodão de suas roupas, o toque leve mesmo com mãos marcadas pela vida, a voz cálida que parecia sussurrar diretamente para suas feridas mais antigas, os abraços que não exigiam nada e ainda assim davam tudo, os olhos que o viam por completo. Tudo nela o enredava em um vício insano e incurável, um desejo que roçava a loucura, uma necessidade dolorosa que o fazia odiar o quanto a amava.

E ali, no meio da escuridão, do sangue e do silêncio quebrado apenas pelo som da tempestade, Law apertou os olhos e simplesmente ficou ── preso a ela, a si mesmo, ao peso do que sentia e do que jamais conseguiria afastar.

- Semanas atrás, quando recebi aquela ligação no banheiro da pousada em Porzellanpuppen... a mesma pessoa veio até mim em busca da Tenshi Tenshi no Mi e das plantas capazes de curar a epidemia da Febre das Árvores nas Ilhas do Céu. ─ sussurrou Elisabette, encostando suavemente a lateral da cabeça na dele, os olhos ardendo sob o peso de lágrimas que logo se derramaram sem controle por seu rosto pálido. - Não importa o quão longe eu tente escapar de Skypiea, ou o quanto eu lute para apagar o passado... as feridas continuam abertas, e as pessoas ainda sofrem por minha causa. Uma guerra civil foi iniciada em meu nome. Irmãos se voltaram uns contra os outros... uns desejam a minha morte, como se ela fosse uma solução; outros me veem como a última esperança de um país que, mais uma vez, mergulha no próprio inferno.

Ela fez uma pausa, engolindo em seco, sentindo o nó se formar em sua garganta.

- Achei que, se eu morresse, tudo se resolveria. Que o remorso cessaria, e eles não precisariam mais suportar o fardo da minha existência. Mas a verdade... a verdade cruel é que não importa o quanto eu tente... eu simplesmente não consigo morrer.

- Eu prefiro você viva... mesmo que atormentada... do que morta e eternamente fora do meu alcance. ─ Law murmurou contra sua pele, inspirando profundamente, como se precisasse se envenenar do perfume suave de algodão que escapava de seu pescoço.

- Isso soa como um pensamento absurdamente egoísta...

- Talvez seja. Mas estou me permitindo ser egoísta... pela primeira vez na vida. ─ retrucou, soltando delicadamente seus pulsos para envolver o corpo dela com os braços, apertando-a contra si como se temesse que o mundo a roubasse dele a qualquer instante. - Você me torna um homem pior, sabia?

- Bem... foi você quem quis assim, não foi? ─ murmurou ela, afastando-se apenas o suficiente para encará-lo, permitindo que suas mãos deslizassem por seus braços até alcançarem os ombros, os dedos trêmulos buscando consolo no calor da pele dele. - Você me disse para continuar miserável... mas que fosse miserável ao seu lado.

- Disse, sim...

- Mas você não disse isso para mim, disse? ─ sussurrou Elisabette, desviando o olhar, as lágrimas escorrendo com amargura pelos cantos dos olhos e mergulhando nos fios de cabelo desgrenhados. - Disse para ela.

- Ela?

- Ela... ─ repetiu com a voz embargada, hesitante, como se proferir aquilo lhe roubasse o fôlego. - Aquela garota tola... ingênua... que vivia com a cabeça nas nuvens. Estúpida... e ainda assim tão melhor do que eu.

Um silêncio cortante se formou, até que a voz grave de Trafalgar a atravessou como um trovão em noite sem lua:

- Chega disso, Lizzy-ya.

Ela estacou. O tom dele a arrepiou, mas foi o apelido que a fez prender a respiração.

- Você continua sendo você. ─ ele prosseguiu, firme. - Ela é você. Você é ela. Apesar de tudo. Mesmo agora. Mesmo ferida, mesmo em ruínas. Você ainda é... você.

E então, num sussurro abafado pela dor contida:

- E eu... eu amo você.

A última frase foi o estopim. Tudo aquilo que ela mantinha contido no peito, por tanto tempo reprimido, rompeu em um só gesto desesperado. Seus braços e pernas enroscaram-se ao redor dele com urgência, como se sua própria existência dependesse daquele contato, como se soltar-se significasse desaparecer. O ferimento no ombro ardia, ainda sangrando em silêncio, mas aquela dor física era insignificante diante do tormento mais cruel: o de, apesar de tudo, ainda ser ela mesma.

Ser ela... ainda que fragmentada, confusa, em ruínas. Odiava a ideia de carregar tantas versões de si, todas conflitantes, todas gritando ao mesmo tempo. E, ainda assim, permanecer inteira doía ainda mais. Assustava. Dilacerava.

Law a envolveu com força, como se pudesse fundi-la ao próprio corpo. Ergueu-a do chão e a manteve junto de si, colando-a contra o peito como um relicário precioso que jamais permitiria perder. Seu rosto afundou na curva do pescoço dela, enquanto ela se escondia em seu ombro como se ali houvesse refúgio contra o mundo. As lágrimas quentes que caíam dos olhos dela escorriam por sua pele como lamentos silenciosos, e cada soluço que fazia seu corpo tremer era sentido por ele como se fossem seus próprios.

Naquele momento, ela era apenas fragilidade: sensível, vulnerável, indefesa. E ele... ele seria o que fosse preciso. Abrigo. Fortaleza. Guardião. Estaria ali para acolhê-la, para firmar os pés dela no chão quando o mundo desabasse. Não importava quem ela tivesse sido, quem ela fosse agora ou quem jamais conseguiria ser. Ele a seguraria com a mesma intensidade de quem segura algo sagrado, com a devoção de quem encontra, no caos de alguém, o próprio sentido.

Mesmo que aquilo que tivessem estivesse se tornando confuso, doloroso, até possessivamente obsessivo... ainda assim, encontravam alívio um no corpo do outro. Eram refúgio. Eram vício. Ela, mesmo com a pele fria, os olhos opacos e a alma por vezes desvanecida, ainda era tudo. Ainda era dele.

E Trafalgar Law, o Cirurgião da Morte, Capitão dos Piratas de Copas, seria o escudo entre ela e qualquer coisa que ameaçasse quebrá-la mais uma vez. Porque, ainda que tudo ruísse, ele jamais permitiria que a levassem para longe de seus braços. Não enquanto ainda respirasse.

Os olhos dele pousaram suavemente sobre o ombro nu da jovem, onde o corte aberto ainda vertia sangue em fios lentos. Algo dentro dele se remexeu ── uma inquietação instintiva, profunda ── e, sem pensar, levou os lábios até o ferimento, depositando ali um beijo tímido, manchando a própria pele com o líquido carmesim e ferroso. Ela suspirou, estremecendo sob o gesto íntimo e insólito.

Law afastou o rosto, os olhos buscando os dela. Estavam vermelhos e inchados, ainda inundados por lágrimas que escorriam lentamente, acompanhadas por soluços fracos e uma respiração entrecortada. O nariz escorria discretamente, traindo a fragilidade que ela tentava conter. Com cuidado, a mão dele soltou o corpo dela, apenas o suficiente para subir até seu rosto. O polegar encontrou sua bochecha úmida e ruborizada, traçando círculos suaves e lentos, como se pudesse apagar a dor.

O olhar dela, tão vulnerável e desolado, puxava com violência as cordas do coração dele ── como se cada lágrima derramada sussurrasse um pedido de permanência que ele jamais seria capaz de recusar.

- Veja só o que você me fez fazer, sua pirralha idiota... ─ murmurou, aproximando seus lábios pálidos em um beijo hesitante, porém terno. - Peço desculpas... mas foi você quem me enforcou e, por um momento, achei que... ah, droga... venha, eu... eu vou lhe limpar e também vou trocar esses curativos...

- Trafal... ─ ela parou, o olhar perdido por um instante antes de voltar a falar novamente com a voz fraca e tímida, quase chorosa: - Law-san...

Um suspiro ── de alívio ou talvez de puro esgotamento ── escapou silenciosamente por entre os lábios do homem, que apenas a apertou com mais força contra si, como se quisesse protegê-la do mundo, do tempo e da dor. Seus passos foram suaves e cuidadosos ao atravessar o cômodo até o banheiro, onde a acomodou delicadamente sobre a bancada da pia. Com gestos atentos, desvencilhou-se dela, mas seus olhos não a deixaram nem por um instante.

Law a observou em silêncio, como quem contempla algo frágil e precioso. Suas mãos, envoltas em ternura contida, moveram-se com cuidado até a camisa dela, retirando-a lentamente, respeitando cada segundo daquele desnudar silencioso. Depois, com a mesma delicadeza quase reverente, abaixou sua saia e a calcinha, expondo sua nudez à luz trêmula do cômodo ── mas, para ele, nada havia ali senão vulnerabilidade. Seu olhar acinzentado, sempre tão aguçado, naquele instante via apenas a alma ferida diante de si.

Desfez os curativos com o mesmo zelo, desnudando aos poucos as marcas da dor em sua pele. E então, num gesto que misturava força e proteção, a tomou nos braços novamente, guiando-a com gentileza até o chuveiro. A ajudou a se apoiar contra a parede e, após despir-se também, a envolveu pela cintura e a atraiu contra o peito. Ligou a ducha, deixando que a água fria despencasse sobre seus corpos, lavando o sangue, o suor e os vestígios de uma dor recente demais para ser esquecida.

Elisabette inspirou profundamente, o toque gelado da água cortando-lhe a pele e despertando nela lembranças dolorosas ── o momento em que seu corpo foi engolido pelo mar, a exaustão da rendição, e a visão fantasmagórica de suas asas se desintegrando no oceano escuro, pena por pena, como se sua liberdade se desfizesse em pó diante de seus olhos, restando apenas o vazio.

Percebendo a tensão que ainda habitava o corpo frágil aconchegado ao seu, Law suavizou o olhar e a apertou com mais firmeza, como se, de alguma forma, pudesse afastar os pesadelos que a consumiam. Sentiu, aos poucos, os ombros dela relaxarem, os músculos cederem, até que ela enfim se rendeu àquele conforto e permitiu que o choro cessasse por completo.

Com movimentos lentos, as mãos dele percorreram suas costas, ensaboando-a com delicadeza quase ritualística, como se purificá-la fosse seu dever sagrado. Limpou-lhe os braços, as pernas, e por fim o rosto ── onde o carinho se disfarçava entre gestos de cuidado. Por fim, aplicou o shampoo em seus cabelos platinados, massageando o couro cabeludo com a mesma devoção de quem toca algo precioso, descendo pelas longas madeixas onduladas até que tudo fosse levado pela água.

Ao terminar, envolveu-a em uma toalha macia e a tomou nos braços no estilo de uma noiva, como se carregasse o mundo inteiro. Encostou a testa na dela e a beijou mais uma vez, num gesto lento, íntimo e doce, onde as línguas se tocaram brevemente, como se aquele instante pudesse durar para sempre.

De volta ao quarto, deitou-a com cuidado sobre a cama e começou a secá-la. Refez os curativos com paciência, aplicou as medicações e, por fim, deteve-se diante da expressão entristecida e amada que dominava o semblante dela. Parou por um momento. Ajoelhou-se diante de seu corpo ferido e segurou-lhe o rosto com ambas as mãos, os dedos deslizando suavemente por suas bochechas, enquanto seus olhos mergulhavam nos dela ── um olhar repleto de carinho, cuidado e uma silenciosa promessa de não deixá-la jamais.

- Você pode... cortar o meu cabelo? ─ o questionamento o pegou de surpresa, levando-o a arquear levemente as sobrancelhas, enquanto seu olhar se tornava curioso e ligeiramente confuso.

- Cortar o seu cabelo? Por quê? ─ Law respondeu com outra pergunta, suas mãos deslizando até os ombros dela. - Ele é lindo assim.

- Eu... eu sempre quis cortá-lo, mas... sempre tive medo de mudar tanto assim, então... então eu nunca... ─ ela hesitou, seu olhar sustentando o dele por alguns instantes antes de desviar para o lado. Mordeu os lábios, arrependida. - Esquece...

- Lizzy-ya.

Elisabette voltou a encará-lo, atenta como um filhote ao ouvir o chamado do dono. Seus olhos de cores distintas se fixaram nos dele com uma curiosidade genuína, como se o simples ato de ele a chamar daquela forma fosse suficiente para despertá-la de um transe silencioso e paranoico.

- Se você quiser que eu corte o seu cabelo, eu corto.

- Mesmo...?

- Claro. ─ afirmou, erguendo um pouco o corpo, apenas o suficiente para aproximar os rostos e depositar um beijo suave em sua testa. - Eu... eu só não posso garantir que vá ficar bom, tudo bem? Sou médico, não cabeleireiro.

Diferente do que esperava, ela soltou uma risada fraca. Os ombros se moveram suavemente com a gargalhada tímida, enquanto ela o olhava com diversão nos olhos, fazendo com que seu peito se aquecesse. Law suspirou, aliviado por ter a oportunidade ── e o privilégio ── de ouvir aquele som mais uma vez, ainda que tão frágil, abafado, quase preso na garganta. E, mesmo assim, foi o suficiente para arrancar-lhe um leve sorriso no canto dos lábios.

Aquilo era um começo ── ou talvez, um recomeço.

Law a encarava com um semblante carrancudo, o cenho profundamente franzido diante da tolice que acabara de cometer. eu "O que se poderia esperar ao usar uma tesoura cega e enferrujada para cortar os cabelos de alguém?" ── questionou-se mentalmente, levando uma das mãos até o rosto e apertando a ponte do nariz com visível frustração.

Ele sabia que não era nenhum especialista em cortes de cabelo. Afinal, os encarregados por impedir que uma moita de fios emaranhados e absurdamente volumosos tomasse conta de sua própria cabeça eram Clione ou Ikkaku. Agora, deparava-se com o desastre que provocara ao subestimar suas próprias (inexistentes) habilidades.

No chão da lavanderia, várias mechas platinadas jaziam espalhadas. Cachos loiros estavam dispersos em desordem, e recortes tortos e mal feitos denunciavam o erro. Seus pés estavam cercados por fios despedaçados, enquanto ele segurava firmemente o encosto da cadeira, impedindo que Elisabette se virasse e visse o estrago.

Os cabelos, que ela pedira para que fossem cortados na altura do meio das costas, estavam agora acima dos ombros; e a franja, que deveria ser apenas aparada, terminava na linha das sobrancelhas. Se ela não o havia enforcado no quarto anteriormente, certamente o mataria agora ── talvez enfiando aquela tesoura velha e caindo aos pedaços diretamente em sua garganta.

- Posso olhar? ─ ela sorriu, fitando-o com uma expectativa tão genuína que o fez trincar os dentes e engolir em seco.

- Pode, sim. Mas lembre-se do que eu disse: sou médico, não cabeleireiro. ─ suspirou Law, girando lentamente a cadeira até que o rosto dela se voltasse para o espelho. No reflexo, viu os olhos de Elisabette se arregalarem.

- Ah, não! Não foi isso que eu pedi!

- Eu avisei! ─ retrucou ele, sentindo o sangue gelar ao vê-la se levantar da cadeira e se aproximar ainda mais do pequeno espelho. - Você insistiu, eu só obedeci!

- Minha cabeça está parecendo um capacete! ─ Elisabette levou as mãos ao rosto, horrorizada, e virou-se para ele. - A franja não combina em nada com as sobrancelhas! Está ridículo!

- Eu dou um jeito nelas, vem cá. ─ antes que ela pudesse protestar, ele já a puxava pela cintura e pegava o barbeador. - Não se mexa.

- Ai!

- Puta que pariu...

- O quê!? ─ ela empalideceu, tentando virar o rosto para o espelho, mas teve o queixo firmemente segurado.

- Fique quieta, Lizzy-ya!

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