
━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟱𝟯. 𝐂𝐀𝐕𝐀𝐋𝐄𝐈𝐑𝐎 𝐕𝐄𝐑𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎 - 𝗔 𝗚𝘂𝗲𝗿𝗿𝗮.
𝗖𝗔𝗩𝗔𝗟𝗘𝗜𝗥𝗢 𝗩𝗘𝗥𝗠𝗘𝗟𝗛𝗢 ;
𝗥𝗲𝗽𝗿𝗲𝘀𝗲𝗻𝘁𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼: Guerra.
𝗗𝗲𝘀𝗰𝗿𝗶𝗰̧𝗮̃𝗼: Montado em um cavalo vermelho, ele carrega uma grande espada.
𝗜𝗻𝘁𝗲𝗿𝗽𝗿𝗲𝘁𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼: Este cavaleiro representa a guerra e a violência, simbolizando o conflito e o derramamento de sangue.
━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Algum lugar do mar.
“Ela mistura o céu com sonho e fantasia, ela imaginou que se transformaria em borboleta…”
Elisabette cantarolava em sussurros suaves, segurando-se na rede do mastro e observando o céu estrelado, enquanto todos já estavam recolhidos para dormir no interior do navio. Restava apenas ela de tocaia do lado de fora — uma vez que a jovem havia insistido que, apesar do joelho fraturado, se sentia em condições de exercer seu papel de sentinela, mesmo em um navio que não era o seu próprio. Segundo ela, seria uma forma de agradecer pelo cuidado dos tripulantes do Going Luffy-senpai com ela e seus companheiros, que, é claro, se sentiram lisonjeados por receber a proteção de um de seus ídolos enquanto estivessem adormecidos.
Já havia se passado uma semana desde que os Chapéus de Palha começaram a navegar rumo a Zou a bordo do navio de Bartolomeo. Todos os dias eram repletos de bebedeira e banquetes desastrados preparados, com festejos constantes pelo aumento da recompensa que haviam recebido após os eventos no Reino de Dressrosa.
Elisabette não podia deixar de se sentir orgulhosa de si mesma, estufando o peito sempre que lhe era lembrado que havia saído de uma recompensa de 68.000 berries, após sua rápida interferência em Marineford e a destruição do Arquipélago #01, para um impressionante valor de 300.000.000 berries. Apesar das pancadas, das dores em seu corpo e da possibilidade de cegueira — tudo decorrente de sua participação na queda de Doflamingo —, ela se sentia feliz por ter alcançado tal classificação. Embora não compreendesse plenamente o significado de tantos números, ao ver o semblante orgulhoso e satisfeito dos outros ao vê-la com tudo aquilo, a sentinela sorriu em contentamento.
Seu joelho, lentamente, recuperava-se, especialmente graças ao auxílio de Trafalgar e seus vastos conhecimentos médicos, que se mostravam fundamentais na recuperação de sua aliada. A cada dia que passava, ela sentia-se mais grata pela sua “gentileza”, mas também cada vez mais perdida e confusa em relação ao que havia ocorrido entre os dois, tanto em Dressrosa quanto alguns dias atrás, na despensa do navio.
Envergonhada pelas lembranças pecaminosas que inundavam sua mente, a jovem platinada cobriu o rosto, sentindo suas bochechas arderem de constrangimento à medida que as memórias ressurgiam.
Elisabette mordeu o próprio polegar ao sentir o ventre esquentar e uma umidade delicada entre as pernas. Recordava-se da forma como Law a segurou com firmeza inabalável, da maneira como sua língua encontrou a dela com uma maestria e graça inigualáveis, de suas mãos segurando seu cabelo e quadril para mantê-la quieta sobre seu colo — tudo isso a deixava mais enlouquecida do que já era (N/A: como se isso fosse possível 🤓), desejando sentir mais, ter mais dele. Queria que ele fosse todo seu, e somente seu.
- Pai, afaste de mim este cálice... – ela murmurou para si mesma, suas asas batendo freneticamente e espalhando plumas ao seu redor.
Deixando de lado os pensamentos sobre o ocorrido há algumas noites, Elisabette olhou para a bolsa pendurada em seu corpo, segurando uma das cordas com uma mão e utilizando a outra para abri-la minimamente. Seu olhar imediatamente se fixou nas plantas guardadas como um buquê — essa visão a fez suspirar, e ela fechou a bolsa novamente, descendo da rede com um salto e aterrissando diretamente no convés, sentindo o navio inteiro balançar com o impacto de seu peso contra o chão.
A jovem de cabelos platinados afastou-se em direção à proa, certificando-se de que não havia ninguém por ali. Assim que tudo estava conforme sua percepção, ela levantou a blusa para observar o buraco no lado esquerdo de seu peito, engolindo em seco ao sentir a brisa da noite percorrer o vão que havia ali, seu coração fazendo falta naquele momento. Um suspiro escapou por seus lábios enquanto ela abaixava a blusa novamente, cruzando os braços e olhando de lado para um canto específico, onde viu Inazuma encostada na parede, praticamente abandonada — deixada de lado desde o uso do El Thor, que quase lhe fora fatal.
Mancando em passos lentos e desengonçados, a sentinela alcançou sua companheira de batalhas, tocando na lâmina rachada e sentindo um arrepio percorrer sua espinha, como um choque térmico; no entanto, ela sabia que estava longe de ser apenas isso.
Inazuma havia sido criada por Enel, sabe-se lá como, mas isso realmente ocorreu. Os poderes elétricos produzidos por sua arma eram os mesmos da Goro Goro No Mi, embora fossem mais fracos. Ainda assim, poderiam ser devastadores nas mãos de Elisabette, a usuária daquela foice tão poderosa — não apenas aos olhos dela, mas também de todos que já tiveram a honra ou o azar de enfrentá-la como oponente. Assim, podiam experimentar a agressividade do Anjo da Morte combinada perfeitamente à maestria violenta da energia do fruto do relâmpago.
“Viajaria o mundo e não se cansaria, e pousaria onde houvesse alegria… a borboleta…”
Enquanto cantarolava uma canção que não conseguia lembrar de onde havia aprendido ou onde a havia escutado, a birkan sentiu uma vibração leve em meio aos seus seios fartos. Não demorou a franzir o cenho e enfiar a mão enfaixada entre eles, retirando o Call Dial que vibrava incessantemente. Impaciente, Elisabette revirou o olho, finalmente atendendo à ligação de quem quer que estivesse tentando contatá-la há semanas.
- Umbigo. – ela disse de forma preguiçosa, sentando-se sobre a amurada do navio e encostando as costas na parede.
“Umbigo, o cacete, Elisabette!”, a voz de Wyper soou estrondosa do outro lado da linha, fazendo com que o corpo da platinada estremecesse. “Por que diabos você pediu um Call Dial se não ia atendê-lo sempre que alguém quisesse falar com você?!”
- Que grosseria! O que foi? Quem morreu agora?
“Você, se voltar para as Ilhas do Céu antes que os Boinas Brancas consigam reverter a situação que se instaurou por sua causa, sua maluca.” Ele retrucou com rispidez, deixando-a confusa com suas palavras.
- Eu? Por quê? Eu nem fiz nada! – Elisabette rebateu. - Bem, pelo menos não dessa vez.
“Escuta… como está a missão? Você já chegou a Dressrosa?” perguntou, sua voz agora soando um pouco mais calma, embora ainda parecesse tensa de certa forma. “Em qual estágio da Febre das Árvores você se encontra?”
- A missão de coletar as plantas está completa. Estou com elas comigo neste exato momento e já deixei Dressrosa; agora estou a caminho de Zou. – a resposta dela adquiriu um tom mais sério e firme, enquanto ela virava o rosto para encarar o horizonte. - Eu já me curei. Estou longe de qualquer dano que o vírus pudesse me causar.
“Ótimo… é bom ouvir isso, fico aliviado, de verdade.”
- Agora, responda-me: qual era a urgência? O que está acontecendo em Skypiea para que os Boinas Brancas precisem “interferir” em algo?
“Alguém vazou a informação de que você estaria indo para Green Bit em busca das plantas com a substância Quonine, que será utilizada nas vacinas imunizantes e curativas contra a Febre das Árvores. Também divulgaram informações sobre a Tenshi Tenshi No Mi e seus poderes, o que levou as pessoas a presumirem absurdos sobre você e até mesmo a levantarem pautas contra o falecido Gan Fall.” Wyper revelou de maneira rápida, mas coerente, ao raciocínio da jovem do outro lado, que escutava tudo com o olho arregalado e a respiração presa. “Elisabette, escute bem: não venha para as Ilhas do Céu até que eu diga que você estará segura para vir. Entendido?”
- Não, não está entendido. O que está acontecendo? Como uma informação assim vazou para a população? Por que eu não posso voltar? Eu preciso levar as plantas! Não vou demorar nem um minuto a mais!
“Elisabette, não venha.”
- Por quê!?
“Apenas não venha.” Ele repetiu de forma incisiva. “É para o seu bem.”
- Fale de uma vez, Wyper! Estou ficando sem paciência! – gritou, suas asas se abrindo como um reflexo da raiva que começava a despertar o rubor em seu nariz e testa.
“É uma guerra civil. Iniciou-se uma guerra civil em seu nome.”
- Uma guerra civil? Como assim? – Elisabette franziu o cenho, sua fúria sendo substituída por confusão em seu semblante. ‐ Por que diabos iriam iniciar uma guerra civil em meu nome? Perderam completamente a razão? O país já está em uma situação terrível e ainda me vêm com isso!?
Wyper se calou, deixando-a ainda mais frustrada e atordoada com toda aquela história que ele lhe contara: uma guerra civil em seu nome? Por quê? Ela sequer estava em Skypiea para liderar algo assim e, mesmo que estivesse, jamais o faria, uma vez que o país já estava em decadência e tudo parecia piorar a cada instante — era como se o falecimento de Gan Fall tivesse sido o gatilho para desencadear de uma vez todo o ódio reprimido e acumulado que as pessoas tinham dela ou talvez um pouco da centelha de esperança que haviam depositado nela, como se realmente ela fosse a única capaz de salvar as Ilhas do Céu de perecer em meio à praga espalhada pela destruição causada por Enel.
Além disso, o que ela deveria fazer com aquela informação? Se não pudesse ir para Skypiea por conta da rivalidade da população entre si, que, por algum motivo, ameaçava sua vida, como entregaria as malditas plantas que tanto lhe custaram para obter? Não que ela mesma tivesse ido pegá-las e trazê-las para onde agora estavam, pois fora Law quem lhe fez tamanho favor; mesmo assim… Deus, ela se sentia com a cabeça fervendo com tantas coisas ao mesmo tempo.
Irritada, impaciente e com os pensamentos a mil, Elisabette encarou o céu, seu olhar se fixando na lua brilhando bem lá no alto, envolta pelas mais cintilantes e resplandecentes estrelas. Sentiu o estômago embrulhar ao ter a estranha sensação de estar sendo observada pela lua, mesmo sabendo que aquilo não era nada além do pânico e do nervosismo conseguindo extrair o pior dela. Um suspiro quebrado escapou entre seus dentes enquanto os apertava com força, tentando raciocinar e buscar alguma solução, mas nada parecia ser correto — e, vindo dela, talvez não fosse.
“Alguns acreditam que você possa ser a única esperança para que as Ilhas do Céu voltem a ser prósperas, enquanto outros… acreditam que tudo se iniciou com você.” Wyper murmurou do outro lado da linha, falando devagar e de forma calma, como se hesitasse em se pronunciar, embora soubesse que não havia para onde fugir. “Eles ainda estão receosos em relação a você; até mesmo aqueles que acreditam em sua capacidade estão assustados, temerosos de que algo dê errado e tudo piore.”
- Você fala como se eu fosse voltar para ficar. Eu já disse e vou repetir: não voltarei nunca mais! – gritou, já perdendo toda a calma que lhe restava. Toda aquela aflição estava afetando seus nervos mais sensíveis.
“Acontece, Elisabette, que você não tem escolha; é seu dever. Gan Fall morreu. Entendeu? Morreu! Skypiea não faz parte de Shandia; os conflitos estão ocorrendo entre os próprios skypieans. Tudo está acontecendo entre eles, pela falta de alguém para governá-los!” retrucou, também se deixando levar pela irritação e pela tensão provocadas pelo rumo que as coisas estavam tomando.
- E quem disse que isso é problema meu!? Que merda você quer que eu faça, hein, Wyper?
“Skypiea pertence a você agora, Elisabette! É sua responsabilidade assumir o lugar que era de Gan Fall! Ou você esqueceu que é a única e maldita herdeira que restou!?” A voz dele soou carregada de raiva, sua fúria extravasando através do orifício na concha que a jovem segurava com as mãos trêmulas. “Responda!”
- Que se dane essa hierarquia e tudo mais! Quem você pensa que é para dizer o que devo ou não fazer!? Você não passa de um… – ela se calou, mordendo a própria língua para dar um basta a si mesma, seu olhar perplexo diante da fala que quase deixou escapar.
“De um O QUÊ, Elisabette?”
- Nada.
“Você precisa voltar. Precisa assumir o que é seu por direito e obrigação. Não pode fugir das consequências geradas por suas ações.”
- Eu não fiz nada. – disse Elisabette com firmeza, apertando a concha em sua mão, com as veias saltando por todo o braço. - Eu não vou assumir responsabilidade alguma. Vou para Zou, pegar a Tenshi Tenshi No Mi e levá-la para Skypiea junto com as plantas; depois disso, vocês nunca mais me verão.
“Não se trata de querer ou não, meu Deus do céu! É uma questão de necessidade, de dever! Skypiea precisa de liderança, e você é a única que resta”, bradou o shandia, quebrando aos poucos, farto da teimosia da mais nova.
- SE VOCÊ FALAR ISSO OUTRA VEZ, VOU TE ARRASTAR PARA O JULGAMENTO DIVINO! – gritou novamente, dessa vez faíscas elétricas vibrando em suas mãos, fazendo-a parar de repente e encolher os ombros, assustada consigo mesma. - Eu… eu não…
“Você não vai mudar, não é?”
Elisabette se calou, segurando firmemente o Call Dial em sua mão, com tanta força que a concha começou a se rachar lentamente sob a pressão de sua palma e dedos contra sua superfície delicada. Seu olhar estava perdido, buscando algo ou alguém que pudesse confortá-la naquela situação, mas não havia ninguém; todos estavam dormindo. Ela estava sozinha, como sempre.
Sempre sozinha, sempre distante de alguém que pudesse lhe oferecer apoio em momentos difíceis. Primeiro, quando recebeu a notícia de que Gan Fall era seu avô; segundo, quando Luffy estava inconsciente e acamado na enfermaria do Polar Tang; terceiro, quando Bellamy se foi; quarto, ao receber a notícia da morte de seu avô; e, por último, quando percebeu que estava contaminada com a Febre das Árvores. Sempre assim, sempre sozinha, abandonada, lidando com todas as pedras e balas atiradas contra ela de maneira solene e solitária.
E agora, mais uma vez, estava sozinha. Sozinha e tendo que lidar com a pressão de algo que nunca quis e nunca mereceu. Herdeira do Templo Sagrado? Assumir o lugar de Gan Fall? Tornar-se uma Deusa aos olhos daqueles que tanto a odeiam? Não, nunca. Ela jamais poderia fazer algo assim; afinal, não merecia tal posto. Elisabette poderia ser tudo, menos digna de um poder tão imenso — pois era uma serva, uma escrava, alguém que obedece, não aquela que comanda. Elisabette jamais seria digna disso e ela sabia; sempre soube desde que se reconheceu como única.
“Não importa o quanto tenhamos conversado ou o que você tenha observado nesses dois anos em que viveu em contato direto com o povo das Ilhas do Céu, você continua a mesma.” Ele sussurrou, sua voz descendo para um tom mais arrastado, quase cansado. “Você persegue tanto o fantasma do Enel que não percebe que, aos poucos, está se tornando igual a ele.”
- O quê? Como ousa blasfemar assim? Não pode me comparar a Ele dessa maneira! – Elisabette retrucou com indignação, sentindo uma estranha dor em sua cabeça quando Wyper iniciou aquelas palavras.
“Tentei ajudar você; os sacerdotes tentaram ajudá-la; Gan Fall foi quem mais se esforçou para ajudá-la com isso, mas você não quer ser ajudada.” Ele exclamou, deixando-a boquiaberta e sem saber como rebater suas acusações — afinal, eram mais do que corretas. “Admita de uma vez, ao menos para si mesma, que o motivo de você não querer assumir o posto de Deus de Skypiea é porque ainda acredita que Enel voltará e tomará seu lugar.”
- É isso que você pensa de mim? Não só você, mas todos vocês? É isso que eu sou? Uma… uma sei lá! É isso que vocês pensam!? – ela grita novamente, apertando a concha, que já apresentava algumas rachaduras e começava a se desfazer em sua mão. - Se você repetir isso, eu vou te… eu vou…
“Fala.”
- Eu vou te matar, Wyper. Eu vou te matar e também matarei quem concordar com o que você diz.
“É mais fácil eu te render do que você me matar.”
- Wyper, não me desafie. Você sabe bem com quem está lidando; sabe muito bem quem eu sou e do que sou capaz. – Elisabette sente uma gota de suor escorrer por sua testa, sua cabeça começando a latejar ainda mais, deixando-a enjoada.
“Sim, estou lidando com a Santa Praga.” Ele respondeu de maneira defensiva, carregando um tom agressivo.
- Sim, com a Praga. E você sabe mais do que ninguém do que sou capaz… porque você estava lá naquele dia, não estava? Quando aquela maternidade…
“Quando você explodiu aquela maternidade por causa daquela mulher? Sim, eu estava. Sim, eu sei do que você é capaz para se manter honrada e única aos olhos de Enel.”
- Se eu voltar para Skypiea, pode ter certeza de duas coisas: eu entregarei as plantas e o fruto do diabo em suas mãos; o resto é problema das Ilhas do Céu, não meu. Outra coisa: se tentarem me matar, não sobrará ninguém. Eu posso morrer, mas Skypiea e Shandia perecerão comigo. – ela ameaçou, a frieza inabalável em suas próprias palavras provocando uma disparada em seu coração, mesmo à distância. - Se vocês temem que a Praga possa fazer algo, é melhor deixá-la quieta como está.
“Você está se perdendo completamente, Elisabette. E isso vai custar sua vi-”
Antes mesmo que Wyper pudesse concluir suas palavras, o Call Dial estilhaçou nas mãos de Elisabette, que permaneceu em silêncio, encarando a concha agora quebrada entre seus dedos, com um olhar perplexo e mortífero fixo nos pedaços que caíam sobre seu colo.
Ela desceu rapidamente da amurada e deu uma última olhada ao redor do convés, certificando-se de que não havia ninguém e que tudo estava seguro. Ao constatar que tudo estava bem, correu mancando para a parte interna do navio, em busca da cozinha, enquanto tropeçava e sentia o joelho fraturado ranger com os movimentos desesperados. Ao chegar à cozinha, começou uma busca insensata por cola, mesmo sabendo que isso não resolveria o problema que acabara de criar por pura tolice e ignorância de si mesma.
- Deve haver um em algum lugar; não posso ficar sem essa porcaria… – ela murmurou para si mesma, enfiando as mãos em todos os armários e gavetas que havia naquela cozinha.
Sua cabeça latejou mais uma vez e ela sentiu tudo ao seu redor girar, o peito apertando e a saliva engrossando na garganta, fazendo-a apoiar uma mão na parede quando a perna manca fraquejou, quase a fazendo perder o equilíbrio. Elisabette revirou a bolsa, colocando os estilhaços do dial dentro dela, e olhou para cima, sentindo sua visão escurecer, como se estivesse prestes a sucumbir à inconsciência novamente. Seu olhar se perdeu na luz que parecia piscar e mudar de forma, tudo em sua visão parecendo embaralhar — sentia-se leve e ao mesmo tempo pesada, como se estivesse embriagada.
De repente, quase dando um pulo se não tivesse sido agarrada firmemente, uma mão gelada segurou seu ombro nu, fazendo-a olhar atordoada para o lado, onde encontrou um par de olhos acinzentados que tanto a enlouqueciam com uma expressão de filhote abobalhado.
Assim que o viu, seu olhar suavizou e foi como se, ao lidar com sua presença e sentir o toque dele em seu corpo — mesmo que de uma maneira tão casual —, tudo tivesse se esvaído como por um passe de mágica, levando consigo seu tormento e trazendo apenas a paz momentânea que somente ele conseguia proporcionar. Elisabette suspirou, ainda apoiada na parede, com a perna trêmula e uma mão segurando a camisa dele enquanto se puxava para mais perto, invadindo sem aviso o espaço pessoal de Trafalgar, que apenas a segurou pela cintura.
- Eu não ‘tô me sentindo bem… – ela choramingou, agarrando-se a ele e afundando o rosto em seu ombro, que apenas franziu o cenho.
- Você já percebeu que sempre que nos encontramos por acaso, você está com algum problema? – Law sussurrou, deixando escapar um suspiro e mantendo as mãos relutantes na cintura dela, evitando abraçá-la de volta.
- Isso incomoda você?
- Não… não mais. – ele respondeu um pouco sem jeito, deixando de lado suas ideias e passando os braços em volta do corpo da platinada, que apenas o apertou mais. - O que foi dessa vez? O que você está sentindo? Onde está sua muleta?
- Estou com dor de cabeça; lateja tanto… parece que há algo apertando e apertando, sinto como se fosse explodir a qualquer momento!
- Isso deve ser cefaleia de tensão¹. Você tem lidado com muitas coisas em um curto período de um mês. Isso é estresse. Você está estressada – explicou, afastando-se minimamente para olhar em seu rosto. Ele levou uma mão até seu rosto e afastou o cabelo da faixa que cobria seu olho. - Você não precisa mais se preocupar com a Febre das Árvores; não há razão para continuar pensando e se estressando com isso.
- Eu... eu não estou estressada... eu só... – tentou se justificar, mas sentiu a mão dele cobrir seus lábios enquanto o encarava com aquele olhar afiado que só ele tinha.
- Sim, você está. Eu estou, todos estão. Você apenas está demonstrando isso de outra forma; no seu caso, seu corpo está lidando com o estresse assim. – disse Law, desvencilhando-se dos braços dela.
Cuidadosamente, Trafalgar envolveu o braço em torno do ombro dela, guiando-a até a mesa e auxiliando-a a sentar-se em uma das cadeiras. Ele observou-a murchar assim que encontrou apoio na parede para se encostar. O olhar cansado e triste dela encontrou o dele, que não hesitou em manter aquele contato visual, como se, de alguma forma, pudesse confortá-la com a intensidade daquele instante silencioso. As palavras sempre pareciam escapar de seu alcance, restando apenas o chamado do silêncio entre eles, um elo que transcendia a necessidade de explicações.
- Sono…
- Vá descansar, eu cubro o restante do seu turno. – a mão dele alcançou o topo da cabeça dela, acariciando seus cabelos com delicadeza, enquanto observava que ela o olhava de baixo para cima. Essa atitude fez seu coração quase saltar do peito. “Fofa”, pensou ele, imediatamente se repreendendo pela imaginação fértil ao compará-la a um filhote de passarinho.
- Não consigo dormir sem tomar banho, e a Robin está dormindo; ela não poderá me ajudar… – murmurou ela com um beicinho, desviando o olhar do dele enquanto suas bochechas ruborizavam.
Law permaneceu em silêncio mais uma vez, compreendendo plenamente o que significava aquela expressão — o olhar desviado, o leve encolher de ombros e as bochechas rubras. Elisabette queria pedir algo a ele, mas a timidez a impedia; era exatamente isso que sua expressão revelava, um anseio não verbalizado. Um sorriso suave brotou nos lábios dele, enquanto suas orbes acinzentadas se iluminavam ao decifrar o que ela realmente queria.
- Você quer ajuda para o banho? – indagou Law com simplicidade, segurando delicadamente o queixo dela para que pudesse encontrá-lo novamente. - Porém, isso aumentará sua dívida em alguns centos a mais; já estou fazendo demais por um aliado.
- Que cruel! Mas aceito! – respondeu ela, fazendo um beicinho adorável, com os ombros e as bochechas ainda tingidos pelo tom avermelhado que a tornava ainda mais encantadora aos olhos dele.
- Muito bem… em silêncio, por favor. Não quero que ninguém nos veja juntos no banheiro. – disse ele, auxiliando-a a se levantar novamente e guiando-a com passos lentos e cuidadosos para fora da cozinha, em direção ao corredor.
- E qual é o problema? É só dizermos a verdade: você está me ajudando a tomar banho, ué!
Um suave bufo de diversão escapuliu das narinas do moreno tatuado enquanto caminhava, com ela entrelaçada ao seu corpo. Ele ainda tentava se acostumar com sua inocência encantadora, como ela sempre buscava maneiras de se desviar da malícia que habitava os olhares alheios, da malícia que permeava o mundo. Era admirável como, apesar de tudo, ela permanecia imune a esse tipo de sujeira, embora suas mãos carregassem o sangue de tantos inocentes que ele nem conhecia e de quem nunca soube que um dia existiram.
Era intrigante para ele como ela parecia alheia a tudo ao seu redor, sempre concentrada apenas no que zanzava em sua mente ou nas bobagens que ecoavam ao seu redor, provocando aquela risada escandalosa da qual ele não conseguia se afastar.
Law a observava pelo canto dos olhos, ouvindo atentamente seus sussurros sobre como estava cansada de depender de ajuda para tudo por causa da fratura no joelho e como ansiava pelo dia em que poderia se livrar das faixas que cobriam seu corpo. Somente podia retirá-las durante o banho ou quando precisava trocá-las por limpas. O som de sua voz era melódico aos ouvidos dele, mesmo repleto de reclamações vindas daquele timbre fino e potente, que trazia graça e diversão à forma como se expressava.
Assim que chegaram ao banheiro, o mais velho tomou cuidado ao ajudá-la a se acomodar delicadamente sobre a tampa do vaso sanitário. Em seguida, girou nos calcanhares e dirigiu-se até a porta, trancando-a com três voltas na chave, apenas para assegurar-se de que ninguém entraria e o surpreenderia em um momento tão íntimo com ela, ou, na pior das hipóteses, a veria em sua nudez crua.
Por fim, voltou-se novamente para Elisabette, que segurava a borda da tampa com as mãos, enquanto seus pés inquietos batiam no chão. O semblante dela refletia uma mistura de nervosismo e ansiedade, como se um turbilhão de pensamentos conflitantes estivesse se desenrolando em sua mente. Isso sempre o levava a questionar, ao observá-la: “O que se passa em sua cabeça?” Enquanto O Anjo da Morte era um livro aberto para ele, ela permanecia como um baú trancado a sete chaves, repleto de mistérios que ele desejava desvendar.
- Você gostaria de lavar o cabelo? – perguntou Law, de maneira descontraída, enquanto se aproximava dela para auxiliá-la a se despir.
- Não, eu não sei como lavá-lo como as meninas fazem... elas sempre cuidam disso para mim, mas como não estão aqui agora...
- Eu sei lavar. – ele a interrompeu, provocando um leve arqueamento de sobrancelhas por parte dela. - O que foi?
- Você sabe lavar cabelo? Mas o seu é tão curto. – a jovem argumentou, sentindo a bermuda deslizar suavemente por suas pernas, acompanhada da calcinha, revelando sua nudez diante dele.
- Sim, antes eu... – ele hesitou, negando-se a continuar e buscou por uma nova justificativa. - Há uma mulher no meu grupo, a Ikkaku. Você se lembra dela? Eu já a vi cuidando de seus cachos; não deve ser difícil fazer o mesmo com o seu. Eu acho.
- Ah, ela... – um beicinho se formou em seus lábios rosados. - Ela me chamou de passarinho assustado e bichinha.
- Ela te chamou assim, é? – ele riu suavemente, desfazendo com cuidado a trança que envolvia suas madeixas prateadas e loiras. - Bem, Ikkaku não mentiu. Às vezes, você realmente parece um passarinho bobão ou um bichinho.
- Qual bichinho?
- Ah…
Trafalgar fitou atentamente o rosto dela, dedicando-se a cada detalhe, em busca de qual “bichinho” ela poderia se assemelhar.
Seus cabelos platinados caíam sobre os ombros de maneira graciosa, com ondas suaves e sedosas que pareciam uma mistura perfeita de seda e prata. Os olhos azuis dela eram grandes e redondos, adornados por cílios longos e escuros. Sempre acompanhados do delineado curvado que Elisabette parecia encontrar momentos específicos para retocar, conferindo-lhe um olhar envolvente e marcante. Aquela linha escura a tornava ainda mais doce. Os lábios, volumosos e rosados, lembravam um botão de flor prestes a desabrochar.
Enquanto a observava com mais atenção, buscando detalhes em suas feições, notou como seu rosto era redondo e como suas bochechas permaneciam rechonchudas mesmo após a puberdade, como se aquelas maçãs avermelhadas fossem uma característica natural dela. Isso lhe conferia um ar delicado aos olhos dele. O nariz era arrebitado, pequeno e redondo; seus dentes, quando a conheceu, eram quebrados e espaçados, mas ainda assim se tornaram uma marca distintiva de sua personalidade.
Por fim, Law chegou a uma conclusão que quase o fez se revirar de constrangimento ao admitir a qual animal ela se assemelhava.
- Um coelhinho. Você se parece com um coelhinho branco e anão.
- Um coelho anão? Que animal é esse? – ela franziu o cenho, retirando a camisa com cuidado e entregando-a a ele.
- Você não sabe o que é um coelho? – indagou o Cirurgião da Morte, com um certo ar de indignação em seu tom, encarando-a confuso.
- Acho que esse animal não existia em Upper Yard. – retrucou, cruzando os braços de forma que seus seios se apertaram e se destacaram, roubando a atenção do moreno por alguns instantes. - Como eles são?
- Eles são… – ele coçou a garganta. - Pequenos, peludos, redondos e andam saltitando.
- São fofos? – a pergunta dela o pegou desprevenido, fazendo-o desviar o olhar com um leve rubor nas bochechas.
- Sim, eles são.
Elisabette não pôde conter uma risada ao observar o rosto nitidamente corado de Law. Ele, por sua vez, bufou de leve e a envolveu em seus braços, conduzindo-a até a banheira. Com um gesto suave, colocou-a dentro da água e acionou a torneira, enquanto enchia um balde na pia.
Com a agilidade e delicadeza, ele começou a ajudá-la a se enxaguar, passando a esponja lentamente por seus braços e pernas. Utilizando os poderes de sua Ope Ope No Mi, fez com que ela flutuasse no ar com um Room, ensaboando suas costas com um toque cuidadoso. Ela tentava tocar o teto com o pé, provocando risinhos que faziam água e espuma respingarem em sua testa.
Ao trazê-la de volta para dentro da banheira, Law esfregou as mãos e, com um gesto brincalhão, despejou o balde d'água sobre sua cabeça para molhar seus cabelos. Massageou os fios e o couro cabeludo dela com ternura, enquanto ela cantarolava suavemente Saquê de Binks, criando uma melodia que preenchia o ambiente. Os cabelos platinados dela eram tratados com todo o cuidado que ele poderia oferecer, vendo-a sorrir com tudo.
- Eu gosto quando fazemos as coisas juntos; você não é tão chato quanto eu imaginava. – Elisabette sorriu amplamente, sentindo-o apertar a bochecha dela entre o polegar e o indicador.
- Você me achava chato?
- Não apenas achava; tinha plena certeza disso. – seu sorriso se desfez instantaneamente quando ele levantou o balde e despejou água sobre sua cabeça novamente. - AH!
- Pirralha idiota… – ele murmurou, mas era possível notar um vislumbre de um sorriso fraco tentando surgir nos cantos de seus lábios.
━━━━━━━━━━━━━━━━━━
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro