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━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟰𝟵. 𝗔 𝗰𝗮𝘀𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗯𝗿𝗮𝗻𝗰𝗮 𝗱𝗼 𝗚𝗮𝗻 𝗙𝗮𝗹𝗹.

Algumas semanas haviam se passado desde que cheguei às Ilhas do Céu, e enfrentei a realidade ao perceber que as afirmações feitas pelo Mugiwara não eram nada além da mais pura verdade. De fato, existiam ilhas no céu, e eu havia sido encarcerado na masmorra de um templo em uma delas. As pessoas eram diferentes, embora semelhantes às do mundo abaixo, pois possuíam pequenas asas brancas nas costas e antenas semelhantes às de borboletas em suas cabeças.

Minha tripulação inteira morreu durante o nosso trajeto; a maioria não aguentou o impacto e faleceu no mesmo instante, enquanto os outros morreram aos poucos conforme as horas foram passando, até que eu fui o único que restou dos Piratas do Bellamy - eu, o capitão. O New Witch's Tongue¹ havia sido destroçado pela tromba d'água que nos levou aos céus, restando nada além do mastro, ao qual me mantive agarrado para não afundar no Mar Branco-Branco. Tudo ao meu redor estava destruído e todos estavam mortos; a visão dos meus companheiros sem vida e o corpo de meu imediato, com a cabeça decepada, era algo que eu nunca iria esquecer, nem em um milhão de anos.

Eu não via a cabeça de Sarquiss em lugar nenhum; o tronco de Lily estava boiando ao lado de Eddy, que tinha metade do rosto arrancado. Mani estava abraçada a Rivers, o que apenas confirmou minhas suspeitas sobre os dois. Por fim, Ross estava caído sobre o que restara do corpo estraçalhado de Hewitt. Olhei em volta, assustado; ainda faltava uma pessoa: Muret. Por dias, torci para encontrá-la e nunca tive um único sinal de seu corpo ou do que poderia restar dele, o que me levou a acreditar que ela havia sido levada embora pela maré ou esmagada pelo navio.

Eu, como capitão e líder deles, senti-me um fracasso como pessoa, um lixo total. Se a falha tivesse sido apenas comigo, tudo bem; se o prejudicado tivesse sido somente eu, tudo bem. No entanto, arrastei todos eles para a morte certa e fui o único a sobreviver ao meu próprio erro e à sede de provar algo que eu jamais seria: alguém.

Os dias na masmorra eram monótonos; eu nem sabia há quanto tempo estava ali, apenas tinha consciência de que o tempo passava, pois sempre recebia café da manhã, almoço e jantar em horários determinados, o que me dava uma noção de que as horas ainda estavam correndo.

Era apenas eu naquela masmorra escura e fria, apenas eu até o dia em que escutei uma algazarra alta o suficiente para ser ouvida naquele muquifo em que me encontrava. Os soldados gritavam e outras pessoas pareciam estar realizando algum tipo de protesto do lado de fora. Eu apenas revirei os olhos, tentando me manter sossegado apesar das circunstâncias. De repente, desceram cerca de dez homens com algo enrolado em um pano e abriram minha cela, retirando uma garota de dentro do pano e jogando-a para dentro, apenas para fechar a porta novamente e irem embora.

Eu era um homem, um ser humano, e é natural do ser humano sentir curiosidade diante do desconhecido. Isso me levou a me aproximar com cuidado da garota caída ali, e arregalei os olhos ao reconhecê-la dos cartazes que haviam se espalhado como chamas por todas as ilhas da Grand Line: Elisabette, O Anjo da Morte, sentinela dos Piratas do Chapéu de Palha.

Ela estava só o bagaço. Com alguns curativos pelo corpo, o nariz quebrado, os cabelos desgrenhados e um semblante tão exausto que me fez chegar à conclusão de que ela ficaria inconsciente por pelo menos um dia inteiro ou mais, dependendo do quão fraca a fedelha estava. Havia algemas comuns em seus pulsos, o que me fez acreditar que ela não era usuária de Akuma no Mi. Suas roupas estavam manchadas de areia e sangue e, minha nossa, parecia ter enfrentado uma barra. A única coisa que perdurava em minha mente era a confusão sobre o motivo de ela estar ali e não com seu bando.

Pelas minhas contas, demoraram cerca de quatro dias até que Elisabette recobrasse a consciência e acordasse. Ela despertou com uma aparência um tanto zonza, com uma das mãos na cabeça; seu corpo balançava para frente e para trás até que ela pareceu conseguir encontrar equilíbrio com o próprio quadril e se manteve sentada, com a postura curvada para frente. Levou um tempo até que ela percebesse minha presença e me encarasse pelo canto dos olhos. Tudo o que fiz foi sorrir de lado ao ver a curiosidade e a desconfiança cintilarem em seu olhar.

- Finalmente acordou, princesa. - falei com um sorriso e uma risada abafada pelos dentes, enquanto a observava com atenção e certa diversão. - Faz dias que você está jogada aí no chão.

- Dias? - ela perguntou, assustada, ao mesmo tempo em que seu estômago soltava um ronco alto. - Aaw...

- Em breve trarão comida, princesa. Fique tranquila.

- Elisabette! Meu nome é Elisabette.

- Estou ciente disso, seu rostinho não me é estranho... vi sua imagem nos periódicos, especialmente após as confusões envolvendo você e seu bando em Enies Lobby. - dei uma risada que pareceu irritá-la, ainda mantendo meu olhar sobre sua figura ferida e tentando analisá-la melhor agora que estava acordada.

Elisabette apenas ficou me encarando, como se fosse avançar em mim como um animal feroz. Tenho quase certeza de que ela não o fez apenas pelo fato de estar algemada e acorrentada, como se realmente fosse um. Isso apenas me divertiu mais, pois seu olhar era implacável e agressivo, uma verdadeira ceifadora, como diziam os jornais que tanto falaram sobre sua brutalidade e a violência de seus ataques em Enies Lobby.

Contudo, nossa interação não durou mais do que meia hora, quando alguns guardas com boinas brancas chegaram à cela em que estávamos e a assustaram com sua autoridade, fazendo-a se encolher em um canto e ficar ali, olhando para eles com os olhos banhados de desespero e pânico, como se a situação estivesse saindo de seu controle. Eles a pegaram, agarrando-a como uma prisioneira verdadeiramente perigosa e maníaca, sendo necessário o esforço de dois homens para segurá-la pelos braços e levá-la para longe da masmorra. Restou-me apenas o som de seus gritos de raiva e indignação, além do estalo de chicotadas; foi quando percebi que estavam batendo nela.

Não pude conter minha curiosidade, embora quisesse me manter longe de qualquer outra imprudência na qual eu pudesse me meter. Havia algo intrigante no ódio que queimava nos olhos daqueles guardas ao vê-la - era tão nítido e explícito que quase se tornava físico. Elisabette era das Ilhas do Céu; isso ficou evidente pela forma como o tal McKinley falava com ela, com uma voz cheia de autoridade, também carregada de uma fúria mal contida em seu tom.

É, naquela época, eu realmente havia sentido um odor desagradável emanando dela, e não eram as feridas abafadas pelos curativos que não eram trocados há dias, nem o corpo que exalava o cheiro de suor ou qualquer merda do tipo. O fedor que vinha dela era único: de problema, um problemão daqueles que podem te deixar com dor de cabeça por dias.

Primeiro Mês

Após um mês inteiro, recebi algo semelhante a liberdade provisória pelo meu "bom comportamento". O que era óbvio, pois não havia razão para eu agir de forma desonrosa quando não me restava mais nada, nem motivos para lutar ou continuar vivo. Afinal, já havia perdido tudo o que me era valioso e conveniente: minha tripulação, que era mais do que subordinados e amigos; eram minha família. Perdi também o respeito do homem que mais admirava e idolatrava no mundo e, além disso, meu território em Mock Town deixou de ser meu quando todos testemunharam a humilhação pela qual passei ao ser derrotado pelo Mugiwara. Por fim, fui expulso dos Piratas da Família Donquixote e espancado quase até a morte pelo Rei de Dressrosa e Shichibukai, Donquixote Doflamingo.


Fui levado sem algemas até um local mais afastado e achei que finalmente seria executado, até o momento em que meus olhos se depararam com uma casinha branca, com um telhado comum de madeira e algumas folhas em cima, uma varanda pequena e uma plantação de abóboras logo ao lado.

Fiquei desconfiado, não posso negar; nem mesmo meu semblante conseguia esconder a desconfiança que sentia. Tudo piorou quando reconheci uma das silhuetas enfiadas no meio da horta, utilizando uma enxada na terra enquanto o suor escorria de sua testa e sua pele estava vermelha, completamente queimada pelo sol - Elisabette dos Chapéus de Palha. Franzi o cenho e continuei andando, observando as outras pessoas por ali: uma jovem loira com asas nas costas um pouco menores e com antenas na cabeça; um velhote de barba grande e grisalha, usando uma espécie de manto bege e um pano cor de vinho na cabeça; além de uma espécie de raposinha branquinha caminhando pelo ambiente, parecendo se divertir com a melodia da harpa.

- Aqui está ele, Senhor. - um dos soldados anunciou minha presença, dando-me um leve empurrão no ombro, indicando que eu andasse; e assim o fiz.

- Oh, estávamos falando de você neste exato momento, rapaz.

- E não eram coisas boas, hein? Eh! Eh! Eh! - Elisabette riu e, no mesmo instante, foi repreendida com um cascudo desferido pelo velhote, que a fez cair no meio da horta. - Ai!

- Tch. O que você quer, hein, coroa? - meu olhar deixava clara minha falta de vontade de estar ali e pude perceber os olhos do homem barbudo suavizarem ao notar minha expressão e meus comportamentos ariscos.

- Soube que sua tripulação pereceu devido ao impacto causado pela chegada de vocês até aqui, além de que o navio ficou em estilhaços. - ele começou a se curvar em sinal de respeito pela minha perda. - Sinto muito, meu jovem. Que seus companheiros encontrem paz no descanso eterno.

Naquele momento, eu não soube o que responder e apenas acenei com a cabeça, um pouco confuso e desconfortável. Afinal, eu nem sabia quem era aquele homem nem o que estava fazendo naquele lugar tão afastado, praticamente no meio do nada. O que me levou a essa conclusão foi o fato de que não havia nada ao nosso redor, absolutamente nenhuma porta; apenas algumas árvores semelhantes a palmeiras, mas com frutas gigantes que se assemelhavam a nozes verdes musgo. Nuvens formavam pequenas montanhas ao redor da casinha, e havia vegetações diferenciadas que eu nunca havia visto antes.

No começo, foi estranho. Eles simplesmente resolveram me acolher como se eu fosse um deles e, quando me dei conta, estava vivendo na casa daquele homem como se fosse minha, assumindo a responsabilidade pela plantação de abóboras e pela horta que havia ali. Assim, ganhei o Anjo da Morte como minha "colega de quarto".

Entretanto, conviver com aquela garota era o mesmo que lidar com uma criança mimada, e a situação se agravava pelo fato de ela se achar no direito de mandar em mim... o que tornava tudo ainda pior era que eu obedecia em silêncio.

Nossos primeiros dias de convivência a sós na casa do velho Gan Fall foram um verdadeiro inferno, pois eu era explosivo e ela era tão violenta que me deixava cheio de hematomas, marcas de mordidas, arranhões e tufos de cabelo meu espalhados pelos cômodos da "nossa" pequena residência. Ela não aceitava que eu quisesse ter momentos de sossego e dormir um pouco, estava sempre gritando para que eu fizesse alguma coisa, me xingando sem motivo. Eu não deixava barato, resultando em nós dois discutindo até que partíssemos para a agressão.

Elisabette estava sempre apreensiva e nervosa, parecendo que ia explodir a qualquer momento, a qualquer deslize que ela mesma cometessem. Seus olhos estavam sempre arregalados e tudo o que ela fazia era de forma ligeira e frenética, quase como se estivesse em abstinência de drogas. Esses pensamentos sempre me faziam rir ao compará-la com os cracudos do submundo.

Era frustrante que ela também não soubesse fazer nada, e praticamente todo o trabalho doméstico ficava a meu encargo. Elisabette não sabia varrer, não sabia cozinhar, não sabia passar pano e muito menos lavar roupas e colocá-las para secar. Restava a mim a responsabilidade de realizar essas tarefas, enquanto a única coisa que ela demonstrava interesse e sabia fazer era praticar jardinagem, cuidando da horta, da plantação de abóboras e da vegetação ao nosso redor - típico, típico de caipira.

- BELLAMY! - ela sempre gritava meu nome de repente e voava ao meu redor como um quero-quero irritado. - Eu já avisei que você precisa varrer o chão da cozinha! Está imundo!

- Se você está incomodada, varra você mesma, princesa. - assim como ela vivia gritando comigo e me dando ordens, eu estava disposto a retrucar com deboche todos os dias, apenas para receber uma joelhada no meio da testa.

- Eu já cuido do trabalho pesado que é ficar no sol quente tratando da horta!

- E daí? Você faz isso porque é uma estúpida que não sabe nem segurar uma vassoura corretamente. O que você acha que eu sou? Sua esposa dona de casa? Ora, pois se manque, vá!

- Se eu sou uma estúpida que não sabe segurar uma vassoura, você é um incapaz que não tem capacidade física suficiente para fazer jardinagem! - ela ria, mas era possível ver seu olhar fixo em mim de forma absurda e desdenhosa. - Nem parece que é homem!

E, é claro, como sempre, minha raiva e o estresse acumulados explodiam como um vulcão em erupção, e acabávamos os dois atracados um no outro, brigando como dois cachorros raivosos competindo por um pedaço de osso. Ela me arranhava, mordia, socava e estapeava, deixando meu rosto e peito cheios de marcas. Ela não tinha pena nem media esforços; quando vinha para cima de mim, vinha com tudo.

Eu, por outro lado, não conseguia ser verdadeiramente agressivo com ela. Sim, ela me batia e eu rebatia, mas não o fazia para machucá-la de fato; era mais... para tentar me defender, talvez? Nem eu sabia. Apenas tinha consciência de que não tinha coragem para deixá-la com qualquer dano físico sério, como os que ela deixava em mim.

Acredito que era pela forma como ela me olhava ou agia, sempre sendo agressiva e adotando uma postura defensiva em relação a mim, como se fosse um gato maltratado resgatado das ruas e levado para um abrigo.

Elisabette se escondia de mim, ficava trancada no quarto, me observava à distância e, quando interagíamos, era apenas para brigarmos, resultando sempre na mesma situação.

Contudo, um dia, nossas brigas ultrapassaram todos os limites. Ela me socou com tanta força que estourou uma veia do meu nariz e eu, cansado de suas asneiras, retruquei com um chute em seu estômago, fazendo-a cair sobre as abóboras e quebrá-las. A polpa dos frutos voou para todos os lados, respingando em uma pessoa que não estávamos esperando que aparecesse ali justamente naquele dia e naquele fatídico momento: Conis, a loirinha com asinhas e antenas.

- Por Deus! Estão brigando outra vez? - ela foi até Elisabette e a ajudou a se levantar, e eu pude vê-la ruborizar com a aproximação da outra. - Isso já está passando dos limites! Vejam o estado em que vocês estão!

- Ela que começou! Eu apenas reagi!

- É por sua culpa, seu preguiçoso!

- Chega! - Conis gritou, fazendo-nos encolher os ombros e ficarmos apenas com os rostos voltados um para o outro, enquanto ela cruzava os braços, nos encarando com um semblante decepcionado e indignado. - Vocês não podem continuar agindo assim; vocês dois têm idade suficiente para saber como cooperar com as necessidades um do outro e também para a convivência de vocês.

- Não quando eu faço todas as tarefas domésticas porque a princesinha aqui quer tudo de mão beijada! - gritei de volta, apontando o dedo para o rosto da sentinela dos Piratas do Chapéu de Palha, que apenas mordeu a ponta e me fez berrar. - ELISABETTE!

- Não vou te ajudar enquanto você não me ajudar com as plantações! Temos que lidar com a praga! Não podemos deixar que nossa única fonte de alimento seja contaminada!

- Eu te ajudaria se você não fosse tão arrogante e antipática! Você só grita e me dá ordens; acha que é o quê, minha capitã ou algo assim? Você não é porra nenhuma para mim!

- Pois eu digo o mesmo: você não é e nunca será nada para mim! Não exija que eu te ajude se você não me ajuda!

- Não dá para cooperar com uma pessoa como você!

- Idem!

- Por tudo que é mais sagrado, já chega, vocês dois! Isso está ficando vergonhoso! Não percebem que estão agindo como duas crianças? - Conis interveio entre nós, afastando-nos um do outro enquanto sua expressão demonstrava nervosismo e certo pânico. - Sério, estou ficando preocupada com o que pode acontecer! Se as coisas continuarem assim, vocês vão acabar se machucando dentro da casa do Senhor!

- Inútil! - gritamos, eu e Elisabette, ao mesmo tempo, encarando-nos com as testas coladas uma na outra, bufando como dois touros furiosos.

- Vocês vão ficar aqui por dois anos inteiros; precisam aprender a se dar bem. Vocês precisam e devem! Não é necessário que se tornem amigos ou algo parecido, mas pelo menos devem saber lidar um com o outro sem chegar a isso! - ela disse, apontando para nossos rostos ensanguentados.

- Eu só vou me dar bem com ele se ele me ajudar com a horta.

- Bem, que tal você não aprender a varrer e me ajudar também, hein?

- Porque eu não sei!

- Como não?

- PORQUE NINGUÉM NUNCA QUIS ME ENSINAR A FAZER COISAS DE GENTE NORMAL! - a exclamação dela pareceu surpreender não apenas a mim, mas também Conis, que apenas arregalou os olhos com um misto de choque e algo semelhante à culpa.

Ela estava sempre gritando reclamações sem sentido, dizendo coisas do tipo, como se eu ou qualquer pessoa pudesse entender o que ela queria dizer quando afirmava que desejava viver como alguém normal. Conis parecia entender, sempre pareceu, mas demonstrava certa relutância em ajudar de fato Elisabette, que apenas se afundava mais e mais naquela situação.

No entanto, depois daquele dia, daquela nossa última discussão, eu tentei ser mais compreensivo e entender Elisabette. Afinal, se fôssemos ficar juntos por dois anos, teríamos realmente que tentar algo: nos dar bem e evitar o desejo de machucar um ao outro sempre que estivéssemos irritados com os problemas do nosso dia a dia. Confesso que era difícil, pois minha mudança de uma postura agressiva para uma atitude mais pacífica e passiva a deixou atordoada e desconfiada. Até o momento em que ela decidiu dar o braço a torcer e, bem, acho que acabamos virando apenas colegas que se ajudavam e tentavam cooperar para que tudo entre nós desse certo.

Eu a ensinei a varrer, a lavar roupas e a passar pano, assim como consegui ensiná-la a não explodir a cozinha quando tentasse cozinhar, utilizando os únicos ingredientes que tínhamos - abóboras, cebolinhas, batatas e tomates - para preparar ensopados que se tornaram nosso almoço e jantar prediletos. Também tentei ensiná-la a fazer torta de abóbora; porém, doces não eram o seu forte.

Segundo e Terceiro Mês

Mesmo que tivéssemos nos tornado amigos, isso ainda não mudava o fato de que ela continuava sendo teimosa e frequentemente tinha seus chilique. No entanto, já era tão rotineiro que eu havia aprendido a lidar com isso e descoberto como fazê-la parar: bastava chamá-la para passear pelos arredores, e rapidamente ela se animava e esquecia o estresse diário.

Na verdade, Elisabette se revelou uma pessoa muito amigável e dócil, mais do que eu esperava que ela fosse. Ela estava sempre voando ao meu redor como um passarinho curioso, me enchendo de perguntas. Além disso, falava sobre vários assuntos ao mesmo tempo, o que, embora me deixasse confuso em boa parte dos nossos momentos de lazer, eu apenas aceitava e a respondia tranquilamente. Conversando com ela e a ouvindo, percebi desde que começamos a nos aproximar que ela gostava muito de conversar e de se expressar; era curiosa e cheia de questões para perguntar, sempre esperando por respostas. Os olhos dela brilhavam com um forte cintilar de curiosidade.

E, aos poucos, eu aprendi a gostar da companhia dela, do seu jeito que, apesar de ser apocalíptico, caótico, barulhento e talvez um pouco infantil demais, era exatamente isso que tornava Elisabette quem ela era.

No fim, eu estava gostando daquela vida que estávamos levando mais do que esperava. Estava apreciando a rotina, as noites de sono com a brisa noturna invadindo a casinha e arrepiando meu corpo, aquecido pelos cobertores feitos de nuvens, que funcionavam como uma manta confortável e quentinha. Tudo era pacífico, monótono e... eu acho que estava de fato feliz com isso, mesmo depois de tudo: das humilhações e da perda da minha tripulação. A convivência com Elisabette impediu que tudo aquilo pesasse tanto, porque, quando eu parecia afundar, ela me agarrava pelos braços e puxava para a superfície com sorrisos gentis e gargalhadas histéricas, acompanhadas de tapas involuntários em minhas costas.

E, naquele tempo, eu demorei para perceber de fato a presença dela ao meu lado. Demorei para apreciar sua doçura, apesar das circunstâncias em que nos encontrávamos - do terror que ela vivia em Skypiea, enfrentando o preconceito das pessoas das Ilhas do Céu, que a viam como alguém ruim e que não deveria estar ali. Lembro-me vividamente da primeira vez em que notei o olhar de desgosto dos cidadãos.

Nossos recursos haviam se esgotado, incluindo temperos, produtos de limpeza e outras coisas essenciais para mantermos a residência de Gan Fall em boas condições. Sem outra opção, lembro de ter sugerido que fôssemos à cidade para comprar o que precisávamos. Quando eu disse isso, percebi os olhos dela mudarem para algo mais sério, tenso, com um lampejo de medo; entretanto, ela aceitou e fomos.

Era nítido; estava estampado no rosto de todos os skypieans e shandians que a presença dela não era agradável ou bem-vinda ali. A forma como eles a encaravam, como as crianças se escondiam e outras choravam assustadas a cada passo que ela dava, e os murmúrios que o vento fazia ecoar em nossos ouvidos - ninguém a queria ali, e eles estavam fazendo questão de deixar isso explícito. Elisabette, com quem eu já havia me acostumado à sua barulheira incessante, estava em completo silêncio, com um semblante neutro, não esboçando nenhuma reação; apenas seus olhos opacos eram visíveis pela franja que os cobria minimamente, pois ela mantinha a cabeça baixa e se recusava a encará-los de volta.

- Eles parecem putos. - eu murmurei baixo o suficiente para que somente ela me escutasse, notando o olhar de soslaio que ela me lançou. - Por que todos eles olham para você dessa maneira?

Elisabette não me respondeu de imediato; apenas balançou os ombros, e continuamos nossa caminhada até o mercado para comprar o que precisávamos. Ao chegarmos em casa, ela desabou.

Elisabette simplesmente caiu de joelhos no chão e começou a chorar desesperadamente, agarrando os cabelos com força e gritando que não aguentava mais tudo aquilo, afirmando que faltava pouco para que ela estourasse a própria cabeça na parede de tanto bater. Foi uma cena estranha e confusa, pois eu não entendia o motivo daquele choro, daquele desespero, do medo e da angústia em seu olhar, que sempre me pareceu tão vivo e alegre. Ela estava rindo o tempo todo, agindo como um passarinho, saltitando e cuidando da nossa horta... até que, de repente, parecia uma criança assustada com o mundo, chorando tanto que seu corpo tremia como se estivesse morrendo congelada em uma nevasca.

E eu lembro bem de ter tentado ajudar, de ter tentado acolhê-la, mas ela se recusava, gritava dizendo que não precisava de ajuda, que não precisava de mim nem de ninguém, e que queria que eu fosse embora e a deixasse sozinha, pois era o que uma praga como ela merecia: ficar sozinha, sem ninguém para ferir.

Porém, em uma noite, eu já estava dormindo, embolado nos cobertores em cima do sofá, quando senti uma mão fria tocar meu ombro e balançar com cuidado. Abri os olhos, irritado e confuso, deparando-me com o rosto sonolento de Elisabette, que apresentava grandes olheiras e uma camisola mal colocada, revelando seus ombros largos e sua clavícula delicada. Naquele momento, apenas a xinguei mentalmente, pois estava cansado depois de passar o dia capinando e só queria dormir em paz; no entanto, precisava lidar com ela primeiro.

- Eu não consigo dormir...

- Argh... não posso ajudar com isso... - foi o que eu disse, com a voz arrastada pela sonolência, mal conseguindo manter os olhos abertos. - Beba leite quente... talvez resolva...

- Não... eu não consigo dormir sozinha... - o sussurro dela foi tão suave e baixo que quase se tornou inaudível, mas consegui entendê-la pela proximidade.

- Eh? E o que eu tenho a ver com isso?

- Você pode segurar minha mão até eu dormir?

Eu não entendia muito bem o porquê daquilo; contudo, assim que ouvi sua voz quebrada e notei seu olhar perdido - praticamente me implorando de forma silenciosa para que eu cedesse ao seu pedido -, não vi outra alternativa a não ser ir até o quarto em que ela dormia e puxar o sofá para colocá-lo ao lado da cama dela, segurando sua mão até que ela conseguisse adormecer. Isso se tornou algo natural em nossa rotina, até o momento em que parei de sair do quarto durante a madrugada para permanecer ali, dormindo tão próximo a ela e, mesmo assim, tão distante de seu calor, que, quando percebi, desejava sentir todas as noites.

As mãos de Elisabette, apesar da aparência delicada e frágil, eram bastante calejadas, firmes e pesadas, como as de alguém acostumado ao trabalho pesado. Ao julgar pelo seu desempenho e força de vontade na agricultura, eu não me surpreenderia se todos aqueles músculos marcados em seu corpo esguio fossem resultado de anos de treinamento árduo.

Em uma dessas noites, percebi a inquietação dela na cama, virando-se de um lado para o outro, balançando as pernas e as asas, mas nunca, em hipótese alguma, desafrouxando o aperto da sua mão na minha.

Desde que a conheci, notei que Elisabette era ansiosa e estava sempre atenta, frustrada e nervosa com tudo ao seu redor, como se sentisse observada ou ameaçada por algo. Muitas vezes, a julguei como idiota ou maluca; no entanto, no fim das contas, ela apenas estava assustada por estar sozinha e longe de sua tripulação. Também compreendia seu nervosismo pelo fato de que todos naquela ilha pareciam odiá-la, como se ela fosse o próprio diabo encarnado.

- Às vezes, eu acho que há algo de muito errado comigo... na minha cabeça, bem lá no fundo. - foi o que ela me sussurrou de repente, quando finalmente havia sossegado sobre a cama, deitando-se de costas e encarando o teto com um olhar exausto e sem aquele brilho ao qual eu havia me acostumado.

- Por que você acha isso?

- Eu tenho muito medo de morrer, mas... às vezes, eu gostaria de pegar uma pistola e estourar meu crânio.

- É, deve haver algo de errado com você mesmo. - falei em um tom de zombaria, um sorriso de escárnio puxando o canto dos meus lábios enquanto meus olhos encontravam os dela. - Mas, assim, por que você quer fazer isso?

- Por nada, só... esqueça o que eu disse. - diferente de todas as nossas noites juntos, ela apenas se virou e estava prestes a soltar minha mão pela primeira vez em dias; então, eu a agarrei com força e a puxei de volta.

- É meio estranho o que vou dizer, mas sei lá, se nós somos amigos e tal... você pode me contar o que passa na sua cabecinha oca.

Elisabette apenas se calou e ficou me encarando com aqueles olhos azuis opacos, sem mais nenhum brilho, seja de esperança, de alegria ou do cintilar natural que costumavam ter. Era apenas um azul vazio, sem nada, assim como ela parecia estar naquela noite e nos dias que se seguiram: vazia.

Entretanto, em um final de tarde, estávamos sentados na varanda observando o pôr do sol e, ao longe, já era possível avistar a lua. Assim que olhei para o lado, vi Elisabette fitando a lua com um olhar tão perdido que eu podia jurar que ela estava hipnotizada pela forma como a observava - com admiração, adoração e algo que lembrava saudades; era isso que ela transmitia. Toquei de leve sua mão e a fiz me encarar, levando minha mão até seu rosto e afastando a franja que cobria seu olho. O cabelo dela havia crescido tanto em três meses que chegava a ser estranho imaginar que o tempo estava, de fato, passando.

- Você tá pintando o cabelo?

- Não. Por quê?

- Tem uma mecha loira bem aqui. - falei, puxando as madeixas e deslizando-as entre meus dedos. - Ó.

- Ah... acho que meu cabelo está querendo mudar de cor. - ela riu fraco, mas eu já a conhecia o suficiente para saber que não estava nem um pouco contente com essa mudança em si mesma.

- Seus pais eram loiros?

- Somente o meu pai... minha mãe tinha cabelos prateados, iguais aos meus, mas... ela faleceu há muito tempo. - sua voz enfraqueceu repentinamente e logo Elisabette abraçou as próprias pernas, encolhendo-se como um passarinho.

- Sinto muito... - lembro de ter ficado um pouco mexido com suas palavras e curioso, resolvi cavar mais fundo. - E quanto ao seu pai? Ainda está vivo ou...?

- Vivo.

- E onde ele está? Ele foi comprar cigarro?

- O quê? Não... ele não fuma.

- Isso... foi ironia.

- Oh! - a sentinela dos Piratas do Chapéu de Palha arregalou os olhos e me olhou surpresa, o que apenas me fez rir.

Conversa vai, conversa vem... e eu descobri quem ela era de verdade. Elisabette me contou seu verdadeiro nome, revelando que apenas eu e sua família sabíamos sobre sua identidade: Magni D. Elisabette. Era esse o nome dela e, ao olhá-la, percebi que ela realmente tinha o rosto de alguém que pertencia à elite, alguém que detinha o poder em suas mãos, embora não soubesse como usá-lo. Ela me contou sobre seu antigo lar, sua cidade natal, Birka, que fora obliterada por seu pai e, durante esse processo, ela perdeu a mãe pelas mãos de Urouge, o Monge Louco, um dos piratas da considerada Pior Geração.

Elisabette me revelou muitas coisas, as quais apenas aumentaram minha admiração por ela como pessoa. Elisabette era forte, lutava com mestria e tinha garra para proteger e defender o que lhe era querido.

Ela tinha um pai, um homem chamado Enel que, apesar de tudo, ela dizia que a amava. Eu não sei se ele realmente a amava, mas ver o brilho nos olhos dela ao falar daquele homem, referindo-se a ele como seu Deus e senhor, foi algo que mexeu em meu âmago, pois ela era exatamente igual a mim.

Elisabette e eu somos tão iguais que chega a ser estúpido.

Elisabette demonstrou ser devota ao pai como uma freira adora um santo e, assim como ela, eu estava sempre de joelhos diante da imagem de Donquixote Doflamingo, que era quem eu via como um espelho para o que desejava me tornar um dia. Tudo na vida, desde que entrei para a pirataria, foi para chamar a atenção dele e trazer seu foco para mim... assim como ela fazia com o pai.

Quarto e Quinto Mês

Elisabette e eu havíamos nos tornado mais próximos desde nossa conversa em que ela me revelou seu passado e seus ideais envolvendo o próprio pai, a quem se refere como Deus. Ainda brigávamos, mas não eram desavenças agressivas ou qualquer situação que resultasse em nós dois machucados; eram apenas discussões bobas causadas por qualquer deslize fútil que nossa convivência de 24 horas por dia pudesse nos proporcionar, deixando-nos turbulentos ao longo das manhãs e perdurando até o horário do almoço. Era nesse momento que lembrávamos que éramos amigos e compartilhávamos nossas refeições em paz, trocando ideias.

Quando me dei conta, já não a via mais apenas como uma amiga; ela estava se tornando mais que isso, e vê-la dessa forma me deixava assustado e atordoado, porque era algo que eu não deveria estar sentindo e nem em um milhão de anos deveria sentir.

Elisabette era boa demais para mim. Mesmo com todas as merdas que atormentavam sua mente e a deixavam cada dia menos sã, ela ainda era melhor do que eu em todos os aspectos possíveis. Ela era tudo o que eu jamais conseguiria ser, porque, ao contrário dela, eu era um estorvo que sequer conseguiu salvar a tripulação do próprio desejo egoísta, enquanto ela... ela seguia firme em sua fé, em suas crenças e na sua esperança no capitão.

Ouvir a voz dela era como escutar o mantra de um anjo, e eu sempre me via perdido em suas histórias sem pé nem cabeça sobre sua infância ou as aventuras que havia vivido com os Chapéus de Palha. A voz dela havia se tornado um vício do qual eu não queria me curar nunca, nem se me fosse oferecido todo o dinheiro do mundo pelo tratamento.

Eu apreciava seu entusiasmo, como ela parecia à vontade com a minha presença e a maneira como estava sempre voando por aí como um pássaro, cuidando de tudo e deixando nossa casa confortável para nós dois. Ela colhia flores e construía coroas para mim, trazia sementes e as deixava na janela como forma de dizer que sairia, mas voltaria logo. Ela parecia sempre atenta a tudo: às minhas necessidades, aos meus gostos, ao que eu desejava; tudo. E eu, assim como ela, estava agindo da mesma forma.

Sempre que dormíamos, eu gostava de observá-la para ter certeza de que ela não acordaria no meio da madrugada assustada por algum pesadelo ou simplesmente ficaria acordada a noite inteira, atordoada e ansiosa por não estar com seu coração. Muitas vezes, precisei lidar com alguma crise dela, temendo que Trafalgar se cansasse de esperar e fizesse algo com seu coração.

Ainda tentava entender o que se passava na cabeça dela ao entregar seu coração como garantia de que iria pagá-lo, assim como o que a havia levado a oferecer 1 bilhão de berries para ele quando, aparentemente, ele salvou os Mugiwara porque quis, e não porque desejava algo em troca.

- Às vezes, sinto-me fraca ou sinto uma pontada no peito... ele deve estar fazendo algo com meu coração, tenho certeza. Aquele homem é louco... - ela falava assustada, com os olhos arregalados e o rosto em um estado de pânico nítido, as mãos trêmulas enquanto se agarrava a si mesma em busca de consolo. - Ele é maluco, totalmente maluco... você não viu o que ele fez comigo... foi bizarro, surreal...

- Hah, o fato de ele ter arrancado sua cabeça mexeu mesmo com você, não foi, princesa?

- Claro! Foi terrível! Ver meu corpo de pé enquanto minha cabeça estava caída foi muito assustador. Pior ainda foi a forma como ele me olhava! Achei que ele realmente fosse quebrar meu crânio com vários chutes, o que não seria difícil dada a minha situação de vulnerabilidade naquele momento!

- Fica tranquila, já passou! - passei a mão em seus cabelos, bagunçando os fios e os deixando rebeldes. - Ele não vai te achar aqui, está bem? E se achar, eu te protejo e tudo mais.

Era engraçado ver alguém como ela, cheia de força e poder, assustada com um varapau como o Trafalgar. Contudo, compreendia o medo dela; talvez não fosse fácil viver dia após dia sabendo que um maníaco sádico tinha seu coração como refém. No lugar de Elisabette, eu também ficaria tenso o tempo inteiro até recuperá-lo.

Sexto Mês

Seis meses se haviam passado, aproximadamente meio ano desde que eu começara a viver nas Ilhas do Céu ao lado de Elisabette. A experiência de compartilhar minha vida com ela era simplesmente sublime; a cada dia que passava, eu me sentia mais acolhido e em paz comigo mesmo. Gradualmente, estava aprendendo a lidar com a dor da perda de meus companheiros, pois ter sua presença ao meu lado era como respirar ar fresco após milênios trancafiado em uma cela empoeirada, onde o odor de mofo e o vazio da minha própria alma eram as únicas companhias. Com ela, tudo mudava; era como se um novo mundo se descortinasse diante de mim.

Nossos dias eram preenchidos por momentos compartilhados, repletos de atividades e risadas. A companhia dela transcendia a perfeição - ela própria era mais do que perfeita. Nenhuma palavra poderia capturar a profundidade do que ela representava para mim, nem a doçura indescritível que envolvia cada instante ao seu lado. Estar com Elisabette era um deleite para a alma, uma experiência que iluminava até os recantos mais sombrios do meu ser.

Nada, absolutamente nada, poderia me fazer desejar desprender-me dela. Tudo o que a cercava era o que me impulsionava a acordar a cada amanhecer e a aspirar ser uma pessoa melhor. Eu almejava ser digno de seu amor, desejava que ela me visse como alguém em quem pudesse confiar não apenas seus medos, mas também sua própria vida. Eu... eu faria qualquer coisa por ela, para garantir que nada fosse capaz de arrastá-la para o abismo da solidão e do desespero. Tudo o que eu mais desejava era ser seu alicerce, assim como ela havia se tornado o meu refúgio e minha luz.

Mas... já não podia ser assim. Eu precisava retornar ao Mar Azul, tentar recuperar tudo o que havia perdido e demonstrar a Doflamingo que eu ainda era capaz de ser seu subordinado, de navegar sob sua bandeira e provar a todos que eu ainda era Bellamy, A Hiena.

No entanto, eu sabia que, uma vez que partisse, teria que deixá-la para trás. Agora que nós dois estávamos tão entrelaçados em nossos sentimentos, tinha plena consciência de que minha partida a causaria uma dor imensurável, assim como a ausência dela me feriria profundamente. Seria como arrancar uma parte essencial de mim e deixá-la à deriva. Abandoná-la depois de tudo o que havia descoberto sobre nós, depois de todas as experiências que nos levaram a um nível de proximidade tão intenso, seria como disparar contra meu próprio coração. Eu deveria ter repensado meus ideais mil vezes, milhares de vezes, antes de sequer considerar ir embora e deixá-la sozinha - e ela odiava estar sozinha.

Na manhã do dia em que decidi que partiria, estávamos na horta, como de costume. Havíamos discutido por uma questão trivial, e eu estava resmungando enquanto removia os restos de abóbora do rosto dela. Ela estava completamente suja, com a polpa da abóbora e algumas sementes enroscadas em seus fios de cabelo.

- Ei, Bellamy... - recordo-me da voz dela, que soava como um sussurro dengoso, quase tímido.

- O que foi agora? - eu a encarei, emburrado, tentando remover as sementes grudadas nela, que pareciam ter sido coladas com cola em vez de grude de polpa.

- Eu gosto muito de você. - as palavras saíram da boca dela de forma tão natural que me fizeram engasgar e parar o que estava fazendo, apenas para encará-la com os olhos arregalados e o cenho franzido, em completo choque.

- O quê!? Como assim?

- Como assim "como assim"? Estou dizendo que gosto muito de você. A Nami sempre diz que devemos expressar nossos sentimentos, então estou sendo sincera. Gosto muito de você. - ela explicou como se estivesse afirmando algo simples e rotineiro, mas eu sabia que aquilo era mais do que ela dizia. - O que foi?

- Nada, você só fala besteira demais às vezes.

Todavia, aquela "besteira" foi a mais doce confissão que eu já tive o privilégio de ouvir em toda a minha vida. Tudo o que eu desejava era que aquele momento se tornasse eterno, que aquela manhã jamais chegasse ao fim. No instante em que a vi se virando para ir embora, uma onda de desespero percorreu meu corpo como um relâmpago, como se meu subconsciente implorasse para que eu a correspondesse antes que fosse tarde demais. Porque, ao menos, eu queria que, antes do desfecho de nossa história, ela soubesse que o que sentia por mim era absolutamente mútuo.

- Elisabette!

- Sim?

- Olha, escute aqui! Que isso fique entre nós! - eu gritei, aproximando-me dela com passos firmes e rápidos, agarrando-a pelos ombros. ‐ Eu também gosto muito de você, tá bem!?

- Tá bem, sim! - ela sorriu amplamente, corando as bochechas.

- Pare de sorrir assim!

- Tudo te incomoda!

- Vou arrancar sua língua com os dentes! - eu ri, abrindo a boca como se fosse mordê-la.

- Não vai não! - ela arregalou os olhos e franziu o cenho, dando-me uma rasteira e saindo correndo.

Enquanto Elisabette corria, permaneci parado, observando-a, tentando gravar aquele momento em minha memória. Era nosso último dia juntos, um dia que não teria despedida, pois eu não teria coragem de encará-la para dizer adeus. Sabia que ela odiava essa ideia, a dor de se despedir de quem se ama.

Quando a noite chegou e ela adormeceu, permaneci deitado ao seu lado por mais algumas horas, segurando sua mão como costumava fazer todas as noites. Olhava-a com tanto carinho e afeição que, se ela fosse um pouco mais perspicaz, poderia ler em meus olhos o quanto eu era perdidamente apaixonado por ela, o quanto eu faria tudo e qualquer coisa por sua felicidade. Contudo, essa poderia ser considerada a maior mentira de todas, uma vez que eu havia escolhido Doflamingo em vez dela.

E então, antes de partir, olhei para ela uma última vez, encontrando-a encolhida entre os cobertores, com o rosto ainda marcado pelo sono, os cabelos desgrenhados e espetados para o alto. Suas asas estavam abertas, reminiscentes das de uma coruja caída. Essa visão peculiar e adorável fez com que eu soltasse a última risada genuína, provocada por ela.

Naquela noite, deixei tudo para trás.

E Elisabette... ela era meu tudo.

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