
━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟯𝟯. 𝗦𝗲𝗻𝘁𝗶𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝗳𝗹𝗼𝗿𝗲𝘀𝗰𝗲𝗺.
━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; em algum lugar do mar.
Elisabette gritou desesperada, encerrando a ligação antes mesmo que Wyper pudesse lhe dizer mais alguma coisa. Afinal, não havia palavras capazes de consolar sua pobre alma desolada. Ela levou a mão ao peito, sentindo os dedos afundarem em sua pele, e começou a andar em círculos em desespero, com as mãos na cabeça, respirando e expirando em total descontrole, repetindo inúmeras vezes a frase: "O que eu faço?". Seus passos ecoavam pelo convés enquanto sentia o suor frio escorrer por seu corpo, removendo o pó de arroz que escondia as manchas verdes em sua pele.
Ao perceber seu disfarce desfeito, a birkan trincou os dentes e franziu o cenho, sentindo um misto de raiva e pavor a consumi-la. Impelida por um desespero crescente, começou a arranhar fortemente o antebraço manchado, numa tentativa vã de eliminar o verde que maculava a palidez de sua figura. Com os olhos arregalados e grunhindo de dor, ódio e desespero, ela sentiu tudo desmoronar. Sabia que, se não chegasse a tempo em Dressrosa e fosse para Green Bit, seria a próxima a sucumbir à Febre das Árvores.
- Você prometeu que sempre me ajudaria quando eu precisasse! E onde está agora? Por que partiu sem mim? - ela clamou, sua voz embargada pelo desespero. Sozinha, ela começou a golpear o antebraço repetidamente contra a amurada do navio, esfregando-o freneticamente contra a madeira logo em seguida, como se buscasse aliviar a angústia que a consumia.
E não importava quantas vezes ela se arranhasse, quantas vezes se batesse ou esfregasse as regiões manchadas e contaminadas, Elisabette jamais conseguiria se livrar daquilo por conta própria, e ela sabia disso. Saber era o que mais lhe doía. Ainda assim, buscava desesperadamente algum conforto, alguma segurança, continuando com as sessões de pancadas e arranhões na região afetada, enquanto resmungava incessantemente, gritando tanto por seu pai quanto pelo desespero e a raiva que sentia. Raiva de si mesma, raiva da vida e raiva de todo o karma de seus pecados retornando para si como um soco no estômago, que a fazia revirar de enjoo e fúria.
- Você prometeu! Você disse! - a jovem mulher continuou, mordendo e puxando a pele de seu antebraço até sentir o gosto do próprio sangue em sua língua. - Por que tenho que pagar por isso sozinha!? Tudo que fiz, fiz por VOCÊ!
Quando a ardência se transformou em uma dor incômoda, ela parou, pressionando a mão contra a ferida sangrenta em seu braço. Seus lábios tremeram enquanto encarava o verde se misturando ao vermelho de seu sangue, um sombrio lembrete de sua vulnerabilidade. Naquele momento, Elisabette lembrou que, apesar de tudo, ainda se sentia uma menina perdida, sem o pai, sem seu carinho, seu amor, suas ordens.
Ela apoiou o corpo na amurada do navio e abaixou a cabeça, fechando os olhos com força enquanto a frustração fervilhava em seu âmago, o gosto amargo perturbando seus lábios. Pensava desesperadamente no que fazer, que rumo seguir, e se conseguiria cumprir seu compromisso de salvar seu país e seu povo. Desejava, de alguma forma, amenizar o peso de seus crimes e livrar-se do remorso que a assombrava sempre que lembrava das poucas gentilezas recebidas daqueles que confiaram nela. Mesmo que não fosse sua obrigação, ela ansiava por sentir menos culpa. Queria viver sem aquele tormento incessante que gritava em sua mente.
Elisabette tamborilava as unhas na madeira, enquanto incontáveis pensamentos transitavam por sua mente, apenas intensificando a frustração causada pela pressão que de repente se abateu sobre ela como uma tonelada de pedras.
Suas asas agitavam-se, soltando penas como um pássaro estressado que as arranca para chamar a atenção de seu dono. Se ainda tivesse seu coração no peito, poderia jurar que o sentiria bater descontroladamente, tomado pelo pânico e pela ansiedade que a consumia a cada segundo. A ideia de ter prometido algo a Gan Fall e não ter conseguido cumprir nem uma parte dessa promessa era como trair não apenas a ele, que tanto a cuidou e guiou nos últimos dois anos, mas também a si mesma, que tanto se cobrava para realizar tudo rapidamente, afinal... agora ela realmente precisava ser ágil.
Conforme as próprias palavras de Wyper, Skypiea estava ruindo e sucumbindo à Febre das Árvores, e seria apenas uma questão de tempo até que todos estivessem contaminados. O que viria a seguir? Em breve, todas as plantações e animais estariam impróprios para o consumo, então do que as pessoas se alimentariam? Era uma situação desesperadora.
Elisabette sentiu uma pressão intensa na cabeça, e seu nariz começou a sangrar novamente, fazendo com que o desespero a dominasse novamente. Levou as mãos ao nariz, tentando estancar o sangue enquanto seus dedos se sujavam e suas pernas fraquejavam, fazendo-a cambalear até cair sentada. Olhou em volta e sentiu o corpo gelar. Não conseguia usar o Mantra. A fraqueza era tanta que uma habilidade que para ela era tão natural havia se tornado impossível de ser ativada. A jovem franziu o cenho e começou a forçar a ativação da habilidade, sentindo a cabeça latejar como se fosse explodir.
De repente, a birkan sentiu duas mãos firmes agarrando seus ombros e a virando para trás, ficando cara a cara com Law, cujos olhos estavam fixos em suas narinas ensanguentadas. Ele segurou a nuca dela e empurrou sua cabeça para baixo, forçando seu rosto a olhar para o chão. Ela ficou paralisada pelo choque do contato repentino, mas manteve-se quieta, inconscientemente confiando em suas habilidades medicinais. Sabia que o apelido "Cirurgião da Morte" não era apenas uma fachada para os poderes de sua Akuma no Mi.
- Tire a mão do nariz. Agora. - ele ordenou, vendo-a levantar a cabeça imediatamente para encará-lo. - Abaixe! - ele empurrou novamente.
- O que você está fazendo!?
- Estou evitando que o sangue vá para sua faringe e entre nas suas vias aéreas.
- Não entendi bulhunfas! - ela retrucou, mas acabou cedendo e mantendo o rosto inclinado para a frente, observando o sangue pingar sobre suas coxas.
- Apenas... deixe-me cuidar disso. - Trafalgar sussurrou, afastando as mãos dela do nariz e levando a própria mão até o local, mantendo pressão no osso. - Respire pela boca e não ouse deitar, senão eu te darei mais motivos para sangrar.
- Que grosseria!
Por fim, ela se aquietou, notando o cuidado que Law estava tendo ao ajudá-la com o sangramento nasal. A mão dele, apesar da firmeza e da pressão ao segurar seu nariz, ainda exibia um certo zelo e suavidade - a pele dele era surpreendentemente macia. Elisabette grunhiu, encolhendo-se ao sentir o incômodo do sangue quente sobre suas coxas, mas manteve-se quieta até que tudo terminasse. Sabia que aquela não seria a última vez, e que enquanto não estivesse curada da Febre das Árvores, haveria mais momentos como aquele.
Os dois permaneceram em silêncio, incapazes de se olhar devido às posições em que estavam, mas ainda assim atentos aos sons ao redor. A música vinda do interior do Sunny, as ondas se chocando contra o casco do navio, o ronco estrondoso de Caesar Clown. Elisabette podia sentir a suavidade das mãos do tatuado, tão diferentes das suas, calejadas e rudes. "Deve ser porque ele é médico", pensou consigo mesma, inclinando-se timidamente para o toque dele em seu ombro. Law arqueou uma sobrancelha, comparando-a mentalmente a um animal assustado, ou, na pior das hipóteses, a si mesmo na época em que, ainda criança, passava por situação semelhante.
Quando o sangramento cessou, ele levou cuidadosamente ambas as mãos ao rosto dela, segurando-o com delicadeza, e ergueu sua cabeça para fazê-la olhar diretamente para ele. Por mais grata que estivesse, Magni não podia evitar sentir-se um pouco constrangida pela situação em que havia se colocado mais uma vez na presença do aliado de seu capitão.
E, ao olhar diretamente nos olhos dela, o Cirurgião da Morte sentiu seu corpo paralisar. Céus, era como olhar para si mesmo. As bochechas infladas, o olhar desconfiado e o beicinho nos lábios - quase igual a uma criança birrenta. Law notou que, apesar de todas as lutas, vitórias e derrotas, ela ainda possuía traços e comportamentos de uma menina. Resumidamente, estava se sentindo perdida como se ainda fosse uma. Não importava se ela tinha 17 ou 19 anos, aquele olhar em seu semblante era como o de uma criança perdida, assustada e desorientada no mundo - um olhar que ele conhecia bem.
- Você disse que isso é transmissível somente de pessoa para animal e vice-versa, estou certo? - Trafalgar sussurrou, com suas mãos ainda mantendo o rosto dela erguido para ele.
- Sim, por isso eu... - ela sorriu fracamente, suas mãos cobrindo as dele e as afastando de seu rosto, mas nunca as soltando. - Eu vou ter que lidar com isso sozinha.
- Não vai.
- O quê..? - Elisabette arregalou os olhos e franziu o cenho, olhando para ele com um olhar confuso.
- Não estou fazendo isso como uma boa ação, então pode descartar qualquer forma de agradecimento que passe pela sua cabeça. - disse ele, segurando as mãos dela com firmeza. - É apenas por conveniência. A morte de um dos tripulantes do seu bando afetaria todo o plano, então você precisa ser tratada e... mesmo que não haja uma cura, eu ainda posso retardar o avanço da doença. - finalizou, seu olhar penetrando o dela como uma adaga.
- Você vai cuidar de mim?
- Não exatamente. Eu apenas vou... - antes mesmo que pudesse finalizar sua sentença, ela se jogou nos braços dele e o abraçou com força.
Law paralisou no instante em que a sentiu se agarrar a ele, como se buscasse algum tipo de refúgio. Por um momento, ele se irritou e agarrou os braços dela para afastá-la, mas ao ver o quão aninhada ela estava em seu peito e o quanto tremia, ele apenas desistiu e deixou que permanecesse ali, agarrada a ele, parecendo tão vulnerável e inofensiva.
Ele ficou calado, olhando para baixo e vendo as asas dela soltando algumas penas e penugens, com pequenas áreas desprovidas de cobertura, exibindo apenas a pele manchada de verde. Concluiu que a Febre das Árvores estava se espalhando pelo corpo dela como fogo nas folhas secas de uma floresta. Elisabette estava quase igual a ele, igual àquela época sombria de sua vida - não que agora não fosse -, tão pequena e tão destruída pela ironia de ser um ser vivo, um ser humano, um ser... mortal.
- Tral-san... obrigada.
Law nada lhe respondeu, apenas assentiu em silêncio e manteve-se na mesma posição, ajoelhado, com ela abraçada a ele. Naquela noite, ela passou a vê-lo como alguém em quem realmente poderia confiar, alguém em quem... valia a pena acreditar.
Elisabette poderia não ser a mais esperta, nem a mais inteligente de seu bando, mas ainda era uma mulher, ainda era uma pessoa, feita de carne e osso, assim como qualquer ser vivo. Ela precisava daquilo, precisava de alguém para se agarrar e acreditar que poderia ser ajudada, seja Enel, Luffy, Bellamy, os sacerdotes, Wyper ou até mesmo Law. Ela apenas... desejava sentir-se acolhida por alguém, mesmo que esse alguém fosse aquele que literalmente tinha seu coração em mãos.
Duas semanas haviam se passado desde que a aliança entre os Piratas de Copas e o Bando do Chapéu de Palha se formara para iniciar a queda de Kaidou, começando pela destruição da fábrica de S.A.D. no Reino de Dressrosa, o que também resultaria na derrota do, até então, Shichibukai Donquixote Doflamingo, rei daquele país.
Robin estava deitada em uma cadeira de praia ao lado de Franky, os dois de mãos dadas enquanto tomavam banho de sol; Nami estava lendo o jornal junto de Momonosuke, que estava sentado em seu colo e prestando atenção à leitura da ruiva; Luffy, Usopp e Chopper estavam pescando, como sempre costumavam fazer, ouvindo histórias de Brook sobre sua época de pirata no bando dos Piratas Rumbar; Sanji estava na cozinha preparando o almoço; Elisabette estava dormindo por cima de Zoro, que também dormia em um canto do convés; por fim, Law estava quieto, lendo um livro ao lado de Kin'emon, que meditava.
- Pessoal, problemas! - anunciou o cozinheiro do bando ao sair pela porta da cozinha, atraindo a atenção de todos os tripulantes para si.
- Ai, pelo amor de Deus... qual é o problema agora, Sanji-kun? - Nami dobrou o jornal e olhou para ele com a sobrancelha arqueada, já demonstrando impaciência.
- Estamos sem mantimentos para os próximos dias. O que temos no estoque só vai durar hoje e amanhã.
- O QUÊ!? - Luffy gritou, saltando da beirada do navio direto para onde a navegadora estava, enrolando os braços e pernas ao redor dela. - Ô, Nami! A gente precisa parar em uma ilha para comprar mais comida!
- Não temos tempo. Precisamos chegar logo a Dressrosa. Vamos apenas economizar na alimentação para que os mantimentos durem até o final do mês. - Law interferiu, recebendo um olhar de reprovação do capitão mais novo.
- Não dá! Vamos todos morrer de fome assim!
- Na verdade, Luffy, se eu diminuir as porções de comida na hora de preparar... - o loiro notou os olhinhos brilhantes e o beicinho nos lábios do Chapéu de Palha, o que o fez suspirar e ceder. - É, não tem muito o que fazer... precisamos mesmo comprar mais mantimentos. Caso contrário, ninguém aqui ficará bem alimentado e saudável para lutar, se for preciso.
- Bem, o Log Pose está apontando para uma ilha ao norte e, pela tranquilidade da agulha, ela deve ser um local tranquilo e monótono. - a ruiva anunciou, levantando-se de onde estava e indo até o timão, chamando o restante de seus companheiros para ajudar na mudança de rotação do navio.
Toda aquela conversa e a mudança de rota do Thousand Sunny apenas serviram para aumentar o estresse de Trafalgar, que já sentia seus nervos se tornando tensos devido ao comportamento daquele bando. Para ele, eles mais pareciam um grupo de crianças encrenqueiras do que os piratas que haviam se tornado conhecidos mundialmente após os incidentes de Enies Lobby e Water 7, bem como no Arquipélago Sabaody. Como poderiam ser considerados pessoas cruéis e perigosas, quando na verdade agiam como bobalhões que apenas riam, bebiam, comiam e cantavam o dia inteiro? Law podia jurar que toda aquela sua "aventura" como aliado de Monkey D. Luffy resultaria em quedas de cabelo e no surgimento de fios brancos em meio às suas madeixas negras, tudo isso por conta do estresse de estar ali.
Elisabette permanecia adormecida, seus braços e rosto repousando sobre o peitoral de Roronoa - cujos músculos fartos e definidos, para ela, assemelhavam-se a nuvens macias. A mão do espadachim, inconscientemente, acariciava as madeixas platinadas dela, algumas mechas loiras enrolando-se em seus dedos enquanto ambos cochilavam e roncavam suavemente. Era uma cena adorável, que em nada refletia os brutamontes agressivos que eram em suas batalhas.
Luffy observou a cena e sorriu amplamente. Ele adorava ver sua companheira tão tranquila daquela forma, dormindo sossegada e calma. Era um dos raros momentos do seu dia a dia que aqueciam e aconchegavam seu coração em relação a ela.
Em silêncio, o garoto com chapéu de palha caminhou até seus companheiros adormecidos e sentou-se próximo a eles, começando a batucar com as mãos nos joelhos como se fossem tambores, com a intenção de acordar seu espadachim e sua sentinela. Como era de se esperar, a dupla despertou, lançando olhares irritados em direção ao capitão, que ria ao ver a carranca nos rostos dos dois. Contudo, essa carranca logo se desfez ao verem o enorme sorriso do moreno com cicatriz, que lhes sorria como se há muito tempo não os visse.
- Ei, nós vamos atracar em uma ilha próxima para comprar mais mantimentos!
- Yawwwnn... tudo bem... - respondeu a jovem de cabelos platinados com um sorrisinho, coçando os olhos e se espreguiçando.
- Ô, Pomba Lesa! - Zoro a puxou, enrolando seu braço no pescoço dela e a trazendo para perto. - Nem pense em sair sozinha por aí, você sempre se perde em lugares grandes! Parece uma caipira na cidade!
- SEMPRE ME PERCO!? - ela franziu o cenho, cravando as unhas no rosto dele. - Você é quem sempre se perde!
- Shishishishi! Vocês são iguaizinhos!
O Anjo da Morte revirou os olhos e se levantou, esticando os braços e as asas para espantar a preguiça. Em seguida, alçou voo até o ninho do corvo, onde pegou a luneta para procurar a ilha na direção indicada por Nami.
Era um dia calmo e ensolarado, com um clima agradável e ameno, perfeito para descansar após os intensos eventos em Punk Hazard e antes da tormenta que seria lidar com Donquixote Doflamingo em Dressrosa. As gaivotas voavam pelos céus, mergulhando ocasionalmente no mar para capturar peixes. Golfinhos pulavam ao lado do navio, chamando a atenção dos tripulantes, enquanto o ar fresco cantava junto com a brisa suave. Era um dia tranquilo, um dia bonito.
Enquanto procurava, Elisabette sentiu uma súbita fraqueza em suas pernas e dobrou os joelhos, batendo com o queixo na borda do ninho. Grunhiu ao sentir a pancada, imediatamente levando a mão à região machucada e massageando-a, fazendo um beicinho choroso antes de tentar se levantar. Novamente, sentiu moleza em seus membros. A jovem arregalou os olhos e franziu o cenho, percebendo que não estava sentindo completamente as suas pernas. Engoliu em seco e tentou reunir forças, mas a falta de sensibilidade persistia, fazendo-a chiar e colocar mais esforço até conseguir se reerguer, ainda precisando se apoiar na borda para se manter de pé, com os joelhos tremendo e os pés fraquejando.
Ela levou a mão à cabeça, sentindo uma forte dor latejante, e respirou fundo algumas vezes antes de olhar para frente e ver tudo embaçado. Entretanto, em questão de poucos minutos, tudo voltou ao normal, deixando-a inquieta e preocupada com a própria fragilidade.
Quando voltou a colocar a luneta nos olhos, avistou ao longe um pequeno montículo de areia, reconhecendo imediatamente que era a ilha que procuravam. A sentinela encheu o peito para gritar "terra à vista", sentindo o tremor de excitação pelo navio inteiro ao comemorarem a proximidade de um novo destino para fazer compras, tanto para reabastecer os estoques quanto para adquirir itens pessoais. Elisabette, por exemplo, desejava comprar um novo caderno para desenhar, pois o seu antigo já estava quase sem páginas em branco.
Elisabette retornou ao navio com quatro caixas de madeira, duas em cada braço, erguendo-as sobre os ombros. Sem qualquer delicadeza, ela simplesmente jogou as caixas no convés próximas a Sanji, que imediatamente beijou suas mãos e agradeceu pela gentileza. Contudo, ele logo se dirigiu a Zoro, repreendendo-o por ter deixado uma dama delicada e frágil carregar tudo sozinha, enquanto ele, um maldito marimo preguiçoso, trazia apenas duas caixas leves e uma sacola de papel com algumas verduras. No entanto, ao notar o conteúdo da sacola, Sanji parou de falar abruptamente ao perceber que havia ali alguns materiais de desenho, provavelmente destinados à mais nova que acabara de passar por ele.
- Vou tomar banho e ir dormir. Meia-noite eu volto. - ela disse, passando pela porta e dirigindo-se ao banheiro.
Já no banheiro, a platinada rapidamente removeu suas vestimentas e as atirou no cesto de roupas sujas, retirando sua calcinha e lavando-a rapidamente na pia enquanto sentia os ossos de seu corpo rangendo de dor e cansaço - algo que há tempos não acontecia. Ao olhar no espelho, notou que abaixo de seus olhos estava um pouco escuro e fundo, suas olheiras naturais sendo substituídas por olheiras de fadiga.
Há alguns dias ela sentia uma exaustão inexplicável, acabando por ultrapassar seu horário habitual de sono. Magni já havia se acostumado a dormir das 6 da manhã até o meio-dia, e das 6 da tarde até a meia-noite, totalizando doze horas de sono por dia, tudo para consolidar seu posto de sentinela. No entanto, com aquela fadiga repentina, ela estava dormindo mais do que o necessário para cumprir suas obrigações. Conhecendo seus companheiros, especialmente o Caçador de Piratas, sabia que nenhum deles ousaria acordá-la para exercer seu cargo, preferindo alternar entre o atirador do bando, a arqueóloga e o espadachim para ficarem de guarda durante a noite.
O banho começou de forma rápida, pois ela queria terminar logo para ir direto para a cama e dormir até seu horário habitual, evitando a todo custo perder mais um dia como sentinela.
Passou o sabão rapidamente pelo corpo, lavando bem as manchas de sua pele para, ao menos, mantê-las hidratadas e higienizadas, evitando piorar sua condição. Por fim, lavou seus cabelos e asas, depois sacudiu-se para tirar o excesso de água e sabão. Pegou a toalha, enrolou-se nela, abriu a porta com um chute (sim, ela arrombou. pqp), e saiu correndo para o quarto, sem sequer se preocupar em se secar ou vestir roupas. Apenas se jogou em sua cama e, quase que instantaneamente, adormeceu.
Horas depois, já na penumbra da noite, Elisabette caminhava com passos cuidadosos e silenciosos, evitando emitir qualquer som desnecessário enquanto o interior do navio permanecia em absoluto silêncio, um indicativo de que seus companheiros já estavam recolhidos e adormecidos em seus aposentos. Seu destino, porém, não era o convés, mas sim o consultório de Chopper. Aproveitaria o fato de que seu pequeno companheiro estava dormindo para procurar alguma pomada que pudesse aliviar a sensação de queimação em suas manchas ou qualquer outra substância que pudesse ajudar com o desconforto causado pelo constante latejamento.
Ao avistar o consultório, entrou e se surpreendeu ao encontrar Law dormindo sobre a maca, com um livro repousando sobre seu peito, um braço cobrindo seu rosto e o outro caído para fora da maca. Sua primeira reação foi franzir o cenho e reclamar mentalmente, temendo que ele a notasse.
Com um suspiro suave, ela caminhou na ponta dos pés até a prateleira. Sua pele empalideceu ao ver a vasta quantidade de medicamentos, ervas e pomadas disponíveis. Por um momento, trincou os dentes e arregalou os olhos com o cenho franzido, sentindo a frustração invadir sua paz interior. Afastou-se da prateleira, levou as mãos ao rosto e exalou um suspiro irritado. Perfeito. Chopper provavelmente teria algo que poderia ajudá-la, mas como encontrar? Ela não sabia o nome de nenhum medicamento e, mesmo se soubesse, ainda não dominava completamente a leitura para identificar os nomes dos remédios e encontrar o que realmente pudesse auxiliá-la.
Elisabette pegou uma pomada e examinou a embalagem. Abriu-a e cheirou o conteúdo, em seguida, aplicou um pouco no dedo e experimentou, fazendo careta ao sentir o gosto azedo da pasta que impregnou sua língua. A expressão no seu rosto revelava seu desagrado com o sabor.
Ela continuou procurando por algum remédio adequado, mas nada parecia ser útil. Poderia simplesmente aplicar qualquer coisa que encontrasse em suas manchas e ir para o convés? Sim, poderia, mas sabia que qualquer medicação inadequada poderia trazer mais problemas. Optou por não arriscar e evitar uma abordagem tão irresponsável, considerando o estado já delicado em que se encontrava.
De repente, uma sombra a surpreendeu, e algo tocou suas asas. Virou-se imediatamente, encontrando Law de pé atrás dela, com um braço estendido para pegar algo na prateleira. Assim que pegou o objeto, ele abaixou a cabeça e a encarou com o olhar habitual - um olhar que ela aprendera a não temer e, pela convivência, já estava acostumada a entender como parte de sua personalidade, sem que ela acreditasse que ele tivesse intenções ameaçadoras... pelo menos era o que ela queria acreditar.
- Dói?
- Lateja e queima.
- Está saindo secreção?
- Não.
- Entendi. - ele sussurrou, levando uma mão até seu rosto e segurando sua bochecha com cuidado, passando o polegar delicadamente sobre a pequena mancha verde. - Está desidratado. Há um risco de que sua pele rache e comece a sangrar, o que a tornaria mais vulnerável à entrada de bactérias e sujeira no sistema imunológico.
- E o que devo fazer para melhorar?
- Fique aí. - Trafalgar apontou para onde ela estava e puxou um banco, sentando-se de modo que seu rosto ficasse voltado para o busto dela.
Ele pegou a pomada que havia escolhido e aplicou um pouco em seu dedo. Em seguida, ativou uma Room ao redor deles para examinar o conteúdo e verificar se continha os ingredientes necessários para tratar a situação da pirralha do bando do Chapéu de Palha. Observou com atenção, avaliando cada ingrediente com cautela, consciente de que qualquer substância fora de ordem ou capaz de fortalecer o vírus no corpo dela poderia agravar sua condição, levando-a à óbito em poucos dias ou, na pior das hipóteses, em algumas horas ou até mesmo segundos.
- Certo... essa pomada pode ajudar. - Law afirmou, levantando o olhar para encará-la nos olhos, notando que ela já o observava.
- Verdade?
- Sim.
- Que bom... - um sorriso doce se formou em seus lábios rosados e ele quase pôde perceber um brilho de esperança em seu olhar azulado. - Eu sei que está fazendo isso por conveniência, mas obrigada mesmo assim.
- Não há de quê. - o homem murmurou, desviando o olhar dela por alguns segundos antes de retomar o contato visual, parecendo hesitante.
- O quê?
- Você gostaria que eu aplicasse a pomada em você?
- Sim... por favor.
Law assentiu em silêncio e puxou o braço dela com cuidado, seu aperto suave e gentil em seu pulso enquanto pingava algumas gotas da pomada na mancha verde no antebraço dela. Ele tomou cuidado para cobrir bem a área e mantê-la hidratada, espalhando a pomada com o polegar por toda a região manchada. Ela o observava em silêncio, ocasionalmente emitindo pequenos grunhidos devido à sensação rápida de coceira e frescor sempre que o remédio era aplicado em suas feridas.
Ele continuou seu trabalho com precisão e cuidado, movendo-se para a bochecha de Elisabette. Com um toque gentil, ele aplicou a pomada na mancha verde que se estendia pela pele alva dela. A delicadeza com que espalhou o creme fez com que ela sentisse um alívio imediato, embora a sensação de frescor provocasse um leve estremecimento. Ele fez o possível para não incomodá-la, mantendo seu toque firme, mas suave, enquanto seus olhos permaneciam fixos na tarefa em mãos.
Em seguida, dirigiu-se ao pescoço dela, onde outra mancha verde havia aparecido. Ele aplicou a pomada com a mesma atenção, certificando-se de cobrir bem a área afetada. A platinada apertava os olhos ao sentir o creme, mas permaneceu imóvel, confiando no potencial dele como médico. Por fim, Trafalgar tratou da última mancha na mão direita da mais nova. A pomada foi aplicada com precisão, espalhando-se lentamente enquanto ele observava a expressão dela.
- Há mais algumas... - ela sussurrou timidamente, suas mãos agarrando a barra de sua camisola com um leve tremor.
- Onde?
- Aqui... - levantou a camisola com hesitação, revelando parte de sua pele exposta, incluindo seus seios e a calcinha. Apesar do embaraço visível dela, a atenção de Law foi imediatamente atraída para as manchas maiores em seu abdômen e peito.
- Essas manchas são maiores que as outras... - observou o moreno, examinando com cuidado as lesões na pele dela. Ele ignorou o rubor nas bochechas dela e a quase nudez diante de si, mantendo seu foco na avaliação das manchas.
- São essas que ficam latejando...
Trafalgar não pronunciou mais nenhuma palavra. Com um murmúrio suave, solicitou permissão e começou a aplicar a pomada com os dedos, iniciando o tratamento. Ele cuidadosamente espalhou o creme sobre a grande mancha verde que cobria quase metade do lado esquerdo do abdômen dela, e depois prosseguiu para o peito, onde a mancha, embora recente, representava uma ameaça potencial. Com a perspicácia de um profissional, pôde discernir que as manchas, em sua totalidade, indicavam que os dias de Magni D. Elisabette, o Anjo da Morte, estavam se esgotando.
O corpo de Elisabette, com suas formas elegantes e curvilíneas acentuadas pelos músculos e curvas sensuais, tornava-se ainda mais visível devido à delicadeza da camisola fina que agora estava levantada, oferecendo uma visão mais ampla de sua figura feminina. A visão de sua calcinha rendada e de seus seios nus, que pareciam prestes a tocar o rosto do tatuado, não provocou nele qualquer reação indesejada. Ele permaneceu alheio à tentação, incapaz de olhar para ela com os olhos de um homem, de enxergá-la com malícia ou de sentir qualquer desejo. Embora pudesse reconhecer que ela era uma mulher de notável beleza, tal fato não lhe despertava qualquer impulso impuro.
Para Law, Elisabette era apenas uma pessoa como qualquer outra.
Para Law, Elisabette não merecia ser vista sob uma luz tão profana.
E mesmo que merecesse, ele não seria capaz de observá-la com os olhos de um homem sujo.
━━━━━━━━━━━━━━━━━━
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro