
━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟭𝟴. 𝗔𝘀 𝗹𝗮́𝗴𝗿𝗶𝗺𝗮𝘀 𝗱𝗲 𝗾𝘂𝗲𝗺 𝗷𝗮́ 𝗰𝗿𝗲𝘀𝗰𝗲𝘂.
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❝ 𝐄 𝐞𝐧𝐭𝐚̃𝐨 𝐞𝐥𝐚 𝐬𝐨𝐫𝐫𝐢𝐮
𝐄́ 𝐭𝐮𝐝𝐨 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐞𝐮 𝐪𝐮𝐞𝐫𝐨
𝐔𝐦 𝐬𝐨𝐫𝐫𝐢𝐬𝐨 𝐧𝐨𝐬 𝐨𝐥𝐡𝐨𝐬 𝐝𝐞𝐥𝐚
𝐎 𝐬𝐨𝐦 𝐝𝐞 𝐬𝐮𝐚 𝐫𝐢𝐬𝐚𝐝𝐚 ❞
𝙳𝚛𝚒𝚏𝚝 𝙰𝚠𝚊𝚢 - 𝚂𝚝𝚎𝚟𝚎𝚗 𝚄𝚗𝚒𝚟𝚎𝚛𝚜𝚎
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━━ Polar Tang, Submarino dos Piratas de Copas; em algum lugar da Grand Line.
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫
Eu estava sentada em uma sala escura, sozinha, refletindo sobre tudo o que havia acontecido nos últimos dias. Foi tudo tão rápido que mal tive tempo de raciocinar. Apenas dormi e acordei com a turbulência dos dias passando rápido demais, mais rápido do que eu podia acompanhar. Estava com tanta fome, tanto calor e sede, também sentia sono, cansaço e dor nas pernas. Minhas asas soltavam mais penas do que o normal, e ao meu redor havia penugem espalhada pelo chão e penas bruscamente caídas - até mesmo me sentia leve. Haviam limpo os meus ferimentos causados pelos tiros de raspão que recebi em Marineford. Depois, fui trazida para esta sala e deixada aqui, quieta e sozinha.
Não pude ver Luffy depois que o levaram para a sala de cirurgia. Tudo que eu sabia era que ele estava gravemente ferido e corria o risco de morrer caso não resistisse. Também descobri que o homem-peixe se chamava Jinbe, um Shichibukai, assim como Bartholomew Kuma. Graças a Deus, ele esteve ao lado do meu capitão e o ajudou durante o tempo em que estiveram juntos, tanto em Impel Down quanto em Marineford.
Eu me sentia tão inútil, tão estúpida. O tempo que passei dormindo depois de desistir de ir ao campo de batalha poderia ter sido utilizado para buscar uma forma de chegar lá. Poderia ter solicitado informações a Trafalgar-san em vez de pedir para ele me levar, considerando que eu poderia ter chegado lá por conta própria, como fiz horas antes.
Eu poderia... eu teria conseguido. Sim, eu teria. Eu poderia tê-lo ajudado, ajudado a evitar a morte de seu irmão... eu... eu... eu poderia tê-los tirado de lá voando. Inazuma teria eletricidade suficiente para derrubar todos em Marineford, mesmo que causasse alguns danos. Eu não me importaria, não mesmo. Ajudar meu capitão a cumprir seu objetivo seria maior e mais importante do que qualquer dor ou desconforto que eu pudesse sentir. É meu dever como sua subordinada ajudá-lo e protegê-lo, até dar a vida por ele se necessário. E eu o faria, faria sem nem pensar.
Abracei minhas pernas e me encolhi, agitando minhas asas para gerar um pouco de vento, no entanto, isso apenas resultou em mais penas se soltando e espalhando penugem pelo ambiente, o que me fez espirrar quando as pequenas partículas entraram em contato com minhas narinas. Suspirei e observei ao redor, tudo era metálico e pequenas escotilhas ofereciam visão para o lado de fora, para o fundo do mar, e estava... escuro. Muito escuro, fazendo-me arrepiar dos pés à cabeça.
Eu ansiava pelo despertar de Luffy, para que pudéssemos conversar novamente, abraçar-nos como sempre fizemos e então procurar por nossos companheiros e partir para o Novo Mundo, continuando nossas aventuras, perseguindo nossos sonhos e testemunhando-o se tornar o Rei dos Piratas, o "homem mais livre do mundo", como ele costumava dizer em todos os momentos em que discutíamos sonhos e aspirações, sobre o que queríamos ou não, sobre... tudo. Sempre conversamos sobre qualquer coisa que nos viesse à mente desde que nos conhecemos. Senti-me acolhida por ele, capaz de me abrir e compartilhar tudo, desde o que pensava até o que sentia, temendo ser julgada, mas... ele apenas sorriu.
- Oh, tu estás no escuro! - de repente, a luz acendeu. - Por que não ligastes as luzes, mana? - uma mulher de longos cabelos castanhos e cacheados apareceu, usando uma touca laranja e um macacão branco.
- Eu... eu... - levantei-me imediatamente, ficando na defensiva e olhando assustada para ela, pois não sabia quem era.
- Não sou tão feia assim, sabe? Não precisa ter medo de mim.
- Não estou com medo! - retruquei, franzindo o cenho.
- Tu estás toda arrepiada como um passarinho assustado. - ela riu, encostando-se na porta enquanto mantinha os olhos em mim, me encarando dos pés à cabeça. - Ikkaku, prazer. - um sorriso surgiu em seus lábios cor de rosa, coloridos pelo batom que usava.
- Elisabette...
- Que nome bonito. Tu também és muito bonita, mana! - a vi se aproximando de mim, parando em minha frente. - Estás com fome?
- ...talvez.
- Vou interpretar isso como um "sim".
Ikkaku sorriu para mim e deu um leve aperto em minha bochecha antes de se afastar e sair da sala onde estávamos, deixando-me sozinha novamente. Permaneci em silêncio, observando-a desaparecer na escuridão do corredor. Então, sentei-me no chão mais uma vez, encolhida e quieta, sentindo-me desconfiada e assustada. Embora já tivesse estado no Sharky Submerge duas vezes, não era incomum para mim estar submersa no mar, em um submarino. Contudo, desta vez era diferente, pois estava rodeada por muitos desconhecidos. As únicas pessoas que eu conhecia ali eram meu capitão, que estava passando por uma cirurgia, e Trafalgar-san, que estava realizando o procedimento.
Um suspiro escapou por meus lábios enquanto eu encostava a cabeça na parede, fitando fixamente a porta por onde Ikkaku havia passado. Eu apenas desejava que Luffy aparecesse ali, dizendo que tudo estava bem e que poderíamos sair daquele lugar, procurar nossos companheiros e retornar ao mar com nosso bando completo.
Este submarino é extremamente quente; sinto meu cabelo grudar em minha testa devido ao suor, e minha respiração está ofegante há algum tempo. Horas se passaram, e ainda não há sinal do fim da cirurgia nem de alguém para me informar sobre seu progresso. Eu queria saber como ele está, se está bem, se já está fora de perigo e se já acordou. Eu precisava vê-lo, não conseguia mais me conter... eu... eu precisava tanto vê-lo, sentia uma necessidade avassaladora de ouvir Luffy me orientar sobre o que fazer, se deveria continuar esperando ou agir imediatamente, se deveria deixar passar ou resolver as coisas.
Às vezes, sinto-me estranha, como um animal enjaulado criado apenas para seguir ordens. Primeiro as do meu pai, agora as do capitão. Eu sei fazer as coisas por mim mesma, mas não é a mesma coisa, porque ajo por impulso, no calor do momento e, sempre que o faço, acabo tomando decisões estúpidas e me colocando em perigo desnecessário. Como quando ataquei Trafalgar-san e roubei seu dinheiro na tentativa de chegar a Skypiea - como se fosse possível -, o que resultou em sua aparição no Sunny, me confrontando, arrancando minha cabeça e me deixando completamente vulnerável, incapaz de reagir. Aproveitando-se disso, ele levou todo o tesouro que tínhamos no navio.
- Elisabette? Eu trouxe algo para ti comer. - Ikkaku surgiu novamente, sorridente e com um prato de onigiri em suas mãos.
- Eh? - olhei para ela confusa, mas dei um sorrisinho gentil. - Obrigada..!
- Não precisa ficar tímida, viu, bichinha? Aqui, abre a boca. - ela se aproximou perigosamente de mim e enfiou um onigiri em minha boca, fazendo-me engolir imediatamente. - Muito bem! O capitão quer que tu comas, depois ele vem dar uma olhada nos teus ferimentos, 'tá?
- C-certo... obrigada pela comida.
- Não me agradeça, apenas cumpro ordens! Agradece ao capitão, ele quem mandou trazer algo para ti comer.
- Ele mandou? - arregalei os olhos e olhei para o prato que agora estava nas minhas mãos. Meu Deus, fui envenenada... vou morrer lentamente como uma lesma após ser afetada por sal. - Diga a ele que estou muito agradecida. - dei o meu melhor sorriso, mas por dentro eu sentia meu estômago revirar.
Um copo de água foi deixado também, e ela se retirou novamente enquanto eu começava a devorar rapidamente os onigiris e a beber a água que ela havia me dado, sentindo todos os meus órgãos agradecendo por finalmente estarem recebendo alimento e bebida para se energizarem. Sinceramente, eu estava quase me ajoelhando para agradecer pela refeição, afinal, há horas eu não comia nem bebia. Estava faminta! Muito faminta. Se fosse possível, eu devoraria 30 peixes de uma só vez e ainda assim não iria saciar totalmente minha fome, mas ainda assim eu seria grata pelo que estava recebendo.
Enquanto comia, lembrava das vezes em que Sanji me dizia para comer tudo e não deixar sobrar nada, pois era uma desfeita com os cozinheiros deixar sobras nos pratos. Desde aquele dia, nem um único grão eu deixava, sempre comia tudo e, quando possível, repetia até me dar por satisfeita, como estava fazendo agora. Até que senti minha barriga inchar e arrotei baixo, colocando a mão sobre os lábios logo em seguida e corando. Já fazia um tempo que eu não arrotava assim depois de me sentir satisfeita com algo que comia, portanto foi bem... inesperado? Bem, sim.
Sorri para mim mesma e, antes de poder me sentar novamente, senti o submarino balançar bruscamente e começar a subir, o que me deixou em estado de alerta. Agarrei-me à escotilha e olhei para o mar, notando uma claridade começar a surgir, deixando ainda mais óbvio que estávamos emergindo e indo direto para a superfície. Meus olhos brilharam com o reflexo do sol em minhas íris azuis e, sem nem pensar duas vezes, agarrei Inazuma e saí correndo daquela sala, batendo a porta com força, fazendo o som metálico ecoar por todo o ambiente, sem me importar se isso poderia chamar a atenção ou irritar quem estivesse por perto.
Cheguei a uma parte do Polar Tang onde uma porta estava aberta, parecendo levar para o lado de fora. Perfeito, estamos fora do mar! Sorri vitoriosa e imediatamente saí, deparando-me com três membros da tripulação de Trafalgar-san. Dois homens e... céus... o urso polar... engoli em seco e fiquei pálida, segurando com força o cabo da minha foice enquanto dava passos silenciosos para trás, até notar também uma serpente branca com manchas vermelhas em suas escamas e uma caveira com chifres em sua cabeça, enrolada na proa.
Os três pareciam desesperados e, ao olhar para o lado, vi um navio da Marinha. Meu sangue gelou. Meus olhos se arregalaram e minhas pupilas diminuíram de uma forma que quase sumiram de minhas orbes.
Como eles nos encontraram? O que vão fazer conosco? Seremos todos capturados? Mas o Luffy ainda não se recuperou, ele não vai poder lutar! Maldição... não sei nem se a cirurgia já foi concluída... droga, merda! E agora? Eu ataco? Eu... eu deveria mandá-los submergir e deixar os fuzileiros comigo, eu mesma poderia enfrentá-los sozinha! Não... ou sim? Sim! Eu posso! Mesmo que... mesmo que eu... não... eu preciso falar com meus companheiros antes, não posso agir feito uma maluca sem vê-los uma última vez.
De repente, uma mulher saltou do navio diretamente para onde estávamos e eu me coloquei na frente dos tripulantes do bando dos Piratas de Copas, apontando minha foice - que já soltava pequenas faíscas de eletricidade - para ela. Seus cabelos eram bem longos e lisos, com uma coloração escura, mas ainda assim tinham um brilho invejável, parecendo tão sedosos e macios que estaria mentindo se dissesse que não era a cabeleira mais linda que já vi desde que me entendo por gente. Sua pele era bem clara e seus olhos tinham uma cor azul muito diferente dos meus, eram como duas grandes safiras que brilhavam com o reflexo do céu! E o corpo dela... meu Deus! Seios fartos, cintura fina e quadril largo, com coxas bem definidas, e seu rosto era tão belo que senti meu coração palpitar.
Que mulher maravilhosa, Deus. Isso é possível? Há mesmo chances de existir uma mulher tão linda assim? Ela é tão... surreal. Achava que Camie-chan fosse a mais bela das mulheres que já havia conhecido desde que saí de Skypiea e vim para o mar azul, porém... essa... essa mulher... a Shichibukai Imperatriz Pirata, Boa Hancock, como a chamaram... é a mulher mais linda que já vi em toda a minha vida! Nossa... agora eu entendo o que Sanji sente quando vê Nami e Robin.
- Não se preocupem. Eu petrifiquei todos os soldados. - ela disse, com sua voz soando como uma melodia angelical e me fazendo corar, mas rapidamente me recompus e a olhei com seriedade. - Como está o Luffy? Ele está mal? Ele vai se recuperar, não vai?
- Como você sabia que iríamos emergir aqui? Fiquei com medo da Marinha ainda estar no nosso encalço. - o urso interveio, olhando confuso para ela.
- Eu pedi à Salomé que os seguisse debaixo d'água.
- Entendi!
- Não mude de assunto, sua besta peluda! - Hancock gritou, repreendendo o urso.
- Sinto muito!
- Que submisso! - os outros dois do bando de Trafalgar-san gritaram, parecendo indignados com a rápida mudança de comportamento do companheiro deles.
- Como está o Luffy? Diga-me agora! - de repente, ela veio para cima de mim, parando em minha frente, o que me fez encolher e engolir em seco.
- Eu... eu não sei... - olhei assustada para a mulher, sentindo como se ela fosse me socar a qualquer momento.
- Ah, capitão!
- Eu fiz tudo o que pude. - de repente, Trafalgar-san apareceu, falando enquanto limpava as mãos com um pano, ele parecia... cansado.
- O que isso quer dizer? Ele está bem, não é? Como o meu capitão está!? - corri até onde ele estava, segurando em seu casaco com as duas mãos, deixando minha foice cair no chão.
- No que se refere à operação, ele está estável. Contudo... ele está mais ferido do que se imagina. Não há ainda garantia de que vá sobreviver.
- Ah... - soltei-o e me afastei, dando alguns passos para trás.
Eles continuaram conversando entre si, enquanto eu me distanciava para ficar um pouco mais isolada deles e encostava no corrimão do submarino, segurando forte na barra metálica e olhando para o chão feito do mesmo material, encarando meus pés descalços. Eu sentia meu peito apertado, como se algo estivesse me agarrando e me impedindo de respirar; aos poucos, minha visão ameaçava escurecer, como se eu fosse cair a qualquer momento e desmaiar. A ideia de Luffy morrer por estar tão debilitado era como uma estaca atravessando meu peito inúmeras vezes e perfurando meu coração, o massacrando por completo, sem deixar nada, nem uma única veia que pudesse sequer bombear uma gota de sangue.
Eu não quero que ele morra, não ele... não pode. Pelo amor de Deus, meu pai. Ele não pode. Eu não posso perdê-lo, eu não aguentaria, nenhum dos nossos companheiros aguentaria! Luffy morrer seria como perder a luz em nossas vidas que nos guia no meio do nevoeiro e eu não quero isso, nenhum deles iria querer. Saber que estou finalmente no mesmo lugar que ele, no entanto sem poder vê-lo por não ter condições, é como estar no inferno.
Meu Deus, por favor... não tire o Luffy de nossas vidas, eu imploro. Meu senhor, por tudo o que é mais sagrado, eu imploro, suplico, eu clamo por isso. Se ele morrer... o que será de mim? Não vou ter mais ninguém. A morte dele significaria o fim dos Piratas do Chapéu de Palha, o que também levaria à separação do nosso bando, com cada um voltando para nossas vidas antes de o encontrarmos e nos tornarmos seus companheiros. O que será dos meus amigos? Para onde Robin irá? E Brook, ele tem para onde ir? Franky não irá querer voltar para Water 7 para não colocar seus parceiros em risco, então... para onde ele irá? Nami e Usopp, como voltarão para East Blue?
Minhas mãos tremiam e minha respiração estava desregulada, meu peito doía e eu suava frio, sentindo fraqueza nas pernas e observando algumas penas das minhas asas se soltarem novamente. Isso me deixou preocupada, pois conseguia ver um pouco do couro que ficava coberto por penas e penugem exposto em algumas partes que estavam praticamente sem nada.
Isso tem acontecido há alguns anos, minhas asas ficam assim, despelando e até me impossibilitando de voar por um tempo... por que isso precisa acontecer justo hoje!? A qualquer momento Luffy pode se recuperar, não é? E ele vai precisar de alguém para levá-lo de volta a Sabaody para que possamos pegar o Sunny e procurar pelos outros chapéus de palha. Meu Deus, eu imploro, não me afete com isso agora. Não deixe que minhas penas continuem caindo... por favor... eu... eu ainda preciso ajudá-lo de alguma forma. Tê-lo retirado de Marineford foi o máximo que consegui naquele momento, mas preciso fazer mais por ele! Luffy... eu... eu preciso, Deus. Eu preciso fazer mais por ele.
- E você, bonequinha! - um homem? Mulher? Que diabo é isso? Não sei, aquela pessoa apenas apontou para mim e chamou minha atenção. - Você deve ser a Elisabette! O Mugiwara-boy falou horrores sobre você, amore!
- Ele falou... "horrores"? - arregalei os olhos e fiz um beicinho. Senti outra pontada no peito, como se fosse desabar a qualquer instante.
"Você ainda não pode andar!"
"Não se esforce demais!"
"Ele mandou você descansar! As feridas podem se abrir!"
"Aonde você vai!?"
- Você é Trafalgar Law, do North Blue, não é? - Jinbe apareceu, andando em nossa direção com dificuldades e notava-se claramente o quão machucado ele estava e o esforço que fazia para se manter de pé.
- Sim.
- Obrigado. Você salvou minha vida!
- Você precisa descansar, ou vai morrer. - o capitão daquele bando disse, repreendendo-o com um tom de voz firme, embora estivesse calmo diante da situação.
- Não consigo descansar a mente. É impossível! O que acabei de perder era muito importante para mim! Por isso mesmo, sei que Luffy-kun está passando por algo muito pior! Naquele instante, o instinto de autopreservação o fez perder a consciência no último momento! Mesmo que ele sobreviva, ainda me preocupa muito o momento em que ele acordar. - ele disse, com lágrimas surgindo no canto de seus olhos e que logo começaram a rolar por sua face.
Ao ouvir as palavras de Jinbe sobre o sofrimento o qual Luffy passaria, um nó se formou em minha garganta, uma dor que parece cortar meu peito em pedaços. Quero chorar, deixar as lágrimas rolarem livremente pelo meu rosto, mas me seguro com todas as minhas forças. Chorar é coisa de criança, e eu sou uma mulher crescida, uma pirata que precisa se manter forte pelo seu capitão. Mesmo assim, a dor que sinto é insuportável, como se meu coração estivesse sendo esmagado por um peso gigantesco. Preciso ser a fortaleza dele nesse momento, ser sua companheira de batalha inabalável, contudo, por dentro, sinto-me desmoronar em mil pedaços, como se cada respiração fosse um esforço monumental para manter minha sanidade se manter intacta.
Enquanto tento conter as lágrimas, sinto-me sufocar com a angústia que se instala em meu peito. Meu corpo treme com a intensidade da emoção contida, e meu coração parece querer explodir a qualquer momento. Queria poder desabar em prantos, deixar a dor fluir livremente, entretanto sei que não posso. Não agora. Não quando Luffy precisa de mim para ser sua rocha, seu porto seguro. Então, mesmo que meu interior esteja em frangalhos, mantenho-me firme por fora, erguendo uma máscara de pessoa completamente neutra e distinta nesta situação. Porém, por dentro, cada suspiro é um grito de tristeza e medo, cada batida do meu coração é um eco do desespero que se apodera de mim. Porque, no fim das contas, por mais que eu tente me manter forte, é difícil não sucumbir à dor que me consome pouco a pouco.
. · . · . · . · . ߷ ୭̥⋆
━━ Região Costeira da Ilha das Mulheres, Amazon Lily; Calm Belt.
Uma semana havia transcorrido desde o incidente no Arquipélago Sabaody e três dias desde a Guerra dos Maiorais em Marineford e a cirurgia de Luffy. Estávamos isolados no litoral de Amazon Lily, pois homens não podiam adentrar na ilha devido a uma lei que proibia sua entrada. Considerando que a tripulação dos Piratas de Copas era quase exclusivamente masculina, fomos proibidos de entrar na ilha propriamente dita. No entanto, Boa Hancock conseguiu fazer uma exceção para que permanecêssemos na costa, pelo menos até que meu capitão estivesse completamente recuperado.
Recebíamos cinco refeições por dia em grandes quantidades, garantindo que todos pudessem se alimentar adequadamente e permanecerem preparados para quaisquer imprevistos. As amazonas nos forneciam uma variedade de frutas frescas, peixes cozidos, ensopados, sucos de diversos sabores e uma seleção de chás, que pareciam ser uma especialidade da ilha. Confesso que alguns dos chás eram tão saborosos que eu os tomava várias vezes ao dia. De vez em quando, também nos ofereciam vinho e saquê. Devo admitir que cheguei a beber uma garrafa de vinho inteira sozinha para experimentar, e nunca provei nada igual. Seu sabor adocicado e suave não irritava tanto a garganta quanto a cerveja que havia provado em Sabaody. Entretanto, quando Trafalgar-san me flagrou consumindo álcool, ele me repreendeu e confiscou a garrafa, enfatizando várias vezes que eu ainda não tinha idade para beber.
As mulheres me convidavam algumas vezes ao dia para banhar-me com elas nas fontes termais de Amazon Lily, e eu aceitava prontamente, apesar de me sentir um pouco constrangida por estar nua na presença de tantas desconhecidas que encaravam a situação como algo natural. Embora estranho no início, consegui me adaptar devido às frequentes visitas ao interior do país.
Elas me presentearam com alguns vestidos novos e criavam diversos penteados para mim, adornando minha cabeça com flores e aplicando maquiagem em mim - em grande quantidade, inclusive. Diziam que eu era adorável como uma boneca de pano delicada. No início, isso me assustou, pois não estava acostumada com tanta atenção positiva direcionada a mim. Além disso, suas perguntas sobre o mundo exterior me deixavam desconcertada, pois muitas delas eram sobre assuntos que eu mesma não tinha resposta.
Quando chegou a hora do almoço, retornei à costa e vi os rapazes já reunidos e comendo juntos, com exceção de Jinbe e Trafalgar-san, que estavam um pouco mais afastados, conversando entre si. Dirigi-me a Margareth, responsável por servir a comida naquele momento, e peguei uma tigela de ensopado com ela. Ela sorriu para mim e elogiou as flores na trança do meu cabelo, dizendo o quão fofa eu estava, o que me fez corar. Apenas agradeci com um sorriso tímido enquanto uma gota de suor escorria pela minha testa. Em seguida, retirei-me, indo em direção a uma palmeira que ficava um pouco mais distante, optando pela solidão para comer em paz, sem ter que lidar com pessoas desconhecidas falando comigo ou tentando puxar conversa.
Enquanto saboreava o ensopado, não pude conter um sorriso de satisfação, sentindo-o deslizar pela minha garganta e aquecer meu estômago, proporcionando-me um conforto tão reconfortante que por alguns segundos me permiti esquecer da situação em que me encontrava.
Eu sabia da importância de manter a calma, no entanto, cada momento que passava parecia uma eternidade, permeada pelo constante medo de que Luffy nunca mais acordasse, permanecendo em coma por anos até sucumbir ou mesmo morrer sem ter qualquer chance de recuperação. A ideia me deixava agitada, mas esforçava-me para manter a compostura, reprimindo as lágrimas que ocasionalmente ameaçavam escapar, lutando contra o impulso de me permitir chorar para não me expor dessa maneira. Uma mulher adulta... chorando? Não... não posso permitir isso. O que... o que meu pai diria? Seria uma vergonha.
Assim que terminei de comer, suspirei satisfeita e coloquei a tigela ao lado do meu corpo para poder descansar um pouco as costas no tronco fino da palmeira em que havia me encostado para fazer minha refeição. Olhei para o céu e vi as nuvens passando lentamente, alguns pássaros voando e a brisa soprando os meus cabelos e as folhas das árvores, também misturando-se ao cheiro do mar e do ensopado que as cozinheiras da ilha haviam nos preparado.
Como posso me permitir ficar tranquila assim, quando tudo parece estar escapando de minhas mãos? Meu pai, meus companheiros, Luffy... eu não consegui impedir que nenhum deles se fosse e sinto tanto medo de perdê-los para sempre.
Todas as nossas aventuras, todas as risadas, as brincadeiras e as cantorias... serão apenas lembranças dolorosas? Não sei se conseguiria aguentar passar a vida inteira com essas memórias me assombrando. É como se eu não pudesse ser feliz, é isso? Sempre que demonstro o mínimo de felicidade, o mundo me tira da pior maneira possível. Primeiro quando vi Birka ser destruída por meus pais e pelos sacerdotes, depois por ver minha mãe sendo assassinada em minha frente ao impedir que quem fosse morta fosse eu, por fim vi meu pai sendo derrotado e, após tudo isso, quando finalmente acreditei que teria uma vida pacífica, vi meus companheiros desaparecendo diante de meus olhos um a um e... para piorar... ter visto meu capitão em um estado que nunca havia visto antes.
Escutei passos vindo em minha direção e abaixei a cabeça para olhar, notando Jinbe se aproximando de mim com um semblante sério e, sem dizer nada, ele sentou-se ao meu lado, mantendo uma distância confortável entre nós dois.
Por um tempo, ficamos quietos, "aproveitando" a companhia um do outro enquanto olhávamos para o céu em completo silêncio. Eu não queria falar nada no momento, ele também não parecia querer, e sinceramente, preferi que fosse assim. Nunca fui boa em conversar com pessoas que não conheço, a menos que fosse para ameaçá-las ou assustá-las de alguma forma. Quando estou com meus companheiros, só falo com desconhecidos se estiver acompanhada deles para impulsionar a conversa.
- Está preocupada com o seu capitão, eu imagino. - Jinbe disse, finalmente quebrando o silêncio que havia se instalado entre nós e olhou para mim.
- Sim... mas ele vai se recuperar, sei disso. - tentei sorrir, porém, foi inútil. - Ele sempre se recupera.
- Luffy-kun deu duro em Impel Down, em Marineford também. Ele é um bom rapaz, conseguiu conquistar muitos aliados sem nem ter a intenção disso!
- É mesmo, né? Ele é assim, faz amizade por onde vai! - um sorriso verdadeiro se formou em meus lábios, adorava a personalidade carismática de meu capitão e sua forma de ver a vida.
- Você parece ser muito leal ao seu capitão, Trafalgar Law disse que enfrentou Kizaru quando ele acertou o submarino. - ele riu. - Isso foi muito valente da sua parte, menina.
- Aquilo era o mínimo que eu podia fazer, eu teria feito muito mais se pudesse... - suspirei. - Você também foi muito valente ao arriscar a sua posição de Shichibukai para ajudar Luffy em Impel Down e protegê-lo em Marineford... muito obrigada por isso, Jinbe.
- Não há porquê agradecer, no fim não servi de nada, pois Luffy-kun acabou muito ferido e Ace... - sua voz vacilou, vi lágrimas formando-se em seus olhos novamente e uma de suas mãos foi até seu rosto. - Não só ele, mas o Barba Branca... isso vai causar um caos no mundo. - ele franziu a testa e cerrou os punhos.
- Por que os Yonkou são tão importantes assim?
- Os Yonkou são os quatro piratas mais poderosos e influentes do Novo Mundo. Eles controlam vastas áreas de território e possuem enormes frotas sob seu comando. Sua influência se estende não apenas sobre outros piratas, mas também sobre governos e organizações poderosas. A morte do Barba Branca certamente terá consequências que serão sentidas em todo o mundo, não apenas entre os piratas, mas também entre os governos e as pessoas comuns. - Jinbe respondeu, fechando os olhos com força, parecia frustrado e preocupado com toda aquela situação e tudo o que havia acontecido.
Depois de tudo o que ele me disse, não senti mais vontade de conversar, pois o peso do desespero bateu no meu peito novamente e tudo que pude fazer foi assentir em silêncio, voltando a olhar o céu com preocupação estampada nos meus olhos, que pareciam mais perdidos do que nunca.
Nunca imaginei que os tais Quatro Imperadores do Mar pudessem ser tão importantes assim, a ponto de que se um deles caísse, o mundo inteiro ficasse estremecido. A morte do tal Barba Branca realmente vai afetar tanto assim as pessoas, até mesmo os civis? Que terrível... o mar azul é mesmo bem diferente de tudo o que eu estava acostumada a conhecer... e pensar que Luffy lutou ao lado de um Yonkou por um objetivo em comum só me faz ver o quão poderoso e potente meu capitão pode ser quando quer.
• ʚĭɞ •
Quando a noite chegou, alguns dos Piratas de Copas recolheram-se para o submarino, enquanto outros permaneceram no acampamento improvisado que havíamos montado para passar as noites no litoral de Amazon Lily. Era tarde, disso eu sabia; podia identificar apenas pela posição da lua, embora não soubesse ao certo que horas eram exatamente. Apenas tinha certeza de que se aproximava da meia-noite. Mais um pouco e... eu finalmente iria completar 17 anos de idade. Seria meu primeiro aniversário longe do meu pai e... era estranho. Não costumávamos comemorar, mas eu gostava porque ele sempre ficava comigo para conversarmos e passávamos horas juntos, passeando pelo Jardim Superior e observando as estrelas no céu, momentos bons entre um pai e sua filha.
Vi Trafalgar-san sentado ao longe, próximo ao pequeno precipício que oferecia uma vista mais ampla do mar e, em silêncio, fui até ele. Assim que estava perto o suficiente, notei que ele estava fumando e olhei curiosa para dois maços de cigarros gastos ao lado dele, o que indicava que aquele em seus lábios era o terceiro. Foi um pouco irônico para mim vê-lo, levando em conta que ele é um médico aclamado por muitos como capaz de realizar milagres.
Permaneci quieta por um tempo, apenas observando-o, e ele fez o mesmo, sem esboçar qualquer reação ou gesto que indicasse que eu deveria sair. Levando seu silêncio como um convite, sentei-me ao seu lado com as pernas para fora da beirada onde estávamos e as balancei devagar para frente e para trás, aproveitando um dos raros momentos de paz entre nós dois. Costumava acabar falando demais e irritando-o, ou então arranjava encrenca e ele acabava tendo que cuidar dos meus ferimentos.
A noite estava tranquila e o céu estava bonito, repleto de estrelas que cintilavam ao redor da lua, que parecia estar tão brilhante como nunca. Apesar de tudo, eu ainda era capaz de sentir um pouco de paz de espírito apenas por observar o céu noturno e sentir a brisa fria da noite soprar contra meu corpo, fazendo algumas pétalas das flores espalhadas pela minha trança flutuarem com ar.
Olhei de soslaio para o homem ao meu lado e pude notar que seus olhos também estavam fixos no céu; ele parecia estar perdido em seus pensamentos, assim como eu. Me perguntava em silêncio: o que se passava na cabeça do temido Cirurgião da Morte? O que ele pensava? Quais eram os seus pensamentos ao longo do dia e o que, de fato, o fez estender uma mão milagrosa a Luffy? Eu queria muito saber, entretanto, jamais iria me permitir acabar com a paz que pairava entre nós dois naquele momento com perguntas que pudessem soar como ofensas ou deixá-lo ainda mais aborrecido comigo. Contudo, ainda havia... algo. Uma única coisa pela qual arriscaria tudo para perguntar.
- Eu acho... que tenho o direito de saber, não tenho? - sussurrei, soltando um suspiro logo em seguida.
- Sobre?
- O Luffy, ele vai... acordar? Algum dia, ele vai?
- Eu não sei. - o vi soltar a fumaça de seu cigarro e me olhar de lado. - Como eu disse antes, ele está muito ferido e, se continuar como está, pode ser que não acorde.
- E quais são as chances de ele acordar..?
- São bem pequenas. Eu... diria que quase impossíveis.
- Entendo...
Me calei novamente e voltei a olhar para o céu, dessa vez encarando fixamente a lua, que outrora eu costumava chamar pelo nome de Fairy Vearth. Como eu queria que as coisas voltassem a ser tão simples como costumavam ser, quando nossas únicas preocupações eram apenas parar em ilhas pequenas para comprarmos mantimentos e outras coisas, como roupas, jogos de tabuleiro, etc. Quando foi que tudo se tornou tão complicado? Estávamos todos em um parque de diversões e de repente fomos separados uns dos outros, sem saber onde deveríamos procurar para nos juntar outra vez. Nossa única garantia de reencontro é o cartão vida de Rayleigh, que devemos seguir para chegarmos nele, em Sabaody.
- Você quer ir vê-lo?
- O quê?
- Você quer ir ver o Mugiwara-ya? - a voz dele soou rouca pelo fumo, mas ainda assim foi potente o suficiente para me fazer arrepiar com a pergunta.
- Eu posso?
- Sim, mas ele ainda está inconsciente e não é certo que ele vá ouvi-la caso fale algo.
- Eu quero ir vê-lo, por favor!
Ele ficou em silêncio por um tempo, apenas olhando nos meus olhos como se quisesse dizer algo, mas não o fez e apenas ficamos nisso outra vez, olhando um nos olhos do outro enquanto ficávamos calados sentindo o tempo passar. Eu queria entender o motivo dele sempre fazer isso, o porquê de me encarar tanto e, especialmente, por que permanecer em silêncio? Isso faz minha cabeça explodir em pensamentos, em perguntas e em respostas que ele poderia me dar ao invés de optar por ficar calado sempre.
Ao ver Trafalgar-san se levantar, meu coração dispara, preenchido com uma mistura avassaladora de esperança e medo. Cada movimento dele parece carregar um peso profundo, como se estivesse carregando não apenas o fardo de cuidar de Luffy, mas também o peso das expectativas e das incertezas. Ele me faz um sinal, e eu o sigo, tentando controlar o tremor que percorre meu corpo enquanto adentramos o Polar Tang.
A atmosfera dentro do submarino é sombria, refletindo o peso da situação. Cada som é abafado, como se estivéssemos em um mundo à parte, isolados pela angústia e pelo desespero.
À medida que nos aproximamos da sala de cirurgia, meu coração parece prestes a explodir. A visão de Luffy deitado na cama, tão imóvel e pálido, é um golpe devastador na minha cara. Sua respiração é fraca, quase imperceptível, e isso só intensifica a sensação de desespero que me consome.
O pirata mais velho permanece ao meu lado, uma figura silenciosa e imponente, sua expressão séria revelando a gravidade da situação. Não há palavras que possam expressar a turbulência de emoções que me assolam neste momento. É como se estivéssemos à beira de um abismo, sem saber se haverá um chão sólido sob nossos pés ou se cairemos no vazio da incerteza e das dúvidas sem fim.
Enquanto observo Luffy, uma sensação de impotência se apodera de mim. Sinto-me pequena e insignificante diante da magnitude da situação. Trafalgar-san conduz-me até o lado da cama, e eu me sinto compelida a segurar a mão de meu capitão, como se pudesse transmitir-lhe um pouco de minha força e esperança. Mas suas mãos estão frias e inertes, e isso me faz tremer com a realidade dolorosa de sua condição. Enquanto o silêncio pesado paira sobre nós, sinto-me envolvida por uma névoa de tristeza e desespero.
- Posso ficar sozinha com ele por um tempo?
- Sim. - ele sussurrou, logo se afastando de meu lado e deixando a sala de cirurgia, deixando a porta entreaberta.
Meu Mantra identificou que, embora tivesse saído da sala, ele ainda estava por perto, certamente para me vigiar, e honestamente, minha mente estava tão tumultuada que não tinha energia para protestar. Tudo que pude fazer foi me aproximar mais de Luffy, colocando a cabeça em seu peito e ouvindo o quão fraco seu coração estava, como se aos poucos estivesse parando de bater. Isso me fez respirar fundo e segurar as lágrimas mais uma vez, engolindo o choro que ameaçava vir a qualquer momento se eu não tivesse mais forças para impedir meu pranto de vir à tona.
Você sempre acaba assim, não é? No fim das nossas batalhas, você sempre termina dessa forma, deitado em uma cama e coberto de ataduras, dormindo profundamente como se fosse nada.
É exaustivo, não é? Ser capitão de um navio onde sua voz não tem autoridade porque você é um completo idiota que só sabe resolver as coisas com os punhos e ainda ri quando alguém o repreende por isso.
Na verdade, eu me sinto tola nesse momento, falando assim com você, como se pudesse me ouvir e tivesse forças para me responder. Mas, caso esteja me ouvindo, você sabe quem está falando com você, não é mesmo? Você deve saber, porque se não souber, vou retirar esses aparelhos e lançá-lo ao mar, o que acha? Por favor, acorde.
Ah, Luffy... onde estava com a cabeça quando fiz aquela aposta estúpida com você?
Respirei fundo, sentindo a garganta secar e meus olhos arderem. Eu queria chorar, como queria. Se pudesse, arrancaria os olhos apenas para impedir que minhas lágrimas caíssem, mas era difícil segurar. Vê-lo daquela forma, cheio de curativos pelo corpo e inúmeros aparelhos médicos conectados, fez-me desejar explodir em um milhão de pedaços. Desaparecer, sumir, tornar-me uma curandeira nata e curá-lo de todas as dores, sejam físicas ou emocionais. Apenas queria que meu capitão ficasse bem novamente.
Sabe, quando nos conhecemos... eu estava disposta a matar você.
Sério, eu realmente ia matar você, Luffy. Que irônico, não? Eu, outrora considerada uma Santa, me tornando subordinada de um pirata... as coisas mudam bastante de um dia para o outro.
Por que você tem que ser tão insistente?
Por que você é sempre tão teimoso e não escuta ninguém?
Por que você socou aquele Dragão Celestial, Luffy? Por que não escutou o que o Hachi disse? Por que você sempre age por impulso, nos colocando em confusões?
Quer saber de uma coisa? Que bom que você é assim, porque se você não tivesse socado aquele cara, eu teria.
Ver você dessa forma me faz lembrar... quando você salvou Skypiea, lembra? Você ficou também bem ferido naquele dia... não apenas você, mas o pessoal todo! Lembro-me que Robin e Sanji estavam cheios de queimaduras pelo corpo. Meu pai não pegou leve com vocês, não é mesmo? Eh! Eh! Eu sei que não. Ele... ele nunca pega.
Ah... me desculpe. Eu não deveria falar sobre ele, deveria? Você odeia o meu pai, não odeia? Eu... desculpe.
Ainda é difícil, sabe? Eu... que se dane, Chapéu de Palha. Eu ainda sinto saudades dele, tudo bem? Eu ainda tenho esperanças de vê-lo algum dia, eu...
Estou agindo como uma idiota, não estou?
Respirei fundo mais uma vez. Minha voz já estava falhando e meus olhos ardiam tanto que eu não conseguia mantê-los abertos por tanto tempo, pois caso o fizesse, a ardência era tanta a ponto de sentir ficarem marejados. Estou sendo estúpida. Por que estou falando sobre Enel para ele? Isso é tão tosco. Eu... eu deveria falar outras coisas ao invés de ficar choramingando assim, como uma criança manhosa. Ele merece ouvir coisas boas, coisas que vão animá-lo de alguma forma, certo? Não posso ficar tagarelando coisas tristes e continuar esperando que ele reaja com o que eu digo. Eu... eu preciso fazê-lo sorrir outra vez.
Lembra daquele Pássaro do Sul que estava conosco no Merry? Ele fazia um som engraçado! Você ria tanto sempre que ele cantava. Por que... você não acorda? Vamos rir, Luffy.
Por favor.
Acorde.
Acorde e ria...
Dê risada, Luffy.
Me deixe ouvi-lo rir outra vez, por favor? Só mais uma vez. Eu preciso ouvir sua risada para ter certeza de que você está bem...
Eu... eu posso rir com você. Eu vou. Eu prometo. Eu não vou ficar com vergonha de rir alto se for com você.
Não dá.
Não consigo.
Luffy... eu quero chorar.
Eu quero muito chorar. Muito mesmo.
Mas eu não posso. Eu não consigo.
Quando dei por mim, estava novamente com a cabeça apoiada em seu peito coberto pelo lençol, segurando com força no tecido enquanto mordia os lábios com força e sentia o rosto esquentar com as lágrimas que rolavam por minhas bochechas e molhavam minha pele, por fim escorrendo até chegarem nele, também o molhando. Soltei um suspiro, levando uma mão até a boca para impedir que os soluços saíssem, não queria que ninguém me escutasse, especialmente Trafalgar-san, que ainda estava do lado da porta que havia deixado propositadamente entreaberta.
Seria humilhante demais que ele me visse chorando assim, como uma garotinha, como a maldita pirralha que ele diz que eu sou. E eu não quero que ele continue me vendo assim, como uma criança encrenqueira, porque eu não sou.... então por que estou chorando?
Meus olhos não param de soltar tantas lágrimas e meu nariz não para de escorrer, assim como continuo a soluçar sobre minha mão que impede que o som ecoe pela sala de cirurgia. Que situação... isso é tão humilhante. Anos e anos me segurando para nunca mais chorar e, agora, me vejo assim. Calando a mim mesmo para impedir que me ouçam chorar, para não ser ainda mais humilhada do que já tenho sido nos últimos dias.
Nos últimos meses, tenho tentado ser forte, entende? Tenho dito que está tudo bem, mas é mentira.
NÃO ESTÁ NADA BEM!
Eu ainda penso nele todos os dias.
Todo santo dia.
Todos os dias, quase todas as horas...
Eu sinto falta do meu pai, Luffy.
Você deve estar pensando que estou sendo ridícula agora, tenho certeza disso. Se você estivesse acordado, você com certeza iria me dar um cascudo e mandar eu "largar de ser besta".
Mas é difícil.
Ele... ele é meu pai, Luffy. Você entende? Ele é meu pai. Eu o amo. Eu sinto falta dele e eu queria vê-lo outra vez, nem que fosse por meros cinco minutos.
Ele cuidou de mim a minha vida toda, principalmente desde o momento em que minha mãe foi morta na MINHA FRENTE! E ela... ela só morreu por minha culpa, Luffy... ela morreu porque queria me proteger. Ela morreu por minha culpa.
Minha culpa.
Não era ela quem aquele homem ia matar, não era! O alvo dele era eu! E ela foi lá e se jogou na frente! Eu não consigo esquecer daquilo, de vê-la caída de costas no meu colo!
Luffy... por favor, acorda... eu não quero continuar sozinha...
Luffy...
Luffy, não me deixe sozinha, por favor.
Eu não quero ficar sozinha outra vez...
Acorda, por favor...
Engasguei com meu próprio pranto e comecei a tossir ao mesmo tempo que soluçava, caindo de joelhos no chão, contudo sem soltar a mão dele por nem um único segundo, segurando firmemente na sua pele que estava tão gelada que era como segurar um cadáver e isso apenas piorou a minha percepção das coisas, agora sentia minhas mãos tremendo e meu corpo inteiro também e logo vi penas caindo e meu choro aumentou, com dificuldades me coloquei de pé.
Com cuidado e delicadeza, passei o dorso da minha mão trêmula pelo rosto adormecido de meu capitão, olhando para ele com desespero no olhar, vendo gotículas salgadas pingando sobre sua face adormecida e abatida. Céus, eu estou o sujando com minhas lágrimas por estar chorando como uma criança birrenta.
Você precisa acordar.
Não por mim, mas por nossos companheiros.
Precisamos de você, Luffy!
Você... você disse que queria ser o Rei dos Piratas... você não vai conseguir se tornar o homem mais livre do mundo se você se deixar vencer por um único golpe partido de um Almirante da Marinha, vai?
Não... você não vai.
Eu sei que não...
Então...
Acorde...
Por favor.
Eu... eu estou com medo.
Estou assustada.
Eu...
Eu tenho medo de ficar sozinha outra vez. De não ter mais ninguém. De ficar completamente isolada em um lugar onde minhas únicas companhias serão eu mesma.
Naquele dia...
Quando nos conhecemos...
Por que você sorriu para mim?
Não faz sentido.
Eu não entendo.
POR QUE VOCÊ TEVE QUE SORRIR PARA MIM E ME OLHAR DESSE JEITO, COM TANTA BONDADE? EU NÃO SOU UMA BOA PESSOA, LUFFY!
Eu sou uma praga.
O povo de Skypiea me enoja.
Devem cuspir nos lugares onde já pisei.
Eles me chamam de "Anjo da Morte" porque tudo que eu toco, morre.
Você... você está sendo uma prova disso?
Perdida em meio à minha própria dor, sinto meu peito apertar e as lágrimas turvarem minha visão. Cada soluço parece arrancar um pedaço da minha alma, deixando-me vazia e desamparada. Cada respiração é uma árdua luta contra o desespero que já havia me consumido por completo. O peso do sofrimento parece insuportável, e meu corpo tremia com a intensidade da trisreza que me envolvia.
Escute, Luffy... quando eu era criança, logo após minha mãe ter sido assassinada, meu pai me pediu uma coisa.
Ele disse que eu não deveria contar a ninguém.
Mas eu vou contar a você... porque eu confio em você.
Eu... eu nunca contei a ninguém.
Luffy... o meu verdadeiro nome é...
Magni D. Elisabette.
Mas eu não sei o que esse "D." significa.
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